Publicação semestral do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará – nº8
Rio Pará como você nunca viu

Mapeamento inédito revela rotas de navegação e lança plataforma que une ciência, tecnologia e saberes ribeirinhos
IGAM declara situação crítica de escassez hídrica na bacia do Rio Pará Págs. 6 e 7
Entrevista: Marcelo da Fonseca (IGAM) e o novo Programa Produtor de Água Págs. 8 e 9
Conheça o Museu Histórico de Divinópolis Págs. 10 e 11
EDITORIAL
Em setembro de 2025, vivenciamos mais um momento importante da trajetória do CBH do Rio Pará: a eleição da nova diretoria para o biênio 2025-2027. A chapa eleita, que batizamos de “Águas do Futuro”, é formada, em sua maioria, por membros já envolvidos na atual gestão — o que demonstra a confiança no trabalho que vem sendo desenvolvido e a firmeza do nosso compromisso com a continuidade e o avanço das ações do CBH.
Sigo com humildade e responsabilidade na presidência do Comitê, ao lado da vice-presidente Beatriz Alves Ferreira e do secretário José Hermano Franco, ambos reeleitos. A novidade da nova gestão é a chegada de Larissa dos Reis Maciel, que assume em definitivo como secretária-adjunta. Juntos, reafirmamos nosso compromisso com uma governança hídrica mais madura, transparente e participativa, além da busca constante por novas fontes de financiamento e parcerias estratégicas, incluindo o fortalecimento da atuação conjunta com outros Comitês de Bacia.
Os desafios, no entanto, permanecem — e, em alguns casos, tornam-se ainda mais intensos. No último dia 4 de setembro, o IGAM, mais uma vez, mais declarou situação crítica de escassez hídrica superficial em trecho do Rio Pará, a montante da estação Velho do Taipa, em Conceição do Pará. É o segundo ano consecutivo em que essa medida se torna necessária, reflexo do prolongado período de estiagem e da baixa vazão registrada no curso do rio. As restrições impactam diretamente captações em diversos municípios e exigem, de todos nós, uma postura ainda mais consciente e solidária quanto ao uso da água.
Ao mesmo tempo, seguimos avançando com projetos inovadores que ajudam a construir uma visão de futuro mais integrada para a bacia. Um marco recente foi a conclusão do Projeto de Mapeamento da Navegabilidade do Rio Pará. Essa iniciativa inédita nos proporciona uma visão técnica e estratégica do potencial navegável do nosso rio, a partir de estudos de alta precisão, oficinas com comunidades ribeirinhas e a criação de uma plataforma digital interativa aberta à sociedade.
O projeto é fruto de uma inquietação surgida ainda em 2023, durante a Expedição do CBH, quando vislumbramos a possibilidade de travessia pelo leito do rio — desejo que, até então, esbarrava na ausência de dados consolidados. Agora, com mais de 71 mil imagens aéreas e 294 quilômetros percorridos com o apoio de tecnologias de ponta, temos um panorama detalhado e qualificado para embasar futuras decisões.
Este é o caminho em que acreditamos: aliar conhecimento técnico, participação social e planejamento estratégico, para que possamos tomar decisões cada vez mais embasadas e eficientes.
Com uma nova gestão diante da escassez hídrica que nos alerta e dos avanços técnicos que nos encorajam, reforçamos o chamado para o uso consciente da água e para o comprometimento de todos com a sustentabilidade da bacia do Rio Pará. Os próximos anos exigirão de nós ainda mais diálogo, responsabilidade e inovação.
Seguimos firmes, juntos, pelas águas do futuro.
Túlio Pereira de Sá
Presidente do CBH do Rio Pará
Diretoria do CBH do Rio Pará
Presidente: Túlio Pereira de Sá
Vice-presidente: Beatriz Alves Ferreira
Secretário: José Hermano Oliveira Franco
Secretária-adjunta: Larissa dos Reis Maciel

Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBH do Rio Pará comunicacao@cbhriopara.org.br
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COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARÁ
Rua Waldemar de Oliveira, nº 606, Santos Dumont. Pará de Minas – MG - 35.660-359 0800-031-1608 - comitedoriopara@gmail.com
Comunicação: TantoExpresso (Tanto Design LTDA)
Direção: Paulo Vilela / Pedro Vilela / Rodrigo de Angelis
Coordenação de Jornalismo: Luiz Ribeiro
Redação e Reportagem: Henrique Ribeiro, João Alves e Luiz Ribeiro
Revisão: Ísis Ribeiro Pinto
Fotografia: João Alves, Léo Boi, Miguel Aun, Secretaria de Cultura de Divinópolis
Diagramação e Finalização: Sérgio Freitas


ÁGUAS EM CONEXÃO
Fórum em Santo Antônio do Monte reforça a integração entre Comitês e municípios pela gestão compartilhada das águas
Com foco na gestão integrada dos recursos hídricos, o município de Santo Antônio do Monte sediou, no início de agosto, o 1º Fórum de Integração das Bacias Hidrográficas dos Afluentes do Alto São Francisco e do Rio Pará (SF1 e SF2). O evento reuniu representantes dos poderes públicos, secretários municipais, técnicos, especialistas, produtores rurais e membros da sociedade civil para discutir os desafios e caminhos da governança hídrica na região. Durante o encontro, órgãos gestores e representantes das bacias esclareceram o papel da gestão compartilhada e responderam dúvidas do público.
Com dois dias de programação, o 1º Fórum de Integração das Bacias Hidrográficas dos Afluentes do Alto São Francisco e do Rio Pará teve como objetivo fortalecer o vínculo entre os Comitês e os municípios da região. Para Túlio de Sá, presidente do CBH do Rio Pará, o principal avanço foi justamente essa articulação. “A contribuição primária é o trabalho e a integração. Conseguimos mobilizar representantes de diversos municípios das duas bacias, o que garantiu a participação de autoridades e órgãos importantes. Isso demonstra que os Comitês estão atuando, mas também evidencia que precisamos do apoio da sociedade para dar continuidade a esse trabalho coletivo”, destacou.
Para o tenente Flávio Andreote dos Santos, presidente do CBH dos Afluentes do Alto São Francisco (SF1), o fórum teve papel essencial ao ampliar o alcance da atuação dos Comitês. “A importância é extrema, porque envolve não apenas as bacias do SF1 e SF2, mas também todos os poderes — Executivo, Legislativo — e organizações da sociedade civil que vão além da estrutura formal dos Comitês. Essa integração fortalece a proteção hídrica, amplia a participação social e desperta o sentimento de pertencimento.”, afirmou.
Representando o CBH do Rio São Francisco, Altino Rodrigues destacou que o Comitê já promove a integração entre os territórios da bacia há bastante tempo, ainda que esse esforço nem sempre seja visível. Segundo ele, o encontro entre os Comitês SF1 e SF2 evidencia os investimentos feitos pelo CBH para fortalecer essa articulação, com base em uma visão sistêmica da bacia. “A apresentação do São Francisco visa demonstrar que a entidade já promove a integração há muito tempo, embora isso não seja sempre percebido. O encontro SF1 e SF2 expõe os investimentos do São Francisco voltados para a integração dos territórios, com foco na visão sistêmica da bacia, entendendo que o rio principal depende dos seus afluentes”, afirmou.
O evento foi uma realização entre o CBH do Rio Pará, o CBH Afluentes do Alto São Francisco e a Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Monte.
COMITÊ CONCLUI MAPEAMENTO INÉDITO DE NAVEGABILIDADE E LANÇA FERRAMENTA DIGITAL INTERATIVA
Projeto alia ciência, tecnologia e saberes locais para orientar ações de preservação, gestão hídrica e valorização do Rio Pará
O CBH do Rio Pará concluiu oficialmente o Projeto de Mapeamento da Navegabilidade do Rio Pará, uma iniciativa inédita que marca um novo capítulo na gestão dos recursos hídricos da região. Com um investimento superior a R$ 560 mil, o projeto reuniu levantamentos técnicos de alta precisão, oficinas participativas com comunidades ribeirinhas e o desenvolvimento de uma plataforma digital interativa, colocando à disposição da sociedade um conjunto robusto de informações sobre o rio e seu entorno.
O projeto teve início a partir de uma inquietação surgida durante a Expedição de 2023, quando representantes do Comitê percorreram a bacia e identificaram o potencial de uma futura travessia pelo próprio leito do rio — desejo que esbarrava na falta de dados sobre a navegabilidade do Pará. A partir disso, nasceu o projeto que, agora finalizado, oferece uma visão integrada e acessível sobre o curso do rio, suas condições ambientais e seus desafios.

visualizações interativas, uso de filtros, marcação de pontos de interesse e acesso a camadas de informação

TECNOLOGIA A SERVIÇO DA GESTÃO HÍDRICA
Realizado pela empresa Terra Brasil, o mapeamento percorreu cerca de 294 quilômetros do Rio Pará, desde o município de Passa Tempo até sua foz, entre Martinho Campos e Pompéu. Foram utilizadas tecnologias de ponta, como drones de última geração, para produzir mais de 71 mil imagens aéreas com alta resolução, acompanhadas de 141 pontos de controle georreferenciados, integrados à Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo (RBMC).
A metodologia incluiu ainda levantamentos expedito e batimétrico, que permitiram registrar profundidade, largura da calha, obstáculos à navegação, estruturas humanas, afluentes e outros aspectos ambientais relevantes. Foram realizadas 80 seções transversais com batimetria de alta precisão, com o uso de ecobatímetros e sistemas GNSS, resultando em um retrato detalhado da morfologia do rio.
Com base nesses dados, a equipe técnica classificou os trechos do rio em três categorias de navegabilidade: fácil, difícil e não navegável, considerando critérios como profundidade, largura e presença de interferências naturais ou antrópicas. A classificação foi consolidada em um mapa temático, que agora integra a plataforma digital interativa.
PLATAFORMA DIGITAL E APLICATIVO DE NAVEGAÇÃO
Como parte dos resultados do projeto, o CBH do Rio Pará apresentou uma plataforma digital responsiva, disponível para computadores e dispositivos móveis (Android e iOS), que reúne todos os dados técnicos coletados durante o mapeamento. O sistema permite visualizações interativas, uso de filtros, marcação de pontos de interesse e acesso a camadas de informação ambiental — como áreas de preservação permanente, pontos de impacto e trechos com potencial para transporte hidroviário.
Segundo Artur Gnecco Zanini, engenheiro de computação responsável pelo desenvolvimento do aplicativo, o maior desafio foi traduzir dados técnicos em conhecimento acessível, útil tanto para a população quanto para gestores públicos e entidades ambientais. “O aplicativo é uma ferramenta viva, que permite atualizações constantes por quem vive às margens do rio”, afirma.
Uma versão de demonstração do aplicativo já foi apresentado aos conselheiros e às comunidades participantes em julho deste ano e, em breve, estará disponível gratuitamente para acesso em dispositivos móveis e computadores.

RIO PARÁ SECA DE NOVO
Pelo segundo ano consecutivo, IGAM declara situação crítica de escassez hídrica na bacia do Rio Pará

O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) voltou a declarar “situação crítica de escassez hídrica superficial” no trecho do Rio Pará a montante da Estação Velho do Taipa, localizada em Conceição do Pará. A portaria foi publicada no dia 04 de setembro, exatamente um ano após a emissão da mesma medida em 2024. As restrições valem por 45 dias e afetam captações de água em diversos municípios da região.
A decisão ocorre novamente em função do prolongado período de estiagem e da baixa vazão do rio, monitorada pela estação Velho do Taipa. Segundo o IGAM, a média das vazões diárias em sete dias consecutivos ficou abaixo do limite mínimo, o que caracteriza a situação crítica de escassez hídrica, exigindo ações imediatas para mitigação dos impactos.
A medida impõe reduções no volume diário outorgado para uso da água superficial em vários setores, conforme os percentuais abaixo:
• 20% para consumo humano, dessedentação animal e abastecimento público;
• 25% para irrigação;
• 30% para consumo industrial e agroindustrial;
• 50% para demais finalidades, exceto usos não consuntivos.
Os municípios diretamente afetados incluem Igaratinga, Carmópolis de Minas, Perdigão, Pará de Minas, Divinópolis, Passa Tempo, Pitangui, Itapecerica e Carmo do Cajuru. Além disso, o IGAM suspendeu a emissão de novas outorgas de uso consuntivo, bem como solicitações de aumento de vazão ou volume captado nas outorgas já existentes. O não cumprimento das determinações pode levar à suspensão total dos direitos de uso da água até o fim da vigência da portaria.
Para Túlio Pereira de Sá, presidente do CBH do Rio Pará, a situação é alarmante, especialmente por repetir-se nas mesmas condições e no mesmo período do ano anterior. “É preocupante, porque na mesma data do ano passado, no dia 4 de setembro, foi decretada a mesma declaração de escassez hídrica na bacia. Naquela época, o período de restrição durou 45 dias, mas as chuvas vieram e encerraram a situação crítica. Este ano, o impacto é praticamente o mesmo — nos mesmos municípios e com os mesmos percentuais de redução. A falta de controle sobre o clima e a escassez de chuvas têm influenciado fortemente esse cenário”, diz.
Ainda segundo Túlio, o CBH tem atuado em ações de preservação para tentar reduzir os efeitos da estiagem. “O Comitê tem trabalhado na recuperação de nascentes, áreas de preservação permanente e no programa Produtor de Águas, buscando minimizar os impactos. Mas o momento exige que os usuários com outorgas respeitem as reduções impostas. O abastecimento público também foi afetado, então é essencial que a população se conscientize para reduzir o consumo de água. Hoje a redução é de 20%, mas, caso a estiagem se prolongue, esses percentuais podem aumentar. Vamos continuar buscando formas de apoiar a bacia e manter as ações de proteção dos recursos hídricos.”


ENTREVISTA:

“Ao invés de ser apenas uma obrigação legal, a adequação
ambiental passa a ser vista como uma oportunidade de melhorar a produtividade”
Marcelo da Fonseca, Diretor-geral do IGAM
ENTREVISTA: MARCELO DA FONSECA
Diretor-geral
do IGAM fala sobre o novo
Programa Produtor de Água, que traz
estratégias específicas para MG
O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), em parceria com o Instituto Estadual de Floresta (IEF) e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), oficializou a criação do Programa Produtor de Água de Minas Gerais. A intenção é adequar as ações à realidade do estado, promovendo conscientização ambiental e preservação dos recursos hídricos.
O Programa Produtor de Água já é desenvolvido há alguns anos pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Agora, a partir de um acordo de cooperação técnica, foi criada uma versão estadual da iniciativa. As ações incluem o financiamento de obras de preservação em propriedades rurais, além do pagamento por serviços ambientais, remunerando financeiramente os produtores rurais que adotarem as práticas de conservação.
Com a nova versão do programa, o IGAM quer consolidar o protagonismo de Minas Gerais nas ações de sustentabilidade. Para entender melhor o papel dos Comitês de Bacias na execução das ações, conversamos com o diretor-geral do IGAM, Marcelo da Fonseca.
Quais as principais mudanças trazidas pelo novo Programa Produtor de Água?
O Programa Produtor de Água teve uma experiência bem-sucedida em Minas, ganhando reconhecimento nacional e internacional. A partir dessa iniciativa, diversos projetos foram implantados no estado, concentrando quase 50% das ações apoiadas pela ANA, especialmente na região das nascentes do São Francisco e da Serra da Canastra, com foco na segurança hídrica, proteção de nascentes, conservação ambiental e pagamento por serviços ambientais. Com o apoio contínuo do Governo de Minas, foi firmada uma cooperação técnica entre IGAM, IEF e SEMAD para ampliar e adaptar o programa ao contexto estadual. Essa transição envolveu capacitações, dias de campo e a criação de uma unidade regional, a Nascentes do São Francisco, responsável por coordenar as ações na bacia do Alto São Francisco. Durante esse processo, o programa foi aprimorado, incorporando ações voltadas à produção sustentável, regularização do uso da água e orientação aos produtores rurais. Essa versão adaptada foi apelidada de “Programa Produtor de Água Pão de Queijo”, refletindo a identidade mineira e o foco no fortalecimento da agricultura local.
Qual importância das ações de conservação, regularização ambiental e incentivo ao produtor rural desenvolvidas pelo Programa?
Ao colocarmos o produtor rural como protagonista do processo, conseguimos envolvê-lo diretamente na adequação ambiental da propriedade, reconhecendo o serviço essencial que ele presta para toda a bacia hidrográfica. É na propriedade rural que se protegem as nascentes, as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e, consequentemente, se garante os corpos hídricos que abastecem a região. Por meio desses programas, voltados à produção de água e à conservação ambiental, é possível, a partir da lógica das microbacias, promover intervenções que assegurem água em quantidade e qualidade, sem gerar degradação. O engajamento dos atores locais é fundamental, envolvendo não só os produtores, mas também toda a comunidade: sindicatos, prefeituras, empresas, associações e demais parceiros. Esse esforço coletivo é ainda mais relevante em regiões com deficiência hídrica significativa, onde ações como essas são essenciais para garantir a segurança hídrica e a sustentabilidade do território.
Por termos o pagamento pelos serviços ambientais executados, obviamente existe uma questão financeira envolvida, mas acredito que o principal é o fato do programa reconhecer o papel do produtor rural na segurança hídrica. Quando a gente olha para bacias, como a do Pará, já temos em alguns locais uma deficiência hídrica considerável. Então, trabalhar com o produtor para que ele possa contribuir ativamente para a preservação dos recursos hídricos é muito gratificante pra ele, que se sente valorizado. Este é o ponto chave do processo: o reconhecimento e o empoderamento do produtor rural como protagonista do processo.
Quais são algumas das práticas incentivadas pelo programa para conservar água e solo?
O programa é estruturado em diversas fases, começando com um diagnóstico detalhado da bacia hidrográfica contemplada. Nessa etapa, são identificadas as principais dificuldades ambientais e produtivas da região, bem como suas potencialidades. A partir desse levantamento, passa-se à elaboração de projetos técnicos individualizados para cada propriedade rural. Esses projetos consideram as características específicas de cada área e apontam as intervenções necessárias para promover a conservação ambiental e a produção de água em quantidade e qualidade. As ações recomendadas podem incluir, por exemplo, cercamento de nascentes, recuperação de APPs com plantio de mudas nativas, implantação de sistemas de tratamento de esgoto doméstico, construção de barraginhas para retenção de água da chuva, além de outras soluções sustentáveis adaptadas à realidade local. É importante destacar que nada é imposto. As propostas são apresentadas de forma transparente e o produtor rural tem autonomia para decidir sobre a adesão às ações recomendadas. O foco é construir, junto com o produtor, soluções eficazes e viáveis, respeitando seu contexto produtivo e promovendo a conservação dos recursos naturais de forma participativa e integrada.
De que forma a adaptação do programa à realidade mineira pode contribuir para a sua efetividade?
Com essa abordagem, conseguimos oferecer um serviço mais completo e efetivo ao produtor rural. Atualmente, ele já possui a obrigação legal de adequar sua propriedade às exigências do Código Florestal, o que inclui, entre outras ações, a recuperação de APPs, Reserva Legal e a regularização do uso dos recursos hídricos. No entanto, ao incorporar o produtor como parceiro e oferecer apoio técnico e institucional por meio do programa, criamos um ambiente mais favorável para que ele cumpra essas exigências. Ao invés de ser apenas uma obrigação legal, a adequação ambiental passa a ser vista como uma oportunidade de melhorar a produtividade, acessar incentivos, evitar sanções e, principalmente, contribuir com a conservação dos recursos naturais da região. Esse apoio técnico personalizado aumenta significativamente a sensibilização e o interesse dos produtores em aderir voluntariamente ao programa. Ao entenderem os benefícios práticos e econômicos da regularização ambiental, os produtores tendem a se engajar com mais facilidade, o que fortalece a efetividade do programa como um todo e amplia seus resultados para toda a bacia hidrográfica.
Que desafios podem surgir na implementação de ações integradas entre SEMAD, IEF e IGAM?
Um dos maiores desafios do programa é a mobilização e articulação dos parceiros envolvidos. Trata-se de uma iniciativa que não é financiada exclusivamente com recursos do poder público. Pelo contrário, sua viabilidade e continuidade dependem da integração de diversas fontes de apoio, como os recursos provenientes da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, parcerias institucionais, apoio de prefeituras, organizações da sociedade civil, setor privado e outros atores locais. Coordenar essa rede de parceiros exige um esforço constante de alinhamento de interesses, definição de responsabilidades e construção de compromissos comuns. É fundamental garantir que todos os atores com potencial de contribuição estejam engajados de forma efetiva no programa. Além disso, é igualmente desafiador assegurar a sensibilização e o engajamento do produtor rural, que é peça-chave na execução das ações em campo.
Qual o papel dos Comitês de Bacia para viabilizar e otimizar as ações do programa?
Os Comitês de Bacia desempenham um papel estratégico e essencial em todo esse processo. Em primeiro lugar, porque são responsáveis pela gestão participativa dos recursos hídricos no território, reunindo os principais atores locais, incluindo poder público, sociedade civil e usuários da água, em um espaço legítimo de diálogo e tomada de decisão. É dentro do Comitê que ocorre o convencimento e o engajamento das lideranças regionais, o que é fundamental para a adesão e fortalecimento do programa nos territórios. O apoio institucional do Comitê, aliado à sua atuação ativa na mobilização de parceiros, na captação de recursos e no direcionamento de investimentos, é decisivo para viabilizar as diferentes etapas do programa. Além disso, os recursos provenientes da Cobrança pelo uso da água, quando aplicados de forma estratégica por meio dos Comitês, funcionam como um catalisador, impulsionando ações estruturantes, fortalecendo a governança local e ampliando o alcance e a sustentabilidade das iniciativas voltadas à produção de água e conservação ambiental.
Qual a expectativa do IGAM quanto à execução das ações do Programa na Bacia do Rio Pará?
Nosso papel está fortemente voltado à organização e articulação do processo de captação de recursos para viabilizar as ações em campo. No caso da bacia do Rio Pará, já identificamos algumas localidades que apresentaram propostas concretas de adesão ao programa e estamos atualmente trabalhando na busca de mecanismos para sua implementação. Os programas incentivados e apoiados pelo Comitê têm sido fundamentais nesse contexto, pois permitem que essas iniciativas locais sejam integradas ao nosso projeto estruturante. Com isso, conseguimos alinhar esforços e concentrar a captação de recursos em propostas consistentes e articuladas, aumentando as chances de viabilização e ampliação das ações no território.
CONHECENDO A BACIA DO RIO PARÁ:
UMA VIAGEM NO TEMPO EM DIVINÓPOLIS
Conheça o Museu Histórico que já foi casa para lua de mel, sala de cinema e posto de saúde

Quem passa pela Praça Dom Cristiano, também conhecida como Praça da Catedral, em Divinópolis, se encanta com a beleza da Matriz do Divino Espírito Santo. Sob a sombra das árvores, o visitante pode contemplar ainda uma outra riqueza arquitetônica do município: o Museu Histórico. Um casarão centenário, com a fachada marcante em azul e branco e que nos leva a uma viagem pelo tempo na maior cidade da bacia do Rio Pará.
Um único imóvel, com inúmeras histórias. A prefeitura afirma que a primeira escritura do chamado “sobrado do Largo da Matriz” é de 1846, quando o município ainda nem era emancipado. O casarão, erguido na região conhecida até então como Arraial do Espírito Santo, foi construído pelo capitão Domingos Francisco Gontijo, que morou por lá por alguns anos.
Após a morte do primeiro dono do imóvel, o local teve inúmeros usos. Serviu como hospedagem para a comitiva de trabalhadores que atuaram na expansão da ferrovia, foi usado como casa para lua de mel, depois foi sucessivamente transformado em posto de saúde, escola e convento para frades. Em 1982, mesmo já reconhecido pelo interesse histórico e cultural para a cidade, o casarão quase foi demolido em um projeto para revitalização da praça. A população protestou e conseguiu manter o imóvel de pé. Três anos depois, foi feita a sua reforma e restauração, sob supervisão do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerias (IEPHA). Em 1988, a construção foi tombada e reconhecida como patrimônio cultural.
CONECTANDO GERAÇÕES
Em 1986, o casarão se tornou a sede do Museu Histórico de Divinópolis. Ainda guardando traços da arquitetura original, sobretudo com a fachada em estilo colonial, o imóvel passou a abrigar um acervo de peças variadas, objetos de artes e documentos de diferentes gerações, revelando a história e a alma de Divinópolis, município com grande importância econômica para o estado e com raízes que remontam à expansão da ferrovia e à vocação confeccionista. Muitos visitantes tiveram a oportunidade de conhecer o interior do museu, ver de perto as obras e viajar no tempo, em plena região central de Divinópolis. Mas, o tempo foi cruel com a construção centenária. Em 2017, a Defesa Civil constatou risco de desabamento de algumas paredes e de parte do teto. Com isso, o imóvel teve que ser interditado. Chegou a ficar escorado por vigas devido ao temor de uma inevitável queda da estrutura.
Mais uma vez, a mobilização da população entrou em cena. Moradores e visitantes, defensores da importância histórica do casarão, pressionaram o poder público e, em 2023, teve início um longo e minucioso processo de restauração. Em maio de 2024, as obras foram finalizadas e o Museu Histórico foi reinaugurado. Depois de anos fechado, o casarão abriu novamente as portas para receber o público. Segundo a prefeitura, “as peças de madeira foram restauradas e as instalações hidráulicas substituídas. Foi concluído novo reboco e o telhado também foi restaurado. No fundo da edificação, foi construído um anexo e o Casarão ganhou acessibilidade. Um elevador foi instalado e quatro banheiros acessíveis foram construídos”.
A visitação ao Museu Histórico é gratuita. O local recebe exposições itinerantes, de diversos tipos de obras, como escultores, pintores e escritores. Acervos ricos em detalhes e em histórias. Só no ano passado, segundo a prefeitura, quase 3 mil pessoas conheceram de perto o espaço, que recebeu cinco exposições. Em 2025, o Museu segue com uma programação extensa, resgatando e valorizando as raízes centenárias de Divinópolis.
O Museu Histórico de Divinópolis está localizado na Praça Dom Cristiano, 328 - Centro, Divinópolis. A visitação do acervo pode ser feita, sem necessidade de agendamento, de segunda à sexta-feira, de 8h às 17h. Esporadicamente, a prefeitura realiza exposições em horários estendidos e também aos finais de semana. A programação atualizada é divulgada no site da prefeitura de Divinópolis.



PLANTANDO ÁGUA

Comitê finaliza obras do Programa de Conservação
Ambiental em Cláudio
Cerca de 80 propriedades rurais receberam as obras do Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água do CBH do Rio Pará na zona rural de Cláudio, região do Alto Pará. As intervenções na microbacia dos Custódios já foram concluídas.
O Programa foi criado pelo CBH do Rio Pará com o objetivo de executar obras para melhorar a quantidade e qualidade dos recursos hídricos ao longo da bacia. Na microbacia dos Custódios, em Cláudio, os trabalhos começaram em março do ano passado e foram concluídos recentemente. “As interferências já estão concluídas aqui na microbacia do Ribeirão dos Custódios, deixando marcas de benefícios e a certeza de prosperidade na lida com a terra, na vazão e qualidade da água. Benefício não só para a comunidade dos Custódios, como também para o município de Cláudio e a bacia como um todo”, comemora Marcelo da Fonseca, representante do Sindicato dos Produtores Rurais de Cláudio e conselheiro do CBH do Rio Pará.
Só em Cláudio o investimento foi de mais de R$ 5 milhões. De acordo com a empreiteira responsável pela execução das obras, as intervenções concluídas incluem a implantação de mais de 87 mil metros de cercas, plantio de 31 hectares de mudas, além da correção do solo em mais de 560 hectares e 258 mil metros de terraceamento. “O resultado foi
bastante satisfatório e percebemos que superou as expectativas das famílias beneficiadas. Na minha avaliação, foi um sucesso total. Agora, após a etapa de conclusão das obras, estamos na fase de manutenção das intervenções, para que elas continuem a contribuir com a preservação da microbacia por bastante tempo”, explica Daniel Augusto Martins, engenheiro da Fortal Engenharia, contratada para executar as ações na microbacia dos Custódios.
Uma das propriedades beneficiadas pertence ao senhor Fidel Pereira da Fonseca. Na área de cerca de 29 hectares, o CBH do Rio Pará financiou a execução de intervenções para correção do solo, terraceamento, além da construção de cercas. “Antigamente, o córrego que passa por aqui tinha muito mais água. Com o passar do tempo, o volume diminuiu muito. Com esse projeto a gente espera que as coisas melhorem, porque temos que preservar a natureza”, comenta o produtor rural.
Além da microbacia dos Custódios, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará está financiando a execução das obras na microbacia do Sapé, em Carmo do Cajuru, no Médio Pará, e na microbacia do Pari, em Pompéu, região do Baixo Pará. Em Carmo do Cajuru, as obras já terminaram, enquanto em Pompéu a expectativa é que os trabalhos comecem em breve.

