Revista Canto da Iracema - Edição abril 2011

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Nº 03 > Março 2011

UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO SOCIOCULTURAL CANTO DA IRACEMA > ANO 12 > Nº 65> ABRIL 2011

13 de abril

Fortaleza 285 Anos

a cultura cearense pertinho de você!


// TIRAGEM 5 MIL EXEMPLARES

FORTALEZA...como nasceu!

Reminiscências, prosa, poesia e imagens, à página 13 de Calé Alencar. E claro, não pode faltar, a Fulô do Lácio. Fernando Neri e sua apressada crônica suburbana. Fortaleza é um município brasileiro, capital do estado do Ceará. Pertence à mesorregião Metropolitana de Fortaleza e à microrregião de Fortaleza. A cidade desenvolveu-se às margens do riacho Pajeú no nordeste do país, a 2 285 quilômetros de Brasília. Sua toponímia é uma alusão ao Forte Schoonenborch, construído pelos holandeses durante sua segunda permanência no local entre 1649 e 1654. O lema da cidade (presente em seu brasão) é a palavra em latim “Fortitudine”, que em português significa: “força, valor, coragem”. Está localizada no litoral Atlântico, com 34 km de praias, a uma altitude média de 21 metros, e é centro de um município de 313,8 km² de área e 2 447 409 habitantes, sendo a capital de maior densidade demográfica do país, com 8 001 hab/ km². É a cidade mais populosa do Ceará, a quinta do Brasil e a 91ª mais populosa do mundo. A Região Metropolitana de Fortaleza possui 3.655.259 habitantes, sendo a sexta mais populosa do Brasil e a segunda do Nordeste. Em recente estudo do IBGE, Fortaleza aparece como metrópole da terceira maior rede urbana do Brasil em população. Fortaleza, tendo o 15º maior PIB municipal da nação e o segundo do Nordeste, com 28,3 bilhões de reais, é um importante centro industrial

EDITORIA

EDITORI

As águas de março passaram e aqui estamos novamente com a terceira edição de 2011. Como o tempo passa! Trouxemos para você, caro leitor, uma crônica na qual Nilze Costa e Silva discorre sobre a nossa querida Ponte Metálica ou Ponte dos Ingleses, como queira. Vamos conhecer a história do gato Taffarel que um dia tirou o sossego de Parahyba Kid. Essa quem nos conta é o nosso espirituoso Augusto Moita.

O Ponto de Cultura deste mês é o ponto da Casa da Comédia Cearense. Vamos conhecer um pouco do livro “Fragmentos”, do músico, escritor e professor Carlinhos Perdigão. Henrique Beltrão retorna neste número e nos presenteia com um belo poema, que nos leva a refletir também.

Ainda temos o cineasta subversivo: Robério Araújo. E Audifax Rios, que rememora nosso Dragão do Mar, afinal nossa história é importante. Ainda sobre nossa identidade cultural, Élida Pricila explana o Maracatu e seus elementos. Boa leitura!

e comercial do Brasil, com o sétimo maior poder de compra do país. No turismo, a cidade alcançou a marca de destino mais procurado no Brasil em 2004, com atrações como a micareta Fortal no final de julho e o maior parque aquático do Brasil, Beach Park. Em 2010 foi a capital do Nordeste mais requisitada por viajantes nacionais, segundo um estudo do Hotéis.com. No cenário nacional, a capital cearense ocupou a quarta colocação, atrás apenas do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. É sede do Banco do Nordeste, da Companhia Ferroviária do Nordeste e do DNOCS. Em 1996 a cidade ingressou no Mercado Comum de Cidades.

Seu aeroporto é o Aeroporto Internacional Pinto Martins. A BR-116, a mais importante do país, começa em Fortaleza. Batizada de Loira desposada do Sol, pelos versos do poeta Paula Ney, a cidade é a terra natal dos escritores José de Alencar e Rachel de Queiroz, do humorista Tom Cavalcante e do ex-presidente Castello Branco. O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC) é atualmente o principal espaço cultural de Fortaleza, com museus, teatros, cinemas, bibliotecas e planetário. É a capital brasileira mais próxima da Europa, estando a 5.608 km de Lisboa, em Portugal . É também uma das 12 sedes da Copa do Mundo FIFA de 2014.

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CHICO DA MATILDE E O RESTO DO PESSOAL

FRANCISCO JOSÉ NASCIMENTO, O DRAGÃO DO MAR, SÓ APRENDEU A LER COM VINTE ANOS NOS COUROS. O MAR FOI SUA VERDADEIRA ESCOLA E ALI TRAVOU CONHECIMENTO COM MARUJOS DE OUTRAS TERRAS ONDE A ESCRAVIDÃO JÁ FORA ABOLIDA. FERVILHAVA EM SEU SANGUE A IDEIA DA LIBERDADE EM DIVERSOS IDIOMAS, COMO O FRANCÊS E O ALEMÃO QUE APRENDERA A ARRANHAR. TIRAVA O SUSTENTO COM O CONCURSO DE DUAS JANGADAS E ERA O SEGUNDO PRÁTICO DA CAPITANIA DOS PORTOS. DESFILA NAS RUAS DE FORTALEZA COM VISTOSA FARDA DE MAJOR AJUDANTE DE ORDENS E É VAIADO PELA CANALHA. A MESMA QUE MANGOU DO SOL NA PRAÇA DO FERREIRA. O SOL DA LIBERDADE EM RAIOS FÚLGIDOS. 04


SAUDÁVEL AMIZADE, PRETO NO BANCO – José do Patrocínio veio ter aos

verdes mares bravios por incentivo do poeta Paula Nei e foi recebido calorosamente por membros da “Sociedade Libertadora” e “Clube dos Libertos”. Coberto de rosas foi beijado por um escravo e ganhou o apelido de Marechal Negro. Como resposta batizou o Ceará de “Terra da Luz”. Aqui encontrou o Chico da Matilde que lhe perguntou: “Então companheiro, o porto está mesmo bloqueado?”. Resposta: “Não há força neste mundo que o faça reabrir!”. Patrocínio era filho de uma quitandeira preta com o vigário da paróquia de Campos, Padre João Carlos Monteiro. Formado em Farmácia foi um dos grandes jornalistas que lutaram pela causa da abolição dos escravos no Brasil. Paula Nei era jornalista que não concluiu Medicina. Quase tudo o que escreveu perdeu-se no anonimato das reportagens. Morreu praticamente na miséria. Imortalizou-se com o poema “Fortaleza”.

TOMÁSIA, ELVIRA, CARLOTA E OUTRAS ABOLICIONISTAS – Dona Joaquina

Francisca, mulher de Chico da Matilde, diretor da Sociedade Cearense Libertadora, participava ativamente da ala feminina ao lado de Maria Tomásia, Elvira Pinho, Carolina Carlota (esposa de João Cordeiro), Jacinta Augusta, Liduína (mulher de Pedro Borges), Eugênia Correia do Amaral, Virgínia Salgado e Estefânia Mello. Maria Tomásia era sobralense, filha de José Xerez Linhares e Ana Figueira de Mello. Ficou conhecida como “A Libertadora” ou “A Abolicionista”. Elvira Pinho era natural de Maranguape, professora, tinha apenas 22 anos quando ingressou na Sociedade. Carlota Cordeiro era filha de José Lourenço de Castro e se desfez de todas as joias em prol da campanha da liberdade dos escravos. Tudo isso foi contado pelo cearense Edmar Morel no seu livro “Vendaval da Liberdade”, cuja primeira edição trazia o título “Dragão do Mar, o jangadeiro da abolição”.

DESTEMIDO CABOCLO DO NORTE – João Cordeiro era cearense de Santana do

Acaraú (1842/1931). Abolicionista e republicano, foi senador, amigo de Floriano Peixoto, que o chamava de “meu caboclinho do norte”. Certo domingo (31 de janeiro de 1881), numa reunião da Sociedade Cearense Libertadora, preparou uma sala escura em cujo centro pôs uma mesa coberta com um pano negro. De repente, saca do colete um punhal, crava-o na mesa e grita: “exijo de cada um de nós um juramento sobre este punhal, para matar ou morrer, se for preciso, para o bem da abolição dos escravos... Quem não tiver coragem pode sair enquanto é tempo”. Depois de um momento cabisbaixo, reflexivo, levanta os olhos e percebe que onze dos libertadores haviam sumido. Em seguida o bravo abolicionista ditou o que seria a síntese do estatuto da Sociedade: “Um por todos e todos por um. A Sociedade libertará os escravos por todos os meios ao seu alcance.” TODA A RAÇA – As primeiras reuniões da “Perseverança e Porvir” realizaram-se na residência de José do Amaral, na rua Formosa, apelidada de “Gruta Negra” ou “Castelo da Pedra Negra”. Faziam parte, além do anfitrião, João Cordeiro, Frederico Borges, Antônio Bezerra de Menezes, Miguel A. S. Portugal, Justino Francisco Xavier, Silva Jatahy, Caetano Costa e Eugênio Marçal. A Sociedade Cearense Libertadora mantinha o jornal “O Libertador” que tinha como redatores Bezerra de Menezes e José Teles Marrocos. Colaboravam Frederico Borges, Justiniano de Serpa, Martinho Rodrigues, Almino Afonso, Abel Garcia e João Lopes. João Brígido fundou o jornal Unitário, diziase defensor da liberdade dos escravos e combatia a Sociedade Libertadora. Os caixeiros fundaram o Clube Abolicionista Caixeiral, à frente Antonio Papi Júnior, Olímpio Barreto, Francisco Carneiro Monteiro e Francisco Theófilo. Integravam o Clube Abolicionista Militar Pedro Augusto Borges, Manoel Bezerra de Albuquerque, Pe. João Leite de Oliveira, Alfredo Weyne e Henrique Thebérge. A Libertadora Estudantil era comandada por Manoel de Oliveira Paiva, Galdino Castro e Silva, José A. G. Angelim, Solon Pinheiro, José da Cunha Fontenele e Francisco Francisco Ramos.

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Ponto a Ponto

O Ponto da Comédia!

// FOTOS DIVULGAÇÃO

Por: Joanice Sampaio

Um dos grupos teatrais mais atuantes e tradicionais do Ceará, a Comédia Cearense, também amplia seu raio de ação cultural com o Ponto de Cultura Casa da Comédia Cearense.

O grupo teatral Comédia Cearense foi criado em 1957, por iniciativa dos artistas Haroldo Serra, Glice Sales, Palmeira Guimarães e outros atores amadores. Desde então, continua trabalhando e representando de forma dignificante a cultura do estado do Ceará. O grupo já realizou mais de 80 montagens, participou e foi premiado em eventos em todo o Brasil e no exterior. Com o grupo, veio a Casa da Comédia Cearense, espaço que oferece cursos e oficinas gratuitos para crianças, jovens e adultos. Dispõe de uma biblioteca, uma videoteca, sala de dança e música, sala de informática, cineclube, teatro-jardim e sala que guarda parte do acervo do figurinista cearense Flávio Phebo. Dois funcionários são responsáveis pela manutenção. A principio, o que seria apenas um espaço para alocar material, figurino e local de ensaio, também cedeu lugar para o ensino do teatro sob a experiência e didática do ator e dramaturgo Haroldo Serra, de seu filho Hiroldo Serra e de sua esposa, e também atriz, Hiramisa Serra. A Casa da Comédia, como muitos assim a chamam, é um espaço cultural mantido com recursos da família Serra e em parceria com o Centro Cultural do Banco do Nordeste, ofertam o curso de iniciação teatral gratuito. Localizada no bairro Rodolfo Teófilo, em 2008 a Casa da Comédia Cearense ganhou o título de Ponto de Cultura do Governo Federal e recebeu cinco computadores, filmadora, máquina fotográfica, datashow, micro-system e um home theater. Em setembro de 2009, iniciou as atividades do Ponto de Cultura, oferecendo cursos de dança, canto coral, teatro, hip-hop, informática, arte circense. Os cursos de fotografia e audiovisual, devido à indisponibilidade dos instrutores, foram suspensos. Atualmente, oferta curso de dança de salão. 06

Segundo a diretora da Casa, a atriz cearense Hiramisa Serra, as atividades estão abertas para um público diverso. “Há a participação de pessoas da melhor idade nas aulas de teatro e informática”, acrescenta. Aluno do curso de teatro há um ano e meio, o estudante de informática Ronaldo Lopes confessa que sempre teve vontade de fazer teatro e dança. “O ponto me ensinou muita coisa. A disciplina me faz envolver com a cultura, ter boa convivência social. É um grande prazer tá aqui (sic). Ronaldo já se apresentou em duas peças montadas pelo Ponto a Ópera do Malandro e O Capeta de Caruaru e se prepara para viver um dos soldados na peça A Paixão de Cristo. “Isso é muito gratificante pra mim. Abrem-se as portas. Se você se dedicar ainda pode crescer profissionalmente”, acrescenta. Um bom exemplo é o garoto Lucas Cavalcante, 11 anos. Participante do Ponto de Cultura desde o início das atividades, Lucas foi indicado por Hiroldo Serra para participar do teste que escolheria um menino para viver o comediante cearense Renato Aragão criança no especial Didi 50, da Rede Globo, exibido em dezembro de 2010. E não é que Lucas deu vida ao então pequeno Trapalhão! Ex- aluno do curso de audiovisual e morador do Rodolfo Teófilo, Nito Bates, afirma: “o Ponto de Cultura é uma oportunidade para quem não tem condição de pagar um curso na área”. Foi onde descobriu querer viver da arte como cineasta e atualmente participa dos espetáculos montados pelo Ponto como ator e como iluminador nas peças encenadas pela Comédia Cearense.

> SERVIÇO | CASA DA COMÉDIA CEARENSE RUA MAJOR PEDRO SAMPAIO, Nº 1190 RODOLFO TEÓFILO


25 de março

// DIA DO MARACATU MARACATU é uma expressão cultural originário das Coroações de Reis do Congo de origem africana organizado pelas Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Portugal, após um primeiro contato com a imagem na Igreja de São Domingos de Lisboa em meados do século XV. De acordo com os historiadores, “logo que chegava o rei com sua corte, entrava a missa, que era cantada, com repiques de sinos e foguetes... acabava a missa, saía o cortejo real de cidade à fora até o palácio, em que passava o resto do dia a comer, a beber, a dançar, festejando as poucas horas de liberdade que todos os anos lhe concediam os senhores da terra”. Trazido ao Brasil com o consentimento da Igreja e de seus senhores, chegou em nossa cidade Fortaleza/CE por volta do século XX por Raimundo Boca Aberta, fundador do maracatu Áz de Ouro e o maior cantador de loa do qual se tem notícias. REI E RAINHA - MARACATU VOZES DA ÁFRICA O DESFILE do Maracatu representa uma corte. À frente do cortejo está o porta-estandarte que anuncia sua presença. Entre os personagens participantes, estão o rei, a rainha – que é a principal e uma referência a Rainha Ginga N’Bandi, soberana de Angola – o príncipe, a princesa, seguindo vem as damas de honra, pagens, mucamas entre outros. A CALUNGA é referência aos negros de um mito religioso, chamada também de boneca. É levada pela negra que vai à frente do cordão de negras. Calunga representa também a geração passada e a semente futura. Em outros tempos chegou a ser usada no mastro do estandarte. A PINTURA no rosto é tradição cearense. A origem pernambucana dos Maracatus não pintavam porque já eram negros.

OS ÍNDIOS representam o povo nativo brasileiro, usam roupas características, com seus cocares de pena e um estandarte.

O DIA DO MARACATU passou a ser comemorado no dia 25 de março, data da libertação dos cativos no município de Redenção.

sença do maracatu.

ESTANDARTE ESTANDARTE: peça confeccionada em cetim ou veludo, tem franjas ou rendas na borda inferior e traz, pintado ou bordado no centro. Marca o passo e anuncia a pre-

LAMPIÕES, LUMINÁRIAS, representam a luz e o fogo no caminho do cortejo. Levados pelos guias para iluminar o caminho. Fonte Fonte: CALÉ Alencar: Origem e Evolução do Maracatu do Ceará, 2008 | MARACATUS: Vozes da África e Solar

Fotoclube Foto&Companhia:

Fco. Elian Duarte | Josy Fernandes Cecília Montenegro | Élida Pricila Brasil

www.clubefotoecompanhia.com.br

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A NOITE É UMA CRIANÇA uma apressada crônica (sub) urbana!

Por: Fernando Neri | Compositor

Vamos acabar fazendo uma limonada desse limão! Estamos a poucos passos do imprevisível. A insistência de explícita graça e malandragem parece não revelar a violência real que o noticiário policial espetaculariza todos os dias. São tão iguais em todos os cantos do mundo e invariavelmente parecem-se no conteúdo contraditório de suas cabeças impensantes que a gente acaba por deixar de ver o lado perigoso do prazer sem encontro marcado, sem lençóis de cetim, sem preliminares sutis e preâmbulos intelectuais. Envolvemo-nos nessa espécie de fascínio pelo lado marginal que se abre a todas as experiências e se deixa levar e nos leva de roldão desejos à dentro. A prontidão com que somos banqueteados nos dá uma falsa superioridade que a emoção engendra sem licença à razão que certamente não é a melhor conselheira nesses momentos em que os instintos fazem alarde de suas carências. E lá nós vamos pelos desvãos da noite a preparar nossa cama ao som de bregas e forrós eletrônicos, a entabular conversas desconexas sobre futebol mulheres viados sapatões tiros facadas brigas de família brigas de vizinhos... a pauta de um programa policial tipo rota 22, um nove zero, barra pesada em meio aos reflexos de luz e sombra do telão onde dançarinas mostram que a música “que o povo gosta” é muito bem dotada de atributos nada musicais. A fumaça dos cigarros dá ao ambiente aquela

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atmosfera de gelo seco de periferia e as mesas lotadas nos remetem a um canecão de quinta categoria. Entrar no banheiro é uma experiência de ressurreição à base de amônia em alta concentração. O amarelado dos mijos no banheiro remete ao amarelo dos copos americanos com cerveja sobre as mesas de plástico branco encardidas: entra por cima sai e por baixo por conta da diurese catalisada pelo álcool etílico cada vez mais pesando na cabeça! E quando tudo parece que vai terminar por ali mesmo, à hora adiantada e ao bolso quase pedindo arrego, eis que a libido combalida resolve dar o ar da graça e nos arrastar para um lugar qualquer onde tudo seja possível. Um tanto quanto cambaleantes mais, escoramo- nos um no outro e seguimos abraçados a olhar as estrelas que passam velozes pelo asfalto que temos de atravessar. E logo ali, mais adiante sob um céu quase sem nuvens e uma cama de capim na ribeira do córrego urbano, esvaziamos o peso dos nossos desejos já quase transbordantes. É como se o mundo não existisse à nossa volta e atentado violento ao pudor fosse o caralho de asa, a puta que o pariu! É tudo tão rápido quanto intenso e muito bem curtido e fim! Toma lá! Tá bom? Legal! Valeu! Tchau! Os mundos se separam. Uma noite de aventura. Ou ventura. Ou desventura. Só depois se saberá!

Fernando Neri é poeta e compositor nascido em Fortaleza/CE. Poemas e textos publicados em antologias e jornais de Fortaleza. Músicas registradas em discos e CDs de intérpretes como Pingo de Fortaleza, Calé Alencar, João Claudio Moreno e Marcus Caffé. Atualmente integra o grupo lítero-musical Poemas Violados. Fernando Neri / neridossantos@bol.com.br


Por: Augusto Moita | Compositor

Coisas que Conto...

O INGRATO GATO TAFFAREL O incansável agitador cultural Parahyba, que atualmente desenvolve um magnífico trabalho social com jovens carentes, já foi, em priscas eras de sua juventude um dos maiores malucos-beleza que essa Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção já possuiu. E uma das características principais de ser doidão era a total falta de responsabilidade com o que quer que fosse. Confundíamos outrora irresponsabilidade com liberdade. Morava nosso ganhador de festivais musicais no bucólico bairro do Farol, que hoje, preconceituosamente, é chamado de Serviluz. Tinha como adoráveis vizinhos, além do cabaré da Bia, o mais inesquecível boêmio Cláudio Pereira, o Pereirão. Também, em parede e meia, ladeava-o o pesquisador da cultura nordestina José Rômulo. Infelizmente não era só de bons vizinhos e notívagos visitantes da zona ali existente que o bairro era frequentado. Devido à proximidade do cais do porto, havia uma peste insuportável de ratazanas, o que levou o nosso poeta, seguindo conselhos de uma amiga apaixonada por bichanos, a adotar um gatinho muito esperto e brincalhão. Como o rapazito costumava brincar agarrando bolas de papel em pleno ar – e ser época de copa do mundo; e o goleiro do Brasil chamar-se Taffarel – achou-se por bem dar-lhe o nome do arqueiro supracitado. Taffarel cresceu e por estar relativamente dando conta do recado, foi elevado a uma posição de destaque dentro de casa. Esse fato levou o nosso infelicitado filho dos sertões dos Inhamuns a se sentir muitas vezes relegado ao segundo plano pela sua heróica consorte. Sentia, entre enciumado e invejoso, que sua patroa se preocupava mais com a saúde daquele dorminhoco do que com a dele. Certa madrugada, em que estava desmaiado devido a um homérico porre de cachaça e violão, sua dedicada Bete ressuscita-o apavorada dizendo-o que Taffarel estava morrendo.

- Isso é hora pra morrer? Esse cara nem pra morrer serve. Dá ai um leite pra ele e quando amanhecer a gente leva ao veterinário. - Mas não pode, o gato vai morrer e blá blá blá... Notando que o ressacado “Pará” estava irredutível quanto à urgência ao socorro, D. Bete deixa de tentar o processo do convencimento e passa a utilizar o temível método da aporrinhação, infalível em marido completamente intoxicado pelo álcool. - Ele vai morrer. A culpa vai ser sua. Você vai levar pro resto da vida esse assassinato nas costas. Seu desumano. Exterminador do futuro. Esse crime é pior que dilapidar o patrimônio público. E por aí vai. Levanta-se o herói da cama, já sem suportar a interminável tortura, pensando em como resolver aquele delicado problema. Àquela época, prezados leitores, nosso mavioso cantor, agora transformado em socorrista de gato envenenado, atravessava uma situação economicamente um pouco desconfortável (mas, nada de tão grave que uma boa internação de duas semanas no cofre do banco central não viesse a resolver) e sabia que aquela empreitada demandaria algum custo financeiro. Como fazer se havia em seu bolso uma total falta de numerário? - Tá bom, eu vou. Mas você me ajuda a pagar. Pegou o carro e saiu à procura de uma clínica veterinária que atendesse 24 horas. Ora, da Praia do Futuro pra lá só tem o mar e pra cá, só bairros nobres. E sabe como é: bairro nobre tudo é nobre, até os preços. Acha uma. Muito bonita, bem decorada, um néon piscando: urgência e emergência dia e noite. Coisa de granfino. Toca a campainha, aguarda um pouco e atende uma bela jovem. Ela pede um instante e volta toda paramentada de médica veterinária. Nosso infausto salvador fica gelado só em pensar o quanto custaria toda aquela presteza de atendimento. A doutora pega delicadamente Taffarel com as mãos já devidamente enluvadas e o imobiliza confortavelmente em uma maca apropriada para felinos convalescentes. Com o estetoscópio pendurado no pescoço, símbolo dos plantonistas recém-formados, passa a auscultar o orgulhoso paciente. Era revoltante ver aquele sujeito salvo da mendicância e adotado como filho ser agora aliado incondicional da pessoa que iria lhe sugar os últimos parcos trocados. E aquele olhar de desdém para com seus donos e de conivência para com a doutora? - Qual a ração que ele come? - Como assim? Responde perguntando o neófito nutricionista. - Sim, se é a..., e passou a doutora a citar uma porção de rações que terminavam a nomenclatura com gold, plus, light, fish, só coisa cara importada. - Não, doutora, ele come comida mesmo normal. - Mas você pelo menos ferve a carne antes de dar pra ele? Parahyba vendo que aquilo estava se transformando em uma situação que iria lhe deixar em maus lençóis e, na tentativa de mostrar para aquela onerosa doutora que ele não fazia parte da nobreza daquele bairro, foi enfático: - Olhe doutora, eu vou ser franco com a senhora. Esse gato foi lá pra casa pra acabar com os ratos. Agora, se eu for pegar os ratos de um por um, cozinhar e der pra ele, ele perde a função. Então é melhor ficar do jeito que está. 09


CINEMA COM IDEOLOGIA O cinema político de Costa-Gravas Com a proximidade de mais um feriado, muitos se isolam em casas de praia, sítio, serra e esse é um momento especial para refletir e voltar ao passado muito próximo e mergulhar nas pérolas de um polêmico e importante fazedor de filmes. Prepare a pipoca e mergulhe no universo duro e real de um mestre. O cineasta grego nacionalizado francês Kostantinos Costa-Gavras fez verdadeiras obras-primas, que hoje andam meio esquecidas pelo público. Mas mesmo em um ano sem eleições, sempre é bom rever clássicos como Z, Desaparecidos e Estado de Sítio. Claramente filmes de esquerda. Estes três retratam uma época não tão distante assim, em que as ditaduras imperavam sem dó nem piedade, principalmente na América Latina. Comecemos por Z, baseado no romance de Nikos Kazantzakis, o mesmo autor de Zorba, o Grego, e protagonizado pelo italiano Yves Montand, mas que muita gente acha ser francês – afinal, ele virou um símbolo francófono depois de ainda pequeno se mudar para a França. Em Z, Gavras retrata a cruel ditadura grega nos anos 1960 (hoje ao se ler sobre o belo país helênico, fica-se difícil de acreditar que os gregos tenham passado por uma ditadura) e a luta de um grupo liberal em tentar descobrir quem matou um deputado (Montand) da oposição. Já Desaparecidos, está mais próximo dos brasileiros. De 1982, mostra um pai, Jack Lemmon, tentando encontrar o seu filho, preso dias após o golpe de Pinochet, que derrubou o governo socialista de Salvador Allende no Chile. Nem mesmo a cidadania norte-americana do “desaparecido”, John Shea, o salva da morte no estádio Nacional de Santiago, à beira dos Andes. E o pior, a descoberta que o governo norte-americano – leia-se CIA – apoiou o golpe. Se você assistir Zuzu Angel, verá muitas semelhanças em ambos os filmes. Com atuações magistrais de Sissy Spacek e Jack Lemmon, Desaparecidos é mais um filme retratando os anos de chumbo neste belo país sul-americano (sobre a ditadura de Pinochet recomendo ainda, Chove Sobre Santiago e Machuca). Por fim, deixei para falar de Estado de Sítio. Pouco conhecido nos dias de hoje, o filme mostra os piores momentos da ditadura no Uruguai, tão violenta quanto a nossa, e organizada pelos EUA nos anos 1970. Fala da guerrilha dos Tupamaros e como foi repressão militar. Muita semelhança ao que se passou no Brasil. Por: Robério Araújo | Cineasta subvercine@yahoo.com

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FESTIVAL BOMJA ROCKS! 16 bandas, diferentes cidades, a mesma paixão! Programação no Centro Cultural Bom Jardim é fruto de parceria desta instituição com o selo PANELA DISCOS!

LANÇAMENTOS PANELA DISCOS! A banda de punk rock SAME OLD SHIT é a banda do mês de abril do selo PANELA DISCOS!

A SAME OLD SHIT uma banda cearense de punk rock bubblegum nascida em fevereiro de 2010 a partir de uma conversa entre amigos sobre o saudosismo dos tempos em que tocar Rock n´ Roll era de fato apenas se divertir. Sem nenhuma pretensão maior, a banda foi iniciando um processo de composição bastante intenso, já que contava com músicos experientes da cena rock de Fortaleza, e quando menos esperavam já estavam ensaiando suas músicas autorais que retratam todo aquele espírito de rebeldia adolescente tão comum durante os anos 60 e 70. Músicas que falam sobre ser você mesmo, fazer aquilo que você gosta, sobre aquela garota especial ou simplesmente sobre Rock n´Roll, diversão e cerveja gelada. E foi nesse espírito que a banda gravou seu primeiro EP intitulado “Más Intenções”, que retrata todo esse universo bubblegum em músicas como “Sábado à Noite”, “Um Jeans Rasgado e um All Star”, “Lisa” e Más intenções!!! Agora a banda lança dois singles, gravados no estúdio Panela Discos, são elas: “Amnésia Alcóolica” e “Joey”. Confiram o trabalho novo dos caras, assim como entrevista exclusiva e quatro músicas gravadas ao vivo para o nosso PODCAST PANELA DISCOS, em nosso site: paneladiscos.com

SAMEOLDSHIT@PANELADISCOS.COM

O projeto BOMJA ROCKS ROCKS, parceria do selo musical e produtora PANELA DISCOS com o Centro Cultural Bom Jardim, nasceu a partir da necessidade do crescente número de apreciadores de música independente dentro do Grande Bom Jardim. Demanda de terem uma programação voltada, exclusivamente, para a música rock e suas vertentes. A parceria é fruto da união do maior selo musical cearense, cuja propriedade é vasta em produções de shows e bandas, estas últimas oriundas, em sua totalidade, de regiões periféricas de Fortaleza (assim como municípios vizinhos) e com a credibilidade do já aclamado CCBJ, dentro de seu projeto musical SONS E TONS.

DIA 02 16h: ZENOIS - http://www.myspace.com/zenois 17h: AGONY - www.myspace.com/agonythrashmetal 18h: ESTADO ANESTESIA - www.myspace.com/estadoanestesia 19h: ANONIMATO (PB) - http://www.myspace.com/bandanonimato

DIA 16 16h- ATIKA - http://palcomp3.com/atika89 17h: BABY LIZZ - http://www.myspace.com/babylizz 18h: INSIDE (PI) - http://www.bandainside.com 19h: EUTANÁZIA (TAUÁ) - www.myspace.com/eutanaziataua

DIA 09 16h: SO SO - www.myspace.com/xdsoso 17h: OS MALDITOS ROCK BAND - http://palcomp3.com/osmalditos 18h: SÍNTESE - http://www.oinovosom.com.br/sintese 19h: INFLAME - www.myspace.com/inflamebr

DIA 30 16h: RAFAEL VASCONCELOS - www.paneladiscos.com 17h: O GARFO - http://www.myspace.com/ogarfo 18h: FELIPE CAZAUX - http://www.felipecazaux.com/ 19h: REJECTS (RN) - http://www.myspace.com/rejectsrock

CONTATO DIRETO COM A BANDA:

ABRIL

ABRIL

// DIVULGAÇÃO

SAME OLD SHIT

ROCK AND ROLL E FOMENTO CULTURAL EM FORTALEZA! TEM INTERESSE EM NOSSAS ATIVIDADES? ACESSE:

www.paneladiscos.com

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Por: Nilze Costa e Silva - Escritora.

Ponte Metálica Eu te asseguro, cidade amada, que a Ponte Metálica não vai a lugar nenhum. Não atravessa rios, não liga nada a nada. Nem se liga. É uma vereda que se estira para o meio do mar e se deixa ficar até o pôr-do-sol. A Ponte Metálica é um poema inacabado, cheio de vícios de linguagem e rimas fáceis, indecifráveis nas entrelinhas. Um dia pensaram que ela ia cair e consertaram seus tentáculos, maquiaram-na toda com brincos e adereços, plumas e paetês. Que loucura inventaram naquela ponte! Deram-lhe luminosidade excessiva para que o turista enxergasse o que nem podia ver. Mataram na ponte aquela doce voluptuosidade dos fins de tarde, as doces sensações dos olhares, as carícias quase invisíveis. Apego-me ao retrato simples da ponte velha porque, como ela, recuso-me a morrer completamente e nunca vou abdicar da tentação de resistir a um desabamento. A ponte é o meu elo com o passado. Ela me diz que o sol ainda se põe e o velho mar continua a lamber com paixão voraz as eternas longarinas. Havia outrora uma fonte ali, subterrânea, subreptícia. Era uma nascente escondida e o único ponto iluminado do mar. Mas isso faz muito tempo, eu ainda nem me tinha por gente. Foi Porto de Fortaleza que nasceu a 18 de dezembro de 1902 para servir de viaduto de desembarque. Depois se transformou em Ponte dos Ingleses, tendo a sua construção iniciada em 1920, no 12

// FOTO SALVINO LOBO

Governo do Presidente Epitácio Pessoa. Sua estrutura foi desenhada por engenheiros da empresa inglesa Nastor Griffts, que mantinha interesses comerciais no Ceará; daí veio a sua denominação de Ponte dos Ingleses. Era de lá que embarcavam e desembarcavam passageiros e cargas. Com a construção do Porto do Mucuripe, a ponte foi desativada. O colecionador cearense Nirez, em seu livro “Fortaleza de Ontem e de Hoje” diz que toda a sua estrutura é metálica, daí o nome pelo a qual ficou conhecida até hoje. Não é verdade que a Ponte Metálica ficou abandonada até antes da reforma. Os fortalezenses, desamedrontados por natureza, nunca deixaram de lá subir para um papo e um pôr-do-sol diferente a cada dia. Levavam seus violões, namoradas, casos escusos, sua poesia falada e cantada. Todos sabiam deste fato incontestável: as longarinas enferrujavam, mas claro que não iam cair. Somente quem não sonha iria acreditar numa bobagem dessas. Como imaginar que os tentáculos da Ponte Metálica não iam resistir ao balanço do mar? E que aquele povo todo, misturando fortalezense e turistas iam desabar junto com a ponte? Somente quem não conhece o povo daqui ia pensar uma coisa dessas. Não foi à toa que o grande poeta e cantor cearense, Ednardo, poetou: Uma a uma, as coisas vão sumindo / uma a uma, se desmilinguindo / Só eu e a Ponte Velha teimam resistindo...


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Por: Calé Alencar - Cantor e Compositor

// FOTOS CALÉ ALENCAR

PAGINA TREZEA N I G A P PAGINATREZE

O curumim vendedor de pirulitos não estava ali pra pedir “ei chapa me dá um trocado”. Só sabia de vender pirulito e eu comprei três por um real e fiquei com gosto de venha mais. Mais ainda quando atentei para o local onde encontrei o menino e sua tábua de pirulitos e ele tendo que suar no sinal no meio do sol quente. Uma vez no bairro do meu querido amigo coruja branca Antônio José, quero dizer, nessa hora perambulava pelas ruas do Jardim das Oliveiras, recanto mais conhecido da indiada pelo garboso nome de Oliva’s Garden, dali o maestro não sai nem a pau Juvenal e é de lá que vem inspiração pra ele tocar piano e encanta e enfeitiça Egberto Gismonti e os seres de bom coração de toda a Terra. “Mamãe eu choro papai eu grito me dê um tostão pra eu comprar um pirulito. Pirulito enrolado num papel e enfiado num palito”. A voz de Luiz Gonzaga chegando pelas veredas da memória trazendo lembranças de caminhos, os bancos de madeira do trem no rumo da Fortaleza e no rumo do Juazeiro do Norte, terra do Padim Ciço, por quem minha avó trajava uma roupa preta todo santo dia 20.

O menino não estava ali pra pedir “ei chapa me dá um real, um trocadim”. Plantou ali aquele menino quem me queria lembrando Francisco José, Luiz Gonzaga e os Alencar subindo e descendo a chapada do Araripe pra viver vida de cearense no Juazeiro e quando chegou dona Munda foi a mais querida no mercado de tanto fazer de comer e de tanto distribuir um prato de comida aos que tinham fome. A rabeca do Cego Oliveira tocou muitas vezes pra agradecer comida e café, água e pão ofertados por Raimunda Benevides de Alencar, rainha da Gameleira mais querida e sempre beijada pelo vento cantarino. O menino do pirulito não estava ali pra pedir “ei chapa me dá uma ajuda pra interar o almoço”.

> FULÔDO DO LÁCIO DOLÁCIO

O trem maluco que saiu de Pernambuco vai fazendo vuco-vuco até chegar no Ceará. Foi assim com os Alencar da minha banda, o calendário marcando a década de 1940. As crianças no meio da noite e no meio da noite os olhos da onça saindo pelas labaredas. A fogueira pra espantar a onça e os meninos espantados, os homens espantados, as mulheres espantadas; os pertences nos lombos dos burros e eles feito ciganos arranchados no meio do mato e o fogo pra espantar a onça. 13

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FEITO arte FRAGMENTOS REUNIDOS

Lançado em fevereiro deste ano, no auditório do Centro Cultural do Mar de Arte e Cultura, a publicação reúne trinta poemas inéditos, com temas que envolvem questões sociais e amorosas, numa mistura entre o “eu poético” do autor e o mundo vivenciado. Também há dois ensaios literários – um versando sobre as perspectivas relacionais entre o livro e o filme Vidas Secas , respectivamente de Graciliano Ramos e de Nelson Pereira dos Santos, e outro sobre o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Dentre outros textos, há também um artigo de divulgação científica que problematiza questões relacionadas à leitura – tema de permanente interesse do autor. O livro é todo perpassado por imagens que remetem à musica, com ilustrações da artista plástica Renata Holanda. O prefácio é de autoria do poeta pernambucano-cearense, Carlos Dantas. Segundo Perdigão, Fragmentos tem caráter histórico, pois reúne textos produzidos há mais de 30 anos e está sendo publicado em um momento de amadurecimento pessoal e profissional, resultante de suas diversas experiências em diferentes campos de atuação da cultura no Ceará.

LANÇAMENTO Dia 13/04, às 12h, no CCBNB, no espetáculo Poemário Musical, que reúne os poemas do livro que viraram letras de música. Dia 22/04, 19h, na Livraria Cultura. Todos os eventos são gratuitos.

// DIVULGAÇÃO

FRAGMENTOS REUNIDOS

O que se espera de um músico? Um show, que lance um disco ou DVD. Por aqui, o músico, professor e escritor Carlinhos Perdigão registrou sua obra literária que também permeia sua obra musical, no livro Fragmentos.

CARLINHOS PERDIGÃO

MÚSICO, COMPOSITOR E ESCRITOR

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