Revista Canto da Iracema - Edição julho 2010

Page 1

UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO SOCIOCULTURAL CANTO DA IRACEMA > ANO 11 > Nº 56 > JULHO 2010

férias...

Fortaleza!

a a cultura cultura cearense cearense pertinho pertinho de de você! você!


// Locais onde você encontra o Canto da Iracema

MUNDO AFORA 4 > GLÓRIA audifax rios...

QUE CONVIDA 8 > ARTE À BRINCADEIRA dim...

VII FESTIVAL DA MERUOCA 10 > NOVOS SONS DA TERRA joanice sampaio...

// TIRAGEM 10 MIL EXEMPLARES

EDITORIAL

ÍNDICE

12 >

CELEBRAÇÃO EM UMA NOITE QUASE VAZIA grupo quimeras de teatro...

AMICI´S RESTAURANTE / Dragão do Mar ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ BIBLIOTECA PÚBLICA MENEZES PIMENTEL BNB / Sede / Passaré BNB / Centro Cultural / Centro BNB / Clube / Santos Dumont CASA AMARELA / Eusélio Oliveira CASA DA PAZ / Rua Senador Pompeu CÂMARA MUNICIPAL DE FORTALEZA CENTRO DRAGÃO DO MAR DE ARTE E CULTURA LA HABANERA CHARUTARIA / Praia de Iracema ESCOLA DE MÚSICA ALBERTO NEPONUCENO BAR DO MINCHARIA / Praia de Iracema LIVRARIA LIVRO TÉCNICO / Dragão do Mar MERCADO DOS PINHÕES MIS / Museu da Imagem e do Som MUSEU DO CEARÁ PALÁCIO IRACEMA / Sede do Governo do Estado do Ceará PREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA RÁDIO UNIVERSITÁRIA FM SECULTFOR / Secretaria de Cultura de Fortaleza SECULT / Secretaria de Cultura do Estado do Ceará CLUBE DO BODE CONFRARIA DO CHAPÉU DE COURO TEATRO DA PRAIA / Praia de Iracema THEATRO JOSÉ DE ALENCAR ○

14

> AO POVO O

QUE É DE CEZAR

ENTREEMCONTATO

cantodairacema@hotmail.com

FÉRIAS

>> Q U E M • S O M O S coordenação geral zeno falcão jornalista responsável joanice sampaio colaboradores audifax rios / fabio azevedo / grupo quimeras / serginho amizade / césar menezes diagramação artzen / endereço rua joaquim magalhães 331 centro / fortaleza / ceará contato (85) 9993.7430 / 8803.8030 e-mail cantodairacema@hotmail.com

> as matérias publicadas são de inteira responsabilidade de seus autores

- ERICA CORREIA

A Revista CantodaIracema é feita com sua colaboração. Dê sua sugestão, critique, opine, xingue, faça a revista conosco.

fábio giorgio azevedo...

FOTOS CAPA



GLÓRIA MUNDO AFORA

> AUDIFAXRIOS@YAHOO.COM.BR FOI DESCOBERTA UMA NOVA ÁFRICA, A DO FUTEBOL. OS PRETOS, DESINIBIDOS CIDADÃOS, NÃO MAIS SE CURVAM ANTE OS ANTIGOS INVASORES, MOSTRAM O QUE SABEM, DEITAM E ROLAM A JABULANI EM GRAMADOS EUROPEUS. E AS NAÇÕES BRANCAS DOBRAM O CABO DA BA ESPERANÇA, NOVAMENTE DAS TORMENTAS, E TORNAM À CASA, CABISBAIXAS. MANDELA AINDA VIU CARAS DE TODOS OS MATIZES SORRINDO NO SOLO PÁTRIO. ENQUANTO PORTUGAL BOTAVA OUTRA TARJA PRETA NA HISTÓRIA GLORIOSA: PARTIA SARAMAGO, ESTE COM UMA ESTRADA TÃO LONGA QUANTO A ROTA DE SEUS AUDAZES NAVEGANTES, TÃO DECANTADOS POR LUIZ VAZ. O QUAL BATIZA O PRÊMIO ABISCOITADO PELO MARANHENSE FERREIRA GULLAR, OUTRO ARTÍFICE DA LÍNGUA, COM PREOCUPAÇÕES SOCIAIS QUE O LEVAVAM, EM 64, PARA O EXÍLIO NA TERRA DE MARADONA, AO EMBALO DE UM TRISTE TANGO. POR AQUÍ, ALENCAR VÊ SEU TEATRO FAZER CEM ANOS E A IRACEMA DE CORBINIANO, QUARENTA E CINCO. 04


MEU REINO POR UMA CALENDA – Estamos no sétimo mês do calendário juliano, justamente no segmento que presta homenagem à Caio Júlio César (101 a.C. - 44 a.C.), o imperador romano que introduziu a reforma cronológica para melhor monitorar os dias e as noites de seus súditos. Muito mais tarde, em 1582, o Papa Gregório XIII procedeu uma revisão da famosa folhinha romana, preservando o termo calenda para o dia primeiro, o que não era usado na Grécia. Tudo arrumadinho, os astrólogos meteram seus signos em meio às luas, com início dos decanatos diferenciados das calendas como podemos observar: até o dia 23 estaremos em Câncer (água/lua) e, a partir de então, em Leão (fogo/sol). Refletindo de oitiva como fazem os cancerianos; praticando a lealdade como procedem os leoninos. Na paz nunca se fala, é calenda grega.

SARAMÁGICA – Aos oitenta e sete se foi Saramago, único Nobel de Literatura da língua portuguesa, distinguido em 1998. Filho de camponês, foi mecânico, serralheiro, desenhista industrial, caminho de um comunista ateu.Trabalhou numa editora como gerente de produção, a trilha de sua escritura. Deixou “Memorial do convento”, “Levantado do chão”, “A jangada de pedra”, “O ano da morte de Ricardo Reis” e tantos outros, ao todo, trinta e cinco livros. Foi censurado pelo Governo Português por conta da publicação de “O evangelho segundo Jesus Cristo” trocando a patriamada por uma ilhota italiana, Lanzarote, onde viveu de 1991 até a morte. Em 95 recebeu o prêmio Camões com “Ensaio sobre a cegueira”. Anos atrás o poeta Virgílio Maia cordelizou seu conto “Centauro” para o qual fiz ilustrações que ele nunca chegou a ver, perdendo assim, meu laço pretensioso com o escritor. Mas ele era amigo do Lustosa da Costa e isso me basta.

IRACEMA 45 GRAUS – Quando do centenário do romance Iracema, de José de Alencar, o então prefeito de Fortaleza, Murilo Borges, encomendou ao escultor pernambucano Corbiniano Lins um monumento que foi plantado à beira-mar, no lugar onde, segundo a lenda, Martim encontrava furtivamente com a bela nativa. A imponente estátua foi inaugurada pelo Presidente Castelo na manhã de sol de 24 de junho de 1965, há quarenta e cinco anos, portanto. A figura mais estimada do conjunto é o vira-latas Japi cuja cabeça foi decepada uma dúzia de vezes. Ao longo desse tempo houve, também, afanação de flecha e amputação de braços. A tudo Moacir assistiu impassível do fundo de seu alguidar. Há outras Iracemas espalhadas por esta Fortalezamada. A “Guardiã” do Zenon Barreto, que a queria maior, erguida em frene ao saudoso Cais Bar. E a da lagoa da Messejana (onde a tabajara lavava a lama ibiapaba) que foi inspirada numa modelo eleita para tal e que depois fez sucesso num BBB global.

05


DUAS DÉCADAS SEM RAULZITO – O Maluco Beleza tinha verdadeiro pavor a carnaval e futebol. E era incapaz de correr atrás de um trio elétrico, compulsão de bom baiano. Mas nasceu com a música nas veias embora o estrondo de Hiroshima, que o perseguia desde o nascimento, atrapalhasse um pouco. Ou, quem sabe, impusesse o tom de rebeldia em sua futura obra. Aos doze anos Raul Seixas já introduzia instrumentos elétricos no seu grupo “Os Panteras”. Rebelde desde já, criou caso com a CBS quando editou “Sessão das dez” sem permissão. Apareceu, de fato, com “Ouro de tolo” e o público nunca mais o largou. Desapareceu por uns tempos, esquecido nos porões da ditadura militar. Em 1974 “Gita” ganhou um disco de ouro com 600 mil cópias vendidas e ouvidas. Essas coisas, aliás, todo bom fã sabe de cor e salteado. Porém não é demais repetir suas palavras: Minha existência caminha muitos anos à frente do meu corpo (…) frágil, magro, esquálido (…) que tem que suportar as demandas da mente atribulada, terrivelmente neurotizada pela civilização”.

UM PRÊMIO CONCRETO – Nem só Saramago ganhou o Prêmio Camões. José Ribamar Ferreira (80), o periquito do Seu Zé Newton e Dona Alzira, também recebeu a láurea lusa maior. Conhecido como autor de “Poema sujo” (a turva mão do sopro contra o muro escuro) e por sua militância política, Ferreira Gullar mora no Rio de Janeiro desde 1951, mas é natural da ilha de São Luiz do Maranhão, onde foi jornalista e locutor de rádio. Seu primeiro livro, “Luta corporal” travou outra batalha com os tipógrafos que não entenderam a esdrúxula distribuição das palavras no papel, a tal poesia concreta. E mais concreto foi o fato que presenciou em 50: o assassinato, pela Polícia, de um operário. Na Rádio Timbira recebe ordem para ler um comunicado oficial culpando os comunistas pela morte do Baixinho. Não leu, foi demitido. Filia-se ao Pecebão e funda o Grupo Opinião. Preso em 68, livre, clandestino, viaja por Moscou, Santiago, Lima e Buenos Aires. Lá escreve o “Poema sujo”, editado por Ênio Silveira e adaptado para o teatro. Indicado para o Nobel, ganhou o Camões.

A ÚLTIMA DO CARFIL – Paulo Cardoso Filho já foi publicitário, pintor de faixas e abridor de letreiros; dono de funerária e tapioqueira; já fez caricatura de turista na calçada do Bar da Esquina (Zeno), no baixo Dragão do Mar. Continua morando e tem ateliê nos fundos do Asilo da Parangaba em cujo quintal passou a infância brincando com os internos daquele manicômio. Onde também, externou as primeiras manifestações de arte, o que foi observado pelo capelão que lhe deu bolsa para cursar desenho por correspondência, enquanto lambuzava os cartazes do cinema da dita Parangaba. Agora o Carfil foi contratado para retratar um grupo que frequenta o Ideal Clube aos sábados. E lá esteve nosso cartunista a proteger fisionomias e buscar o fundo da alma desses idealistas. Entre os clicados; Lúcio Alcântara, Ubiratan Aguiar, José Teles, Sérgio Braga, Airton Monte, Luciano Maia, Naje Cavalcante, Luiz Carlos Correia, Emerson Marinho, Almir Gomes e outros. Temos em mente organizar uma publicação, tipo álbum, que conte um pouco da vida e mostre a arte deste artista extraordinário.

06


ALENCAR DE NOVO – A comédia “O dote” de Arthur Azevedo, encenada pela Companhia Lucília Perez, do Rio de Janeiro, a rigor,inaugurou o Theatro José de Alencar. Antes, oficialmente, sua cortina fora aberta para a apresentação da Banda Sinfônica do Batalhão de Segurança, regida por Henrique Jorge e Luigi Maria Smido. Pronto, a longa batalha chegava ao fim. Veja o percurso: 1- Em 1859 o Presidente da Província, João Silveira de Souza, envia relatório à Assembleia, ali esquecido. 2- José Bento Figueiredo Jr. retoma a ideia em 1864 com o nome de Teatro Santa Tereza, novamente vetada. 3- Terreno é doado pela Câmara Municipal em1891 mas a obra não sai. 4- Em 1893 o Presidente Bezerril Fontenelle compra a briga e escolhe o projeto de Isaac Amaral. 5- Nogueira Accioly rescinde o contrato com Amaral em 1896 alegando má qualidade da obra. 6- Retomada a construção com modificações, vencendo a proposta de Natal Aghem. Em 1898, novo embargo. 7- De volta ao governo, Accioly encomenda, em 1904, outro projeto em torno de 400 contos de réis. 8- É inaugurado o teatro, agora com o nome de José de Alencar. A 17 de junho de 1910.

SANTANA, DOU-LHE TRÊS – Os santanenses, em todos os recantos do país, estão assanhados. Preparam-se para um breve retorno às origens, ver a terrinha distante, os festejos em homenagem à padroeira Anna, avó do Homem. Procuram reviver a infância e, na verdade, só encontrarão três pontos que batem com suas expectativas: O Rio Acaraú, novenário com procissão e a Banda de Música. Ao som da furiosa lembrarão o bombardino do Camarão, o sax do Albuquerque, a tuba do Zé Borges, o pistão do Xixá, o trombone do Erasmo. Hoje ainda dá pra ver, engalanado, do alto dos seus oitenta anos,o Maestro Athayde Araújo. O Acaraú comeu as ribanceiras da Ilha e não tem mais canoa na sua travessia. Uma ponte de concreto corta seu curso e no leito seco erguem-se barracas para venda de bebidas. As procissões já não são tão solenes como outrora e os hinos, sem o coro, agora são eletrônicos. O andor da Santa vai de taxi mas o sino da atriz ainda é o original. No mais é muito barulho causado por paredões sonoros de mil decibéis imbecis para mostrar um forró paraguaio.

ENCOURADAS CABEÇAS – Através do professor Léllis Luna, caboclo dos canaviais da Barbalha, conheci a ”Confraria do Chapéu de Couro”, para a qual concebi o logotipo. Finalizei, melhor dizendo, a ideia veio pronta. Um dia conheci o pessoal no seu habitat com seu ritual de praxe. Tudo muito certinho, ata, discussões em pauta. Até a comida tinha sabor da terra. Ao largo, um artista pirografava chapéus de couro vaqueiros com o nome do irmão. E tudo documentado, fotografado. Sábado desses fizeram uma visita de cortesia ao “Clube do Bode”, de índole, relaxado, meio anárquico. Resultado; darão agora, neste julho, as honrarias de compadre de fogueira para este escriba, o livreiro Sérgio Braga e o pesquisador Gilmar de Carvalho. Outra: a irmandade já colhe os primeiros frutos. Foi aprovado pela Cultura projeto de um de seus membros que tem tudo a ver:a documentação do roteiro a ser refeito pela estrada do gado, desde Icó até a pancada do mar. Com cheiro de charque e curtume e o gosto salgado de jabá. O documento vai virar livro e filme e muita conferência que vai dar o que falar. Principalmente pela boca dos depoentes, homens rudes destes chãos repalmilhados. 07


As esculturas criadas pelo artista, com design exclusivo para o Zoológico, foram projetadas para interação com o publico infantil, mas, fogem dos desenhos dos parquinhos convencionais: são personagens com formas plásticas inusitados e cores vivas e alegres que sugerem enredos e convidam seus usuários a expansão da fantasia e a criação do mundo feliz do faz de conta. Pela articulação entre arte e brincadeira, Dim consegue unir o aspecto lúdico e a beleza e incentiva o admirador não só a contemplar, mas também a manipular sua obra. E, é no movimento da interação entre o apreciador e a obra que esta completa seu sentido lúdico: a arte convida à brincadeira, e a brincadeira engendra o movimento pelo qual o apreciador ultrapassa a recepção passiva e se torna co-autor da obra numa dinâmica infinita de recriação do brincar. Assim as criações de Dim são também um estímulo a percepção sensível: brincando as crianças tocam texturas, percebem formas, apreciam cores, refinam o olhar e são incentivadas à apreciação da arte por meio da diversão. Mas a interatividade presente na obra de Dim não se limita a relação com pessoas, mas, com a natureza também. Uma das preocupações do artista é a localização das esculturas em sombras de árvores, segundo ele, suas peças são guardiãs das árvores porque precisam destas para oferecer bons ambientes para a brincadeira, e seu sentido também não se completa sem elas. A interação entre arte e natureza faz parte do cotidiano do artista, o sítio “Brinquedim”, em Pindoretama, onde mora, é uma maquete do mundo da imaginação: em meio ao verde da vegetação nativa, preservada por Dim, se destaca o colorido da minhoca gigante saindo da terra, dos dragões-gangorra, do gato-túnel, e de uma centena de esculturas-brinquedos resultantes da inventividade inesgotável do artista. Estar para além dos museus e galerias é uma característica do trabalho do brincante Dim, suas peças se inserem no cotidiano das pessoas, e são encontradas em espaços públicos onde convenci-

08

ARTE QUE À BRINC

O ZOOLÓGICO SARGENTO PRA TA REC RAT

UM CONJUNTO DE SEIS ESCUL TURAS D ESCULTURAS


E CONVIDA CADEIRA

CEBE, PARA EXPOSIÇÃO PERMANENTE,

DO AR TIST A PLÁSTICO CEARENSE ARTIST TISTA

DIM.

onalmente não se teria acesso à arte. Socializar a obra de arte, oferecer um produto de alto nível técnico e estético à população, em lugares carentes de referências visuais mais harmônicas é, para Dim, uma alternativa democrática a arte contemplativa. Mas, sua intenção, ao criar em espaços públicos o apelo à brincadeira, à fantasia, e à participação coletiva, através de cenários lúdicos e ambientes acolhedores e humanizados, é estimular a conviviailidade e partilhar a perspectiva de uma vida solidária e alegre. Além das grandes esculturas para parques e praças, Dim cria, também, pequenas esculturas para espaços internos, todas com finalidade lúdica. O apelo ao lúdico é uma marca constante no trabalho do artista que realizou sua primeira exposição de esculturas-brinquedos há 22 anos, e de lá para cá criou milhares de peças que fizeram tanto sucesso que hoje estão espalhadas por todo o mundo. Peças suas podem ser encontradas tanto em suas versões pequenas, em lojas de Paris ou em importantes Museus de objetos brasileiros, quanto em suas versões gigantes como na Praça Principal de Paracambi, Rio de Janeiro, ou no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, dentre outros. Parte do trajeto de sua vida de criação está expresso no filme documentário “Dim”, do cineasta Nirton Venâncio; no livro “Dim As Artes de um Brincante”, da pesquisadora Beatriz Muniz Freire, (Publicado pela FUNART, Rio de janeiro, 1999); no livro “Eu era assim: Infância Cultura e Consumismo”, do jornalista Flávio Paiva (Publicado pela Cortez, São Paulo, 2009), no livro “Em Nome do Autor”, da jornalista Beth Lima (Publicado pela Proposta Editorial, São Paulo, 2008) dentre outros.

> CONTATOS: brinquedim@yahoo.com.br Tel. 8705.1956 As peças do Zoológico estão disponíveis para a população desde o dia 25 de junho. // FOTOS CLÁUDIO LIMA

09


// Música

Mostra Competitiva do VII Festival de Inverno da Serra da Meruoca se consolida no calendário cultural brasileiro e este ano trouxe inovações. O evento foi realizado nos dias 03, 04 e 05 de junho. Numa época em que a divulgação de novas músicas, grupos, compositores e intérpretes acontece pela internet – razão pela qual subverteu a fórmula da indústria do disco – os festivais continuam a ser via de acesso e vitrine aos veteranos e aos novos. Muito popular no Brasil, entre os anos 1960 e 1980, os festivais revelaram nomes que posteriormente entraram para o panteão da MPB, tais como, Gonzaguinha, Ivan Lins, Fagner, Belchior, Raul Seixas, Ednardo, entre outros. Ao longo do ano em diversos estados do país acontecem mostras competitivas. Dentro desse circuito, o Ceará é um dos destinos prediletos, onde se realiza a mostra competitiva do Festival de Inverno da Serra da Meruoca, na zona norte do Estado. Tradicionalmente, os novos sons aquecem o frio da serra durante o feriado de Corpus Christi. Este ano, o festival chegou a sua sétima edição, consolidado no calendário cultural do País. “A mostra competitiva de música do VII Festival de Inverno Serra da Meruoca se consolidou no calendário nacional de cultura e se fortaleceu como o princípio essencial desse evento que, consegue meritoriamente chegar a sua sétima edição de forma ininterrupta”, declara o Coordenador Geral da Mostra Competitiva do Festival, Pingo de Fortaleza. 10

Para esta mostra, os organizadores receberam 160 inscrições de compositores e intérpretes dos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, Minas Gerais e também do Ceará, unindo experiência musical e ineditismo autoral. Vale destacar as participações dos remanescentes do movimento Massafeira Livre, Chico Pio e Vicente Lopes e de quem está chegando, como a paulista Clarissa Araripe e os cearenses Marina Mapurunga e Ciço Lifrati, de Lavras da Mangabeira. Além de encontros e reencontros o festival foi marcado mais uma vez pela diversidade musical – seresta, valsa, xote, maractu, pop, rock. E foi do Ceará a maioria dos ganhadores deste ano, como Dalwton Moura, classificado em terceiro lugar geral, com a canção Futuro e Memória, dedicou o prêmio aos compositores cearenses. “A Arte sofre uma dificuldade de financiamento e, hoje nesse festival se sobressaiu a arte de um cara que não tem condições de bancar seu trabalho e hoje ele ficou conhecido através desse evento. Daí, a importância desse evento. Se não fosse esse evento será que essa música não ia ficar na gaveta por mais cinco anos?”, declara Ciço Lifrati, cantor e compositor cearense, vencedor do festival em primeiro lugar geral e como melhor letra, com a canção “Força, Facão e Fé”.


Nesta edição, a novidade foi a categoria Regional, realizada para dar oportunidade e valorizar os compositores e intérpretes do Vale do Acaraú. Outra novidade foram as eliminatórias. A primeira e a segunda eliminatória contaram com a apresentação de 20 músicas classificadas na categoria Geral (10 em cada noite), destas, as oito mais pontuadas foram classificadas para a grande Final, onde se somaram às duas mais votadas na Categoria Regional.

// FOTOS DIVULGAÇÃO

“Eu acho mais importante é saber que eu tive aqui e as pessoas escutaram a minha música”, diz o veterano de festivais pelo Brasil, o mineiro de Belo Horizonte, Zebeto Corrêa, vencedor em segundo lugar geral com a canção Corpo e Alma.

Bastidores do Festival

Os classificados receberam a premiação no ato do resultado e participaram da gravação do CD do Festival. Na ocasião da entrega dos prêmios foi lançado o CD do VI Festival de Inverno da Serra da Meruoca, que aconteceu em 2009. // CONFIRA O RESULTADO DA FINALÍSSIMA 1º Lugar Geral: Força, Facão e Fé - Ciço Lifrate (Lavras da Mangabeir-CE). Intérprete: Cícero Lifrati (Lavras da Mangabeira-CE). 2º Lugar Geral: Corpo e Alma - Zebeto Corrêa (Belo Horizonte-MG). Intérprete: Zebeto Corrêa (Belo Horizonte-MG). 3º Lugar Geral: Futuro e Memória - Dalwton Moura e Rogério Franco (Fortaleza-CE). Intérprete: Aparecida Silvino (Fortaleza-CE). 1º Lugar Regional: Tribo de Paz - William Rodrigues (Sobral-CE). Intérprete: William Rodrigues (Sobral-CE). 2º Lugar Regional: Domingo - Wellington Galvão (Sobral -CE). Intérprete: Régis Brito (Sobral-CE). Melhor Letra: Força, Facão e Fé - Ciço Lifrate (Lavras da Mangabeira-CE). Melhor Intérprete: Aparecida Silvino (Fortaleza -CE). Canção de Aclamação Popular: Xote de Liverpool Raimundo Cassundé (Fortaleza-CE). Intérprete: Cumpade Barbosa (Fortaleza-CE).

> Joanice Sampaio E-mail: joanicesampaio@gmail.com Blog: papocult3.blogspot.com MSN: garagem74@hotmail.com Twitter.com/joanices

11


// Teatro

CELEBRAÇÃO EM UMA NOITE Q UASE V AZIA QU VAZIA Grupo Quimeras de Teatro, encena durante os sábados de julho, espetáculo com texto e direção de Antônio Marcelo.

Sob a influência da obra do Anjo Pornográfima co, o mestre Nelson Rodrigues, o espetáculo “U “Uma Noite Quase V azia” Vazia” azia”, passeia pelo inconsciente humano que ainda vive preso ao passado. Neste enredo, seus personagens vivem uma realidade claustrofóbica onde suas ações são polarizadas e se mostram irônicas, moralistas e detratoras de sentimentos indefinidos. Como a personagem Aurélia, uma mulher que conflita a religião e o instinto, e tenta a todo custo sustentar um casamento falido pela impercepção da convivência. Em contra partida, Olavo, seu esposo, movido a paixão, comete uma loucura 12

que levará as personagens à reinvenção delas mesmas. A peça demorou 10 anos para ser concebida, e, finalmente poderá ser conferida aos sábados do mês das férias, no Teatro Morro do Ouro, anexo do Theatro José de Alencar. A montagem marca a volta de Antônio Marcelo aos palcos e os quinze de vivência artística do dramaturgo que chega ao décimo sexto texto escrito para teatro. A estreia, no dia 17 de julho também comemora os 14 anos de atividade do Grupo Quimeras de Teatro.


“Esta peça, ela foi escrita para ser apresentada em preto e branco. Ao escrevêla eu sentia solidão, e tinha como forte inspiração, O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues na versão apresentada pelo Marcelo Costa, e o cenário cedido por ele também. Enfim, em 2000 a peça desandou, e o cenário do Beijo no Asfalto foi parar na montagem de Eu Sou Antes, Eu Sou Quase, Eu Sou Nunca. E assim se passaram dez anos, mas eu tentei manter as impressões da primeira tentativa em montar. Naquela época, eu bebia na fonte do Grupo Balaio, embora hoje tenha armazenado em mim o aprendizado, a vivência. E volto para o palco ainda com encantos. A certeza é que eu nunca me ausentei do teatro. No único ano em que não me apresentei que foi em 2009, eu escrevi para teatro cinco textos. E aqui, estou com o tremor nas mãos, diante a platéia. São quinze anos, com uma interrupção. Uma Noite Quase Vazia é o tremor em minhas mãos!”, revela o autor e diretor cearense Antônio Marcelo.

> ELENCO

Beth Fontenelle Patrícia Bastos Gláucia Alencar Rubem Ventura Samuel Moura Levi Adonai Bibi Mesquita Rommel Costa.

> SERVIÇO: Uma Noite Quase Vazia Grupo Quimeras de Teatro Texto e direção: Antonio Marcelo Teatro Morro do Ouro (anexo Theatro José de Alencar) Rua Liberato Barroso s/n Dias 17, 24 e 31de julho às 19h. Classificação:16 anos Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e 5,00 (meia) Duração: 1 hora Capacidade do teatro: 90 lugares

13


// Questão de Cultura

AO POVO O QUE É DE CEZAR Por: FÁBIO GIORGIO AZEVEDO

É, para dizer o mínimo, curioso, que aquilo que se afirmou acerca das sociedades “primitivas”, dos selvagens, seja muito parecido com o que se diz sobre a imagem do “povo” – o chamado “cidadão comum”. Se corroborarmos com as observações do antropólogo Pierre Clastres, no artigo “A Sociedade contra o Estado”, veremos que os termos com os quais se aborda as “sociedades selvagens” são análogos aos que informam a opinião “civilizada” sobre o povo. Segundo Clastres, quase sempre, “... as sociedades arcaicas são determinadas de maneira negativa, sob o critério da falta: sociedades sem Estado, sociedades sem escrita [analfabetos], sociedades sem história” (CLASTRES, 2003, p. 208). Haveria uma imagem antiga, mas sempre eficaz, segundo a qual se considera os selvagens: a imagem da miséria. Pois eles também não dispõem de mercado, e vivem numa economia de subsistência: “Ora, a idéia de economia de subsistência contém em si mesma a afirmação implícita de que, se as sociedades primitivas não produzem excedente, é porque são incapazes de fazê-los, inteiramente ocupadas que estariam em produzir o mínimo necessário à sobrevivência, à subsistência” (CLASTRES, 2003, p. 208). Hoje, quanto ao “povo”, ocorre o mesmo. A visão que se tem do povo (por vezes chamado “comunidade”) é que é carente: de modos, de educação, de saúde, de saneamento básico, de organização... E, quando se fala que as pessoas devem se organizar, está se tratando da relação institucional da sociedade civil com o Poder Público. O que está colocado nessa relação é que a sociedade deve aprender os meios legítimos de lidar com o Estado, as maneiras de participação. Isto porque há uma mentalidade na qual se identifica o nível de civilidade de uma cultura com sua capacidade de se organizar através do Estado democrático. Cultura “evoluída”, civilizada, é cultura com Estado, e democrático. Nesse contexto, o Estado é considerado a organização social que uma cultura (que se mantém hegemônica) tem encontrado para aferir ares de civilidade à suposta espontaneidade da vida selvagem (agora expressa nos modos de viver do povo). Para essa

14

nossa civilização, o Estado é o ápice do empreendimento da vida coletiva, o mediador por excelência do viver junto, a maneira civilizada de organizar a vida social. Clastres aponta para uma espécie de comportamento, ou de mentalidade naturalizada, que nos faz relacionar, automática e arbitrariamente, o estado de civilização com a civilização do Estado. (CLASTRES, 2003, p. 208). O fato é que, numa visão “civilizada” de sociedade, a espontaneidade do povo, a valorização da improvisação e da informalidade, geraria, do ponto de vista do mercado, estagnação – tendo em vista uma cultura que se legitima pela capacidade de planejar o agir através de planos, programas e projetos. E, do ponto de vista político, cairíamos numa relação personalista e instrumental com o poder (a sedução exercida por aquilo que se pode ganhar), que acabaria, paradoxalmente, corrompendo a capacidade do povo em exercer a cidadania (por exemplo, através do controle social sobre seus governantes). Desse modo, vê-se que o que está em questão no Brasil é a formação de uma cultura política que considere tanto certa adequação do Estado aos modos do povo, quanto a construção de um sentimento de cidadão que o empodere a agir como co-responsável pela coisa pública e pelos rumos da vida coletiva. Entretanto, e para surpresa de alguns, as práticas das culturas tradicionais ancestrais, por exemplo, no contexto do Estado brasileiro, podem exercer uma função crítica ao seu funcionamento, e torná-lo (pelo contágio estilístico daquelas práticas) mais concernente aos modos e expressões do povo. Através de um trabalho de compreensão e “atualização” de alguns rituais dessas culturas, pode-se propor alguns princípios norteadores para fundamentar a proposição de metodologias de participação democrática. O que subjaz a essa defesa “romântica” de uma espécie de afirmação da espontaneidade do costume e da organização do povo, é uma aposta na atualização recombinante dos arranjos culturais herdados, sob uma ética afirmativa que sirva de esteio à fabricação do porvir de nossa vida pública, com a invenção das instituições, rituais e idéias democráticas que convenham e sejam pertinentes aos nossos contextos.

Referência bibliográfica: CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. Fábio Giorgio Azevedo é Psicólogo e, Professor, Coordenador de Política e Ação Cultural da Secultfor


FEITO arte

Pinga do Garrincha O reduto era o Estoril, o famoso bar atravessou décadas e viu passar gerações de escritores, jornalistas, cantores, compositores, esportistas que, de uma maneira ou de outra, se encantavam com o lugar. Alguém poderá perguntar Esportistas? Claro que sim. Foi vizinho ao Estoril que nasceu o futebol de salão no Ceará. Os craques da época, Fernandinho, Joaci, Esquerdinha e outros, depois dos treinos, jantavam no Estoril. Mas sem dúvida, a figura esportiva mais conhecida na área era o Pacoti, que começou a andar por ali na década de 50. Jogava no time do Nacional dos Correios e Telegráfos, e morava na pousada que ficava ao lado do antigo Restaurante La Tratoria. Encantou-se com o bairro, casou com uma iracema, correu o mundo jogando futebol, ganhou uma porção de títulos e, no ano de 1966 fixou residência. Bom anfitrião, o nosso Pacoti uma vez hospedou Mané Garrincha. Saíram andando pelas ruas e o povo os acompanhava. Lá pelas tantas, Garrincha entrou em uma birosca e pediu uma pinga. O pessoal também pediu, entre umas e outras, ficou todo mundo distraidamente jogando conversa fora, quando o olhar de Mané Garrincha desviou-se para o outro lado da rua, e o que vê lhe incomoda. Do outro lado da rua Mané Garrincha viu uma birosca completamente vazia, o dono a observar, com olhar suplicante, o movimento ao lado de seu pequeno comércio. Foi ai que Garrincha se virou para toda a turma e diz, “Ei gente, vamos beber um pouquinho lá no doutro lado, porque o cara também é filho de Deus”. > Por: SERGINHO AMIZADE

SÉRGIO RÊDES (SERGINHO AMIZADE) EX-JOGADOR



Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.