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História da Medicina
Cultural: História da Medicina

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Contraceção Feminina
Inês Sampaio, 4º ano Ter um filho é o motivo menos frequente pelo qual a maioria das pessoas têm relações sexuais. O planeamento familiar sempre foi uma preocupação do ser humano, que procurou pô-lo em prática mesmo em sociedades regidas por códigos sociais, políticos e religiosos que priorizavam a natalidade. Contudo, os métodos contracetivos utilizados antes do século XX, não eram tão seguros e eficazes como os atuais.
Alguns séculos atrás, na China, bebia-se chumbo e mercúrio como contraceção, o que muitas vezes levava à esterilidade ou morte da mulher. Na Idade Média, alquimistas aconselhavam as mulheres a usarem testículos ou patas amputadas de doninhas atados às suas coxas e pendurados ao pescoço, para além de amuletos como fígados dissecados e ossos de gatos pretos, para prevenir a gravidez. No Norte de África, os gregos e romanos descobriram uma planta de flor que denominaram “Sílfio”, capacitada de um elevado poder contracetivo e que se tornou num sucesso tal, que era vendida ao preço da prata, acabando por se extinguir pela sua sobre-exploração. Mulheres da Índia tropical e Sri Lanka, comiam uma papaia por dia para contraceção e, de facto, de acordo com estudos realizados em 1993 por uma equipa de investigação inglesa, esta fruta possui uma enzima que interage com a progesterona e valida este costume. A partir do século XVI, o medo de que o ensinamento dos métodos de contraceção resultasse em acusações de heresia e bruxaria, com punições de tortura e até mesmo de morte, levou a um decréscimo na sua procura e investigação.
Em 1914, Margaret Sanger, uma ativista norte americana, foi acusada judicialmente por distribuir por correio uma revista chamada “The Woman Rebel”,



onde criticava as restrições legais nos EUA relativas à contraceção. A Lei, de 1873, enunciava que era crime informar, aconselhar ou medicar com vista à contraceção ou aborto, e proibia a menção por escrito de doenças sexualmente transmissíveis. Margaret defendia que “a maternidade forçada, era a completa negação do direito da mulher à vida e à liberdade” e, apesar de ter sido condenada a 30 dias de prisão por criar a primeira clínica de controlo de natalidade, não baixou os braços. Após ter sido libertada, ganhou um recurso em tribunal que veio a permitir os médicos aconselharem sobre a contraceção. Em 1921, fundou a Liga Americana de Controlo de Natalidade.
Foi nos EUA, no ano de 1960, que a primeira pílula foi aprovada. Era eficaz e de simples uso, mas tinha vários efeitos adversos, devido às suas elevadas doses hormonais. A eficácia da pílula atual como anticoncecional ronda os 100% e, mais ainda, protege contra a doença inflamatória pélvica, cancro do ovário

Fonte: WHO e do endométrio. Recentemente, tem-se desenvolvido uma pílula masculina, que poderá ser um passo importante para um maior equilíbrio nas responsabilidades contracetivas.
Segundo um estudo da OMS realizado em 2019, 58% das mulheres em idade reprodutiva utilizam métodos contracetivos. A pílula é um dos métodos preferidos e há já 58 anos que faz parte da vida das mulheres portuguesas. Não só diminuiu drasticamente a morte neonatal e melhorou significativamente a saúde materna e infantil, como também contribuiu para que as mulheres tivessem maior liberdade nas suas escolhas de vida, conseguindo progredir a nível educacional e profissional.
O aparecimento de um método contracetivo acessível e de fácil uso como a pílula, promoveu o planeamento familiar, um menor número de gravidezes indesejadas, uma menor incidência de abuso, negligência infantil e abortos clandestinos.