AMI Notícias nº 95

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. CONVERSANDO

. REFLEXÕES

Reinventar a ajuda humanitária

. EM FOCO

Cartão Social Eletrónico, o futuro do apoio alimentar

. MISSÃO

Radiografias, memórias que se convertem em ação social

REINVENTAR A AJUDA

HUMANITÁRIA

E O APOIO SOCIAL

04 06 10 13 14 17 . REFLEXÕES

. EM FOCO

. CONVERSANDO JORGE PINA . EM FOCO CARTÃO SOCIAL ELETRÓNICO

QUANDO A PROFISSÃO SE UNE À MISSÃO, NASCEM VOLUNTÁRIOS . MISSÃO RADIOGRAFIAS, AS MEMÓRIAS QUE SE CONVERTEM EM AÇÃO SOCIAL

. ESTRATÉGIA REDE “CHANGE THE WORLD”

. FICHA TÉCNICA

Este número da AMINotícias foi editado com o especial apoio da TRUST IN NEWS , detentora do título Visão (encarte), COMPANHIA DAS CORES , LIDERGRAF e CTT – Correios de Portugal.

Autorizada a reprodução de textos desde que citada a fonte.

PERIODICIDADE Trimestral

DIRETOR Fernando Nobre

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22 BREVES

20 . MISSÃO FLORESTA NOVA, UMA QUESTÃO DE ECOÉTICA

VOLUNTARIADO — AGENDA . MISSÃO NO PLANET B

21 . ENTRELINHAS DOMINGOS XAVIER VIEGAS

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DIRETORA ADJUNTA Luísa Nemésio

SUBDIRETORA Ana Luísa Ferreira

EDITORA Ana Martins Ventura

REDAÇÃO Ana Martins Ventura

FOTOGRAFIA José Ferreira, AMI e DR

LAYOUT E PAGINAÇÃO

Companhia das Cores – Ana Gil

IMPRESSÃO Lidergraf

R. do Galhano, nº 15, 4480-089 Árvore Vila do Conde – Porto

EDITORA, REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO

AMI – Fundação de Assistência

Médica Internacional

NIPC 502744910

Rua José do Patrocínio 49, Marvila 1959-003 Lisboa

T. +351 218 362 100

E-mail: aminoticias@ami.org.pt

TIRAGEM MÉDIA 20.000 exemplares

DISTRIBUIÇÃO Visão, AMI

REGISTO ERC 127913

DEPÓSITO LEGAL DL378104/14

ESTATUTO EDITORIAL ami.org.pt/a-ami/ami-noticias/

SAIBA QUAL O CONTEÚDO EXTRA EXISTENTE ONLINE NO FINAL DOS ARTIGOS

+ TEXTOS + FOTOGRAFIAS + VIDEOS

FERNANDO DE LA VIETER NOBRE PRESIDENTE E FUNDADOR DA AMI

Sim, sem Ética valemos zero! Podemos ser ricos, ter todos os títulos académicos, ser bonitos, ter humor e tudo o resto, mas sem Ética valemos e valeremos sempre zero!

Quer seja na política, nas ciências, inclusive na medicina, na justiça, no jornalismo, nas forças armadas e de segurança interna…

E assim é pois sem ética tornamo-nos seres indiferentes, intolerantes, gananciosos, acríticos… e sempre e só virados para o nosso umbigo, padecendo do síndrome de Hubris!

O Mundo está profundamente doente, perturbador e, ousaria dizer mesmo, aterrador. Por falta de Ética, por falta de Valores, sem os quais deixamos de tratar os outros com humanidade e viramos criaturas bem piores do que os animais ditos irracionais.

E, no limite, exterminamos a nossa própria espécie. Essa falta de Ética impede-nos de nos questionarmos sobre as nossas condutas, quantas vezes profundamente erráticas, injustas e altamente questionáveis porque atentam direta e gravemente à vida dos demais que passam a ser vistos

SEM ÉTICA VALEMOS ZERO

como supérfluos, prejudiciais, pesos mortos e, ainda, responsáveis por tudo que vai mal no nosso planeta.

Exagero? Não. Repito, sem Ética valemos zero e submetemo-nos ao bezerro de ouro que, para já, tudo aparentemente subjuga, em particular as classes profissionais que deveriam ser os pilares mestres das nossas sociedades! Infelizmente, não o são, seja porque corrompidos, amestrados ou covardes.

Chegados a este ponto, a grande maioria dos povos tudo engole e a tudo parece aceitar submeter-se, dominada e subjugada pelas narrativas e comportamentos mais iníquos e questionáveis sem os porem em causa.

A psicologia das massas tornou-nos em boa parte dóceis perante os pseudo donos de uma Nova Ordem!

Sem Ética, nem Bioética, tudo se faz e tudo se aceita sem questionar?

Até perante o genocídio em curso em Gaza, o silêncio repugnante exaspera.

Da corrupção que corrói e torna famintas as nações e os povos, às soluções climáticas pouco ou nada transparentes, às guerras sempre com fundamentos económicos e financeiros, às “pandemias” e suas vacinas cujos efeitos secundários são claramente escamoteados e ninguém ousa nem procura saber porquê, sob pena de ser silenciado e até difamado.

Vivemos num mundo de pensamento único, onde o contraditório foi banido.

Sem Ética, não há Amor, Compaixão, Empatia, Consciência, Alma que resista! .

© José Ferreira

REIN— VENTAR

A AMI traçou estratégias para a sustentabilidade dos próximos 20 anos. O futuro não seria o mesmo sem os alojamentos Change The World, as campanhas com fundo ambiental e educativo que financiam material escolar e apoio alimentar e uma rede de voluntários, assente no mecenato universitário e empresarial.

Sem a participação da sociedade, seria impossível a AMI continuar a sua missão.

A AJUDA HUMANITÁRIA E SOCIAL

Reinventar a sustentabilidade da ajuda humanitária e da ação social é o desafio das organizações da Economia Social, num mundo em que a pobreza há muito perdeu o seu conceito guetizado e saltou para a transversalidade da sociedade. Com menos rendimentos, as famílias da classe média que participavam ativamente em campanhas de soli-

dariedade e financiamento perdem o lastro da responsabilidade social, também elas empobrecidas. O mecenato empresarial é determinante para a sobrevivência das ONG, mas não pode ser a única fonte financiadora e mudanças no contexto internacional influenciam também a abertura de linhas de financiamento.

© José Ferreira / AMI

A estratégia passa por manter a autonomia, mais do nunca, como a meta da sustentabilidade económica; a cooperação como a meta da sustentabilidade social e a educação no propósito da sustentabilidade ambiental. Para entrelaçar delicadas estratégias “a AMI vem apostando quer na diversificação das fontes de financiamento, quer no desenvolvimento de projetos de sustentabilidade financeira”, estratégia que Luisa Nemésio, vice-presidente da AMI, confirma como uma preocupação da instituição desde 1984.

Estratégias de sustentabilidade que devem ter em conta a cobertura de custos de funcionamento das organizações, gerar reservas que permitam iniciar novos projetos internacionais e dar continuidade aos mesmos após o término, financiar parte da ação social em Portugal ou “desenvolver missões de emergência sem ter que esperar pelo resultado de campanhas de angariação de fundos”.

Do apoio alimentar à educação e cuidados de saúde, a AMI está a conquistar espaço na sustentabilidade. O primeiro passo foi dado com o voluntariado, força altruísta essencial para colocar missões internacionais no terreno e garantir cuidados de saúde nos centros Porta Amiga.

Seguiu-se a angariação de donativos, pelo mecenato empresarial e particular que, unidos ao voluntariado, hoje realizado por mais de mil voluntários, permitem manter as recolhas de géneros alimentares, essenciais para complementar o apoio alimentar além dos programas governamentais. Contribuem ainda para a Campanha Escolar Solidária AMI/Auchan, com a qual é possível entregar material escolar a mais de 3.000 jovens e crianças todos

os anos e a Campanha de Reciclagem de Radiografias que, no fim, se convertem em prata, uma das fontes de financiamento da ação social da AMI em Portugal. Sem esquecer o Ecoética que promove o renascimento de florestas ardidas através do apadrinhamento de árvores. A este percurso uniu-se, em 2017, o projeto Change The World que coloca a AMI no século XXI da sustentabilidade económica e social, com uma rede de alojamentos, cujos proveitos permitem financiar uma parte dos custos com projetos e serviços.

Economia Social também é PIB

Com o reinventar do setor da Economia Social surgem novos modelos de negócio com representação no Produto Interno Bruto (PIB) do país e na geração de postos de trabalho. Atualmente, cerca de 60% dos recursos das entidades da economia social provêm daquilo que produzem, cerca de 20% dos recursos provêm de outras transferências e subsídios. Segundo dados publicados na Conta Satélite da Economia Social (CSES), desenvolvida em parceria entre a Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) e o Instituto Nacional de Estatística (INE), o setor da Economia Social contribui para 2,7% do PIB e é responsável por 6,1 % do emprego remunerado. Apesar de um processo evolutivo positivo, a necessidade de financiamento da Economia Social em Portugal mantém-se acima dos 400 milhões de euros.

A

ECONOMIA SOCIAL CONTRIBUI PARA

2,7%

DO PIB E GERA

6,1% DO EMPREGO REMUNERADO

Tarda o dia em que as AMI’s não serão necessárias

O objetivo último de qualquer organização não-governamental é, eventualmente, deixar de ser necessária, símbolo de pobreza erradicada. Embora temporariamente, não seria impossível concretizar.

Segundo o balanço social de 2024, realizado pela Nova School of Business & Economics, na intensidade de pobreza, o hiato médio “aumentou de 4,5%, em 2022, para 5%, em 2023”. Multiplicando este valor pelo valor do limiar de pobreza e pela população do país, “Portugal precisaria de cerca de 3.548 milhões de euros para elevar o rendimento de todos os pobres”. Enquanto o dia de investir na sustentabilidade social não chega, Fernando Nobre, presidente da AMI, afirma que “seria uma irresponsabilidade não traçar novas estratégias para salvaguardar, pelo menos a 20 anos, todos os apoios, da alimentação, à educação, saúde e ambiente, essenciais para os mais de 11.000 beneficiários da AMI em Portugal e cerca de 180.000 beneficiários diretos a nível internacional”. .

A Academia Jorge Pina é mais que desporto, é um espaço para a comunidade
O boxe salvou Jorge Pina da marginalidade. Hoje utiliza o ringue para criar novas oportunidades a outros jovens, no Bairro do Armador.

JORGE PINA

Um eterno insatisfeito, resiliente e feliz à sua maneira, o pugilista Jorge Pina nunca se curvou perante desafios e obstáculos. Depois de ter perdido 90% da visão retirou-se das competições e decidiu que era tempo de lutar em outros ringues, “por um bem melhor para todos”. No Bairro do Armador, em Marvila, fez nascer a Academia Jorge Pina. Espaço de portas abertas para toda a comunidade, na Academia Jorge Pina luta-se por um bem comum e contra marginalidades, entre treinos de atletas em formação e de alta competição, chegam as crianças para ocupação de tempos livres e não falta espaço para reuniões comunitárias em que se debate o futuro da freguesia. Unindo desporto e sustentabilidade social Jorge Pina sonha “abrir outra academia,

E o que é que o desporto lhe ensinou?

O desporto ensinou-me a ser resiliente e lutar para ser feliz e fazer os outros felizes. O primeiro adversário a vencer era eu, para depois vencer os outros. Assim, trilhei um caminho diferente do que podia ter trilhado, se não fosse o desporto. Tive problemas com álcool e drogas e foi o desporto que me salvou.

TEXTO ANA MARTINS VENTURA FOTOGRAFIAS JOSÉ FERREIRA / AMI

Como é que o desporto entrou na sua vida?

O desporto entrou na minha vida quando tinha onze anos e morava no Bairro de Santos, no Rego, um bairro social. Havia um treinador que recrutava jovens do bairro para treinarem boxe. Experimentei muitas modalidades na minha infância, judo, futebol, râguebi, mas foi o boxe que me apaixonou. Não era muito bom com os pés, era melhor com as mãos. Como vivia num bairro social, para conseguir fugir das marginalidades, juntei-me aos rapazes que já treinavam boxe. Foi uma paixão repentina e um sonho, o de ser um dia campeão.

Nessa caminhada fui várias vezes campeão nacional, campeão de Portugal, tive três títulos em três categorias diferentes de quilo. Houve poucos atletas a conseguir conquistar esse feito.

Tenho um Prémio Strong Boxe, fui aos EUA competir e ganhei. Viajei pelo mundo, mas não foram as viagens e esses títulos que fizeram de mim a pessoa que sou, foi aquilo que aprendi com o desporto.

Percebi que não é por nascer num bairro de barracas ou crescer num bairro social que não podemos sonhar e ter aquilo que queremos. A minha irmã cresceu num bairro social e conseguiu tirar um curso de Direito. Eu nasci num bairro, competi a fazer o que gostava e vou agora para a faculdade. Porque é que as outras pessoas não podem conseguir fazer o mesmo?

As escolhas são sempre nossas. Uma vez fui a Espanha combater e o combate correu-me tão bem que eu pensei “já ganhei”. Quando recebi o resultado deram-me a derrota. Não consegui gerir o resultado, vim para Portugal cheio de ódio, de raiva. Continuei a treinar e quando voltei a Espanha disseram-me “o pugilista que competiu contigo não pode voltar a combater, porque pode ficar cego”. Pensei “bem feito”. Não sei se foi Deus, o Universo, mas fui eu que acabei por deixar de fazer aquilo que gostava. A partir daí, nunca mais desejei mal a ninguém. Aprendi que quando se luta boxe, luta-se por algo maior. Aprendi que sozinho não sou nada, que preciso sempre dos outros para me ajudarem a crescer, a aprender a ser melhor, mas nunca melhor que ninguém.

Não é o bairro que nos transforma, nós é que podemos transformar o bairro.

Um combate pela vida, uma maratona pelos sonhos

Quando sonhou a Academia, já a sonhou com todas as valências que tem hoje?

Sempre fui um sonhador, mas o meu sonho nunca foi para mim, foi para os outros.

Quando comecei a planear a Academia pensei primeiro no atletismo e no boxe adaptado, depois, fui projetando o que queria e o arquiteto foi-me ajudando. O arquiteto humano e o arquiteto universal que foi metendo as ideias na minha cabeça. As coisas foram acontecendo como se o Universo conspirasse comigo. O desporto é uma ferramenta essencial de transformação na autoestima, na confiança, na luta externa e interna, connosco. Os jovens que a Academia Jorge Pina recebeu conseguiram combater os seus medos. É isto a vida, uma luta constante. Não é o bairro que nos transforma, nós é que podemos transformar o bairro.

A Academia Jorge Pina transformou-se em sustentabilidade social.

A Academia Jorge Pina é mais do que desporto, é um espaço para a comunidade. Se estas pessoas não estivessem aqui, estariam onde, a fazer o quê?

Na Academia Jorge Pina, temos reuniões do grupo comunitário para discutir assuntos da freguesia, temos um espaço aberto para projetos sociais da câmara, para pessoas com mais de 55 anos, para pessoas com deficiência, uma sala de estudo para os jovens virem estudar, e depois podem escolher uma atividade desportiva para fazer, em vez de estarem na rua. Mas, para servirmos as comunidades, também precisamos de ajudas, que são escassas. Os projetos são apoiados a 50 ou 60%. E o resto, de onde é que vem? As pessoas que estão aqui a trabalhar não são voluntárias, precisam de receber salário.

Quando entrei pela primeira vez no espaço onde hoje está a academia, estava tudo destruído, cheio de ratos, de esgotos. Era um local onde as pessoas se iam drogar, no meio dos prédios. Consegui reabilitar um espaço que hoje serve a comunidade. Fiz um empréstimo no banco, que ainda estou a pagar, do meu bolso, para ter um espaço que não é meu, é da Câmara. Muitas pessoas disseram “tu és maluco, onde é que vais arranjar dinheiro?”. Mas consegui, com o apoio de amigos, da Câmara Municipal de Lisboa e bati a muitas outras portas para me doarem material. Hoje, estamos num espaço magnífico, num bairro social. Não deve haver um espaço igual a este no país.

Ainda estava no hospital a recuperar da lesão e já o estavam a desafiar para o atletismo. A ideia da Academia Jorge Pina também começava a pairar.

Não me deem descanso. Deem-me tormentas, incertezas.

Nós temos um grande problema na vida que é não aceitar os problemas e culpar a todos por aquilo que nos acontece. Aprendi a aceitar e a lutar pelos meus objetivos, pelos meus interesses, pelos interesses dos outros e a fazer com que os outros acreditem no potencial deles. Tudo é possível. Um dos lemas da Academia é “onde há vontade não há limitações”.

Quando estava no hospital decidi que tinha de limpar as lágrimas, curar a ferida do meu coração e continuar a correr. Foi isso que fiz.

O pugilista Armando Naae (à esquerda) treina com Jorge Pina (direita), o objetivo são os Jogos Olímpicos de 2028.

O desporto que devia ser para todos

Ao longo do seu percurso demonstrou o potencial do desporto para jovens que, muitas vezes, ficavam à margem dele. O que é preciso fazer para o desporto ser uma peça chave na sustentabilidade social?

O quanto seria bom se todos começassem a praticar desporto desde jovens. Os riscos na saúde diminuíam, já estávamos a poupar na saúde. Aumentávamos a autoestima, a confiança. Mais do que transformação corporal, teriam uma transformação interior, mental.

Uma pessoa que pratica desporto fica mais habilitada para os desafios da vida. Os Governos deviam pensar mais em apoiar o desporto.

E temos de envolver os pais, para levarem os filhos a praticar desporto desde cedo, porque vão ter uma vida completamente diferente.

Neste mundo ideal, que papel tem o desporto adaptado?

As modalidades de desporto adaptado têm aumentado, porque houve uma inclusão nas federações regulares. Mas ainda há pouco apoio no desporto adaptado. Os apoios que existem são para atletas de alto rendimento, em projetos paralímpicos. E as outras pessoas? Quando eu comecei o projeto da Academia andava com uma carrinha a transportar jovens de um lado para o outro. O trabalho é nosso, temos de fazer e fazemos de coração cheio, mas precisamos de apoios.

Se o desporto é para todos? Há uma parte que ainda é só para alguns. Ainda bem que há associações, como a Jorge Pina e a Associação Salvador, por exemplo, que têm um apoio para atletas de desporto adaptado.

O que sonha para o futuro da Academia Jorge Pina?

O futuro, o sonho, é abrir outra academia, noutro bairro social. Quem vem à associação quando ela está cheia de crianças e jovens, vê o impacto social. Gostava que muitos autarcas viessem conhecer a Academia Jorge Pina e sentissem a energia que há aqui dentro, que vissem o que podemos fazer pelas comunidades.

O sonho está desenhado, agora vamos esperar que ele aconteça. .

Por

receber apoio alimentar passamos por muitos julgamentos

A receber apoio alimentar em Cartão Social Eletrónico desde fevereiro, Andreia sente-se mais protegida do preconceito.

Estima-se que o Cartão Social Eletrónico venha a substituir o apoio alimentar em cabazes. Este cartão do futuro chega, atualmente, a 709 beneficiários da AMI, que destacam a dignificação e o fim do preconceito. Para as instituições significa menos pressão e mais sustentabilidade.

TEXTO ANA MARTINS VENTURA FOTOGRAFIAS JOSÉ FERREIRA / AMI

Andreia perdeu autonomia financeira durante a pandemia, em 2021. Cuidadora de idosos, deixou o trabalho para cuidar do filho com autismo, que passou a ter aulas online. Ao mesmo tempo, a sua saúde deteriorou-se, devido a lesões na coluna. Para quem sempre foi financeiramente independente, de repente os apoios sociais foram a única solução, como o apoio alimentar que hoje recebe em Cartão Social Eletrónico, nova medida do Programa Alimentar – Pessoas 2030 que, até ao momento, a AMI implementou nos centros Porta Amiga de Almada, Porto e Vila Nova de Gaia, para 709 beneficiários. Segundo o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) "neste momento registam-se 49.401 beneficiários de cartão social, podendo a medida abranger 55.000 destinatários.

BENEFICIÁRIOS DA AMI USUFRUEM

DO

CARTÃO SOCIAL ELETRÓNICO

A aparente segurança de Andreia esconde uma autoestima quebrada por tão inesperada ser a assistência social na sua vida como o preconceito do apoio.

“Por receber apoio alimentar passamos por muitos julgamentos e como eu tenho carro, as pessoas veem-me sair do Centro Porta Amiga com o cabaz de alimentos e comentam: vem buscar coisas aqui, mas tem um bom carro”, recorda Andreia sobre os comentários mais marcantes.

Comentários de quem desconhece que Andreia precisa de fazer duas cirurgias para recuperar a saúde e que é mãe de um jovem com autismo que necessitou de muitas terapias. Como o seu orçamento e o de outras famílias pode ser suficiente para estas situações? Em seu nome e das famílias que passam pelas mesmas dificuldades responde, “é muito difícil com o custo de vida de hoje e ninguém sabe o que se passa na casa de cada um, porque existe muita pobreza envergonhada”.

A entrada em vigor do Cartão Social Eletrónico “mudou tudo” na vida de Andreia. Devolveu-lhe o sentido de dignidade e permitiu diversificar a alimentação do filho que é muito seletiva devido ao autismo.

Com a intervenção da AMI, além do apoio alimentar, Andreia também tem acesso a material escolar e apoio psicológico que a ajudou a compreender melhor o filho. Um dos momen-

tos mais felizes da sua vida foi assistir ao baile de finalistas do filho e vê-lo ingressar no 10.º ano, “o caminho está aí, em não desistirmos e persistirmos, porque tudo acaba por dar certo”.

O cartão do futuro

Em 2024, a AMI acompanhou cerca de 6.700 pessoas a nível alimentar, entre beneficiários do Programa AlimentarPessoas 2030, beneficiários de outros acordos e de apoio alimentar nos restaurantes sociais dos centros Porta Amiga. Em 2025, só em junho, a AMI apoiou a nível alimentar 3.032 pessoas: 520 nos serviços de refeitório; 1.603 através do Programa Alimentar – Pessoas 2030, das quais 894 recebem cabazes alimentares e 709 recebem apoio alimentar em Cartão Social Eletrónico; e 909 beneficiários da AMI recebem apoio alimentar também em cabazes por via de outros acordos. Recordando o caso de Andreia, Carla Reis, diretora do Centro Porta Amiga de Almada, assegura que “o Cartão Social Electrónico dá sem dúvida mais dignidade aos beneficiários” e maior sustentabilidade às organizações. Através da nova medida do Pessoas 2030 que vem substituir o Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas (POAPMC), “uma família de quatro recebe 157,96 euros em cartão, para complementar o seu orça-

mento, uma família de dois, como a de Andreia, recebe cerca de 85 euros”. No CPA de Almada 72 beneficiários de Cartão Social Eletrónico seguem as regras do programa. Os alimentos têm de ser adquiridos nos supermercados Continente, Pingo Doce e Intermarché. A rede é extensa. Indica o MTSSS que “o cartão social pode ser utilizado em 980 estabelecimentos aderentes que se encontram distribuídos pelo país e que correspondem às superfícies comerciais nas suas várias tipologias e dimensões (hipermercados e superfícies pequenas ou de proximidade)”. Está bloqueada a compra de bebidas alcóolicas, refrigerantes e guloseimas.

No Porto, Jéssica Silva, diretora do Centro Porta Amiga que a AMI mantém naquele concelho, acompanha 550 beneficiários a receber Cartão Social Eletrónico e destaca também “a dignificação através da possibilidade de escolha, pois os cabazes não incluem papas e outros produtos para crianças, nem para intolerantes à lactose ou celíacos”.

Apesar de ser uma medida disponível para todos os beneficiários de apoio alimentar, “o Cartão Social Eletrónico foi implementado para apoiar famílias com rendimentos insuficien-

tes”, esclarece Jéssica Silva, dando como exemplo o Rendimento Social de Inserção (RSI), também um complemento.

“É impossível alguém viver um mês com cerca de 200 euros de RSI e suprir todas as suas necessidades”, porque os apoios sociais funcionam em cadeia, complementando diferentes áreas. “Um beneficiário que recebe o RSI, faz as suas refeições nos restaurantes sociais da AMI, pode realizar a sua higiene nos centros Porta Amiga que têm esse serviço disponível. No serviço de rouparia, além de lavar roupa, recebe novas peças de vestuário e tem acesso a alguns cuidados de saúde”.

Com esta organização “o objetivo é libertar o valor do RSI para outras despesas, como o passe e carregamentos de telemóvel ou internet, condições essenciais para quem está a fazer procura ativa de emprego”.

O Cartão Social Eletrónico dá sem dúvida mais dignidade aos beneficiários.

No Centro Porta Amiga de Vila Nova de Gaia são 36 as famílias a receber Cartão Social Eletrónico que, sem exceção, “apontam a medida como positiva” avança Susana Reis, diretora daquele centro.

Desde há alguns meses “a falta de bens previstos para o cabaz do Programa Alimentar – Pessoas 2030, composto por 24 alimentos, provocou uma enorme insatisfação nas pessoas”. Motivos que reforçam uma cer-

teza a Susana Reis, “o Cartão Social Eletrónico é o apoio que melhor serve as pessoas e os objetivos do programa alimentar”.

A sustentabilidade da medida dependerá sempre das orientações do Instituto da Segurança Social, mas Ana Ramalho, diretora do Departamento de Ação Social da AMI, acredita que “será uma modalidade a manter, sendo expectável que a percentagem de beneficiários a receber Cartão

Social Eletrónico aumente gradualmente”. Porque, além de “dar às famílias a liberdade e o direito de escolherem os alimentos, conferindo-lhes a autonomia e a dignidade que a AMI procura garantir aos beneficiários”, o Cartão Social Eletrónico também representa uma contribuição chave para a sustentabilidade social e económica das instituições. .

CARLA REIS, DIRETORA CENTRO PORTA AMIGA DE ALMADA

QUANDO A PROFISSÃO SE UNE À MISSÃO, NASCEM VOLUN— TÁRIOS

A desenvolver projetos de saúde com a AMI, em realidades tão distantes como o interior da Guiné-Bissau e o Monte da Caparica, em Almada, os médicos de família Andrea Rodrigues e Pedro Ferreira encurtam distâncias, e promovem a sustentabilidade social, quando colocam a medicina disponível para todos.

Andrea Rodrigues é voluntária no Programa de Saúde Comunitária que a AMI desenvolve em parceria com a UNICEF na Guiné-Bissau.

Os primeiros voluntários da AMI partiram para o mundo em 1987, quando a ONG realizou a primeira missão na Guiné-Bissau. Desde então, os voluntários foram essenciais no Sri Lanka, aquando do tsunami de 2004; no Irão e no Haiti após sismos devastadores; ou em missões de emergência, como a que foi desenvolvida em Moçambique, após a passagem do ciclone Idai. Em Portugal, sem eles, seria impossível concluir a Campanha Escolar Solidária AMI/AUCHAN, as recolhas de géneros alimentares nas lojas Aldi, a reciclagem de radiografias, as ações de reflorestação, ou a Campanha de Natal. E colocar à disposição dos cerca de 11.000 beneficiários da AMI consultas de clínica geral, enfermagem, psicologia e psiquiatria.

A médica Andrea Rodrigues conheceu a AMI quando trabalhava num orfanato em Bissau e sentia que “o voluntariado era um dos caminhos a seguir”.

“Escolhi medicina porque queria fazer algo pelas pessoas e, naquele momento, o conhecimento sobre a Guiné-Bissau já estava na bagagem, faltava, ‘somente’ um dia, voltar ao terreno”, recorda.

De regresso a Lisboa, uniu a especialidade em Medicina Geral e Familiar a uma pós-graduação em Crise e Ação Humanitária no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. “Surgiu então a oportunidade de realizar um estágio no Departamento Internacional da AMI e, posteriormente, ingressar como voluntária internacional no Programa de Saúde Comunitária, que a AMI desenvolve na Guiné-Bissau, em parceria com a UNICEF”, explica Andrea Rodrigues.

Pedro Ferreira, também médico especialista em Medicina Geral e Familiar é voluntário da AMI no Centro Porta Amiga de Almada. Tudo começou no Centro de Saúde do Monte da Caparica, onde percecionou alguma resistência da população em recorrer à unidade de cuidados de saúde, “talvez fruto de uma herança de estigmas sobre os bairros sociais, que leva as pessoas a sentirem-se à parte”.

A vontade de derrubar muros fantasma levou Pedro Ferreira a disponibilizar consultas no Centro Porta Amiga de Almada em que “não é preciso fazer marcação antecipada, nem esperar meses, basta aparecer”. Quando terminar o internato planeia “continuar a dar consultas gratuitas, para que ninguém se sinta deixado para trás”. .

© José Ferreira/AMI

R ADIOGR A

AS MEMÓRIAS QUE SE CONVERTEM EM AÇÃO SOCIAL

Desde 1996, a AMI já converteu 1.700 toneladas de radiografias recicladas em financiamento para apoio alimentar, serviços de rouparia e cuidados médicos para milhares de agregados familiares em situação de vulnerabilidade social e económica.

TEXTO ANA MARTINS VENTURA FOTOGRAFIAS JOSÉ FERREIRA / AMI

Quando Nuno Delgado chegou ao Regimento de Transportes do Exército, em Lisboa, para participar na triagem da 29.ª Campanha de Reciclagem de Radiografias da AMI, sabia que aquele não era apenas dia de dar uma nova vida às memórias que as suas radiografias guardam mas, também, às memórias de quem contribuiu para que a AMI angariasse cerca de 50 toneladas de radiografias.

O judoca e medalhado olímpico, que conquistou o bronze para Portugal nos Jogos de Sidney, uniu-se a mais de 200 voluntários que, num ritmo imparável, nas instalações cedidas pelo Exército, encaminharam estes

resíduos para um processo de reciclagem finalizado fora de Portugal, de onde vai ser extraída prata. Com o valor obtido após a venda da prata, a AMI financia apoio social para milhares de beneficiários.

Ao longo da sua carreira, Nuno Delgado foi “um grande colecionador de RX”, pelas lesões acumuladas mas também pelas épocas de treino que o levaram às maiores competições do mundo.

Este ano trocou de pódio e sagrou-se embaixador da 29.ª Campanha de Reciclagem de Radiografias da AMI com o lema “Há memórias que não vale a pena guardar, mas que ainda podem ajudar”, recordando-nos que uma das máximas do judo é jita kyoei, “isto quer dizer benefício mútuo e prosperidade para todos”. Com esta máxima, acredita que “temos de trabalhar em conjunto, temos de nos unir, nos bons e nos maus momentos, para conseguir mudar algo no mundo”, da ação social à preservação ambiental, afinal através da reciclagem de radiografias, a AMI e os seus voluntários assumem dois compromissos.

Toneladas que fazem a diferença

Depois da triagem, chega o momento de as radiografias seguirem viagem até um centro de gestão e reciclagem de resíduos, onde são extraídos os sais de prata que permitirão à AMI chegar ao retorno financeiro final que financiará parte da sua ação social. Gonçalo Santos, diretor do Departamento de Ambiente da AMI destaca “uma campanha promovida desde 1996, que já permitiu reciclar 1.700 toneladas de radiografias que, se não fossem recolhidas, certamente teriam como único destino um aterro sanitário”. O engenheiro do ambiente faz as contas a tudo o que já foi possível conquistar até ao momento. “Por cada tonelada de radiografias recolhidas, a prata obtida permite financiar 250 refeições e que não se envie para aterro sanitário 4m3 de resíduos”. Se considerarmos um camião com a capacidade máxima de transporte esgotada, ou seja, 24 toneladas de resíduos, o impacto ambiental é impressionante.

FIAS

Nuno Delgado, no centro de triagem da 29ª Campanha de Reciclagem de Radiografias

Em 2025, a AMI vai enviar para reciclagem cerca de 50 toneladas de radiografias.

“O envio de 24 toneladas de radiografias para reciclagem permite evitar a emissão de 4,2 toneladas de emissão de dióxido de carbono para a atmosfera e, este ano, a AMI vai enviar cerca de 50 toneladas de radiografias”, explica Gonçalo Santos. Sobre o caminho que as radiografias fazem até chegarem à triagem da AMI, Gonçalo Santos afirma que seria impossível sem o apoio da Associação de Distribuidores Farmacêuticos (ADIFA) e da Associação Nacional das Farmácias (ANF), Associação de Farmácias de Portugal (AFP) e Câmara Municipal do Funchal, pois “é através destas entidades que a campanha de reciclagem chega ao público em geral através da rede de farmácias aderentes onde podem entregar as suas antigas radiografias”.

Promovida desde 1996, a campanha já recolheu

1.700 toneladas de radiografias.

GONÇALO SANTOS, DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE AMBIENTE, AMI

Ao contributo que cada pessoa pode dar em nome individual, unem-se “os contactos de unidades hospitalares que procuram a AMI para encaminhar os seus arquivos, com mais de cinco anos e já sem valor de diagnóstico”. A celebrar 40 anos de missão no mundo, a AMI espera, com esta ação, levar apoio alimentar, cuidados médicos e acompanhamento social, a mais

de 11.000 beneficiários em situação de vulnerabilidade económica e social em Portugal, através dos Centros Porta Amiga localizados em Vila Nova de Gaia, Porto, Coimbra, Olaias, Chelas, Cascais, Almada, Funchal e Angra do Heroísmo.

“CHANGE THE WORLD” QUANDO DORMIR NUM HOSTEL MUDA O FUTURO DA AJUDA

HUMANITÁRIA

O turismo continua a crescer na economia portuguesa, mas até onde as suas potencialidades para a sociedade estão a ser aplicadas?

A rede Change The World desafia o turismo a ser mais sustentável e humanitário.

Change The World permite atualmente financiar uma parte da atuação da AMI em Portugal e no mundo.

Em 2017, a AMI lançou a marca Change The World que viria a dar origem a uma rede de turismo que inclui hostels em Coimbra, Estoril, Ponta Delgada e Porto; uma residência universitária em Coimbra; uma unidade de turismo rural Herdade Monte do Peral, no concelho do Alandroal e o turismo de habitação Solar de Alvega, no concelho de Abrantes. O objetivo é reinventar a sustentabilidade financeira da instituição para manter a ação social desenvolvida em Portugal e projetos internacionais de ação humanitária e desenvolvimento.

Para Raúl Condesso, diretor do Departamento de Sustentabilidade da AMI, o projeto Change The World é o perfeito tradutor de “um dos grandes desafios do setor da economia social que é reinventar a sustentabilidade financeira, através da diversificação de fontes de financiamento, além dos donativos”. Um passo essencial para uma instituição com mais de 11.000 beneficiários em Portugal e projetos internacionais a decorrer na Guiné-Bissau, Moçambique, Camarões, Palestina, Bangladesh e Sri Lanka que impactam a vida de milhares de pessoas.

“Porquê o Turismo? E porque não, se estamos a contribuir para financiar projetos que mudam a vida das pessoas, com algo perfeitamente sustentável, praticamos preços justos, num mercado cada vez mais inflacionado e promovemos a equidade social, não só ao financiar uma parte da ação social da AMI, mas também, porque, criamos mais 17 postos de trabalho diretos”, defende Raúl Condesso. Os hóspedes, desde famílias, a nómadas digitais, estudantes, peregrinos de Santiago e de Fátima e apreciadores do turismo de natureza, “todos têm acolhido de forma muito positiva a rede Change The World, porque sabem que estão a contribuir para o apoio social em Portugal e ajuda humanitária internacional e isso dá um significado diferente às suas férias e viagens”.

Além de políticas sociais o projeto fomenta políticas ambientais. Todas as unidades têm centros de reciclagem, fomentam o consumo responsável de água e energia e combatem o desperdício alimentar. No Monte do Peral e Solar de Alvega, os únicos alojamentos que servem refeições, os produtos locais também são privilegiados, “para que as unidades Change The World sejam dinamizadoras da economia local”, garante Raúl Condesso. .

© Alexandre Fernandes

O PLANETA B NASCE

Q U AN DO CIÊNCIA E SOCIEDADE SE UNEM

O programa de financiamento NOPLANETB já permitiu a cinco instituições desenvolverem pequenos projetos sobre preservação ambiental, pegada ecológica e sustentabilidade económica. Pontes essenciais entre a ciência e a sociedade.

A confiança entre a ciência e a sociedade foi o ponto de partida do programa internacional de financiamento NOPLANETB que, em Portugal, é representado pela AMI. Como estabelecê-la, como fazer chegar à sociedade conhecimento direto e fidedigno sobre ambiente? Não é preciso complicar, tudo pode começar com um passeio de bicicleta, uma maratona para recolher lixo, ou mesmo uma t-shirt velha que renasce na forma de saco.

Na 1.ª fase de financiamento do NOPLANETB as ideias não tiveram limites para o Laboratório da Paisagem de Guimarães que desenvolveu o projeto “Miniflorestas, grandes impactos”; passando pelo “Pépedal”, da Ciclaveiro; “A Cidade que queremos”, desenvolvido pela “Reserva na Fábrica”; “PLANET A”, da associação Teatro Metaphora e “Wasteless Manifesto”, da Zero Waste Lab (ZEWALAB Associação Lixo Zero). Em dia de firmar os alicerces entre a ciência e a sociedade, a equipa Zero Waste Lab coloca as gerações mais jovens a abraçar o projeto Manifesto Wasteless, que liga ambiente e sustentabilidade económica, em ações como a reciclagem de t-shirts.

PLANET A, financiado pelo programa NOPLANETB, comunica sobre as consequências do consumismo no ambiente.

Para o jovem Lorenzo, estes não são os primeiros passos na reciclagem de roupa e espera “fazer muito mais”. De férias, parece-lhe “um bom investimento de tempo participar em ações como as que a Zero Waste Lab promove, para a reciclagem e reutilização de objetos, que permite poupar dinheiro e retirar o plástico do ambiente”.

Sara Morais Pinto, cofundadora da ONGD Associação Zero Waste Lab, em atividade desde 2017, coordena as atividades do Manifesto Wasteless, que estão a ser acolhidas no Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). A lente da Zero Waste Lab sobre a sociedade é “evitar a produção do lixo, através do desperdício ou ignorância sobre o que acontece quando os materiais utilizados já não são necessários, dando-lhes uma segunda vida.

O Manifesto Wasteless permite à Zero Waste Lab enraizar estes valores junto da comunidade jovem que, “nos seus canais de comunicação – as redes sociais – promove os eixos ‘repensar’, ‘reduzir’, ‘reparar’ e ‘reutilizar’ para reintegrar, novamente, no ciclo de vida materiais e objetos usados”. Com o final do projeto a aproximar-se, a equipa da Zero Waste Lab prepara a herança que o Manifesto Wasteless

deixará à sociedade, um vídeo, guias e um livro de dicas, para serem “disseminados gratuitamente e utilizados em vários organismos e instâncias”.

Caminhar pelo ambiente

Se em Lisboa, o Manifesto Wasteless elimina o lixo através da reutilização de objetos, em Câmara de Lobos, na Madeira, é caminhando que a Teatro Metaphora - Associação de Amigos das Artes luta contra o lixo nas ruas, com ecomaratonas, para recolha de lixo. São momentos em que se fala sobre ambiente, mas, também, sobre património e história.

PLANET A é a solução apresentada pela associação para aumentar a consciencialização da comunidade de Câmara de Lobos sobre a preservação ambiental, equilíbrio urbano-ecológico e a pegada ecológica, com a criação de um mural urbano sobre sustentabilidade ambiental; a realização de oficinas para a reutilização de materiais; ecomaratonas e uma campanha digital.

“O projeto está a envolver as pessoas, para que se interessem sobre a proteção ambiental”, garante José António Barros, presidente da direção da Teatro Metaphora – Associação de Amigos das Artes. O projeto está, so-

bretudo, “a trabalhar na questão do consumismo excessivo” onde vê que “alguns comportamentos começam a mudar”.

O artista plástico Ian Garrocelo, que participou na execução do mural “PLANET A”, da autoria de Styler (nome artístico de João Cavalheiro), não perdeu a oportunidade de caminhar pelo ambiente e vê na Madeira “um lugar de natureza, que deve ser respeitado por todos”.

Próximo passo, ações de média dimensão

A encerrar a 1.ª fase de financiamento do NOPLANETB, Manuela Fonseca, coordenadora do programa na AMI, afirma que “as instituições financiadas estão a comunicar melhor com as comunidades”.

Porque o ambiente não para, a 2.ª fase de financiamento já está em curso. Oportunidade para instituições desenvolverem ações de média dimensão, com um orçamento de 20.000 euros a 40.000 euros e uma duração de 12 a 18 meses.

NOPLANETB é desenvolvido em consórcio liderado pela Fondazione Punto.Sud (Itália), envolvendo os parceiros de Portugal (AMI – Fundação de Assistência Médica Internacional), Hungria (Hungarian Bast Aid), Espanha (Fondo Andaluz de Municípios para la Solidaridad Internacional), Alemanha (Finep Akademie), França (ACTED), Estónia (Mondo) e Polónia (Fairtrade Poland). O programa iniciou em dezembro de 2023 e tem a duração de 48 meses, com um orçamento total de 6.225.516€ dos quais 767.967€ são aplicados na intervenção em Portugal. Uma ação cofinanciada pela União Europeia, no âmbito do programa DEAR (Development Education and Awareness Raising). .

UMA QUESTÃO DE ECOÉTICA NOVA FLORESTA

A AMI volta ao Pinhal de Leiria para o plantio de espécies autóctones em áreas ardidas. Através do projeto Ecoética todos os dias podem ser apadrinhadas árvores que renovam a floresta em Portugal.

O projeto Ecoética já permitiu à AMI realizar a reabilitação e reflorestação de mais de 400.000 m² de terrenos, públicos ou com gestão pública, selecionados pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Desde 2011, a floresta nova já renasceu um pouco por todo o país mas, após os grandes incêndios de 2017 e 2018, as ações de reflorestação têm incidido especialmente em áreas como o Pinhal de Leiria com espécies autóctones, apadrinhadas por mecenas e plantadas por centenas de voluntários.

Em novembro a AMI volta ao Pinhal de Leiria com uma ação de reflorestação.

Além de aumentar a área vegetal em Portugal com a renovação das florestas devastadas pelos incêndios, através do projeto Ecoética, a AMI previne os impactos associados à introdução de espécies invasoras, contribui para a preservação dos solos e das reservas de água subterrâneas, prevenção de incêndios, monitoriza e controla as zonas intervencionadas.

Todos os dias podem ser apadrinhadas árvores em ami.org.pt/missao/ecoetica/. Para crescer e sobreviver aos fatores meteorológicos e humanos, cada árvore precisa de um investimento de apenas 10 euros. Com este valor é garantida a intervenção em 1 m² por cada árvore, contemplando o levantamento topográfico, operações de licenciamento junto do ICNF, a limpeza e retirada de biomassa, preparação do terreno e reflorestação, com sementes autóctones e certificadas, assim como a monitorização do terreno e a retancha, repondo até cinco vezes as árvores que não sobreviverem.

Em 1985, quando um incêndio em Armamar causou a morte a 14 bombeiros, Domingos Xavier Viegas questionou-se sobre “o que se passava com o vento e os incêndios florestais”. Hoje, o coordenador do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra defende o treino das populações para responder a incêndios florestais e a reorganização da floresta, riqueza sem a qual teremos o futuro comprometido.

Quem seríamos sem floresta? Quem conhece espaços desérticos sabe como seria se perdêssemos a riqueza que temos nas florestas e geramos a partir das florestas. Nós, infelizmente, não temos outras riquezas. Por exemplo, no centro de Portugal, sem floresta, haveria mais espaços cobertos de herbáceas altas. Devíamos pensar mais no valor que a floresta tem para a nossa vida, para o ambiente, para a produção de riqueza e o que significaria a sua perda.

Devíamos pensar mais no valor que a floresta tem para a nossa vida

O que a floresta de há 100 anos tinha que a floresta de hoje não tem?

Portugal não tinha o coberto florestal que depois teve e que, de certo modo, ainda existe. Houve um esforço de plantação da floresta na década de ‘40, com intenção de criar riqueza, preservar os solos e fixar população no interior. Mas, depois, a floresta ficou com menos pessoas para cuidar dela e boa parte das zonas agrícolas desapareceram.

A seguir tivemos a plantação de pinheiro-bravo na década de 1980 e a plantação de eucalipto, por empresas de celulose e particulares.

Passámos de uma floresta espontânea para uma floresta com intervenção humana. Que impactos tem na sustentabilidade?

Não podemos continuar com monoculturas. Precisamos de espécies autóctones folhosas que criam microclimas e são resistentes ao fogo.

Algumas plantações também deixaram de ser viáveis. Por exemplo, nos anos ‘40 plantámos pinhal bravo nas montanhas com a melhor das intenções, mas a temperatura do ar está a aumentar e os períodos de seca são mais frequentes.

Estamos mais vulneráveis a grandes incêndios, como os de 2017?

Em 2017 perdemos 120 cidadãos para os incêndios florestais. Nunca antes as populações tinham passado por algo com esta dimensão. Hoje, há mais sensibilização para a prevenção de incêndios florestais. Há uma melhor gestão do território e articulação das entidades responsáveis.

A tendência é termos menos incêndios, mas mais graves e as forças operacionais sem capacidade para chegar a todos os pontos. Por isso, as pessoas precisam saber como se proteger. Este não é um problema só dos autarcas, dos bombeiros, de partidos políticos, é de todos os cidadãos .

Universidade de Coimbra

BRE — VES

continua

a precisar de ajuda

Apesar da dificuldade cada vez maior dos atores humanitários intervirem com condições de segurança mínimas, o parceiro local da AMI, a organização palestiniana Juhoud for Community and Rural Development, conseguiu entregar cabazes alimentares constituídos por farinha, especiarias, azeite, molho de tomate, tomilho, chá e manteiga (ghee) a mais de 450 famílias, cerca de 3.000 pessoas. Entre 2024 e 2025, após grandes desafios em fazer chegar a ajuda ao terreno, a AMI conseguiu enviar 30.000€ para compra de alimentos e bens de higiene a distribuir pela população deslocada da Faixa de Gaza. Mais informações e formas de apoiar em ami.org.pt .

AMIGOS DA AMI

.

COM NOVA CAMPANHA

No âmbito da comemoração dos seus 40 Anos, a AMI lançou uma nova campanha de angariação de doadores regulares, protagonizada pela Natália e pelo Henrique, AMIgos da AMI desde 1996 e 2013, respetivamente. Contribuem de forma regular (mensal, semestral ou anual) para os projetos da AMI e permitem que a Missão continue.

Mais do que qualquer outra fonte de financiamento, os Amigos da AMI contribuem para que a AMI consiga orçamentar as suas missões de forma programada e responder mais rapidamente em situações de emergência. Para ser AMIgo da AMI e juntar-se a esta comunidade, basta fazer a inscrição em ami.org.pt. .

. CENTRO PORTA AMIGA DO PORTO precisa de uma máquina

de lavar roupa industrial

Em 2024, a lavandaria social do Centro Porta Amiga da AMI no Porto, foi usada 5.310 vezes por 1.239 pessoas, o que representa 88% do número de pessoas que usam este serviço nos equipamentos sociais da instituição em todo o país.

No entanto, a atual máquina de lavar semi-industrial está constantemente a avariar devido ao uso intensivo, comprometendo o funcionamento deste serviço vital. A aquisição de uma nova máquina com maior capacidade permitirá continuar a garantir que as pessoas que mais precisam possam ter acesso a roupas limpas e cuidadas, contribuindo para a sua dignidade e saúde.

A higiene pessoal e das roupas é um fator determinante na autoestima e na integração social, na medida em que ter acesso a roupas limpas permite que as pessoas se apresentem de forma mais digna em entrevistas de emprego, em consultas médicas ou até em simples interações do dia a dia.  Entre as formas de apoiar esta Missão, destacam-se o donativo online em ami.org.pt, o MBway +351 962 777 431 ou o serviço Ser Solidário da SIBS. .

© José Ferreira/AMI
. FAIXA DE GAZA

VOLUN— TARIADO

11 e 12 SET. LISBOA

Campanha Escolar Solidária AMI/Auchan

11 e 12 OUT. ALMADA, LISBOA, COIMBRA, V. N. GAIA e PORTO

Recolha de géneros alimentares – Lojas ALDI

PORTO Abrigo do Porto

Psiquiatra, Enfermeiro(a), Podologista, Costureiro(a), Cabeleireiro(a), Eletricista, Treinador(a) de Futsal e Professor(a) de Yoga

PORTO Núcleo de Lousada

Psicólogo(a)

VILA NOVA DE GAIA

Médico(a)

Centro Porta Amiga de V. N. Gaia

LISBOA Centro Porta Amiga das Olaias

Psicólogo(a), Enfermeiro(a) e Médico(a)

LISBOA Serviço de Apoio Domiciliário

Psicólogo(a), Fisioterapeuta e Enfermeiro(a)

ALMADA

Centro Porta Amiga de Almada

Nutricionista, Psicólogo(a), Médico(a) e Enfermeiro(a)

COIMBRA Centro Porta Amiga de Coimbra

Enfermeiro(a)

Agenda

OUT. a DEZ.

Campanha de Natal

11 e 12 OUT.

Campanha de Recolha de Géneros Alimentares em Lojas Aldi

20 NOV.

Ação de reflorestação no Pinhal de Leiria

2 a 11 DEZ.

Aventura Solidária

Guiné-Bissau

CANDIDATE-SE

Para apresentação de propostas, por favor contacte voluntariado@ami.org.pt

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AMI Notícias nº 95 by Fundação AMI - Issuu