AMI Notícias nº 89

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04 | Horizonte cortado Grande Reportagem no Estabelecimento Prisional do Funchal

Uma porta na Madeira há 25 anos

Entrevista, Maria Joaquina Madeira, vice-presidente EAPN

De sons da rua a árvores da vida, uma liga joga para a inclusão

Breves – Nacional, Internacional, Mecenato

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Ficha Técnica

Este número da AMINotícias foi editado com o especial apoio da T RUST IN NEWS detentora dos títulos Visão e Visão Júnior (encarte), COMPANHIA DAS CORES LIDERGRAF e CTT - Correios de Portugal. Autorizada a reprodução de textos desde que citada a fonte.

Periodicidade Trimestral

Diretor Fernando Nobre Diretora Adjunta Luísa Nemésio Subdiretora Ana Luísa Ferreira

Editora Ana Martins Ventura Redação Ana Martins Ventura

Colunistas Isabel Fernandes, Catarina Neves, Fernando Nobre

Branded Content Isabel Pinheiro, Sandra Leite Coordenador de Fotografia José Ferreira

Fotografia José Ferreira, Syria Relief & Development, Timothy Lima, Direitos Reservados

Grafismo Alexandre Fernandes Redes Sociais José Guimarães

Paginação Companhia das Cores - Ana Gil, Lúcia Antunes

Impressão LIDERGRAF

Editora, Redação e Administração AMI - Fundação de Assistência Médica Internacional, Rua José do Patrocínio 49, Marvila, 1959-003 Lisboa

• T. 218 362 100

• E-mail: aminoticias@ami.org.pt Tiragem média 38.500 exemplares Distribuição Visão, Visão Júnior, AMI Registo ERC 127913 Depósito Legal

Foto © José Ferreira / AMI
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INTEGRAR: NECESSIDADE E DIFICULDADES!

Nas atuais circunstâncias é, mais do que nunca, fundamental a integração de todos a vários níveis: global, familiar e pessoal!

a) ao nível da Humanidade, na tomada de consciência e afirmação de uma Cidadania Global Solidária, tal implica Empatia, atenção e respeito de cada um de nós para com todos os outros.

b) ao nível da família, como pilar agregador essencial que é, de aprendizagem e de partilha de valores de união, tolerância e amor.

c) ao nível individual para cada um de nós, quando a pobreza e o desemprego aumentam e o burnout no meio laboral está em franco e assustador crescimento, (um estudo recente esclarece que 80% dos trabalhadores assumem que estão ou caminham para uma situação de burnout, rutura), cada vez mais famílias se dilaceram e quando o suicídio aumenta assustadoramente em todos os estratos etários... é forçoso constatar que a saúde mental deve ser uma prioridade.

Ao fim e ao cabo, a Fundação AMI tenta atuar, e atua, no sentido de mitigar essas nefastas tendências. E fá-lo de múltiplas formas, continuando e perseverando, contra ventos e marés, com os seus projetos internacionais, mantendo e até reforçando as suas ações sociais em Portugal (Centros Porta Amiga, Abrigos para os sem abrigo, Equipas de rua...) e desenvolvendo nestes últimos anos atividades que ajudam inequivocamente a integração das pessoas pela formação e por múltiplos apoios que tentam impedir a desintegração das famílias mais vulneráveis e o desmoronamento psicológico dos seus beneficiários e colaboradores.

Resumidamente, esses novos apoios são:

1. Criação do Fundo Universitário: desde 2015 já foram atribuídas 374 bolsas de estudo a estudantes universitários;

2. Fundo de Apoio Social: pagamento de despesas de renda, água, luz, gás e medicamentos em situações extremas;

3. Fundo de Apoio Psicológico: reforço da rede de psicólogos que colaboram connosco e celebração de um protocolo com uma entidade externa através do qual colaboradores e beneficiários podem usufruir de consultas online;

4. Apoio Alimentar reforçado através da realização de várias campanhas.

Numa altura em que os apoios diretos à AMI minguam, mercê de uma crise económico-social sem precedentes, a AMI mantém a sua razão de ser (em 2024 fará 40 anos), utilizando reservas que em boa hora criou e que se revelam indispensáveis nestes tempos que nos desafiam e fortemente interpelam. Termino, reafirmando o que escrevi no livro “Humanidade”, publicado em 2009, a urgência do surgimento de uma Cidadania Global Solidária como último garante de uma sociedade onde são prioritárias Saúde, Educação, Emprego, Democracia, Direitos Humanos, Direitos - Liberdade e Garantias, Família..., tudo o que desde as últimas sete décadas após o fim da 2ª Guerra Mundial pareciam ser dados adquiridos e garantidos...

Terá sido uma simples e trágica miragem?

A resposta está nas nossas mãos de Cidadãos!

SUMÁRIO + EDITORIAL | 03
Fernando de La Vieter Nobre Presidente e Fundador da AMI © Gabriela Nemésio Nobre

HORIZONTE CORTADO

Nunca foram meninas a tempo inteiro e descomplicado. Cresceram logo mulheres, de corpo batizado a heroína. Chegaram à prisão sem viverem os seus direitos plenamente, presas à violência, trabalho escravo, tráfico. Atrás dos muros continuam em segunda fila. Desde as celas maiores, ao acesso à biblioteca e até na missa, a primazia é dos homens. Não há medidas iguais e as oportunidades são raras.

Texto Ana Martins Ventura | Fotografias José Ferreira

Ema entrança o cabelo, desenha o contorno dos olhos e escreve. Carla pensa sobre a liberdade. Recupera o corpo da droga. Não há espaço onde pousar o olhar e sentar o silêncio na cela de dois metros quadrados partilhada com duas camas, um armário, uma sanita e um lavatório. Quando a porta fecha “só há direito a confinamento e pensar, pensar nos erros até enlouquecer”. De manhã ressurge um horizonte cortado a betão, construído para homens. É dia da formação da AMI “Sensibilizar para Melhor Reintegrar - Cidadania em Ação”. Durante noventa minutos, uma vez por mês, regressam à escola. Momento raro que temem nunca concretizar.

O Estabelecimento Prisional (EP) do Funchal não é abrangido por protocolos de formação profissional, seja de âmbito nacional, a partir do Instituto de Emprego e Formação Profissional, ou de âmbito regional, através do Instituto de Emprego da Madeira. "A formação que chega aos 310 homens e 8 mulheres é feita pela boa vontade da comunidade", assegura Armando Coutinho, diretor adjunto do EP Funchal. O acesso ao ensino secundário e superior é garantido, mas desigual. Entre os homens, apenas oito frequentam o ensino secundário e um frequenta o ensino superior. As mulheres têm de percorrer um longo caminho de autorizações para alcançar livros e computadores, o que as impede de estudar e mudar o seu futuro.

De saída dos corredores e minúsculas celas da ala feminina do Estabelecimento Prisional do Funchal (EP), Ema chegou ali depois de “um acerto de contas”. Em 2020, estava desempregada e envolveu-se em “negócios de droga” para manter as suas despesas. Depois veio o consumo.

Um antigo patrão devia-lhe dinheiro e “não queria pagar a bem”, então Ema decidiu forçar. Na noite da cobrança o grupo de amigos que a acompanhou queria mais dinheiro e “como o banco estava fechado o homem ficou retido no carro até de manhã”. Lamenta “não ter a noção do quanto era grave o que estava a fazer”.

Traz num caderno poemas, contos e pensamentos prontos a publicar. “Renascer das Cinzas”, assim nomeia o lugar só seu, onde reinam as palavras “mulher”, “livre”, “dor”, “recomeço”.

O início do tempo na prisão foi difícil, “achava que era uma vítima e o mundo estava todo contra”, até admitir: “deixei essas pessoas entrarem na minha vida, tive culpa do que aconteceu”.

Conhecer o mundo atual, debater ideias, resolver problemas e derruar obstáculos são as prioridades do momento para preparar. Ema quer seguir em frente e “nunca mais voltar à prisão”. Lá fora tem dois filhos e o medo de “cometer os mesmos erros, de não conseguir publicar o livro” escrito em longas noites.

Carla saiu de S. Miguel, nos Açores, com “uma proposta de trabalho [na Madeira] que afinal não era tão certa como pensava”. A oportunidade surgiu através de uma amiga. “Disse que precisavam de uma pessoa para trabalhar num bar, só que era uma ‘casa de mulheres’” e só percebeu quando foi apresentada à gerente e esta disse para “mostrar o corpo”. Perguntou “para trabalhar no bar é preciso ver o meu corpo?”. Com a resposta soube que o trabalho era para “fazer atendimentos ao copo”. Alterne. Carla cedeu, precisava de dinheiro para o bloom. Presa a uma droga altamente aditiva não pensou que estava a ser vítima de tráfico sexual, habituou-se à “rotina do bar” e ficou dois meses. Fugiu, farta da exploração, se fizesse 500,00 euros numa noite em copos, 250,00 euros ficavam para a casa. E recorda: “vivi nas ruas, prostituí-me, roubei. Fui obrigada a fazer coisas que na minha ilha não fazia. Só depois de ser presa despertei para a dimensão do que tinha acontecido”. Já não queria saber da droga por a ter levado à prisão e a revolta ficou maior quando recebeu a notícia da morte da mãe. Ela também consumia bloom e quando morreu estava completamente desidratada. Se não chegasse ao Estabelecimento Prisional do Funchal Carla acredita que também acabaria morta porque “não dormia, o bloom mantém as pessoas despertas e quanto mais se tem, mais se quer”. Na prisão passou “dias e dias a dormir, acordava apenas para comer”. Entre muros curou-se e casou. Faz parte da leva de detenções feitas para limpar o bloom das ruas do Funchal quando a violência, associada ao consumo desta droga, disparou e ameaçou madeirenses e turistas.

Carla teme que, fora da prisão, a falta de formação a empurre para trabalho mal remunerado e daí para o tráfico e consumo

GRANDE REPORTAGEM | 05

Carla vive de uma incomum gratidão pela condenação. Nem por isso deixa de olhar para o fosso de direitos entre homens e mulheres na prisão. Quer regressar aos Açores com o marido, condenado pelos mesmos crimes, em coautoria. “O risco de voltar a consumir está tanto na Madeira, como nos Açores”. Para se afastar da droga o trabalho é a solução. “Mas como ter um trabalho melhor e mudar a vida se a formação para as mulheres na prisão é tão limitada?”. O tempo de confinamento e apatia é superior ao tempo dedicado à reinserção. As bibliotecas ficam nas alas masculinas.. Também só desse lado há oficinas de artesanato, mecânica, serralharia, assim como uma panificadora, a cozinha e a enfermaria.

Se Ema e Carla quiserem estudar ou fazer formação ,além da formação dada pela AMI, “o acesso a livros e computadores é muito limitado, depende de uma requisição total da biblioteca e da disponibilidade para escolta a uma ala masculina”. Resta a área das limpezas para fazer formação. Quando Ema e Carla tentam lutar por direitos iguais “a solução é uma transferência para Tires e ficar longe da família”. Armando Coutinho, reconhece que “as condições não são as ideais, nem mais equitativas entre géneros, mas esta prisão também não foi construída na sua origem para ter ala feminina”.

O aumento do número de reclusos condenados por crimes sexuais e homicídios obrigou a readaptações que retiraram espaço às mulheres e deram mais corredores aos homens. Ainda assim, o diretor adjunto não descarta que, “tudo está a ficar mais humanizado no sistema prisional, já não há carcereiros, há guardiões de chaves que conhecem todas as vicissitudes das vidas destas mulheres até chegarem aqui”.

O Curso Básico de Socorrismo da AMI chegou ao EP Funchal para responder à vontade de humanizar aquele sistema prisional. Primeiro sempre para os homens, depois para as mulheres.

Helena Andrade, Delegada da AMI na Madeira, recorda

“um homem, no grupo dos primeiros formandos, que ficou emocionado porque aquele foi o primeiro diploma que teve na vida”.

A partir desse primeiro momento, Helena entendeu que podia fazer no EP Funchal uma abordagem a temas de cidadania, atualidade e direitos humanos. Iniciou-se a formação “Cidadania em Ação” para um grupo de doze reclusas, num espaço onde nem verde se vê e “cidadania e direitos humanos são debates raros”.

Mulheres a dar formação a mulheres partilham vivências e percebem que as suas histórias não são assim tão diferentes. Helena Andrade reconhece que “90 minutos de formação por mês é pouco, mas representa uma oportunidade extraordinária num lugar onde quase nada se fazia pelas mulheres”.

Com idades entre os 18 e os 60 anos, em muitos casos uma escolaridade que não ultrapassa o 4.º ano, as reclusas têm percursos marcados pela violência e “o consumo de droga está presente em quase todos os casos”.

Alice deixou a escola aos 14 anos, com o 8.º ano concluído, para trabalhar. A morte da mãe obrigou à autonomização precoce. “Trabalhando aqui e ali” encontrou “uma anestesia e um refúgio na droga”. Anulou a sua identidade e pensou ter “poucos direitos” para servir sempre outros. Esqueceu a paixão pelo futebol que começou a praticar no Clube de Futebol Andorinha, o mesmo onde Cristiano Ronaldo começou a carreira, depois terminou no Marítimo. Na prisão ainda treina com o guarda Rodrigues. Quando sair, “talvez consiga voltar ao Marítimo”.

Condenada por roubo e tráfico junto com o homem que é seu companheiro há dezassete anos, “quando a porta da cela fecha ao fim da tarde o pensamento é dos erros e dos filhos, sozinhos”. Angústia constante.

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Durante noventa minutos, uma tarde por mês, doze mulheres reaprendem direitos e cidadania “Guardião de chaves”, Rodrigues procura conhecer cada nome e história dos homens e mulheres do EP Funchal

Não olha ninguém nos olhos, “por vergonha ou falta de autoestima”, pondera Helena Andrade. Com a autoestima perdida, debater cidadania e direitos humanos na aula mensal da AMI é a oportunidade de Alice construir a sua personalidade. “O resto dos dias é dedicado às limpezas”, o único trabalho a que pode aspirar na prisão.

Durante as aulas, as mulheres interligam o debate sobre direitos humanos com as suas próprias histórias e percebem que “merecem oportunidades e dignidade, melhorar as suas vidas a partir da prisão e isso nem sempre é possível”. Os limites são muitos mas desistir não é uma opção e Helena Andrade insiste, afinal “a liberdade não é uma experiência fácil, muitas vezes, a estrutura familiar está completamente quebrada e o isolamento pode ser muito duro”. Pior ainda é o estatuto que elas atribuem a si mesmas, pensando sobre o que fizeram ou não fizeram com as suas escolhas.

Já em liberdade chega o dia de Ema concluir o Curso Básico de Socorrismo da AMI. Saiu há um mês do EP Funchal e não deixou de trazer para cima e para baixo o caderno de poemas e pensamentos que vai transformar em livro. A ideia não é, nem nunca foi, passageira. Por agora, a prioridade é conseguir trabalho. A baixa escolaridade não ajuda. Viver numa ilha onde todas as histórias se conhecem também não. Eliminar preconceitos e estereótipos só dentro de algumas gerações.

Para Helena Andrade a solução será sempre “intervir o mais cedo possível, trabalhando com as famílias e apoios que não criem dependência, mas, validem a autoestima e autoconfiança”. Tudo está ligado à infância. Um percurso em que “nós, Estado Social, temos falhado”.

O índice de saída precoce do ensino é muito alto, “ainda há muito abandono escolar ligado à precariedade e existe grande desigualdade social, o que leva as pessoas a procurar elevação social por caminho menos legais”. A percentagem de reincidência na prisão é elevada, mas há provas de que a formação e uma relação de respeito mútuo entre profissionais e reclusos começa a dar resultados.

GUARDAR CHAVES E HISTÓRIAS

Já não é raro conhecer os reclusos pelo nome, um por um. Os guardas prisionais, o diretor adjunto, são as pessoas a quem estes homens e mulheres recorrem em primeiro lugar, nos piores e melhores momentos. É com eles que falam ao abrir e fechar das portas. “Conversas que constroem confiança, geram conselhos”, conta Rodrigues, guarda no EP do Funchal.

Milhares de quilómetros percorridos em rondas, mapa decorado ao detalhe, Rodrigues passa pelos corredores ao ritmo de “um guardião de chaves e de histórias”, como se assume. Doseia disciplina e compassividade. Quem está preso faz parte da sua vida e torna-se inevitável conhecer o nome e a história. “João como é que isso está hoje? Fernando, está quase na hora de almoço!”. Em cada familiaridade está “menos violência, menos peso nos dias infindáveis”.

A prisão não é só o lugar onde estão violadores, pedófilos e homicidas que ninguém quer ter por perto, “lá dentro há muitas histórias de injustiça social, de homens e mulheres marginalizados desde a infância”. Rodrigues recorda quando teve de contar a um recluso que a sua mãe estava a morrer. Uma pessoa violenta a quem todos temiam a reação. Ao guarda, o homem pediu apenas a oportunidade de se despedir da mãe. Rodrigues encaminhou o pedido, foi aceite e transformou-se em gratidão.

O diretor adjunto do Estabelecimento Prisional do Funchal tem a certeza que “é inevitável caminhar para a humanização do sistema prisional, durante e após a pena, caso contrário não estamos a reconstruir as pessoas, porque é disto que se trata, de vidas. E não são apenas as vidas dos reclusos, das famílias também. Caso contrário para que servirá o tempo de reclusão? Apenas para punir? Para isso, voltava-se à pena de morte dos tempos medievais”.

O progressismo impulsionado por Armando Coutinho começou com um pormenor: “chamar os reclusos pelo nome”, depois vieram as histórias pessoais, conhecidas uma por uma.

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“A liberdade não é uma experiência fácil, muitas vezes, a estrutura familiar está completamente quebrada e o isolamento pode ser muito duro”
Helena Andrade, Delegada da AMI na Madeira

TRÁFICO PORTA SIM, PORTA SIM

“Grande parte da criminalidade está relacionada com tráfico de droga”, afirma Armando Coutinho, diretor adjunto do Estabelecimento Prisional do Funchal. E é impossível não interligar o percurso de um recluso com o percurso da sua família que, muitas, vezes, continua em risco

Filomena paga um preço alto por anos de tráfico de droga em família. Sobreviveu aos murros esquizofrénicos do marido, que acabavam com a polícia à porta. Depois de 23 anos de casamento, quando sair da prisão José “não pode regressar a casa”. Os filhos são prioritários, “o estrago na saúde mental deles é demasiado alto para repetir tudo”. Seria fácil seguir o mesmo caminho, “o que mais há na Madeira é tráfico em família, porta sim, porta sim”. Decidiu apostar no trabalho para cortar o ciclo que começou num negócio gerido pela sogra. Criou os três filhos entre idas e vindas do marido da prisão, a mais recente depois de conduzir em contra-mão para fugir à polícia. O gatilho que Filomena precisava para “não aceitar mais um companheiro que nunca chegou a partilhar verdadeiramente uma vida em família”. Ao contrário do que imaginava na assistência social surgiram os maiores obstáculos à emancipação.

Filomena trabalhava por turnos “porque o ordenado é melhor” e “disseram que devia demitir-se porque os filhos, embora fossem adolescentes, não podiam ficar sozinhos”. As soluções apresentadas foram “arranjar um trabalho com horário das 9h00 às 18h00 ou recorrer a apoios sociais”. Conseguiu trabalho num restaurante para o serviço de almoço. Mas o ordenado era curto para as despesas. Então deixou os conselhos impostos e conseguiu um part-time num supermercado.

Filomena não entende “como viver de apoios pode emancipar?” devia ser “apenas uma ajuda de transição”. No Centro Porta Amiga do Funchal encontrou “outra compreensão”, ali começou a receber apoio psicológico, encaminhada pelo centro de saúde.

Filomena não queria que libertassem o marido sem nada, depois de dez anos preso, “quem consome droga precisa de um plano de vida”

Cristina Meneses, diretora do Centro Porta Amiga do Funchal, defende que “é preciso envolvimento com as pessoas e as particularidades das suas histórias, para adotar planos de vida únicos”. O tráfico e consumo de drogas é elevado na Madeira e quando se consegue cortar, “o segredo do sucesso é capacitar para autonomizar as pessoas de reincidências e da dependência extrema de apoios sociais”. Mesmo sendo doente oncológica Filomena não deixa de trabalhar dez horas por dia, “se for preciso”. Por ser “bem disposta”, todos acham que está bem. Sorri porque “a vida segue” e todos os dias os filhos precisam “comer e vestir”. As prisões de José sucedem-se por assumir o crime de tráfico no lugar da mãe. Já cumpriu 15 anos de penas e uma das vezes arrastou Filomena para uma pena suspensa. Aos 69 anos e contra todas as detenções do filho, a sogra mantém o negócio de tráfico. Antes de José sair em liberdade condicional Filomena pediu à assistente social um plano de reinserção para o marido. “Não queria que jogassem o José na rua sem nada, depois de dez anos preso”, se isso acontecesse sabia que tudo voltaria ao mesmo, “quem consome droga precisa de um plano de vida muito restrito”.

No início do novo tempo em liberdade José trazia algum dinheiro do trabalho feito para a Câmara Municipal do Funchal, no regime semiaberto, “por causa disso cortaram logo à família o rendimento mínimo [RSI]”. Quando o dinheiro acabou voltou ao tráfico e quatro meses depois da liberdade condicional José regressou à prisão.

É quando tudo falha na saída que Armando Coutinho questiona se “o Estado e os atores sociais têm os recursos certos, para dar continuidade ao trabalho que é feito nas prisões”. Afinal, “por algum motivo ex-reclusos e ex-reclusas arriscam o mesmo crime”.

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“O segredo do sucesso é capacitar para autonomizar as pessoas de reincidências e da dependência extrema de apoios sociais”
Cristina Meneses, diretora do Centro Porta Amiga do Funchal

“TUDO PARA NÃO REGRESSAR”

Aos 14 anos teve o batismo de droga com heroína. Ficou logo preso. Aos 31 anos Pedro cumpre a segunda pena por tráfico, se puder nunca mais volta. Espera que lá fora a sociedade corresponda

Nas ruas Pedro consumiu todas as drogas possíveis, a maior parte das vezes por gosto. Foi da Madeira para Inglaterra viciado em bloom mas, com alguma esperança de conseguir mudar de vida, a trabalhar. Acabou condenado a três anos de prisão por tráfico, de 2012 a 2015. De regresso a casa, em 2019, cometeu o mesmo crime. Quando pensa no passado “pela imaturidade repetia tudo”. Quando pensa na liberdade renova-se: “farei tudo para não regressar”.

Pedro é um dos casos onde “uma quebra na rede familiar agravou os problemas com a droga e a partir do momento em que ele se afastou da sociedade, não houve uma estratégia que o repescasse para uma vida normativa”, comenta Armando Coutinho, diretor adjunto do Estabelecimento

Prisional do Funchal. Talvez Cruz, outro recluso, seja um dos exemplos do que é possível fazer na vida de pessoas profundamente ligadas ao crime.

Condenado com a esposa por tráfico internacional, Cruz encontrou no Curso Básico de Socorrismo “um meio para renovar as oportunidades de vida quando sair da prisão”. Antes de ser preso vivia entre a arte de barbeiro e o tráfico, em família. No EP Funchal continuou a fazer barba e cabelo. Espera “recuperar a profissão” e se tudo o que fez durante o cumprimento de pena o ajudar, reconquistará “orgulho e respeito” dos filhos e da mãe.

Na prisão Pedro também fez mais do que fora dela. Começou pelo mesmo Curso Básico de Socorrismo e confrontou-se com “os riscos de vida corridos e vidas que poderia ter ajudado, como a de um amigo esfaqueado”. A formação da AMI representa uma parte do novo mundo, em que se sente “mais humano”, mais “capaz” e “valorizado”. A seguir, apostou no 12.º ano, em conclusão. A morte do pai, em 2012, levou Pedro a afundar-se mais na droga. Quando a família estava completa “sentia respeito e ambição de querer que ficassem orgulhosos”. A seguir, veio “uma quebra total com a noção do certo e errado”, sem pensar que a droga afetava irmão, mãe e avó”. Pedro entendia que “a droga era uma questão pessoal com a qual ninguém tinha nada a ver”. Depois do desmame com metadona “parece que a mente limpou”. Para a liberdade leva o lema “um dia de cada vez”. Se dentro da prisão consegue “ter calma, paciência e dizer ‘hoje não’”, na rua também vai ser assim. Pedro sabe que a sua “maior cruz”, como lhe chama, é a droga e o facto de ser influenciável. Consciente do esforço contínuo em que viverá para combater um vício, Pedro não desiste de sonhar com casa, família e filhos. Sairá em liberdade com o 12.º ano e um emprego, numa empresa de construção civil. Gostava de trabalhar como barman , mas voltar a esse meio está fora de questão se quer quebrar ciclos.

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Na prisão Pedro também fez mais do que fora dela. Começou pelo mesmo Curso Básico de Socorrismo. A seguir, apostou no 12.º ano
“Pensava que a droga era uma questão pessoal com a qual ninguém tinha nada a ver”
Pedro

UMA ARTE PARA POUCOS

No vagar dos dias iguais, Jorge criou um moinho, um castelo, carros. Cada vez que chega uma encomenda as ideias saltam os muros da prisão e a madeira ganha formas. A oficina de marcenaria, a de serralharia, mecânica, a padaria e a cozinha são caminhos possíveis para os homens do Estabelecimento Prisional do Funchal. Estão à mão dos corredores por onde podem caminhar. Para as mulheres estão inacessíveis.

Nas oficinas há uma aura de normalidade, ou liberdade. Jorge está por lá há um ano. “Nunca tinha trabalhado com madeira”, um dia deram-lhe a oportunidade e “tudo veio de repente à cabeça”.

Num lugar de “muitas rudezas”, o trabalho de Jorge é “muito precioso”, mas foi preciso que muitos o repetissem, pois “não acreditava que as esculturas em madeira valessem alguma coisa, quando sair da prisão gostava que continuassem a acreditar nesse valor”.

“Cumpre pena” desde 1998, ano em que ingressou profissionalmente no sistema prisional, enquanto psicólogo. Armando Coutinho considera-se como um recluso, pois partilham rotinas e acredita que essa é a fórmula para a humanização do sistema prisional. Em 2009, o trabalho no Estabelecimento Prisional do Funchal fascinou-o porque “a insularidade permite criar uma forte ligação entre a prisão e a comunidade”. A missão profissional ainda o levou a Santa Cruz do Bispo, mas, quando surgiu uma nova oportunidade, em 2016, regressou à Madeira.

O que há de diferente no EP Funchal?

A arquitetura é favorável a um bom cumprimento de pena. O alojamento é feito maioritariamente em cela individual, temos uma população dentro dos limites aceitáveis [cerca de 300 reclusos] e grande ligação com a comunidade envolvente na área da educação, desporto e associativismo, o que é fundamental. Reclusos e reclusas podem praticar desporto, há bibliotecas e mais de 17.000 livros disponíveis. Enganam-se as pessoas se pensam que os presos aqui ficam para sempre, um dia são devolvidos à sociedade e se saírem daqui com mais ferramentas académicas ou sociais é menos um problema para a freguesia ou comunidade a que regressam.

E as oportunidades de capacitação resultam, de facto, em reinserção?

Não podemos olhar para a população reclusa como uma estatística. Ainda que seja só um caso de sucesso, vale a pena agir, porque é uma vida humana com a sua singularidade e idiossincrasia. Se um homem voltar à sua comunidade, por exemplo, e puder traba -

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ARMANDO COUTINHO, DIRETOR ADJUNTO DO ESTABELECIMENTO PRISIONAL DO FUNCHAL
“AINDA QUE SEJA SÓ UM CASO DE SUCESSO, VALE A PENA AGIR”

lhar como barbeiro, e reconstruir a vida ao lado da família, valeu a pena. O cumprimento de pena é um processo individual, não é coletivo.

Existem recursos para começar a reinserção na prisão e acompanhá-la lá fora?

Os recursos são sempre escassos. Faz-se muitas coisas por carolice. As parcerias surgem porque as pessoas que nos antecederam criaram uma aura de respeito e prestígio em torno do EP Funchal. A visita de estudo de uma escola pode ser um elemento de reinserção social. Aqueles jovens são atores de mudança para uma relação menos estigmatizante da sociedade para com quem esteve preso. Mudar mentalidades é um trabalho geracional. É por isso que nós, profissionais, entramos numa prisão jovens e só saímos de lá velhinhos, se nos deixarem.

Um ex-recluso tem acesso a apoio psicológico?

A questão é: a sociedade tem investido na saúde mental para a comunidade em geral? À prisão vem parar a população mais doente de uma sociedade. Doente física e psicologicamente. Olhamos para reclusos de 30 anos que parecem ter 50. Tiveram estilos de vida que os desgastaram, a saúde mental nunca foi acarinhada e passaram por histórias de vida altamente nefastas. Na prisão, têm pela primeira vez acesso a uma consulta de psicologia ou a uma avaliação psiquiátrica.

Dentro de um estabelecimento prisional há mais acesso a cuidados de saúde do que em liberdade?

Diria que, por metro quadrado, num estabelecimento

prisional, o cidadão comum, indiferenciado, com poucos recursos económicos, tem acesso a áreas de especialidade na saúde a que dificilmente teria acesso lá fora. Há mulheres que são acompanhadas pela primeira vez em ginecologia quando estão em cumprimento de pena. Têm acesso pela primeira vez a dentista, consultas de infecciologia, psicologia. Então? A comunidade andou distraída porque estas pessoas chegaram aos 30 anos e nunca foram vistas por estes profissionais.

Mas este grupo populacional também esteve fora daquilo que é um seguimento habitual em saúde e educação. Em determinado momento, cortou a relação com a escola, iniciou-se no mundo do trabalho de forma não regularizada. Os cuidados de saúde deixaram de ser prioritários.

A sociedade investe em grupos como os reclusos para que os possa monitorizar e diminuir o alarme social. Quando os grupos vulneráveis não vão ao encontro das instituições, é obrigação da cidade ou da comunidade criar estratégias para cada um destes homens e mulheres. É preciso investir de base na educação, saúde mental, cultura, melhores salários, para que estas pessoas não escolham caminhos que as levem ao sistema prisional.

Se a solução para quem está na prisão tivesse resultado instantâneo, estava em todos os programas governamentais.

GRANDE REPORTAGEM | 11

UMA PORTA NA MADEIRA HÁ 25 ANOS

No Centro Porta Amiga do Funchal criam-se planos de vida para resgatar ou descobrir capacidades. De 1997 até ao presente, a intervenção do centro passou da assistência imediata para a formação e acesso ao trabalho como chave da emancipação

Todos os dias, Jorge Abreu senta-se no antigo salão do número 57 da Rua das Pretas para almoçar. Há muitos anos que o Centro Porta Amiga do Funchal é a sua casa durante o dia. Com pena, diz que “gostava de ser ator, talvez quando for mais maduro”. Tem 37 anos e a mente presa na infância em que “era para lá de pobre” e vivia nas furnas, grutas onde famílias que não tinham casa procuravam abrigo.

José Carlos Castro ainda quer acreditar em possibilidades, mas, com 63 anos e “depois de passar por uma falência, um divórcio e um AVC, desiste-se”.

A capacitação seria a oportunidade de recuperarem a autoestima e cortarem ciclos de dependência. É o salto que Filomena Pereira está a dar, empoderando-se “a partir de consultas de psicologia e do trabalho”.

O dia em que Jorge Abreu perdeu a irmã para os ratos, frio e fome aprisionou-lhe a mente num mundo de menino, para fugir ao choque. Levado para longe da família, viveu de instituição em instituição, até chegar às ruas com dezoito anos. Ainda pensou voltar para as furnas, mas quando lá chegou “as recordações não deixaram”.

Casos como o de Jorge Abreu marcam o quotidiano de Cristina Meneses, diretora do Centro Porta Amiga da AMI no Funchal. “Tentam-se planos de vida adaptados, para resgatar ou descobrir capacidades, mas, às vezes, não é possível ultrapassar as marcas das histórias de vida”, deixadas no físico e na mente. Aberto há 25 anos, a pedido de Miguel Albuquerque, então presidente da Câmara Municipal do Funchal, o Centro começou por “responder no imediato à população em situação de sem-abrigo do Funchal e ajudar a combater a toxicode -

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Fotografias © José Ferreira/AMI Jorge Abreu vê no Centro Porta Amiga do Funchal um espaço de proteção diária que o ajuda a enfrentar a ausência da família Cristina Meneses, diretora do Centro Porta Amiga do Funchal

pendência”, recorda Cristina Meneses. Hoje, a intervenção do centro chega a todo o arquipélago. Mantém como missão o apoio a casos como o de Jorge que, por tempo indeterminado, precisam de apoio para habitação, alimentação e cuidados de saúde. E assumiu também a missão de capacitar psicológica e profissionalmente quem procura emancipação e a pode concretizar. “Em todos os casos, a família, amigos, vizinhos são a chave. É vivendo em comunidade que as pessoas se sentem integradas, reconhecidas e protegidas”, afirma Cristina Meneses, acreditando que “o ativismo social deve ser enraizado em toda a população”. No coração do Funchal, o Centro

Porta Amiga mantém serviços de refeitório, lavandaria, apoio social e apoio ao emprego. Com a Universidade da Madeira e a Direção Regional de Saúde disponibiliza consultas de psicologia descentralizadas. “Desemprego, ou acesso apenas a trabalho precário, contextos de violência doméstica e doenças crónicas, caracterizam a maioria dos beneficiários que hoje procuram o Centro Porta Amiga do Funchal”, com idades compreendidas entre os 30 e os 70 anos, descreve Cristina Meneses. Mas, jovens na faixa etária dos 18 aos 25 anos também procuram no Centro uma estratégia para ultrapassar momentos únicos, seja na “orientação para entrar no mercado

de trabalho, ou na ajuda imediata, porque estão sem habitação devido a rusgas com a família ou especulação imobiliária”.

Para Cristina Meneses, “a maioria destes casos resolver-se-ia se a rede social interviesse precocemente e de forma assertiva nas questões da educação, com vista a resolver, consequentemente, as questões do acesso ao trabalho e rendimentos dignos e a emancipação”. Numa região autónoma com 250.744 habitantes, 133.600 representam a população ativa e a taxa de emprego ronda os 46%, o que significa que, mais de metade das pessoas ativas não tem acesso a oportunidades profissionais.

O início da atividade da Delegação da AMI na Madeira, em 1996, foi o mote para a abertura do Centro Porta Amiga do Funchal um ano depois. É através desta delegação que a AMI leva formação sobre direitos humanos e cidadania às escolas de toda a região autónoma e ao Estabelecimento Prisional do Funchal, o mesmo lugar onde “Cursos Básicos de Primeiros Socorros são, não raras vezes, o primeiro contacto das pessoas com um diploma que certifica as suas capacidades”, conta Helena Andrade, Delegada da AMI na Madeira.

“A Madeira tem uma elevada taxa de abandono escolar”, fortes desigualdades no acesso a direitos sociais e limitações no mercado de trabalho. Para Helena, esta tríade “aprofunda a pobreza e dificulta o sucesso da reinserção social, com histórias de vida que se repetem entre gerações, muitas vezes, de pais para filhos”. Mas, admite que “muito tem mudado”.

Segundo a Direção Regional de Estatística da Madeira, só de 2013 para 2022, a taxa de aban-

dono escolar baixou de 28% para 9,4%. De 2011 para 2021, as habilitações ao nível do ensino secundário passaram de 28,2% para 41,4%. E a taxa de analfabetismo, embora ainda seja a mais alta do país, desceu de 7,0% para 4,5%.

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Formação, a estratégia contra o abandono escolar
Helena Andrade, Delegada da AMI no Funchal

“ESTIGMATIZAMOS A POBREZA E NÃO QUEBRAMOS O CICLO ENTRE GERAÇÕES”

“O que ninguém quer falar sobre a pobreza”, desde os ciclos de vida repetidos de pais para filhos, à exclusão do contrato social, porque “quem vive na pobreza nada pode dar” é o que Maria Joaquina Madeira, impulsionadora da implementação do Rendimento Social de Inserção em Portugal afirma ser necessário colocar abertamente no debate público “sem eufemismos. Ainda estigmatizamos a pobreza e não quebramos o ciclo entre gerações

Que metas não foram alcançadas com o Rendimento Social de Inserção?

O Rendimento Social de Inserção [RSI] devia ser uma ferramenta eficaz na luta contra a pobreza, no entanto, ficou aquém do objetivo. O RSI tinha como meta dar mais capacidade às pessoas na aquisição de bens e serviços, para viverem com mais dignidade, mas tornou-se insuficiente. Não podemos esquecer que grande parte dos beneficiários de RSI são idosos, doentes crónicos ou crianças. Beneficiários que não representam população ativa.

O RSI é insuficiente só pelo valor ou porque faltam políticas públicas complementares?

Hoje fala-se em mínimos adequados para ter uma vida digna, de acordo com recomendações europeias.

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©José Ferreira/AMI

A sociedade caminha para outro patamar de rendimentos e a perspetiva é que o RSI se mantenha apenas para as situações mais críticas. A meta agora é alcançar níveis de rendimento que vão ao encontro das despesas base das pessoas, para que reúnam condições de vida mais dignas

Somos uma sociedade alimentada economicamente de forma desigual porque convém?

O melhor que pode acontecer a uma organização humanitária como a EAPN ou a AMI é deixar de ser necessária, afinal elas trabalham para o seu fim e esse seria o mundo perfeito. Mas, a vida em sociedade é um contrato. Damos para recebermos. As pessoas em situação de pobreza não entram no contrato social porque não têm nada para dar em termos de impostos e poder de compra.

É preciso colocar no debate público o que ninguém quer falar sobre a pobreza e fazê-lo sem eufemismos. Ainda estigmatizamos a pobreza e mantemos um ciclo difícil de quebrar entre gerações.

O conceito de aporofobia criado pela filósofa Adela Cortina traduz-se como medo do pobre numa sociedade que estigmatiza a pobreza. Do estigma da pobreza nascem nichos de precariedade alimentar e habitacional e oportunidades para situações de vida à margem da lei, com vista a obter rendimentos ou ascensão social de forma rápida.

É bom ter essa palavra, apesar de pesada, porque ela concretiza o problema e a sociedade pode usar a palavra aporofobia como missão para erradicar a pobreza e não alimentar preconceitos.

Porque não se consegue quebrar a necessidade de assistência financeira ou alimentar?

Falha sobretudo a questão dos salários dignos. Temos salários insuficientes que comprometem toda a vida das pessoas, mas a pobreza não se esgota só na dimensão económica. A pobreza é multidisciplinar e complexa. Têm que se ter em conta todas as dimensões no processo de transformação e empoderamento das pessoas.

A falta de condições económicas prejudica o acesso a educação de qualidade, e, consequentemente, a uma profissão e trabalho digno.

Temos evoluído, no século XX usava-se mais o nome “pobre” do que o conceito “pobreza”. A responsabilidade de ser pobre era da própria pessoa, como se tivesse culpa. Hoje trabalhamos sobre todas as dimensões do conceito “pobreza”, desde a geográfica, à económica, saúde, educação ou acesso à cultura e lazer.

O salário mínimo nacional de hoje limita o futuro das próximas gerações?

É uma questão cultural. Temos uma população ativa de 4 milhões, há ainda muitas pessoas que por condição da sua vida, idade ou outro fator, não tem direito ao trabalho. E temos mais de 500 mil pessoas que trabalham e são pobres, a maior parte com família e crianças a seu cargo.

Temos uma taxa de pobreza nas crianças demasiado elevada porquê? Porque os seus pais são pobres.

Pais pobres, filhos pobres?

Ainda há um ciclo de pobreza. Um aprisionamento das pessoas num ciclo de privações. A neurociência estuda os compromissos que a pobreza gera ao nível do desenvolvimento físico, mental, psicológico e social.

Quando as pessoas ficam extremamente comprometidas com ajudas materiais e afetivas mútuas ao longo da vida, a autonomia fica em causa e podem gerar outras famílias empobrecidas. O estado de privação é uma herança terrível.

Por isso afirma que “agora o trabalho das instituições e do Estado é feito com a pobreza e não com os pobres”?

Há algumas décadas o Estado e a sociedade não viam a pobreza como um problema deles. O problema era das pessoas e elas tinham que adaptar-se à vida. Atrasados em relação à Europa, no pós 25 de abril, com a adesão à CEE [Comunidade Económica Europeia], Portugal assumiu um conceito que já circulava em outros países, o dos direitos sociais. A pobreza afinal existia porque a sociedade não garantia condições mínimas para uma vida digna. O Estado assumiu a pobreza como um problema público e começámos a falar de integração. Vivemos um momento de empoderamento. Mas, ainda temos uma sociedade profundamente desigual e todos os dias infringimos direitos humanos.

Que políticas públicas podem quebrar o ciclo?

A Agenda do Trabalho Digno vai muito além do trabalho a nível remuneratório. Incide também sobre a precariedade e relação trabalho-família. Uma agenda forte que vai ser uma política angular na transformação das condições de vida de muitos portugueses.

Depois, a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza incide precisamente sobre a questão da pobreza nas crianças.

Tudo isto se enquadra na recomendação europeia: pilar dos direitos sociais.

As políticas públicas estão no terreno mas continuamos sem conseguir implementar o idealizado, a começar pelo trabalho.

Há uma certa desvalorização do acompanhamento e avaliação das políticas públicas implementadas. Fazem-se as políticas, as leis, executam-se e depois não se avalia o impacto.

A grande novidade é que as novas estratégias estão submetidas a um sistema de avaliação do desempenho e do impacto na vida das pessoas.

Entramos numa nova Era e estou convicta de que tudo vai ser diferente, embora só consigamos ver resultados daqui a dois ou três anos.

ENTREVISTA | 15

DE SONS DA RUA A ÁRVORES DA VIDA, UMA LIGA JOGA PARA A INCLUSÃO

Há um pontapé de saída que marca o início da semana, um acorde de guitarra o meio e um desenho o fim. Com a Liga Para a Inclusão Social, tudo é possível, basta levar oportunidades a quem as perdeu

Alinham-se cadeiras, afinam-se instrumentos. Entoam-se os primeiros versos de “Renascer”, símbolo do regresso à normalidade, e os talentos despertam. Quarta-feira é dia da Liga Para a Inclusão Social espantar males a cantar no edifício da AMI, em Campanhã, no Porto, e há quem venha de Santa Maria da Feira para se unir aos beneficiários do Centro Porta Amiga e do Abrigo do Porto.

O espetáculo dura pouco mais de uma hora sob a batuta dos Som da Rua, grupo da Casa da Música que toca e canta há catorze anos com tenores, contraltos e fados sem regra. Talentos descobertos entre quem nunca teve a oportunidade de os explorar. Para Jorge Prendas, coor-

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Com os Som da Rua todas as pessoas podem cantar Texto Ana Martins Ventura Fotografia José Ferreira

denador do Serviço Educativo da Casa da Música e responsável pelo projeto Som da Rua, a “música é uma das melhores portas para unir e integrar quem está sozinho”. Mas a Liga Para a Inclusão Social vai além do Projeto de Inclusão Social (PIN) da música, também interliga histórias de vida a partir do futsal, artes plásticas, teatro e dança.

“São vinte e duas instituições públicas e particulares, da região norte do país unidas por carolice, porque nada ganham com isso”, conta Susete Santos, diretora do Abrigo do Porto da AMI, “com o objetivo maior de proporcionar aos seus beneficiários atividades que não teriam possibilidade de desenvolver por conta própria”.

João Oliveira acompanha os ensaios com os Som da Rua, mas é à segunda-feira, no treino de futsal promovido pela Associação de Futebol do Porto, que revive as melhores recordações da sua juventude quando “jogava num clube distrital”. Aos catorze anos, vieram “as responsabilidades de adulto”, e de uma aldeia de Trás-os-Montes rumou ao Porto, para trabalhar.

Perto dos 60 anos, esta é “apenas uma forma de matar saudades, construir novas amizades e afastar os pensamentos do que não correu bem”. João Oliveira está no Abrigo do Porto há dois anos. O divórcio, depois o desemprego e por fim o alcoolismo, criaram uma espiral incontrolável que o levou às ruas.

Os dias de João Oliveira são passados com foco num novo emprego. Gostava de regressar aos hotéis, onde trabalhou a vida toda. As entrevistas de trabalho vão aparecendo, mas tem sempre “idade a mais ou experiência a menos em algum novo programa de computador”. Nuno Vasconcelos assume ter “interesse especial por coisas novas”, por isso aceitou logo entrar na Liga Para a Inclusão Social. O futsal traz recordações da juventude, a música traz um grande convívio. Não se trata

apenas de cantar, “são feitos instrumentos de raiz, escreveram-se letras e compõem-se músicas”. A arte e o desporto têm aliviado a Nuno o constrangimento de estar no abrigo. Perdeu a casa há um ano porque “o patrão deixou de pagar certo”. Ao longo do mês, “o dinheiro entrava a conta gotas e ainda assim tinha de insistir”. As contas acumularam-se e quando confrontou o patrão, ficou a saber que ele é que “devia à empresa”. Não conseguia pagar a renda da casa e foi despejado.

“Já tinha vivido situações complicadas”, mas nunca a ponto de ficar sem dinheiro para pagar uma casa”. Desta vez, a especulação imobiliária deixou qualquer solução fora do seu alcance. Está a fazer formação, com a esperança de conseguir um emprego melhor e assim, talvez uma nova morada.

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Laurinda Gradim encontra na música a cura para a solidão, no teatro, Carlos Ferreira conta a história da sua vida no teatro Carlos Ferreira
“nunca tinha visto uma peça de teatro, quando mais fazer parte de uma”

UM GRÃO DE AREIA

PARA UMA ALMA DO PALCO

De Campanhã para a Casa da Música, a música acompanha o maestro Jorge Prendas. Há um contínuo ensaio na casa onde “as pessoas devem ser mais do que espectadoras. Devem ser criadoras”. Acredita que “a música deve ser utilizada como uma ferramenta de inclusão”, mesmo sendo “um grão de areia num enorme areal, capacita as pessoas para responderem a desafios de socialização ao longo da vida”.

Carlos Ferreira acompanha o maestro à Casa da Música. A sua alma é de celebrações, gosta de palcos, “especialmente da música e do teatro”. Antes da Liga Para a Inclusão "nunca tinha cantado ou visto uma peça de teatro, quanto mais fazer parte de uma". Entretanto, já conseguiu subir ao placo duas vezes. A primeira, numa ficcionada viagem de Metro com conversas cruzadas.

A segunda, como contador da sua história de vida.

O Abrigo do Porto também é um lar temporário para Carlos Ferreira. Em formação, espera o mesmo que Nuno Vasconcelos, “uma oportunidade para deixar o trabalho precário e voltar a ter casa”. Enquanto esse tempo não chega, sobe e desce as engrenagens dos carrosséis que, há décadas, ajuda a montar em tempo de festas e feiras.

Ao contrário de João, Nuno e Carlos, Laurinda Gradim tem casa e está reformada, a Liga Para a Inclusão Social surgiu na sua vida como uma oportunidade para “impedir que a solidão ganhe espaço, pois ela pode ser devastadora”.

Durante alguns momentos, pessoas de diferentes lugares cruzam histórias, essa é a essência da Liga.

Laurinda vem de Santa Maria da Feira, todas as semanas, com a associação Ser Mais Pessoa. Vive sozinha

e “o ensaio é o momento de conviver e conversar, além disso, cantar deixa as pessoas libertas das amarguras da vida, é um momento para esquecer sofrimentos e recordar que somos todos iguais”.

AS ÁRVORES TAMBÉM DÃO MÃOS

Com a Liga para a Inclusão Social também estão a nascer árvores da vida. As folhas serão mãos e cada uma representará um mundo. O conceito nasceu de um desafio lançado pela Liga à Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, “para criar algo que unisse todas as instituições participantes”, recorda Susete Santos.

Nuno Vasconcelos deu os primeiros passos na Liga Para a Inclusão Social precisamente a criar uma das árvores da vida. Começou por colocar as mãos no barro até ver o resultado final criado em gesso, “um pedaço da escultura que reunirá o trabalho de todos os participantes”. Fazer parte da escultura que tem como lema “cada pessoa é um mundo e existe um mundo para salvar” é uma oportunidade para se redescobrir, afinal “imaginava lá que podia produzir algo para toda a gente ver e apreciar”.

São 104 mãos, 104 folhas de árvore. Entre moldes, Rui Ferro, professor da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e responsável pelo PIN das artes plásticas detalha que “cada mão é a criação de alguém que, antes da Liga, apenas tivera contacto com as artes plásticas a um nível mais ocupacional do que artístico”. Para o professor, “é sublime” terem construído algo que vai estar num espaço expositivo e contar um pouco da sua história.

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Rui Ferro ajuda a transformar moldes de gesso em folhas para árvores da vida

Pedidos de ajuda aumentam 46%

No primeiro trimestre de 2023, os serviços sociais da AMI em Portugal apoiaram 5.409 pessoas em situação de vulnerabilidade social, das quais 533 procuraram o apoio da AMI pela primeira vez, o que representa um aumento de 46% em relação ao primeiro trimestre de 2022. Das pessoas apoiadas, 2.692 são homens e 2.717 são mulheres, a maioria em idade ativa, entre os 16 e os 66 anos (70%), seguida do grupo de menores de 16 anos (21%) e dos maiores de 66 anos (7%). No que diz respeito ao emprego, 43% das pessoas com mais de 16 anos, não exerce atividade profissional e 41% não tem formação profissional. Os recursos económicos provêm de apoios sociais (18%), pensões e reformas

(10%), subsídios e apoios institucionais (5%). Apenas 8% tem rendimentos de trabalho, embora sejam precários e insuficientes.

Nos equipamentos sociais da AMI, 1.312 pessoas usufruíram do Apoio Social, 1.343 de distribuição de géneros alimentares e 600 recorreram ao serviço de refeitório, um dos mais utilizados neste primeiro trimestre, com um total de 40.043 refeições servidas.

São 873 as pessoas em situação de sem-abrigo atualmente acompanhadas pela AMI no primeiro trimestre deste ano, tendo-se registado 142 novos casos.

Coimbra_

Nova turma de português

No Centro Porta Amiga de Coimbra, uma nova turma de português é o ponto de partida para ucranianos, russos, palestinianos e marroquinos que escolhem Portugal como nova morada.

“Passou um ano desde que abrimos a primeira turma de português no Centro Porta Amiga de Coimbra”, conta Paulo Pereira, diretor daquela valência da AMI. Desde então, através de sete turmas já foram reintegradas 114 pessoas que procuraram Portugal para fixar residência.

“Coimbra é uma das regiões onde a comunidade ucraniana refugiada da guerra mais se tem concentrado

em Portugal, sobretudo, porque encontra uma resposta organizada e imediata”, afirma Paulo Pereira.

Para a comunidade russa tem sido um pouco diferente, “por receio de sofrerem algum preconceito, encerram-se mais”. Este isolamento impede que a real dimensão das suas dificuldades seja medida, assim como não deixa percetível o êxodo que está a acontecer na Rússia.

Prémio de Jornalismo 25 anos Contra a Indiferença

Os vencedores da 25.ª edição do Prémio de Jornalismo Contra a Indiferença são anunciados a 30 de junho. No ano em que a AMI assinala 25 anos de uma das mais antigas distinções do jornalismo em Portugal estão a concurso 55 trabalhos de 38 jornalistas.

A cerimónia de entrega dos prémios decorrerá no Auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian, a partir das 10h00.

Olhando para a guerra na Europa, a crise humanitária na Síria, agravada pelos sismos de fevereiro e os conflitos em vários países do continente africano, Leonídio Ferreira, diretor adjunto do Diário de Notícias, é convidado a fazer uma intervenção sobre o tema “O papel do Jornalismo de Investigação na defesa dos Direitos Humanos”.

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© DR
Fotografia Fotografia © DR

Bangladesh_

Mortalidade infantil

Até fevereiro de 2025, a AMI e a Bangladesh Integrated Social Advancement Programme (BISAP) desenvolvem o projeto “Providenciar acesso inclusivo e fortalecimento económico aos refugiados e deslocados dos bairros de lata de Chattogram, no Bangladesh”. O objetivo é aumentar a resiliência face a crises sociais e económicas e reduzir a elevada mortalidade infantil, tendo como causas o tétano, infeções respiratórias, doenças diarreicas, sarampo e malnutrição.

Com um investimento de 20,000.00 euros, a BISAP e a AMI promovem mais conhecimento e cuidados de saúde

em quatro campos de refugiados Bihari e nas comunidades de acolhimento mais próximas, beneficiando cerca de 33.000 pessoas.

Síria_ Campanha de angariação de fundos para ação humanitária na Síria

Turquia_

Eficiência energética após sismo

Além das equipas médicas de emergência e da unidade de saúde móvel na Síria, a AMI e a Syria Relief and Development apostam na instalação de painéis solares para aquecimento de água, nos contentores que acolhem desalojados dos sismos de fevereiro, no campo de Kahramanmaras, sul da Turquia.

O projeto tem financiamento da Altice e um custo de 30,000.00 euros, totalmente direcionados para a instalação de painéis solares em 42 contentores que abrigarão entre 210 a 252 pessoas afetadas pelos sismos.

As populações turcas e sírias que em fevereiro foram assoladas pela destruição maciça devido aos sismos, continuam a necessitar de cuidados urgentes de saúde e alimentação.

Entre os dias 9 de fevereiro e 8 de março, a AMIAssistência Médica Internacional realizou uma campanha de angariação de fundos devidamente autorizada pelo MAI para levar ajuda humanitária às vítimas do sismo que a 6 de fevereiro devastou a região de Gazientepe na Turquia e Alepo, na Síria.

A campanha permitiu angariar durante o período acordado, 2.122,00 euros aplicados na ação da AMI em parceria com a Syria Relief & Development, na Síria. A associação parceira da AMI assegurou cuidados de saúde através de uma clínica móvel de emergência - “Emergency Mobile Clinics in Harem and Mills” - que contou com um médico, uma enfermeira, uma parteira, dois técnicos de apoio psicossocial.

A equipa médica atuou nos bairros de Harem e Mills, nos arredores de Alepo, realizando, em média, 1.200 consultas por mês. Além das consultas gerais, foram ainda prestados serviços de saúde reprodutiva e pediátrica, assim como cuidados de saúde mental não especializados e aconselhamento psicossocial.

A par da clínica móvel de emergência, a AMI e a Syria Relief & Development garantiram a operacionalização de equipas médicas afetas a 24 ambulâncias, que prestaram assistência às vítimas do sismo na Síria.

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©
Timothy Lima
© Syria Relief and Development

Aventura Solidária Açores, Senegal e Guiné-Bissau

A Aventura Solidária da AMI representa uma oportunidade para apoiar financeiramente uma causa ou um projeto e contribuir para a melhoria das condições de vida de populações mais vulneráveis. Em 2023, os destinos são Açores, de 22 a 28 de outubro; Senegal, de 27 de outubro a 5 de novembro; e Guiné-Bissau, de 28 de novembro a 7 de dezembro.

Nos Açores, a Aventura Solidária intervirá junto do projeto LIFE Natura@Night, focado na mitigação do impacte da poluição luminosa em espécies protegidas nas áreas da Rede Natura 2000 da Macaronésia.

Na Guiné-Bissau, os aventureiros vão apoiar o projeto de reforço das capacidades institucionais das Direções Regionais de Saúde de Bafatá, Bolama, Gabu, Quinara e Tombali.

No Senegal, a Aventura Solidária irá apoiar o projeto de Reabilitação do Centro de Saúde de Mbambey.

Recolha de Géneros Recursos para os Centros Porta Amiga

Em outubro, a AMI regressa às lojas ALDI, em vários pontos do país para realizar uma nova recolha de géneros alimentares e de higiene doados. Estes bens essenciais permitem responder aos crescentes pedidos de ajuda que chegam diariamente a todos os equipamentos sociais da AMI.

A mais recente ação decorreu a 3 e 4 de junho nas lojas ALDI de Amoreiras, Campo de Ourique, Picoas, Telheiras, Laranjeiro, Quinta da Maia, Coimbrões e Rio Tinto. Cerca de 170 voluntários ajudaram a recolher 6,3 toneladas de bens alimentares e de higiene doados.

Campanha Reciclagem de Radiografias

De 3 a 21 de julho, se tiver radiografias antigas em casa, entregue-as numa das farmácias aderentes à 27.ª Campanha de Reciclagem de Radiografias da AMI. Desde a sua primeira edição, realizada em 1996, até ao presente, a Campanha de Reciclagem de Radiografias da AMI já permitiu a recolha de mais de 1.600 toneladas de radiografias em farmácias e hospitais.

A recuperação da prata contida nas radiografias permite evitar a deposição destes resíduos em aterro sanitário e reduzir a sua extração na natureza, assim como eliminar as nefastas consequências que resultam dessa atividade, muitas vezes realizada em países em desenvolvimento, destruindo áreas naturais e explorando as populações locais.

BREVES | 21 Mecenato_
27.ª
© DR
Fotografia Fotografia © José Ferreira/AMI Fotografia © José Ferreira/AMI

AGENDA AMI

3 A 21 JUL

27.ª Campanha de Reciclagem de Radiografias

14 A 27 AGOS

15.ª Campanha Escolar AMI/Auchan

22 A 28 OUT

Aventura Solidária Açores

27 OUT A 5 NOV

Aventura Solidária Senegal

28 NOV A 7 DEZ

Aventura Solidária Guiné-Bissau

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NECESSIDADES ATUAIS DE VOLUNTARIADO

Voluntariado Nacional

Centros Porta Amiga em todo o país Voluntários especializados em psiquiatria, psicologia e enfermagem

CPA Cascais

Voluntários para atividades de férias de verão no Espaço de Prevenção à Exclusão Social da Criança

CPA Chelas

Aulas de fitness gratuitas para a comunidade sénior

CPA Porto

Voluntários para distribuição alimentar

19 a 23 de junho

17 a 21 de julho

21 a 25 de agosto

18 a 22 de setembro

16 a 20 de outubro

Para apresentação de propostas, por favor, contacte-nos através do e-mail voluntariado@ami.org.pt

AMINOTÍCIAS QUESTIONÁRIO

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