Boletim Informativo Semestral - Setembro de 2023 - CBH do Rio Pará

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Publicação semestral do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará – nº4

Renovação e participação Solenidade marca posse de novos membros

e eleição da Diretoria do CBH do Rio Pará

Comitê fortalece vínculos no XXV Encob Pág. 3

Conheça o povoado de Velho da Taipa, às margens do Rio Pará Págs. 8 e 9

Programa de Conservação e Produção de Água é oficialmente lançado em microbacias prioritárias

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EDITORIAL

Um processo democrático e participativo renovou o Plenário do CBH do Rio Pará e a composição da Diretoria. Após mais de dez anos de atuação neste Comitê, assumo com muito entusiasmo e responsabilidade a presidência pelos próximos dois anos (2023/2025).

Posso dizer que esse período de participação no CBH do Rio Pará foi de intenso aprendizado. Um aprendizado que se iniciou, vale destacar, com a Regina Greco [ex-presidente] – uma pessoa muito importante na história deste colegiado, que conseguiu manter o Comitê vivo em momentos muito difíceis, marcados pelo contingenciamento dos recursos da cobrança pelo uso da água.

Parabenizo em muito também a gestão do José Hermano Franco, que soube impulsionar o CBH e o desenvolvimento de diversos projetos e ações nesses últimos anos, quando a retenção dos nossos recursos deixou de ser um problema.

Em todos esses momentos ao longo dos últimos 11 anos, tive a oportunidade de participar ativamente de marcos importantes para este Comitê, como a definição da metodologia da cobrança pelo uso da água, o enquadramento dos cursos d’água em classes, o início do Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água.

Neste Comitê, comecei como conselheiro, integrei Câmaras Técnicas, assumi a coordenação destas, compus a Diretoria como vice-presidente e secretário. Agora, como presidente, a proposta é de continuidade.

Continuidade que se expressa na própria formação desta chapa – que mantém nomes importantes da última diretoria, mas que também se renova, com a chegada, principalmente, da Beatriz Alves, que já há anos faz um excelente trabalho à frente da CTECOM.

A proposta é que nossos principais projetos de recuperação hidroambiental – o Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água, e o Programa de Saneamento Rural – prossigam com as etapas executivas e sejam expandidos. Nossa ideia é que também o Plano de Educação Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Pará seja implementado, trazendo ainda mais o nome do Comitê para a região, a partir do envolvimento com os outros entes, protagonizando e atuando em parceria as iniciativas de sucesso já em desenvolvimento.

Desejamos também o fortalecimento real das Câmaras Técnicas do Comitê. Como hoje grande parte do Plenário do CBH do Rio Pará foi renovado, é importante o envolvimento e a capacitação dos conselheiros, de modo a empoderar as câmaras para que continuem a ser o espaço de aprofundamento técnico e assessoramento ao Comitê de maneira geral.

Atuaremos, também, para fomentar projetos e parcerias com o poder público e entidades privadas distribuídas por toda a bacia. Só assim conseguiremos dar um passo à frente e promover melhorias que podem ir além do que a cobrança pelo uso da água viabiliza.

Me sinto honrado por participar deste Comitê e por chegarmos aonde chegamos. Trabalharemos, juntos, para irmos além.

Diretoria do CBH do Rio Pará

Presidente: Túlio Pereira de Sá

Vice-presidente: Beatriz Alves Ferreira

Secretário: José Hermano Oliveira Franco

Secretária-adjunta: Vilma Aparecida Messias

Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBH do Rio Pará comunicacao@cbhriopara.org.br Direitos reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.

Comunicação: TantoExpresso (Tanto Design LTDA)

Direção: Rodrigo de Angelis / Paulo Vilela / Pedro Vilela

Coordenação de Jornalismo: Luiz Ribeiro

Redação e Reportagem: João Alves, Luiz Ribeiro, Mariana Martins e Ricardo Miranda

Revisão: Ísis Ribeiro Pinto

Fotografia: Bianca Aun, Dalton Mitre, Edson Oliveira, Fernando Piancastelli, João Alves, Leo Boi e Leonardo Ramos

Diagramação e Finalização: Rafael Bergo

COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARÁ

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Túlio Pereira de Sá Presidente do CBH do Rio Pará

GOVERNANÇA, ADAPTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Realizado entre os dias 21 e 25 de agosto, em Natal (RN), o XXV Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (Encob) reuniu autoridades, especialistas e representantes de todo o país para discutir os desafios e avanços relacionados à gestão das águas. Membros do CBH do Rio Pará desempenharam um papel ativo no encontro, contribuindo significativamente para as discussões e ações relacionadas à gestão hídrica e aos desafios enfrentados pelas bacias hidrográficas em todo o país.

O evento é um momento crucial para a troca de experiências e conhecimentos, permitindo a discussão de estratégias e ações que visam a preservação e o uso sustentável dos recursos hídricos. Neste contexto, o CBH do Rio Pará se fez presente, trazendo à mesa suas experiências de sucesso e os desafios enfrentados na gestão das águas em sua região.

Para isso montou um estande para divulgar suas ações e projetos. No espaço, foram distribuídos materiais informativos sobre a gestão das águas na região, incluindo cartilhas educativas, folders e vídeos explicativos.

O presidente do Comitê, Túlio Pereira de Sá, destacou a importância: “Este ano conseguimos trazer o estande do CBH do Rio Pará e viemos com grandes expectativas. Nosso objetivo é demonstrar os trabalhos e projetos que tem sido feitos, além de divulgar a nossa bacia, pois com a Expedição realizada este ano coletamos muita informação e dados importantes. Além disso, o Encob nos dá a oportunidade de compartilharmos nossos aprendizados e também aprender com as práticas de outros Comitês.”

Para a secretária-adjunta do CBH do Rio Pará, Vilma Messias, o encontro possibilitou, de fato, o intercâmbio de conhecimentos entre os Comitês. De acordo com ela, “foi a oportunidade de apresentarmos os nossos projetos e nossas ações, além de absorver as experiências de outros Comitês. A participação do CBH Pará com o estande foi muito positiva pois pudemos falar bastante sobre nossos desafios e nossos sucessos”.

Ainda durante o Encob, o CBH do Rio Pará participou do programa de podcasts “Fala Comitê”, em que os membros Túlio de Sá e André Rufino compartilharam as perspectivas do colegiado, bem como os desafios e soluções, de maneira acessível a um público amplo e diversificado. Os podcasts estão disponíveis no site do Encob.

Além disso, os conselheiros que compuseram a delegação do CBH do Rio Pará marcaram presença na reunião do Fórum Mineiro de Comitês de Bacias Hidrográficas (FMCBH). No encontro regional foram tratadas questões como informações sobre a eleição do colegiado do Fórum Nacional e sobre o repasse de recursos para os Comitês, dentre outros assuntos.

Para o conselheiro do Comitê, Varlei Marra, “a participação no Encob foi muito gratificante e importante. Interagimos com Comitês do Brasil inteiro, participamos de oficinas e debates altamente produtivos, mostramos um pouco do que é o CBH Pará. Foi muito proveitoso, e saímos daqui com muitas informações e vivências para levarmos para o nosso Comitê”.

“O CBH Pará deixa o Encob levando na bagagem muito aprendizado e muitos exemplos a serem seguidos. Por outro lado, pudemos constatar o quanto avançamos e nos tornamos referência, principalmente quando se fala em comunicação e no Plano de Educação Ambiental”, observou o conselheiro Breno Ramos.

CBH do Rio Pará participa do XXV Encob e fortalece vínculos na gestão hídrica nacional
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Ao todo, seis conselheiros do CBH do Rio Pará compareceram no evento; Estande do Comitê foi ponto de destaque.

RENOVAÇÃO

Nova Diretoria e conselheiros são eleitos no CBH do Rio Pará

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Solenidade em Divinópolis deu posse aos novos membros que irão compor o Plenário do CBH do Rio Pará para os próximos quatro anos.

Em 19 de setembro, uma nova chapa foi escolhida para administrar os projetos e ações do CBH do Rio Pará pelos próximos dois anos (2023 a 2025). Além disso, novos conselheiros, que terão mandato de quatro anos (2023 a 2027), tomaram posse em solenidade realizada em Divinópolis.

“A expectativa é de que possamos dar continuidade ao trabalho já feito pela gestão anterior, prevendo, ainda, implantar novos projetos dentro da bacia”, afirmou Túlio de Sá, eleito como o mais novo presidente do CBH do Rio Pará.

Representante da FIEMG já com 11 anos de atuação no Comitê, Túlio vê na renovação dos conselheiros a oportunidade de continuar o desenvolvimento das ações na bacia do Rio Pará. “Os conselheiros foram praticamente todos renovados, portanto nós esperamos que essa nova geração, que está acompanhando o Comitê agora, também abrace a bacia como a gente tem abraçado. (...) Que possamos continuar trazendo este apoio e desenvolvimento para a bacia,” disse Túlio.

A chapa ainda elegeu Beatriz Alves Ferreira (Universidade Federal de São João del-Rei - Sociedade Civil Organizada) como vice-presidente, José Hermano Franco (Prefeitura Municipal de Pará de Minas - Poder Público Municipal) como secretário e Vilma Aparecida Messias (Prefeitura Municipal de Divinópolis – Poder Público Municipal) como secretária-adjunta.

Entre as propostas, a nova gestão trabalhará para implantar e iniciar o programa de monitoramento de vazão ao longo da bacia, com a implantação inicial de pelo menos 15 pontos de medição, além de desenvolver ações integradas com o IGAM, no intuito de gerar um banco de dados consistentes e indicativos dos status hídricos quantitativos na Bacia Hidrográfica do Rio Pará nos níveis superficial e subterrâneo.

A fomentação de ações previstas no Plano Diretor de Recursos Hídricos (PDRH) e no Plano de Educação Ambiental (PEA), com os municípios da bacia e possíveis parceiros, também foi proposta pela chapa vencedora.

A vice-presidente, Beatriz Alves Ferreira, afirma que os pontos mencionados acima são prioridades para a nova gestão. “O foco é o PEA e o monitoramento de vazão em diversos pontos do rio. Estou com muitas expectativas e animada”, afirmou Beatriz.

Após anos na Diretoria, Túlio Pereira de Sá assume a presidência do CBH do Rio Pará.
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Chapa da nova Diretoria foi eleita por unanimidade.

PROGRAMA DE SANEAMENTO RURAL SEGUE AVANÇANDO E CBH DO RIO PARÁ BENEFICIARÁ 350 FAMÍLIAS

Já foram definidas as localidades que irão receber as obras do Programa de Saneamento Rural desenvolvido pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará. O procedimento de manifestação de interesse foi publicado em março deste ano e 34 comunidades se inscreveram. Nesta primeira etapa do projeto sete foram contempladas.

Os municípios tiveram que atender a uma série de critérios e, conforme avaliação técnica do Comitê e da Agência Peixe Vivo, foram definidas as localidades contempladas.

As vagas foram divididas para todas as regiões fisiográficas da bacia. No Alto Rio Pará, as obras vão ser feitas nos povoados de Cajuru e Jacarandira, em Resende Costa, além da comunidade dos Custódios, em Cláudio. No Médio Pará os recursos vão ser aplicados em Branquinhos, na zona rural de Divinópolis, e em Bom Jesus de Angicos, Jacarandá e Olhos d’Água de Angicos, povoados de Carmo de Cajuru. No Alto Rio Pará, o CBH selecionou a aldeia Kaxixó, em Martinho Campos, e o PA Antônio Veloso, em Pompéu.

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34 comunidades rurais da bacia do Rio Pará se inscreveram no procedimento de manifestação.

“O saneamento rural é muito importante e muito falado, mas pouco feito. Principalmente quando a gente pensa em uma bacia hidrográfica, a população vivendo nas margens dos rios é grande. A gente abriu esse edital, os municípios se cadastraram, colocamos vários critérios e quem ficou mais completo, conseguiu”, explica José Hermano Franco, presidente do CBH do Rio Pará.

Na próxima etapa do projeto os técnicos do programa farão uma visita técnica às comunidades selecionadas com o objetivo de definir quais imóveis serão beneficiados pelas obras. A expectativa é beneficiar cerca de 50 famílias por localidade, totalizando 350 ao longo das sete comunidades rurais selecionadas.

Em Resende Costa, onde nasce o Rio Pará, o programa vai conseguir atender todas as famílias, acabando com o problema do saneamento rural no município.

Em Carmo do Cajuru, as comunidades se uniram em uma associação para participar do programa. Na região existem 250 famílias e o investimento do Comitê vai conseguir minimizar bastante os problemas gerados pela falta do saneamento rural. “A associação das comunidades ficou muito feliz em ser contemplada, porque o programa vai trazer a possibilidade de transformar a vida, em questão de saneamento, de vários moradores da região. E através do saneamento vai trazer mais saúde, qualidade de vida e sustentabilidade ambiental. Os moradores receberam isso com muita alegria e estão realmente dispostos a ajudar no que for preciso”, comemora Jéssica Bolina, superintendente de meio ambiente de Carmo do Cajuru.

Nesta primeira etapa do programa serão investidos cerca de R$ 2 milhões. O cronograma prevê que as obras nas comunidades selecionadas comecem no ano que vem. E o Comitê espera, em breve, beneficiar mais localidades ao longo da bacia. “Toda vez que tiver mais recursos, vamos fazendo mais rodadas e assim a gente vai atender todo mundo. Além de servir de exemplo para um monte de gente. É um programa importante, que tem função e queremos mostrar para os municípios que tem jeito de fazer”, finaliza o presidente do CBH do Rio Pará.

Técnicos da Agência Peixe Vivo têm visitado comunidades para definir imóveis a serem beneficiados.
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Nesta primeira etapa do programa serão investidos cerca de R$ 2 milhões, com previsão de início em 2024.

ENTREVISTA:

CORRENDO CONTRA O TEMPO

Professor e conselheiro no CBH do Rio Pará comenta os desafios que temos em relação ao saneamento rural

Apesar de garantido pela Constituição Federal, o saneamento básico rural ainda é uma realidade distante para moradores de várias comunidades espalhadas pelo país. Na Bacia Hidrográfica do Rio Pará a situação não é diferente, mas ações como o Programa de Saneamento Rural do CBH do Rio Pará tentam mudar essa realidade.

Conversamos com o professor Adriano Guimarães Parreira. Ele é biólogo, mestre e doutor em microbiologia, além de pós-doutor em biologia celular. Conselheiro do CBH do Rio Pará, atualmente trabalha como professor na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), em Divinópolis. Com apoio do coordenador regional da Emater em Divinópolis, Lamartine Branquinho, ele explicou a problemática do saneamento rural e os desafios que temos para superar esse atraso.

Durante a passagem da Expedição ‘Esse Rio é Meu’ por Divinópolis, em maio, Adriano Parreira promoveu análise da qualidade da água do Rio Itapecerica.
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Qual a realidade atual do saneamento rural no Brasil?

Aproximadamente 31 milhões de brasileiros vivem em zonas rurais espalhadas por todo o país, contudo apenas 22% possuem saneamento básico adequado, segundo dados do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]. A Constituição, em seu artigo 196, reconhece que a política de saneamento básico é um importante elemento para a efetivação do direito à saúde de todos os brasileiros, com a previsão da obrigatoriedade de implementação de “políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. No ano de 2007 foi promulgada a Lei no 11.445 (Brasil, 2007), que instituiu a Política Nacional de Saneamento Básico, com abrangência para o meio rural. Parte desta lei foi modificada, e/ou revogada, por diferentes medidas normativas (leis, medidas provisórias etc.). Em 2020, um novo marco legal do saneamento básico no Brasil foi instituído (Lei no 14.026/20), com a modificação de alguns artigos da Lei no 11.445, dentre eles, no Art. 11-B, instituiu-se algumas metas de cobertura tanto de serviços de distribuição de água quanto coleta de esgoto, destacando-se que 90% dos brasileiros devem ter rede de esgoto, e 99% devem ter água tratada até 2033, incluindose neste rol as zonas rurais do país.

Na bacia do Rio Pará há muitas comunidades rurais. Na sua avaliação, quais os principais desafios em relação ao saneamento rural na região do Rio Pará?

Os desafios estão ligados à maior difusão de políticas públicas voltadas para o saneamento rural junto aos moradores das diferentes localidades dispersas na Bacia, além de promover a mobilização e conscientização dos produtores acerca da importância do saneamento rural, com ênfase nos desdobramentos sociais, ambientais e econômicos, destacandose os impactos sobre as propriedades e adjacências. Também precisamos integrar os atores interessados, com vistas à ampliação da implantação de obras e conscientização sobre a importância da política de saneamento no meio rural, e fazer um levantamento quantitativo e qualitativo dos impactos gerados pela inexistência de cobertura ampla do saneamento rural ao longo da bacia como um todo.

O CBH do Rio Pará lançou o seu Programa de Saneamento Rural, que se propõe a atender as demandas de 350 famílias de sete localidades rurais da bacia. Qual a importância desse tipo de projeto?

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará iniciará, em breve, após seleção de algumas comunidades rurais, um trabalho piloto com possibilidades de ampliação em seu atendimento. Projetos desta natureza são de extrema importância sob vários aspectos, com reflexos em variados setores, a exemplo dos impactos positivos sobre a saúde dos moradores, meio ambiente e outros, abrindo perspectivas para a formação de agentes multiplicadores de experiências exitosas locais.

O que ainda pode ser feito para melhorar o saneamento rural no Brasil?

Ampliar a cobertura de atendimento da oferta de água tratada, coleta e tratamento de esgoto, assim como a correta destinação dos resíduos sólidos nas comunidades rurais, por meio do aporte de recursos com abertura de créditos que visem financiar tais ações. Além disso, aperfeiçoar o trabalho de conscientização da população rural em relação aos benefícios da implantação do saneamento rural como um todo, as possibilidades já existentes de implantação, a exemplo de modelos simples de destinação de esgotos gerados, tal qual sistemas TEvap [Tanque de Evapotranspiração]. Efetivar a implantação de unidades dispersas em diferentes comunidades com vistas a servirem de modelo para outras localidades no entorno.

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Professor na UEMG, Adriano é também conselheiro do CBH do Rio Pará.

CONHECENDO A BACIA DO RIO PARÁ:

VELHO DA TAIPA

Preservação da história e da natureza em um povoado às margens do Rio Pará

Visitar o povoado de Velho da Taipa é como fazer uma viagem no tempo. O lugarejo tranquilo às margens do Rio Pará é um reduto onde a preservação da história e da natureza fazem parte da vida dos moradores. Além disso, o local tem uma característica inusitada, já que pertence, ao mesmo tempo, a duas cidades diferentes. De um lado do rio está a parte da comunidade que pertence ao município de Pitangui. já na outra margem fica Conceição do Pará. Dois municípios bastante importantes no Centro-Oeste de Minas.

Quem chega a Velho da Taipa logo percebe a exuberância do Rio Pará, com suas águas agitadas e rodeado pela natureza preservada. Para os visitantes, a antiga estação ferroviária é parada obrigatória. Hoje o local funciona como Centro Cultural e guarda a memória do local, com muitos objetos, fotos e pinturas que ajudam a explicar a origem do povoado. Cristina Maria Benícia, nascida e criada na comunidade, é responsável pelo acervo e adora contar, com entusiasmo e emoção, detalhes de como era a vida antigamente. “A gente nadava, tomava banho e bebia a água do Rio Pará. Esse sempre foi um lugar muito lindo”, conta ela, que é filha de um ex-funcionário da Rede Ferroviária.

A comunidade é uma das mais antigas de Pitangui, cidade com 308 anos de história, considerada o berço do Centro-Oeste de Minas. O nome do povoado remete a Antônio Rodrigues Velho, um dos primeiros bandeirantes a chegar à região e que construiu uma casa de taipa para morar. Em homenagem a ele a comunidade recebeu o nome de “Velho da Taipa”.

A Rede Ferroviária teve papel fundamental para o nascimento de Velho da Taipa. A estação, onde os trens paravam para embarque e desembarque de passageiros e de carga, foi erguida em 1891 pela EFOM (Estrada de Ferro Oeste de Minas). Às margens dos trilhos foram sendo construídas casas e pequenos ranchos, que deram origem ao povoado.

A Maria Fumaça que transportava passageiros parou de circular em 1965, mas o trem de carga a serviço da Siderpita (Companhia Siderúrgica de Pitangui) continuou a circular até 1979. Em setembro daquele ano o antigo pontilhão de ferro sobre o Rio Pará desabou e os vagões descarrilaram. Foi o fim de uma era marcante para Velho da Taipa.

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Desde então, o crescimento do povoado quase parou no tempo. Quem vive na comunidade precisa viajar até Pitangui ou Conceição do Pará para encontrar comércios e atendimento médico, por exemplo. Muitas famílias se mudaram para as cidades vizinhas. A estação ferroviária ficou fechada por muitos anos, até que em 2010 começou a ser reformada. Em 2013 foi inaugurado o Centro Cultural de Velho da Taipa, com o objetivo de manter viva a história da comunidade. “Queremos mostrar para as crianças como era a vida aqui, como o Rio Pará costumava ser. Precisamos valorizar nossa história e cuidar do presente. E todo mundo se encanta com o que vê”, relata Cristina.

O acervo do Centro Cultural foi montado graças a inúmeras doações. A intenção é contribuir para a preservação da história e do meio ambiente. O Rio Pará, que corta a comunidade, virou símbolo de Velho da Taipa. “Eu falo que o rio não separa Pitangui e Conceição do Pará, porque nós, de um lado e de outro, somos uma família. Eu falo que as águas do Rio Pará são como as veias do meu coração, porque é

o que mais nos une. A ponte não nos separa, ela foi feita para unir a comunidade”, diz Cristina, emocionada.

Com tanta história a ser contada em meio a uma paisagem tão bonita, Velho da Taipa atrai visitantes de várias cidades da região. Nas ruas tranquilas e nas margens do Rio Pará, moradores e turistas encontram lugar para uma viagem no tempo.

O Centro Cultural de Velho da Taipa, que fica na antiga estação ferroviária do povoado, funciona aos finais de semana das 8h às 17h. A entrada é gratuita.

Como chegar: O povoado de Velho do Taipa está a cerca de 140 km de Belo Horizonte. Siga pela BR-262 até Pará de Minas e, em seguida, continue pela BR-352 até Pitangui. Na chegada à cidade, na rotatória do trevo principal, pegue o acesso à esquerda para entrar na Estrada de Velho da Taipa e siga por mais 4 km até lá.

Estação ferroviária em Velho da Taipa foi erguida em 1891.
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Ponte sobre o Rio Pará conecta os municípios de Pitangui e Conceição do Pará.

RECUPERAÇÃO HIDROAMBIENTAL

CBH do Rio Pará promove lançamento de Programa de Conservação

Ambiental e Produção de Água em microbacias prioritárias

O CBH do Rio Pará e a Agência Peixe Vivo deram início às ações do Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água no território. Com conceitos inspirados nas Soluções baseadas na Natureza (SbN), o Programa consiste no desenvolvimento de ações com o objetivo de maximizar o potencial de produção de água nas sub-bacias hidrográficas.

O Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água teve início ainda em 2022. Dos 35 municípios da bacia, 29 se inscreveram. Após uma etapa de avaliação, levando em conta uma série de critérios, três microbacias foram escolhidas para esta primeira fase, sendo uma em cada região fisiográfica: Ribeirão dos Custódios, em Cláudio (Alto Rio Pará); Ribeirão do Sapé, em Carmo do Cajuru (Médio Rio Pará); e Ribeirão Pari, em Pompéu (Baixo Rio Pará).

Em setembro, houve a solenidade de lançamento oficial do Programa em Cláudio e Carmo do Cajuru. No primeiro dos municípios, a secretária municipal de Meio Ambiente e Agricultura, Anna Caroline da Silva, que também é conselheira do CBH do Rio Pará, explicou que a seleção ocorreu de forma estratégica. “O Ribeirão dos Custódios percorre várias comunidades da região, abrangendo uma área importante da zona rural do município. Por isso, as ações implementadas aqui terão um reflexo importante em várias localidades. Ficamos muito felizes em termos sido contemplados logo nessa primeira fase”, destacou.

A Agência Peixe Vivo participou do lançamento do programa e explicou aos moradores que, só na comunidade dos Custódios, o investimento será de mais de R$ 8,1 milhões. “Mas é importante destacar que o recurso financeiro é só uma parte do que é necessário para o projeto dar certo. É fundamental que haja engajamento da comunidade para que as ações alcancem o resultado esperado”, destacou Thiago Campos, gerente de projetos da Agência Peixe Vivo.

Cerca de 50 moradores da comunidade participaram do evento de lançamento do Programa em Cláudio e tiveram a oportunidade de fazer perguntas e esclarecer todas as dúvidas sobre as ações que serão implementadas. Agda Carmelita, de 52 anos, é nascida e criada nos Custódios e comemorou a escolha do povoado para receber as ações. “Quando eu era criança, me lembro de subir nas árvores e pular no córrego cheio de água. Com o passar dos anos, a água foi minguando. Precisamos recuperar a natureza”, comentou a dona de casa.

Já em Carmo do Cajuru, 80 propriedades rurais na região do Ribeirão Sapé foram mapeadas – 73 aceitaram fazer parte do programa e vão receber as obras. Jéssica Bolina, superintendente de Meio Ambiente do município, afirma que as famílias estão ansiosas pelo início dos trabalhos. “São ações muito bem planejadas. O Comitê elaborou um projeto individualizado para cada propriedade, então já conseguimos saber o que será feito em cada local. E o importante é destacar que as obras acontecem na região do Ribeirão Sapé, mas vão beneficiar a cidade inteira”, explicou.

José Hermano Franco, secretário do CBH do Rio Pará, afirma que este é o maior programa já realizado pelo CBH do Rio Pará. “A gente sabe que o Comitê não consegue resolver tudo, pra todo mundo. Mas podemos implantar algumas soluções e servir de exemplo para muita gente. Nós do Comitê temos a vontade de fazer, vocês da comunidade e a prefeitura mostraram que estão interessados. E como temos o recurso já garantido, agora é só colocar para funcionar”, disse.

O lançamento do Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água na microbacia do Ribeirão Pari, em Pompéu, também deverá ocorrer em breve. Vale destacar que o Programa é integralmente financiado com recursos oriundos da cobrança pelo uso da água na bacia do Rio Pará.

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Microbacia do Ribeirão do Pari, em Pompéu, é uma das três a ser beneficiada. Em Cláudio, 50 moradores participaram do evento de lançamento do Programa. Em Carmo do Cajuru, a expectativa de moradores e poder público é grande em torno do projeto.
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