Boletim Informativo Semestral - Setembro de 2024 - CBH do Rio Pará
Publicação semestral do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará – nº6
Situação crítica de escassez hídrica
Cidades da bacia do Rio Pará
sofrem com estiagem prolongada e restrição na captação
Programa de Produção de Água se aproxima da reta final
Págs. 4 e 5
Entrevista: Rodrigo Belo (IEF) e as queimadas na bacia Págs. 8 e 9
Conheça a Estação de Memórias de Carmo do Cajuru
Págs. 10 e 11
EDITORIAL
As ações do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará caminham a passos largos, como nunca dantes visto. Como veremos de maneira especial neste Informativo, nosso Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água – realizado em três microbacias consideradas prioritárias, em cada região fisiográfica da bacia: Alto, Médio e Baixo Rio Pará – segue a todo vapor, com obras hidroambientais sendo implementadas em Cláudio e Carmo do Cajuru.
Outro importante trabalho é o Plano de Educação Ambiental (PEA) da bacia hidrográfica, com ações sistemáticas acontecendo junto a um público variado: técnicos das prefeituras, comunidade escolar, usuários de recursos hídricos e população em geral.
Não podemos deixar de falar do nosso Programa de Saneamento Rural, que vai aplicar cerca de R$ 2,5 milhões em sua primeira edição para beneficiar diretamente sete comunidades rurais em seis municípios, e, ainda, do nosso Programa Continuado de Comunicação Social e Relacionamento, que nos auxilia a divulgar nossas ações e a chegarmos ao nosso público preferencial de maneira estratégica.
Mas você sabia que tudo isso só é possível graças aos recursos da Cobrança pelo Uso da Água na Bacia do Rio Pará? A Cobrança é um instrumento que visa dar ao usuário (aquele que capta o recurso hídrico direto das águas superficiais ou subterrâneas) uma indicação de seu real valor, estimulando a economia do recurso hídrico. Os recursos financeiros arrecadados com a Cobrança são destinados aos programas e às ações voltados para a bacia hidrográfica – não se trata, portanto, de uma taxa ou de um imposto; esse tipo de recurso é denominado Preço Público. A aprovação da metodologia e dos valores da cobrança é uma atribuição dos Comitês de Bacia.
É exatamente esse recurso, pago pelos usuários de recursos hídricos, que viabiliza o desenvolvimento desses projetos de recuperação hidroambientais promovidos pelo CBH do Rio Pará – cujos benefícios retornam aos usuários na forma da garantia de mais e melhores águas para os múltiplos usos.
Após anos de contingenciamento dos recursos da Cobrança por parte do governo do estado de Minas Gerais, desde 2020 esse valor tem chegado ao Comitê e a Agência Peixe Vivo. Contudo, o que tem ameaçado a sustentabilidade desse sistema, atualmente, é a inadimplência no pagamento pelo uso da água na bacia do Rio Pará, atualmente na casa dos 60%.
Na perspectiva do Comitê, é importante apresentarmos com cada vez mais clareza e transparência as ações que temos promovido ao longos dos anos, na busca por mais e melhores águas em toda a bacia hidrográfica.
Enquanto representante do segmento de usuários, conclamo os meus iguais - sejam eles do setor produtivo, agropecuário ou mesmo dos municípios e estado e suas companhias de saneamento - para que mantenham em dia esse pagamento tão importante para a saúde ambiental do nosso território, especialmente em tempos de emergência climática.
Esperamos, também, que o Estado faça a sua parte, garantindo continuamente um processo de pagamento ágil e simplificado.
Túlio Pereira de Sá
Presidente do CBH do Rio Pará
Diretoria do CBH do Rio Pará
Presidente: Túlio Pereira de Sá
Vice-presidente: Beatriz Alves Ferreira
Secretário: José Hermano Oliveira Franco
Secretária-adjunta: Vilma Aparecida Messias
Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBH do Rio Pará comunicacao@cbhriopara.org.br Direitos reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.
COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARÁ
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Direção: Paulo Vilela / Pedro Vilela / Rodrigo de Angelis
Coordenação de Jornalismo: Luiz Ribeiro
Redação e Reportagem: Ricardo Miranda
Revisão: Ísis Ribeiro Pinto
Fotografia: Bianca Aun, Dalton Mitre, Edson Oliveira, Fernando Piancastelli, João Alves, Leo Boi e Leonardo Ramos
Diagramação e Finalização: Rafael Bergo
O PAPEL DO PORTA-VOZ
Comitê realiza Oficina de Comunicação para aperfeiçoar estratégias dos membros
O CBH do Rio Pará realizou, em setembro, a suaterceira edição da Oficina de Comunicação. O treinamento aconteceu em Divinópolis e buscou capacitar os porta-vozes do Comitê para que estejam aptos a transmitir mensagens ao seu público, à imprensa e aos cidadãos em geral, de forma clara e precisa, através de técnicas ministradas por especialistas.
O treinamento faz parte do Programa de Comunicação Social e Relacionamento do CBH do Rio Pará. Membros da Câmara Técnica Consultiva (CTC) e do Grupo de Trabalho do Plano de Educação Ambiental (PEA), além da diretoria e outros membros do Comitê, participaram da oficina. As atividades foram conduzidas pela empresa TantoExpresso, mediadas pela jornalista e educadora organizacional Melânia Costa. “Todos nós somos porta-vozes, seja de uma ideia, de uma instituição ou de uma causa. E no caso da água, essa é uma grande causa. O nosso treinamento tem o objetivo de preparar os membros do Comitê para portar a voz da causa e da instituição” explica Melânia.
Na oficina, foram trabalhadas estratégias ligadas ao papel de portavoz, comunicação institucional, além de técnicas de oratória, postura em entrevistas, storytelling e relacionamento com a imprensa.
Larissa Reis, gerente de meio ambiente da prefeitura de Pompéu, participou do treinamento pela primeira vez e gostou da iniciativa do Comitê. “A comunicação e a oratória são pontos muito importantes, pra gente saber passar as informações para o público. Muitas vezes a gente tem o conhecimento, mas não sabe como repassar. E esses treinamentos são de grande valia para que a gente possa se preparar”, comenta.
Foram realizadas várias atividades ao longo do treinamento, para que os participantes pudessem aprender, na prática, técnicas de desinibição, oratória e postura. Com isso, estarão ainda mais preparados para contribuir com o trabalho desenvolvido pelo CBH. “O Comitê é fundamentalmente um órgão de mobilização e comunicação com as pessoas. É o lugar onde todo mundo tem voz e vez, para mostrar os assuntos da bacia para as pessoas. E quem está trabalhando em prol dessa causa precisa saber como se comunicar sobre o trabalho do Comitê da forma mais assertiva possível. E se você não souber como se posicionar, perde a oportunidade de comunicar o que é realmente necessário. Foi um treinamento incrível e muito enriquecedor”, finaliza José Hermano Franco, secretário do CBH do Rio Pará.
Treinamento envolveu Diretoria, além de membros da CTC e Grupo de Trabalho do PEA.
MAIS ÁGUA BOA PRA TODO MUNDO
Obras do Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água se aproximam da reta final
O CBH do Rio Pará comemora o avanço das obras do Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água. As intervenções seguem em ritmo acelerado e já se aproximam das etapas finais, tanto em Cláudio, no Alto Pará, quanto em Carmo do Cajuru, no Médio Pará. Como algumas intervenções foram finalizadas, os moradores das comunidades beneficiadas já observam os resultados positivos do trabalho.
Em Carmo do Cajuru, as obras acontecem na microbacia do Ribeirão Sapé. 75 propriedades foram selecionadas após levantamentos técnicos para receber as intervenções, que têm o objetivo de melhorar a disponibilidade hídrica da região. Ao todo, cerca de R$ 2 milhões estão sendo investidos em várias ações.
De acordo com a empresa executora, a Embaúba Engenharia, até o momento, já foram instalados 34 mil metros de cercamento. Outros 6 mil metros ainda vão ser colocados ao redor de nascentes e áreas de preservação, para proteger esses locais. Outra ação importante é a construção de fossas biodigestoras. Todas as 11 previstas no projeto já estão prontas para tratar o esgoto doméstico das residências rurais.
As equipes da empreiteira estão espalhadas por diferentes pontos da microbacia do Sapé trabalhando em várias ações. Já foram finalizados os quase 2 mil metros de terraceamento, além da construção de 129 barraginhas. 43 pontos já receberam os círculos de bananeira, usados para o tratamento da água usada em pias, chuveiros e máquinas de lavar roupas.
Além disso, metade da área de Sistema Agroflorestal já ficou pronta, combinando produção agrícola e preservação ambiental para aumento da biodiversidade. Na fase atual das obras, o foco é a construção das 27 bacias de evapotranspiração previstas no projeto.
Com o andamento das obras, os moradores da região já observam as transformações provocadas pelo projeto. Jéssica Bolina, superintendente de meio ambiente da prefeitura de Carmo do Cajuru, conta que a comunidade se envolveu bastante com as ações. “Estamos todos bastante satisfeitos. A comunidade teve uma aceitação muito grande e agora a gente está vendo que aqueles que não foram contemplados na primeira etapa estão procurando querendo aderir também”, comenta.
Mesmo antes do fim das obras, os primeiros impactos das ações executadas pelo Comitê já são percebidos. “A gente mantém um monitoramento quali-quantitativo da água. Semanalmente, em períodos não chuvosos, fazemos a coleta da vazão do rio pra ver a quantidade de água, e o volume está excelente. Além disso, periodicamente fazemos coletas de amostras de água em cinco pontos diferentes da microbacia. Desde abril, temos feito esta análise e a mudança na qualidade da água tem sido bastante expressiva em termos positivos. Nas primeiras avaliações, os coliformes estavam em nível acima da norma, e agora na maioria dos pontos essa situação já foi resolvida. Isso é um ponto muito importante em termos de enriquecimento ambiental”, afirma Gabriela Soares, gestora de projetos da Embaúba.
Benefícios também no Alto
Em Cláudio, no Alto Pará, as obras também se aproximam da reta final. O CBH do Rio Pará está investindo quase R$ 8 milhões nas intervenções executadas na microbacia dos Custódios. As equipes trabalham em diversas ações nos povoados de Palmital, Custódios, Rocinha, Monsenhor João Alexandre, Estiva e Corumbá. Ao todo, cerca de 80 propriedades rurais vão ser beneficiadas.
Dos 210 mil metros de terraceamento previstos pelo projeto, já foram executados mais de 160 mil. Além disso, as equipes conseguiram finalizar completamente a correção do solo nos cerca de 570 hectares beneficiados. Já em relação à instalação de cercas, dos 89 mil metros de cercamento, 30 mil estão prontos.
A expectativa da empresa contratada é avançar, nas próximas semanas, com o cercamento das áreas de preservação e concluir o terraceamento. Quando começar o período chuvoso, vai ser feito o plantio de mudas nativas em 167 hectares da região. “O Programa no município de Cláudio segue avançando de forma significativa, com várias obras e ações já em andamento. As expectativas em torno do programa são extremamente positivas. A médio e longo prazo, os benefícios esperados incluem a melhoria da qualidade da água, a preservação da biodiversidade local e a redução dos impactos de eventos climáticos, como enchentes e secas”, comenta com otimismo Anna Marcelos, secretária municipal de Meio Ambiente e Agricultura de Cláudio e conselheira do CBH.
Além das comunidades em Cláudio e em Carmo do Cajuru, o Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água vai beneficiar a microbacia do Pari, em Pompéu, no Baixo Pará, onde as obras ainda não tiveram início. A expectativa do CBH do Rio Pará é dar andamento às ações e começar o trabalho em Pompéu o quanto antes. “Estamos muito satisfeitos com o andamento das ações em Cláudio e em Carmo do Cajuru, e em breve vamos dar início ao Programa em Pompéu. No próximo ano vamos reavaliar os editais para pensar em novos projetos, dentro do que a gente pode fazer com a o valor arrecadado com a Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos. Estamos conseguindo mostrar para a bacia como os valores são revertidos, ainda mais em um momento como o que estamos passando, de escassez hídrica. Esses trabalhos vão contribuir para que a gente não sofra com a falta d´água”, avalia Túlio Pereira de Sá, presidente do CBH do Rio Pará.
Cercamento de APPs, construção de terraceamento e barraginhas são algumas das ações que o CBH implementa pelo Programa.
SECA HISTÓRICA
Sem chuva há seis meses, cidades da bacia do Rio Pará sofrem com estiagem prolongada e restrição na captação
No início de setembro, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) declarou “situação crítica de escassez hídrica superficial” no trecho do Rio Pará que fica a montante da Estação Velho do Taipa, em Conceição do Pará. A medida impõe restrições na captação de água das outorgas da região e é válida por 45 dias, afetando vários municípios.
A situação é consequência do longo período de estiagem. De acordo com o IGAM, o monitoramento fluviométrico na Estação Velho do Taipa constatou que a média das vazões diárias de sete dias consecutivos ficou abaixo do mínimo necessário, o que caracteriza situação crítica de escassez. Para o Instituto, a declaração se justifica pela necessidade de tomada de decisões para amenizar os problemas.
A portaria do IGAM determina restrição na captação de água das outorgas a montante da estação Velho do Taipa. Com isso, as outorgas vigentes para captação de água superficial sofreram as seguintes reduções:
• 20% no volume diário outorgado para as captações de água para a finalidade de consumo humano, dessedentação animal ou abastecimento público;
• 25% do volume diário outorgado para a finalidade de irrigação;
• 30% do volume diário outorgado para as captações de água para a finalidade de consumo industrial e agroindustrial;
• 50% do volume outorgado para as demais finalidades, exceto usos não consuntivos.
Para o presidente do CBH do Rio Pará, Túlio Pereira de Sá, a situação é bastante preocupante. “A gente vê que os rios estão baixando. E nos encontramos em um período em que a demanda pelo uso da água é maior que a oferta que a gente tem. É uma questão que temos que trabalhar com a educação ambiental, incentivando o reuso e avaliando maneiras de reduzir o consumo”, afirma.
A situação crítica de escassez hídrica, bem como as restrições na captação, se aplicam tanto ao Rio Pará quanto à sua bacia de contribuição, ou seja, córregos e demais cursos d’água afluentes do Pará. Ao todo, cerca de 200 outorgantes vão ser afetados, nos municípios de Igaratinga, Itatiaiuçu, Desterro de Entre Rios, Piracema, Perdigão, Pará de Minas, Carmo da Mata, Passa Tempo, São Sebastião do Oeste, Pitangui, Onça do Pitangui, Itapecerica, Divinópolis, Carmo do Cajuru, Conceição do Pará, Itaguara, São Gonçalo do Pará, Itaúna, Oliveira, Nova Serrana, Resplendor, Cláudio, Arcos e Carmópolis de Minas.
Com a medida, o IGAM também suspendeu as emissões de novas outorgas de usos consecutivos de recursos hídricos e as solicitações de retificação de aumento de vazão e/ou de volumes captados. Em caso de descumprimento das determinações, os direitos de uso dos recursos hídricos das outorgas serão suspensos totalmente até o prazo final de vigência da situação crítica de escassez hídrica.
O CBH do Rio Pará acompanha a situação. “Como papel do Comitê, vamos trabalhar para conscientizar os usuários sobre a importância de reduzir o consumo nas outorgas. Temos no Rio Pará diversos tipos de uso que vão ser afetados por essas sanções no trecho que já se encontra em situação crítica. E nossa preocupação é que, se nada for feito, o cenário pode piorar também em outros pontos da bacia. Não temos controle sobre as chuvas, mas de alguma forma, podemos ajudar a minimizar os impactos da estiagem”, finaliza o presidente do Comitê.
Presidente do Comitê, Túlio de Sá, conclama para uso racional dos recursos hídricos.
MINAS EM CHAMAS
Número de incêndios florestais bate recorde no estado e ações integradas tentam contornar a situação
De janeiro a agosto de 2024, Minas Gerais registrou mais de 14 mil queimadas, um crescimento de 50% na comparação com o mesmo período de 2023. Número recorde, que cresce dia após dia, e é o maior dos últimos cinco anos. Na avaliação de especialistas, a situação se deve principalmente à ação humana, agravada pela estiagem prolongada e tempo seco, que criaram uma combinação propícia ao surgimento de focos de incêndio. O fogo tem causado bastante estrago na vegetação por todo o estado. Um levantamento feito pelo Corpo de Bombeiros aponta que 4 mil hectares de unidades de conservação foram devastados pelas chamas este ano. Para tentar combater esse grave problema, uma força tarefa integrada, reunindo diversos órgãos, realiza um grande trabalho em todas as regiões do estado.
Para entender melhor esse cenário, bem como as ações que vêm sendo adotadas, conversamos com Rodrigo Belo, Gerente de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais, o Previncêndio, do Instituto Estadual de Florestas (IEF).
Rodrigo Belo é Gerente de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais pelo IEF.
Qual a avaliação do IEF sobre a atual situação das queimadas em Minas Gerais?
É importante a gente avaliar qual cenário nós temos. Estamos no momento mais grave, porém, isso já era esperado. Historicamente, estes meses de estiagem apresentam condições bastante favoráveis ao surgimento de focos de incêndio. E, na maioria dos casos, observamos que são incêndios provocados pela ação do homem. É uma situação bastante delicada, grave, e que está ligada a vários fatores, como o clima e a falta de conscientização do ser humano.
Recentemente, estatísticas divulgadas pelo Corpo de Bombeiros apontaram números recordes de queimadas em Minas em 2024, mesmo antes da chegada do mês mais crítico, que é agosto. Qual seria a razão do aumento significativo este ano?
A época de seca já representa naturalmente um período propício ao início dos focos de incêndio. Com a vegetação mais ressecada, as chamas surgem e se propagam com mais facilidade. E nesses meses com mais vento, como é agosto, a situação tende a se complicar bastante. Porém, a ação humana tem agravado muito esse cenário. Ou seja, com as mesmas condições climáticas, mas sem a ação do homem, certamente teríamos o registro de incêndios, mas não seriam tantos casos. O que temos visto é uma combinação de fatores, causada por mudanças climáticas que têm agravado as condições ambientais propícias ao surgimento dos focos e ainda, a ação do homem, que hoje é o principal causador da maioria dos registros.
Atualmente, qual a principal estratégia do IEF para a prevenção às queimadas em Minas?
O IEF lança mão de diversos recursos para fazer frente a essa situação. Temos uma importante atividade de vigilância ambiental, monitorando as condições climáticas e os locais com maior risco à ocorrência de incêndios, para saber como e quando agir. Também estamos avançando no campo das tecnologias, pesquisas de aplicabilidade de técnicas, além das diretrizes da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, que prevê a participação de diversos atores no combate aos incêndios. Não são apenas ações governamentais, mas também envolvem empresas, entidades do terceiro setor, voluntários etc. Eu sempre costumo dizer que é preciso apenas uma única pessoa para dar início ao fogo, mas, por outro lado, são necessárias 50 pessoas para apagar o incêndio. Acabar completamente com esse cenário é impossível, mas estamos prontos para enfrentá-lo da melhor maneira possível.
Este ano, o IEF apontou que o combate às queimadas em Minas Gerais seria uma prioridade no estado. Quais ações estão sendo realizadas no momento, durante o atual período de seca?
É importante destacar que o combate aos incêndios sempre foi uma prioridade para o IEF, há mais de 20 anos. Especialmente este ano, em razão do aumento significativo do número de casos, estamos fazendo a contratação de mais mão de obra para ajudar nos trabalhos. Além disso, a partir de convênios com outras entidades, incluindo Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, estamos aumentando nossa disponibilidade de recursos, como com a utilização de várias aeronaves para o combate aos focos de incêndio. Paralelamente, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, o ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade], além de outros órgãos, nos auxiliam nas atividades preventivas para evitar o surgimento de mais casos. Trabalhamos de maneira integrada a nível municipal, estadual e também com a União.
No ano passado, Minas Gerais registrou mais de 17 mil casos de queimadas. Em 2021, foram mais de 24 mil casos. Por que ainda ocorrem tantos incêndios em vegetação no estado?
Acredito que a falta de consciência das pessoas seja a principal causa. A maioria dos incêndios em vegetação é provocada pela ação humana. Temos também alguns casos de produtores rurais que fazem queimadas, sem a prevenção necessária, aí o fogo escapa do controle. Apesar de não ser intencional, isso acontece de forma significativa. As pessoas precisam entender o papel da sociedade para resolver esse problema.
Especialmente nos municípios da região Centro-Oeste do estado, como o IEF trabalha junto às prefeituras e bombeiros para tentar articular as ações de prevenção e combate às queimadas nas unidades de conservação ambiental?
O IEF não tem a capacidade para, de forma isolada, resolver o problema dos incêndios em Minas Gerais. Por isso mesmo, buscamos um fortalecimento do nosso efetivo através do combate integrado. Estamos contando com apoio dos bombeiros, polícias, prefeituras e outros órgãos, para enfrentar essa situação. Nunca é fácil, mas unindo esforços fica mais fácil. Por isso o IEF investe nesse conjunto de ações, trabalhando de forma consciente na prevenção e também no combate cada dia melhor e mais bem estruturado. Não existe uma única ferramenta, uma ferramenta mágica. É um conjunto de iniciativas aplicadas de forma coordenada.
Na bacia do Rio Pará, onde há uma presença significativa da agricultura, o manejo controlado do fogo é bastante utilizado por alguns produtores rurais para preparo do solo. Esse é um tipo de prática recomendado, ou pode ser uma das causas dos incêndios em vegetação?
O uso consciente do fogo é uma prática legalizada. Não somos contra isso, desde que seja feito da forma correta, com autorização e seguindo todas as normas necessárias. Caso contrário, pode sim sair do controle e se tornar uma das causas dos incêndios que temos visto por aí. Precisamos entender que o fogo é uma ferramenta barata e por isso é bastante utilizada por agricultores, porém, é também uma ferramenta extremamente perigosa. Assim com um carro em alta velocidade pode se tornar uma arma, o fogo usado sem prudência tem potencial para se tornar destruidor. É necessário observar o manejo adequado, respeitando os intervalos e as demais recomendações – como, por exemplo, não realizar em épocas como a que estamos, com estiagem superior a 60, 70 dias. Porque isso cria um cenário ideal para a propagação descontrolada do fogo.
O CBH do Rio Pará elaborou recentemente o seu Plano de Educação Ambiental, com uma série de ações voltadas à conscientização e ao envolvimento da população. Para o IEF, qual a importância de ações desse tipo em relação à prevenção e combate às queimadas?
A população é quem tem o poder da mudança. Por mais que as pessoas às vezes reclamem da falta de investimentos, o que a gente vê é um cenário que se repete, com a falta de conscientização. As pessoas preferem pagar pela limpeza a evitar a sujeira, ou seja, ao invés de evitar a ocorrência dos incêndios, acham melhor reclamar da atuação dos órgãos que atuam no combate ao fogo. E iniciativas para promover a conscientização são fundamentais. Se a gente consegue promover a educação ambiental atingindo o máximo de pessoas, provocando envolvimento, conseguimos mudança de posturas, mesmo que nem todas as pessoas estejam dispostas a serem educadas. Com o aparato forte que temos para combater esse problema, junto com a educação ambiental, conseguimos superar os obstáculos e diminuir os impactos que eles provocam.
CONHECENDO A BACIA DO RIO PARÁ:
HISTÓRIA PRESERVADA
Conheça a Estação de Memórias de Carmo do Cajuru e o acervo que reconta momentos importantes da cidade
Nas visitas, o público é convidado a vivenciar uma imersão histórica para resgatar e preservar memórias a partir dos trilhos e vagões que passaram pela estação.
Foi ao redor dos trilhos do trem que Carmo do Cajuru se desenvolveu. A história da cidade está entrelaçada com a ferrovia, principalmente após a chegada da primeira locomotiva à estação erguida no município. A Maria Fumaça, apelidada de Baronesa, chegou a Cajuru em 1911, transformando a vida e a rotina do pequeno povoado.
Foram décadas de desenvolvimento impulsionado pelo vaivém dos trens. Justamente por isso, a ferrovia ajuda a recontar a história de Carmo do Cajuru. A estação ferroviária, hoje desativada, virou um dos cartões postais da cidade, patrimônio histórico tombado pelo município. O imóvel passou por um processo de restauração, conduzido pela VLI, administradora de Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), em parceria com a Agência Iniciativas Cidadãs e a prefeitura. “Ao resgatar e preservar a memória ferroviária, reforçamos o conceito de que, para pensar no futuro é preciso valorizar o passado”, destaca a gerente de Responsabilidade Social da VLI, Maria Clara Fernandes.
Ao longo de oito meses de pesquisas, foram identificadas quase 100 fotografias, entre elas registros que mostram a Maria Fumaça Baronesa e os trabalhadores que ajudaram na construção da Estação Ferroviária de Carmo do Cajuru. Também foram catalogados objetos e documentos, além da realização de entrevistas com personagens que ajudam a recontar a história da ferrovia em Carmo do Cajuru. Raíssa Faria, coordenadora do programa da VLI, acredita que “registrar e difundir as histórias do trem de ferro na cidade é uma maneira de garantir que memórias afetivas tão ricas e preciosas não sejam esquecidas e perdidas. Toda essa pesquisa e entrega só foram possíveis pelo trabalho e contribuições de muitas mãos”.
As fotos, documentos e entrevistas fazem parte do acervo da Estação de Memórias de Carmo do Cajuru, que agora funciona no prédio da antiga estação ferroviária. “A estação de memórias é um ponto de encontro entre o passado e o presente, onde as histórias são compartilhadas e celebradas. Queremos não apenas preservar a história da ferrovia, mas também falar das vivências e lembranças afetivas que permeiam esse universo. Um local de cultura para toda a cidade e região”, comenta Flávio Flora, jornalista, historiador e diretor administrativo da prefeitura de Carmo do Cajuru.
Nas visitas, o público é convidado a vivenciar uma imersão histórica para resgatar e preservar memórias a partir dos trilhos e vagões que passaram pela estação. Uma jornada nostálgica, repleta de descobertas. “Essa é uma parte muito importante da nossa história. Desde 1911, com a chegada dos trens, a linha férrea trouxe progresso para Carmo do Cajuru. Na inauguração, que aconteceu no fim do ano passado, recebemos muitas pessoas da nova geração, que não conhecem essa história e ficaram encantadas com o que viram. E também estiveram aqui filhos e netos de ferroviários, admiradores dessa época, que relembraram e se emocionaram com nosso acervo”, explica Célio Antônio Cordeiro, coordenador do museu da Estação de Memórias.
A Estação Ferroviária fica na Praça Presidente Vargas, no Centro de Carmo do Cajuru. As visitas são gratuitas e devem ser agendadas pelo telefone (37) 3244-0700.
ÁGUAS DO SABER
Plano de Educação Ambiental do CBH do Rio Pará segue a todo vapor
As ações do Plano de Educação Ambiental (PEA) do CBH do Rio Pará já começaram a ser executadas. E outras ações estão previstas até o fim deste ano. O objetivo é promover conscientização e incentivar a mobilização da comunidade para a preservação dos recursos hídricos.
Entre agosto de 2022 e maio de 2023, o Comitê realizou uma série de levantamentos e estudos para o desenvolvimento do PEA. O instrumento prevê várias ações que serão realizadas nos 35 municípios da bacia ao longo dos 10 anos, para contribuir com a preservação dos recursos hídricos. O investimento vai ser de mais de R$ 3 milhões em diversas iniciativas.
Após a finalização e aprovação do PEA, o Comitê já deu início à execução das ações. Ainda no ano passado, o CBH do Rio Pará realizou uma oficina para divulgação e norteamento das ações de Educação Ambiental. Em 2024, entre os dias 06 e 10 de maio, aconteceu a “Semana Rio Pará – Educar para Transformar”, nos municípios de Desterro e Entre Rios, Carmópolis de Minas, Itapecerica, Nova Serrana, Leandro Ferreira e Araújos, promovendo ações de estímulo à consciência ambiental.
Além disso, o Comitê participou da 1ª Oficina em Educação Ambiental do Fórum Nacional dos Comitês de Bacias Hidrográficas, em julho deste ano, para alinhar as ações do PEA do CBH do Rio Pará com os demais CBHs.
Divinópolis, maior município da bacia do Rio Pará, foi a primeira cidade a receber uma exposição educativa itinerante com totens produzidos pelo CBH do Rio Pará que apresentam a bacia, suas características, belezas e principais fatores de pressão. “O Comitê entende que a Educação Ambiental é uma ferramenta importante para a gestão dos recursos hídricos. Mediante esta visão, o PEA foi construído, tendo como objetivos a integração de vários atores, incluindo usuários, poder público e sociedade civil em geral. A intenção é consolidar a Educação Ambiental no território da bacia, orientar e acompanhar o delineamento e a execução de projetos de conscientização e informação, bem como estabelecer ações que possam contribuir para a solução ou alívio de questões ambientais relacionadas aos recursos hídricos”, explica Beatriz Alves, vice-presidente do CBH do Rio Pará e coordenadora do Grupo de Trabalho do PEA.
Até o fim deste ano, outras ações do Plano de Educação Ambiental da Bacia do Rio Pará vão ser colocadas em prática. Uma das iniciativas é a realização de Dias de Campo, para capacitação de usuários de recursos hídricos. O Comitê divulgou um Procedimento de Manifestação de Interesse e, após avaliar vários critérios, selecionou Cláudio e Carmo do Cajuru, no Médio Pará, além de Pará de Minas, no Baixo Pará.
Também vão ser realizadas capacitações para técnicos municipais em Educação Ambiental. Para essas ações, o CBH do Rio Pará selecionou Cláudio, no Alto Pará, Carmo do Cajuru, no Médio, e Pará de Minas, no Baixo.
“A gente espera que os técnicos municipais estejam preparados para apoiar a população em geral, principalmente os que vão ser beneficiados com as soluções individuais de saneamento rural. É importante destacar que apesar das capacitações serem realizadas nas cidades selecionadas pelo edital, nossa ideia é convidar representantes dos outros municípios que também demonstraram interesse em participar das atividades. Dessa forma, conseguiremos reverberar as ações realizadas pelo Comitê e manter em alta os temas ligados à Educação Ambiental”, explica Ohany Vasconcelos, Coordenadora Técnica da Agência Peixe Vivo.
Em breve, o Comitê vai dar início ao planejamento da primeira edição do Prêmio Rio Pará, para reconhecer e incentivar boas práticas de Educação Ambiental. O PEA também vai promover o ‘CBH nas Instituições’, para apresentar o trabalho do Comitê em empresas, instituições de ensino e outros locais.
PEA prevê uma série de ações junto à população dos 35 municípios da bacia.