A singularidade da gênese mineira
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aracterísticas da singularidade que diferencia Minas Gerais de outros estados brasileiros, a ambivalência e a duplicidade estão no DNA da sua formação histórica, cultural, social, política e econômica, afirma o professor João Antonio de Paula, autor de Minas Gerais: visão de conjunto e perspectivas, livro lançado pela Assembleia Legislativa na 33ª Reunião Especial, realizada no dia 2 de dezembro de 2020 em comemoração do tricentenário do Estado. “Minas é barroca, mas é também modernista. E aqui se criou um barroco que não é exatamente o barroco clássico, mas rococó, meio gótico, como aqui floresceria também o modernismo em suas variadas formas de expressão”, assinala João Antonio, que foi responsável pelo texto curatorial da UFMG nas atividades relativas aos 300 anos no Parlamento mineiro, ao descrever a duplicidade e a ambivalência mineiras. Como na arquitetura e na cultura, essas características singulares marcam também a história política mineira, aponta o professor. No alvorecer do século XVIII, por exemplo, Minas se apresentou como um território de conflitos e beligerância: “[…] a terra parece que evapora tumultos; a água exalta motins; o ouro troca desaforos; destilam liberdade os ares; vomitam insolências as nuvens; influem desordem os astros; o clima é tumba da paz e berço da rebelião; a natureza anda inquieta consigo, e amotinada lá por dentro, é como no inferno”1, lamentou o então governador português, Pedro Miguel de Almeida Portugal, o Conde de Assumar.
1 Discurso histórico e político sobre a sublevação que nas Minas houve no ano de 1720. Estudo crítico de Laura de Mello e Souza. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1994. p. 97.
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