Revista AGORA #001 - Julho a Setembro 2023

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AGORA

EXCLUSIVO

12 mulheres de diferentes contextos trazendo a história e o futuro do empreendedorismo social no Brasil

EMPREENDEDORISMO

SOCIAL

PASSADO, PRESENTE E FUTURO

O IMPACTO
SOCIAL E ESG EM REVISTA
Acesse aqui gratuitamente a versão digital da revista AGORA Edição n.1 | Julho-Setembro 2023 selo fsc

CONHEÇA NOSSOS PROGRAMAS:

TRANSFORMAMOS SEU PROPÓSITO EM AÇÃO

A Ago Social é uma Escola de Impacto para empreendedores socioambientais. Nossa metodologia exclusiva é baseada em 4 pilares:

CONHECIMENTO PRÁTICO

Vivências e estudos de caso para apresentar formas práticas de aplicar os aprendizados rapidamente

PROFESSORES REFERÊNCIA

ENCONTROS COM ESPECIALISTAS

Mentorias coletivas para aprendizado ativo em grupo, onde o conteúdo é pautado nas maiores dores e dificuldades dos nossos alunos.

Contamos com um time de profissionais e empreendedores que vivem o impacto na prática e apresentam um conteúdo que conversa com desafios reais.

ESPAÇOS PARA TROCA

Promovemos oportunidades de contato entre os integrantes dos programas para que aprendam entre si e se apoiem em suas jornadas

agosocial com br/cursos
@ago.social

Empreendedorismo, mulheres e confLuência social

Oempreendedorismo social é uma das mais potentes forças transformadoras da sociedade. Além de beneficiar e desenvolver as cadeias e segmentos em que atua diretamente, impactando social e ambientalmente as comunidades, pessoas e localidades diversas, é um importante fator de mudança de mentalidade, de pensamento. Com o tema “Empreendedorismo Social”, ao longo de nossa Edição n. 01 da Revista Agora, trazemos em vários momentos este olhar. E trazemos, em nossa Reportagem de Capa, um olhar de alta densidade e conteúdo sobre o empreendedorismo social no Brasil. Em face das quatro décadas de empreendedorismo social que já somamos no país, trazemos aqui um panorama de passado, presente e futuro. A ideia para esta pauta surgiu de uma conversa, em nosso estande no Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica – FIFE (veja cobertura nesta edição), em Belém, com duas feras do ecossistema social brasileiro, as professoras da Universidade de São Paulo Graziella Comini e Rosa Maria Fischer, que estão na raiz do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor –CEATS da USP, constituído em 1998 pelas mãos da próprio Rosa Maria. De falar sobre como surgiu o empreendedorismo social no Brasil, a ideia foi evoluindo e nos ocorreu contar não só a história, mas também fazer uma leitura do presente e, especialmente, do futuro.

Mais ainda, nos ocorreu fazer uma leitura do empreendedorismo social brasileiro a partir de agentes fundamentais no processo de seu desbravamento, criação, estruturação e desenvolvimento, não só no Brasil, mas no mundo: as mulhe-

res. Corajosas, acreditaram no 3º setor e no empreendedorismo social muitas vezes muito antes de a sociedade como um todo acreditar. Elas estão na raiz, nos fundamentos, na construção, na consolidação, na articulação, na expansão, na difusão, na cultura e na própria criação da tendência quanto ao 3º setor e o empreendedorismo social.

Reunimos assim um grupo de mulheres emblemáticas do empreendedorismo social brasileiro, constituindo um painel riquíssimo e inédito, com enfoque de ponta e contribuição infinita ao tema e seus rumos.

Pensando no envolvimento da sociedade civil com o ecossistema social trazemos duas Entrevistas que revelam detalhes sobre novas plataformas aptas a proporcionar uma interatividade nunca vista entre o cidadão e as demais esferas envolvidas com o ecossistema social. Na seção Papo de Impacto, Rodrigo Pipponzi conta sobre a Plataforma Conjunta.

E, na seção Entrevista, Inês Mindlin Lafer fala sobre a Plataforma Confluentes e a efetividade da sociedade civil articulada. Vale muito ler, e aderir. A plataforma vai ao encontro de um projeto que tenho, e venho desenvolvendo, sobre giving back. Logo contarei mais. Eu já sou um Confluente, vem ser também!

Vamos ao futuro, com paixão e vontade de impactar!

Ecoe sua voz!

a.barbosa@agosocial.com.br

Foto:
Benke 3 A Voz do Publisher
Gus
"Reunimos um grupo de mulheres emblemáticas do empreendedorismo social brasileiro, constituindo um painel riquíssimo e inédito, com enfoque de ponta e contribuição infinita ao tema e seus rumos."

Expediente

Mulheres e empreendedorismo social no Brasil: Além do passado e presente, uma conversa de futuro

Após a receptividade tão positiva de nossa edição-piloto, apresentada em primeira mão em abril durante o FIFE, em Belém (PA), lançamos oficialmente nossa ágora, nosso ponto de encontro aberto, diverso, múltiplo e polifônico voltado ao ecossistema social brasileiro. Trazemos aqui a edição número 01 da Revista Agora. Esta revista, que tem como casa editora a Ago Social, cumpre mais um passo rumo à formação para o empreendedorismo, os negócios de impacto e, principalmente, a sustentabilidade e crescimento exponencial de nosso setor no Brasil.

Em nossa reportagem de Capa, demarcando uma fundamental atuação que já chega a 4 décadas de empreendedorismo social no Brasil, optamos por uma abordagem diferenciada do tema: trazemos a narrativa de mulheres icônicas. Nossas convidadas para a Capa da edição são personalidades importantes na construção e consolidação do passado, presente e futuro do empreendedorismo social no Brasil. E, vale observar, as mulheres estão nos fundamentos do 3º setor e do empreendedorismo social brasileiro. Mas isso não significa que conseguimos atingir a tão desejada – e necessária – igualdade. Os homens, como veremos em nossa reportagem de Capa, ainda têm mais facilidade em conseguir financiamento para seus empreendimentos sociais, entre outros aspectos que merecem ser acompanhados com cuidado. São questões que precisam mudar, e rápido, para que nosso

REVISTA AGORA ED. 1 | Julho-Setembro 2023

Veículo de comunicação produzido e editado pela Ago Social.

Fundadores:

Alexandre Barbosa | a.barbosa@agosocial.com.br

Alexandre Amorim | a.amorim@agosocial.com.br

Coordenação e Projeto Editorial:

Editora-Chefe: Camila Gino (DRT/PR 3768)

Redação: Camila Gino e Time AGO

Revisão: Camila Gino

ecossistema avance de acordo com a relevância que pautas como diversidade, igualdade de oportunidades e justiça social merecem. Estas questões estruturais pontuam a edição em artigos variados: acolhimento e suporte a refugiados; a belíssima criação do Ateliê Derequine, pioneiro ateliê de moda indígena do Amazonas; o crescimento estruturado e 360º da cooperativa Cooprima. Também trazemos nesta Revista Agora dois momentos muito ricos em nossa seção Entrevista: Inês Lafer e Rodrigo Pipponzi lançam seu olhar preciso, arguto e inovador sobre o ecossistema social e suas tendências e caminhos. E não para por aí: antecipamos em nossas páginas um pouco do que acontece no Festival ABCR, agora no início de julho, além de trazer as coberturas do FIFE e do Congresso GIFE. Este é apenas um panorama da edição. Aqui dentro tem muito mais! Vamos navegar juntos por estas páginas, e que possamos avançar e caminhar firmes e com disposição para a construção do futuro que desejamos!

Inspire-se com os relatos destas grandes mulheres do empreendedorismo social do Brasil, e com todas as demais histórias que trazemos aqui!

Uma ótima leitura!

Camila Gino

Editora-Chefe

Articulistas convidados: Fernanda Andreazza; Fernando Nogueira; Gustavo Bernardino; Thaís Iannarelli Projeto Gráfico, diagramação e capa: @gianapundek

Fotos da Capa: Divulgação; Evensen Photography (Adriana Barbosa); Ivan Pacheco (Amanda Costa); Luana Fischer (Rosa Maria Fischer); Mauricio Moreira (Anamaria Schindler); Nathalie Brasil (Vanda

Ortega Witoto); Renato Diniz (Maria Celia Porto)

Impressão: Maxi Gráfica

Fale com a Redação: contato@agosocial.com.br

As opiniões emitidas nesta publicação são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da Ago Social. Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia.

Ago Social –

Acesse:

Editorial
Foto: Gus Benke
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Especial CAPA

08 • Capa

Empreendedorismo Social: passado, presente e futuro

Vozes do empreendedorismo social brasileiro: a partir de cima e da esquerda: Maria Celia Porto, Amanda Costa, Ticiana Rolim Queiroz, Carla Duprat, Anamaria Schindler, Célia Cruz, Rosa Maria Fischer, Graziella Comini, Vanda Ortega Witoto, Priscilla Veras, Carola Matarazzo, Adriana Barbosa

10 • Mulheres e Empreendedorismo Social

Trajetória e tendências no Brasil pela voz de 12 mulheres emblemáticas e inspiradoras

NESTA EDIÇÃO

03 • A Voz do Publisher

Empreendedorismo, mulheres e confluência social

04 • Editorial

Mulheres e empreendedorismo social no Brasil

06 • Foco na Tendência

Tendências em empreendedorismo social

22 • Entrevista

Inês Mindlin Lafer, fundadora do Confluentes

24 • Painel Ago

Movimentos de impacto da Ago e do ecossistema

26 • O Mapa do Impacto

Conheça os alunos Ago e seus projetos pelo Brasil

28 • O Mapa do Impacto –Aprendizados

Gestão, captação e networking em pauta

30 • Conheça os professores da Ago

Os atores do ensino de impacto

Articulistas AGOra

31 • Gestão Fácil

Empreendedorismo feminino: desafios e superação

Por Fernanda Andreazza

32 • 15º Festival ABCR

Tendências e movimentos do Festival ABCR 2023

Por Fernando Nogueira

36 • Diversidade – Compassiva

Uma casa que abriga esperança

38 • Potencial de Impacto –Cooprima

Trajetória de descoberta

40 • Inovação – Impacto Exponencial

Uma resposta para escala e crescimento

46 • Relatos de Empreendedorismo

Ateliê Derequine: moda indígena em estado da arte

48 • Papo de Impacto com Rodrigo Pipponzi

Plataforma Conjunta e empreendedorismo social

49 • Fala Social

AGORA é a hora

50 • Agenda do setor

Programe-se para os eventos do impacto

50 • Testemunhais

Gestores e agentes de mudança que integram a Comunidade Ago

42 • Eventos FIFE 2023

Ponto de encontro do 3º Setor

Por Thaís Iannarelli

44 • Eventos GIFE 2023

Investimento social privado e redução de desigualdades

Por Gustavo Bernardino

Sumário
Arte Capa: Giana Pundek | Fotos Capa: Divulgação; Evensen Photography; Ivan Pacheco; Luana Fischer; Mauricio Moreira; Nathalie Brasil; Renato Diniz

Tendências do Empreendedorismo Social

O ECOSSISTEMA DE IMPACTO SOCIAL TEM PASSADO POR GRANDES

TRANSFORMAÇÕES DE FORMA RÁPIDA, POR ISSO É PRECISO ESTAR ATENTO E SABER “SURFAR AS ONDAS” E “FUGIR DAS TEMPESTADES”. COM ESSE FOCO, A AGO SOCIAL MAPEOU 5 TENDÊNCIAS QUE PODEM SER GRANDES OPORTUNIDADES PARA QUEM QUER CRESCER O IMPACTO.

1. Filantropia Estratégica

Ao contrário da caridade, ou até mesmo da filantropia tradicional, a filantropia estratégica é uma abordagem que visa atuar na prevenção dos problemas socioambientais. Com uma visão estruturada e de longo prazo, ela busca gerar uma transformação sistêmica na sociedade. Aos poucos, ela vem ganhando espaço entre aqueles que já exercem filantropia na medida em que as instituições filantrópicas se dão conta de que intervenções pontuais e paliativas não são o suficiente para provocar uma verdadeira mudança.

2. Organizações sociais operando sob a mentalidade de negócios de impacto

“Priorizar a economia sem considerar o lado social é barbárie; priorizar o lado social sem considerar a economia é utopia”, diz Emmanuel Faber, ex-CEO da Danone. Que o recurso é escasso isso não é novidade para ninguém, mas que as organizações sociais não precisam e nem devem viver de doações ainda é um pensamento em ascendência. Sabemos que a captação de recursos é um dos maiores desafios que as organizações do terceiro setor enfrentam. Implementar a lógica dos negócios de impacto, isto é, ter uma fonte de recurso que garanta a sustentabilidade financeira, pode ser a virada de chave para o sucesso das organizações.

6 Foco na Tendência
Por Alexandre Amorim, Cofundador e CEO Ago e Talita Duprat, Articulista Time Ago Foto: Gus Benke Foto: Divulgação Image by benzoix on Freepik Image Waewkidjaby on Freepik

3. Investimento de Impacto e Empréstimo Coletivo

Quando falamos em investimento, logo pensa mos: “isso aí não é pra mim, não tenho fortunas para investir”. Mas é aí que você se engana. Hoje existem diversas plataformas de inves timento que trabalham em uma modalida de chamada Empréstimo Coletivo, onde várias pessoas “emprestam” seu dinheiro para um mesmo negócio. Um exemplo de plataforma que trabalha sob esse mode lo é a Trê Investindo com Causa. Lá você pode investir a partir de R$10,00 e con tribuir, dessa forma, para o crescimento de um negócio de impacto.

4. Negócios de Impacto com modelos B2B

Com o fortalecimento das metas ESG, cada vez mais as empresas (especialmente grandes) estão buscando fornecedores que as ajudem a resolver seus desafios ligados a essas metas. Assim, os negócios de impacto, pelo conhecimento específico de determinada causa ou território, têm se destacado e vêm ganhando tração no fornecimento de serviços e produtos. Para isso, a atuação dos negócios de impacto requer cada vez mais foco, especialização e qualidade de entrega.

5. Conhecimento Intersetorial

Vemos um aumento das transições de carreira que cruzam setores: alguém que atua em uma organização social faz uma transição para o poder público, ou mesmo, alguém que atua numa corporação começa fazer parte do terceiro setor. Esta tendência traz mais possibilidades de trocas de expertises, conhecimentos complementares e diferentes visões. Assim, temos visto empreendedores sociais convidarem profissionais de diversos setores como mentores ou conselheiros estratégicos, e vermos que ambos se beneficiam muito desta relação e ganham aprendizado.

Priorizar a economia sem considerar o lado social é barbárie; priorizar o lado social sem considerar a economia é utopia"

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Mulheres e Empreendedorismo Social: a potência

feminina das bases ao futuro

EMPREENDEDORISMO SOCIAL: PASSADO, PRESENTE E FUTURO NARRADOS POR VOZES FEMININAS EMBLEMÁTICAS DE SUA CONSTRUÇÃO, CONSOLIDAÇÃO, DIFUSÃO E TENDÊNCIA, QUE ESTÃO NA ESSÊNCIA DO MOVIMENTO NO BRASIL EM QUASE QUATRO DÉCADAS DE HISTÓRIA

Não poderia ser diferente. Ao longo da história, quando nos aprofundamos em determinado tema, ela está sempre lá. Nos mais variados espaços e conquistas da sociedade, a presença da mulher desbravando, abrindo caminhos, quebrando paradigmas e corajosamente estabelecendo as bases do que depois se configurará como um novo cenário ou campo de atuação, é uma constante. No empreendedorismo social, no Brasil e no mundo, não poderia ser diferente.

O empreendedorismo social tem um marco original em 1980, com a fundação da Ashoka por Bill Drayton. Logo começa a ganhar o mundo. No Brasil, em 1986, a Ashoka faz o reconhecimento das primeiras empreendedoras e empreendedores sociais. Uma década depois, em 1996, a Ashoka, em parceria com a McKinsey & Company, funda o Centro Ashoka-McKinsey de Empreendedorismo Social em São Paulo. Acompanhando as evoluções do 3º setor e do ecossistema social como

um todo, o empreendedorismo social vai ganhando espaço no país e, em especial ao longo da última década, não para de crescer como alternativa atrativa e de alto potencial de impacto.

As mulheres estão no âmago deste movimento. Não se trata apenas de afirmar que suas características inatas, como a capacidade de realizar múltiplas atividades e administrar com assertividade e sensibilidade ao mesmo tempo, a colocam em uma posição estratégica, o que de fato ocorre. Mas sim de compreender que, desde a origem, elas estão na raiz do empreendedorismo social, e do próprio 3º setor e ecossistema social. Elas estão nas raízes, criando a base deste movimento no país, quando ainda poucos acreditavam, e sua coragem, disposição e crença foram elementos centrais para sua consolidação, difusão e crescimento. As mulheres, como vemos nas próximas páginas, estão também na moldagem das tendências e novos caminhos para este movimento, atuan-

O ecossistema de investimentos e negócios de impacto

OSC com modelo de negócio

NEGÓCIOS DE IMPACTO

Negócios com restrição na distribuição de dividendos

Negócios sem restrição na distribuição de dividendos

DINAMIZADORES DE ECOSSISTEMA

Cooperativas

Incubadoras e aceleradoras

Gestores de capital lantrópico

Mídias

Estruturadores de oportunidades de investimento

INVESTIDORES DE IMPACTO

Redes de mentores

Operadores de microcrédito

Consultorias

Plataforma de nanciamento coletivo

Governos Corporações

Institutos e Fundações

Pessoas físicas Family o ces

Instituições de Ensino Superior

Avaliadores de impacto

Escritórios de advocacia

Fundos de investimentos

Instituições nanceiras

Instituições (agências e bancos) de desenvolvimento

Empreendedorismo Social | 40 Anos
- Fonte: Celia Cruz – ICE / IBGC – 2023
RESULTADOS FINANCEIROS E DE IMPACTO ASSITÊNCIA TÉCNICA OPORTUNIDADES DE INVESTIMENTO RECURSOS FINANCEIROS RECURSOS FINANCEIROS RECURSOS RELACIONAIS

do nas diversas frentes, nos campos do empreendedorismo, da dinamização e do investimento.

A história de coragem do empreendedorismo social se encontra assim com a própria história de coragem da atuação feminina. Mas, mesmo estando na raiz e no futuro deste movimento, encontra muitos desafios, em termos de igualdade de visibilidade e oportunidades. O estudo Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental 2021, publicado pela Pipe.Social, aponta por exemplo que “a diversidade é um tema chave na análise sociodemográfica dos empreendedores [sociais]. Apesar de haver maior equidade de gênero (as mulheres estão presentes em 67% dos negócios mapeados), elas são menos aceleradas, menos investidas e menos presentes nos negócios após o vale da morte”.

Há muito a fazer, e a coragem feminina segue com sua potência abrindo caminhos e quebrando barreiras, construindo a tendência. Trazemos aqui, para narrar estas 04 décadas, praticamente, de empreendedorismo social no Brasil, 12 vozes femininas poderosas, emblemáticas deste movimento em seu presente, passado e futuro: Adriana Barbosa, Amanda Costa, Anamaria Schindler, Carla Duprat, Carola Matarazzo, Celia Costa, Graziella Comini, Maria Celia Porto, Priscilla Veras, Rosa Maria Fischer, Vanda Ortega Witoto e Ticiana Rolim Queiroz. O painel que elas constroem nesta reportagem nos ajuda a entender não apenas o contexto de passado e presente, mas em especial os caminhos para o futuro do empreendedorismo social no Brasil. O futuro deve ser diverso e com mais igualdade de recursos e oportunidades, esta é a rota natural de um setor que atua, todos os dias, pela justiça social e sua propagação. Como bem disse mais uma mulher corajosa, a escritora Toni Morrison (1931-2019), primeira mulher negra a vencer o Prêmio Nobel de Literatura (1993): “... lembre-se de que seu verdadeiro trabalho é de que, se você for livre, precisará libertar outra pessoa. Se você tem algum poder, então seu trabalho é empoderar outra pessoa”.

Características do empreendedor social

• Cria oportunidades para que muitas pessoas possam contribuir na sociedade;

• Incentiva a crença na própria capacidade sua e dos outros;

• Redefine “fraquezas” como pontos fortes;

• Apoia o desenvolvimento da identidade do Changemaker (transformadores);

• Constrói parcerias multiplicadoras;

• Cria espaço para a voz da comunidade;

• Envolve indivíduos em todos os lugares onde atua;

• Cria mudança de Políticas Públicas;

• Promove modelos de mudança de Dinâmica de Mercado;

• Influencia novas mentalidades sociais ou normas culturais;

• Promove ambientes de suporte para mudanças sociais profundas;

• Constrói ecossistemas que sustentem a transformação.

Fonte: Anamaria Schindler, Ashoka – 2023 Arte Capa: Giana Pundek | Fotos Capa: Divulgação; Evensen Photography (Adriana Barbosa); Ivan Pacheco (Amanda Costa); Luana Fischer (Rosa Maria Fischer); Mauricio Moreira (Anamaria Schindler); Nathalie Brasil (Vanda Ortega Witoto); Renato Diniz (Maria Celia Porto)

Amanda Costa

Fundadora Perifa Sustentável

Sou comunicadora climática ativista. Hoje trabalho como diretora-executiva do Instituto Perifa Sustentável, sou apresentadora do programa de tele visão #TemClimaPraIsso e atuo como Jovem Conselheira do Pacto Global da ONU. Se me perguntassem se eu me imaginaria desempenhando essas funções, eu diria: ‘Óbvio que não, eu nem sabia que isso existia!’.

No meu caso, quero transformar minha quebrada, mostrar que a Vila Brasilândia, uma das maiores periferias da zona norte de São Paulo, pode sim ser sustentável. Isso não é apenas meu trabalho, se tornou a minha missão de vida! Impactar a vida de jovens mulheres negras, desenvolver novas possibilidades de futuro e ampliar a inclusão, colaboração e sustentabilidade para as periferias!

Maria Celia Porto

Arquiteta, Fundadora Dona Casa

Empreendedorismo Social | 40 Anos
E é aí que entra o empreendedorismo social, o ato de CRIAR a partir do inconformismo perante as injustiças sociais que atravessam nosso espaço.
Maria Celia Porto Perifa Sustentável Amanda Costa Foto: Renato Diniz

Me descobri empreendedora social com a Ago. Vinha, com a pandemia e a conclusão de minha faculdade de Arquitetura, em um momento de completa transformação, de repensar meu trabalho, meu papel no mundo. Com a pandemia, meu negócio de comercializar roupas infantis se esvaziou e precisei repensar tudo. Foi sofrido na época, mas talvez se isso não tivesse ocorrido, jamais passasse a atuar como arquiteta ou me percebesse como empreendedora social.

Bem, durante a pandemia, senti um chamado após ler o livro ‘Uma vida com propósitos’ [Rick Warren, Editora Vida Livros], e comecei a fazer lives, pensando nas mães com as crianças em casa. Essas lives trouxeram muitas mulheres e comecei a trazer formação para negócios com trabalhos manuais, trouxe professores sem custo. Isso foi crescendo. Criei na igreja um projeto chamado Fênix. Em paralelo, mais recente, criei uma empresa, a Dona Casa, que atua com projetos sociais em reformas de residências em condição de insalubridade.

Com tudo isso, cheguei à Ago Social. Por sugestão de uma amiga, coloquei meu nome nas inscrições e então a Ago me chamou. Cheguei nas entrevistas ao CEO, Alexandre Amorim. Quando fomos conversar, para a seleção de alunos para o curso, eu falei que não poderia pagar.

Desenvolvo outros projetos ainda. Criei um grupo de dança, que são as dançarinas de São Gonçalo, um resgate muito importante de nosso patrimônio cultural em Minas Gerais. Faço parte do Conselho de Patrimônio dos Bens Tombados da Matriz e também da cadeira de Cultura, de Recuperação de danças, de cultura em Caeté.

Me divido entre Caeté, Belo Horizonte e Barão de Cocais e ainda faço duas pós-graduações online, uma em Arquitetura e Patrimônio e outra em Segurança do Trabalho. Junto de tudo isso, sou líder social de formação da Gerando Falcões.

Vou seguindo os chamados de Deus. Sou muito atenta a isso. Outro dia, estava em um restaurante quando percorria as casas onde estava coordenando as reformas, e me veio uma voz interior: ‘compra um marmitex’. Comprei. Girei o dia todo com aquele marmitex no carro sem saber por quê. Quando cheguei, na última visita, na casa de um senhor, ele estava muito fraco, e me contou que estava há dois dias sem comer nada, e tomando remédio para pressão. Aí estava a explicação: o marmitex era para ele!

Junto com tudo isso, cuido de minha família. Tenho um filho maravilhoso de 14 anos, eu e o pai dele, após passarmos um tempo separados, nos reconciliamos recentemente. Outro dia, estava me sentindo um pouco cansada da correria e desafios cotidianos e meu filho me encorajou com palavras emocionantes. Falei para ele: ‘Como você enxerga a mãe?’. Aí, ele virou para mim e falou: ‘Mãe, você é muito esforçada, você não desiste de nada e você é uma boa mãe’. Isso me levantou e segui. Tenho mais projetos que desejo pôr em prática, como o de trazer donas de casa para a construção civil, capacitá-las. Um dia vou tocar também este projeto.

Foto: Renato Diniz
O Alexandre Amorim falou para mim: ‘Aposto tudo em você, porque você é uma potência’.
A Ago me deu uma bolsa. Isso mudou minha perspectiva, me percebi empreendedora social.

Vanda Ortega Witoto

Líder indígena e Coordenadoora

Ateliê Derequine

“Empreendedorismo social para mim é a possibilidade de te cermos novas histórias. Temos um Ateliê [Derequine] dentro de uma co munidade periférica de Manaus (AM), que se chama Parque das Tribos [@ parque_das_tribos_oficial], o primeiro bairro indígena da localidade.

Foi durante a pandemia que decidimos empreender, diante dos desafios impostos sobre nossos povos – porque as primeiras pessoas impactadas naquele período foram as pessoas pobres de nosso país. E nossas mulheres indígenas, com a suspensão das atividades como a venda de artesanato, fo ram impactadas imediatamente. Foi quando decidimos empreender, crian do peças de roupas com os grafismos que contam sobre nossa história, sobre a memória, sobre nossos corpos. Foi ali, em 2020, quando nos vimos sem acesso à água potável, ao alimento. Nós decidimos nos organizar a partir de um saber da minha mãe, que a vida inteira costurou e sustentou sete filhos. Na pandemia, nós entendemos que precisávamos cuidar de nós mesmas.

Então, esse empreendedorismo parte da necessidade de nos adaptarmos às injustiças sociais e econômicas impostas sobre os corpos de muitas mu lheres nesse país. E é uma forma de existirmos. O empreendedorismo nos coloca em um cenário de existência. Porque nós fomentamos, dentro do nosso território, uma economia circular.

Nela, essas mulheres podem costurar, contar suas histórias através dos grafismos e gerar renda. Porque não ter renda, para muitas mulheres, significa a perda de sua própria dignidade humana, uma vez que muitas mulheres estão submetidas a um sistema, a um ciclo de violência, simplesmente pelo fato de não ter uma renda, não ter condição de comprar suas coisas básicas. O empreendedorismo, para nós, vem empoderar as mulheres – econômica, social e humanamente. Isso para a gente é importante. Nossa moda é uma moda de emancipação, de cuidado, de afetividade, de fortalecimento da nossa cultura. E sobretudo de inclusão de mulheres na economia, porque ainda somos a minoria ocupando esses espaços. E mostra o quanto precisamos criar mecanismos e potencializar essas iniciativas coletivas sociais que geram impacto muito grande para a Amazônia e principalmente na vida dessas mulheres.”

Aqui, falamos que ‘costuramos histórias no ateliê da vida’. O empreendedorismo social surge em nossas vidas, enquanto mulheres indígenas, como uma ferramenta de luta e ocupação de espaço.
Vanda Witoto Ateliê Derequine
Empreendedorismo Social | 40 Anos
Foto: Nathalie Brasil Fotos

Carola

Diretora-Executiva Movimento Bem Maior

Demorei a me reconhecer como empreendedora social. Sempre trabalhei com envolvimento pessoal, embasado em meus valores e crenças, nesses mais de 25 anos de atuação. Hoje, vejo que essa é uma premissa do meu trabalho, já que nosso papel é gerar impacto na vida das pessoas buscando resolver problemas quase sempre associados à escassez – de recursos, acessos, É uma jornada árdua que, por ter as pessoas no foco, deve ser construída com resiliência e constantemente revisitada, para se adequar a cada novo cenário. As soluções devem ser construídas colaborativamente e com a missão de endereçar as principais demandas.

ra o futuro, devemos caminhar com soluções que ouçam todos os envolvidos, usando tecnologia e inteligência coletiva, respeitando suas particularidades. Considero impacto não um número levantado de ontem para hoje, mas a soma de resultados ao longo de um período. Somados às evidências do campo e às mudanças singulares e coletivas, gerarão transformação social.

Temos um 3º setor que nasce logo após a fundação do Brasil. O mundo do 3º setor é muito antigo. Agora, o mundo do empreendedor social, falar de empreendedorismo social, já é um termo mais recente. Quem cunha este conceito é o Bill Drayton, fundador da Ashoka. Ele é um visionário. Esta é uma característica do empreendedor: ser uma pessoa visionária, encontrar soluções com criatividade. O que muda de um empreendedor tradicional? A ideia inovadora para resolver problemas sociais. E ter o perfil ético é fundamental. Para qualquer atuação. Mas, quando se fala de mudar um paradigma, de fazer uma inovação social, este empreendedor social precisa ser ético para atrair a confiança de todo um setor na visão de mudança que ele busca.

Gosto daquela frase:

Conheci o campo do empreendedorismo social da seguinte forma: sou economista e, pelo

As mulheres surgem como potência nesse cenário, pois, além de competências técnicas, temos o dom do cuidado e da escuta ativa, que podem nortear o trabalho social.
Carola Matarazzo Movimento Bem Maior
‘Como não sabia que era impossível, foi lá e fez’.
O empreendedor social não se intimida diante de adversidades, ele acredita que pode mudar o mundo.
Celia Cruz Diretora Executiva ICE – Instituto de Cidadania Empresarial Foto: Divulgação Celia Cruz
ICE
Foto: Divulgação

mestrado na FGV, fui estudar no Canadá. Dentro do programa, tínhamos que fazer voluntariado e passei a atuar com captação de recursos para a Ópera de Toronto. Ali aprendi que se pode mobilizar recursos para uma causa cultural, social ou ambiental. Foi neste período que conheci meu marido, que é ambientalista. Quando voltei ao Brasil em 1993, defendi minha tese e a FGV me chamou para estruturar a nova área de captação de recursos. Também passei a participar da criação na GV do primeiro curso de gestão de ONGs da América Latina, com financiamento da Fundação Kellogg. Fui acompanhando e apoiando o surgimento e o fortalecimento de diversas organizações. Da captação de recursos, fui para a gestão do terceiro setor no IDIS e, em seguida, fui diretora da Ashoka Brasil. Foi na Ashoka que conheci o mundo dos empreendedores sociais. Do Brasil, fui para Washington como diretora da Fellowship com +2000 empreendedores sociais no mundo. E, depois, para a Ashoka Canadá.

Em 2010, no Canadá, conheci o campo dos investimentos e dos negócios de impacto. "Uau". Percebi aí uma oportunidade de atrairmos mais capital para impacto social. Podíamos atrair investidores interessados em uma remuneração financeira que viesse junto com impacto social mensurado.

O empreendedor de negócios de impacto precisa acessar muitos tipos de capital nas diferentes fases do seu empreendimento: doação no início, empréstimo, um

garantidor para comprar um maquinário e muitas vezes um sócio investidor que fica com um percentual do empreendimento. Esta nova lógica do empreendedor e do investidor de impacto aumentou muito o leque de tipos de bolsos para o 3º setor, além da filantropia.

Na volta do Canadá, fui convidada a assumir a direção do ICE e trazer este tema para a organização e sua rede de associados. Desde 2012, atuamos com uma diretriz de fortalecimento do ecossistema dos investimentos e negócios de impacto. Para a sociedade, trouxemos mais um ator: o empreendedor social que cria negócios de impacto.

E, também, mais opções para aqueles que querem doar para causas. Além do bolso da doação, podem usar seu bolso de investimento nos negócios sociais e ser remunerados pelo capital investido.

Para termos mais e melhores negócios de impacto, prontos para serem investidos, precisamos doar para o desenvolvimento de ecossistemas que apoiem toda a jornada dos empreendedores. Precisamos apoiar a aceleração, incubação, mensuração de impacto e advocacy para políticas públicas que ajudem o ecossistema a evoluir. Trazer tecnologia para estes negócios, para escalar soluções. E também atuar na mudança de modelos mentais para que mais pessoas doem a este ecossistema e invistam em negócios que tem em seu foco resolver problemas sociais e ambientais.”

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A Revista Agora é impressa pela Maxigráfica, que possui o selo FSC, uma certificação internacional que mostra o comprometimento da empresa com responsabilidade ambiental, garantindo que seus insumos são obtidos através de um sistema ecologicamente correto e sustentável

Empreendedorismo Social | 40 Anos

Carla Duprat

Senior Advisor

Gestão

Institucional

ICE – Instituto de Cidadania Empresarial

“No premiado documentário ‘Quem se importa?’ (2013, dirigido por Mara Mourão), conta-se a história de 18 fellows (bolsistas) Ashoka que incansavelmente se propõem a ser agentes de mudança.

para ampliar o impacto social positivo sob a ótica de mudanças sistêmicas e dar escala às soluções para os desafios socioambientais. Sinal da evolução de outros mercados também, como de venture capital, inovação, que são resultados do amadurecimento do setor de empreendedorismo no Brasil já no início da década 2000 –com as pioneiras Artemísia (2004) e Vox Capital (2009), ambas organizações criadas pela empreendedora Kelly Michel (esta última junto com Antônio Ermírio de Moraes Neto e Daniel Izzo).

Quando iniciei minha carreira na Fundação W.K. Kellogg percebi que a escolha por apoiar o desenvolvimento de lideranças no setor social era uma escolha estratégica para a construção de um ecossistema que fomente e fortaleça de maneira perene essa capacidade de atuarmos como agentes de transformação social na sociedade onde estamos.

Eu nasci em uma família de pai inglês e mãe nordestina e sempre fiquei intrigada quanto às diferenças sociais das minhas famílias, ‘simplesmente’ por viverem em países diferentes. Isso me levou a estudar Ciências Políticas com Relações Internacionais na Universidade de Warwick e lá conheci o termo terceiro setor.

Aprendi mais sobre a atuação das organizações que compõem esse setor e seus diferentes modelos de atuação e ingressei na Fundação Kellogg no novo programa de trainees para o setor da filantropia e investimento social, que foi criado em 1993. Encontrei o campo de trabalho profissional alinhado aos meus valores pessoais e minha paixão! E, após 12 anos atuando no campo das organizações sem fins de lucro, fui convidada a integrar o Family Office da Participações Morro Vermelho e aprender a ser uma ‘intraempreendora’ social.

Foram 17 anos atuando na iniciativa privada, primeiramente com o tema do investimento social privado e depois com o tema da sustentabilidade empresarial. Desde então tenho tido o privilégio, ao longo da carreira, de acompanhar e contribuir com o desenvolvimento desse campo de atuação que tem evoluído sobremaneira.

O ecossistema de impacto inovou ao trazer um conceito e uma prática (investimentos e negócios de impacto)

A participação feminina é muito importante nesse ecossistema por pelo menos dois motivos: 01. reconhecer o fato de que na sociedade patriarcal brasileira, o tema ‘social’ é tradicionalmente atribuído ao papel das mulheres; 02. em um contexto cada vez mais complexo, em que a visão de integralidade é fundamental, desperta-se a necessidade de o feminino liderar os processos de mudança. Não significa que sejam só mulheres com essa visão, mas certamente o espaço para esse estilo de liderança está maior e mais evidente.

O aspecto mais importante do empreendedorismo social no Brasil é a capacidade de inovar nas soluções para desafios socioambientais. Como um dos principais desafios, está fortalecer os dinamizadores desse ecossistema – as aceleradoras e incubadoras, os parques tecnológicos e os modelos de financiamento – adequados para cada etapa da jornada empreendedora.

Um ecossistema fortalecido em prol do empreendedorismo de impacto conta com pelo menos sete dimensões, desde políticas públicas adequadas até o impacto na própria cultura empreendedora.

Todo esse ecossistema terá mais ou menos êxito dependendo da qualidade das lideranças à frente desses processos. São os visionários que inspiram uma nova forma de ver e fazer a mudança que tanto almejamos para construir uma sociedade mais justa e sustentável. São mais pessoas inquietas que precisamos para desafiar o status quo de injustiças históricas para promover uma transformação. Como Margareth Mead escreveu: ‘Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo. De fato, sempre foi assim que o mundo mudou’.”

ICE Carla Duprat Foto: Divulgação
Eu me identifico com o chamado da Ashoka de que ‘todos somos agentes de mudança’.

Adriana Barbosa

Fundadora Feira Preta – PretaHub

• Investimento de family office nos negócios de impacto;

• Empreendedorismo de impacto também como profissão do futuro;

• Cadeia de valor nas grandes empresas alinhada com empreendedorismo de impacto social.

A tendência é desenvolvermos uma perspectiva decolonial no ecossistema de impacto. Menos relação hierárquica de saberes e poderes entre gêneros.

As mulheres não podem ser vistas apenas como público-beneficiário, elas precisam ser percebidas e valorizadas como protagonistas das soluções para as desigualdades.

Há também o espelhamento, dentro do campo social, do papel da mulher apenas como espectadora, que recebe e não concebe. Um grande erro do machismo e do patriarcado.

Empreendedorismo social é a forma de empreender em que o objetivo é impactar socialmente. Está para além da lógica de acúmulo de riqueza entre sócios: é voltado a promover o desenvolvimento da sociedade.

Escolhi me envolver com esta área porque sou uma mulher negra que foi atravessada por muitas camadas da desigualdade e não consigo me conformar com as distorções sociais.

Temos a Feira Preta como primeiro case de empreendedorismo de impacto social com foco em raça no Brasil. Sua missão é promover o empoderamento econômico das populações pretas, por meio do fomento de negócios, a partir de programas de educação, aceleração, acesso a crédito e mercado.

Tenho um propósito de vida: criar processos mais equânimes para as populações que são vulnerabilizadas e minorizadas. Faço por mim, pela minha filha, minha família, meus amigos, colegas de trabalho e pela comunidade.

No futuro, sou esperançosa de ter um campo de impacto social verdadeiramente regenerativo, mais distributivo, mais coletivo, menos eu e mais nós.

Identifico 06 principais tendências para o empreendedorismo social no Brasil:

• Diversidade no ecossistema de impacto;

• Processos regenerativos sistêmicos;

• Alianças e coalizões de diferentes setores em prol das desigualdades;

As mulheres há anos vêm resolvendo problemas sociais de maneira sistêmica e coletiva. Mas elas não são visíveis nos processos midiáticos. Há muitas mulheres líderes comunitárias, à frente de organizações e negócios sociais com reais impacto.

O maior desafio que vejo é o da redistribuição. Precisamos ter mais vozes dentro do ecossistema de impacto, ter diversidades de raça, gênero, classe social, etária.

Ainda percebo uma bolha fechada das mesmas pessoas disputando os mesmos recursos e trazendo soluções parecidas para a mesa.

Falta diversidade de quem empreende e acessa recursos e de quem protagoniza o impacto. Pode perceber que as grandes vozes hoje do empreendedorismo de impacto são homens. Eles estão mais na mídia, recebem mais recursos, mais capital social. E consequentemente concentram oportunidades.

O Brasil é tão grande e precisamos trazer a regionalidade para as soluções. Não necessariamente o que funciona em São Paulo, servirá por exemplo para Alter do Chão, na região Norte. Fica tudo muito pasteurizado. Mais vozes precisam disputar recursos e narrativas.

Preta Hub Feira Preta Adriana Barbosa Foto: Evensen Photography

Rosa Maria Fischer

Professora titular FEA/USP –Fundadora e coordenadora do CEATS – Centro de Empreendedorismo Social e Administração em 3º Setor da USP

estávamos em plena ditadura, qualquer um poderia ser denunciado a qualquer momento por supostas ‘ideias socialistas’. Comecei essa trilha de me interessar por organizações de 3º setor e de puxar alunos e colegas paro o meu campo de interesse.

O curso de Ciências Sociais da USP é historicamente muito respeitado. Minha graduação teve professores como Fernando Henrique Cardoso, Ruth Cardoso, Francisco Weffort, entre outros. Aí fiz meu mestrado, meu doutorado e muito cedo comecei a lecionar na Faculdade de Economia e Administração. Com 26 ou 27 anos, já era professora na FEA da USP. Fui uma testemunha viva de muitas modificações que ocorreram no âmbito do 3º setor e da filantropia no Brasil e dos movimentos de responsabilidade corporativa e sustentabilidade. Participei de muitos grupos de trabalho que criaram entidades como o GIFE e o Instituto Ethos, nos anos 1990. Quando comecei no departamento de Administração da FEA, no fim dos anos 1970, eram mais de 100 professores, mas apenas duas mulheres. A maioria dos professores era constituída por economistas, administradores, engenheiros e eu, como jovem socióloga, tinha uma formação diferente.

Eu dava aulas em disciplinas mais humanísticas, como Sociologia Aplicada, Comportamento Organizacional, e então percebi algumas coisas no curso de Administração que começaram a me incomodar. Uma delas foi que estávamos formando profissionais para trabalhar em grandes corporações multinacionais ou no mercado de capitais.

E eu dizia: ‘Precisamos formar jovens para uma visão mais eclética da sociedade. Para trabalharem em diferentes tipos de organizações’.

E então, nos anos 1980, comecei a falar para os meus alunos de algo que ninguém falava: as chamadas organizações sem fins lucrativos, os movimentos sociais. O ambiente não era propício, pois

Inicialmente, meus pares achavam que não tinha nada a ver, mas então as chamadas ONGs começaram ganhar um certo protagonismo, a ser consideradas agentes de mudanças sociais e meus estudos começaram a ganhar muita legitimidade. Comecei a ter relações com universidades norte-americanas, entre elas Harvard, que queriam intensificar as conexões com as universidades latino-americanas.

O mundo, nos anos 1980, passou a discutir a responsabilidade social das empresas, a importância das parcerias e o papel das OSCs, o que me possibilitou levar essas temáticas para as disciplinas do curso de Administração. Aí, na década de 1990, principalmente logo depois de termos a promulgação da nossa Constituição, em 1988, criou-se um ambiente propício para que os problemas sociais fossem colocados em pauta.

A mídia também passou a fazer um trabalho nesse sentido, divulgando notícias e criando prêmios para o empreendedorismo social. Em paralelo, as empresas, grandes corporações inclusive, começaram a se interessar em instalar áreas de responsabilidade social e passaram me procurar para consultorias, de início, de maneira mesmo informal. E isso tudo configurou o ambiente para criar um espaço dentro da faculdade que abrigasse quem tivesse interesse por esses temas.

Vi

Foi nos anos 1990. E aí temos todo um processo que evolui ao longo dos anos 2000, principalmente, de surgimento de empreendedores sociais que querem realmente criar negócios de impacto. As-

que havia esta necessidade, e assim surgiu o CEATS – Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor.
Rosa Maria Fisher CEATS Foto: Luana Fischer

sim como de organizações que estimulam esse movimento, como o Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), ou que os fomentam, como a Artemísia, ou que investem na produção e disseminação do conhecimento, como as incubadoras e aceleradoras. Para o futuro, vejo um olhar cada vez mais sistêmico, em que esta aproximação entre responsabilidade ambiental e social realmente esteja integrada, de modo que os empreendimentos, a sociedade, as empresas e o poder público atuem dentro de uma lógica de sustentabilidade. Que as empresas sejam socioambientalmente responsáveis, de forma natural, a partir de seu DNA.

Creio que esta lógica, do empreendedorismo socioambiental, vai continuar crescendo. E já vemos grandes empresas se aproximarem de negócios de

impacto, fazerem parcerias. Pois já há uma percepção de que elas não precisam fazer tudo. Nesse campo, está começando a aparecer algumas coisas que a empresa diz: ‘Isso eu não preciso fazer, mas posso fazer junto com um negócio de impacto ou com uma OSC que seja especializada nisso’. Vemos empresas investindo dinheiro em negócios de impacto, sendo as investidoras do negócio. Então, aí vejo indícios dessa grande mudança.

Porque, na verdade, está no sonho de todos nós que trabalhamos com empreendedorismo socioambiental uma mudança dos padrões, dos critérios, dos valores do sistema capitalista. É algo tão disruptivo que não acontecerá de forma rápida, mas a tendência já existe e vai acontecer, ainda que devagar, com idas e vindas, mas acredito que vai acontecer.”

Priscilla Veras

Fundadora

Meu Mundo

Tive a sorte de descobrir desde cedo que o que eu queria fazer da vida era fazer as pessoas saírem da pobreza. Foi ao me questionar sobre caminhos para acabar com a pobreza que me deparei com o empreendedorismo.

O Brasil é um grande celeiro para o empreendedorismo de impacto. Por todos os lados que olhamos nos deparamos com problemas socioambientais. O desafio é resolver esses problemas através de um modelo de negócio e não mais simplesmente por doação. Isso é uma grande mudança. Aprendi em minha jornada que precisamos ser apaixonados pela solução do problema e não pela forma. Os modelos de negócios podem mudar ao longo de suas jornadas para encontrar a melhor forma de resolver o problema. Olhando para o nosso país, eu diria que precisamos estar atentos ao básico, como: alimentação, redução do desperdício, educação básica, saúde e emprego. Se colocarmos esses problemas em foco podemos criar negócios que realmente vão mudar a realidade do nosso país.

Foto: Divulgação Priscilla Veras Muda Meu Mundo
Não existe forma melhor de acabar com a pobreza do que colocar as pessoas no centro de uma economia mais justa e sustentável.
Empreendedorismo Social | 40 Anos

Anamaria Schindler

Membro da Equipe de Liderança Ashoka

correlata com o empreendedorismo no universo dos negócios. Surge como um contraponto. Há então uma mercantilização do empreendedorismo via negócios. Este é o primeiro ponto que considero importante: o surgimento do empreendedorismo social como um contraponto à lógica mercantilista, capitalista, do lucro a qualquer preço.

Um segundo ponto, com relação ao tema mulheres e empreendedorismo social, se olharmos o ecossistema global, vamos ver uma balança bem equilibrada entre mulheres e homens. Desde que estou no empreendedorismo social, há mais ou menos 30 anos, as mulheres sempre tiveram um papel absolutamente central. Tanto no Brasil quanto no mundo todo. Por outro lado, não deixa de ser um pouco distorcido, no sentido da ocupação das frentes, que ainda precisam se equilibrar.

E o próprio conceito do empreendedorismo social, em que ele passa, para uma parte da sociedade, a ser entendido como ‘gerar lucro fazendo o bem’. E aí as mulheres já não ficam em uma posição tão equilibrada em relação aos homens.

É fundamental que o empreendedorismo social possa causar uma mudança social sistêmica, e não apenas os negócios de impacto. Para nós, na Ashoka, com base em nossos 40 anos de campo, o empreendedor social deve ser um agente de mudança, um ‘changemaker’. Um empreendimento social deve ser

capaz de causar impacto efetivo na sociedade. Para o futuro do empreendedorismo social, no Brasil e no mundo, acredito que um desafio seja de alcançar um arcabouço conceitual e metodológico, um sistema social, econômico e financeiro para que o empreendedor social possa empreender. Como o empreendedor de negócios tem. O empreendedor social também precisa ter. Porque ele está entregando para a sociedade, não é? Ele entrega impacto social, mudança, estruturação social. Ele causa um impacto que vai mexer com as estruturas e vai alterar as estruturas. Tem este efeito mesmo, de chacoalhar as estruturas.

Sou completamente apaixonada pela Ashoka. Assim como tenho meus filhos, meu neto, minha família, a Ashoka é minha família global nesse planeta. É uma relação de amor. Eu nasci para isso. Para atuar com o desenvolvimento do empreendedorismo social, desses empreendedores.

Anamaria Schindler Ashoka Foto: Mauricio Moreira

Ticiana Rolim Queiroz

Lendo o livro ‘Um Mundo Sem Pobreza’, do Prof. Yunus [Muhammad Yunus, Ed. Ática], vi a frase: ‘Sonho com o dia em que as pessoas terão que ir a museus para saber como era viver na pobreza’. Pensei: ‘Esse é o meu sonho’.

O capitalismo é bom em gerar riqueza, mas ineficiente em distribuí-la. Entendi que o empreendedorismo social é um instrumento eficiente para isso. Decidi ser protagonista na criação de uma nova economia, mais justa e equilibrada. Para isso, fundei a Somos Um, cuja missão é gerar oportunidades por meio dos negócios de impacto. Tenho visto uma expansão de consciência para esse ponto. Mas ainda falta os investidores aceitarem correr um pouco mais de risco e entenderem que a questão não é só sobre juros, lucros e concorrência – e sim sobre impacto e cooperação.

Se queremos um planeta digno para morar, devemos investir em empreendedores que estão criando soluções para os problemas da humanidade. Acredito que a nova geração é a maior força para essa mudança. Jovens da atual geração têm abraçado cada vez mais a ideia de que “entre ganhar dinheiro e mudar o mundo, posso ficar com os dois”.

Muitas instituições estão fomentando esse ecossistema. A Somos Um é uma delas. Os problemas são complexos e precisam ser resolvidos em rede.

A participação feminina tem sido muito importante.

As empresas que não acordarem para isso por consciência, terão de fazer por sobrevivência.

Os clientes não vão comprar o que elas fazem, mas o como e o porquê fazem. Investidores estão pedindo relatórios de impacto e jovens preferem trabalhar em empresas conscientes. Acredito que já estamos construindo uma nova economia, só precisamos de mais velocidade.

Essa pauta começou a entrar nas grandes organizações quando as mulheres chegavam a lugares de liderança.
Fundadora E Presidente Somos Um Ticiana Rolim Queiroz Somos Um
Empreendedorismo Social | 40 Anos
Foto: Divulgação

Graziella Comini

Professora FEA/USP – Coordenadora do CEATS – Centro de Empreendedorismo Social e Administração em 3º Setor

Fui uma testemunha viva do processo de profissionalização das organizações da sociedade civil. No período em que o Brasil estava no processo de redemocratização, eu estava justamente aqui, na universidade, e em um debate sobre como poderíamos melhorar nosso país, no final dos anos 1980 e início dos 1990. Tínhamos então uma nova Constituição, democrática, inserindo as organizações da sociedade civil como um ator relevante. Ao mesmo tempo, estávamos em um processo muito complicado de desenvolvimento econômico e com problemas estruturais na área social, na ambiental. Então, o mundo todo, e nós aqui no Brasil, estávamos discutindo o que era o desenvolvimento sustentável e quem deveria contribuir, se essa responsabilidade era exclusiva do Estado. Nesta evolução, as organizações da sociedade civil passaram a ser formalizadas e, na década de 1990, a atuação das empresas passou a ser repensada. Começaram a instituir programas de voluntários, refletir sobre responsabilidade social corporativa. Foi um momento muito fértil, em termos de possibilidades de colaboração e de pensar em soluções.

Então fomos nos aproximando, a universidade também, como um ator que precisa contribuir de maneira efetiva. Aqui dentro da USP, no final da década de 1980, início da década de 1990, é criado um centro de empreendedorismo social, que tem à frente a professora Rosa Maria Fischer. E, com o tempo, os alunos da Faculdade de Economia e Administração foram se interessando cada vez mais em atuar no 3º setor e por fim em atuar com o empreendedorismo social.

Um ator muito importante neste campo é a mulher. Quando circunscrevemos o 3º setor, percebemos que ele é um setor mais feminino. Muitas competências que as mulheres comumente têm, não necessariamente, são requeridas neste setor, como sensibilidade, empatia. O desafio agora é estimular mais empreendedoras sociais, e também a diversidade, sob seus vários aspectos.

Outro aspecto para o futuro é de que vivemos em um país de vazios institucionais. Vimos no início da década de 1990 um convite para a sociedade civil ocupar esses espaços. E agora temos de avaliar o quanto elas ocuparam bem, quais são os resultados efetivos. Entre comparar zero e aquilo que foi oferecido, claro que teremos ganhos. Mas ainda há espaços vazios. Então, estamos em um momento em que não basta ir apenas naqueles temas que dão visibilidade em termos de marketing. Isso vale para todo o ecossistema social, organizações, empreendedores, negócios de impacto, investidores, corporações. Estamos em um momento em que temos de trabalhar em temas mais profundos, em territórios muito abandonados. Temos de atuar sobre as desigualdades.”

Graziella Comini CEATS
Os problemas são coletivos e também a solução passa pela contribuição de muitos atores. Então, começo assim minha trajetória profissional e acadêmica, neste caldo cultural.
Foto: Divulgação

Inês Mindlin Lafer, fundadora do Confluentes e também diretora do Instituto Betty e Jacob Lafer e presidente do Conselho no GIFE: “Se queremos um país desenvolvido, precisamos ter esse setor associativo independente. O Confluentes se propõe a proporcionar isso”

O Confluentes vem estimular e fortalecer a participação da sociedade civil na filantropia e na transformação social. Como vem sendo sua evolução?

Fizemos o lançamento da plataforma Confluentes no final de 2019 e começamos as atividades em 2020, bem quando a pandemia começou. No Confluentes, fazemos a curadoria de organizações, selecionamos aquelas que receberão o recurso dos doadores. E, como contrapartida, criamos uma série de oportunidades para as pessoas conversarem com lideranças da área social, da área política, por exemplo, pensando em como fazemos o caminho de conexão entre as pessoas e as causas.

Que, além da questão de doação, seja um canal de envolvimento da sociedade?

Exatamente. É um espaço, também, de aprendizagem, de ouvir pessoas que não estão no nosso dia a dia e que são muito de ponta nas suas áreas. Temos feito um mix de conversas com temas candentes e temas que têm a ver com nossas causas. Em um exemplo recente, fizemos uma conversa neste início de ano falando sobre o garimpo no território Yanomami. Trouxemos governo, legislativo e ONG para conversar. Estamos sempre pensando em como trazer as pessoas que estão trabalhando com as causas que os Confluentes, como chamamos os doadores, estão apoiando. Essa é a chave. O retorno que damos ao doador. É doação, trabalho de monitoramento, curadoria, prestação de contas, mas é também conexão, aprendizagem. O benefício, vamos dizer, de você poder conversar com pessoas envolvidas com decisões sobre temas importantes, e que você não conversa no seu dia a dia. Nossa proposta é de promover envolvimento, um pouco de formação e de informação sobre o que acontece e o que preocupa.

A articulação de todos os atores, trazendo para a conversa o doador individual, as causas e as pessoas que estão por trás delas, e também o poder público, ajuda a estabelecer uma percep-

ConfLuentes:

sociedade civil articulada e ativa

Queremos segurança, bem-estar, saúde, recursos para uma vida saudável e com oportunidades. Queremos dignidade, respeito, enfim, uma sociedade menos desigual, mais justa e equilibrada. Não é exagero pensar que estes são desejos generalizados entre as pessoas. Agora, como realizá-los sem se envolver? Para um mundo melhor, efetivamente, é essencial a participação da sociedade civil articulada. Com esta premissa, no final de 2019, nasce a Plataforma Confluentes (https://confluentes.org.br/), um espaço para potencializar a filantropia individual no Brasil e que permite também a participação no debate sobre temas e causas estratégicas. Nesta entrevista exclusiva, Inês Mindlin Lafer, fundadora do Confluentes e também diretora do Instituto Betty e Jacob Lafer e presidente do Conselho no GIFE, conta mais sobre a Plataforma e seu inovador e inclusivo modelo de participação.

ção de construção sistêmica, de articulação conjunta, não é?

É, temos trazido isso. Temos nossa interface com o poder público, nessa questão das conversas. Porque estamos olhando para causas que, entendemos, são a raiz do problema. Então, se tratamos dos principais condicionantes do clima ou da segurança pública, por exemplo, para ter um impacto maior nesses temas que são raiz, na redução das desigualdades e dos problemas sociais, eles encostam certamente no poder público, porque é ele quem regula o sistema judiciário. Dessa forma, é importante poder conversar com esses atores, para que possamos entender como pensam.

Algo que me chamou atenção é que os valores de contribuição para participar da Plataforma e contribuir com as causas é acessível ao cidadão com uma certa estabilidade e renda a partir de média. Quando vocês pensaram em criar o Confluentes, um pouco era tirar esta ideia de que doação é apenas para pessoas ricas?

Com certeza. E o recurso doado vai todo para a sociedade civil, para organizações não-governamentais que estão fazendo o seu trabalho nas causas que apoiamos. O Confluentes cria uma oportunidade de as pessoas se envolverem, de pensarem: “Bom, estou insatisfeito com as coisas que estão acontecendo, não estou feliz com o sistema político, não estou tranquilo de viver em um lugar com tanta desigualdade, o que que eu posso fazer?”. Às vezes, temos pouca oportunidade de sermos chamados para doar ou participar de outros temas, que não os mais convencionais da doação, da caridade. Nossa ideia com o Confluentes foi de criar um programa onde as pessoas possam falar, fazer a diferença e trabalhar com causas estratégicas. Posso somar esforços e participar de uma forma acessível. As doações podem ser parceladas em até doze vezes. Isso transforma a possibilidade de fazer uma doação estratégica em algo acessível, possível. Algo que faz a diferença, mas que não é restrito a multimilionários.

E os Confluentes, independentemente da modalidade de doa-

22 Entrevista | Inês Mindlin Lafer
Foto: Divulgação

ção a que aderem, podem participar da rede de encontros e eventos?

Todos esses Confluentes, de todos os formatos de participação possíveis dentro do programa, podem entrar nessas discussões. Todas as pessoas que são doadoras podem participar. É um benefício, não uma obrigação. Não só posso ser Confluente, como posso participar dos eventos da Plataforma que eu desejar. Participa se quiser, quando quiser. É uma oportunidade para a sociedade civil poder se expressar, cobrar posição e dizer ao poder público ou às empresas, por exemplo, se suas decisões condizem com a vontade e a aprovação da sociedade ou não. Se queremos um país desenvolvido, precisamos ter esse setor associativo independente.

Uma sociedade articulada com espaço para se expressar, monitorar e mesmo interferir nas decisões e regulamentações. Queremos um lugar com democracia. Se queremos um lugar assim, onde possamos viver melhor, precisamos de organizações atuando que são independentes do governo e do mercado. São organizações que vão poder olhar para questões coletivas e públicas de um jeito um pouco mais, não vamos dizer neutro porque as organizações têm lá as suas crenças e opções, mas um pouco mais interessado no coletivo e no bem público – e menos nas questões de disputas de poder em torno de governo ou do mercado.

Criada no final de 2019, pouco antes da pandemia, a Plataforma Confluentes realizou em 2022 o “I Festival Confluentes – Brasil, e agora? Democracia, Transformação e Novas Perspectivas”, seu primeiro grande evento presencial

O que é ser um ConfLuente

COM A PALAVRA, OS CONFLUENTES. O QUE É, PARA CADA UM, FAZER PARTE DESTE MOVIMENTO.

SER CONFLUENTE É...

UMA OPORTUNIDADE DE JUNTOS IRMOS MUITO MAIS LONGE.. Alexandre Barbosa, empreendedor social e confluente

ESTAR DISPOSTO A REFLETIR EM PROFUNDIDADE SOBRE MEU PAPEL E A ME CONECTAR COM UM BRASIL QUE MUITAS VEZES NÃO CONSEGUIMOS ENXERGAR EM NOSSO COTIDIANO.

Nina Valentini, empreendedora social e confluente

Acesse Confluentes:

TROCAR CAUSAS, CONHECER PESSOAS, COMEÇAR A SE ENGAJAR. É TROCA, ESSA É A PALAVRA PARA MIM.

Duda Alcântara, arquiteta, ativista pela habitação social e confluente

SOMAR HABILIDADES E ESFORÇOS PARA O BEM COMUM.

Paulo Netto, engenheiro, gestor de empresa de mineração e confluente

SER ATIVO, PROATIVO, INQUIETO E COM VONTADE DE MUDAR UM CENÁRIO. É PERTENCER A UM GRUPO DE PESSOAS, UMA COMUNIDADE DO BEM, SEMPRE DISPOSTA E QUE SE IMPORTA.

Marco Gregori, empreendedor, educador e confluente

FAZER PARTE DE UM GRUPO QUE SONHA JUNTO, DEDICANDO TEMPO E RECURSOS PARA PENSAR UM BRASIL MELHOR.

Joana Nabuco, advogada e confluente

SONHAR COM A TRANSFORMAÇÃO.

Rafael Silva, professor e confluente

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Fotos: Divulgação Fotos: Divulgação Foto: Gus Benke

Eventos

Panorama do impacto

OS MOVIMENTOS DE IMPACTO DA AGO E DO ECOSSISTEMA SOCIAL

O primeiro semestre de 2023 foi marcado por dois grandes eventos no setor de impacto. A Ago Social marcou presença em ambos (confira as coberturas nesta edição).

Congresso GIFE

O 12° Congresso GIFE se realizou entre 12 e 14 de abril em São Paulo. Reconhecido como o maior encontro sobre investimento social e filantropia no Brasil, o evento abordou o tema “Desafiando estruturas de desigualdades”. A Ago marcou presença com seus dois cofundadores Alexandre Amorim e Alex Barbosa, além da gestora de programas educacionais, Talita Duprat.

Alexandre Amorim e Talita Duprat no 12º Congresso GIFE, em São Paulo

FIFE 2023

Alexandre Amorim, Mariana Micheleto, Alex Barbosa e Talita Duprat no estande da Ago no FIFE, em Belém

Entre os dias 25 e 28 de abril, a cidade de Belém do Pará recebeu o Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica –FIFE. O evento, promovido pela Rede Filantropia e patrocinado pela Ago, teve sua décima edição pensada para oferecer uma visão 360º da gestão no Terceiro Setor. A Ago participou com a palestra “Quatro pilares de crescimento para sua organização”, ministrada pelo CEO Alexandre Amorim, além de ter contado com uma sala de debates.

Nova Revista

Ainda em abril, a Ago anunciou o lançamento da Revista Agora, o mais novo veículo de comunicação para o setor de empreendedorismo social e ambiental. A revista é um grande sonho, uma extensão da missão maior da empresa: “Ajudar quem ajuda, transformando propósito em ação”. A ideia é que seja um veículo para trazer trajetórias de empreendedores sociais, contar histórias, compartilhar experiências e boas práticas, apresentar os caminhos que constroem as mudanças sociais e ambientais no nosso país.

24 Painel Ago
Fotos: Divulgação Foto: Divulgação Fotos: Divulgação Foto: Gus Benke Alexandre Amorim e Alex Barbosa exibindo a Edição Piloto da revista AGORA durante o Congresso GIFE

Projetos e parcerias

BTG Soma

O ano de 2023 começou voando para a Ago em termos de parcerias com grandes empresas, institutos e fundações.

Em destaque a ampliação da parceria com o banco BTG Pactual na execução do programa BTG Soma. Apenas em 2023, já foram lançadas três turmas do Programa Jornada para Empreendedoras, duas em São Paulo e outra no Rio de Janeiro. E também a segunda turma do BTG Soma Meio Ambiente, com 11 organizações que operam em todos os diferentes biomas do Brasil; além da primeira turma do BTG Soma Empreendedorismo; e da quarta turma do BTG Soma Educação, voltado para organizações que atuam sobre a causa da educação. A Ago tem um time de alto impacto e qualificação atuando nestes projetos: Giovanna Caminha (Soma Meio Ambiente); Débora Fernando e Aline Ferreira (Jornada para Empreendedoras); Gabriela Cabral (Soma Educação); e Patrick Schoenardie (Soma Empreendedorismo).

Impacto Exponencial

A Ago Social e a Fundação FEAC lançaram em conjunto o projeto “Impacto Exponencial”. O processo foi iniciado efetivamente em 2023, com a fase de triagem, e vai até novembro de 2024. O principal objetivo é a aceleração do impacto de organizações sociais de Campinas (SP). A M.A.E. Maria Rosa, que atua para combater a fome e a desnutrição, e o Cepromm, que atua com foco na garantia de direitos da criança e do adolescente principalmente em zonas de prostituição, são as duas organizações escolhidas para o processo de aceleração da Ago.

Consultoria Social

Entre fevereiro e maio de 2023, a Ago também executou o Programa Consultoria Social, viabilizado pela B3 SociaL, um projeto de capacitação e mentoria com voluntários. O processo, que contou com 50 colaboradores da B3 como mentores voluntários, teve como objetivo desenvolver e acelerar dez organizações sociais. No encerramento do programa, além de todo o desenvolvimento proporcionado pelo ciclo de mentorias, ainda foi viabilizado um prêmio individual de R$ 20 mil para que cada organização pudesse implementar seu plano de ação.

A partir da esquerda, Camila Abreu (Analista de Responsabilidade

no BTG), Alex Barbosa, Juliana de Paula (Diretora de Responsabilidade Social no BTG) e Alexandre Amorim: encontro durante o Congresso GIFE

Liderança para o Impacto

Entre maio e junho, a Ago desenvolveu a 5ª turma do Programa Liderança para o Impacto: Os desafios reais da gestão com propósito, com quase 40 inscritos. O programa foi finalizado em 1° de junho e um de seus pontos altos foi uma aula especial com 3 grandes nomes do setor de impacto social: Carola Matarazzo, diretora-executiva no Movimento Bem Maior; Carla Duprat, senior advisor no ICE; e Ana Tomazelli, fundadora e diretora no Ipefem.

Evento de encerramento do Programa Consultoria Social, que reuniu as equipes da Ago e da B3 e organizações participantes

Captação de Recursos

A Ago realizou, durante o mês de maio, uma agenda especial sobre Captação de Recursos para Organizações Sociais. Foram realizadas 3 lives especiais com alunas do Programa Captação Inteligente da Ago, além de atividades coletivas, como um concurso de apresentações e simulações de reuniões para captação de recursos. A programação foi finalizada com uma mentoria coletiva online em 1° de junho, que contou com 140 organizações sociais de todo o Brasil.

e Carola Matarazzo

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Social O gestor do projeto, Carlos Eduardo Pinotti, palestrando no evento de abertura em Campinas Carla Duprat, Ana Tomazelli durante aula do programa Liderança para o Impacto Mentoria coletiva que marcou o encerramento do Desafio da Captação Inteligente

26 Ecossistema Social

O Mapa do impacto

Agente de mudança: Tamires Clei Nunes

Empreendimento: Práxis - Soluções de impacto socioambiental

Buenópolis, Minas Gerais, Brasil Cursos Ago Social: Empreendedorismo Social na Real; AcelerAção

Uma das premissas fundamentais para ser considerado um empreendimento social é o impacto de transformação positiva que determinada organização é capaz de causar na sociedade como um todo. Em operação desde 2021 com a o propósito de capacitar lideranças, gestores, profissionais e atores envolvidos com o ecossistema social para uma gestão sustentável e de muito resultado em suas organizações e projetos, a Ago Social já capacitou, em pouco mais de dois anos, mais de 1.000 empreendedores sociais, de todo o Brasil e de fora também, potencializando e replicando seu impacto para as próprias organizações e comunidades em que atuam – e para a sociedade de forma geral. Mostramos a cada edição, aqui no Mapa do Impacto da Ago, atores desta imensa cadeia de transformação positiva que já impactamos e seus propósitos.

1.785 empreendedores sociais 26 Estados + DF 175 Cidades

Agente de mudança: Paulo Eduardo Pereira

Empreendimento: SC CAPTA

Ilhota, Santa Catarina, Brasil Curso Ago Social:

Empreendedorismo Social na Real

+ de5 países

72% mulheres

39% negros e pardos

Por Camila Gino com Talita Duprat, Articulista Time Ago Divulgação | ARTICULISTA TALITA DUPRAT
Foto: Ago Social: os números do impacto
Foto: Divulgação

impacto da ago

Agente de mudança: Fabrício Nascimento da Cruz

Empreendimento:

Atairu - Gestão e Inovação Social Ituberá, Bahia, Brasil

Cursos Ago Social: AcelerAção - turma 1

Agente de mudança: Heitor do Nascimento Arrais

Empreendimento: Palha Popular Goiânia, Goiás, Brasil

Cursos Ago Social: Empreendedorismo Social na Real; Liderança para o Impacto

Agente de mudança: Melissa Senne Pelhon

Empreendimento: Compra do Bem

Florianópolis, Santa Catarina, Brasil

Cursos Ago Social: Empreendedorismo Social na Real; AcelerAção

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação Buenópolis,
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Atairu
Ilhota

Atairu

Agente de mudança: Fabrício Nascimento da Cruz Empreendimento: Atairu - Gestão e Inovação Social Ituberá, Bahia, Brasil Curso Ago Social: AcelerAção

“Em 2022 tivemos uma aproximação com a Ago Social através do Programa de Aceleração, que foi fundamental para desenvolvermos e testarmos o que hoje é um dos nossos principais produtos: a tecnologia de gestão social (TGS) Atairu, um negócio de impacto social especializado em gestão do conhecimento, sustentabilidade e inovação social. O objetivo fundamental é o fortalecimento das capacidades de comunidades escolares e/ou redes de ensino para desenharem e implementarem os modelos de gestão colaborativa da integração das tecnologias digitais na educação pública. Ao longo da jornada de aceleração, principalmente nas mentorias, foi muito positivo estudar melhor o mercado, pivotar uma solução que estava paralisada, qualificar abordagens de clientes, entre outros aspectos. Ao final, conseguimos concluir a venda e implementar a TGS em 14 municípios da região Baixo Sul da Bahia. Agora, partimos para outro desafio: expandir para outras escolas ou redes na Bahia, bem como nos mobilizar para levar para outras regiões do país, em formato presencial, remoto ou híbrido. A jornada foi bastante desafiadora e estar conectado ao ecossistema da Ago fez toda diferença, pois somos incentivados a avançar e crescer coletivamente. É em rede que temos mais força para enfrentar desafios complexos e sistêmicos.”

Agente de mudança: Heitor do Nascimento Arrais

Empreendimento: Palha Popular Goiânia, Goiás, Brasil

Cursos Ago Social: Empreendedorismo Social na Real; Liderança para o Impacto

“A maior transformação que tive ao passar pelo programa da Ago foi de mentalidade, porque foi através dele que consegui compreender o ecossistema de impacto como um todo. Eu já tinha vivência na área social com uma ONG de que participo, porém, não entendia como funcionava toda a sistemática, o mecanismo econômico por trás dessas ações que muitas das vezes nascem de uma boa vontade de um grupo de pessoas que querem transformar o mundo, a sociedade, de maneira muito empírica. O programa da Ago Social me trouxe isso de maneira didática, mostrando com amplitude todos os caminhos necessários para o nascimento e o desenvolvimento do negócio social, assim como a geração de impacto e sua medição na sociedade. Nosso negócio, a Palha Popular é um negócio social com objetivo de proporcionar melhoria de vida para famílias de baixa renda por meio de reformas residenciais, ajudando a diminuir o déficit habitacional qualitativo e a pobreza nas periferias.”

Heitor Arrais (Palha Popular) Foto: Divulgação
28 Ecossistema Social
Foto: Divulgação

Agente de mudança: Melissa Senne Pelhon

Empreendimento: Compra do Bem Florianópolis, Santa Catarina, Brasil Cursos Ago Social: Empreendedorismo Social na Real; AcelerAção

Compra do Bem

“A Compra do Bem é um marketplace de impacto, que conecta pequenos negócios que precisam de visibilidade a ONGs que precisam de dinheiro.Na Compra do Bem, todo mundo ganha! Os consumidores ganham desconto, os pequenos negócios ganham visibilidade e as ONGs ganham dinheiro. Com a Ago, a gente deixa de ser ‘Empreendedor Solo’. Desde o aprendizado, totalmente aplicado ao negócio, com professores trazendo feedbacks pontuais. Passando pela comunidade conectada de alunos, se ajudando e formando parcerias. Também a rede de pessoas do bem, trazidas pela Ago em suas lives, oficinas, etc. E a equipe Ago, sempre pronta para nos ajudar com dúvidas, notícias e eventos do setor. Uma ‘equipe’ imensa se apoiando, com o mesmo objetivo de fazer um mundo melhor.”

Agente de mudança: Tamires Clei Nunes

Empreendimento: Práxis - Soluções de impacto socioambiental

Buenópolis, Minas Gerais, Brasil Cursos Ago Social: Empreendedorismo Social na Real; AcelerAção

“A Práxis - Soluções de Impacto oferece desburocratização de processos para pessoas físicas e jurídicas e a administração pública. Eu e Daniel, meu companheiro de vida e sócio, começamos a idealizar nossa consultoria em 2017, na universidade. Devido à nossa própria insegurança, ficamos apenas no planejamento. Até que, em 2021, vi o anúncio do curso Empreendedorismo social na real e me inscrevi. Foi neste curso que compreendi que nossa ideia de ter um negócio com o eixo de solucionar problemas sociais não era loucura. Mas sim uma modalidade válida de negócio. Consegui tirar a ideia da cabeça e organizar no papel, um esboço do que seria meu plano de negócio. Finalizei o curso e logo emendei na Aceleração. Me aprofundei ainda mais no planejamento estratégico de venda das minhas soluções. Formalizamos a empresa em novembro de 2022 e tenho vivido a trajetória empreendedora na real. Estamos a cada dia avançando mais dentro do ecossistema de impacto. Costumo brincar que, depois que passei pela Ago, virei sua testemunha. Sempre que tenho oportunidade, indico para que novos empreendedores sociais a conheçam.”

Agente de mudança: Paulo Eduardo Pereira

Empreendimento: SC CAPTA

Ilhota, Santa Catarina, Brasil

Curso Ago Social: Empreendedorismo Social na Real

“O que pude ver de transformação após ter participado do programa de Empreendedorismo

Práxis Soluções

Social na Real é que é possível trabalhar na área social. Que é possível fazer a diferença e, também, ser uma empresa. Então, podemos ter lucro e gerar impacto social ao mesmo tempo. A SC CAPTA é um negócio social voltado à assessoria de OSCs, com o objetivo de criar, organizar e adequar os projetos para que tenham condições de pleitear recursos públicos e privados. Ou seja, fazer com que os recursos possam chegar a essas entidades, dando uma melhor qualidade nos trabalhos desenvolvidos. Então acho que o programa da Ago abriu mais a minha cabeça, transformou os meus pensamentos. Porque, quando falamos ‘ah, eu trabalho com projetos sociais’, muitos vêm com aquela ideia de ‘ah, vou trabalhar de graça’. Mas não é bem por aí. Acho que podemos ter um equilíbrio entre o social, causar impacto positivo e também gerar lucro como uma empresa.”

Foto: Divulgação Foto: Divulgação
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Foto: Divulgação

Conheça os Professores da Ago

Ensino de impacto

Com um quadro de feras da educação e atuação no ecossistema social brasileiro e global, a Ago Social já lançou mais de 10 programas de educação, envolvendo um time de mais de 70 professores convidados. Conheça a cada edição um pouco mais sobre este ‘dream team’ da educação para o empreendedorismo social.

Liderança não é um cargo, não é sobre ou uma característica de alguém. É um fenômeno social: são os relacionamentos e as condições do contexto que criam a oportunidade para que alguém, com legitimidade social, ajude um grupo a superar um desafio.

MATHEUS HADDAD

WebGoal & Organicca

“Minha maior paixão é a minha filha Dafne. Também gosto de ler livros, pescar e viajar. Meu maior sonho é trilhar o Caminho de Santiago de Compostela. Sou mineiro, de Alfenas, mas atualmente moro em Portugal. Sou um dos sócios da Webgoal, holding de empresas que fundei em 2008, em que atuo como Consultor de Negócios e Facilitador de Projetos no Ateliê de Software; como Consultor de Negócios no Granatum; e como Diretor-Administrativo na Escola Lumiar Poços de Caldas. Também atuo como Consultor em Gestão na Orgganica, empresa que ajuda organizações a adotar modelos de gestão mais ágeis. Comecei a me envolver com impacto social pela Ordem Demolay e por diversas organizações sociais, em que ajudo na organização de eventos e realização de cursos/treinamentos. Minhas maiores conquistas foram criar a Webgoal e a Granatum e abrir uma unidade da escola para oferecer à comunidade uma proposta inovadora de ensino-aprendizagem. "

Minha maior paixão é a redução de desigualdades. Trabalho para ampliar o acesso à educação empreendedora. Meu sonho é ver isso transformado em política pública.

LINA USECHE

Co-Fundadora Aliança Empreendedora

“Vejo a Ago como o espaço mais completo para que os empreendedores possam se desenvolver e seus empreendimentos sociais. E tem algo muito especial: a Ago é muito acolhedora, inclusiva, feita por empreendedores para empreendedores sociais, com muita paixão. Meu primeiro contato com o setor social foi na JR Consultoria onde pude atuar em uma ONG que apoiava jovens empreendedores de periferia. Essa ONG deu origem à Aliança Empreendedora. Sou administradora com pós-graduação em Direito do 3º Setor e formação em Performance Measurement for Effective Management of Nonprofits pela Harvard e em Social Innovation & System Entrepreneurship pela University of Cape Town. Sou membro do Conselho Consultivo da ASID e faço parte da rede de fellows da Rockefeller Foundation. Fui selecionada também como membro da rede Global Shapers do Fórum Econômico Mundial e como fellow global da Vital Voices. Sou YouthActionNet global Fellow pela International Youth Foundation."

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Por Mariana Micheleto, Articulista Time Ago Foto: Divulgação Foto: Divulgação Foto: Gus Benke

Empreendedorismo

feminino: desaFIos e superação

Segundo dados da pesquisa “Female Founders Report 2021”, embora a população feminina seja majoritária no Brasil, as mulheres representam em média apenas 19% dos cargos de liderança em empresas.

Ainda de acordo com a pesquisa, quando se observa o empreendedorismo de inovação, a desigualdade se repete sob vários aspectos: somente 4,7% das startups são fundadas exclusivamente por mulheres e apenas 2,2% do total de investimento nos últimos 10 anos foi direcionado a elas.

Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos em 2018 aponta que, apesar de receberem menos investimento, as startups fundadas ou cofundadas por mulheres geram mais retorno financeiro do que aquelas fundadas somente por homens.

QUAL O MOTIVO DA DISPARIDADE?

Ela é gerada por questões culturais que estão impregnadas na sociedade e tendem a ser reproduzidas em todos os segmentos de mercado.

Em artigo publicado pela Harvard Business Review são identificados 05 principais padrões de preconceitos enfrentados pelas mulheres:

EMPREENDEDORISMO FEMININO, 05 PADRÕES DE PRECONCEITO

01. Necessidade de provar sua capacidade reiteradamente.

02. Necessidade de reproduzir padrão de conduta masculino para ser considerada competente, sem perder a feminilidade esperada pelo meio social.

03. Diminuição das oportunidades de crescimento profissional após a maternidade.

04. Dificuldade imposta por superioras que sofreram discriminação muito duras em suas vidas e as replicam.

05. Isolamento social, principalmente entre mulheres negras e latinas.

Fonte: Harvard Business Review

Tais preconceitos geralmente são implícitos, refletindo estereótipos que sequer são percebidos por quem os propaga e perpetua.

COMO LIDAR: RECONHECER

Para enfrentar estes desafios, é necessário a criação de processos de identificação de vieses e preconceitos, bem como treinamento específico de professores, recrutadores, mentores, investidores, para que a participação feminina possa acontecer de forma plena, garantindo o alcance do ODS 5:

“Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”. Todos somos responsáveis pelas mudanças, em qualquer posição em que estivermos.

Qualificar o olhar para identificar os desafios é o primeiro passo.

PESQUISA RECENTE REALIZADA NOS EUA INDICA QUE NEGÓCIOS FUNDADOS OU COFUNDADOS POR MULHERES PODEM TER RESULTADOS FINANCEIROS MELHORES QUE AQUELES FUNDADOS SOMENTE POR HOMENS

05 padrões de preconceito Leia o artigo da Harvard Business Review: “The 5

Biases Pushing Women Out of STEM”, por Joan C. Williams, Harvard Business Review, 2015.

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Female Founders Report 2021
Foto: Divulgação
Por Fernanda Andreazza, Articulista Estruturação Jurídica e Governança Sócia Andreazza, Otsuka e Botelho Advogados Associados e Cofundadora WIM Angels
Gestão Fácil

O FESTIVAL ABCR É UM

EVENTO ANUAL QUE REÚNE PROFISSIONAIS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

INTERESSADAS EM COMPARTILHAR CONHECIMENTO E EXPERIÊNCIAS NA ÁREA DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS

15 anos de Festival ABCR

Por Fernando Nogueira, Articulista Gestão e Captação Diretor-executivo da ABCR

AO LONGO DE 15 EDIÇÕES, QUE COMPLETA EM 2023, O FESTIVAL ABCR GANHOU RECONHECIMENTO E CRESCEU EM

Em 2023 chegamos à 15a edição do Festival ABCR, maior evento de captação de recursos da América Latina. São 15 anos compartilhando técnicas, conhecimentos, valores e inspiração na busca de um setor social mais forte e sustentável. O evento é realizado pela ABCR, a Associação Brasileira de Captadores de Recursos.

Nesse breve artigo, começamos relembrando a trajetória do evento, bem como discutindo seu impacto. Para, ao final, trazemos alguns destaques do Festival ABCR de 2023 e dicas para aproveitar ao máximo este e outros eventos do setor.

Origens do festival

O Festival ABCR é um evento anual que reúne profissionais e organizações do terceiro setor interessadas em compartilhar conhecimento e experiências na área de captação de recursos. O festival tem como objetivo promover o fortaleci-

Considerado o maior evento de captação de recursos da América Latina, o Festival ABCR chega a 15ª edição em julho com expectativa de receber em torno de 800 participantes. Na foto, edição 2022 do evento

mento do setor social no Brasil, buscando soluções inovadoras e sustentáveis para o financiamento de projetos e causas sociais.

A ABCR foi fundada em 1999, como uma organização voltada para o desenvolvimento e aprimoramento da captação de recursos no Brasil. O primeiro festival aconteceu 10 anos depois, e foi um marco importante para a disseminação de conhecimento e networking entre os profissionais da área.

Começou com o nome de FLAC - Festival Latino Americano de Captação de Recursos, sempre trazendo a proposta de integrar o Brasil às discussões da América Latina. Após alguns anos, optou-se por simplificar o nome, chegando ao Festival ABCR. Mas sem perder, é claro, o diálogo com captadores e consultores de outros países, tanto de nossos vizinhos como palestrantes dos Estados Unidos e da Europa.

Foto: Divulgação
E
TAMANHO
RELEVÂNCIA
Foto: Divulgação
32 Festival ABCR | 15ª Edição

Interesse crescente

Com o passar do tempo, o Festival ABCR ganhou reconhecimento e cresceu em tamanho e relevância. O evento passou a contar com uma programação diversificada, incluindo palestras, painéis, workshops e atividades interativas. Além disso, o número de participantes e patrocinadores aumentou consideravelmente, refletindo o interesse crescente pela captação de recursos no setor social.

O Festival ABCR tem acompanhado as mudanças e as tendências do setor social ao longo do tempo. Desde o início, abrigamos discussões sobre técnicas, ferramentas de gestão, caminhos para a sustentabilidade, ética na captação e profissionalização do setor.

Ao longo dos anos, a programação passou a abordar temas como crowdfunding, captação de recursos online, parcerias com o setor empresarial, inovação social, entre outros. O evento busca apresentar as melhores práticas e as estratégias mais eficazes para a captação de recursos, adaptando-se às demandas e desafios contemporâneos.

Networking e parcerias

É, cada vez mais, um espaço importante para o networking e a colaboração entre os profissionais da área. Além das atividades formais, o evento oferece oportunidades de interação e troca de experiências entre os participantes. Essa rede de contatos fortalece a comunidade de captadores de recursos, promovendo a aprendizagem contínua e a construção de parcerias estratégicas.

O Festival é também espaço para diálogo visando a incidência política. Já contamos com a presença de gestores públicos, deputados e senadoras para discutir o avanço de leis e políticas que afetam o setor, como redução do ITCMD, Marco Bancário da Doação, melhorias em Leis de Incentivo, entre outros. A discussão ampla e pública sobre a ética na captação de recursos também teve espaço fundamental nessa trajetória.

Neste ano de 2023, contamos no Festival ABCR com 14 patrocinadores, mais de 70 palestras e uma previsão de público de cerca de 800 participantes.
A ABCR foi fundada em 1999, como uma organização voltada para o desenvolvimento e aprimoramento da captação de recursos no Brasil. O 1o festival aconteceu 10 anos depois, e foi um marco importante.
Foto: Divulgação Foto: Divulgação A programação do Festival passou a abordar, ao longo dos anos, temas como crowdfunding, captação de recursos online, parcerias com o setor empresarial, inovação social, entre outros e agora, este ano, até mesmo inteligência artificial
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O 1o nome do festival foi FLAC - Festival Latino Americano de Captação de Recursos; depois passou a se chamar Festival ABCR, como hoje é conhecido

AGORA

Captadores e financiadores

Em sua 15a edição, o Festival ABCR traz a consolidação do modelo que vem sendo aplicado nos últimos anos. A maior parte da programação é selecionada por meio de edital público, em que associados da ABCR e lideranças do setor enviam suas propostas de palestras e mesas. A seleção é feita por um Comitê Científico voluntário, todo composto por associados. Os principais critérios de seleção são adequação aos temas do evento, qualidade da proposta e originalidade da abordagem. Este ano, 45 palestras foram selecionadas desta forma, a partir de mais de 100 submissões.

A programação é completada com as plenárias, com o palco ABCR (com curadoria da própria associação), o palco dos patrocinadores e as palestras internacionais. Vale destacar que, este ano, as plenárias trarão um diálogo fundamental entre captadores e financiadores em torno de algumas das principais causas do setor, como educação, saúde e inclusão produtiva.

Ago e Revista Agora no Festival ABCR

O 15º Festival ABCR é ocasião também do lançamento desta Edição 01 da Revista Agora, após o sucesso da edição-piloto, apresentada oficialmente no mês de abril, durante o FIFE 2023, em Belém. “Nossa revista trimestral é um convite para que todo o ecossistema social participe e se manifeste através de suas páginas. Agora é uma revista de todos, plural em vozes, conceitos e olhares”, destaca Alexandre Amorim, CEO e cofundador da Ago Social, casa editora da revista.

Inteligência artificial

O palco avançado está entre as principais novidades deste ano. O Festival, historicamente, buscou um equilíbrio de conteúdo de ponta no tema da captação com palestras mais acessíveis, passando os fundamentos do setor para profissionais e organizações começando sua trajetória. Com o desenvolvimento e amadurecimento do setor, sentimos a demanda por haver mais claramente um espaço para trazer palestras de conteúdo avançado. É pressuposto que os temas e as técnicas ali tratados serão mais bem aproveitados pelos participantes que já têm considerável bagagem no setor.

Além disso, há muitos temas inovadores presentes em toda a programação. Haverá discussões sobre uso de inteligência artificial para captação.

E debate sobre práticas inovadoras em campanhas comunitárias do Dia de Doar? Sim!

Teremos ainda uma mesa sobre saúde mental no setor – um grande desafio pra quem vive a pressão diária por resultados.

Enfim, muitas e muitas mesas sobre diferentes técnicas, fontes e estratégias: de emendas parlamentares aos fundos patrimoniais, passando por captação digital, storytelling, voluntariado e jornada do doador.

A AGO SOCIAL RETORNA COMO PARTICIPANTE DO FESTIVAL ABCR, QUE DEMARCA TAMBÉM O LANÇAMENTO DA EDIÇÃO 01 DA REVISTA AGORA
2023 Acesse aqui gratuitamente a versão digital da revista AGORA Alexandre Barbosa Alexandre Amorim O IMPACTO SOCIAL E ESG EM REVISTA
ma inic ativa ocada no entabi idade ecimento da são de impacto puls onar a soc al dedorismo socia zer essa expertise e sent do" dade
Duas histórias e um propósito: o empreendedorismo social
Foto: Divulgação Foto: Divulgação
34 Festival ABCR | 15ª Edição
Após participar em 2022, a Ago Social retorna ao Festival ABCR 2023 com plenária, estande e trazendo a edição 01 de sua nova revista, Agora

Como aproveitar o melhor do Festival ABCR

TRAZEMOS DICAS PARA APROVEITAR BEM A EXPERIÊNCIA NO FESTIVAL ABCR. AH, E VALE TAMBÉM PARA OUTROS EVENTOS DO SETOR.

Estude a programação

São mais de 70 horas de conteúdo em 2 dias. Sempre haverá escolhas difíceis. Estude a programação com antecedência e identifique as palestras que mais lhe ajudarão. Boa parte dos palcos está organizada por eixos temáticos, como Comunicação, Inovação, Profissional da Captação. Use a seu favor!

Uma andorinha só…

Muitos participantes vão ao Festival em equipe. Se é o seu caso, aproveite! Divida sua equipe para focar em conteúdos diversos, trocando experiências. Momentos como coffee breaks, almoço e coquetel são oportunidades de troca e informação.

Contatos e inspiração

Patrocinadores e prestadores de serviço

O espaço dos estandes dos patrocinadores compreende alguns dos maiores prestadores de serviços voltados à captação de recursos e boa gestão no 3º Setor. Os patrocinadores e apoiadores ainda dão oportunidades de mentorias expressas.

Divirta-se!

Sabemos que eventos como o Festival ABCR são muito intensos e cansativos. Mas é possível encarar essa jornada com leveza e bom humor. É o momento de reencontrar velhas amizades ou fazer novas! É a oportunidade de estar junto de centenas de outras pessoas que, como você, lutam diariamente por um Brasil mais justo e menos desigual.

Desperte o potencial da sua ONG e supere os desafios da captação de recursos com o Programa Captação Inteligente

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Cansado de lutar sozinho pela sua causa? Não desanime, a Ago vai te ajudar a tornar sua jornada financeiramente sustentável!

Não perca tempo!

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As trajetórias dos Echam, que vieram do Afeganistão, e da própria Compassiva mostram a importância de dar visibilidade à questão da inclusão e da promoção de diversidade vinculadas a refugiados e imigrantes

Uma casa que abriga esperança

INCLUSÃO E DIVERSIDADE EM TODAS AS LÍNGUAS: PROGRAMA LAR, DA COMPASSIVA, CONTA COM SUPORTE DA B3 SOCIAL, EM PARCERIA COM A AGO SOCIAL, PARA FORTALECER SUA ATUAÇÃO NO APOIO E CONEXÃO DE REFUGIADOS NO BRASIL COM O MERCADO DE TRABALHO

Neste exato momento, enquanto você lê este artigo na Revista Agora, em diferentes lugares do mundo milhares de pessoas estão deixando seus lares em busca de uma chance de sobrevivência.

É o caso da família Echam, que fugiu do Afeganistão e conseguiu refúgio no Brasil. Em seu país natal, pai, mãe e quatro filhos tinham uma vida estável – apartamento, terreno, dois carros, dinheiro no banco, emprego em uma multinacional. Para salvar suas vidas do regime fundamentalista do grupo Talibã, a saída foi deixar tudo para trás.

Apoio para recomeçar

O recomeço em outro país, apesar de talvez ser a única alternativa de sobrevivência, não é nada fácil para milhões de pessoas que vivem a mesma experiência dos Echam. Uma das poucas formas de amenizar essa realidade tão dolorosa é o trabalho de organizações sociais que atuam em diferentes frentes.

Uma delas é a Compassiva, instituição da cidade de São Paulo que participou neste ano do projeto Consultoria Social, uma iniciativa da B3 através da B3 Social e parceria com a Ago Social.

Foto: Gus Benke Foto: Divulgação
Diversidade | Compassiva
Fotos: Divulgação

Programa Lar

A Compassiva atua com suporte a pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade. Em 2014, passou a desenvolver ações de acolhimento e suporte a pessoas refugiadas em situação de vulnerabilidade.

Por meio do Programa Lar, começou oferecendo aulas de português, mas logo houve a necessidade de estender o apoio, como conta Caetano Aurélio Pinilha, fundador da organização. “A partir das aulas, o serviço de assistência social foi se desenvolvendo, com visitas às casas, encaminhamento médico e social, levantamento de necessidades, matrícula nas escolas, doações e encaminhamento para emprego.”

Consultoria social

Atualmente, também existe o trabalho de revalidação de diplomas de profissionais refugiados, o qual está diretamente ligado ao processo vivido pela Compassiva no projeto Consultoria Social.

A instituição, que hoje atua como uma organização da sociedade civil (OSC), pretende se tornar um negócio social e desenvolver uma operação que conecte esses profissionais a empresas que pretendem investir em diversidade e inclusão.

Hoje, todo esse suporte está sendo oferecido à família Echam, que foi acolhida pelo Projeto Lar. Lá, ela recebe moradia, assistência social e acompanhamento para recolocação no mercado de trabalho dentro da área de formação acadêmica.

Uma história de resultados e reconhecimento

O Projeto Lar já alcançou muitas pessoas com acolhimento e encaminhamento médico, escolar e profissional. Além disso, em 2022, ofereceu moradia a outras quatro famílias refugiadas, auxiliando um total de 26 pessoas.

E esse suporte tão essencial, que começou com refugiados sírios, hoje se estende a imigrantes venezuelanos e afegãos. Merecidamente, todo esse trabalho foi reconhecido por três anos consecutivos pela prefeitura municipal de São Paulo através do Selo de Direitos Humanos e Diversidade.

Para o futuro, o objetivo é captar empresas de pequeno e médio porte como parceiros para empregabilidade. Locais que, segundo descreve o fundador da Compassiva, Caetano Aurélio Pinilha, “entendam essa

As trajetórias dos Echam e da própria Compassiva mostram a importância de dar visibilidade a essa questão. Afinal, a inclusão e a promoção de diversidade vinculadas a refugiados e imigrantes é uma dor do mundo atual, mas que pode ser amenizada com um olhar mais humano.

questão do acolhimento e vejam o quanto isso culmina na autonomia da família”.

Sobre o Projeto Consultoria Social

O projeto Consultoria Social nasceu para reunir soluções estratégicas para organizações sociais apoiadas pela B3 e a expertise de seus colaboradores atuando como voluntários.

A partir de um recrutamento interno orientado para tais propósitos, aconteceu o match entre os mentores voluntários e as organizações. O cruzamento entre informações específicas promoveu o encaixe mais alinhado possível, inclusive, pensando na adequação da linguagem para evitar “muros” na comunicação e abrir espaço para o acolhimento mútuo.

Os resultados, ao final do período de formação, foram a sensação de contribuição por parte dos voluntários, o desenvolvimento de aspectos cruciais para o crescimento das organizações e, até mesmo, vínculos que se estenderam para além do programa.

Caetano Aurélio Pinilha, fundador da Compassiva, que tem entre seus programas o Projeto Lar, de acolhimento e apoio a refugiados em situação de vulnerabilidade: o projeto começou oferecendo aulas de português, mas logo houve a necessidade de estender o apoio

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“Sem esse apoio, dificilmente uma família refugiada vai conseguir se estabelecer em solo brasileiro”, observa Caetano Pinilha.
Conheça o trabalho da Compassiva Conheça o trabalho da B3

Trajetória de descoberta

APÓS ACELERAÇÃO, COOPRIMA PASSA DE 38 PARA 85

BENEFICIADOS EM APENAS 4 MESES

CONHEÇA A HISTÓRIA DA COOPRIMA, NO PARÁ, E COMO PASSOU A GERAR IMPACTO 360º, ALÉM DE AUMENTAR OS ASSOCIADOS E SEU ENGAJAMENTO, APÓS PARTICIPAR DO PROGRAMA BTG SOMA MEIO AMBIENTE

Uma conhecida expressão popular diz: “Conhecimento não colocado em prática é apenas informação”. Tal afirmação certamente não se aplica à Cooprima – Cooperativa de Trabalho dos Agricultores Familiares do Município de Primavera, no Pará. A organização integrou o programa de aceleração

BTG Soma Meio Ambiente, uma iniciativa do banco BTG Pactual em parceria executiva com a Ago Social.

Origem com propósito

História que começa com um propósito. Este é o ponto de partida da Cooprima.

Criada em 2013, a Cooprima nasceu com o olhar para a agricultura familiar. Na época, os gestores usaram uma área de 45 hectares para alocar 30 famílias e desenvolver um projeto voltado ao objetivo, inicialmente, de levar capacitação e incentivos aos produtores.

Novos e sustentáveis rumos

Ao concluir o programa BTG Soma Meio Ambiente, o foco mudou para o viés da produção sustentável. A cooperativa passou a adotar um modelo da agroecologia, com a prática de preservação do meio ambiente. Financeiramente, durante um bom tempo, a Cooprima foi dependente de incentivos vindos de políticas

públicas. Até que, em 2022, foi selecionada para a aceleração BTG Soma Meio Ambiente e começou a mudar esta realidade.

Na prática, houve uma evolução de olhar. A Cooprima passou a enxergar a possibilidade de impacto em tudo o que era feito. Foram criados então Key Performance Indicators – KPIs, ou seja, indicadores-chaves de performance, para onde as ações passaram a convergir.

Como define o diretor-operacional da Cooprima, José Edivaldo da Silva Mota Júnior, a participação no programa foi “virada de chave, um start”.

Desenvolvimento

A partir de seu nascimento, a cooperativa cresceu espontaneamente, sem que se desse conta. A consequência foi que os cooperados não se sentiam parte do negócio. Eles viam a instituição apenas como um canal de vendas, onde deixavam seus produtos para que fossem comercializados. Essa falta de engajamento gerava problemas internos, como centralização e sobrecarga. Porém, os aprendizados adquiridos durante o BTG Soma Meio Ambiente proporcionaram uma nova visão de trabalho.

Segundo Edivaldo, houve ainda outros pontos altos de aprendizado. “Todos os momentos foram muito importantes, mas dois marcaram muito: a consciência a respeito da sustentabilidade financeira e da expansão do impacto. Quando vi dentro do programa os exemplos de modelo de negócio que foram apresentados, aquilo acendeu uma luz e me mostrou o que era possível.”

Hoje, a Cooprima tem metas financeiras e de captação de recursos bem estabelecidas. As coisas passaram a estar planejadas e todos estão trabalhando em convergência, para fazer tudo acontecer.

38 Potencial de Impacto | Cooprima
Como define o diretor-operacional da Cooprima, José Edivaldo da Silva Mota Júnior, a participação no programa foi “virada de chave, um start”.
Por Fabíola Melo e Giovanna Caminha, Articulistas Time Ago Foto: Gus Benke Foto: Divulgação Oficina de sabonetes para esposas de apicultores integrantes da Cooprima, cooperativa que integrou o Programa BTG Soma Meio Ambiente 2022, com execução pela Ago Social: desenvolvimento de negócios socioambientais escaláveis

Envolvimento

Com relação ao envolvimento dos cooperados, foi estabelecido um trabalho de acolhimento e conscientização. Isso levou o grupo a entender o que é cooperativismo, e ainda: o que significa fazer cooperativismo na Amazônia e também visualizar as possibilidades relacionadas.

Foi mais um importante passo: gerar valor não somente para o consumidor dos produtos, mas também para quem está dentro do negócio.

Resultados imediatos

Quando iniciou no programa BTG

Soma Meio Ambiente, Edivaldo con-

tava com 38 cooperados. Ao final dos meses de formação, o número avançou para 85. Isso aconteceu a partir de uma nova postura de estruturação e crescimento.

Mais pessoas passaram a ter desejo de fazer parte, mas o plano passou a ser crescimento com base em planejamento estratégico. “Se não tivermos mercados para abarcar todos, não adianta abrir as portas”, pondera Edivaldo.

Outras mudanças após o programa vieram relacionadas a diferentes frentes de trabalho: conscientização dos produtores sobre os benefícios de sistemas integrados de produção; incentivo ao engajamento dos jovens; inclusão das mulheres em

posições de gestão e liderança. Para a Cooprima, o programa BTG Soma Meio Ambiente concretizou a necessidade de compreender os elementos com os quais atuava:

1- Entender o modelo de negócio

2 - Entender o tipo de impacto causado nas pessoas e no território;

3 - Compreender como esse impacto pode gerar maior sustentabilidade para a própria cooperativa e para sociedade.

Antes, apesar de haver uma proposta, as coisas eram construídas sem perspectiva. Agora tudo tem estratégia e planejamento. “Dentro do programa aconteceu uma mudança de mindset, de pensamento.”

A dimensão do impacto gerado

A região onde opera, no nordeste do Pará, historicamente não tem uma tradição de produção sustentável. Portanto, para o bioma amazônico, já começam ali os efeitos da intervenção da cooperativa.

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Preservar

Produzir

Saiba mais:

COOPRIMA

Cooperativa de Trabalho dos Agricultores

Familiares do Município de Primavera

As ações executadas se inserem neste cenário, mostrando ao agricultor familiar que ele pode, sim, produzir em pequenos espaços, tirar deles o sustento com qualidade, consumir alimentos de maior qualidade e, tudo isso, enquanto preserva o ecossistema.

Nesse caminho, a cooperativa, além de tudo, ainda conecta o homem do campo e o mercado, gerando um impacto em 360 graus. Em outras palavras, conservando o bioma e promovendo benefícios econômicos e sociais.

São resultados que transformam a realidade dos produtores cooperados, despertando confiança diante do mercado e promovendo mudança de vida para quem está envolvido com o processo.

José Edivaldo da Silva Mota Júnior, diretor-operacional da participaçãoCooprima: no programa Soma Meio Ambiente, foi uma “virada de chave, um start”

Dentro da atuação voltada ao impacto 360º adotada pela Cooprima, as mulheres tiveram maior inclusão em posições de gestão e liderança

39
A GERAÇÃO DE IMPACTO DA COOPRIMA LEVA EM CONTA UM TRIPÉ DE SUSTENTABILIDADE.

Impacto Exponencial: uma resposta para escala e crescimento

CONHEÇA OS 4 PILARES DE INOVADORA METODOLOGIA DESENVOLVIDA PELA AGO SOCIAL QUE PERMITE MULTIPLICAR EXPONENCIALMENTE O IMPACTO CAUSADO POR UMA ORGANIZAÇÃO

VOCÊ JÁ PAROU PARA PENSAR EM QUAL O MAIOR ATIVO QUE SUA ORGANIZAÇÃO TEM?

Você já parou para se perguntar por que vemos muitas organizações sociais com nenhum ou quase nenhum crescimento ano após ano? Em que o número e a forma de atendimentos são sempre os mesmos?

Agora, pensemos em uma organização que atende 150 crianças e jovens com uma metodologia incrível, resultados comprovados, em uma sede linda, com ótimos profissionais e parcerias relevantes.

Vamos refletir: qual é o maior ativo, ou a coisa mais importante que esta organização tem?

No dia a dia, com a rotina de captação, time, urgências, prestação de contas e afins, a organização não consegue nem parar para pensar em qual é o seu maior ativo.

Nova metodologia

Olhando para esses desafios, a Ago Social tem pesquisado com profundidade sobre esse crescimento. E desenvolveu a metodologia “Impacto Exponencial”

Desde novembro, estamos implementando o projeto, em parceria com a Fundação FEAC, onde duas organizações receberão a metodologia completa ao longo de 19 meses.

Em abril, tive a oportunidade de trazer esta inovadora metodologia em primeira mão para mais de 700 pessoas no FIFE – Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica, em Belém.

Por Alexandre Amorim, Cofundador e CEO Ago Foto: Divulgação FIFE
40 Estratégia | Impacto multiplicado
Foto: Gus Benke

4 Pilares do impacto exponencial

De todo o processo contemplado pela metodologia Impacto Exponencial, criada para multiplicar em diversas vezes o impacto de uma organização, extraímos 4 pilares que são fundamentais. E eles são replicáveis para as diferentes realidades das organizações do nosso país. Vamos a eles:

PILAR

1

Olhar Externo: no dia a dia, o gestor de uma organização social conhece com profundidade os problemas e funcionamentos da sua causa, mas imerso em uma agenda intensa, de muitas urgências, não consegue criar um olhar externo sobre a sua organização.

Como aplicar: a recomendação é que a organização crie um conselho estratégico (não-formalizado no início), com reuniões constantes. O papel desse conselho será encontrar avenidas de crescimento da organização, identificando quais inovações, caminhos sustentáveis, farão com que cumpra aquilo que ela nasceu para fazer.

Resultados: Esse olhar externo vai mostrar para aquela organização que seu maior ativo é a sua metodologia, e não outras coisas que no cotidiano acabam por consumir 90% do esforço dos gestores.

PILAR

2

Visão de Futuro: com esses insights constantes e regulares, advindos de pessoas que trazem um olhar externo, é a hora de estabelecer uma grande visão de futuro que traduza o impacto que a organização nasceu para gerar. Uma visão ambiciosa. Como aplicar: esta visão deve ser traduzida num “roadmap”, ou seja, em um mapa de quais objetivos traçados nos próximos anos que levarão a organização ao alcance desse sonho. Outro ponto fundamental é a criação de uma “Teoria de Mudança”, para questionar e avaliar o real impacto gerado hoje e o que deve ser modificado para um impacto mais profundo e transformador.

Resultados: A visão de futuro poderá ser levar a metodologia transformadora para 150 mil alunos da rede municipal, transformando a educação no município.

A Ago Social tem realizado diversas publicações e está lançando um programa para trabalhar de forma muito prática a implementação desses 4 pilares. Vale conhecer mais a metodologia do Impacto Exponencial desenvolvida pela Ago e ser parte dessa Comunidade, feita para multiplicar o impacto em todo o Brasil. Estamos de portas abertas para contar mais a você e multiplicar esta ideia!

PILAR 3

Mentalidades: claro que de nada adianta buscar um olhar externo e estabelecer um grande sonho se a forma como pensam os gestores dessa organização continua a mesma.

Como aplicar: mudança de “mindset”, de pensamento. Mapeamos em nossas pesquisas com organizações e na academia 5 mentalidades fundamentais: escuta ativa, colaboração, pensar em abundância, pássaro na mão e a perda tolerável.

Resultados: as mentalidades darão segurança e coragem para avançar nos desafios, superando o medo de crescer e trabalhando em conjunto para um sonho coletivo.

PILAR 4

Capital Catalítico: é preciso aplicar algum capital na tração da avenida de crescimento.

Como aplicar: pode-se captar um capital de mais risco, que pode ser filantrópico ou de empréstimo, mas que vai levar aos primeiros passos da alavancagem da organização.

Resultados: no caso da organização, o capital catalítico pode ser descrever a metodologia em passos, um curso para professores e ações de divulgação desse método.

A nova e inovadora metodologia do Impacto Exponencial foi apresentada em primeira mão no mês de abril, durante o FIFE – Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica, em Belém, para um público de mais de 700 pessoas

Foto:
FIFE
Divulgação
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FIFE 2023: ponto de encontro do 3º Setor

A 10ª EDIÇÃO DO FÓRUM INTERAMERICANO DE FILANTROPIA ESTRATÉGICA CRISTALIZOU A ASSIMILAÇÃO DE UMA IMPORTANTE

TENDÊNCIA: A MAIOR CONSCIENTIZAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DA CAPACITAÇÃO PARA QUEM ESTÁ À FRENTE DE PROJETOS SOCIAIS

Por Thaís Iannarelli, Articulista Filantropia Diretora-executiva da Rede Filantropia

Nos dias 25 a 28 de abril de 2023, a Rede Filantropia realizou a 10ª edição do Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica – FIFE. O evento é itinerante e, dessa vez, aconteceu em Belém do Pará. Em dez anos, pudemos perceber o amadurecimento do setor quando se trata da busca por ferramentas de gestão eficientes e crescimento profissional de quem o compõe. Há também uma maior conscientização sobre a importância da capacitação para quem está à frente de projetos sociais.

Olhar abrangente

O FIFE, que contou com 750 participantes (gestores e gestoras de OSCs de todo o país) e 93 palestrantes de várias áreas de atuação, abordou aspectos da gestão em uma visão 360: temas nas áreas contábil, legal, de captação de recursos, voluntariado, administração, comunicação e marketing, RH e tecnologia.

Os temas de destaque foram:

- As mudanças na legislação do CEBAS (Certificação

MUDE O JOGO. AMPLIFIQUE SEU IMPACTO

de Entidades Beneficentes de Assistência Social).

- Os avanços na tecnologia

- Temas polêmicos, envolvendo a legislação do Terceiro Setor.

A Ago Social foi uma das patrocinadoras e também colaborou com uma sala temática e palestra, dada pelo CEO e cofundador Alexandre Amorim [veja reportagem nesta edição sobre Impacto Exponencial].

3º setor intenso

Temos acompanhado, ao longo de 10 anos de FIFE e 20 anos de Rede Filantropia, o desenvolvimento intenso do 3º Setor.

São profissionais cada vez mais preocupados em se profissionalizar. E organizações que prezam pelo planejamento em sua captação de recursos e pela excelência em sua prestação de contas e transparência.

E essa tem sido a missão da Rede Filantropia ao longo desses anos: fortalecer o setor de forma estratégica!

O seu crescimento não precisa ser uma dor. Descubra novas formas para gerar impacto social e coloque sua organização em um novo caminho para os próximos anos

Foto: Divulgação FIFE e leve sua organização social a novos caminhos para a transformação DESCUBRA O PROGRAMA
FAÇA SUA MATRÍCULA NO PROGRAMA IMPACTO EXPONENCIAL PELO QR CODE Eventos – FIFE 2023

Veja a movimentação do FIFE 2023

Programe-se

FIFE 2024

Quando: 23 a 26 de abril

Onde: Belo Horizonte (MG)

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Fotos: Divulgação

O que o Investimento social privado tem a ver?

COM O TEMA “DESAFIANDO ESTRUTURAS DE DESIGUALDADES", O 12º CONGRESSO GIFE PROVOCOU A FILANTROPIA BRASILEIRA A QUESTIONAR SUA ATUAÇÃO, COM REFLEXÕES VOLTADAS À JUSTIÇA SOCIAL

Em abril deste ano, o GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas realizou a 12a edição do seu Congresso, o maior evento sobre o Investimento Social Privado (ISP) no Brasil. Ao longo de três dias foram realizadas mais de 25 atividades, que reuniram 120 painelistas (e 1,2 mil participantes no total) discutindo temas relacionados à prática da filantropia. O tema geral foi "Desafiando Estruturas de Desigualdades".

Desafiando desigualdades

A escolha deste enfoque se deu à luz da visualização de um cenário de país –com 33 milhões de brasileiros sem ter o que comer; do racismo que demarca as relações sociais em nosso país; das desigualdades de gênero que violentam física e psicologicamente mulheres e pessoas trans, escamoteando seus direitos; as mudanças climáticas, que já estão trazendo impactos para muitas pessoas (nitidamente, mais para umas do que para outras, todavia).

Levando em conta que este é um setor voltado a atuar na esfera pública (e que, portanto, deve pautar suas entregas

primando pelos interesses da coletividade e do bem comum). E reconhecendo-o como de grande importância pela capacidade de mobilização de recursos, por empresas, famílias, fundações, etc., (que, segundo dados do último Censo GIFE, mobilizou R$ 5,3 bilhões em 2020), afinal, o que o campo do ISP tem a ver com o contexto apresentado como tema central do Congresso: desigualdades?

Justiça social

O GIFE entende que os investidores sociais têm um papel a cumprir ante tal cenário e provocou a filantropia brasileira a questionar sua atuação quanto à contribuição que vem dando ao enfrentamento das desigualdades no país.

Pois, afinal, é com a melhora na justiça social que será possível estabelecermos as bases rumo a uma prosperidade efetiva, com garantia da cidadania a todos e todas, em prol do desenvolvimento sustentável do país.

Uma teoria de mudança, valendo-me de jargão e metodologia típicos do setor, que bem recairia a 9 de cada 10 atores do investimento social privado.

É COM A MELHORA NA JUSTIÇA SOCIAL QUE SERÁ POSSÍVEL ESTABELECERMOS
AS BASES RUMO À PROSPERIDADE EFETIVA, COM
GARANTIA DA CIDADANIA A TODOS E TODAS
Por Gustavo Bernardino, Articulista Investimento Social Privado Gerente de Programas do GIFE
44 Eventos – GIFE 2023
Foto: Divulgação GIFE

Veja a movimentação do GIFE 2023

Congresso GIFE 2023

Acesse aqui para ver mais

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Fotos: Divulgação

Ateliê Derequine: moda indígena em estado da arte

PRESENTE EM AÇÕES COM FORTE POTENCIAL DE TRANSFORMAÇÃO

SOCIAL, COMO O EVENTO AMAZON PORANGA FASHION, REALIZADO EM MANAUS NESSE MÊS DE JUNHO, O ATELIÊ DEREQUINE, “PRIMEIRO ATELIÊ DE MODA INDÍGENA DO AMAZONAS”, FAZ DA MODA UM MANIFESTO DE CORPO-TERRITÓRIO, ANCESTRALIDADE E FUTURO, COM MUITO ESTILO E SUSTENTABILIDADE

Uma moda que tem raiz, território – corpo-território – e também futuro, coragem e desbravamento intrínsecos. Uma moda que já circula em várias regiões do Brasil, e também no exterior. As belas criações em vestuário, biojoias, arte e artesanato do Ateliê Derequine abrem cada vez mais suas fronteiras, conta a líder indígena Vanda Ortega Witoto, coordenadora do empreendimento social. “O ateliê nasce durante a pandemia, em 2020. Foi ali que entendemos que precisávamos cuidar de nós mesmas e decidimos nos organizar a partir de um saber da minha mãe, que a vida inteira costurou”, revela.

“O empreendedorismo nos coloca em um cenário importante em nosso estado, uma vez que ao apresentar o que estas mulheres estão produzindo no território, causa uma transformação no próprio espaço onde estamos inseridas”, assinala.

“Ao mercado de moda, em que estamos atuando, buscamos trazer uma outra perspectiva: uma moda que tenha identidade, ancestralidade. Enquanto mulheres indígenas, somos um movimento de transformação – diante a explosão social das crises climáticas, das injustiças sociais e econômicas, porque entendemos que o todo está conectado”, afirma. “Nos preocupamos com o meio ambiente, com que está sendo produzido, com o que as pes-

soas consomem. Só podemos viver com consciência transformando pequenos mundos internos, locais e coletivos. Entendemos que somos territórios, somos corpos-territórios, elementos intrínsecos desta terra, então, temos uma caminhada neste processo de muita consciência, que é importante para todos.”

Segundo Vanda Witoto, a moda indígena reafirma a sua importância social, política e ancestral aliando inovação, sustentabilidade e economia. “Fazemos nossas peças com matérias-primas como sementes de açaí, com tucum, com cuidados com quem vai usar, com os impactos ao meio ambiente. E, sobretudo, nossa moda é uma moda de emancipação, cuidado, afetividade, fortalecimento da nossa cultura e de inclusão de mulheres na economia. Porque ainda somos a minoria ocupando esses espaços e percebemos o quanto precisamos criar mecanismos e potencializar essas iniciativas coletivas sociais, que geram impacto muito grande para a Amazônia e principalmente na vida dessas mulheres.”

Criado no Amazonas e composto 90% por mulheres das etnias Witoto, Mura, Kambeba e Ticuna, o Ateliê Derequine comercializa suas coleções por e-commerce para todo o Brasil (@atelie_derequine). Apresenta-se como o “primeiro ateliê de moda indígena do Amazonas”.

Relatos de Empreendedorismo
Fotos: @nathaliebrasilfotos; Divulgação Conheça o Ateliê Derequine: Fotos: Divulgação; Nathalie Brasil

A Maxi Gráfica apoia a Ago Social e as iniciativas de empreendedorismo social

Referência na área desde 1991, a Maxi Gráfica trabalha com a impressão de materiais editoriais e promocionais, assim como rótulos e etiquetas.

O comprometimento com parceiros sociais se faz presente no dia a dia da empresa, como Amigos do HC, Hospital Pequeno Príncipe, entre outros.

Além disso, outro fator que representa a Maxi é a responsabilidade ambiental em suas produções. A empresa possui o Selo FSC, que garante o manejo responsável de toda a cadeia produtiva dos papéis consumidos, e utiliza tintas à base de soja, compostas por 70% de ingredientes renováveis, diminuindo os impactos causados pela indústria.

acesse:

Pegando um alinhamento de passado, presente e futuro do empreendedorismo social no Brasil, como você vê esta evolução?

Quando a gente começou, ali em 2008, criando uma revista que reverte para uma causa e tudo o mais, brinco que “era mato”. Não havia nenhuma referência de negócio que atuava para endereçar problemas sociais ou ambientais. Eu tinha uma sensação clara, falando de 15 anos atrás, de ser visto como um aventureiro. Lembro quando a Sorria completou um ano. Tínhamos doado R$ 1,6 milhão no primeiro ano. Me convidaram para dar uma entrevista no Terra e eles falavam de setor 2.5. O apresentador explicava: “O setor 2.5 é a intersecção do setor privado com o 2º setor, que navega entre os dois setores”. Era tudo muito novo, não tinha termo, não tinha repertório. Não entendíamos que era um negócio de impacto social. A Folha de SP tinha o prêmio Empreendedor Social [realizado desde 2005]. Havia um movimento nascente. O tempo passou e as referências foram aparecendo, gerando repertório. Aos poucos, o setor empresarial foi moldando isso e tivemos um crescimento da temática no Brasil. Motivada também pela chegada de uma nova geração ao mercado de trabalho, mais preocupada com isso. Quando chega a pandemia, costumo falar que este assunto “sai do armário”. A coisa realmente ganhou corpo e virou assunto prioritário, pautado nos grandes temas da mídia, nas empresas.

E o futuro?

Deve haver uma mudança importante de mentalidade, em que já não serão mais os “negócios” e os “negócios de impacto”. Temos uma mentalidade para o futuro de que todo negócio tem que ser um negócio de impacto social. Enfim, todo negócio tem que existir para gerar impacto positivo, e não para mitigar risco ou compensar o prejuízo causado ao planeta. Tem uma mudança significativa quando falamos de empreendedorismo social e negócios de impacto, de se tornar norma para qualquer tipo de mercado. O empreender de hoje é muito o empreender com impacto. Acho altamente improvável alguém começar a empreender hoje no Brasil, que não seja por necessidade e sim por desejo, e não ter esta lente muito presente. Outro ponto interessante é que, antes, os negócios de impacto social endereçavam as causas mais óbvias, mais

“O empreendedor de hoje é o empreendedor com impacto”

Um nome que está na raiz do empreendedorismo social brasileiro, representando passado, presente e futuro desta área no país, dentro e fora do Brasil, é o de Rodrigo Pipponzi, presidente do Conselho do Grupo MOL e fundador e presidente do Instituto ACP, além de integrar o Comitê de Sustentabilidade Raia Drogasil e ser vencedor de premiações importantes, como Empreendedor Social Folha de SP e Fundação Schwab – WEF. Na estreia de nossa seção Papo de Impacto, trazemos Pipponzi e seu trabalho inspirador, que fala aqui sobre empreendedorismo social e a recém-lançada e inovadora Plataforma Conjunta (https:// conjunta.org/).

Por Camila Gino

“sexies”, vamos dizer, como fome, saúde infantil, educação. Já começamos a ver um movimento muito maior, em muito puxado pelo ESG, para causas até pouco tempo consideradas “menores” nas agendas estratégicas. Começa a haver um movimento muito maior de negócios e empreendimentos sociais que trabalham causas raciais, de diversidade, de inclusão, de animais, de moradores de rua, de refugiados.

Lançada agora em abril, a Plataforma Conjunta se apresenta como um canal inovador e de muitas possibilidades de articulação para a sociedade. Qual sua proposta?

A Conjunta é bem focada no fortalecimento da sociedade civil. Por consequência, tem este papel de articulação, entre outros. Ela nasce da missão do Instituto ACP, que é o instituto da minha família, voltado ao desenvolvimento de missão e governança do 3º setor. Entendemos que é uma plataforma muito poderosa se bem construída, para ajudar no fortalecimento de gestão e governança das organizações para que possam prestar de forma estruturada e potente suas missões. A Conjunta é um grande ponto de encontro de conteúdos ligados ao desenvolvimento institucional, ao seu fortalecimento. Que serve de referência de conteúdo gratuito estruturado bacana para as organizações brasileiras. É uma forma de escalar este conhecimento para o 3º setor brasileiro. É uma plataforma que precisa de muito trabalho colaborativo, de muita parceria, de organizações que são promotoras de desenvolvimento de conteúdo, para acontecer. E ela está muito neste lugar, de fortalecimento da sociedade civil.

48 Papo de Impacto | Rodrigo Pipponzi
Foto: Divulgação Rodrigo Pipponzi no lançamento da Plataforma Conjunta, em abril Foto: Divulgação Acesse Conjunta

AGORA é a hora

SOB O TEMA “EMPREENDEDORISMO SOCIAL NO BRASIL”, TRAÇAMOS NESTA EDIÇÃO UM PANORAMA AMPLO E DIVERSO DA CONSTRUÇÃO DESTE FUNDAMENTAL E POTENTE CENÁRIO DE TRANSFORMAÇÃO NO PAÍS, APONTANDO E REFLETINDO SOBRE OS CAMINHOS ATUAIS E FUTUROS

Estamos muito felizes em celebrar esta primeira edição, que traz como tema especial o “Empreendedorismo Social no Brasil”. Mostramos na reportagem de Capa, a partir da ótica de mulheres inspiradoras envolvidas com este processo, como ocorreu esta grande construção, a muitas mãos, no cenário brasileiro ao longo, em especial, das quatro últimas décadas.

HORA DE FAZER ACONTECER

E esta é a nossa intenção para você, leitor, ao criarmos uma revista com o nome Agora: trazer possibilidades, histórias inspiradoras, conhecimento, caminhos e conexões para que você utilize o presente para fazer acontecer!

Todos trabalhamos dia a dia para um futuro melhor, mas este trabalho começa já! Deixo o convite para você se inscrever e assinar para receber a versão digital ou física da Revista Agora, e que ela possa ajudar a transformar o seu propósito em ação.

Até a próxima edição! Continue fazendo acontecer!

Além disso trazemos, sob a ótica do empreendedorismo social no Brasil, a contribuição de articulistas primorosos, especialistas profundos em seus temas, que compartilham uma visão tão rica sobre o setor que nos permite ter um painel muito abrangente do tema por aqui e também de forma global.

Isso traz para nós um momento de reflexão:

- Estamos indo na direção correta?

- As tendências apresentadas são o melhor caminho?

- Onde eu atuo, estamos alinhados com os movimentos vigentes e utilizando-os para gerar maior impacto?

Quando analisamos a história e depois olhamos para o futuro que se apresenta, nos sobra o agora.

Alexandre Amorim, Cofundador e CEO Ago a.amorim@agosocial.com.br

"É admirável ouvir da voz dessas mulheres como cada tijolo foi colocado e ao mesmo tempo qual o rumo que estamos tomando como setor."
Fala Social
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Foto: Gus Benke

Programe-se para os próximos eventos

Festival ABCR

Quando: 03 e 04 de julho

Onde: São Paulo

Julho Agosto Agosto

Latimpacto

Quando: 27 a 30 de agosto

Onde: Rio de Janeiro (RJ)

Agosto e Outubro

Conferência Ethos 360º

Quando: 24 de agosto e 26 de outubro

Onde: Canal Ethos YouTube (virtual)

Setembro

Quer saber mais sobre a programação de eventos do ecossistema social realizados no Brasil? Acesse aqui

Impact Minds

Quando: 27 a 30 de agosto

Onde: Rio de Janeiro (RJ)

Festival da Sustentabilidade

Quando: 7 a 10 de setembro

Onde: Nova Friburgo (RJ)

Testemunhais

Testemunhos de gestores e agentes de mudança que integram a Comunidade Ago Social. Nesta edição, alunos do módulo de Captação Inteligente contam como potencializaram sua atuação e o resultado das organizações onde atuam.

Resultados na prática

A dinâmica da Ago é positiva em todos os aspectos. É toda uma equipe preocupada com a logística de acesso ao conteúdo do curso. Além disso, a metodologia nos provoca a pensar o plano não só teórico, mas também prático. Isso está sendo ótimo, pois já colhi resultados dentro da instituição que lidero.”

Aluno Ago: Breno Laerte UniFavela

Forma simples de falar

O que mais me chamou atenção foi o acolhimento da Ago e o espaço que ela abre. Além disso, a forma simples como os professores falam tem o poder de criar interesse em nós. ”

Aluna Ago: Nubia Silva Associação Educacional Francisca Nubiana da Silva

Forma simples de falar

Acho que fui das primeiras a começar o curso. Encerrei quando começou meu planejamento 2023, já com todas as dicas e aprendizados! Na definição de minhas estratégias para o ano o curso [de Captação Inteligente] me ajudou muito, principalmente a definir onde colocar maior foco!”

Aluna Ago: Fernanda Araujo Projeto Amigos da Comunidade

Veja mais testemunhos e histórias de impacto:

Agenda
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Fotos Divulgação

Amplie seu Impacto através do Fortalecimento de Organizações Sociais e Negócios de Impacto

Potencialize seu compromisso com a transformação social e ambiental. A Ago oferece soluções personalizadas para ampliar o impacto de sua empresa, instituto ou fundação em suas causas de interesse.

TRANSFORME COM IMPACTO REAL

Contribua para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável, gerando um legado transformador

Envolva seus colaboradores em iniciativas de impacto que vão além do voluntariado, criando um senso de propósito compartilhado

Aproveite ao máximo os recursos que você já destina ao impacto social, alcançando resultados expressivos e duradouros

Posicione-se como referência em responsabilidade social e impacto positivo, ganhando reconhecimento e confiança do público

Descubra novas oportunidades para ampliar o impacto positivo da sua empresa Fale com nosso CEO e Cofundador Alexandre Amorim e faça um diagnóstico personalizado.

a amorim@agosocial com br

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QUEM FAZ A AGO

52 @ago.social Ago Social
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Um time de mais de 20 pessoas com diversas expertises, aqui para te ouvir com escuta ativa e acolhimento. Juntos, transformaremos seu propósito em ação.
Alexandre Filippo Fabíola Cassio Vinicius Renato Débora José Gabriela Patrick Adriano Giana Mari Cadu

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