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Médicos da Minha Terra: Dr
Cultural: Médicos da Minha Terra
Dr. Maçãs
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Sara Gama, 2º ano Todos estamos bem cientes do impacto que um médico consegue ter na nossa vida. Já todos experienciámos situações marcantes num consultório médico, tanto pela positiva como pela negativa, ou, pelo menos, já ouvimos com certeza relatos de tais acontecimentos. Na segunda edição desta rubrica, trazemos a história de um médico que marcou a vida de inúmeras pessoas: Carlos Maçãs Nogueira, mais conhecido simplesmente como Dr. Maçãs. Oriundo de Ribeira de Nisa, no concelho de Portalegre, frequentou o curso de Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Terminados os estudos, regressou à sua terra natal, onde começou a exercer num consultório construído pela freguesia. No entanto, a sua atividade médica não estava de todo confinada aos limites daquelas quatro paredes, ia muito além disso. Sempre que era necessário, deslocava-se às restantes povoações pertencentes à freguesia, para que nunca ninguém ficasse impossibilitado de ter o diagnóstico e o tratamento de que necessitava. Fosse chamado de dia ou às mais altas horas da madrugada, o Dr. Maçãs estava sempre disponível, “sempre pronto para atuar”, partindo em direção à casa do doente que dele precisava, inicialmente deslocando-se a cavalo, mais tarde numa charrete e, por fim, num automóvel. Era o médico “de todas as especialidades”. Procurava ao máximo ajudar os doentes dentro do seu vasto leque de conhecimentos. Inclusivamente, acabou por se tornar numa espécie de dentista daquela freguesia: tratava cáries, arrancava dentes e colocava próteses dentárias modernas que trazia de Coimbra para Ribeira de Nisa. Tentava ainda evitar que as pessoas se tivessem de deslocar de propósito às grandes cidades e aos seus hospitais, algo




que, por vezes, se revelava deveras complicado. Muitas foram as consultas que não cobrou, já que alguns dos habitantes da região não tinham capacidade financeira para tal. O que considerava verdadeiramente importante, era que todos recebessem os cuidados adequados, independentemente do seu estatuto social ou das suas posses. Exerceu ininterruptamente até ao final da sua vida, quando já tinha ultrapassado a marca dos 80 anos de idade. Recordado com ternura por muitas das pessoas que tratou como sendo alguém “muito humano, o amigo de toda a gente”. Após falecer, foi erguido um busto seu no centro da aldeia, em forma de homenagem ao trabalho e à dedicação de uma vida inteira. Encaro esta história de vida com olhos repletos de admiração e respeito. Um médico humilde, acessível e empático, qualidades que, infelizmente, parecem estar a entrar em vias de extinção no “currículo” de bastantes médicos com os quais nos cruzamos hoje em dia. Muitos serão, talvez, os que virão rapidamente em defesa destes profissionais, desculpando-os pelos seus inúmeros anos de serviço, alegando que contribuíram para os “endurecer”. Não é minha intenção negar que tal possa acontecer. No entanto, gostava que esta não se tornasse uma tendência em crescimento. Penso que nunca se poderá aspirar ser um profissional de saúde realmente bom, se a empatia for posta de lado. Para isso, tem de partir de cada um de nós, futuros médicos, não esquecer a parte Humana inerente à profissão e recordar vivamente exemplos de médicos como o Dr. Maçãs.


Com a colaboração de Ana Catarina Pastilha, 5º ano