Revista Xonguila Nº55

Page 79

A UNIÃO EUROPEIA E MOÇAMBIQUE

Uma sólida e longa relação

A solid and longstanding relationship

BEIRA BOI

Uma história de superação

A story of overcoming adversity

GWAZA MUTHINI

Comemoração dos 128 anos 128th Anniversary celebrations

HÉLIO “LINK” PENE

Um caminho desenhado

Drawing one’s path

Publicação mensal • Fevereiro - February 2023 • Ed. 55 • Ano 06 • 300 MZN • xonguila.co.mz

Hélio “Link” Pene

O ilustrador na primeira pessoa

Fotografia: Mariano Silva

Não se trata apenas de ilustrar, mas também de incentivar e inspirar o próximo.

Hélio “Link” Pene

O ilustrador na primeira pessoa

Comecei a desenhar muito cedo, foi a minha primeira linguagem, tal como para as outras crianças. Obviamente sem noção daquilo em que realmente me poderia vir a tornar, comecei inspirado pelos traços do meu primo Nuno, feitos a lápis nas paredes do nosso quarto. Obcecado por tais traços, procurei sempre imitá-lo e fazer ainda melhor. Tempos depois, percebi que poderia redesenhar os personagens dos videojogos, almanaques, filmes, desenhos animados, até achar que poderia criar o meu próprio “universo”. Sou um verdadeiro desastre noutras áreas, nunca me dediquei tanto a nada senão à arte de fazer narrativas em quadrinhos. Admito que hoje só sei fazer isto e procuro fazê-lo com a maior perfeição possível.

Considero o meu trabalho fascinantemente curioso. A arte de “imprimir” graficamente uma ideia, conceito, pensamento, numa tela branca, contando uma história com um princípio e fim, na qual podemos transmitir uma mensagem, formar opiniões, incitar debates e inspirar leitores e seguidores, é algo que é motivador e estimulante. Sentimo-nos presenteados quando um desconhecido aparece e cobra de nós. Percebemos que existe algures alguém que se inspira nas nossas infinitas horas de criatividade, fazendo delas uma luz para se orientar na busca do seu talento ou no aprimoramento da sua habilidade. Como digo repeti-

damente, não se trata apenas de ilustrar, mas também de incentivar e inspirar o próximo.

As minhas melhores ideias surgem do quotidiano, do dia-a-dia. Quando acontece ou assisto a algo que me fascina, fico a imaginar como poderia ser essa história real num mundo fantástico e imaginário. Acrescento o factor “exagero”, e já está. A imaginação se encarrega do resto. Todos gostamos de uma história. Mas, se a ela acrescentarmos o poder do surreal, então teremos uma excelente história. Treinos e a prática repetida constantemente são os ingredientes essenciais para se atingir a perfeição. É preciso ver o que os outros fazem e copiar,

não há mal nenhum em copiar. A cópia faz de quem a pratica um aluno, o mau é querer permanecer aluno para sempre.

A nível nacional, infelizmente, não temos muitas referências, arrisco-me até a dizer que quase ne-

nhuma. Se as temos, não estão cá em Moçambique. Há um espaço enorme deixado por artistas do passado, e eu tenho a ambição de ocupar esse espaço tornando-me a referência. Posso citar Marco Rudy, Nuno Plati e Hélder Pilote como exemplo de minhas referências para a banda desenhada. Maísa Chaves, Hélder Sutia, Neyla Francisco e Zacarias Chemane como ilustradores. Falando de com quem gostaria de um dia colaborar, internacionalmente, devo citar Olivier Coipel, Nuno Plati, Romita, EPHK, Francesco Mortarino e Dan Mora. São tantos os que influenciam a minha forma de ver, fazer e viver a banda desenhada que não conseguiria mencioná-los em apenas uma página.

Houve um episódio que me marcou quando estava no ensino secundário e era um autêntico coleccionador de revistas de banda desenhada. Nessa altura, já ilustrava bastante, e a minha mãe, preo-

cupada com o tempo que eu despendia nessa actividade e não nos manuais da escola, decidiu esconder todos os meus livros daquele género. Prometeu que mos devolveria assim que terminasse o ano lectivo, e passaram-se três anos. Ora, um tio meu, irmão da minha mãe, que nos seus tempos de juventude também gostava de banda desenhada, contou-me que o pai dele, ou seja, o meu avô, tinha feito a mesma coisa, e prometeu devolver as revistas após a conclusão do ano lectivo. Tal coisa nunca aconteceu, as revistas haviam sido queimadas. Percebi então que era o fim da minha colecção e que nunca mais iria ter acesso às minhas BD. A parte boa disto tudo é que, por causa desse episódio decidi que ia fazer as minhas próprias histórias. Só tenho mesmo de agradecer.

O mundo digital trouxe um impacto tremendamente positivo para o mundo das artes. Lembro-me

de que, quando havia pouco acesso às redes, dificilmente se poderia saber ou conhecer o trabalho dos nossos ídolos, ter acesso aos tutoriais ou outras ferramentas. Hoje já é possível expor trabalhos e obter como retorno conselhos e críticas, colaborar remotamente e ter incremento financeiro com isso, assim como aproximar pessoas que partilham dos mesmos objectivos, sonhos e missões.

Quero fazer o meu próprio caminho. Tornar-me uma referência, primeiro a nível nacional e depois além-fronteiras. Se possível, a partir daqui, do meu país, pois é aqui que sinto que sou necessário. Quero fazer bandas desenhadas e assinar com nome próprio, criando uma marca que possa impulsionar, motivar e inspirar não só amadores de banda desenhada, mas todos aqueles que, com ou sem recursos, acreditam que podem fazer a diferença, tornando-se ídolos de si próprios.

Fico a imaginar como poderia ser essa história real num mundo fantástico e imaginário. Acrescento o factor “exagero”, e já está. A imaginação se encarrega do resto.

Hélio “Link” Pene

The illustrator in the first person

I started drawing very early on. It was my first language, just like it often is for other children. Without any notion of what I would later become, I began inspired by my cousin Nuno’s pencil drawings on the walls of our bedroom. Obsessed by those line drawings, I always tried to imitate him and even better him. Sometime later, I realised I could redraw the characters of video games, comics books, films and cartoons, eventually thinking I could create my own “universe”. I’m a total disaster in other areas, and never dedicated myself to anything other than the art of storytelling through comics. Today, I must admit this is all I know how to do, and I try to do it as perfectly as possible.

Ifind my work fascinating. The art of visually “imprinting” an idea, concept, thought, on a blank canvas; telling a story with a beginning and an end, in which we can transmit a message, form opinions, incite debates and inspire readers and followers, is something that is motivating and stimulating. We feel rewarded when a stranger comes along and critiques our work. We realise that there is someone somewhere who is inspired by our endless hours of creativity, which in turn become a guiding light in the pursuit of their own talents or skills development. As I say again and again: it’s not just about creating illustrations, but also about encouraging and inspiring others.

My best ideas come from everyday life. When something happens or I witness something that fascinates me, I am left to imagine what that real story could look like in an imaginary, fantastical world. I add the “exaggeration” [fantasy] factor, and that’s it. Imagination takes care of the rest. We all love a story. But, if we add the power of the surreal to it, then we have a great story. Training and continuous practice are the essential ingredients for achieving perfection. You have to watch what others do and copy it; there is no harm in copying. Copying makes the copyist a student; the bad thing is to want to remain a student forever.

Unfortunately, we don’t have many references in the country. I would even risk saying that we have almost none. And the ones we do have, are not based here in Mozambique. There is a huge gap left by artists of the past, and my ambition is to occupy that space by becoming a reference [to others]. I can cite Marco Rudy, Nuno Plati and Hélder Pilote as examples of my comic strip references; Maísa Chaves, Hélder Sutia, Neyla Francisco and Zacarias Chemane as illustrators. Regarding whom I would like to collaborate with one day at an international level, I must mention Olivier Coipel, Nuno Plati, Romita, EPHK, Francesco Mortarino and Dan Mora. There are so many of them that influ-

ence my way of seeing, doing and living comics that I wouldn’t be able to mention them all in just one page.

There was an episode that left a mark on me when I was in high school, and I was a real collector of comics. At that time, I was already illustrating a lot and my mother, worried about the time I was spending on that activity rather than on schoolbooks, decided to hide all my comics books. She promised to return them to me as soon as the school year was over, and yet three years went by. An uncle of mine, my mother’s brother, who was also into comics in his youth, told me that his father, my grandfather, had done the same thing, and promised to return the magazines after the school year was over. This never happened – the magazines were burnt. I realized then that that was the end of my collection, and that I would never again have access to my comics. The good part of all this is that, because of that episode, I decided I was going to make my own stories. I’m really thankful for that.

The digital world has had a tremendously positive impact on the art world. I remember that there was once very little access to [social] networks, a time when you could hardly hear from or get to know the work of your idols, have access to tutorials or other tools. Today, it’s possible to exhibit work and get advice and critique in return, collaborate remotely and have financial returns along the way, as well as bring together people who share the same goals, dreams and missions.

I want to chart my own path. I want to become a reference, first nationally and then abroad. And if possible, to do it from here, based in my country, because this is where I feel I am needed. I want to make comics under my own name, creating a brand that can drive, motivate and inspire not only amateurs of comics, but all those who, with or without resources, believe they can make a difference, becoming their own idol.

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“ You have to watch what others do and copy it, there is no harm in copying. Copying makes the copyist a student, the bad thing is to want to remain a student forever. ”

4 UM CAMINHO DESENHADO

Conversa com o ilustrador Hélio “Link” Pene

A conversation with illustrator Hélio “Link” Pene

16 A UNIÃO EUROPEIA

E MOÇAMBIQUE

Uma sólida e longa relação

A solid and longstanding relationship

32 GWAZA MUTHINI

Comemoração dos 128 anos 128th Anniversary celebrations

82 DIÁSPORA

66 BEIRA BOI

Uma história de superação

A story of overcoming adversity

Januário Faustino, um moçambicano em Colónia, Alemanha

Januário Faustino, a Mozambican in Cologne, Germany

46 O ABSA

E as novas metodologias de trabalho And their new ways of working

52 CONHEÇA OS NOSSOS EMPREENDEDORES

A Spicy Malagueta e a organização de eventos

Spicy Malagueta, events planner

94 DRINKS AND SHOTS

Espresso

98 ALCANCE

As sugestões da Alcance para este mês

This month’s reading suggestions by Alcance Editores

FICHA TÉCNICA/BIOS

102 KARINGANA Um poema de Alcírio Endes Langa

A poem by Alcírio Endes Langa

114

58

MILLENNIUM BIM

Apoia exposição “Escola do caminho longo”

Supports the exhibition “Escola do Caminho Longo”

Propriedade/Property: Veludo & Mentol, Sociedade Unipessoal Lda • Conselho de Administração/Administrative Council: Omar Diogo, Nuno Soares, Mariano Silva • Director: Nuno Soares • Gestão de Conteúdos Editoriais/Editorial Content Management: Nuno Soares, Mariano Silva

• Copy-desk (português): Fátima Ribeiro • Colunistas/Writers: Eliana Silva, Mariano Silva, Nuno Soares, Jaime Álvaro, Precidónio Silvério, Aayat Irfan • Tradução (Português-Inglês)/Translation (Portuguese-English): M. Gabriela Carrilho Aragão • Fotografia/

Photography: Mariano Silva • Design de Capa/Cover Design: Nuno Azevedo • Grafismo/Visuals: Omar Diogo • Infografia e Paginação/ Infographics and Pagination: Omar Diogo • Produtores Audiovisuais/Audiovisual Producers: Nuno Lopes, Ana Piedade, Mariano

Silva • Gestão de Redes Sociais/ Social Media Management: Nuno Soares • Conteúdos de Marketing e Comunicação/ Marketing and

Communication Contents: Omar Diogo, Nuno Azevedo • Gestão de Homepage e Edição

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Editing: Omar Diogo, Jorge Oliveira • Departamento Comercial/Commercial Department: Nuno Soares - comercial@xonguila.co.mz

• Impressão/Printing: Minerva Print

02/Gabinfo-dec/2018

• Distribuição/ Distribution: Flotsam Moçambique, Lda

• ISSN: ISSN-0261-661

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Sumário Fevereiro - February 2023 • Ed. 55 © Revista Xonguila | 13
Cold Brew Espresso Cold Brew 110 CINEMA 35MM War Dance War Dance MAFENHA Por Sérgio Zimba

Do Director / From the Director

Estamos no mês de Fevereiro de um ano comum e, a propósito, uma curiosidade. Sabia que originalmente Fevereiro tinha 29 dias num ano como este e 30 dias num ano bissexto? Foi por exigência do Imperador César Augusto, de Roma, no ano 8 AC, que um dos dias de Fevereiro passou para o mês de Agosto, para que este ficasse com 31 dias, semelhante ao mês de Julho. Uma medida que vingou até aos nossos dias, influenciando a vida de todos nós.

Em Moçambique, têm lugar este mês vários eventos de carácter histórico e outros, celebrados das mais diversas formas. É o caso do 3 de Fevereiro, em que se assinala a morte de Eduardo Mondlane, o “obreiro da unidade nacional”, por isso considerado o Dia dos Heróis Moçambicanos em homenagem aos muitos cidadãos que participaram na luta de libertação nacional (19641974). Por coincidências da História, realiza-se na véspera, dia 2, a grande festa de Marracuene que evoca a capacidade de resistência das forças rongas comandadas contra a penetração das forças portuguesas (Batalha de Marracuene, 1895). É ainda neste mês que se festeja o Carnaval – o de Quelimane é sempre em grande –, se comemora o dia de São Valentim e se dá o retorno às aulas, com o reencontro dos estudantes com os seus colegas e professores.

Mas Fevereiro está a ser também um mês de tristezas, causadas por grandes chuvas, com as consequentes inundações e danos materiais e humanos. Muitos habitantes da zona sul do país viram as suas casas alagadas, perderam os seus bens, e alguns até entes queridos, e ficaram isolados devido ao colapso de infra-estruturas e à intransitabilidade de algumas estradas. A todos eles a Xonguila manifesta a sua solidariedade, desejando que a situação em que se encontram registe rápidas melhorias e possa ser ultrapassada.

Esta edição oferece um rico leque de artigos. O Embaixador da União Europeia em Moçambique, Antonino Maggiore, dialogou connosco, debruçando-se sobre os vários aspectos da sua jornada no país e dando uma perspectiva do que será a “parceria a 360 graus”, expressão sua, entre a União Europeia e Moçambique nos próximos quatros anos de missão. Conversámos com o ilustrador Hélio “Link” Pene para perceber o que o inspira e ficarmos a saber um pouco mais sobre o seu percurso profissional. O Absa Bank apresenta as inovadoras e eficazes metodologias de trabalho que tem vindo a implementar com base na sua política de trabalho, que poderão ser ferramentas igualmente úteis para quem nos lê. De não perder é também a possibilidade de conhecer o projecto Beira Boi, uma empresa que renasce após o caos, uma autêntica história de superação. Temos ainda as nossas rubricas habituais e muito mais para ler nas páginas que se seguem.

Tê-lo connosco é um enorme privilégio. Em nome da equipa, muito obrigado por nos acompanhar. Votos de uma agradável leitura

Dear Reader,

We are now in the month of February of a common year and, apropos of that, a curious fact: did you know that February originally had 29 days in a year such as this, and 30 days in a leap year? It was in the year 8 BC that, at the behest of Emperor Augustus Caesar of Rome, one of the days in February was transferred to the month of August, so that it would have 31 days, just like the month of July. This measure has lasted to this day, influencing all our lives.

In Mozambique, several historical and other events take place during this month and are celebrated in a variety of ways. Such is the case of February 3rd, which marks the death of Eduardo Mondlane, known as the “architect of national unity” and celebrated as a public holiday: Mozambican Heroes’ Day, in honour of the many citizens who took part in the national liberation struggle (1964-1974). By historical coincidence, the great feast of Marracuene is held on the eve of the holiday, on the 2nd, and in turn celebrates the resistance of the Ronga forces in a fight against the penetration of the Portuguese army (Battle of Marracuene, 1895). This is also the month when Carnival is celebrated – the Quelimane Carnival is always a highlight –, Valentine’s Day is commemorated and students return to classes, reuniting with their colleagues and teachers.

But February is also turning into a month filled with sadness, caused by heavy rains and the flooding and material and human damage left in their wake. Many inhabitants of the southern part of the country saw their houses flooded, lost their possessions and some even their loved ones, and were isolated due to the collapse of infrastructure and the impassability of some roads. To all of them, Xonguila expresses its solidarity, hoping that the situation in which they find themselves improves quickly and is then overcome.

This edition offers a wealthy array of articles. The Ambassador of the European Union in Mozambique, His Excellency Mr Antonino Maggiore, spoke to us about various aspects of his journey in the country so far, and gave us a prospective view of what the “360-degree partnership” – in his own words – between the European Union and Mozambique will be like in the next four years of his mission. We spoke to the illustrator Hélio “Link” Pene to understand what inspires him and get to know a little more about his career. Absa Bank presents the innovative and efficient work methodologies that it has been implementing as per the Bank’s work policy, which the reader may find equally useful. In addition, don’t miss the opportunity to know more about the Beira Boi project, a company reborn after chaos, a true story of overcoming adversity. We also have our usual columns and much more to read in the coming pages.

Having you with us is a great privilege. On behalf of the team, thank you very much for joining us. Best wishes for a pleasant reading.

Com o apoio de:

Editorial 14 | Revista Xonguila © Ed. 55 • Fevereiro - February 2023

Passaram

de brincar com bonecas para se tornar numa referência da moda

Admiramos a sua dedicação, e acreditamos que tem potencial para chegar onde quiser.

Bem-vindo à Banca de Negócios do Absa. Fale connosco sobre como podemos ajudá-lo a fazer as coisas acontecerem.

Isso é Africanicidade. Isso é Absa.

Termos e Condições aplicáveis. Para mais informações ligue para 1223/21344400, ou visite absa.co.mz Absa Bank Moçambique , SA (registado sob o número 101220982) é regulado pelo Banco de Moçambique.

A UNIÃO EUROPEIA E MOÇAMBIQUE, UMA SÓLIDA E LONGA RELAÇÃO

Entrevista a Antonino Maggiore, Embaixador da UE em Moçambique

Fotografia: Cortesia da União Europeia

A UNIÃO EUROPEIA E MOÇAMBIQUE, UMA SÓLIDA E LONGA RELAÇÃO

Entrevista a Antonino Maggiore, Embaixador da UE em Moçambique

Moçambique e a União Europeia desenvolvem uma parceria há décadas, assente em valores partilhados e interesses comuns, assim como em grandes estratégias e políticas, sendo de destacar o Global Gateway e as iniciativas Equipa Europa. Esta parceria é impulsionada e consolidada em sectores como cooperação para o desenvolvimento, diálogo político, relações económicas, comerciais e de investimento, boa governação, paz e consolidação democrática, luta contra a insurgência extremista em Cabo Delgado, e a interacção com actores moçambicanos desde o nível central até ao mais local. O Embaixador da União Europeia em Moçambique, Antonino Maggiore, no país há seis meses, falou à revista Xonguila, debruçando-se sobre vários aspectos da sua jornada no país e como será a “parceria a 360 graus”, expressão sua, entre a União Europeia e Moçambique nos próximos quatros anos de missão.

Podia, por favor, senhor Embaixador, dizer-nos o que o levou a envolver-se em diplomacia e descrever-nos a sua trajectória profissional?

Ser diplomata foi sempre um sonho, desde criança. Fui à Universidade, onde estudei Direito, com o plano de me tornar advogado, mas o meu sonho persistiu e foi aí que me juntei ao serviço externo da Itália, em 1999, tinha 25 anos. Trabalhei como diplomata na Embaixada da Itália, primeiro em Beijing, depois na Turquia, e também na representação italiana na União Europeia, que foi de importância vital para mim, e depois como Embaixador da Itália na Zâmbia. Decidi tornar-me diplomata porque, desde rapaz, sempre me fascinou a ideia de viajar e descobrir o mundo. Esta foi a razão inicial. Com o tempo, aprendi a importância da diplomacia para conectar pessoas de países diferentes, criar ligações entre sociedades e governos e também em contextos multilaterais. Penso que é este um valor acrescentado da diplomacia, estar ao serviço do seu país de modo a criar oportunidades de ligações para a sociedade, para os empresários, homens e mulheres, para os cientistas, artistas, académicos, ou seja, estimular intercâmbios e permitir que as sociedades cresçam graças a estas ligações.

Esteve ao serviço do Governo italiano em vários países e ao serviço da União Europeia. Gostaríamos que nos falasse da sua primeira experiência ao serviço da União Europeia e das grandes diferenças entre servir um governo e servir um bloco governamental.

Quando servi em Bruxelas, de 2013 a 2017, tive a oportunidade de aprender de perto o que é a União Europeia, o grande sucesso político que este bloco é a bem dos cidadãos europeus, governos europeus e suas instituições. É um papel complementar ser Embaixador de um Estado membro e ser Embaixador da União Europeia, porque trabalhamos juntos como “TEAM Europe”. A União Europeia é uma realidade política complexa onde os Estados membros jogam um papel importante e os seus Embaixadores são também protagonistas nas actividades políticas da União Europeia, sempre com o papel de liderança da Delegação da União Europeia na coordenação da posição comum e implementação das políticas do bloco em prosseguimento de interesses estratégicos e do reforço da parceria com os países parceiros. Portanto, estou entusiasmado com este papel como Embaixador da União Europeia, uma experiência única. Tenho uma equipa de 60 pessoas empenhadas e focadas em

estimular a parceria com Moçambique, e instrumentos importantes de cooperação para levar adiante programas com resultados e impactos concretos. É uma experiência muito boa representar a União Europeia em Moçambique, ter a responsabilidade perante os Estados membros e os cidadãos europeus, e promover os nossos valores fundamentais.

Passam-se 6 meses desde que chegou a Moçambique. Quais as suas impressões iniciais, como avalia a primeiras interacções e o que mais o fascinou?

Os meus primeiros meses foram extremamente significantes e satisfatórios profissional e pessoalmente. Moçambique é um país vibrante, tem beleza e potencial, as pessoas interpretam e levam a vida com dinamismo social e cultural e navegando nas oportunidades económicas. Mas há também os desafios da pobreza e desigualdade, a insegurança associada à insurgência no Norte e suas consequências. Do ponto de vista político, Moçambique é um país com uma importante história e trajectória; os momentos difíceis superados, incluindo década e meia de guerra; e os processos de desenvolvimento, de consolidação da paz e das instituições, cujo papel é crucial para o progresso de toda uma nação, sob a lide-

18 | Revista Xonguila © Ed. 55 • Fevereiro - February 2023

“É um privilégio poder contribuir para elevar as relações bilaterais a um novo patamar e materializar a minha ambição de mostrar como a União Europeia é o parceiro primordial de Moçambique em todas as dimensões.”

– Antonino Maggiore, Embaixador da UE em Moçambique

Fotografia: Cortesia da União Europeia

rança do Presidente Filipe Nyusi e seu povo. É um privilégio poder contribuir para elevar as relações bilaterais a um novo patamar e materializar a minha ambição de mostrar como a União Europeia é o parceiro primordial de Moçambique em todas as dimensões. Para dar exemplos, uma semana após a minha chegada, recebemos a visita do Alto Representante da Política Externa da União Europeia, Josep Borrel, e, em Outubro, a Comissária da Democracia e Demografia, Dubravka Suíça, para participar na Assembleia Parlamentar Conjunta ACP – UE e firmar acordos de cooperação sectorial. Já pude reunir-me com diversos interlocutores e, num espírito de parceria, continuamos a levar adiante agendas importantes, como foi o diálogo político Governo de Moçambique e União Europeia, em Dezembro, o diálogo sobre comércio e investimentos com o Ministério da Indústria e Comércio, o lançamento de inicia-

tivas Team Europe, entre outras acções. É louvável a abertura e o compromisso em superar desafios e trazer resultados, é este o espírito que devemos manter.

No cenário mundial actual, com as consequências da pandemia e conflitos em vários lugares, como na Ucrânia, como vê o papel da diplomacia?

Com o tempo, a diplomacia evoluiu. Vários contextos e realidades reinventaram a forma como se faz a diplomacia e ela própria se vai adaptando em tempos de crise, como a pandemia da Covid-19, a agressão russa contra a Ucrânia, como bem exemplificou. O importante é reconhecer que, nestes tempos de crise, a cooperação internacional é mais do que essencial e nunca deve ser interrompida. Com a pandemia, as organizações, Estados, as pessoas adaptaram-se e abraçaram a chamada diplomacia híbrida, que integra as tradicionais reuniões presenciais com par-

ticipação online, e decisões importantes foram tomadas para, inclusive, encontrar soluções para a própria pandemia. A guerra russa contra a Ucrânia, devo reiterar, não provocada e injustificada, foi um outro teste à diplomacia, em particular a diplomacia europeia: o nosso bloco de 27 não cancelou os seus compromissos internacionais, sejam bilaterais ou multilaterais, pelo contrário, acelerou, por exemplo, a sua agenda verde e humanitária. A União Europeia e os seus parceiros levaram adiante todo os compromissos diplomáticos, o que possibilitou a continuação da cooperação internacional e a resposta à invasão russa, do ponto de vista de apoio diplomático em fóruns como as Nações Unidas com a aprovação de resoluções importantes, o apoio financeiro, humanitário e toda a solidariedade manifestada. Tudo isto para dizer que a diplomacia sempre enfrenta desafios, mas o compromisso dos Estados e suas

Fotografia: Cortesia da União Europeia

lideranças, dos blocos regionais e organismos internacionais, com base em regras comummente aceites, é o que faz a diplomacia ainda mais reforçada e um instrumento de soluções.

Ouve-se falar de novas iniciativas, como o Pacto Ecológico Europeu, o Global Gateway e a Equipa Europa. Em que consistem e como se enquadram na agenda da União Europeia em Moçambique?

Vou mesmo começar pelo Global Gateway, que é uma iniciativa virada para o futuro. Foi lançada há um ano, mas já assistimos ao seu lançamento em todas as regiões, incluindo aqui em Moçambique, onde, como Equipa Europa, estamos a implementar o Pacto Verde para Moçambique e o e-Juventude. Globalmente, esta iniciativa visa impulsionar ligações inteligentes, limpas e seguras nos sectores digital, da energia e dos transportes e reforçar os sistemas de

saúde, educação e investigação em todo o mundo. Ela está também totalmente alinhada com a Agenda 2030 e os seus Objectivos de Desenvolvimento Sustentável. Em Moçambique, pretendemos mobilizar uma resposta europeia colectiva a um cenário cada vez mais desafiador e em mudança, e tornarmo-nos parceiros de maior impacto. Importante nestas duas iniciativas, Pacto Verde para Moçambique e e-Juventude, é que resultam de consultas ao Governo, à sociedade civil e a outros parceiros de cooperação. O Pacto Verde para Moçambique vai apoiar o Governo a proteger e restaurar o capital natural do país; aumentar a coordenação dos investimentos que a União Europeia e seus membros estão a implementar e a planear no sector das infra-estruturas sustentáveis, aproveitando as oportunidades da transição ecológica. Neste capítulo, a União Europeia já apoia Moçambique

a materializar a sua dupla ambição de assegurar o acesso universal a electricidade e uma transição energética justa, assente essencialmente nas energias renováveis, com um forte envolvimento do sector privado. Por outro lado, e-Juventude vai apoiar os jovens a atingir o seu pleno potencial para liderar a transformação socioeconómica através de educação, emprego e empoderamento. O Pacto Ecológico Europeu, por seu lado, visa eliminar a emissão de gases com efeito de estufa, esta é a contribuição europeia para o compromisso de neutralidade climática até 2050, nos termos do Acordo de Paris. Estas estratégias e iniciativas estão bem alinhadas ao programa de cooperação da União Europeia com Moçambique (2021-2027) nas áreas do Crescimento Verde, Crescimento da Juventude, e Governação, Paz e Sociedade Justa, e com as prioridades quinquenais de Moçambique.

Como tem sido a interacção com actores locais e outras organizações na implementação dos diversos projectos, programas e iniciativas?

A interacção com os actores locais é uma parte essencial da consolidação da nossa parceria com Moçambique. Deles aprendemos, das sensibilidades, o conhecimento sobre as realidades no terreno, e ganhamos melhor percepção dos problemas para os quais juntos procuramos encontrar uma solução. É assim que acordamos as prioridades da nossa cooperação, preservando os valores partilhados e interesses comuns entre Moçambique e a União Europeia. Temos, em coordenação com o Governo, as organizações internacionais como parceiros estratégicos e acordos para a implementação de programas nas áreas da paz, desenvolvimento local, protecção dos direitos humanos, prevenção e combate à violência e a promoção da igualdade de género. Como Equipa Europa, posso aqui destacar a implementação do acordo de paz, em que temos as vertentes de reintegração que envolvem o desenvolvimento local, a educação para a paz e empoderamento, o programa DELPAZ, em que intervêm a Áustria e a Itália na sua implementação em Sofala, Manica e Tete; temos um projecto de promoção de emprego jovem, em Cabo Delgado, com gestão delegada ao Instituto Camões, de Portugal. É imperioso mencionar a abordagem integrada da União Europeia em Cabo Delgado – a nossa interacção com os diversos parceiros é no sentido de reforçar este triplo nexo em todo o norte do país, em termos de assistência humanitária, segurança e construção da paz e desenvolvimento. Na frente da segurança, a Missão de

Formação Militar da União Europeia (EUTM) treina os membros das forças de defesa e segurança de Moçambique para combater a insurgência no Norte. Igualmente importante é a nossa colaboração e concertação com outros actores na região de África para encontrar uma resposta em Cabo Delgado, falo do apoio da União Europeia à Missão da SADC (SAMIM) e das Forças Ruandesas, que, no terreno, ajudam a travar o avanço dos insurgentes.

Que estratégias considera indispensáveis na comunicação entre a União Europeia e Moçambique?

A primeira estratégia é diálogo franco e aberto. É o diálogo que está por detrás do sólido relacionamento entre Moçambique e a União Europeia, pois coordenamos políticas e planos e fazemo-lo aos níveis político, social, económico e comercial, e em fóruns regionais e globais. Temos duas vezes ao ano o diálogo político União Europeia – Moçambique em que fazemos o balanço dos progressos da nossa cooperação e concertamos posições e prioridades, mas temos também os diálogos sectoriais para uma concertação mais específica de acções a implementar. Para um conhecimento do Moçambique real, vamos ao terreno e interagimos com actores, desde os líderes comunitários, a sociedade civil, o sector privado… São quem nos ajuda a tornar real a parceria 360 graus que a União Europeia cultiva com Moçambique.

Como classifica as relações entre a União Europeia e Moçambique nos últimos anos? Quais considera terem sido os maiores feitos conjuntos até à data?

Relações excelentes! A União

Europeia e Moçambique têm agendas alinhadas em relação às prioridades nacionais e globais, e estas agendas entrecruzam-se. Quero destacar o facto de Moçambique iniciar oficialmente o seu mandato no Conselho de Segurança das Nações Unidas, como membro não permanente, um processo que a União Europeia se orgulha de ter apoiado. É onde o Governo de Moçambique vai partilhar a sua visão sobre diversos assuntos da realidade internacional, incluindo sobre a agressão russa contra a Ucrânia e a preservação de uma ordem internacional assente em regras, em linha com a Carta das Nações Unidas. Juntos alcançámos muito, conseguimos melhorar a vida dos moçambicanos através do empoderamento económico local, criação de emprego jovem, construção e reabilitação de infra-estruturas como estradas e pontes, e promovemos a paz e a estabilidade como condições-chave para o desenvolvimento.

Quais são as acções, planos e programas a serem implementados num futuro próximo?

Mencionei antes o Plano Indicativo Multianual (2021-2027), que é o programa de cooperação acordado entre o Governo de Moçambique e a União Europeia. Este instrumento está centrado nas prioridades do país, com aspectos de género como transversais. São 428 milhões de euros para o período 2021 – 2024, e um total de 183 milhões de euros no âmbito do Programa de Acção Anual para 2022, que cobre medidas nas três áreas prioritárias do Plano Multianual. Neste momento, está já em curso o Programa de Acção Anual de 2023, englobando intervenções nos sectores de cidadania activa,

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Fotografia: Cortesia da União Europeia

governação democrática, luta contra a violência sexual e baseada no género, desenvolvimento de capacidades para o emprego, e economia azul sustentável. Quero também mencionar que, aquando da apresentação das minhas cartas credenciais ao Presiden -

te da República, abordámos a necessidade de promover mais intercâmbios de negócios e investimentos entre a Europa e Moçambique. Como seguimento, vamos acolher este ano o Fórum de Negócios União Europeia – Moçambique e envolver o sector pri -

vado europeu, através da EUROCAM, e o local. Para fechar, dizer que teremos, em Maio, a nossa anual celebração do dia da Europa, que é para nós uma grande festa da Europa pelo mundo e um importante momento de intercâmbio com Moçambique.

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“Em Moçambique, pretendemos mobilizar uma resposta europeia colectiva a um cenário cada vez mais desafiador e em mudança, e tornarmo-nos parceiros de maior impacto.”
Fotografia: Cortesia da União Europeia

THE EUROPEAN UNION AND MOZAMBIQUE, A SOLID AND LONGSTANDING RELATIONSHIP

Interview with Antonino Maggiore, EU Ambassador to Mozambique

Mozambique and the European Union have built a decades-long relationship based on shared values and common interests, as well as on major strategies and policies such as the Global Gateway and the Team Europe initiatives. This partnership is driven by and consolidated in sectors such as development cooperation and political dialogue; economic, trade and investment relations; good governance, consolidation of peace and democracy; the fight against extremist insurgency in Cabo Delgado and interaction with Mozambican actors, from the central structures to the smallest local level. The Ambassador of the European Union in Mozambique, His Excellency Mr Antonino Maggiore, has been in the country for six months and spoke to Xonguila magazine about various aspects of his journey in the country so far, as well as how the “360-degree partnership” – in his own words – between the European Union and Mozambique will unfold in the next four years of his mission.

Mr Ambassador, could you please tell us what led you to a career in diplomacy, and describe your professional journey for us?

I’ve dreamt of being a diplomat since I was a child. I went to university to study Law, with the intention of becoming a lawyer. But my dream was persistent and led me to join Italy’s foreign service in 1999, then a 25-year-old. I worked as a diplomat at the Italian Embassy, first in Beijing, then in Turkey, and at the Italian representation in the European Union – which was vitally important to me – and then as Italy’s Ambassador to Zambia. I decided to become a diplomat because, ever since

I was a boy, I was fascinated by the idea of travelling and discovering the world. This was the initial reason. Over time, I learnt the important role that diplomacy plays in connecting people from different countries, in establishing links between societies and governments, and also in multilateral contexts. I believe that this is diplomacy’s added value: to be at the service of one’s country in order to create opportunities and links for society, for entrepreneurs, men and women, for scientists, artists, academics – in other words, to stimulate exchanges and allow societies to grow thanks to these connections.

You have served the Italian government in several countries and have also been at the service of the European Union. We would like you to tell us about your first experience serving the European Union and the big differences between serving a government and serving a governmental bloc.

When I served in Brussels from 2013 to 2017, I had the opportunity to learn – at close range – what the European Union is, and what a great political success this bloc is for the sake of European citizens, European governments

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and their institutions. It is a complementary role to be Ambassador of a member state and of the European Union, because we work together as “Team Europe”. The European Union is a complex political reality where Member States play an important role and their Ambassadors are also protagonists in the political activities of the European Union. They each lead their assigned EU Delegation in coordinating the common positioning and implementing the policies of the bloc in pursuit of strategic interests, whilst strengthening cooper-

ation with partner countries. I am therefore excited about this role as Ambassador of the European Union, a unique experience. I have a team of 60 people committed to and focused on promoting our partnership with Mozambique, and important instruments of cooperation to carry out programmes that lead to practical results and impact. It is a very good experience to represent the European Union in Mozambique, to be accountable to the member states and European citizens, and to promote our fundamental values.

It has been six months since you arrived in Mozambique. What are your initial impressions, how do you evaluate your first interactions and what has fascinated you the most?

My first months have been extremely meaningful and satisfying, both professionally and personally. Mozambique is a vibrant country; it has beauty and potential. People lead their lives with social and cultural dynamism whilst navigating economic opportunities . But there are also the challenges of poverty and inequality, the insecurity associated

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Fotografia: Cortesia da União Europeia

with insurgency in the North and its consequences. From a political standpoint, Mozambique is a country with an important history and trajectory. Difficult moments were overcome, such as a decade and a half of [civil] war, and development processes were undertaken, such as the consolidation of peace and institutions, whose role is crucial for the progress of the entire nation, under the leadership of President Filipe Nyusi and his people. It is a privilege to be able to contribute to raising bilateral relations to a new level, and to materialise my ambition of showing how the European Union is Mozambique’s primary partner in all spheres. To give a few examples: a week after my arrival, we received a visit from the EU High Representative for Foreign Affairs and Security Policy , Josep Borrel

and, in October, from the EU Commissioner for Democracy and Demography, Dubravka Šuica , to attend the ACP-EU Joint Parliamentary Assembly and sign sectoral cooperation agreements. I’ve already met with various actors and, in the spirit of partnership, we continue to pursue important agendas, such as the political dialogue between the Government of Mozambique and the European Union in December, the dialogue on trade and investment with the Ministry of Industry and Trade, and the launch of Team Europe initiatives, among other actions. The openness and commitment to overcome challenges and bring in results is commendable, and this is the spirit we must maintain.

Given the current world scenario, namely the conse -

quences of the pandemic and conflicts in various places such as Ukraine, how do you view the role of diplomacy?

Diplomacy has evolved over time. Various contexts and realities have reinvented the way diplomacy is practiced, and it is itself adapting in times of crisis, such as the Covid-19 pandemic and the Russian military aggression against Ukraine, as you have well exemplified. The important thing is to recognise that in these times of crisis, international cooperation is more than essential and should never be interrupted. With the pandemic, organisations, states and people adapted and embraced the so-called hybrid diplomacy, which combines traditional faceto-face meetings with online participation, and important decisions were taken to find

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Fotografia: Cortesia da União Europeia

solutions for the pandemic itself. The Russian war against Ukraine – unprovoked and unjustified, to reiterate – was yet another test to diplomacy, in particular European diplomacy: our bloc of 27 [member states] did not cancel its international commitments, whether bilateral or multilateral; on the contrary, it accelerated, for example, its green and humanitarian agenda. The European Union and its partners carried out all diplomatic commitments, which made it possible to continue international cooperation and respond to the Russian invasion, in terms of diplomatic support in forums such as the United Nations with the approval of important resolutions, financial and humani -

tarian aid and all the solidarity shown. This is all to say that diplomacy always faces challenges, but the commitment of States and their respective leadership, of regional blocs and international bodies, all based on commonly accepted rules, is what strengthens diplomacy and turns it into an instrument for delivering solutions.

One hears about new initiatives such as the European Green Pact, the Global Gateway and Team Europe. What are they, and how do they fit into the EU agenda in Mozambique?

I must really begin with the Global Gateway, which is a forward-looking initiative. It was launched a year ago, but

we have already seen it rollout in all regions – including here in Mozambique – where, as Team Europe, we are implementing the Green Pact for Mozambique and e-Youth. Overall, this initiative aims to boost smart, clean and secure connections in the digital, energy and transport sectors and strengthen health, education and research systems across the world. It is also fully aligned with the 2030 Agenda and its Sustainable Development Goals. In Mozambique, we intend to mobilise a collective European response to an increasingly challenging and changing landscape and become partners with greater impact. Something important about these two initiatives, Green Pact for Mozambique

and e-Youth, is that they result from consultations with Government, civil society and other cooperation partners. The Green Pact for Mozambique will support the Government in protecting and restoring the country’s natural wealth and increase coordination of investments that the EU and its members are planning and implementing in the sustainable infrastructure sector, taking advantage of the opportunities presented by the ecological transition. At this stage, the European Union is already supporting Mozambique in materializing its twin ambition of ensuring universal access to electricity and a fair transition to renewable energies, with strong involvement from the private sector. On the other hand, e-Youth will assist young people in reaching their full potential to lead socio-economic transformation through education, employment and empowerment. The European Green Pact, for its part, aims to eliminate greenhouse gas emissions, representing Europe’s commitment to achieve climate neutrality by 2050 under the Paris Agreement. These strategies and initiatives are well aligned with the EU’s cooperation programme with Mozambique (2021-2027) in areas such as Green Growth, Youth Development and Governance, Peace and Fair Society, and with Mozambique’s priorities for this five-year cycle.

How has the interaction with local actors and other organisations been in the implementation of the various projects, programmes and initiatives?

Interaction with local actors is an essential part of consolidating our partnership with Mozambique. We learn from

them, from their sensibilities and knowledge about the realities on the ground, and we gain a better insight on the problems that we jointly seek solutions for. That is how we agree on the priorities of our cooperation: by preserving the shared values and common interests between Mozambique and the European Union. In coordination with the [Mozambican] Government, we have international organisations as strategic partners and agreements in place to implement programmes in sectors such as peace consolidation, local development, protection of human rights, prevention of and fight against violence and promotion of gender equality. As Team Europe, I can highlight the implementation of the peace agreement, including aspects of reintegration that involve local development, education for peace and empowerment, as well as the DELPAZ programme, with Austria and Italy as implementation partners in Sofala, Manica and Tete. We have a project to promote youth employment in Cabo Delgado, whose management is delegated to Portugal’s Instituto Camões. It is imperative to mention EU’s integrated approach in Cabo Delgado: our interaction with various partners aims to strengthen, throughout the northern region, the triple nexus of humanitarian assistance, security and peace building and development. On the security front, the European Union Military Training Mission (EUTM) currently trains members of the Mozambique defence and security forces to fight insurgency in the North. Equally important is our collaboration and concertation with other actors in the African region to find a solution

for Cabo Delgado – and here I’m specifically referring to the European Union’s support of the SADC Mission (SAMIM) and the Rwandan Forces that are on the ground to help halting the advance of the insurgents.

What communication strategies do you consider indispensable between the European Union and Mozambique?

The first strategy is frank and open dialogue. Dialogue is foundational for the solid relationship between Mozambique and the European Union, because we coordinate policies and plans and we do it at political, social, economic and trade levels, and in regional and global forums. Twice a year, we have the EU-Mozambique political dialogue in which we assess the progress of our cooperation and agree on positions and priorities, and we also have sectoral dialogues for more specific concertation of actions to be implemented. To get to know the real Mozambique, we go out on the field and interact with players ranging from community leaders, civil society and the private sector. These are the people who help us actualise the 360-degree partnership that the European Union cultivates with Mozambique.

How would you rate the relations between the European Union and Mozambique in recent years? What do you consider to be the greatest joint achievements to date?

Excellent relations! The European Union and Mozambique have their agendas aligned in relation to national and global priorities, and these agendas intersect. I want to highlight the fact that Mozambique has officially began its mandate

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on the United Nations Security Council as a non-permanent member, a process that the European Union is proud to have supported. It’s there that the Government of Mozambique will share its views on various international issues , including the Russian aggression against Ukraine and the preservation of a rulesbased international order in line with the United Nations Charter. We have achieved a lot together – we have managed to improve the lives of Mozambicans through local economic empowerment, job creation for the youth, building and rehabilitating infrastructure such as roads and bridges, and we have promoted peace and stability as key conditions for development.

What are the key actions,

plans and programmes to be implemented in the near future?

I referred to earlier to the Multiannual Indicative Plan [Programa Indicativo Plurianual (2021-2027)] , which is the cooperation programme agreed to between the Government of Mozambique and the European Union. This instrument is focused on the country’s priorities, with gender aspects being transversal. There are 428 million euro allocated for the period 20212024 , and a total of 183 million euro for the 2022 Annual Action Programme, which covers actions in the three priority areas of the Multiannual Plan. At this moment, the 2023 Annual Action Programme is already underway, encompassing sector interventions on active citizenship, democratic governance, the fight against

sexual and gender-based violence, capacity building for employment, and a sustainable blue economy. I would also like to mention that when I presented my letters of credence to the President of the Republic, we addressed the need to promote more business and investment exchanges between Europe and Mozambique. As a follow-up, this year we will host the European Union – Mozambique Business Forum and involve the European private sector – through EUROCAM [Association of European Entrepreneurs in Mozambique] – and the local sector. In closing, a note to say that we will have our annual Europe Day celebration in May, for us a great celebration of Europe around the world and an important moment of exchange with Mozambique.

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Fotografia: Cortesia da Organização do Festival Gwaza Muthine

Os 128 anos de Gwaza Muthine

Gwaza Muthine foi um combate que se travou a 2 de Fevereiro de 1895, nas proximidades de Marracuene, na província de Maputo, entre as forças rongas comandadas pelo jovem príncipe Zixaxa e as forças portuguesas chefiadas pelo major Alfredo Augusto Caldas Xavier. A batalha ocorreu no contexto das operações de ocupação colonial portuguesa, referidas na altura como campanhas de conquista e pacificação. Os nossos guerreiros lutaram com todas as suas forças, mas não conseguiram vencer. Esta batalha é, no entanto, um dos maiores símbolos no que toca à resistência colonial moçambicana. Todos os anos, na data em que ocorreu, há uma série de comemorações festivas emblemáticas a ela associadas, visando exaltar a nossa cultura, resiliência e identidade. A ocasião coincide com a época do canho (ou canhu), fruto do canhoeiro, que permite a produção do “ukanyi”, um tipo de vinho tradicional secular de baixo teor alcoólico, bastante apreciado e consumido pelas comunidades na festa de Gwaza Muthini.

As festividades de 2023 realizaram-se, como sempre, em Marracuene, desta vez sob o lema 128 Anos de Gwaza Muthini, Exaltando a Cultura como Legado da Nossa Identidade ́. Arrancaram com o já habitual Tributo ao Canhu, prosseguiram com a Cerimónia de Despedida nos túmulos do regulado dos Mabjaias, e tiveram como última componente o Festival de Gwaza Muthini, realizado no monumento que assinala a batalha. Participaram mais de 28 artistas, entre os quais António Marcos, Melancia de Moz, Adelino Eduar-

do Mabatida, Casal do Ouro, Denny Love e muitos outros. Um detalhe interessante foi a participação de um grupo de dançarinos de marrabenta proveniente de Roma (Itália). Mais de 5 mil pessoas estiveram presentes no festival, que contou com 2 palcos, um patrocinado pela 2M e o outro pela Heineken. A opinião do público foi bastante positiva pois tudo correu dentro da normalidade, em clima de alegria contagiante. Também o Governo do Distrito de Marracuene, organizador do acontecimento, mostrou grande satisfação, uma vez que tudo correspondeu às expectativas e objectivos traçados pela CODGE (Comissão Organizadora Distrital dos Grandes Eventos). Assim sendo, considera-se que o evento tem bastante impacto para o desenvolvimento local, uma vez que todas as instituições e as comunidades estão envolvidas, acabando por sair beneficiadas, seja economicamente, seja cultural e historicamente, pois as gerações vindouras acabam conhecendo o passado das suas comunidades, na tentativa de querer preservar o legado deixado pelos seus antepassados. As festividades podem mesmo ser vistas como um fenómeno de culto de importância nacional, já que nelas se apresentam costumes e manifestações culturais diversas, incluindo dança, cânticos, gastronomia, vestes típicas e outras, contando com a presença de um vasto público e de várias entidades do Estado.

A organização espera que no próximo ano as festividades sejam ainda melhores, com aumento do número de participantes assim como maior presença de artistas de outras geografias.

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A batalha de Gwaza Muthine, travada a 2 de Fevereiro de 1895, nas proximidades de Marracuene, é um dos maiores símbolos da resistência à penetração colonial em Moçambique.
Fotografia: Cortesia da Organização do Festival Gwaza Muthine

Todos os anos, na data em que teve lugar a batalha de Gwaza Muthine, há uma série de comemorações festivas visando exaltar a cultura, a resiliência e a identidade moçambicanas.

Fotografia: Cortesia da Organização do Festival Gwaza Muthine
Fotografia: Cortesia da Organização do Festival Gwaza Muthine

Gwaza Muthini's 128th anniversary

The battle of Gwaza Muthini took place on February 2nd, 1895, near Marracuene, in Maputo province, fought between the Ronga forces commanded by the young prince Zixaxa and the Portuguese forces led by Major Alfredo Augusto Caldas Xavier. The battle took place during the Portuguese colonial occupation manoeuvres, at the time referred to as conquest and pacification campaigns. Our warriors fought with all their might, but could not win. This battle is, however, one of the greatest symbols of Mozambican colonial resistance. Every year, on the date it occurred, there is a series of emblematic festive commemorations associated with it, aiming to exalt our culture, resilience and identity. The occasion coincides with the “canho” (or “canhu”) season, the fruit of the Canhoeiro tree (Sclerocarya birrea, also known as Marula tree, elsewhere in southern Africa), which allows for the production of "ukanyi", a type of centuries-old traditional wine with low alcoholic content, greatly appreciated and consumed by the communities attending the Gwaza Muthini festival.

As always, the 2023 festivities were held in Marracuene, this time under the motto ‘128 Anos de Gwaza Muthini, Exaltando a Cultura como Legado da Nossa Identidade’ (“128 Years of Gwaza Muthini, Exalting Culture as a Legacy of Our Identity”). They kicked off with the now customary Tribute to Canhu, followed by the Farewell Ceremony at the tombs of the Mabjaias chiefdom, and had as the last component the Gwaza Muthini Festival, held at the monument marking

the battle. Over 28 artists participated, including António Marcos, Melancia de Moz, Adelino Eduardo Mabatida, Casal do Ouro, Denny Love and many others. An interesting fact was the participation of a group of marrabenta dancers from Rome (Italy). More than five thousand people attended the festival, which had two stages: one sponsored by 2M and the other by Heineken. The public’s response was very positive as everything ran smoothly, in an atmosphere of irrepressible joy. The Government of Marracuene District, organiser of the event, also manifested great satisfaction, as everything corresponded to the expectations and objectives outlined by the CODGE – Comissão Organizadora Distrital dos Grandes Eventos (“District Organising Committee for Major Events”). It is therefore considered that the event has quite an impact on local development, since all institutions and communities are involved and end up benefiting economically, culturally and historically, since future generations get to know their communities’ past, in an attempt to preserve the legacy left by their ancestors. The festivities can even be seen as a cult phenomenon of national importance, since they present various customs and cultural manifestations, including dancing, singing, gastronomy, typical dress and others, to a vast public and various State entities.

The organisation hopes that next year the festivities will be even better, with an increase in the number of participants as well as a greater presence of artists from other geographies.

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The event has quite an impact on the local development, since all institutions and communities are involved and end up benefiting economically, culturally and historically.

The Gwaza Muthini battle celebrations

can be seen as a cult phenomenon of national importance.
Fotografia: Mariano Silva

“NEW WAYS OF WORKING”

New Ways of Working ou Novas Formas de Trabalhar é um conceito que foi impulsionado pela covid-19, quando muitas empresas, para fazer face à nova realidade, começaram a implementá-lo. Algumas outras, no entanto, como foi o caso do Absa Bank Moçambique, ao perceberem a importância das novas propostas para a satisfação e retenção dos seus colaboradores, deram os primeiros passos ainda antes da eclosão da pandemia.

Com uma estrutura robusta e flexível, o Absa criou mecanismos que fazem a diferença no quotidiano dos seus colaboradores, tais como o trabalho híbrido, o reforço da filosofia do open space e lugares não marcados, tendo igualmente alavancado o uso de ferramentas digitais como o Jabber e o MsTeams como meios de comunicação. “Somos uma entidade que repensa não só o ambiente de negócios, mas também as áreas envolventes, e, se o mundo mudou, a nossa forma de trabalhar também tem de mudar. Deve existir flexibilidade nas estruturas para se ajustarem às necessidades dos colaboradores neste mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) e, por isso, procuramos, passo a passo, contribuir para esta nova forma de trabalhar, mais colaborativa, mais autónoma e mais feliz para todos. Este modelo de trabalho requer muita disciplina por parte dos colaboradores, pois estes devem assegurar a sustentabilidade do negócio. Só desta forma continuaremos empenhados em diferenciar a nossa Employee Value Proposition (EVP), isto é, a nossa Proposta de Valor ao Empregado[1], afirma Hanifa Hassangy, Directora de Pessoas e Cultura. Em paralelo, com a evolução tecnológica, a existên -

cia de plataformas como o MsTeams, o Skype, o Slack, o Zoom, o Miro, entre outras, para não falar do SMS, do WhatsApp e do e-mail, vieram comprovar que já não é necessário estar num escritório a tempo inteiro para se ser um membro produtivo na equipa.

O modelo híbrido exigiu ao Banco a promoção de uma cultura prioritariamente remota e descentralizada que proporciona liberdade, autonomia e flexibilidade nas relações de trabalho. Desta forma, os colaboradores, de acordo com as suas funções, podem escolher quando e onde trabalhar, optando pelo formato de trabalho que mais se coadune com as suas necessidades – desde que assegurados todos os requisitos da política de segurança de dados do Banco –, assim se obtendo um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Neste processo, como forma a facilitar a implementação do trabalho híbrido, o Absa garantiu a atribuição, a todos os colaboradores, de condições estruturais para que eficácia do seu trabalho não fosse afectada, através da disponibilização de mobiliário, computadores portáteis, internet fixa, dados móveis, entre outros.

Com a implementação do

modelo híbrido, tanto o Banco como os colaboradores beneficiaram, porque a flexibilidade aumentou a retenção de talentos e o desempenho das equipas. Aliás, estudos recentes da Harvard Business School comprovam que as empresas que adoptaram modelos de trabalho mais flexíveis aumentaram a produtividade dos seus colaboradores, reduziram a rotatividade e diminuíram os custos da própria organização.

Porém, como em tudo, as mudanças no ambiente de trabalho exigiram, e continuarão a exigir, a necessidade de adaptação do Banco às novas tendências de trabalho e para valorizar o potencial das pessoas. O Absa tem vindo a investir, de forma contínua, na automatização dos processos e na formação das suas pessoas, recorrendo ao uso das novas tecnologias, como a Realidade Virtual, por exemplo. Esta inovação, para além de quebrar a barreira da distância, veio revolucionar o modelo de formação tradicional, tornando as sessões de aprendizagem mais ágeis, dinâmicas, flexíveis, motivadoras. A formação nela baseada apresenta um potencial de crescimento muito elevado e com benefícios evidentes, quer para o banco quer para os seus colaboradores.

Fevereiro - February 2023 • Ed. 55 © Revista Xonguila | 47 Absa Bank
Como o Absa está a redefinir o trabalho em Moçambique

As novas formas de trabalhar trouxeram e continuarão a trazer um impacto positivo na vida dos colaboradores. São uma prova implícita de confiança mútua entre empregado e empregador, dando uma maior flexibilidade e autonomia na gestão do tempo, um maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e um enriquecimento do conteúdo do trabalho através da sua diversificação. Desta forma, desenvolve-se, cada vez mais, uma cultura favorável ao aprendizado e que fomenta a colaboração, uma cultura que instiga os colaboradores a querer saber mais, a desenvolver-se e a comprometer-se, passando a ser agentes de mudança. “As organizações que se centram nas pessoas são as que obtêm melhores resultados e maior compromisso e lealdade por parte destas. É por isso que somos um banco de pessoas e para as pessoas, um banco que coloca os seus colaboradores no centro da sua estratégia empresarial, independentemente do modelo de trabalho ou processo organizacional adoptado”, diz Hanifa Hassangy.

Somos um banco de pessoas e para as pessoas, um banco que coloca os seus colaboradores no centro da sua estratégia empresarial, independentemente do modelo de trabalho ou processo organizacional adoptado.

–Hanifa Hassangy, Directora de Pessoas e Cultura do Absa Bank Moçambique

“NEW WAYS OF WORKING”

How Absa is redefining work in Mozambique

New Ways of Working is a concept that gained momentum in the wake of covid-19, when many companies began to implement it to cope with the new pandemic reality. However, a few companies such as Absa Bank Moçambique, recognising the importance of delivering new approaches for the satisfaction and retention of its employees, had already taken the first steps to implement the concept prior to the outbreak of the pandemic.

With a robust and flexible structure, Absa created mechanisms that make a difference in the daily lives of its employees, such as hybrid work, strengthening the philosophy of open space and unassigned desks, as well as leveraging the use of digital tools such as Jabber and MS Teams as means of communication. “We are an organization that rethinks not only the business environment but also its adjacent areas, and if the world has changed, our way of working has to change too. There must be structural flexibility to adjust to the needs of the employees in this VUCA (volatile, uncertain, complex and ambiguous) world, and so we seek, step by step, to contribute to this new way of working, [which is] more collaborative, more autonomous and happier for everyone. This work model requires a lot of discipline from the employees, as they must ensure the sustainability of the business. Only in this way will we remain committed to differentiating our Employee Value Proposition (EVP)”, says Hanifa Hassangy, Director of People and Culture. At the same time, technological evolution and platforms such as MS Teams , Skype, Slack, Zoom and Miro, among others, not to mention SMS, WhatsApp and email, have proven that one no longer needs to be in the office fulltime to be a productive member of the team.

The hybrid model required the Bank to promote a primarily remote and decentralised culture that affords freedom, autonomy and flexibility in working arrangements. In this way and according to their respective roles, employees can choose when and where to work, opting for the work format that best suits their needs – provided that the Bank’s data security policy requirements are all met – thus achieving a better balance between their personal and professional lives.

In this process, in order to facilitate the implementation of hybrid work, Absa ensured that all employees were given structural conditions so that the efficacy of their work was not affected, through the provision of furniture, laptops, fixed Internet and mobile data, among others.

With the implementation of the hybrid model, both the Bank and the employees benefited, because flexibility increased talent retention and team performance. In fact, recent studies by the Harvard Business School prove that companies that adopted more flexible work models increased the productivity of their employees, reduced staff turnover and lowered the costs of the organisation itself.

However, as with all things, changes in the work environment have demanded, and will continue to do so, that the Bank adapts to new working trends

and values people’s potential. Absa has continuously invested in process automation and staff training, resorting to the use of new technologies such as Virtual Reality, for example. This innovation, in addition to breaking the distance barrier, has revolutionised the traditional training model, making learning sessions more agile, dynamic, flexible and motivating. Training based on Virtual Reality presents a very high growth potential and evident benefits, both for the Bank and its employees.

These new ways of working have had and will continue to have a positive impact on employees’ lives. They are an implicit proof of mutual trust between employee and employer, providing greater flexibility and autonomy in time management, a better balance between professional and personal life and enriching the content of the work through its diversification. In this way, a culture that is conducive to learning and fosters collaboration is increasingly developed: a culture that instigates employees to want to know more, to develop and to commit, becoming agents of change. “Organisations that focus on people are the ones that get better results and greater commitment and loyalty from them. That is why we are a bank made of people and for people, a bank that places its employees at the centre of its business strategy, regardless of the working model or organisational process adopted”, says Hanifa Hassangy.

Absa has continuously invested in process automation and staff training, resorting to the use of new technologies such as Virtual Reality, for example.

Fotografia: Mariano Silva

Spicy Malagueta

Conheça os nossos empreendedores
Fotografia: Mariano Silva

Conheça os nossos empreendedores Spicy Malagueta

ASpicy Malagueta é uma empresa de prestação de serviços de gestão e organização de eventos que está presente no mercado desde 2011. Oferece uma vasta gama de produtos e tem profissionais especializados e dedicados nas diferentes áreas do sector, bem como uma rede de parceiros estratégicos que complementam os seus serviços. Dispõe de equipamento de qualidade e um conjunto de soluções inovadoras, desenhadas à medida de cada cliente, sempre com o foco máximo no alcance dos melhores resultados possíveis. Com mais de

uma década de história, já criou, planeou, organizou e executou diferentes eventos e serviços para uma grande diversidade de clientes no mercado moçambicano.

Quem procura a Spicy Malagueta são particulares e instituições que pretendem celebrar momentos especiais, bem como empresas com o objectivo de participar em feiras, marcar presença ou organizar congressos, eventos internos ou comerciais. Trabalham mais frequentemente em Maputo, mas operam também nas províncias sempre que necessário.

Hoje, a Spicy Malagueta é uma referência no sector. Considera que o segredo da sua fórmula de sucesso é terem bons parceiros e serem consistentes na qualidade de entrega dos serviços. Esforçam-se por exceder as expectativas dos seus clientes e estão empenhados em ser a primeira escolha no mercado na área em que actuam. Para o futuro, pre -

tendem consolidar a marca, assim como aumentar a carteira de clientes e continuar a crescer de forma sustentável, sem prejudicar a qualidade dos seus serviços.

Caso pretenda conhecer melhor a Spicy Malagueta e os trabalhos que realiza, poderá visitar o seu website em www.spicymalagueta.co.mz.

Fotografia: Mariano Silva
Com mais de uma década de história, a Spicy Malagueta já criou, planeou, organizou e executou diferentes eventos e serviços para uma grande diversidade de clientes no mercado moçambicano.

Spicy Malagueta is an events company active in the market since 2011. It offers a wide range of products and has specialized and dedicated professionals in different areas of the sector, as well as a network of strategic partners that complement - its services. It has quality equipment and provides a set of innovative solutions tailored to each client, whilst being highly focused on achieving the best possible results. With more than a decade under their belt, the company has already created, planned, managed and delivered different events and services for a wide variety of clients in the Mozambican market.

Spicy Malagueta is sought by individuals and institutions wishing to celebrate special moments, as well as companies wanting to participate in fairs, attend or organize congress-

es, in-house events or commercial events. They work primarily in Maputo, but also operate in other provinces whenever necessary.

Today, Spicy Malagueta is a reference in the sector. They consider that the secret behind their success is to have good partners and to be consistent in the quality of service delivery. They strive to exceed their clients’ expectations and are committed to being the first choice in the market sector where they operate. For the future, they intend to consolidate the brand, as well as increase their client portfolio and continue to grow in a sustainable way, without affecting the quality of their services.

If you wish to know more about Spicy Malagueta and the work they do, you can visit their website at www.spicymalagueta.co.mz.

Spicy Malagueta is sought by individuals and institutions wishing to celebrate special moments, as well as companies wanting to participate in fairs, attend or organize congresses, in-house events or commercial events.

Millennium bim apoia

do Caminho Longo”

Fotografia: Cortesia do Millennium bim
“Escola
exposição sobre o drama dos deslocados
“A exposição visa despertar a consciência para a contínua necessidade de se apoiarem os afectados pela crise através de acções de impacto.”

Millennium bim apoia

“Escola do Caminho Longo” exposição sobre o drama dos deslocados

A iniciativa, desenvolvida em parceria com a Associação Helpo, retrata a história de 20 jovens sobreviventes da crise humanitária na província de Cabo Delgado.

OMillennium bim e a Associação Helpo promoveram, recentemente, uma exposição fotográfica, denominada “Escola do Caminho Longo”, uma iniciativa que destaca os dilemas vividos por 20 jovens deslocados na sequência dos efeitos das cheias e da crise humanitária que se fazem sentir na província de Cabo Delgado. Inaugurada no Jardim dos Professores, a exposição é da autoria da escritora Maria João Venâncio e do fotógrafo Luís Godinho.

O apoio às produções e manifestações artístico-culturais em prol da solidariedade é um

dos pilares de acção do programa de Responsabilidade Social “Mais Moçambique pra Mim” do Millennium bim, que tem vindo a ser implementado ao longo dos anos com significativo impacto na vida dos moçambicanos. Para o Millennium bim, a exposição “Escola do Caminho Longo” visa despertar a contínua necessidade de apoio aos afectados pela crise em Cabo Delgado através de acções de impacto que exaltem a fraternidade e contribuam para o despertar das consciências em relação às questões humanitárias.

Na ocasião, o PCE do Millennium Bim, José Rei-

Millennium bim
Fotografia: Cortesia do Millennium bim

no da Costa, considerou que “a solidariedade e assistência às vítimas da actual situação vivida no norte do país é uma missão contínua de todos os moçambicanos. Não podemos ficar indiferentes aos dilemas e constrangimentos enfrentados pelos nossos compatriotas afectados pelos efeitos das mudanças climáticas e pela insurgência. É por isso que, através desta exposição fotográfica, pretendemos partilhar a sua história, almejando, simultaneamente, o desper-

tar de todos nós, enquanto sociedade, a estender uma mão amiga neste caminho longo que é parte da nossa escola como moçambicanos”.

A exposição “Escola do Caminho Longo” pode ser apreciada ainda nas cidades de Pemba e Beira, tendo estado patente, também, em Portugal, no Museu Nacional dos Coches, no Centro Comercial Colombo e no Centro Comercial Gaia Shopping.

Fevereiro - February 2023 • Ed. 55 © Revista Xonguila | 61
As obras que compõem a exposição “Escola do Caminho Longo”, inaugurada no Jardim dos Professores, são da escritora Maria João Venâncio e do fotógrafo Luís Godinho.
Fotografia: Cortesia do Millennium bim

A exposição, que também esteve patente em diversos lugares de Portugal, pode ser apreciada ainda nas cidades de Pemba e Beira.

64 | Revista Xonguila © Ed. 55 • Fevereiro - February 2023 Millennium bim Fotografia:
do Millennium
Cortesia
bim

Millennium bim supports “Escola do Caminho Longo”

an exhibition about the dramatic reality faced by displaced persons

The initiative was developed in partnership with the Helpo Association and portrays the stories of 20 young survivors of the humanitarian crisis in Cabo Delgado province

Millennium bim and the Helpo Association recently promoted a photographic exhibition named “Escola do Caminho Longo” (“A Long Walk to School”), an initiative that highlights the dilemmas experienced by 20 young people displaced by the effects of flooding and the humanitarian crisis in Cabo Delgado province. Currently showing at Jardim dos Professores (a public park in Maputo), the exhibition is co-authored by the writer Maria João Venâncio and photographer Luís Godinho.

Supporting artistic and cultural productions and manifestations as a show of solidarity is one of the action guidelines of Millennium bim’s “Mais Moçambique pra Mim”, a Social Responsibility programme that has been implemented over the years with significant impact on the lives of Mozambicans. For Millennium bim, the exhibition “Escola do Caminho Longo” highlights the need for continuous support to those affected by the crisis in Cabo Delgado through impactful actions that promote fraternity and contribute to raising awareness of humanitarian issues.

On the occasion of the exhibition’s inauguration, Millennium Bim’s PEC , José Reino da Costa, considered that “solidarity and assistance to the victims of the current situation in the northern region is an ongoing mission for all Mozambicans. We cannot remain indifferent to the dilemmas and difficulties faced by our compatriots affected by the effects of climate change and the insurgency. That is why we intend to share their stories through this photographic exhibition, seeking to encourage all of us, as a society, to extend a helping hand on this long road that is part of our schooling as Mozambicans.”

The exhibition “Escola do Caminho Longo” can also be visited in the cities of

Pemba and Beira, and has previously travelled to Portugal, where it was on show at the National Coach Museum , Colombo Shopping Centre and Gaia Shopping Centre.

Fevereiro - February 2023 • Ed. 55 © Revista Xonguila | 65 Millennium bim

Beira Boi renasce após o caos Uma história de superação

Fotografia:
Beira Boi
Cortesia da
Escrito

Fundada em 2008, a Beira Boi é uma empresa do sector agro-pecuário que se dedica principalmente à produção de gado de corte. Localiza-se no distrito de Nhamatanda e conta actualmente com cerca de 1400 cabeças.

Beira Boi renasce após o caos Uma história de superação

A Beira Boi é uma empresa do sector agro-pecuário, fundada em 2008, que se dedica principalmente à produção de gado de corte. Em 2020, Frederico Carvalho adquiriu 63% do seu capital social, um ano depois aumentou a sua participação em 15% e, em 2022, com a ajuda de amigos e familiares, acabou por adquirir totalmente a empresa, transformando-a em uma sociedade familiar. Este empresário do ramo automóvel, de 42 anos, adquiriu uma empresa totalmente descapitalizada, à beira da falência, que teve de se reinventar. A oportunidade de negócio transformou-se num enorme desafio, que ainda hoje enfrenta, mas que superou com audácia e, acima de tudo, muito sacrifício. Actualmente, a Beira Boi encontra-se a recuperar da crise, e continua firme na prossecução do seu objectivo: ser líder na criação de gado a nível da zona centro de Moçambique.

Frederico Carvalho, natural da cidade de Fafe, distrito de Braga, na região norte de Portugal, reside em Moçambique há exactamente uma década. Veio ao país pela primeira vez em 2013, a convite de amigos. Uma visita que se transformou em uma descoberta e onde iniciou uma nova página da sua vida, uma página virada a milhares de quilómetros de distância de casa e da família: “Meus amigos venderam-me um sonho cor-de-rosa. E, como sou uma pessoa que gosta

de desafios, em 2013 decidi vir conhecer o país”.

Apesar de ainda não ter vivido o tal o sonho cor-de-rosa, Frederico apaixonou-se por um país irmão e decidiu cá ficar. “A nossa casa é onde nos sentimos bem. Hoje sinto-me melhor em Moçambique do que em Portugal. Aqui criei a minha família, por isso, aqui é a minha casa. Posso dizer que, ao fim desta década, sinto-me mais moçambicano do que propriamente português”, revelou-nos o

empresário, agora administrador da Beira Boi. A empresa localiza-se no distrito de Nhamatanda, na região centro do país, tendo como actividade principal o gado de corte. Frederico assumiu a sua gestão em 2021 e viu a sua vida mudar radicalmente e de forma inesperada. Trocou o fato de mecânico pelo de produtor, não lhe restavam muitas opções: era o investimento de toda a vida e não teve alternativa senão reinventar-se, diariamente, para salvar a sua recente aquisição.

DADOS GERAIS DA EMPRESA BEIRA BOI, LDA.:

Ano de criação: 18 de Fevereiro 2008

Localização: Chadeia, distrito de Nhamatanda, província de Sofala

Actividade principal: gado de corte e engorda

Área explorada: 11 mil hectares

Mercado/Clientes: talhos e supermercados

Efectivo animal (manada): 1400 cabeças

Raças: Brahman, Beefmaster, Boran e Landim (raça local)

Número de colaboradores: 42 (desde tractoristas, técnicos de agro-pecuária, pastores, pessoal de manutenção, área de vedação, guardas) e colaboradores sazonais.

Escrito por: Jaime Álvaro

A REINVENÇÃO APÓS OS 40

Filho de um arquitecto e de uma modelista, Frederico não seguiu as pegadas dos seus progenitores, deixou de estudar aos 19 anos por almejar a sua independência financeira. Começou muito cedo, como vendedor no ramo automóvel, mais tarde adquiriu uma oficina auto, tendo-se dedicado a essa actividade até hoje. Em momento algum, até aos 40 anos de idade, teria sequer imaginado trabalhar numa fazenda, e muito menos ser proprietário de alguma. Porém, a vida traz muitas surpresas e, em 2020, adquire a posição maioritária na Beira Boi, mudando desta forma o foco da sua actividade. “Eu já conhecia a empresa há alguns anos, era uma empresa com muito potencial. Contudo, ela sofreu bastante, principalmente ao nível das infra-estruturas, maquinaria, e até mesmo perda de animais com a passagem do ciclone Idai. Quando comprei a primeira parcela das quotas, de-

parei-me com uma empresa praticamente obsoleta”, descreveu.

Após a primeira aquisição feita por Frederico, a empresa foi forçada a suspender a actividade durante quase um ano, mais especificamente 11 meses, devido a problemas judiciais entre os antigos sócios. “Foi um período extremamente conturbado. Para além de ter sido surpreendido pela situação, era necessário manter toda a operação relativa à empresa, desde o tratamento e medicação dos animais até aos salários dos trabalhadores e todos outros custos operacionais fixos, sem, contudo, podermos operar para fazer face às despesas. Consequentemente, o dinheiro que tínhamos projectado para reinvestir e revitalizar a empresa acabou por ser, forçosamente, canalizado para cobrir os custos operacionais fixos, o que levou ao atraso do nosso crescimento, obrigando-nos a redesenhar as nossas estratégias", contou

o administrador da empresa. Foi por via do apoio da esposa, familiares e amigos, que emprestaram dinheiro ao empresário audacioso, que a Beira Boi foi superando as dificuldades que encarava. “Apesar de ter sido demasiado doloroso e penoso, tenho a certeza que todas as dificuldades pelas quais passei serão valorizadas no futuro. Mesmo perante as situações mais difíceis, e não foram poucas, nunca tive vontade de desistir. Não está no meu DNA nem na minha essência desistir". Para evitar uma nova crise, Frederico foi obrigado a trocar a mecânica – reparação de automóveis era o que fazia – pela pecuária, uma área que desconhecia por completo, e o conforto da cidade pela lama do campo. Reinventou-se após os 40 anos de idade, e transformou-se num produtor, não apenas de fim-de-semana, mas a tempo integral, e de forma audaciosa dedica-se a 150% ao trabalho.

Frederico Carvalho, empresário do ramo automóvel de 42 anos de idade, adquiriu a empresa totalmente descapitalizada, à beira da falência, e teve de se reinventar.
“Mesmo perante as situações mais difíceis, e não foram poucas, nunca tive vontade de desistir. Não está no meu DNA nem na minha essência desistir".
– Frederico Carvalho, proprietário e gestor da Beira Boi

“A minha vida nunca tinha estado ligada à agricultura ou pecuária. Desde sempre tinha estado no ramo automóvel. Vi-me forçado a deixar a cidade, Maputo, e ir para Cheadeia, na localidade de Tica, onde tive de fazer muitos sacrifícios. Habituado às condições citadinas, não tive outra solução a não ser adaptar-me à vida do campo, aprender a tomar banho de caneco, viver sem energia, fazer quilómetros e quilómetros a pé e de tractor. Era essencial que me inteirasse de toda a operação, por isso acompanhava os trabalhadores a fazer as avaliações, a procurar animais, nas contagens dos animais e no seu tratamento, era a única forma que tinha de aprender intensivamente a orgânica do agronegócio”, recordou, sem deixar de referir o apoio incondicional que tem tido de profissionais ligados à área.

“Apesar dos desafios, reconheço que tenho conseguido superar muito graças a orientação profissional e acompanhamento que tenho recebido do Dr. Américo da Conceição, Director Nacional de Pecuária, que está sempre disponível para nos guiar, nos orientar e, principalmente, partilhar o seu conhecimento e dar-nos alento de forma que possamos superar, progredir e desenvolver o sector. Pessoas como ele, com este espírito e dedicação à profissão, são de extremo valor. Pessoas como ele fazem falta nesta área.”

A Beira Boi conta actualmente com uma manada

de cerca de 1400 cabeças. A carne proveniente desta empresa é maioritariamente comercializada na zona centro, sendo os talhos e supermercados os seus principais clientes.

O CÉU É O LIMITE Segundo Frederico, o seu objectivo a longo prazo é tornar-se o maior criador de gado do país. “A Beira Boi é um enorme desafio, disso não tenho dúvidas, só eu sei o que tenho passado nestes quase três anos. Tal como também não tenho dúvida que estamos no caminho certo, não por ser eu a pessoa que está ao leme da Beira Boi, mas porque temos um objectivo claro que pretendemos alcançar. Estou ciente de que o caminho será muito longo e árduo, pois queremos tornar-nos nos maiores criadores da zona centro num futuro próximo. Mas não queremos ficar por aí, a meta é sermos os maiores criadores do país – esse sim, é o nosso grande objectivo.” No entanto, Frederico compreende que, para chegar lá, ainda é preciso quebrar velhos estigmas relacionados com a carne moçambicana.

“Existem vários produtores de carne espalhados pelos vários pontos do país, desde Maputo, Beira, Chimoio, Magude, Gaza, entre outros. Produzimos carne de qualidade, que não fica aquém da carne produzida na vizinha África do Sul. Porém, enquanto não eliminarmos o estigma de que em Moçambique não se produz carne de qualidade, nós, produtores moçam -

bicanos, vamos continuar a enfrentar dificuldades”. Frederico defende que deverá haver uma união da cadeia de produção e uma maior defesa do produto interno, conseguindo assim manter a consistência de fornecimento e uma oferta cada vez maior de carne de qualidade, invertendo o actual cenário e a opinião das pessoas. “Neste momento, todos os nossos novos clientes estão extremamente satisfeitos com a carne que produzimos, inclusive alguns sul-africanos que comercializam carne dizem que a nossa carne não fica a dever à sul-africana. E acreditem, estive a negociar durante oito meses para conseguir fazer a primeira venda a um talho pertencente a um sul-africano”, contou o produtor resiliente e persistente, acerca do seu sucesso após várias tentativas falhadas até conseguir um contrato de fornecimento de carne a um dos seus principais clientes.

A Beira Boi tem no seu plano estratégico a construção de uma unidade de processamento, com vista a ter a sua própria linha de abate. Frederico partilhou ainda que, neste momento, estão a ser construídas infra-estruturas para acolher a Feira Regional de Agronegócio, uma Parceria Pública Privada (PPP) com a ADZ. A realização da Feira está prevista para entre Agosto e Setembro, indo ela certamente dinamizar e impulsionar o agronegócio na aquela região do país.

Fotografia: Mariano Silva

CRESCER E CRIAR IMPACTO NA COMUNIDADE ONDE OPERA

A Beira Boi é uma das maiores produtoras de carne na zona centro. A empresa conta, neste momento, com um efectivo total de 42 trabalhadores, distribuídos pelas várias áreas inerentes à sua actividade. Desde tractoristas, técnicos de agro-pecuária, pastores, técnicos da área de manutenção, entre outros, além de trabalhadores sazonais. A maior parte dos quadros são naturais da região, com especial enfoque em jovens e mulheres. Frederico Carvalho refere que a missão da Beira Boi é crescer e criar real impacto

nas comunidades locais que se encontram na propriedade e em volta dela, melhorando a qualidade de vida das pessoas através de projectos sociais e inclusivos. “Para a empresa se desenvolver de forma sustentável, é preciso envolver a comunidade e criar real valor para a mesma, impactando-a positivamente. Neste momento, estamos a criar um projecto de machamba – iniciativa que consiste em alocação de um pedaço da nossa terra à comunidade local para que esta possa produzir todo o tipo de culturas, para que possamos comercializá-las e, assim, gerar renda para as famílias. Esta iniciativa está mui-

to orientada para as mulheres, como forma de inclusão e empoderamento da mulher”. Ainda no âmbito do trabalho social da empresa, Frederico garante que, a partir deste ano, pretende apoiar os alunos das escolas Alberto Chipande e Eduardo Mondlane, em Cheadea, no distrito de Nhamatanda, através da doação de uma merenda escolar, podendo desta forma contribuir com uma refeição condigna para estas crianças, com o intuito de garantir, para além de retenção de alunos nas escolas, uma maior concentração no aprendizado e, consequentemente, na formação dos futuros jovens.

Fotografia: Cortesia da Beira Boi
“A Beira Boi é um enorme desafio, disso não tenho dúvidas. Tal como também não tenho dúvidas de que estamos no caminho certo.”

Beira Boi is reborn after the chaos A story of overcoming adversity

Beira Boi, a company in the agricultural and livestock sector, was founded in 2008 primarily to produce beef cattle. In 2020, Frederico Carvalho acquired 63% of its share capital. A year later, he increased his stake by a further 15% and in 2022, with the help of friends and family, he eventually acquired the remaining company shares, turning it into a family company. This 42-year-old automotive entrepreneur acquired a totally decapitalised company on the brink of bankruptcy that had to be reinvented. What was initially a business opportunity turned into an enormous challenge – one he still faces today – which was overcame with audacity and, above all, a lot of sacrifice. Today, Beira Boi is recovering from the crisis and continues steadfast in the pursuit of its goal: to be a leader in the cattle breeding sector in central Mozambique.

Frederico Carvalho was born in the city of Fafe, Braga district, in the northern region of Portugal, and has lived in Mozambique for exactly a decade. He first came to the country in 2013 whilst visiting with friends. A visit that morphed into a discovery and led him to tun a new page in his life, thousands of kilometres away from home and family: “My friends sold me a rosy dream. And since I like challenges, I decided to come visit in 2013 and get to know the country”.

Although he has yet to live such a dream, Frederico fell in love with a fraternal country and decided to stay here. “Our home is where we feel good at. Today, I feel better in Mozambique than in Portugal. I raised my family here, so this is my home. I can say that, at the

end of this decade, I feel more Mozambican than Portuguese,” revealed the businessman, who is now the director of Beira Boi. The company is located in the district of Nhamatanda, in the central region of the country, and its main activity is breeding beef cattle. Frederico took over the management side of the business in 2021 and saw his life change radically and unexpectedly. He swapped his mechanic’s suit for a breeder’s, since he didn’t have many options left: he’d invested a lifetime of earnings, and he had no alternative but to reinvent himself on a daily basis to save his recent acquisition.

SELF-REINVENTION AFTER 40

The son of an architect and a model-maker, Frederico didn’t follow in his parents’ foo -

tsteps. He left school at the age of 19 because he wanted to be financially independent. He started very early as a salesman in the automobile sector and later acquired an auto repair shop that he still operates today. Before turning 40, he had never even imagined working on a farm, let alone owning one. However, life brings many surprises and, in 2020, he acquired the majority stake in Beira Boi, thus changing the primary focus of his work activity. “I had already known the company for some years, it had a lot of potential. However, it was in a bad shape in terms of infrastructure, machinery, and even loss of animals in the aftermath of cyclone Idai (2019 ). By the time I bought the first quota of shares, I was looking at a company that was practically obsolete”, he described.

“All our new customers are extremely satisfied with the meat we produce, even some South African meat traders who consider our meat second to none produced in their country.”
– Frederico Carvalho - owner and manager of Beira Boi

I am aware that the road will be very long and arduous, because we want to become the largest breeders in the central region in the near future. But we don’t want to stop there: the goal is to ultimately be the biggest breeders in the country – that is our biggest objective.

General Company Data – Beira Boi, Lda.:

Founding Date: 18 February 2008

Location: Cheadea, Nhamatanda district, Sofala province

Main activity: Breeding beef cattle and feedlots

Farmed area: 11 thousand hectares

Market/Clients: Butchers and supermarkets

Livestock (herd): 1,400 heads

Breeds: Brahman, Beefmaster, Boran and Landim (local breed)

Number of employees: 42 (including tractor operators, agricultural and livestock technicians, shepherds, maintenance staff, fencing area, guards) and seasonal employees.

After the first acquisition made by Frederico, the company was forced to suspend activity for almost a year, 11 months to be exact, due to legal issues between the former partners. “It was an extremely troubled period. Apart from being taken by surprise by the situation, it was necessary to maintain the entire business operation up, from the treatment and medication of the animals to workers’ salaries and all other fixed operating costs, without however being able to generate profits to make ends meet. Consequently, the money we had projected for reinvesting and revitalising the company was inevitably re-directed to cover fixed operating costs, which in turn led to a delay in our growth, forcing us to redesign our strategies”, said the company director.

It was through the support of his wife, family and friends who lent money to the audacious businessman, that Beira Boi was able to overcome the difficulties facing the company. “Even in the most difficult situations – and there were many – I never wanted to give up. It is neither in my DNA nor in my essence to give up”. To avert a new crisis, Frederico was obliged to swap mechanics – automotive repairs were his previous trade – for livestock breeding, a completely unfamiliar sector to him, and the comforts of the city for the muddy countryside. He reinvented himself after 40, from a weekend part-timer to a full-time breeder who is 150% committed to the work.

“My life had never been connected to farming or livestock. I had always been in the automotive sector. I was forced to leave city life in Maputo and go to Cheadea , in the town of Tica, where I had to make many sacrifices. Used as I was to city conditions, I had no choice but to adapt to life in the countryside, learn to take bucket baths, live without energy, walk for miles and miles on foot and on a tractor. It was essential that I familiarized myself with the entire breadth of the operation, so I accompanied the workers in making evaluations and searching for animals, counting the animals and in their treatments. It was the only way I had to fast-track learning about the agribusiness”, he recalled, without forgetting the unconditional support he has received from professionals in the sector. “Despite the challenges, I recognise that I’ve been able to overcome quite a bit thanks to the professional guidance and monitoring I’ve received from Dr Américo da Conceição, the National Director of Livestock Development, who is always available to guide us and, above all, share his knowledge and encourage us so that we can overcome, progress and develop the sector. People like him, with this spirit and dedication to the profession, are extremely valuable. People like him are needed in this sector.”

Beira Boi currently has a herd of around 1,400 heads. The meat they produce is mainly sold in the central region, with butchers and supermarkets as their primary clients.

THE SKY IS THE LIMIT

According to Frederico, his long-term goal is to become the largest cattle breeder in the country.

“Beira Boi is a huge challenge, no doubt about that – only I know what I’ve been through in these nearly three years. Just as I also have no doubt that we’re on the right track, not because I am the person at the helm of Beira Boi,

but because we have a clear goal to achieve. I am aware that the road will be very long and arduous, because we want to become the largest breeders in the central region in the near future. But we don’t want to stop there: the goal is to ultimately be the biggest breeders in the country – that is our biggest objective”. However, Frederico understands that to get there, old stigmas related to Mozambican meat still need to be broken. “There are several meat producers spread across the various parts of the country, from Maputo to Beira, Chimoio, Magude and Gaza, among others. We produce quality meat, which isn’t in any way inferior to the meat produced in neighbouring South Africa. However, until we remove the stigma that Mozambique doesn’t produce quality meet, we, Mozambican producers, will continue to face difficulties”. Frederico argues that there should be a link between the production chain and a greater defence of domestic products, to assist in maintaining a consistent supply and increased demand for quality meat, reversing the current scenario and people’s perceptions. “Right now, all our new customers are extremely satisfied with the meat we produce, even some South Africans meat traders who consider our meat second to none produced in their country. And believe me – it took eight months of negotiations to get my first sale to a butcher shop belonging to a South African”, recalled the resilient and persistent producer, reflecting on his success after several failed attempts to get a contract to supply meat to one of his main customers.

Beira Boi’s strategic plan includes the construction of a processing unit with a view to having its own abattoir. Frederico also shared that infrastructures are currently being built to host the Regional Agribusiness Fair, a Public-Private Partnership (PPP) with ADZ. The Fair is scheduled to take place

between August and September, and will certainly boost agribusiness in that region of the country.

GROWING AND CREATING IMPACT IN THE COMMUNITY WHERE IT OPERATES

Beira Boi is one of the largest meat producers in the central region of Mozambique. The company currently has a total workforce of 42 employees, distributed across the various areas of activity inherent to the business, from tractor drivers to livestock farming technicians, shepherds, maintenance technicians, among others, as well as seasonal workers. The majority of the staff are from the region, with special focus on young people and women. Frederico Carvalho says that Beira Boi’s mission is to grow and create real impact in the local communities that are on and around the property, improving people’s quality of life through social and inclusive projects. “For the company to develop sustainably, it needs to involve the community and create real value for them by impacting them positively. At the moment, we are creating a machamba project –an initiative that consists of allocating a piece of our land to the local community so that it can produce all kinds of crops, so that we can market them and thus generate income for the families. This initiative is very much geared towards women, as a form of inclusion and empowerment of women”. Still within the scope of the company’s social work, Frederico guarantees that, as of this year, he intends to support the students from Alberto Chipande and Eduardo Mondlane schools, in Cheadea, Nhamatanda district, through the donation of a school lunch, thus contributing a decent meal a day for these children. This will not only help schools retain their students, but also promote greater concentration during classes and, consequently, assist in creating a future for these youngsters.

80 | Revista Xonguila © Ed. 55 • Fevereiro - February 2023

Januário Faustino assume que na área da Tecnologia

é muito difícil seguir-se todo o desenvolvimento, mas que é exactamente esse desafio que o mantém sempre à busca de mais capacitação.

JANUÁRIO FAUSTINO, COLÓNIA, ALEMANHA

Fotografia: Cortesia de Januário Faustino

JANUÁRIO FAUSTINO, COLÓNIA, ALEMANHA

Há vários motivos que nos fazem mudar o rumo do nosso caminho; umas vezes é a profissão, outras é a família, outras ainda é o amor. Januário Faustino decidiu sair de Maputo há seis anos porque não queria manter uma relação à distância. A solução foi rumar até Colónia, na Alemanha, para se juntar à namorada. Seis anos depois, este técnico de informática conta-nos a sua experiência.

Averdade, de facto, é que Januário Faustino queria investir na sua formação. Jovem informático, tinha já trabalhado em algumas empresas nacionais, mas achou que o conhecimento que possuía até então não era suficiente, especialmente devido à inovação constante e exigência do sector. Então, o destino acabou por ser a Alemanha, porque a namorada já lá vivia e ambos sabiam que não queriam estar longe um do outro.

A Alemanha não foi a primeira escolha. Como qualquer história, o percurso deste informático teve diferentes episódios. A meio da

sua jornada, passou um ano em terras lusas, tendo voltado a Moçambique por igual período, para matar saudades da sua terra, a Terra da Boa Gente.

“Na verdade, saí para me formar, e não tinha planos de viver na Europa, mas, estando a minha namorada em Colónia, decidimos não ter relacionamento à distância”, conta-nos Januário.

Consciente de que era importante manter uma aprendizagem constante, Januário assume que na área de Tecnologia é muito difícil seguir-se todo o desenvolvimento, mas que é exactamente esse desafio que o mantém sempre à busca de mais capa-

citação ou de participações em workshops, o que “não é fácil para o empregador moçambicano entender”, diz-nos.

Confiante no poder da tecnologia e nas mais-valias que as trocas de experiência podem proporcionar, Januário Faustino revela “o seu projecto mais bonito”, aquele que irá impactar o crescimento social da sua terra. O informático mantém o sonho que nos revela: “Gostaria de construir uma escola comunitária lá onde eu nasci, porque acredito que todo mundo que sabe ler e escrever deve ter uma chance nesta vida, caso contrário as portas estarão fechadas”.

Escrito por: Eliana Silva

JANUÁRIO FAUSTINO, COLOGNE, GERMANY

The course of a life can be changed by a variety of reasons. Change may sometimes be driven by our profession, or else by our family, or even love. Januário Faustino decided to leave Maputo six years ago because he didn’t want to be in a long-distance relationship. The solution was to head to Cologne, Germany, to join his girlfriend. Six years later, this IT technician shares his story with us.

The truth is that Januário Faustino wanted to invest in his professional development. As a young IT technician, he had already worked in a few local companies, but he felt lacking in knowledge, especially due to the constant innovation and demands of the sector. Ultimately, Germany became his destination because his girlfriend was already living there, and they both knew they didn’t want to be far from each other.

Germany hadn’t been his first choice. Like any story, the path of this computer scientist had different chapters. Halfway through his journey, he spent a year in Portugal, and returned to

Mozambique for the same length of time to get over a homesickness for his birthplace, the Land of the Good People.

“In truth, I left to gain more knowledge and had no plans to live in Europe. But since my girlfriend was in Cologne, we decided not to have a long-distance relationship”, Januário tells us.

Aware that it was important to maintain continuous professional development, Januárioyah no nevertheless acknowledges that, in the Technology sector, it’s hard to keep up with every single development. It is exactly this challenge that keeps him on the

lookout for more training programmes or participation in workshops, something that “is not easy for Mozambican employers to understand”, he says.

Confident in the power of technology and in the value-add that knowledge exchange brings, Januário Faustino reveals “his most beautiful project” yet, one that will positively impact social growth in his country. The computer scientist reveals this dream to us: “I would like to build a community school in my place of birth, because I believe that everyone who knows how to read and write can have a chance in this life, otherwise the doors will be closed.”

Diáspora 86 | Revista Xonguila © Ed. 55 • Fevereiro - February 2023
“ In truth, I left to gain more knowledge and had no plans to live in Europe. But since my girlfriend was in Cologne, we decided no to have a long-distance relationship. ” - Januário Faustinio
Fotografia: Cortesia de Januário Faustino

O Natal solidário da UPA

AUPA, Unidos pelo Ambiente (UPA), é uma associação de jovens estudantes que a Xonguila acompanha dada a forma exemplar como se tem empenhado na realização de acções de consciencialização ambiental e solidariedade social, simultaneamente fomentando o espírito de camaradagem entre os seus membros e demais colegas da Escola Portuguesa de Maputo. Uma das suas últimas acções teve lugar no passado mês de Dezembro.

Numa época do ano em que, por tradição, as pessoas se mostram mais dispostas a proporcionar alguma alegria e calor aos mais necessitados, mas em que também se verifica grande desperdício devido a um consumismo excessivo, a UPA, em parceria com a Associação de Pais da sua escola, procurou promover, ao longo do mês, uma acção de recolha de bens incluindo uma corrida solidária.

Recolhidos os bens, a UPA visitou, a 21 de Dezembro, o Centro Dom Orione, um orfanato para crianças com necessidades especiais, com o objectivo de proceder à entrega dos bens e conviver com a comunidade daquele estabelecimento, procurando, com alegria e espírito natalício, tornar a quadra festiva um pouco mais especial para aquelas crianças. Membros da Associação e outros participantes tiveram então a oportunidade de aprender um pouco sobre a origem do orfanato e ouvir algumas das histórias dos menos e meninas que ali re

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Fotografia: Cortesia da UPA

sidem. Acima de tudo, puderam in loco verificar que, apesar das particularidades daquelas crianças, e das dificuldades que viveram ao longo da sua vida, todas tinham em comum a sua humanidade, força de viver e, essencialmente, resiliência, isto é, capacidade de enfrentar e superar adversidades. O convívio caracterizou-se por um ambiente animado que contou com diversas actividades, incluindo jogos, música, dança e karaoke.

Através da nossa revista, e tal como já fez nas redes sociais da sua escola, a UPA pretende agradecer a todos os que, igualmente manifestando a sua solidariedade, a ajudaram a concretizar o desejo de tornar o Natal de 2022 mais especial para as crianças do Orfanato Dom Orione. Visando ainda contribuir para um mundo mais solidário, a UPA encoraja todas as outras organizações juvenis a fomentarem o espírito de doação, e a fazê-lo não só em épocas festivas, mas sistematicamente, considerando que muitas instituições de ajuda aos necessitados, tão úteis numa sociedade com tantas dificuldades como é a nossa, dependem do espírito de solidariedade e apoio concreto de todos nós.

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SERVIÇOS MANUTENÇÃO INDUSTRIAL FORMAÇÃO TÉCNICA E ENGENHARIA MONTAGEM DE EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS A SOLUÇÃO NA PREVENÇÃO, MANUTENÇÃO E REPARAÇÃO
PRESTAÇÃO DE
A UPA é uma associação de jovens estudantes que se tem empenhado na realização de acções de consciencialização ambiental e solidariedade social.

UPA’s Solidarity Christmas

Xonguila supports Unidos pelo Ambiente – UPA (“United for the Environment”), a young students association that is committed to carrying out environmental awareness and social solidarity actions, whilst simultaneously fostering a spirit of camaraderie among members and other colleagues from their alma mater, the Portuguese School of Mozambique . One of its most recent actions took place last December.

At a time of year when people are traditionally more willing to offer some joy and kindness to those in need, but also create a lot of waste due to excessive consumerism, the UPA, in

partnership with the Parents Association of the school, sought to promote activities for collecting goods for the needy, which included a solidarity race.

After completing the collecting activities, UPA visited the Dom Orione Centre on December 21st – an orphanage for children with special needs – to deliver the goods and meet the Centre’s community. Joyously, and in the spirit of Christmas, UPA sought to make the festive season a little more special for those children. Members of the Association and other participants then had the opportunity to learn a little about the origins of the orphanage and hear

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Fotografia: Cortesia da UPA

some of the stories of the resident children. Above all, they were able to verify that, despite the particular circumstances of those children, and the difficulties they experienced throughout their lives, they all shared a common humanity, a strength to live and, ultimately, resilience – i.e., the ability to face and overcome adversities. The gathering was characterised by a lively atmosphere with various activities, including games, music, dance and karaoke.

Through our magazine, and as already done via the school’s social networks, UPA would

like to thank all those who, with their manifested solidarity, helped them achieve their wish of making Christmas 2022 more special for the children of the Don Orione Orphanage. Seeking to contribute towards a more caring world, UPA invites all other youth organizations to foster the spirit of giving, and to do so systematically rather than exclusively during the festive season. Many institutions that cater for the needy – so useful in societies such as ours, that face many challenges –depend on the spirit of solidarity and material support from all of us.

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The gathering was characterised by lively atmosphere with various activities including games , music, dance and karaoke.

ESPRESSO COLD BREW

INGREDIENTES:

Absolut – 30 ml

Kahlua – 30 ml

Cold Brew Café – 10 ml

Xarope de canela – 10 ml

Coloque todos os ingredientes num shaker, agite bem e, de seguida, sirva numa taça de cocktail.

“Algo forte, mas que nos acorda para uma experiência única que não deve perder.”
– Ivan Lopes (Spice Your Soul)
Fotografia: Mariano Silva

ESPRESSO COLD BREW

INGREDIENTS:

Absolut – 30 ml

Kahlua – 30 ml

Cold Brew Coffee – 10 ml

Cinnamon Syrup – 10 ml

Place all the ingredients in a shaker, shake well and serve in a cocktail glass.

“Something strong, that nevertheless awakens us to a unique experience that shouldn’t be missed” – Ivan Lopes (Spice Your Soul)
Fotografia: Mariano Silva

Vestígios do silêncio

A poesia de Mucavele desenvolve-se em meio à alegoria do fazer do arquitecto que molda nas formas da cidade a forma do desejo e a pulsão sexual.

Vestígios do silêncio (“Traces of Silence”)

Mucavele´s poetry unfolds amidst the architect’s allegorical making, in which desire and sexual drive are imprinted into the city’s morphology.

Para onde foram os vivos

Um livro que encara os males do nosso tempo, no olhar sensível do poeta que não se conforma com o estado das coisas. Uma crónica fingida de poema sobre tempos, lugares, memória e saudade, amor e espanto. É o retrato do mundo em decadência, estilhaçado, as cidades em ruínas, com o silêncio ensurdecedor das almas que ainda habitam o lugar com a esperança no exercício do amor. A quem amaremos quando estamos sós, isolados num lugar de silêncios e ausências, retratos de egoísmo, violência e tensões que levam a que o mundo, como o conhecemos, se desfaça sob o nosso olhar indiferente? Uma outra imagem das grandes cidades repletas de gente, ostentando o seu mais elevado amor material, mas ausentes em afectos. Nesta obra, a cidade e o corpo se confundem. Assim como o amor e o ódio se fundem para gerar tensões e violências. O poeta lança-se com o único amor que lhe resta, para esses corpos, ora vivos, mas ausentes, apátridas, levados para lugar nenhum com sentimentos ambíguos, ora à procura de algum lugar seguro, ora à procura de melhores condições de vida. O poeta usa esses corpos ausentes para espelhar a sua saudade, a dor da ausência, uma dor física e espiritual, encontrando no seu amor as palavras para descrevê-lo, como quem chora ou canta, mas nunca encantado, antes impressionado com a capacidade de autodestruição dos vivos que matam para salvar vidas. É a imagem desértica do amor. É o corpo na sua própria ausência. É a vida em escombros da própria vida.

Para onde foram os vivos

(“Where

did the living go”)

A book that tackles the evils of our time through the sensitive eyes of a poet who is dissatisfied with the state of things. A chronicle disguised as a poem about time, places, memory and longing, love and awe. It is the portrait of a world in decay, shattered; the cities in ruins, filled with the deafening silence of the souls that still inhabit the place, where loving is an act of hope. Whom do we love when we are alone, isolated in a place made of silences and absences, portraits of selfishness, violence and tensions that cause the world as we know it to crumble under our indifferent gaze? Another portrait of big cities full of people, displaying their highest material love, but lacking in affection. In this work, the city and the body are inseparable, just as love and hate merge to generate tension and violence. With the little love that’s left in him, the poet throws himself towards those bodies – sometimes alive, and yet absent, stateless, taken nowhere with ambiguous feelings, sometimes in search of somewhere safe, sometimes in search of better living conditions. The poet uses these absent bodies to mirror his longing, the pain created by absence, a physical and spiritual pain. Finding in his love the words to describe it, as one who weeps or sings, but never enchanted, rather impressed by the self-destructive capacity of the living who kill to save lives. It is the image deserted by love. It is the body in its own absence. It is life among the debris of life itself.

Nos lírios doridos que me amoleciam a alma Nascia o canto que escreveu a poesia! Eram as rezas feitas à Maria Nas tantas celas que o sol xadrez Chorava Craveirinha no esvair de cada dia!

E em cada tortura causada aos resistentes Sua grafia tornava-se resiliente! Com palavras cronificadas tocou Craveirinha o xigubo da liberdade E com multiversos derrubou mentes insanas.

Craveirinha fez de Moçambique a sua poesia Teve Maria como seu guia E no esvair do tempo gritando Karingana ua Karingana Contamos o que é propriedade dos poetas.

E nesse grito, estando já o tambor velho de gritar Contamos sua poesia. Craveirinha vive em mim.

Alcírio Endes Langa, Escola Secundária Francisco Manyanga

(Poema vencedor do Concurso Literário Interescolar de Poesia organizado pela Associação Moçambicana da Língua Portuguesa no âmbito do Centenário do poeta José Craveirinha)

Fotografia:Cortesia do CCFM

“Humanimalidade”

de Mapfara

Centro Cultural Franco-Moçambicano

Teve lugar, no passado dia 10 de Dezembro, na Quinta Beija-Flor em Maputo, o tão aguardado festival de verão We Love Summer, an Experience by SB Entertainment. A revista Xonguila falou com a organização para perceber como correu esta mais recente edição, aquela que foi a primeira pós-pandemia. É Luana Jane, Directora Geral do We Love Summer quem no-lo conta.

“Desde que trouxemos este festival para Moçambique que o

nosso lema tem sido sempre procurar trazer algo inovador ao nosso mercado, seja a nível de artistas, produção, decorações ou outras formas de entretenimento. A fórmula de sucesso do festival alberga três principais ingredientes: persistência, trabalho de equipa e a construção de relações sólidas e duradouras com as marcas patrocinadoras que depositam confiança em nós. O We Love Summer é uma marca que continua a expandir-se e a crescer imenso dentro da África do Sul, e nós temos orgulho em ser os pilares dessa expansão em Moçambique.

Múrmúrios do Mar de Lizzie Ana

Fundação Fernando Leite Couto

Encontramos Lizzie Ana nestes “Murmúrios do mar”, que nas telas reluzentes dá corpo a coisas, objectos, instrumentos, silêncios como quem rasga o papel de embrulho do belo. A matéria é composta pelos nossos quotidianos, traçados por uma artista cosmopolita que projecta um olhar que quer capturar a temperatura da cor, o perímetro da sombra, a luz impressa num reflexo como só acontece aqui.

Fotografia: Cortesia de Lizzie Ana

Millennium bim apoia a exposição

fotográfica “Americanos” de José Cabral Centro Cultural Português Camões

War Dance conta a história de três crianças que vivem num campo de refugiados no norte do Uganda.

WAR DANCE

War Dance é um documentário lançado em 2007 que conta a história de três crianças, Nancy, cantora de música coral, Rose, dançarina, e Dominic, xilofonista. São membros de um grupo étnico chamado Acholi, que vive num campo de refugiados remoto, em Patongo, no norte do Uganda. O campo encontra-se sob protecção militar de um exército de resistência comandado por um grupo terrorista há décadas em conflito com o governo. Em 2005, a escola primária do acampamento ganha um concurso regional de música e vai para Kampala participar no concurso nacional anual. Ao longo de três meses, a equipa de produção do documentário viveu no acampamento, onde acompanhou a preparação dos três jovens para o grande evento. O filme oferece a perspectiva das crianças sobre a complexidade da guer-

ra, sendo um testemunho convincente sobre o poder curador da arte e das expressões criativas. É maravilhoso poder assistir a essa parte alegre da vida cultural das crianças que, embora vitimizadas e traumatizadas, lutam para sobreviver e construir uma vida melhor num ponto do mundo bastante problemático.

O filme estreou no Festival de Cinema de Sundance de 2007, onde ganhou o Prémio de Direcção de Documentário. Foi também nomeado para o Óscar de Melhor Documentário em 2008, e recebeu um Emmy Award, como Melhor Documentário e Melhor Fotografia, em 2010, para além de muitos outros prémios.

Esta película que a Xonguila recomenda vivamente foi escrita e dirigida por Sean Fine e Andrea Nix Fine, e produzida por Susan MacLaury, da Shine Global.

WAR DANCE

War Dance is a documentary film released in 2007 that tells the story of three children: Nancy, a choral music singer; Rose, a dancer; and Dominic, a xylophone player. They are members of the Acholi ethnic group and living in a remote refugee camp in Patongo, in northern Uganda. The camp is under military protection from a resistance army commanded by a terrorist group that has been in conflict with the government for decades. In 2005, the camp’s primary school won a regional music competition and went to Kampala to take part in the annual national competition. Over the course of three months, the documentary production team lived on the camp, following the three youngsters around whilst they prepared for the big event. The film offers the children’s perspective on the complexity of war and is a compelling testimony to the healing power of art and creative expression. It is wonderful to be able to witness this joyful part of the cultural life of children who, though victimised and traumatised, fight to survive and to build a better life in a rather troubled part of the world.

The film premiered at the 2007 Sundance Film Festival, where it won the Best Directing Documentary Award. It was also nominated for an Oscar for Best Documentary in 2008 and received an Emmy Award as Best Documentary and Best Cinematography in 2010, in addition to many other awards.

Xonguila highly recommends this film, which was written and directed by Sean Fine and Andrea Nix Fine and produced by Susan MacLaury of Shine Global.

WHAT WE DO

Real estate brokerage.

Planning and budgeting.

Management of relationships with the investor.

Property assessments.

Management of real estate projects.

Administrative management and support for due diligence.

116 | Revista Xonguila © Ed. 55 • Fevereiro - February 2023 Coimbra: Estádio Cidade de Coimbra l Rua D. Manuel I, nº92 Lisboa: Edifício Écran l Rua Sinais de Fogo, nº 6 l Parque das Nações Tel: +351 239 094 370 l Email: geral@euopto.pt

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