LacrE Ed 12

Page 1

ANO I - No 12 - 2a QUINZ DE NOVEMBRO 2021

Rock Os Xutos & Pontapés à maneira de Ana Ventura, pág 13

SE QUISER MUDAR O MUNDO

Com linguagem didática, Sabrina Fernandes reúne no livro conceitos políticos fundamentais para a transformação da realidade - pág 03

Interesse, esforço e paixão fazem a Revista Som, acompanhe entrevista com Anderson Oliveira na pág 13 e seguintes Sabrina Fernandes participa do VIII Simpósio Direito das Minorias em Joinville em 27 de Setembro, 2019

nDexter, a mão esquerda de Deus nA filosofia para resolver problemas cotidianos nDiários - Franz Kafka nA literatura e o mal, Georges Bataille nBesta Humana, Emili Zola nCaim, de José Saramago e Sumchi de Amóz Óz da Cia das Letras nesta edição

Marcelo Mendez lança livro Estranhos Noturnos, em Santo André/SP com umas notinhas sobre os anos 90’. pág 8/09


... do leitor.... “ O que lemos anos de Dostoiévski por ai” Duzentos Hoje (11/11) se comemora o bicentenário do nascimento Girl Reading, Pierre-Auguste Renoir, 1890. #leitores na arte

“Estava alheia à estratégia geral do mundo e a sua própria era parca. Perdera os objetivos de maior alcance. Ela já era o futuro.” Clarice Lispector, no livro “Onde estivestes de noite”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

asneira!” Lima Barreto, no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”, Brasiliense, 1956

“O amigo é o ser diante do qual, sem nos envergonharmos, podemos experimentar todas as possibilidades “As coisas têm vida próda nossa vida interior.” pria” - apregoava o cigano Louis Lavelle, no livro O com sotaque áspero -, “é só Erro de Narciso. Cap. VII: questão de despertar suas Vocação e destino. Realizaalmas.” ções Editora, 2012. Gabriel García Márquez, no livro “Cem anos de Foi horrível, exclamou ele, solidão”. Rio de Janeiro: horrível, horrível! Ainda Record, 2021. p.7 assim, o sol aquecia. Ainda sim, superavam-se os gol“Mas, como é que ele tão pes. Ainda sim a vida tinha sereno, tão lúcido, empre- o dom de fazer um dia se gara sua vida, gastara o seu seguir ao outro.” tempo, envelhecera atrás Virgina Woolf, no livro de tal quimera? Como é Mrs. Dalloway. Penguin; 1ª que não viu nitidamente a edição, 2017. realidade, não a pressentiu logo e se deixou enganar “Há pessoas que são por um falaz ídolo, absoratraídas pela constância ver-se nele, dar-lhe em das pedras. Querem ser holocausto toda a sua exis- impenetráveis, não querem tência? Foi o seu isolamen- mudar - pois aonde a muto, o seu esquecimento de dança as levaria? Trata-se si mesmo; e assim é que ia de um medo primordial de para a cova, sem deixar tra- si mesmas e um medo da ço seu, sem um filho, sem verdade.” um amor, sem um beijo Jean-Paul Sartre, no livro A mais quente, sem nenhum Questão Judaica. Atica; 1ª mesmo, e sem sequer uma edição, 1995. A zine revista LacrE é uma publicação digital, quinzenal, com distribuição dirigida da Editora Página Leste - CNPJ 42.935.406/0001-06 Editor: J. de Mendonça Neto - Mtb 32792. Contato, críticas e sugestões: e-mail paginaleste@hotmail.com (11)99664-5072 whatsapp- (não aceitamos audio) e instagram.com/zinelacre Página 2 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

desse grande escritor russo e me indaguei sobre as razões que me levam a escrever aqui sobre esse personagem aparentemente tão distante da realidade de um professor filho de operários, nascido e residente em São Paulo, mas com raízes no nordeste e interior paulista, num País com clima, relevo, cultura, história muito diferentes do autor russo do século XIX. Essa data me alcança quando estou novamente imerso no universo de sua obra prima, Os Irmãos Karamázov. Voltando a me emocionar com os dramas dos filhos de Fiódor Pávlovitch; a fúria, a paixão, do irmão Dmitri, o cálculo do frio Ivan, a mística do caçula Aliócha. Na adolescência me identificava mais com o Ivan, embora a torcida quase cúmplice tenha sido, e ainda é, com o temperamento violento, espontâneo do Dmitri. A história é uma tragédia e talvez isso seja a primeira razão da identidade com os personagens desse autor que estreou com o livro “Gente Pobre”. Que falou de criminosos. De sua passagem pelo cárcere. Pela proximidade com a loucura, com os vícios do jogo. Com o alcoolismo. Dramas de sua vida pessoal, combinados com os dos personagens retratados em suas obras. Seus dilemas religiosos, políticos e filosóficos, também refletidos em seus livros. Já na adolescência, porém, me causou mais do que estranheza, a repulsa diante do episódio do parricídio. Pensei que aí estava uma situação inimaginável em nossa cultura brasileira do “painho”. Eu particularmente vejo com carinho e com um prazer inexplicável minhas características que lembram os defeitos de meu saudoso pai. Dou risada de mim mesmo quando me flagro repetindo um pouco algumas loucuras de meu velho. Teimosamente não quero matar, pelo contrário, trago com quase orgulho as inúmeras imperfeições que carrego como precioso legado. Tirando esse aspecto, total identidade com as aventuras, dramas, dilemas dos irmãos retratados na magnífica obra de Dostoiévski. Valter de Almeida Costa - estudou mestrado na FEUSP - Faculdade de Educação da USP

Se algum livro ou disco desta edição lhe chamou a atenção eles podem estar disponíveis nConsulte por e-mail: paginaleste@hotmail.com e receba orientações.n Mas, prestigie o autor, dê preferência a compra da obra.


Escritora publica guia político pautado no ecossocialismo Com linguagem didática, Sabrina Fernandes reúne no livro conceitos políticos fundamentais para a transformação da realidade

Autora de Sintomas mórbidos: a encruzilhada da esquerda brasileira, de 2019 que ainda está parcialmente lido aqui em casa, Sabrina Fernandes, doutora em Sociologia, com especialização em Economia Política, pela Carleton University, no Canadá lança agora pela Editora Planeta Se quiser mudar o mundo, obra introdutória para auxiliar na compreensão de conceitos fundamentais para quem deseja pensar uma nova realidade social e política. Fundada na tese onze de Karl Marx, que também dá nome ao seu programa pelo You Tube que diz “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”; frase que, a propósito, esse repórter registrou, uns 30 anos antes numa antiga caneca de café, Sabrina é uma ativista que deseja transformar profundamente a realidade de desigualdade e exploração capitalista. Na Tese Onze, esclareça-se, seu canal do Youtube inspirado na proposição de Marx, a cientista ensina conceitos fundamentais sobre a política a partir da teoria e práxis ecossocia-

lista. Com o lançamento pela Planeta a expectativa é auxiliar na compreensão de conceitos fundamentais para quem deseja pensar a realidade e operar sua transformação. Desde a introdução a autora mostra que tem lado ressaltando a importância de se defender um viés para transformar radicalmente a sociedade, no caso, o ecossocialismo, corrente do socialismo que ela explica se basear no entendimento de que não é possível a transformação qualitativa de fato da sociedade sem uma grande ruptura com o capitalismo. O projeto ecossocialista, que a autora aprofunda ao longo da obra, pretende reorganizar a sociedade com o máximo de emancipação humana em equilíbrio ecológico. Assim, o livro pretende introduzir conceitos marxistas, de perspectiva sociológica, como ferramentas que vão ajudar na mudança do mundo. Pra não ficar só no proselitismo a autora alerta que essa mudança na sociedade precisa lidar primeiro com a aceitação ou normalização da radicalidade, ou seja, “transformar a

“Como transformar o mundo? E que mundo queremos? Ao buscar entender a sociedade capitalista e indicar meios coletivos para sua extinção, Sabrina Fernandes nos brinda com uma importante reflexão pautada na práxis revolucionária.” - Talíria Petrone, professora de História e deputada federal PSOL-RJ “Sabrina alcança um dos objetivos mais estimados de quem se propõe a educar, comunicar e politizar pessoas construindo as bases de seus entendimentos políticos: é simples, mas não simplista; é concisa sem deixar de problematizar uma realidade complexa e é generosa em um tempo de afetos tristes.” - Rita Von Hunty, professora de Literatura e drag queen Página 3 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

realidade para que aquilo que hoje parece distante ou radical demais, possa ser o estado normal das coisas amanhã”. Dialética, punitivismo, feminismo, liberalismo e tantos outros temas são explorados nas página do livro instrumento ou livro guia. Conforme resenhado pela editora conceitos básicos como as esquerdas e direitas na política são expostos de forma a serem vistos como fundamentalmente diferentes entre si. Nesse caso, a revelia, de um discurso corriqueiro, extremos - direita e esquerda não são iguais. “Na política há negociações, concessões e contenção de danos, mas isso não significa que não existem lados. Conhecer bem os lados é fundamental para compreender as vitórias e as derrotas e os momentos de negociação, reformas e aqueles recu-

os dados para reavaliar e reorganizar. Negar isso é, de cara, ceder ao sistema vigente e rejeitar possibilidades transformadoras”, afirma a autora. Pra não se comportar como um livro fora do seu tempo, o livro vai das contradições de ser socialista em uma sociedade dominada no sistema capitalista às condições materiais efetivas para uma grande mudança. Seu livro se ampara ainda em vigorosos intelectuais contemporâneos para melhor compreensão da política atual e melhores métodos para construir a mudança desejada. “Se quiser mudar o mundo”, lido, e relido até melhor entendimento é um grande incentivo rumo à luta revolucionária. JMN Ficha técnica: Título: Se quiser mudar o mundo Autora: Sabrina Fernandes - 192 páginas R$ 44,90 - Planeta


Caim – José Saramago

por Vilto Reis

Por demais, aqui estou a falar de mais um livro de José Saramago; nosso, único, solitário, prêmio Nobel entre os escritores de língua portuguesa. Polêmico, questionador e racional, Saramago não poderia ser diferente ao dar uma nova roupagem à história bíblica do difamado Caim. Neste livro, a força narrativa do escritor português é mais uma vez manifesta; e quando falo de “força narrativa” me refiro mesmo à forma como Saramago escreve suas histórias, como se dissesse ao leitor: – sente-se aí, acomode-se e agora ouça o que eu tenho para te contar. Então, numa cadeia de eventos correlacionados pela brilhante forma de compor o romance, quem o lê é levado por reflexões e refinadas ironias, como esta: “Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de…”. Em Caim, o autor passa o primeiro um quarto do livro contando a história de Adão e Eva do Éden até o momento pós-expulsão. A partir daí, a história centra-se em Caim, desde a morte de Abel, até o que seria uma “vingança contra Deus”. Passando em fluxos temporais tragicômicos, Caim interage com personagens bíblicos como: Noé, Abraão, Ló, Jó, Moisés e Josué; além

da questionável figura de Lilith, adequando o mito ao contexto. “A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele”. Um pouco diferente do que foi apresentado em O Evangelho segundo Jesus Cristo, a figura divina em Caim soa mais como um chefe “atrapalhado”; o que serve bem ao propósito saramaguiano de questionar a tirania divina imposta pelas religiões. Ao lado de As Intermitências da morte, passarei a indicar este livro a quem deseja começar a ler as obras de José Saramago; por serem rápidos e servirem bem a vários tipos de leitores; desde aqueles que leem para se entreter aos que gostam de ser desafiados a se questionar e pensar; e, sim, também àqueles que gostam das duas coisas juntas. Deixo um trecho dos mais irônicos do livro, onde um anjo, enviado do senhor, tenta se justificar a Caim por que se atrasou. “Sinto muito ter chegado atrasado, mas a culpa não foi minha, quando vinha para cá surgiu-me um problema mecânico na asa direita, não sincronizava com a esquerda,

Amós Oz - Sumchi As emoções, as fantasias e as trapalhadas de um menino na conquista do primeiro amor. Sumchi é um menino de 11 anos, crescendo na Jerusalém ocupada pelos ingleses e tentando escapar das provocações dos meninos da vizinhança e se aproximar da garota por quem é apaixonado, Esti. Ao ganhar uma bicicleta de seu tio Zemach, tem início uma aventura de fantasia e desilusão, medo e amadurecimento. Nesta adorável novela, que condensa acontecimentos de um dia de verão, em 1947, Amós Oz retrata com enorme sensibilidade a leveza e a intensidade do primeiro amor. Companhia das Letras - abr 2019 Página 4 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

o resultado foram contínuas mudanças de rumo que me desorientavam, na verdade vi-me em papos-de-aranha para chegar aqui, ainda por cima não me tinham explicado bem qual destes montes era o lugar do sacrifício, se cá cheguei foi por um milagre do senhor, Tarde, disse caim, Vale mais

tarde que nunca, respondeu o anjo com prosápia, como se tivesse acabado de enunciar uma verdade primeira, Enganas-te, nunca não é o contrário de tarde, o contrário de tarde é demasiado tarde, respondeu-lhe caim. O anjo resmungou, Mais um racionalista…”. novembro 22, 2012


Diários - Franz Kafka “Tudo que não é literatura me entedia e eu detesto”, anota Franz Kafka em certo dia de 1913. A essa altura, o advogado judeu era funcionário de um instituto de seguros trabalhistas e começava a receber uma modesta atenção como o autor da novela O veredicto. Mas a glória nas letras seria póstuma e por obra de seu amigo Max Brod. E tudo para Kafka era metabolizado em literatura. A prova disso são estes Diários, um dos monumentos literários do século XX traduzido integralmente pela primeira vez no Brasil por Sergio Tellaroli. São páginas assombrosas. Constituem aquilo que o escritor argentino Ricardo Piglia qualificou como o “laboratório do escritor”: o espaço em que o autor de A metamorfose experimentava e afiava a sua escrita em meio a comentários sobre sua época, suas leituras,

suas decepções amorosas, rascunhos de cartas, relatos de sonhos, começos encantadores de obras literárias jamais concluídas, bem como diversas histórias acabadas. Datados de 1909 a 1923, os Diários abrem uma porta não apenas para o homem de carne e osso que foi Franz Kafka. Apresentam também o percurso através da mente brilhante e algo torturada de um artista sem rivais. Este volume, que segue as edições mais completas dos registros pessoais do autor, disponibiliza pela primeira vez uma reconstrução abrangente das entradas dos Diários e fornece novo conteúdo substancial, incluindo detalhes, nomes, obras literárias e passagens de natureza sexual que foram omitidas nas primeiras edições. Das caminhadas por Praga às idas ao teatro, da relação tempestuosa com sua

herança religiosa à sua visão da Primeira Guerra — passando pelas mulheres, a família, a doença e a vida

literária. Cada página destes Diários oferece uma jornada pela luta pessoal de um homem em busca de si mesmo.

A literatura e o mal

Página 5 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

Ainda que a literatura, como questão e prática, atravesse toda sua obra, é em A literatura e o mal que Georges Bataille se empenha de maneira mais explícita na busca de seu sentido – ou de seu não-sentido –, afirmando desde o princípio que ela “é o essencial ou não é nada”. E se essa essencialidade se acha vinculada ao mal é porque, sem atormentar o bem e a virtude (como acontece em Sade), ou santificar o mal por desejá-lo como bem (como se dá em Genet), a literatura se torna insípida, destituída de interesse. Para Bataille isso já está dado na infância, quando as disposições do indivíduo se mostram soberanas, na recusa de tudo aquilo que, por meio do cálculo e da razão normativa, pretende regular o desejo e o dispêndio. As-

sim, a literatura deve confessar sua culpa, já que é “a infância reencontrada”. Há dois fins primordiais que a humanidade persegue, a rigor inconciliáveis: o primeiro, ligado à ideia do bem e da moral, é a conservação da vida a todo custo; o segundo, que Bataille associa ao mal e a uma hipermoral, é o aumento de sua intensidade: “a aprovação da vida até na morte”. Perseverando em favor do segundo, a literatura se realiza como atividade inoperante no extremo do possível e do perigo, levando, não raras vezes, personagens e escritores à ruína. Neste livro magistral, Bataille analisa, ou, antes, potencializa as obras de oito autores que de um modo ou de outro são atravessadas pelo mal, para dar a ver em cores vivas a radicalidade de seu próprio pensamento.


Dexter, a mão esquerda de Deus Chega-se a Dexter Morgan, através dos livros de Jeff Lindsay, como esse recente lançado pela Editora Planeta Dexter – A mão esquerda de Deus ou tendo esbarrado pela série exibida tempos atrás pela televisão, como foi o meu caso. Entre 2006 e 2013 a série de TV intitulada Dexter e estrelada por Michael C. Hall foi exibido por um canal pago. Até então não me atentei para o fato de que aquela instigante série ser baseada em livros. Quando descobri planejava ir atrás, mas o tempo passou. Neste primeiro livro da série que agora temos em mãos, somos apresentados ao charmoso Dexter Morgan: bom amigo, ótimo profissional (ele trabalha como perito forense de respingos de sangue para o departamento de homicídios de Miami), um namorado perfeito, um ótimo irmão, e acima de tudo, um excelente assassino! Vive a vida quase perfeita, educado, atraente, charmoso, simpático e entusias-

ta do seu trabalho como analista forense, mas que, entretanto, carrega algo de seu passado que fez com que ele tivesse uma personalidade diferente. Dexter é um assassino em série. Diferenciado, é claro, mas mesmo assim um assassino. Sem risco de dar spoiller, Dexter foi adotado ainda bebê por um policial chamado Harry e desde jovem demonstrou forte instinto assassino percebido pelo Harry, que preocupado com o futuro inevitável para o filho, decidiu criar certos códigos e padrões e treiná-lo. Esse código é chave que impede Dexter de matar indiscriminadamente, ele é seletivo na sua sina e a decisão pelas vitimas se dá após minuciosos estudos e investigações. Mesmo assim podemos assegurar que a escrita requintada de Jeff Lindsay nos faz mergulhar na mente de um dos personagens mais ambíguos da história da literatura de suspense. Nunca o macabro foi tratado com tanto refinamento

Besta Humana Émile Zola nos põe em contato direto com a besta humana que existe em cada um de nós França, 1870. Atormentado pelo desejo de matar as mulheres por quem se sente atraído, o maquinista Jacques Lantier se refugia no comando de sua Lison, a possante locomotiva a vapor com que periodicamente cruza a linha Paris-Le Havre. Os trilhos sobre os quais roda fazem com que seu destino se cruze com o da bela e cruel Séverine, e determinam as vidas dos tocantes personagens do livro. Émile Zola é o grande mestre do naturalismo franPágina 6 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

cês, gênero especializado em exacerbar as fraquezas morais dos indivíduos e as realidades sociais mais degradadas. A besta humana faz parte da saga naturalista Os Rougon-Macquart, o portentoso projeto literário de Zola ao qual pertencem também outros clássicos como Germinal e Nana. Essa edição comentada e ilustrada traz dezenas de notas, cerca de 20 ilustrações, cronologia e uma excelente apresentação de Jorge Bastos. - (Edição Comentada e Ilutrada-Zahar)

e leveza. Dexter Morgan é uma obra-prima. Portanto, de imediato ao livro. JMN

Editora Planeta, 255 páginas, )Jeff Lindsay, tradução Beatriz Horta.


A foto mostra a polícia colombiana agachada perto do corpo morto do traficante Pablo Escobar, 1993 #History_in_photos

Le Gibet de Montfaucon, Illustration for Victor Hugo’s Notre-Dame de Paris, 1850. #visual_arts #literature

“Eis que não há fôlego: eu e este amor somos um, e eu sou a morte.” - Dante Gabriel Rossetti, de Death-In-Love; The Collected Poems of D. G. Rossetti #citações

A group of witches- um grupo de bruxas Página 7 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

The Shinigami Ryuk from Death Not


Intelectual francesa usa a filosofia para resolver problemas cotidianos “Não sabe o que fazer? Pergunte aos filósofos!” apresenta doze dilemas que causam frustração e podem ser solucionados com a ajuda de conceitos filosóficos Marie Robert, professora e filósofa francesa, sempre acreditou na importância de tirar a filosofia das bibliotecas e usá-la como ferramenta para ajudar em diversas situações do cotidiano. Em 2020, Marie criou o podcast “Philosophy Is Sexy” com o objetivo de discutir a temática de forma irreverente e simplificada. Foi com a mesma proposta que a filósofa publicou o livro “Não sabe o que fazer? Pergunte aos filósofos!”, best-seller na França que chega ao Brasil pela Editora Planeta. No livro, Marie apresenta situações que fogem do controle no dia-a-dia, causando frustrações que podem nos deixar à flor da pele. Como a filosofia pode ajudar nesses momentos? Como Kant pode confortá-lo quando você toma um pé na bunda por WhatsApp? Como Aristóteles pode curar a sua ressaca? Ao longo do livro, a autora propõe doze situações difíceis, mas corriqueiras, que encontram na sabedoria de conceitos milenares uma solução sem drama. É nesse sentido que a autora encontra na vontade de potência de Nietzsche, por exemplo, a ajuda para superar a angústia e o medo de falhar que antecede aquela maratona de corrida tão esperada. Ou na definição de esforço, de Bergson, a ajuda para lembrar como valeu a pena as horas investidas na criação da sua própria empresa. Trecho: “Depois de quatro horas andando pelos corredores de uma loja de departamentos, tomada por um forte sentimento de impotência, eu me vi ali, no meio de um monte de caixas, em lágrimas, Página 8 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

pronta para estapear a primeira pessoa que passasse falando sobre estantes. Mesmo assim, a lista de compras já estava pronta e eu conhecia o catálogo da loja como a palma da minha mão. Minha mente metódica estava ativada, pronta para demonstrar sua eficiência. Mas isso não era suficiente. Completamente perdida, traída pela minha razão, eu estava em estado de crise. Eu não sabia mais o que fazer. Decidi então rever todas as coisas que, na minha vida, me acalmavam e me ajudavam a me sentir melhor. Pensei em me deitar em uma das camas ali mesmo ou talvez pegar uma garrafa de vodca. Mas, depois de alguns minutos de hesitação, procurei um remédio melhor. E foi assim que me veio à mente a figura de Spinoza, um dos meus pensadores favoritos. Sentada em um canto da loja, imaginei que meu querido filósofo se aproximava de mim para me servir um cappuccino e dizer algumas palavras reconfortantes. Parei de chorar, agarrei-me aos seus conceitos. Consegui voltar atrás e controlar minhas emoções. De repente, percebi que sua filosofia tinha acabado de salvar a minha tarde”. SOBRE O AUTOR - Marie Robert formou-se em Letras e Filosofia, com doutorado em Filosofia. Professora, é também coordenadora acadêmica do Lycée International Montessori. Em 2020, lançou o podcast Philosophy Is Sexy, no qual discute temas filosóficos de forma irreverente a cada episódio. Mariana Martins FICHA TÉCNICA Título: Não sabe o que fazer? Pergunte aos filósofos! Autor: Marie Robert Páginas: 144 Preço livro físico: 39,90 Editora Planeta

Eu preciso falar sobre o verão e 1993 O livro é baseado na história de amizade entre minhas irmãs e um fato de violência que me foi revelado anos depois. Resolvi escrever primeiro como uma forma de homenagem, pois uma delas faleceu em 2012 vítima de um aneurisma, mas depois fui percebendo com os comentários que muito além de uma boa narrativa, o livro escancara o machismo nosso de cada dia que pode acarretar em sérias consequências. Samuel Ivani Sinopse - Valquíria era uma adolescente normal de doze anos até a noite que fora violentada e tudo mudou. As suas tentativas de compreender as mudanças psicológicas e físicas típicas da adolescência se entrelaçam com a experiência traumática a levando ao colapso

mental. O mundo como ela conhecia desmorona e ela só consegue pensar em vingança. Eu preciso falar sobre o verão de 1993 é um romance psicológico forte e impactante. Valquíria pode te levar a loucura, seja forte. Contato @ivanisamuel


Cultura pop, Indústria cultural, Mídia social, Música popular O termo “cultura pop” porta uma ambiguidade fundamental. Por um lado, sublinha aspectos tais como volatilidade, transitoriedade e “contaminação” dos produtos culturais pela lógica efêmera do mercado e do consumo massivo e espetacularizado; por outro, traduz a estrutura de sentimentos da modernidade, exercendo profunda influência no(s) modo(s) como as pessoas experimentam o mundo ao seu redor. Nesse sentido, pode-se afirmar que a cultura pop tem óbvias e múltiplas implicações estéticas, sublinhadas por questões de gosto e valor; ao mesmo tempo em que ela também afeta e é afetada por relações de trabalho, capital e poder. Contudo, apontar as múltiplas e heterogêneas articulações do pop com o mercado, com o capital – ou como denunciou Adorno, com a “indústria cultural” – pode ser um ponto de partida mas não de chegada. Pois, interessa-nos, sobretudo, os meandros e as apropriações que sustentam o pop como o cerne da experiência moderna e sinônimo da cultura da mídia; e que faz com que as referências da cultura pop se expandam para além da sua matriz,

ligada ao entretenimento, sustentando os desejos transnacionais de cosmopolitismo nos mais diferentes recônditos do planeta. O que move o pop? O que nos move, enquanto modernos, através do pop? Partindo deste contexto, o livro Compós 2015, propõe a reflexão em torno do tema “cultura pop”, compreendido como termo aglutinador de um campo de ambiguidades, tensões, valores e disputas simbólicas acionado por manifestações culturais populares e midiáticas oriundas do cinema, fotografia, televisão, quadrinhos, música, plataformas digitais, redes sociais, etc. Buscou-se assim estimular a reflexão em torno das dimensões estéticas, políticas, culturais e mercadológicas do pop, abordadas a partir de múltiplos aportes teórico-metodológicos e análises de casos. O livro foi organizado em três partes intituladas, respectivamente: “Por uma teoria da cultura pop”, “O pop como gênero midiático” e “A circulação do pop: entre o global, o local e o periférico”. Na primeira parte foram reunidos os trabalhos que propõem um percurso teórico para abordarmos o fe-

O Lobo e Outros Contos Hermann Hesse

Com seleção e posfácio de Volker Michels, especialista em Hermann Hesse, o livro reúne vinte textos que compõem a lista de melhores contos do ficcionista alemão. Organizadas cronologicamente, as histórias abarcam um longo período produtivo — de 1903 a 1948 —, acompanhando o amadurecimento do autor e também sua constituição como um dos maiores criadores do século XX. A ambivalência do ser humano, os duelos internos entre instinto e espírito, liberdade e piedade, estão em cada narrativa e em seus conflituosos personagens. O lobo e outros contos apresenta, enfim, um Hesse em toda sua genialidade. Com um fabuloso universo de sonho, paixão e filosofia, esta antologia chega ao Brasil pela primeira vez — mas já como um verdadeiro clássico da literatura. Página 9 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

nômeno. Assim, o conjunto dos textos mapeia aspectos importantes da constituição do pop como gênero cultural ou musical. Na segunda parte, intitulada “O pop como gênero midiático”, os textos começam a trilhar os rumos apontados no bloco anterior, procurando discutir fenômenos e produtos da cultura pop que, inseridos em diferentes lugares da cadeia de produção, consumo e circulação de bens culturais, são construídos a partir de processos de produção de sentido moldados ou influenciados diretamente pelos gêneros midiáticos. Na Parte III do livro, os trabalhos, mesmo que a partir de perspectivas distintas e abordando variados objetos, apresentam um ponto

em comum: a discussão sobre a circulação e a abrangência da cultura pop global e sua articulação com os âmbitos locais, regionais ou nacionais.

Simone Pereira De Sá, Rodrigo Carreiro & Rogerio Ferraraz (Orgs.) EDUFBA / Compós 2015


ESTRANHOS NOTURNOS

Marcelo Mendez em umas notinhas sobre os 90’

Lançamento: Dia 09 de Dezembro, as 19 horas, na Praieira na Rua Coronel Ortiz 96, em Santo André Página 10 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

Fazendo a fila andar, Marcelo Mendez engata seu quarto livro em curto espaço de tempo e na flor da sua pré adolescência de adulto. Beirando ou usufruindo os 50, já se faz veterano nesse prazeroso, mas altamente trabalhoso ofício da escrita. Estranhos Noturnos, o livro, ganha as ruas ainda estes dias com lançamento oficial previsto para dezembro em Santo André, no ABC Paulista e terra de Mendez. O escritor, entre uns afazeres e outros, concedeu entrevista curta, grossa, bem-humorada e despretensiosa, mas, também, gentil por aplicativo e explicou que “Estranhos Noturnos é uma história de amor na Santo André dos anos 90, um rolê por um tempo em que a

cidade pulsava rock and roll, batidas, pulsações e outras fúrias. É diferente do que eu vinha fazendo, esse é meu primeiro romance. Uma volta por um lugar que eu ainda não tinha caminhado”. Recém-chegado aos 50 anos e com produtividade livresca em alta é natural a nossa curiosidade e o pedido para que ele apontasse onde, quando começou e o por quê disso, de escrever, mesmo porque, a par do talento que ele demonstra, seguramente, a atividade exige esforço e trabalho. Mas, nem tudo é como se deseja e estamos falando com o Marcelo. Quando a pergunta se faz a distância, a resposta nem sempre vem redonda; a do Marcelo veio de trivela, acompanhe: “Bem, o ‘jovem senhor’ – presente na pergunta – está por sua conta. A minha vida é uma sinfonia cheia de sons, paixões e fúria. Nunca foi linear, sempre foi dissonante e intensa. Dessa forma, sempre tive sérios problemas em seguir métodos, tive que aprender isso e a chegada aos 50 anos evidentemente ajudou. Então eu não consigo te apontar um mo-


mento tipo ‘foi nesse dia que tudo começou’. Escrever é a única coisa que sei fazer e isso já foi muitas coisas; difícil, trabalhoso, eventualmente prazeroso e com certeza, uma sina”. O livro é uma promessa, já a ‘fúria quase anarco’ do autor é promessa cumprida Quando se entrevista alguém, em ambiente não controlado e sem pauta rígida, quase sempre somos surpreendidos. Desta feita conhecer o autor é tão interessante quanto as obras que escreve. Nesse sentido, quem puder estar, dia 09 de Dezembro, as 19 horas, na Praieira na Rua Coronel Ortiz 96, em Santo André, durante o lançamento de Estranhos Noturnos talvez poderá comprovar nossa suspeita. Enquanto nos serve mais um livro, até porque é sabido que ele tem alguns dotes culinários pouco explorados, Marcelo se ocupa de tudo um pouco. Quase sempre e principalmente na função de repórter; tem um trabalho destacado no jornalismo esportivo e alternativo, mas isso seria assunto para outro momento. O certo é que fazendo um pouco de tudo ele tem certeza e nós, também, de que está do lado certo dos corre.

“Eu me eduquei na rua. Eu aprendi tudo no asfalto quente do ABC. Isso é fundamental pra minha vida e eu digo é, ao invés: de foi, porquê eu não deixei de estar na rua, tampouco de ser punk. Eu jamais deixarei de ser punk. A vida muda, a gente aprende uns atalhos, mas a origem tá firme em tudo que sinto, em tudo que vivo”. Sou ou estou jornalista, escritor, dono de casa, diz ele. Este repórter acrescenta que ele tem algumas prendas do lar e vez ou outra cozinha uns pratos irados. Apenas para não faltar com o registro, Marcelo é coautor junto com Mauro Beting, Leandro Beguócio, Fábio Chiorino e Gino Bardelli do livro Palmeiras, 100 anos de academia. E é autor solo de Contos da Várzea e outros Blues, de 2014 e O Baile dos Corações em Fúria, de 2018. Três livros que também recomendamos a leitura, logo após conhecer Estranhos Noturnos que está acabando de sair. O certo é comparecer ao lançamento… Não conseguimos extrair do autor quantas páginas tinha o seu livro e que certamente ele não leu depois de impresso. Afinal quem teria saco pra ler o que escreveu, revisou, ler de novo e de novo?

Marcelo, palemeireinse que só, contribuiu com as comemorações dos 100 anos de academia do Palestra Itália e depois Palmeiras escrevendo artigos entre as 384 páginas do livro PALMEIRAS - 100 ANOS DE ACADEMIA em companha de Mauro Beting, Leandro Beguoci, Fábio Chiorino, Marcelo Mendez e Gino Bardelli. -----------------------------------------------------------------------Tocando em solo, escreveu e editou pela Córrego, em 2015, CONTOS DA VÁRZEA E OUTROS BLUES que teve prefácio de Xico Sá do qual extraímos uma fatia “Nada errado em curtir um futiba milionário e globalizado. Necas de pitibiribas. Nada errado mesmo, estás perdoado, jovem. Aqui estou eu e o próprio autor desse livro para comprovar que podemos muito bem ver a virtuose de um Real x Barça e, sobretudo, amar o clássico da rua, da vila, do bairro, da região da sua cidade. Futebol é viver tudo junto ao mesmo tempo.” e um filé de Mauro Beting “Marcelo jogou. E bem. Marcelo escreve. E muito bem. Marcelo vive. Melhor que muitos. Do Oratório Página 11 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

Não saber quantas páginas então é só consequência. Um belo pedaço da história dos anos 90 na Santo André está escrita e a sorte está lançada para aquele canto de Santo André, onde será o lançamento do livro impresso, no dia 9 de dezembro. Pode acontecer de tudo um pouco, talvez álcool, talvez água mineral, talvez gente que leia, gente que beba, gente que festeja, gente que reclama e gente que declama, ou seja, coisas e gentes. O autor estará lá junto com seu novo rebento e lá descobriremos quantas páginas esse livro tem. Para além do lançamento e a expectativa de que com a presença de parceiros raiz, e eventuais personagens ficionados ou não dessa história, a ‘ocorrência’ possa resultar em festa das boas; até anões roludos poderão dar o ar da graça. Nessa vibe só sugerimos cuidar do que é seu com muita atenção. Com a mesma atenção e intensidade que se dedicará ao livro. A expectativa com a obra é grande, e os anos 90 na quebrada, parece ter, no livro, um de seus melhores registros. JMN Tendo como confira no link abaixo alguns vídeos depoimentos a respeito e compareça para pegar seu exemplar. https://bityli.com/wAmvJC

querido ao mictório mais fuleiro do pardieiro mais remoto, Mendez faz pacto com o olhar arguto e astuto do melhor observador: o apaixonado pelo que faz. Ou melhor: pelo que o outro faz. Por isso sou fã dele. Um Edmundo com timbres de Johnny Cash. “ -----------------------------------------------------------------------O BAILE DOS CORAÇÕES EM FÚRIA, de 2018, teve como uma das sinopses o que segue “Baile dos Corações em Fúria” é além de um livro, um acinte! Uma chacoalhada, uma peitada no sossego da cidade, vinda dos porões mais inusitados que se possa imaginar. Um relicário de sons, distorções e noites improváveis de onde nasce a identidade cultural do abcd.Lester Bangs de bermudas....O livro reportagem, terceiro do autor, acende um farol nos porões da cidade para apresentar boa parte da cena musical do abcd e cercanias, um material fruto das matérias e coberturas de shows que fez para o Jornal Abcd Maior no período de dois anos seguidos entre 2016 e 2017.


Mephisto #Art By Eduard von Grützner, 1895 Enquanto as ‘freiras’ fumam descontraidamente, o diretor e produtor de cinema Alfred Hitchcock, 1899-1980) ensaia comer

Asciano L’ostracismo di Aristide WPietro Adi (1873) Museo Cassioli Toscana - Borgo di Asciano #Art

Página 12 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21


Rock

Os Xutos & Pontapés à maneira de Ana Ventura

A autobiografia dos Xutos é a resposta da jornalista Ana Ventura a um desafio do Zé Pedro. Os dois volumes de “À Minha Maneira” são um precioso documento histórico para fãs da banda e da música nacional, particularmente do rock luso. A autora conversou connosco sobre como foi colocar em livro os testemunhos, sem filtros, da carreira dos músicos e do percurso de vida dos homens. “À Minha Maneira” é a autobiografia dos Xutos & Pontapés. Pela primeira vez, os cinco músicos contam, na primeira pessoa, as histórias que os tornaram a mais importante instituição do rock português. Em discurso directo com a jornalista Ana Teresa Ventura, Gui, João Cabeleira, Kalú, Tim e Zé Pedro traçam o seu percurso mas também descrevem o país onde cresceram, que os moldou e tornou um ímpar caso de sucesso. Tudo isto faz desta obra um testemunho histórico da cultura musical contemporânea em Portugal. “À Minha Maneira Vol. I – 19791999”, lançado em Outubro de 2019, marcou o arranque desta obra. Um ano depois, surge “À Minha Maneira Vol. II – 2000-2020”. E se no primeiro volume se narrava a escalada rumo ao sucesso, no segundo assiste-se Página 13 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

à consagração da banda, começando nas comemorações dos 20 anos de carreira e caminhando rumo a uma aventura que, há muito, se tornou inigualável. Esta é a história dos Xutos & Pontapés, com todos os altos e baixos, as derrotas e as conquistas, o passado e o presente, com os olhos postos no futuro. Há muitos risos e outras tantas lágrimas, há momentos nunca antes contados e há acontecimentos que vão ficar, para sempre, guardados na memória do que é ser Portugal – e há as canções, aquelas que se tornaram património de uma cultura e de um país. Em discurso directo, porque é assim que as melhores vidas se tornam lenda. A autora, com currículo no Blitz, naqueles tempos em que todos líamos religiosamente o jornal às 3ças, no M de Música e na SIC, entre outros, conversou com a AS sobre os livros. Extraído da excelente entrevista da autora com o site portugues AS arte sonora no endereço

https://bitlybr.com/7f1u

SERVIÇO Os livros podem ser adquirido no Brasil, através de contato: geral@grupoeditorialatlantico.com (+55) (11) 3179-0085 Conjunto Nacional, cj. 2113, 2114 e 2115, Avenida Paulista 2073, Edifício Horsa 1 , CEP 0131-300 São Paulo


Interesse, esforço e paixão fazem a Revista Som, diz seu editor Respirando música 24 h por dia, colecionador de discos e frequentando shows desde os anos 90, Anderson Oliveira tem um conhecimento bastante aprofundado sobre os vários aspectos do assunto, shows, música, mercado, novas tendências, o que se faz mundo afora, mas rejeita vigorosamente a responsabilidade “não sei se tenho conhecimento suficiente (...), o que tenho é uma paixão real pela música e manifestações artísticas em geral”. Pode ser modesto quanto é prudente ser, mas a rigor tem conhecimentos a respeito dessa manifestação da arte muito acima da média e com essa paixão, esse vigor e competência é que vem editando, com qualidade cada vez maior, a Revista Som que o leitor deveria conhecer. A seguir a entrevista feita por aplicativo com a redação e para a qual a organização e a clareza na exposição das ideias e das falas é de crédito total do entrevistado. Acompanhe!

Quais as principais características da revista som, há quanto tempo ela vem circulando, como foi concebido o projeto original e quais as pessoas e funções envolvidas? Anderson Oliveira: A Revista Som, acima de tudo, é a realização de um sonho. Celebrar a música e eternizar essa celebração, independente da vertente musical. Me acostumei a sempre falar “somos”, “nós”, mas basicamente trata-se de um projeto que foi iniciado por mim, Anderson, e minha ex-namorada, Juliana, nos idos de 2009. Pouco tempo depois acabei tocando ela sozinho. É uma promessa minha comigo mesmo de nunca abandonar isso. Me dá trabalho, é um hobby que deu certo, mas é algo que me proporciona uma realização muito grande. São 27 edições, a próxima já em produção e entrevistas/ matérias que me enchem de orgulho. O projeto inicial buscava simular o formato de flip de forma virtual através do Adobe Flash, conforme uma revista alemã chamada Magwerk fazia. As tecnologias mudaram, os conceitos, mas a revista segue firme. Hoje somente eu sou responsável pela produção, sendo apoiado esporadicamente pela Adriana Mucciolo, minha atual namorada, e um ou outro amigo, eventualmente. Mas o projeto sai todo de minha cabeça, especialmente as dores de cabeça nesse processo. Edição, diagramação, programação, divulgação etc. O seu hábito de frequentar show, notadamente na cidade de São Paulo, para além do ecletismo com que

Página 14 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

você encara ver shows é resultado da existência da revista ou é o contrário; havia interesse nos show ainda antes da revista? Anderson Oliveira: O interesse por shows vem de muito antes, assim como colecionar discos e respirar música 24h por dia. Frequento show e coleciono discos desde os anos 90, então a Revista acabou sendo uma consequência de tudo isso, fazendo com que tudo o que eu gostasse acabasse ganhando uma outra esfera. É algo que me trouxe muitas realizações, como entrevistar grande parte dos meus ídolos, mas também muitas frustrações. A mídia musical esconde diversos elementos frustrantes, nem tudo é só amor, mas ele precisa ser maior para fechar a conta. O fato é que você tem um interesse e um notável conhecimento do mercado musical; a ponto de ter preparo para avaliar qualidade de show; das músicas em si; do comportamento e posicionamento cívico social do artista, se assim podemos chamar? Como chegou a isso, estudando, frequentando, alguma influência familiar a respeito desse interesse? Anderson Oliveira: A minha vida nos shows acabou me levando a isso, mas não sei se tenho um conhecimento suficiente para tal circunstância, o que tenho certeza que tenho é uma paixão real pela música e manifestações artísticas em geral. Por isso tento entender até mesmo o que não compreendo, buscando me encaixar no cenário do artista. Acho que estar na plateia de um show como pú-


blico não precisa ser como estar em um julgamento, mas existe um compromisso invisível entre o artista e o público, se ele não acontece, as críticas precisam ser naturais. É possível estarmos diante de um show impecável, que transmite uma mensagem, simplesmente com um artista sentado com um violão, assim como o contrário. Quando a estrutura se torna maior que a arte, não há arte. Ler sobre música nos lugares certos e ter os amigos certos para conversar disso é sempre maior que qualquer obsessão por conteúdo. E, principalmente, ter a certeza de que, não importa o quanto te digam o que você sabe, você não sabe nada. Você considera que obras possam ser separadas de seus autores a partir do ponto de vista ideológico ou pragmático que o artista se posiciona? Pergunto isso por causa da exacerbação com que temos visto manifestações a favor ou contra certos posicionamento público de artistas em dias atuais. Anderson Oliveira: Isso se tornou necessário nos últimos anos, mas não deve ser obrigatório. É possível seguir ouvindo Van Morrison ou Eric Clapton, donos de uma discografia irrepreensível, por causa dos recentes episódios. Claro, existem artistas que parei, como Ted Nugent, estilos que evito ouvir, como o chamado Southern Rock, mas tenho uma certa tolerância. Me decepcionei com o mundo do heavy metal, mas não deixei de ouvir as bandas que já gostava. Não posso confundir alguém como Milles Petrozza, do Kreator, com o público nazista de uma banda de black metal norueguês. Fico feliz quando ouço um artista do qual seus pensamentos batem com os meus, isso torna a música Página 15 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

ainda mais emocionante, mas essa linha invisível depende muito mais de bom senso do que, exatamente, a posição política. O importante é que as artes são um canal importante de mudança social, então quem é devoto da própria obra dificilmente vai banalizar aquilo em que acredita. Agora em nível pessoal, se quiser responder, ser a favor ou contra o isolamento social exigido pela pandemia ou a favor ou contra a necessidade de comprovação de vacinação para eventos com certo nível de aglomeração é um elemento de diferenciação importante para você? Conhece algum caso emblemático a respeito, de artistas que criaram controvérsias por causa disso? Anderson Oliveira: Isolamento salva/salvou vidas e ponto. Trabalho em um hospital e vivi a pandemia no seu grau mais alto. Vi gente morrer, vi pessoas serem negadas no hospital por falta de leitos. Isso é algo que ninguém vai tirar de mim daqui para o resto da vida, então sempre serei 100% a favor aos procedimentos que possam proteger vidas. Sim, me decepcionei com artistas que saíram com shows nessa época, em especial o Djonga, rapper que vinha realizando um grande trabalho. Na verdade segue, mas isso realmente me deixou chateado, não consigo olhar como antes. Acho que é hora de voltar, vejo com bons olhos esse retorno e a devoção do público brasileiro pela vacina. Mesmo com um louco tentando lutar contra isso, a vacina segue salvando vidas. Sempre converso com infectologistas daqui para tirar dúvidas, me sinto mais seguro e espero que todos se sintam. É um recomeço e podemos fazer tudo diferente, especialmente em relação aos cuidados com nós mesmos.

Ainda sobre a revista quais shows o senhor tem

podido acompanhar nesse período um pouco menor de isolamento e quais destes foram pauta das edições da revista? Algum em especial ficou além das suas expectativas? Anderson Oliveira: Não sou dos maiores fãs de lives, mas mergulhei nos discos que tenho, DVDs, VHSs e LDs, assisti muita coisa, comprei muito disco, foi o que me ajudou nessa longa caminhada. Por outro lado, sou apaixonado por tecnologia e me tornei fã de novos formatos de exibição. Alguns me chamaram demais a atenção, como o réveillon com Jean-Michel Jarré tocando na catedral de Notre Dame, que está em reforma e foi reconstruída em um projeto 3D maravilhoso. Me impactou bastante. Algumas bandas já vinham fazendo projetos “ao vivo e sem público” como o Rufus do Sol, gravado no parque de Joshua Tree e foi incrível a ideia e conceito. Então acho que precisamos

nos reinventar, não só pensar no formato de live sentado com uma câmera na frente. As coisas não serão mais como antes, façamos parte desse processo. Se alguém aqui nesta conversa pode fazer certa divisão entre estilos musicais, com certeza, é você. Qual dos estilos tem lhe chamado mais atenção e porque? Quais destes estilos claramente estão nas mãos de poucos produtores? Há tantas novidades nessa área e é natural que assim seja, o senhor concorda? Algum se destaca mais a partir do seu gosto pessoal? Anderson Oliveira: Ah, todo dia aprendo um pouco, mas adoro a ideia de ter a oportunidade de ouvir qualquer coisa e encontrar nela a mesma magia do artista. Uma vertente que tem me chamado demais a atenção é o que envolve a produção de música eletrônica. Na contramão da EDM (Electronic Dance music) que inundou as rádios FM


e fizeram parecer que qualquer um poderia ser DJ apertando meia dúzia de botões, há excelentes produtores capazes de criar coisa nova (Kaytranada, que se apresenta no Lolla, ou Com Truise, são bons exemplos), revitalizar gêneros inteiros (como o Gotan Project fez com o Tango argentino), assim como existem oportunistas. Isso vale para qualquer estilo, mas a música eletrônica possibilitou muita gente que tem um bom notebook e amor indondicional pela música sair do quarto e usar plataformas de divulgação. Acredito que seja por isso que o rock perdeu tanto espaço, não permitindo uma renovação de qualidade, especialmente aquele de arena. Ainda estamos na mão de poucos nomes, falta estímulo para que as pessoas possam se aprofundar em suas ideias,

música demora para encher a barriga, por isso só amor não basta. Há muitas novidades diariamente no mundo da música, mas fazer a triagem desse processo é complicado, encarar a própria ignorância é motivador para conhecer cada vez mais novidades nos quatro cantos do mundo. Sabemos que a revista som é mais uma entre outras atividades que você desenvolve, responda se desejar; ela já paga as contas? Algum projeto em mente para o desenvolvimento e ampliação da revista? O que você tem feito ou que está fazendo agora, seus corres etc Anderson Oliveira: Ah, nunca ganhei um centavo com a revista, mas diferente de todos esses anos, acredito muito que isso seja possível hoje. Preciso acreditar

no que faço ou posso correr o risco de me desiludir. Pesquiso formatos e busco referências porque o mercado de comunicação está instável, ainda não sabemos de forma precisa como as pessoas estão consumindo informação, mas certamente não é despejando sobre elas uma avalanche de informações que possam inflar o seu ego. Não é assim que a música funciona, a arte precisa chegar para cada um de um jeito diferente, a mesma informação de um jeito diferente, é nisso que quero trabalhar. Antes de nos despedir, vou retomar um ponto da nossa conversa que creio não ficou claro, de forma mais clara: já esteve em algum show presencial nesse período menos restritivo da pandemia? Em qual e como foi? Anderson Oliveira: Desde que os teatros do SESC

retomaram a atividade eu tenho ido toda semana em ao menos uma apresentação. Calhou de ser no festival que mais gosto, o SESC Jazz, onde Amaro Freitas, Hamilton de Holanda e tantos outros se apresentaram. Posterior a isso vi o Grupo Rumo, da Vanguarda Paulista, e o lendário Mateus Aleluia, eterno Tincoã, que foi extremamente emocionante. Tenho planejado o calendário, os valores de ingressos não ajudam muito, mas no que for possível estarei presente. Quase dois anos sem uma atividade em grupo foi muito duro, então é um recomeço. Nos meses passados nem cogitei tal atividade. Então cada show é um capítulo novo pra ser vivido de forma diferente. JMN Entrevista concedida entre os dias 19 e 20 de novembro, para J. de Mendonça Neto (LacrE)

Fac simile de duas edições recentes da revista - Acompanhe https://revistasom.com.br/site/ Página 16 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21


Box: Blues Etílicos Celebra 35 Anos De Atividade

Por Márcio Grings

O blues não está encravado apenas no nome, pois ele sempre prosperou no eixo central de criação do Blues Etílicos, um dos responsáveis por disseminar o gênero no Brasil, principalmente nas décadas de 1980/90. Eram tempos de festivais de blues e jazz pelo centro do país, mesmo período em que vários bluesman norte-americanos começaram a se aventurar pelos palcos da América do Sul. Conheci a música do grupo carioca mais ou menos nesse período, no LP “San Ho Zay” (1990), vinil que rodopiou milhões de vezes em mais de 30 mil toca-discos, tornando-se o álbum de blues mais vendido feito por uma banda brasileira. Ainda na mesma década, o quinteto implodiu a minha cabeça na noite em que finalmente os vi de perto. Não lembro o dia nem o mês, mas foi em 1997, e lá estava eu, espremido entre uma centena de pessoas no extinto Café Brasil, em Santa Maria - RS. Naquela época, o Blues Etílicos circulava pelo país na esteira do álbum “Dente de Ouro” (1996), um trabalho sotaqueado por uma babel de elementos. Afinal, além de versarem como poucos no voz original do gênero, o Blues Etílicos misturou tudo: Raul Seixas com Duanne Allman; Fernando Pessoa com Ernest Hemingway; folclore nordestino com Página 17 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

Blues Etílicos | Otávio Rocha, Flávio Guimarães, Beto Werther, Cláudio Bedran e Greg Wilson

slides matadores; berimbau com gaita de boca; fritou o mambo e flertou com o jazz; compôs em português e inglês; juntou a malandragem carioca com o southern rock dos anos 1970; e claro — o blues sempre estava lá, senhor de si, como um pássaro astuto pousado num fio de alta tensão: pronto para sobrevoar uma nova canção. É meu disco favorito deles, e um dos trabalhos mais vitoriosos do blues em nosso território. Uma das grandes sacadas da música do Blues Etílicos é justamente esse raio-x tridimensional proprcionado por uma obra que não apenas visiona paridades com o blues ‘de lá’, pois as canções do grupo ainda propõem uma ligação com o som ‘daqui’. É justamente nesse diálogo que encontramos a singularidade e o blend da mais legítima e brasileira das bandas de blues. Ouça a versão do grupo para “Espelho Cristalino” de Alceu Valença e comprove essa vocação em miscigenar as coisas. O legado do Blues Etílicos reverbera na vida de inúmeros músicos e fãs tomados pela mandinga desse Preto-Velho, um bluesman andarilho que habita o corpo físico de muitos, graças ao mojo espalhado pela Rosa

dos Ventos do quinteto carioca. De 1987 até 2021, são 13 álbuns entre registros autorais, discos ao vivo e coletâneas. Eles gravaram ainda um DVD, “Blues Etílicos ao vivo no Bolshoi Pub” (2012). Blues Etílicos - 35 anos” faz um apanhado dessa jornada musical, pinçando canções de seus discos de estúdio retrabalhadas sob a direção de Pedro Garcia e Kasin (Jorge Mautner, Erasmo Carlos, Adriana Calcanhoto). Muitas das músicas escolhidas receberam novos arranjos, como “Safra 63” e “Mona’s Blues”. A identidade nacional arde viva em temas como “Dente de Ouro” e “Beco Escuro”. O novo CD ainda traz cavalos de ba-

talha como “Puro Malte” e “Cerveja”, além de duas faixas inéditas — “Mandala Boogie” e “Waterfalls”. A caixa “Blues Etílicos - 35 anos” contém 1 CD Digipack luxo | 1 Camiseta | 1 Cerveja IPA edição comemorativa | 2 Palhetas personalizadas | 1 Chaveiro mini gaita personalizado (compre AQUI). A atual formação conta com quatro membros originais: Greg Wilson (voz e guitarra), Otávio Rocha (guitarra), Cláudio Bedran (baixo) e Flávio Guimarães (voz e harmônica), mais Beto Werther (bateria), nas fileiras do grupo desde 2017. Matéria, especialmente cedida pelo colega Marcio Grings do https://www. gringsmemorabilia.com.br

Reprodução do box promocional de 35 anos de Blues Etílicos


Vamos de pareidolia #photo_gaia

Abaixo, Käthe Kollwitz - The Survivors (os sobreviventes), 1923 #visual_arts Ao lado, Illustration

from

Dante’s Inferno (ilustração

do

Inferno de Dante) by John D. Batten

(1933)

#visual_arts Página 18 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21


FIM DE ANO CHEGANDO Fale com o Rafa no (11) 989105795 ou pelo instagram, abaixo, faça sua encomenda e saboreie o que de melhor temos por aqui. Com um serviço que pode ir do rústico ao refinado, do churrasco a alta gastronomia, o chef Rafael Costa atende aos mais diversos paladares sempre com um menú personalizado ao

gosto do cliente. Ele conta com amplo conhecimento em pães, entradas, pratos e sobremesas, seja em um café da manhã, almoços, jantares ou até mesmo um coque-

...e outras tantas supresas... http://www.instagram.com/chu.ra.co Página 19 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21

tel, você pode contar com o conhecimento e uma boa seleção de ingredientes que ele dispõe para tornar o seu evento ainda mais especial.

...e as gostosuras que você sugerir


Página 20 - ED. 11 - 1a Quinz Nov. 21


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.