AMI Notícias nº 85

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AGORA TAMBÉM EM FORMATO DIGITAL notícias N.º 85 Distribuição Gratuita 2.º trimestre de 2022 3 SriAUcrâniaDIFERENTESDEMISSÕESEMERGÊNCIAMISSÃOCONTINUALanka,HaitieMoçambique EntrevistaPedroMatos Especial Ação Humanitária

02 | AGORA TAMBÉM EM notícias 3 SriAUcrâniaDIFERENTESDEMISSÕESEMERGÊNCIAMISSÃOCONTINUALanka,HaitieMoçambique EntrevistaPedroMatos Especial Ação Humanitária AMIFoto: LOJADONATIVOSONLINEFACEBOOK+ FOTOGRAFIAS+TEXTOS+VIDEOS ACEDA À VERSÃO DIGITAL DA AMI NOTÍCIAS UTILIZE O LEITOR DE QR CODE DO SEU DISPOSITIVO MÓVEL E TENHA ACESSO A MAIS CONTEÚDOS. OS ÍCONES QUE ENCONTRA NO FINAL DOS ARTIGOS INDICAM-LHE OS CONTEÚDOS EXTRA A QUE TEM ACESSO ONLINE: Breve História da Ação Humanitária Entrevista – Pedro Matos 2004: Sri Lanka – E depois da ajuda de 2010:emergência?Haiti–A importância da coordenação e antecipação das 2019:crisesMoçambique – Ciclone Idai Ucrânia – A Missão Continua AMI Convida – Fernando de La Vieter Nobre Nacional,Breves Internacional, Mecenato Agenda + Loja AMI VoluntariadoInformações Este número da AMI Notícias foi editado com o especial apoio da revista VISÃO (Distribuição), COMPANHIA DAS CORES (Design), LIDERGRAF (Impressão e Acabamento) e CTT – Correios de Portugal Autorizada a reprodução dos textos desde que citada a fonte. AMI Fundação de Assistência Médica Internacional R. José do Patrocínio, 49, Marvila, 1959-003 Lisboa ami.org.pt | fundacao.ami@ami.org.pt | MB WAY: 962 777 431 Ficha Técnica Publicação Trimestral Diretor Fernando Nobre Diretora Editorial Luísa Nemésio Edição Ana Ferreira Redação Ana Ferreira, Margarida Cortes Rosa Fotografia AMI, WFP/Saikat Mojumder, Johnny Shipley Paginação Companhia das Cores – Ana Gil, Lúcia Antunes Tiragem 52.000 exemplares Depósito Legal DL378104/14 04 | 06 | 10 | 12 | 14 | 16 | 18 | 18 | 20 | 22 | 23 |

Quo Vadimus? O que vem aí, ou quem, e porquê? Que futuro para a ação humanitária, para os Direitos Humanos, para a fraternidade, a liberdade, as demo cracias e para todos nós?

Hoje, enquanto ser humano, médico, humanitário e utópico, não posso deixar de me interrogar. Estamos a viver uma clivagem civilizacional com efeitos sociais e culturais preocupantes. A corrupção e a manipula ção grassam. Objetivos políticos desvirtuados e per vertidos parecem ter atingido o auge, até na saúde e na ação humanitária.

SUMÁRIO + EDITORIAL|03

E é por isso que a Ação Humanitária genuína vai con tinuar e existirá sempre!

Quo Vadimus? Tudo depende de nós e da vontade inabalável de defender a Humanidade. deFernandoLaVieter Nobre ePresidenteFundador da AMI

Continuo, no entanto, a acreditar na verdadeira e genuína ação humanitária que conheci e pela qual luto, como sempre lutei. Continuam no terreno seres humanos genuínos, extraordinários porque entra nhados com os verdadeiros Valores Universais: Amor, Dignidade, Luz, Gratidão, Humildade, Generosidade, Partilha, Coragem com espírito de sacrifício e Altruísmo.

QUOHUMANITÁRIA:AÇÃOVADIMUS?

NobreNemésioGabriela©

Para alguém como eu, médico-cirurgião humanitário, que calcorreia o Mundo há mais de 40 anos a tentar minorar o sofrimento dos mais vulneráveis e esqueci dos do género humano, é forçoso questionar-se: para onde vamos? Há exatamente 41 anos estive em Abadan, no Golfo Pérsico (bem perto de Ormuz por onde navegou e combateu D. Afonso de Albuquerque que lá man dou erguer uma fortaleza), a chefiar uma missão dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) na guerra Irão-Iraque, que vitimou mais de um milhão de seres humanos. Os Médicos Sem Fronteiras eram então pouco mais do que uma organização embrionária, mas idealista, da qual me honro ter sido Administrador. De então para cá, neste Mundo tresloucado, à deriva e desnorteado, conduzido por aprendizes feiticeiros, sem qualquer conhecimento histórico, geopolítico e sobretudo escrúpulo, tudo vi: guerras, genocídios, ter ramotos, tsunamis, ciclones, secas, derrocadas, fome, epidemias diversas, miséria indizível…

Este movimento deu origem a representações nacionais em vários países e aos pilares da ação humanitária: as Convenções de Genebra, que promovem uma ação hu manitária independente, segura, eficaz e o tratamento digno dos prisioneiros de guerra. Mas na primeira metade do sec. XX, as duas guerras mundiais testaram a capaci dade e o modus operandi do sistema em vigor, levando-o ao limite. A constituição da Liga das Nações trouxe aquilo que foi mais um passo na história da ação humanitária: a criação de agências especializadas para apoiar as vítimas de catástrofes: a International Relief Union foi a primeira tentativa de desenvolver uma estrutura intergovernamen tal específica para ajudar as vítimas de desastres. Surgiu também nesta altura, em 1919, a primeira Organização Não-Governamental – Save the Children Fund Durante a Segunda Guerra Mundial, a ação humanitária conhe ceu novos limites à sua atuação, uma vez que estava es truturada com o objetivo de assistir populações vítimas 1859 Batalha de solferino PRIMEIRA ONG Save the Children Fund Comité Internacional da Cruz Vermelha 1863 1949 4.ªDECONVENÇÃOGENEBRA 1971 MÉDICOS SEM FRONTEIRAS 1919 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS 1948 guerra de biafra 1967-70 de conflitos internacionais, não tendo previsto acesso ou qualquer proteção a vítimas civis dos próprios governos, o que se revelou ser um enorme entrave ao acesso aos campos de concentração nazi. Dado o enorme desastre humanitário que representou a Segunda Grande Guerra, foi assinada, em 1949, a 4ª Convenção de Genebra, que trouxe um elemento considerado hoje basilar: a proteção da população civil em caso de conflito armado, atribuin do deveres de atuação a qualquer parte do conflito. A constituição da Organização das Nações Unidas e a promoção dos Direitos Humanos que esta instituição ad voga levaram também a outros marcos importantes na história da ação humanitária, tais como a criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948; a Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951; a criação de um fundo – a UNICEF –para apoiar a alimentação das crianças europeias, vítimas da guerra, que mais tarde se dedicou também a campa nhas de vacinação e que foi, com o tempo, abrangendo várias áreas e crescendo até ter um papel fundamental na criação da Convenção sobre os Direitos da Criança, já em 1989, entre outros. Entre 1945 e 1949, surgiram mais de 200 ONG que, rapidamente, viraram as suas atenções também para os países em desenvolvimento. Durante as décadas seguintes, vários eventos moldaram a evolução da história da ação humanitária, como a Guerra de Biafra, a guerra no Vietname, a fome na Etiópia e no Corno de África. O resultado foi uma consolidação de princípios, práticas e recursos humanos que levaria à expansão e profissionalização no campo da resposta humanitária. A Guerra de Biafra (1967-70), em particu lar, marcou um ponto de viragem na ação humanitária, uma vez que na ausência de ação das Nações Unidas e do CICV, várias ONG avançaram e prestaram apoio ali mentar de várias toneladas, enfrentando a resistência do 04 |

Breve história da AÇÃO HUMANITÁRIA

Foi apenas no séc. XIX que se deram os primeiros passos na constituição da ação humanitária como algo reconheci do pelos governos, respeitado por exércitos e organizado de modo a ser mais eficiente do que um mero conjunto de ações pontuais de assistência médica ou alimentar, até então quase sempre ligadas a estruturas religiosas. Em 1859 Henry Dunant, suíço, testemunhou os efeitos da batalha de Solferino. Ao se aperceber que milhares de soldados tinham sido abandonados no campo de bata lha, feridos, sem qualquer tipo de assistência, Dunant orga nizou grupos de mulheres das povoações mais próximas para prestar cuidados aos feridos, fosse qual fosse a sua nacionalidade. Ao fazê-lo, estabeleceu a base da inter venção humanitária. Um livro que escreveu sobre esta ex periência — “Recordação de Solferino” 1862 — , acabaria por fundar os ideais do que, no ano seguinte, viria a ser o Comité Internacional da Cruz Vermelha - CICV (1863).

A maior utopia de todos os que fazem parte deste enor me projeto humanitário? Deixar de ser necessário intervir. Jordânia, 1990 — Primeira missão da AMI em cenário de guerra | 05

1984 AMI 1995 LIVE AID 2005 ABORDAGEM “CLUSTER” DOGENOCÍDIORUANDA 1994 PROJETO ESFERA 1997 AGENDA 2030 2015

Paralelamente ao surgimento de ONG um pouco por todo o mundo, os media foram também evoluindo e co brindo cada vez mais catástrofes humanas, fazendo com que a opinião pública fosse também ficando mais alerta e seguindo mais de perto as questões humanitárias. Exemplo disso é a mobilização sem precedentes que o concerto Live Aid em 1985 promoveu, quer no mundo artístico, quer na comunidade internacional em geral. Com o ob jetivo de angariar fundos para acabar com a fome que assolava a Etiópia, este concerto foi transmitido em 100 países, tendo batido todos os recordes de audiência até então e angariado, estima-se, 150 milhões de libras. Uma década depois, já no rescaldo do genocídio do Ruanda, em 1994, percebeu-se a necessidade de uma avaliação completa da resposta dada. Uma das prin cipais conclusões desta avaliação foi a necessidade de melhorar o desempenho no setor humanitário por meio de melhores padrões de atuação e maior transparência e prestação de contas. Mudanças significativas foram introduzidas na resposta a emergências, principalmente com a adoção do Projeto Esfera, em 1997, baseado na Carta Humanitária e nas Normas Mínimas para a Resposta Humanitária, comuns a todos os intervenientes, que vieram melhorar a qualidade da resposta e da sub sequente prestação de contas. Em 2005, na sequência da experiência de resposta ao Tsunami no Sudeste Asiático, mais uma vez, a coordenação humanitária deu um novo passo, introduzindo uma série de novos elementos para aumentar a previsibilidade, a res ponsabilidade e as parcerias das respostas. A abordagem “Cluster” foi um desses novos elementos. Os clusters são grupos em que são inseridas as organizações humanitárias, tanto da ONU como não-governamentais, dependendo do setor da ação humanitária em que atuam (água, saúde, alimentação, abrigo, etc) e que são coordenados por uma das instituições. A abordagem cluster foi aplicada pela primeira vez após o terramoto de 2005 no Paquistão. Já em 2015 é aprovada a Agenda 2030, constituída por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Estes objetivos, com metas e indicadores concretos, di tam o ritmo do desenvolvimento mundial e unem todos os agentes do desenvolvimento mundial. Foi também nesta década que as alterações climáticas passaram a ter um papel de relevo nas discussões sobre a ação humanitária e se começou a abordar a prevenção das catástrofes ambientais como forma de prever catástro fes humanitárias. Em cerca de 160 anos, a ação humanitária evoluiu de ações pontuais, assistencialistas e baseadas qua se exclusivamente no apoio médico e alimentar para intervenções altamente profissionalizadas e holísticas, coordenadas internacionalmente, orientadas para o de senvolvimento, envolvendo todos os setores da sociedade, a que assistimos, por vezes, quase em direto, estruturadas por padrões de atuação comuns em constante revisão e avaliadas por procedimentos específicos. Trilha agora o caminho da preparação e da prevenção, utilizando cada vez mais a tecnologia, como poderosa arma de coordenação e previsão.

governo da Nigéria e assumindo riscos de segurança con sideráveis. A prática de enviar trabalhadores humanitários para áreas rebeldes, sem autorização do governo local, tornou-se um modelo para futuros esforços de respos ta. Este evento foi fundamental para o desenvolvimento de uma nova geração de humanitários que liderariam e formariam algumas das organizações humanitárias mais influentes da história, como é o caso dos Médicos Sem Fronteiras, nascida em 1971.

A posteriori, sim, é evidente. A questão é se fizemos o melhor que pudemos com a informação que tínhamos na mão, no momento. Olhando para trás, sim, é sempre PEDRO MATOS

MojumderWFP/Saikat©

|Português, licenciado no Instituto Superior Técnico em Engenharia do Território, já trabalhou no setor espacial e em empresas privadas. Mas foi no Programa Alimentar Mundial (PAM) que encontrou a sua missão, colaborando com esta agência das Nações Unidas há 13 anos e tendo já passado pelo Darfur, Bangladesh, Moçambique, Mali e Sudão, sempre em situações de catástrofe. Está, agora, destacado na Ucrânia, alternando a sua presença entre este país e os países vizinhos.

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Esteve já em inúmeros cenários de catástrofe. Consegue destacar um fator comum a todos eles em que, havendo uma organização diferente, diminuiria o impacto nas populações?

Como foi o seu percurso pessoal no setor da ação humanitária?   Eu tive muitas carreiras antes de chegar ao PAM. Sou engenheiro urbanista, passei por start-ups e depois fiz muitos anos no setor espacial - em agências espaciais e em empresas privadas que trabalham para o espaço. E foi por aí que eu entrei para o PAM. Entrei como SIGs/GIS – Geographic Information Systems – que consistia em analisar imagens de satélite para monitorizar as nossas operações no Darfur. E foi depois de eu estar nesta área dos assessments que eu passei para as operações – para o Programa – e é isso que tenho feito desde essa altura.

ENTREVISTA|07

A crise que vivemos atualmente, na Ucrânia, trouxe aspetos inéditos à resposta de emergência: cida dãos em carros particulares a ir buscar famílias que atravessassem a fronteira; instituições públicas como Câmaras Municipais, a recolher bens localmente e enviar camiões; organizações do setor social a fretar aviões para transporte de refugiados... Acha que se deu um passo atrás na organização, coordenação e estruturação da resposta ou, pelo contrário, se devem adaptar futuras respostas e encontrar novos papéis para os agentes de ação humanitária? Devemos analisar o que está a suceder de que prisma?

“os clusters são o único momento em que a diferença entre as ONG e as Nações Unidas se esbate e em que estamos todos no mesmo barco, a usar os mesmos serviços e a fornecer os mesmos serviços.”

possível ter feito melhor. Boa parte da razão pela qual as emergências correm bem ou mal tem a ver com quanta preparação é que nós fazemos para elas. Por exem plo, no nosso caso – alimentação – quantas anticipa tory actions é que nós fazemos, quanto forecast é que nós podemos fazer com algum tempo de aviso, quanta comida é que pre-posicionamos e onde, em antecipa ção dessas emergências, etc. Por exemplo, se nós não tivéssemos pre-posicionado na Beira, Moçambique, 4 mil toneladas, quando vimos o ciclone chegar, nunca tería mos conseguido alimentar aquelas pessoas todas depois dele bater. Portanto, as anticipatory actions são o fator mais importante. E, às vezes, a red tape – a burocracia - impede-nos um pouco de fazer isso. Há uma série de coisas que nós, olhando para trás, podíamos e continua mos a poder fazer melhor, simplificando muitos dos pro cessos, que nos impedem de ter uma melhor prepara ção para as emergências. No seguimento do que está a dizer, na sua opinião, uma maior coordenação e enquadramento da ação humanitária (referimo-nos ao sistema Cluster e ao manual Esfera, por exemplo) implica uma burocratização e complexificação da ajuda? Ficou mais demo rada e complicada ou, pelo contrário, tornou-se mais eficiente e rápida?  Pelo contrário: tornou-se mais eficiente e rápida! Os clus ters facilitam muito a intervenção. Acho que, mesmo assim, toda a gente entra um bocadinho em over drive em altura de emergência e há uma troca de informa ções absolutamente estonteante, em que é difícil sepa rar o trigo do joio. Mas isso é inerente à quantidade de recursos – de pessoas – que se alocam a estas emer gências e é inerente ao facto de toda a gente estar focada em produzir informação. Eu acho que os clusters e a coordenação da OCHA ajudam a que essas infor mações façam sentido. E acho que, principalmente, nos organiza em setores, que sem os clusters não teríamos. Estaríamos todos “à mesa uns com os outros”, a mistu rar educação e nutrição e saúde. E digo mais: os clus ters são o único momento em que a diferença entre as ONG e as Nações Unidas se esbate e em que estamos todos no mesmo barco, a usar os mesmos serviços e a fornecer os mesmos serviços.

Eu não acho nem que isto seja novo, nem que seja específico da Europa. Eu estive na resposta do Idai, em Moçambique, e nós demorámos alguns dias a responder. E quando chegámos finalmente às aldeias, as primeiras repostas eram das próprias aldeias e das organizações que já existiam no terreno, que tinham tratado de sal var pessoas, de apoiar pessoas, de partilhar os recur sos que existiam. Esse tipo de resposta, que é primordial, existe em todo o lado. Penso é que, em certas zonas do globo, não é coberta pelos media e, portanto, imagi namos que não existe e, como não é feita da forma como nós a fazemos aqui, com autocarros e camiões, etc, parece que é diferente, mas é exatamente a mesma coisa. Acho que é impossível impedir as pessoas que sen tem que querem ajudar de o fazer, dizendo-lhes que há outras organizações que já estão a tomar conta disso. As pessoas sentem muita necessidade de serem solidá rias e não sei se algum dia vamos impedir as pessoas de fazerem isso. Agora, podemos é tentar explicar-lhes que aquilo que elas querem fazer, já há outras institui ções a fazer – que há instituições a fazer esse trabalho na Polónia e que não vale a pena irem a conduzir até à Polónia; que no caso de irem buscar pessoas, é exata mente esse o modelo que os traficantes usam para des viar crianças e mulheres para o tráfico e que portanto, lá porque nós temos boas intenções, não quer dizer que os refugiados tenham maneira de distinguir uma camio neta com boas intenções de outra com más e pode mos estar a contribuir para essa confusão. E, portanto, temos de dirigi-los para as estruturas como os clusters

Na sua opinião, como se explica a um cidadão comum que é preferível doar 5€ todos os meses, durante um ano, a uma instituição da sua confiança, do que fazer um único donativo em bens no valor de 100€?  Essa é uma mensagem muito difícil de transmitir. Eu ando a “martelar nessa tecla” há muitos anos. No caso do Idai, em que as pessoas estavam a comprar latas de atum para serem enviadas de avião, eu fiz as contas na altura e uma dúzia de latas de atum ou de salsichas custavam 250€ (com o transporte). Eu, com 250€, consigo alimen tar 300 pessoas. Ainda há uma perceção de que os bens não podem ser roubados e que o dinheiro pode. É uma perceção estranhíssima. Eu não percebo porque é que um pacote de açúcar - que é exportado por milhares de kms com imensas pessoas a manusearem esse pacote de açúcar e que fica não sei quanto tempo num arma zém, até nós conseguirmos mobilizar as pessoas para irem abrir aqueles contentores e ver o que está dentro - é menos sujeito a ser roubado do que uma transferên cia bancária entre instituições e que só sai fisicamente da nossa mão no momento em que nós damos o bem diretamente à pessoa. Mas as pessoas não acreditam. Resta continuar a martelar nessa tecla. Tem-se falado e escrito bastante na antecipação das crises (e na sua preparação atempada) como forma de melhorar a resposta. Como vê a utilização da inteligên cia artificial e de modelos preditivos nesta área? Será o próximo passo, na otimização da Ação Humanitária?  Sim. Em relação a toda a informação que nós gera mos em assessments , em índices, etc. (muita informação que nós já analisamos com programas estatísticos) há uma grande vantagem em alargarmos a algoritmos e inteligência artificial que possam tentar encontrar cor relações entre índices que nós recolhemos há anos e aquilo que são os resultados da nossa ação; perceber mos onde é que o nosso euro é melhor gasto: por exem plo, no caso do Programa Alimentar Mundial, nós não trabalhamos só a dar comida… nós, muitas vezes, entra mos nas cadeias de valor e tentamos trabalhar mais a montante. Quando as pessoas têm fome, não há muito mais a fazer do que dar-lhes ou comida ou dinheiro para comer, mas a partir de um certo momento, quando já estamos na fase de recovery e temos vários cami nhos à nossa frente “OK, estas pessoas já não precisam de comida de graça. O que é que é melhor a seguir? Fazermos um programa de comida por trabalho para a comunidade, construir um reservatório de água para a comunidade usar, por exemplo, no seu gado ou na sua irrigação? Ou é melhor fazermos um programa de nutri ção na aldeia? Ou é melhor darmos alimentação esco lar às crianças?”. A partir do momento em que já não estamos na fase de life-saving , na fase crítica, há uma série de caminhos à nossa frente e nós acabamos por decidir fazer um ou outro com base na nossa experiên cia passada e, se calhar, há uma série de dados que nós temos recolhido ao longo dos anos, dados que informam estas decisões e, depois, monitorizam os resultados des tas decisões, em que se calhar a inteligência artificial é ótima para perceber se ao longo destes anos, por exem plo, entre comida por trabalho ou alimentação esco lar, qual é que maximiza melhor os resultados naquela comunidade. Utilizar a inteligência artificial para anali sar estes dados é importantíssimo. E nós usamo-la para outras coisas: por exemplo, nós fazemos muitos voos de drones, agora, para fazer mapeamento de zonas de crise e a identificação de objetos em imagens, mapea mento 3D, tudo isto é feito pela inteligência artificial e é muito mais fácil. E ainda estamos só no princípio, na infância, da inteligência artificial.

08 | (a maioria das pessoas não sabe o que são os clusters) ou, pelo menos, para uma instituição. As pessoas que se liguem a uma instituição portuguesa que já tenha uma relação com o terreno ou que estabeleça essa relação, durante este período – por exemplo, falar com a Cáritas em Portugal para que esta fale com a Cáritas na Polónia - e que pelo menos haja uma coordenação entre ins tituições e um acordo escrito em que estas coisas se enquadrem e que haja uma ligação entre a oferta (do lado das pessoas que querem ajudar) e a procura (do lado das necessidades).

“No caso do Idai, em que as pessoas estavam a comprar latas de atum para serem enviadas de avião, eu fiz as contas na altura e uma dúzia de latas de atum ou de salsichas custavam 250€ (com o transporte). Eu, com 250€, consigo alimentar 300 pessoas.”

É possível responder a uma emergência, preparando ao mesmo tempo a fase de desenvolvimento? Como se coordenam as duas áreas/fases em termos de recursos humanos e estratégias de organização e atuação, já que têm objetivos tão diferentes, mas tão intrinse camente ligados?  Eu tenho alguma dificuldade em perceber que a Ação Humanitária e o Desenvolvimento tenham objetivos diferentes. Eu acho que criámos essa divisão artificial há muito tempo e agora tentamos com esta lingua gem estranha dos nexos, que são nomes artificiais, como triplo nexo Humanitária-Desenvolvimento-Paz, em que estamos agora a tentar integrar coisas que já estão integradas na realidade. Isto é um processo contínuo.

Penso que há um ciclo que é natural que é um ciclo de desastre/recovery /desenvolvimento/disaster risk reduc tion, para que, no próximo desastre que aconteça, as pessoas estejam mais preparadas, tenham melhores almofadas (financeiras, gado, água). Acho que este ciclo faz imenso sentido. A divisão entre Ação Humanitária e Desenvolvimento acho que cada vez faz menos sentido. E, por exemplo, o Programa Alimentar Mundial, há cerca de 15 anos, fez uma mudança estratégica que foi dei xar de dar de comer às pessoas, para passar a garan tir que as pessoas têm algo para comer. Isso, em mui tos casos, continua a ser dar de comer, mas fez com que começássemos por analisar as causas da fome e depois encontrássemos os melhores mecanismos para responder a essas causas. E, portanto, quando chega mos a um sítio e fazemos avaliação de necessidades e chegamos à conclusão de que não há comida, traze mos comida. Mas se chegarmos à conclusão de que a comida existe, mas as pessoas não conseguem chegar a ela, por causa do custo, se calhar, damos dinheiro. Mas também pode ser que seja um problema de más prá ticas agrícolas e, por exemplo, os agricultores colhe rem as suas sementeiras e depois elas apodrecerem, e aí devemos trabalhar na redução das perdas agrícolas. E essa mudança estratégica que o PAM fez há cerca de 15 anos, fez-nos entrar mais a montante na cadeia de valor e isso dilui ou entra naquilo que é, tradicionalmente, a parte de desenvolvimento. Mas a mim parece-me ser uma coisa boa: não trabalharmos só nas consequên cias, mas trabalharmos mais nas causas, o que faz com que as pessoas não caiam tantas vezes numa situação em que nós tenhamos de vir ajudá-las. Por isso, acho que esta diluição dessa fronteira, entre Ação Humanitária e Desenvolvimento, é boa. Quais são as maiores diferenças que deteta entre o modus operandi do PAM de há 13/14 anos e o atual? Há 13/14 anos é menos claro, mas se compararmos com o que era há 30 anos… nós chegávamos quase como cowboys , com camiões e há aquelas histórias dos anti gos do PAM a dizer que atravessavam em camiões entre as linhas da frente do MPLA e da UNITA, em que os líderes só confiavam no chefe de escritório do PAM e ele con duzia o camião através das linhas da frente de confli tos… isso já não existe. Já não existe esse tipo de atitude. Já não existe nós chegarmos e assumirmos que toda a gente é incapaz e que vamos substituir os governos. Já não existe a atitude de chegar e dar comida, indepen dentemente de percebermos se os mercados estão lá ou não e se não estamos a empobrecer uma série de agricultores que também estavam a sofrer… essa é a grande diferença. Nós, hoje, fazemos muita análise de mercado, tentamos perceber se a nossa ajuda está a causar inflação ou não e se temos de mudar (fazemos isso todas as semanas, em todos os mercados em que estamos a operar). Mudámos não só nós a nossa men talidade, mas conseguimos que os doadores mudassem também para perceberem que dar dinheiro vivo às pes soas não é um risco e pode ser a intervenção certa (por que nós também não aceitamos que quando recebe mos o abono de família, o Estado venha querer saber se usámos em material escolar… por isso, se não aceitamos, não devemos achar que as outras pessoas vão tomar piores decisões do que nós). Acho que estas diferenças são imensas. A Ação Humanitária mudou radicalmente.

ENTREVISTA|09

ShipleyJohnny©

O Sri Lanka foi um dos países mais afetados por esta tra gédia, com 30.000 perdas humanas e 860.000 desloca dos, tendo o seu Governo declarado estado de emergên cia e lançado um pedido de auxílio internacional visto que não dispunha dos meios necessários para fazer face a uma devastação daquela dimensão. Numa entrevista à AMI em 2017, o Padre Rohan Silva, res ponsável por várias organizações parceiras da AMI no país, relembrou as primeiras impressões do fatídico dia, quando começou a ver na televisão, “imagens daquela área, não muito longe de Maggona. As pessoas estavam a fugir das estradas em direção aos templos no topo da 2004: SRI LANKA - E DEPOIS DA DE EMERGÊNCIA?

AJUDA

10 | colina. Então, soubemos que um tsunami tinha atingido o Sri Lanka. (…) alguém me disse que o mar tinha chegado às estradas principais e que as casas estavam todas des Atruídas.”AMIdecidiu partir para o Sri Lanka nas 48h após a catás trofe, não só porque foi um dos países mais afetados, mas também por ser um dos mais vulneráveis. No aeroporto, a Asian Human Rights Commission esperava a equipa. A esta missão exploratória juntou-se uma equipa de 8 voluntários no dia seguinte, num avião fretado pela AMI com 10 toneladas de alimentos, equipamentos e outros bens de ajuda humanitária. A imagem de um mar calmo e sereno a banhar as margens de Colombo, capital administrativa do Sri Lanka, contrasta com páginas e páginas de uma narrativa aterradora sobre os vários sismos seguidos de Tsunami que atingiram o sudeste asiático no dia 26 de dezembro de 2004. A catástrofe, cujo epicentro teve lugar na província indonésia de Aceh, teve um efeito devastador, contabilizando 228.000 mortes em 14 países do Sudeste e do Sul da Ásia, e até em África, e afetando quase 2,5 milhões de pessoas, segundo a ONU. Foi um dos desastres naturais mais fatais das últimas décadas e mudou o curso da Ação Humanitária.

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Esta onda de solidariedade levou centenas de grupos humanitários para o Sri Lanka, desde a ONU e organi zações internacionais a pequenas equipas de médicos e voluntários (alguns dos quais foram integrados na mis são da AMI), o que sobrecarregou as autoridades locais.

Toda esta aprendizagem culminou numa grande reforma da coordenação humanitária em 2005, de que é exemplo o sistema Cluster, que procurou implementar novas abor dagens com o objetivo de aumentar a previsibilidade, a prestação de contas e o trabalho em parceria. Os Clusters são grupos de organizações humanitárias em cada um dos principais setores da Ação Humanitária, como água, saúde, abrigo e logística, entre outros, que são designados pelo IASC (Inter-Agency Standing Committee), um organismo da ONU, e têm responsabilidades claras e definidas de coordenação. A imagem de uma ajuda necessária, mas descoordenada, deu lugar a uma ajuda fundamental, concertada, coordenada e que conta com a participação de todos os atores humanitários envolvidos.

Perante este cenário e para ajudar a localizar todas as organizações que estavam a prestar ajuda, de forma a perceber se esta estava a chegar a todas as comunida des e a evitar uma duplicação de esforços, a OCHA (gabi nete da ONU para a coordenação dos assuntos humani tários) criou a base de dados 3W (Who does What, Where – Quem faz o quê e onde), que se revelou uma ferramenta de trabalho fundamental de organização da ajuda, tendo sido reconhecida pelo Governo do Sri Lanka como o for mato standard de reporting para a gestão de catástrofes.

Porém, a intervenção da AMI no Sri Lanka continuou ao longo de 2006 e mantém-se até hoje de forma significa tiva nas áreas da saúde, apoio social e educação, tendo -se iniciado um forte apoio a projetos locais, com especial destaque para a criação da Sri Lanka-Portuguese Burgher Foundation , face à forte herança portuguesa no país, de que são exemplo apelidos como Silva, Dias e Fernando e o crioulo português (papiamento) que ainda sobrevive na memória dos mais velhos da comunidade luso-descen dente (burghers), que fazem questão de receber sempre a AMI com um “Grandi Mercê” (obrigado). Depois da Ajuda de emergência, é imperativo continuar a ajudar!

Sediada no sul da costa este do Sri-Lanka e em parceria com uma organização local, a equipa começou a ope rar em pleno, prestando assistência médica em campos de deslocados num raio de 30 km de Beruwala.

A missão de emergência da AMI no Sri Lanka terminou no dia 20 de janeiro de 2006, com o regresso dos dois últi mos membros da equipa expatriada que ainda se encon travam no terreno.

A resposta da sociedade civil em Portugal, tal como em muitos outros países, foi tão célere e generosa que pro porcionou uma intervenção rápida e alargada, quer em ações quer no tempo. O apoio dos portugueses, no valor de perto de 2 milhões e 800 mil euros, permitiu à AMI man ter uma equipa expatriada no Sri Lanka durante um ano e financiar por mais de 10 anos, projetos de várias orga nizações locais.

AHumanitária.antigaSubsecretária-Geral da ONU para os Assuntos

Depois de um processo de desalfandegamento moroso, os bens foram distribuídos às populações deslocadas.

Humanitários, Valerie Amos, referiu, a propósito de um evento sobre o 10.º aniversário do Tsunami, que se apren deu a importância da coordenação e o valor das parce rias, a necessidade fundamental de continuar a apoiar as populações afetadas após a catástrofe para que possam recuperar completamente, e a crucial implementação de sistemas de alerta precoce e de preparação para catás trofes, de forma a conseguir salvar o máximo de vidas.

Depois da tempestade, não se seguiu de imediato a bonança, pois era necessário reedificar o país, revita lizar a economia, chorar os mortos e reconstruir vidas, mas muitas lições aprendidas mudaram o curso da Ação

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A E ANTECIPAÇÃO DAS CRISES

A equipa de coordenação no terreno realizou rapida mente um diagnóstico e participou nas reuniões cluster, feitas debaixo de tendas e com equipas em estado de choque pela morte de muitos dos seus colegas, de modo a delinear um projeto de intervenção alinhado com as estratégias da comunidade internacional e das autorida des locais e permitir, simultaneamente, que a intervenção fosse célere com o envio urgente de recursos humanos e logísticos. A atmosfera era caótica e pesada. A equipa da

AMI prestou cuidados de saúde em 2 hospitais, tendo, só nas primeiras 3 semanas, realizado 1.743 consultas e 605 atos de enfermagem. Paralelamente, a AMI colaborou com a equipa da Proteção Civil Portuguesa no planeamento e edificação do campo de deslocados Parc Colofé. No total, foram montadas 47 tendas, incluindo um Hospital de Campanha. Foram também instaladas estruturas de acesso a água e higiene básica. A responsabilidade da gestão do campo passou a ser da AMI, à qual se soma ram outros dois, cuja coordenação foi assumida através de uma parceria com a OIM - Organização Internacional para as Migrações. No total, os três campos, localizados em Port-au-Prince, alojavam 9.865 vítimas do terramoto (número que aumentou para mais de 10.000 ao longo do ano). Para assegurar esta coordenação, que envolve toda a parte logística do campo e de gestão de soluções para a população deslocada, a AMI trabalhou diariamente com diversas organizações presentes no terreno e assegurou o acesso a cuidados primários de saúde através de clínicas móveis, contando com equipas expatriadas e locais. Durante a sua intervenção, a equipa de saúde AMI aten deu 9.820 doentes, formou 68 elementos de saúde e ati Em 2010, o Mundo e o Haiti conheceram uma das piores catástrofes da sua História. Esta catástrofe deixou a nu a vulnerabilidade, a impreparação e a desestruturação do Estado mais pobre de todo o continente americano.

A primeira equipa da AMI chegou ao Haiti no dia 17 de janeiro de 2010, via República Dominicana e por estrada. Nesses primeiros dias, senão semanas, a situação era caó tica. Infraestruturas e redes de comunicação rodoviá ria e telefónicas destruídas. As estruturas aeroportuárias estavam impraticáveis, as equipas de coordenação das Nações Unidas tinham sofrido muitas perdas.

A 12 de janeiro, em 35 segundos, 222.570 seres humanos perderam a vida e mais de 70.000 pereceram nos dias seguintes. Mais: 2.1 milhões de pessoas (25% da popula ção) foram forçadas a deslocar-se e 1.5 milhões procu raram abrigos provisórios. Meio milhão de pessoas deixa ram a capital (Port-au-Prince).

IMPORTÂNCIA DA COORDENAÇÃO

2010: HAITI

| 13 vistas comunitários, promoveu 22 sensibilizações à popu lação dos campos e acompanhou os programas de vacinação levados a cabo pelo Ministério da Saúde. No que respeita a outros serviços essenciais, a AMI coordenou diversas organizações parceiras especializadas na emis são de documentos de registo de deslocados, na provisão de água e serviços de higiene, na construção de canais de drenagem, na proteção dos mais vulneráveis, essen cialmente pessoas com deficiência e idosos, na defesa dos direitos das crianças e na proteção aos órfãos, na melho ria e manutenção dos abrigos dos campos, no sanea mento, na educação, etc. Esta coordenação em rede de parceiros permitiu que a AMI atingisse os resultados espe rados e cumprisse os standards internacionalmente exigi dos para os campos de deslocados. No entanto, em finais de agosto, uma violenta tempes tade passou por Port-au-Prince. Foram apenas 20 minu tos de chuvas intensas e ventos fortes, mas suficientes para expor a vulnerabilidade do país. As ruas ficaram intransi táveis, os mercados destruídos e as populações dos cam pos mais expostas às intempéries fugiram para se abri gar em estruturas mais seguras. Apesar de não se terem registado mortes nos campos geridos pela AMI, 8 pessoas ficaram feridas, 176 abrigos foram destruídos e outras estruturas nos campos também foram afetadas, inclusi vamente a Clínica Móvel do Parc Colofé. O trabalho que se seguiu foi de apoio às vítimas que ficaram sem abrigo pela tempestade. Mais uma vez, em colaboração com outras organizações, a AMI substituiu 88 tendas e recuperou 78. Distribuíram-se kits de higiene e recuperaram-se os canais de drena gem. Iniciou-se imediatamente a construção de uma nova Clínica no Parc Colofé, desta vez numa estrutura semifixa que permitisse suportar a época dos furacões. Iniciou-se também o processo de substituição das ten das de plástico por estruturas mais resistentes aos ciclo nes. No total, foram reconstruídos 126 abrigos. Com este primeiro alerta do que estaria para vir, foram tomadas medidas para mitigar os efeitos da passagem de outros furacões. Uma campanha de informação foi montada sobre como proceder em caso de furacão e foram provi denciados refúgios alternativos aos campos para os mais vulneráveis. Os mecanismos de alerta foram montados para que se respondesse a evacuações no menor tempo possível. E assim aconteceu com a chegada do Furacão Tomás. Nas 24 horas que antecederam a passagem do ciclone, parte da população em risco foi evacuada para edifícios públicos e foi possível proceder à desmontagem das tendas e proteger bens essenciais. Infelizmente, a consequência deste furacão foi além da mera destruição: uma grave epidemia de cólera eclodiu no centro do país. A AMI tinha consciência de que devia focar-se inteiramente na prevenção, através de medidas básicas, mas essenciais, para a contenção da doença: aumento das condições de higiene dos campos, dispo nibilidade de água potável em quantidade suficiente e informação maciça sobre hábitos comunitários e pessoais a alterar para proteção da infeção. Ao mesmo tempo, as Clínicas da AMI muniram-se de kits de tratamento de cólera e 18.000 kits de sais de reidratação oral para o pri meiro tratamento de urgência aos doentes. Duas sema nas após o anúncio oficial do surto, no centro do país, confirmaram-se os primeiros casos em Port-au-Prince.

Nesta altura, a AMI já tinha em curso a sua estratégia, que contava com 14 ativistas, 4 promotores sociais, 7 enfermeiros, 1 médico e mais de 30 voluntários que leva ram a cabo uma série de atividades essenciais que per mitiram ter uma taxa de infeção muito menor do que a generalidade dos campos do país e apenas um óbito, entre 3500 a nível nacional. No meio do caos, a coordenação em cluster, as parce rias de complementaridade por setor de atuação e a preparação e antecipação das constantes emergências em que o país mergulhava, foram as palavras-chave para uma missão longa, exigente, mas com objetivos atingidos!

A AMI manteve a sua missão de emergência por mais de um ano neste país, contando ao todo com 29 voluntários expatriados e 36 colaboradores contratados localmente.

Desde então, tem desenvolvido projetos em parceria com organizações locais no setor da saúde, rádios comunitá rias, nutrição, igualdade de género e várias respostas de emergência pós-terramoto que voltaram a assolar o país, o mais recente em 2021.

14 | Beira. Em Maputo, a equipa da AMI participou na reunião do Sistema Cluster Inter Agências (ONU), logo no primeiro dia no terreno, registando a sua presença no país e comu nicando a sua capacidade na área da saúde. A aquisição de todos os bens necessários à missão foi feita, na tota lidade, em Maputo (à exceção da tenda de campanha, que foi levada da sede, em Lisboa) para enviar posterior mente para a Beira. Na Beira, no dia 24 de março, a equipa da AMI partici pou na reunião de clusters, que se passou a realizar dia riamente e na qual participavam todas as organizações ativas no terreno, para partilhar informações e definir prio ridades ao nível da gestão da emergência. Nesse mesmo No dia 20 de março de 2019, Moçambique fez um pedido de ajuda internacional através do Mecanismo Europeu de Emergência. No dia seguinte, a 21 de março, partiu de Lisboa a primeira equipa da AMI para Maputo, composta por 3 elementos. Dia 24, partiu uma equipa médica para a Beira e no dia 28 do mesmo mês, a AMI iniciou a sua intervenção no Centro de Saúde da Manga Nhaconjo. A 3 de abril, entrou em funcionamento o Hospital de Campanha da AMI, no mesmo Centro de Saúde que, três dias depois, foi designado como “Centro Transitório de Reidratação Oral por Fluidoterapia”. No dia 14 de março de 2019, o ciclone Idai - o ciclone tropical mais forte a atingir Moçambique desde o Jokwe, em 2008 – chegou ao litoral do país. Causou graves inundações em Madagáscar, Malawi e Zimbabué Já em Moçambique matou mais de 700 pessoas, afetando cen tenas de milhares. Tendo em conta a importância que atribui a uma ação coordenada, mas também o esforço acrescido que essa coordenação envolve, a AMI manteve no terreno duas coordenadoras de projeto, cuja função principal consis tiu em participar nas várias reuniões do sistema cluster da saúde das Nações Unidas e do Ministério da Saúde de Moçambique que ocorriam quer em Maputo, quer na OS DESAFIOS DE UMA AÇÃO COORDENADA, RÁPIDA E EFICAZ 2019: MOÇAMBIQUE

“De forma a garantir que, após a missão de emergência, as comunidades da Manga Nhaconjo continuariam a ser devidamente acompanhadas ao nível da saúde, a AMI implementou um projeto, em parceria com uma organização local, logo a 1 de junho de 2019. A AMI continua a trabalhar em parceria com a mesma organização até hoje.”

A AMI passou também a estar identificada no mapeamento das intervenções feitas pela OCHA / Nações Unidas. Até ao fim da missão de emergência, a equipa de liga ção da AMI continuou a participar nas várias reuniões cluster, reuniões da taskforce de cólera e das autorida des moçambicanas, bem como a dar resposta ao preen chimento de vários formulários e reports de dados soli citados no âmbito do cluster de saúde e do Centro de Coordenação das Equipas de Emergência Médica, no sen tido de realizar uma intervenção concertada e coorde nada e de manter atualizado o registo da sua interven ção no país. Em todas as reuniões com o Ministério da Saúde, com a OMS e com o Cluster da Saúde foi repor tada a intervenção da equipa médica da AMI e foram partilhados os dados epidemiológicos da mesma, bem como recebidas visitas regulares por diversas equipas de monitorização e avaliação, de várias entidades.

Para além deste enorme esforço de coordenação, as coordenadoras de projeto garantiram ainda um traba lho conjunto com a Diretora Clínica e a Diretora do Centro de Saúde da Manga Nhaconjo. Ao mesmo tempo que a equipa de saúde da AMI levava a cabo a sua missão de assistência médica no hospital de campanha, a equipa de ligação garantia uma ação coordenada e adquiria localmente vários materiais para otimizar o funcionamento do serviço, incluindo um sistema de tratamento de resíduos biológicos e não biológicos.

Foram adquiridos, em Maputo e na Beira, cerca de 800 quilos de medicamentos e materiais médicos necessários para a missão de emergência, tendo ainda sido recebidas e encaminhadas cerca de 4 toneladas de medicamentos e materiais clínicos de diversos doadores. Para além disso, a AMI apoiou o Centro de Saúde no transporte de medi camentos e materiais necessários e nos casos clínicos mais graves em que a equipa local pedia o auxílio da equipa expatriada. No período de 30 de março a 23 de maio, a equipa da AMI realizou 2.328 consultas, dinamizou sessões de reciclagem de conhecimento sobre questões de saúde, ações de sensibilização comunitária sobre temas como tratamento de água, medidas de higiene e cuidados de prevenção da cólera e da malária, adquiriu 3,5 tonela das de alimentos e distribuiu mais de 6 toneladas de ali mentos provenientes de diversas doações. No dia 25 de maio, data do fim da missão de emergência, a AMI doou o Hospital de Campanha ao Centro de Saúde da Manga Nhaconjo, bem como todos os medicamen tos, materiais médicos e outros materiais e infraestruturas, sabendo-se hoje que foi extremamente útil nos últimos 2 anos como parte da resposta à COVID-19.

| 15 dia, a AMI participou também na reunião com represen tantes do Governo de Moçambique, que passou a ter caráter diário e que chegou, inclusivamente, a realizar -se duas vezes por dia. Esta reunião era liderada em par ceria pelo Governo Moçambicano e pela Organização Mundial de Saúde. Começou, assim, a ser definida a insta lação de um hospital de campanha da AMI para trata mento da cólera. A AMI comprometeu-se em atuar com uma equipa médica num Hospital de Campanha fixo, com capacidade para internamento. No dia 27 de março foi declarado um surto de cólera na região. Nesse mesmo dia, realizou-se a primeira visita da AMI ao Centro de Saúde da Manga Nhaconjo, após ter sido transmitido pelas autoridades moçambicanas que a AMI iria, oficialmente, realizar a sua intervenção no mesmo, sendo que a intervenção teve início no dia seguinte. A 29 de março foi atribuída à AMI uma licença de “Emergency Medical Team” pelo Ministério da Saúde de Moçambique (a AMI foi uma das 9 Equipas Médicas de Emergência Internacionais oficialmente reconhecidas pelo Ministério da Saúde moçambicano).

De forma a garantir que, após a missão de emergência, as comunidades da Manga Nhaconjo continuariam a ser devidamente acompanhadas ao nível da saúde, a AMI implementou um projeto, em parceria com uma organi zação local, logo a 1 de junho de 2019, com a qual con tinua a trabalhar em parceria até hoje. A crescente profissionalização da ação humanitária acarreta desafios humanos, logísticos e financeiros muito impactantes para os agentes humanitários. No entanto, mais transparente e focada no longo prazo, traz resulta dos bastante promissores.

a dificuldade de todo o processo de fuga da Ucrânia, devido aos longos percursos efetuados pelos refu giados para chegarem à fronteira.

Tânia Barbosa, Administradora da AMI e Diretora do Departamento Internacional, que liderou a missão de emergência na Hungria , recorda a surpresa de um médico

A MISSÃO CONTINUA UCRÂNIA

No dia 2 de março, uma equipa da AMI partiu para a fron teira com a Hungria , com o objetivo de fazer um levanta mento exaustivo de necessidades no terreno, estabelecer contactos com organizações locais e solicitar as devidas autorizações junto das autoridades húngaras para poder Verificou-seintervir.

16 | para atendimento de refugiados na Hungria ; a doação de brinquedos para um centro de acolhimento; o apoio na identificação de pessoas interessadas em vir para Portugal e, ainda, o acolhimento e acompanhamento de um jovem ucraniano de 17 anos, desde a passagem da fronteira da Ucrânia com a Hungria até à chegada a Portugal , onde se reuniu com familiares que o esperavam nos Açores.

Segundo o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em apenas 6 semanas, mais de 4,3 milhões de pessoas saíram da Ucrânia e 7,1 milhões estão internamente deslocadas. Mantendo-se fiel à sua vocação em Ação Humanitária, a AMI desenvolveu a sua intervenção na Ucrânia a partir das fronteiras com a Hungria e com a Moldávia, numa primeira fase com equipas expatriadas e depois em parceria com organizações locais, estando também a dar apoio a refugiados ucranianos nos seus equipamentos sociais em Portugal.

A intervenção da AMI focou-se na necessidade mais urgente de envio de medicamentos e bens essenciais para a Ucrânia e em particular para uma clínica em Uzhhgorod cidade próxima da fronteira com a Hungria e um hos pital pediátrico em Vynohradiv, junto à fronteira com a HouveRoménia.ainda algumas ações pontuais tais como a entrega de medicamentos para a abertura de uma clínica médica

A AMI privilegiou desde o primeiro momento, a aquisição nos países fronteiriços de medicamentos e bens essenciais a enviar para a Ucrânia , por forma a diminuir custos, faci litar o processo logístico e sobretudo para garantir que as bulas dos medicamentos são compreendidas tanto por médicos como pelos próprios refugiados , e ainda para o fazer de acordo com as reais necessidades no terreno.

A 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia, despoletando um conflito que deu origem a uma grave crise humanitária e levou milhões de pessoas a abandonar o país, sobretudo para as regiões fronteiriças.

| 17 húngaro quando percebeu que as bulas dos medicamen tos entregues pela AMI estavam em húngaro e não numa língua estrangeira. A adequação da ajuda às reais neces sidades do terreno é, não só necessária, mas também cru cial para ser verdadeiramente eficaz.

A 14 de março, uma segunda equipa da AMI partiu para a Moldávia , um país que havia manifestado a necessidade de apoio imediato para dar resposta ao fluxo de refugia dos. Após o levantamento de necessidades no terreno, a equipa deu início ao fornecimento de medicamentos e kits básicos de higiene nas regiões fronteiriças de Chisinau e Stefan Voda, em parceria com organizações locais. Estas duas equipas contaram com 6 elementos no total, dos quais 5 expatriados e 1 local (na Hungria) cujo conhe cimento do contexto e da língua foi fundamental para o sucesso da intervenção, bem como o facto de um dos elementos expatriados ser de nacionalidade ucraniana e ter desempenhado a função de intérprete na missão na Moldávia Em Portugal , o trabalho em rede entre entidades públicas e terceiro setor está muito bem coordenado, estando os nossos 11 equipamentos sociais em todo o país (Centros Porta Amiga e Abrigos Noturnos) preparados, desde o pri meiro momento, para serem reforçados e prestar - em simultâneo com o trabalho que já desenvolvem com os beneficiários em Portugal - o apoio necessário através do projeto “Os AMIgos são para as Emergências”, que visa apoiar e promover a integração de famílias refugiadas provenientes da Ucrânia.

À data de fecho desta edição, embora tenham chegado pedidos de apoio de famílias ucranianas a alguns equipa mentos sociais de Lisboa e Porto, a maior afluência regista -se no Centro Porta Amiga de Coimbra, para onde já foram encaminhadas 85 famílias (204 pessoas), estando a ser prestado apoio, diariamente, em média, a 4 novas famílias de refugiados. Para além da distribuição de bens de primeira necessidade à população refugiada, o Centro Porta Amiga de Coimbra presta também acompanha mento social no âmbito das necessidades de habitação, educação, segurança social e emprego, assim como deu início a aulas de português para estrangeiros. Finalmente é também dada alguma orientação às próprias famílias de acolhimento que, na sua maioria, se veem também confrontadas com dificuldades financeiras para poderem suportar apoio durante muito tempo. Os desafios continuarão a ser muitos no futuro, mesmo quando esta crise já não for notícia de abertura de tele jornais, e por isso, mesmo após o regresso das equipas expatriadas, a AMI continua a enviar medicamentos para a Ucrânia, nomeadamente para a Uzhhorod Medical Center que, desde o início do conflito, passou a receber o dobro dos pacientes. Foi aliás estabelecida uma par ceria com esta clínica para o envio mensal de medica mentos durante 6 meses, no valor de €10.206, bem como com o Charity Centre for Refugees na Moldávia , através do financiamento da aquisição de bens essenciais para a população refugiada na região de Chisinau e com a Conferência de S. Vicente de Paulo romena, que acolhe refugiados ucranianos na Roménia. A intervenção da AMI só foi e continua a ser possível gra ças à generosidade da sociedade civil portuguesa, desde cidadãos a empresas, que se uniram para ajudar a popu lação ucraniana, numa demonstração de solidariedade Esteímpar.trabalho conjunto é fundamental para o sucesso de qualquer missão de Ação Humanitária e para a constru ção de um futuro melhor, pelo que deixamos um agrade cimento muito especial a todos os que apoiam esta mis são e que confirmam a importância desta cooperação organizada e concertada, assente numa relação de con fiança e transparência e na preocupação comum de sal vaguardar a vida humana e promover a Paz.

18 |

Na altura, no início da minha “saga” humanista, e penso ser provavelmente hoje o médico humanitário mais antigo e mais velho ainda em ação, as instituições humanitá rias eram interventivas mas com pouquíssimos recursos e raras eram as agências das Nações Unidas presentes nos cenários de conflitos, já para não dizer Estados e Forças Armadas que era impensável atuarem no campo huma Anitário.partir dos anos 1990 e sobretudo 2000 (Afeganistão, Iraque, Síria…) tudo mudou, nem sempre para melhor. Se, por um lado, e muito bem, a Ação Humanitária se profissio nalizou e permitiu dedicar-se a esta lindíssima profissão, for talecendo-se as organizações, a sua preparação e a sua coordenação no terreno, por outro lado, os Estados e as suas forças militares apropriaram-se do conceito indo ao ponto de desencadear guerras por “razões humanitárias”. Fundações e empresas globais, sob pretexto que as Organizações Não Governamentais não eram profissio nais, acabaram por politizar e perverter a ação humani tária, ao ponto de, em situação de conflito, as organiza ções humanitárias serem olhadas com desconfiança no terreno, havendo dúvida se poderão estar ao serviço de interesses geopolíticos e estratégicos. Os humanitários dei xaram de ser “intocáveis”. Resta pois, às muitas ONG, agentes e humanitários por vocação, continuar a exercer esta agora profissão, tal, infelizmente, a multiplicação e intensidade das tragédias esquecidas e das novas, de forma abnegada e transpa rente, apoiadas por uma sociedade civil informada que lhe continue a dar suporte financeiro.

humanitária viveu e vive momentos de mudança, positivos e negativos, nas últimas décadas.

AMI Nobre HUMANITÁRIA – QUE QUEREMOS?EVOLUÇÃO

NobreIsabel©

Fernando de La Vieter Nobre Presidente e Fundador da AMI

Como não poderia deixar de ser, com os reflexos da evo lução e da involução da sociedade, também a ação

Vivi-os por dentro enquanto médico humanitário há mais de 40 anos em missões concretas em cerca de 85 países nas 7 partidas do Mundo, seja em cenários de extrema urgência (catástrofes naturais ou conflitos) seja no cha mado desenvolvimento, ainda que a maioria das vezes de carência grave. No início do meu percurso humanitário no terreno com os Médicos Sem Fronteiras, a ação humanitária era humani tarismo puro, voluntariado benévolo, abnegação, entrega total e compaixão puros! Éramos missionários, leigos. Nada recebíamos (também nada esperávamos) em troca do nosso trabalho profissio nal em prol dos mais desvalidos e necessitados em qualquer canto do Mundo, inclusive nas situações de mais elevado risco de vida que implicava, por vezes, a nossa entrada clandestina em certos países para socorrer populações em risco e altamente necessitadas como me aconteceu por exemplo no Chade em 1981, onde era o único cirur gião que, de avioneta, percorria o país para exercer cirur gia de guerra dos dois lados do conflito sangrento que ali se travava. A Carta de Princípios que assinávamos, nomeadamente nos Médicos sem Fronteiras (MSF) e que depois em 1984 adotei na AMI que então fundei, exigia-nos o respeito por Valores claros como não exigir mais do que a organiza ção estava em medida de dar, em troca de riscos que assumíamos ao partir para cenários de guerra, como fiz várias vezes. Não usufruíamos de qualquer pagamento ou indemniza ção e a instituição só nos garantia a viagem, o alojamento muitas vezes precário e em grupo e o transporte no ter reno. Tudo o resto era por nossa conta e risco…

deFernandoconvidaLaVieter

AÇÃO

No âmbito da missão de emergência de apoio aos refugiados da Ucrânia, para além da intervenção internacional nas zonas fronteiri ças, a AMI está também a prestar apoio à população ucraniana que chega a Portugal, em fuga do conflito que se vive no país. O Projeto “Os AMI gos são para as emergências” tem como principal objetivo a promoção de uma intervenção integrada com respostas ao nível da Emergência e da Autonomização, direcionadas a pessoas e famí lias ucranianas que chegam a Portugal na condição de refugiados. Esta iniciativa visa dar uma resposta efetiva e completa às famílias que solicitam apoio nos equipamentos sociais da AMI, prevendo tam bém a participação de voluntários. De salientar que os equipamen tos e respostas sociais da AMI foram reforçados de forma a poder responder a este aumento de pedidos de ajuda. A Casa do Lago abriu em março de 2020, como uma resposta de emergência dirigida exclusivamente a mulheres. A partir de janeiro de 2021, a AMI assumiu a gestão partilhada deste centro, em estreita cola boração com a Câmara Municipal de Lisboa. Foram apoiadas 47 mulheres com todo o tipo de historial e problemáticas, aos mais diferentes níveis, das ques tões de saúde mental, a comportamentos aditivos, situação de desemprego e exclusão social, com bons resultados já que, e entre outros, 5 foram integradas em Housing First, 4 regressaram a casa e 10 consegui ram a sua autonomização. Uma vez que a resposta foi criada pela Câmara Municipal de Lisboa, espe cificamente para fazer face aos ris cos acrescidos que surgiram no âmbito da pan demia, foi encer rada no dia 31 de março de 2022.

| 19 BREVES - NACIONAL Nacional_

47 mulheres em situação de sem-abrigo

AMIInauguraçãoConcept Store Casa do Lago acolheu

“Os AMIgos são para as emergências”

A Fundação AMI, ciente da necessidade de diversifi car as suas fontes de financiamento e com o apoio inestimável da Marques Soares, Rosa&Teixeira, Auchan, Bulhosas e vários insubstituíveis voluntários, inaugurou, no dia 8 de junho um dos seus mais recentes projetos de sustentabilidade: a AMI Concept Store. Trata-se de uma loja de roupa nova, doada por par ceiros, que a AMI vende a um preço convidativo. A AMI Concept Store pretende contribuir para a mini mização do problema ambiental e social que repre senta a fast fashion, vendendo assim roupa de muito boa qualidade a preços baixos. Para além disso, o cliente, a cada compra que faz, poderá escolher para que projeto quer que a sua compra reverta. Há ainda um espaço anexo onde estão previstos projetos de upcycling e transformação de materiais. Não deixe de visitar a loja e de seguir as novidades nas redes sociais! Endereço: Av. da República, 1439, Loja 1, Piso -1, Parede, Cascais. Família ucraniana apoiada em Coimbra

Serra PromoçãoLeoa_ da Saúde e dos Direitos Sexuais e Reprodutivos

É neste contexto que a AMI, em parceria com a We Yone Child Foundation , iniciou em março de 2022 o projeto de Promoção da Saúde e dos Direitos Sexuais e Reprodutivos (SDSR) junto dos adolescentes de Kroo Bay, que terá uma duração de 6 meses.

20 |

A pedido da UNICEF, a AMI iniciou um novo projeto na Guiné-Bissau que visa o “Reforço das capacidades ins titucionais das Direções Regionais de Saúde de Bafatá, Gabú, Quinara, Tombali, Oio e Bolama, no âmbito da gestão de programas de Saúde Comunitária”. Será uma atuação em 5 regiões da Guiné-Bissau em simul tâneo, para apoio às Direções Regionais de Saúde na implementação das atividades de saúde comunitá ria. Terá uma duração de 24 meses e um orçamento de 314.641€ (cofinanciado pela AMI em 20% e UNICEF em 80%). No terreno estarão um coordenador expa triado e 8 técnicos regionais que serão recrutados Aindalocalmente.naGuiné-Bissau, e após o término do projeto “Papia Ku Mi: Promoção da Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos na ilha de Bolama”, a AMI decidiu avan çar para uma segunda fase de intervenção durante mais 5 meses com o cofinanciamento do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP).

Internacional_

NovosGuiné-Bissau_Projetos em Saúde

No bairro de Kroo Bay, na capital da Serra Leoa, vivem em condições de extrema precariedade cerca de 11.000 pessoas que se confrontam com inúmeros problemas no acesso a saneamento, serviços de saúde, estruturas de edu cação, água potável e eletricidade. A par destas proble máticas, a taxa de gravidez adolescente é elevada e a prá tica de casamentos precoces e forçados é uma realidade.

A AMI está a trabalhar em parceria com a Bangladesh Integrated Social Advancement Programme (BISAP) na implementação do projeto “Apoio às Comunidades Refugiadas e Favelas na Região Costeira de Chattogram, no Bangladesh”. O objetivo é não apenas dar apoio de emergência con tínuo a estas populações, mas capacitá-las para minimi zar a transmissão da Covid-19 e aumentar a resiliência social, económica e sanitária para enfrentar novos sur tos. A iniciativa inclui também uma componente de igual dade de género, que englobará atividades direcionadas para a redução da violência contra mulheres e crianças vulneráveis, que escalou durante a pandemia da Covid-19.

O projeto termina a 30 de junho de 2022.

ApoioBangladesh_ a Refugiados

O grupo Ageas Portugal envolveu 9 colaboradores, entre eles, o CEO Steven Braekevelt, e a Caixa Geral de Depósitos levou 8 voluntários para a ação de formação, que decorreu ao abrigo do programa “Eu Sou Digital” da CGD. 962 777 431

Abrigo da ResponsabilidadeGraça_

Os centros de alojamento temporário da AMI não são respostas de emergência, mas sim respostas a médio prazo, caracterizadas pelo acompanhamento, orienta ção, capacitação pessoal, social e profissional das pessoas alojadas, as quais perma necem uma média de 3 meses até se autonomizarem. Estas estruturas da AMI con tam com ações pontuais de voluntariado empresarial, que muito contribuem para o sucesso da sua intervenção. Nos meses de março e abril, o Abrigo da Graça contou com o apoio do Grupo Ageas Portugal e da Caixa Geral de Depósitos, que reabilitaram o jardim e o pátio do Abrigo e proporcionaram uma sessão de formação sobre a utilização de meios digitais aos residentes do espaço, respetivamente.

Se decidir consignar 0,5% do imposto que paga ao Estado à Fundação de Assistência Médica Internacional (AMI), basta assinalar o quadro 11 do anexo 3 (rosto) e colocar o NIPC da AMI: 502744910. Estará a finan ciar os nossos projetos de apoio a pessoas em situação de sem-abrigo. “Nem todos os desalojados fogem de catástrofes, mas todos precisam da segurança, do conforto e da dignidade de uma casa”. Faça parte desta Missão!

Doar sem Custos Consignação de 0,5% do IRS Após quase 4 meses desde o início da guerra na Ucrânia, as equipas expatriadas da AMI estabeleceram parcerias com organizações locais da Hungria e Moldávia para continuar a apoiar infraestruturas de saúde na Ucrânia. Já em Portugal, os Centros Porta Amiga fazem parte da rede nacional de apoio à chegada de refugiados. Este trabalho conjunto é fun damental para a construção de um futuro melhor, pelo que deixamos um agradecimento emocionado às mais de 100 empresas que apoiaram e continuam a apoiar esta missão, confirmando, assim, a importância da cooperação entre, por um lado, as organizações da Economia Social entre si, e por outro entre estas e o setor empresarial. Graças ao apoio de todos, foi possível angariar um total de 365.637,52€ (24.342,60€ provenientes da campanha autorizada pelo MAI entre 2 e 31 de março). Destacamos os nossos mecenas, a quem dirigimos um agradecimento especial, nomeadamente, a Auchan, a Altice Portugal, a Fundação AGEAS, a SIBS, a Galp, a TOMI e a MOP, a Hovione, a Y&R, o Aldi, a Inoweiser, a Uptec e a Norauto.

BREVES|21Mecenato_

Social Empresarial

A Coordenação faz a Força! ami.org.pt/donativo MB Way

22 | A Loja AMI dispõe de vários artigos que podem ser adquiridos no site ami.org.pt/loja Ao comprar qualquer um dos artigos da loja AMI estará a contribuir para a realização dos nossos projetos e missões. Pode também fazer a sua escolha, preencher e enviar-nos o cupão abaixo, junto com o cheque no valor total dos artigos acrescido das despesas de envio indicadas AGENDA AMI Encomenda 90€ 90€ ContinentalPortugal 5€ Grátis Portugal Ilhas 25€ 20€ Europa 30€ 15€ Resto Mundo 35€ 17,50€ PORTES DE ENVIO [MAIS ARTIGOS EM AMI.ORG.PT] 28 DE OUT A 05 DE NOV Aventura Solidária ao Senegal 30 DE OUT A 05 DE NOV Aventura Solidária aos Açores LOJA AMI FAÇA JÁ O SEU DONATIVO "Toda a Esperança do Mundo" Livro 39.90€ 01 A 10 DE DEZ Aventura Solidária à Guiné-Bissau  "Viagens contra a Indiferença" Livro 20€ "Imagens contra a Indiferença" Livro 30€

INFORMAÇÕES|23[FICHA DE CANDIDATURA ONLINE] NECESSIDADES ATUAIS DE VOLUNTARIADO Voluntariado Nacional Todos os Centros Porta Amiga Informático de 15 em 15 dias Abrigo da Graça Psiquiatra CPA Olaias Enfermeiro/a CPA Olaias Fisioterapeuta CPA Porto Advogado/a CPA Porto Voluntários para entrega de cabazes alimentares de maio a novembro (excluindo fins de semana e feriados) Voluntariado Internacional Madagáscar Obstetra Para apresentação de propostas, por favor, contacte-nos através do e-mail voluntariado@ami.org.pt

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AMI Notícias nº 85 by Fundação AMI - Issuu