Quando a educação se encontra com a voz da diáspora
When education meets the voice of the diaspora
“O Pink Table é mais do que um evento, é um movimento global de união, brilho e empoderamento feminino.”
– Mara Chiu, directora de marketing
Fotografia: Cortesia de CDM
The Pink Table
chega a Maputo com celebração, arte e empoderamento feminino
A Quinta Beija-Flor transformou-se num espaço de elegância e encanto para acolher a primeira edição moçambicana do The Pink Table – Brutal Fruit Spritzer, no dia 27 de Setembro. Mais de cem mulheres, vindas de diversos sectores, responderam ao convite para uma tarde de arte, bem-estar e fortalecimento do espírito feminino.
Este encontro não foi apenas um evento, mas a extensão de um movimento que já passou por cidades como a Cidade do Cabo, e que se prepara para florescer em Paris. Em Maputo, o propósito foi claro: inspirar, valorizar e aproximar mulheres, num ambiente onde cada detalhe respirava confiança e brilho interior.
A apresentadora de televisão Neyma Nacimo assumiu o papel de anfitriã com leveza e alegria, acolhendo cada convidada à chegada. No palco, revelaram-se expressões de arte e emoção: Stefania Leonel, Mimae, DJ Kosmic Keyz e Idalvia Bahule ofereceram actuações memoráveis, cheias de energia e sentimento, em sintonia com a proposta de união e empoderamento.
Para além da música, as participantes desfrutaram de momentos dedicados ao cuidado e ao bem-estar. A Glam Station proporcionou retoques de maquilhagem e partilha de beleza, enquanto a Relax Station ofereceu massagens que trouxeram calma e reconexão. Estes espaços reforçaram que o Pink Table é também um gesto de acolhimento e nutrição interior.
Um destaque especial foi a Pink Table Topics Session, momento íntimo onde mulheres partilharam sonhos, desafios e superações, tecendo laços de inspiração. Em seguida, o Bon Bon Moment encantou com mensagens e afirmações motivadoras, lembrando a todas o valor da autoestima e a força que habita em cada uma.
A tarde terminou em coro
de dança, música, sorrisos e alegria, encerrando com a mesma vibração com que começou. O The Pink Table afirmou-se em Maputo como um marco e referência entre experiências femininas no país.
Para Mara Chiu, directora de marketing, “o Pink Table é mais do que um evento, é um movimento global de união, brilho e empoderamento feminino. Em Maputo, criámos um momento singular e cheio de emoção que ficará guardado na memória de cada mulher que participou.”
O calendário internacional segue agora para Paris, onde, nos dias 3 e 4 de Outubro de 2025, decorrerá o Pink Table, integrado na Paris Fashion Week, prolongando a magia e a visão deste movimento para lá das fronteiras.
“A
Quinta Beija-Flor transformou-se num espaço de elegância e encanto para acolher a primeira edição moçambicana do The Pink Table - Brutal Fruit Spritzer”
The Pink Table
arrives in Maputo with a celebration of art and female empowerment
Quinta Beija-Flor was transformed into a haven of elegance and charm as Maputo welcomed its first edition of The Pink Table – Brutal Fruit Spritzer on 27 September. More than a hundred women from a variety of sectors gathered for an afternoon of art, wellness and the celebration of feminine strength.
This was more than just an event—it was the continuation of a movement that has already passed through cities like Cape Town and is now preparing to bloom in Paris. In Maputo, the mission was clear: to inspire, uplift and bring women together in a setting that radiated confidence and inner brilliance.
Television presenter Neyma Nacimo took on the role of host with warmth and joy, welcoming each guest on arrival. The stage came alive with artistic expression and emotion as Stefania Leonel, Mimae, DJ Kosmic Keyz and Idalvia Bahule delivered powerful, heartfelt performances that echoed the event’s message of unity and empowerment.
Beyond the music, guests enjoyed dedicated spaces for self-care and wellbeing. The Glam Station offered beauty touch-ups and tips, while the Relax Station provided soothing massages
that encouraged calm and reconnection. These experiences embodied the nurturing spirit at the heart of The Pink Table.
A special highlight was the Pink Table Topics Session — an intimate moment where women shared their dreams, challenges, and stories of overcoming adversity.
A standout moment came with the Pink Table Topics Session—an intimate space for women to share their dreams, challenges and triumphs, forging bonds of mutual inspiration. This was followed by the uplifting Bon Bon Moment, filled with motivational messages and affirmations that
reminded everyone of the power of self-worth and the strength each woman carries within.
The afternoon closed with dance, music, laughter and joy, ending on the same vibrant note with which it began. In Maputo, The Pink Table made a resounding statement as a landmark experience for women in Mozambique.
As Mara Chiu, Marketing Director, reflected: “The Pink Table is more than an event—it’s a global movement of unity, brilliance and female empowerment. In Maputo, we created a truly special and emotional moment that will live on in the hearts of every woman who attended.”
Next, the international calendar turns to Paris, where The Pink Table will be held on 3–4 October 2025 during Paris Fashion Week, continuing to spread its magic and vision beyond borders.
36 CFAO Mobility
O lançamento da nova sede
The launch of the new headquarters
48 BCI e UNICEF
Parcerias que transformam vidas
Partnerships that transform lives
66 United Bank for Africa
UBA impulsiona o futuro de África
UBA drives Africa’s future
74 Poluição em Moçambique
Um desafio que ameaça o futuro
A challenge that threatens the future
82 Money Savvy
Reforma e planeamento em Moçambique
Retirement and planning in Mozambique
90 Por elas, por todas
Histórias no feminino que inspiram
Stories of inspiring women
16 Georgina Angélica
Quando a educação se encontra com a voz da diáspora
When education meets the voice of the diaspora
4 The Pink Table
Em Maputo, com celebração, arte e empoderamento feminino
In Maputo with a celebration of art and female empowerment
56 Concerto Otis & Friends II
Um encontro de gerações pela música
moçambicana
A meeting of generations through Mozambican music
28 Millennium bim
Reforço da aposta na economia internacional
Strengthening commitment to the international economy
96 Sylla Faruk e o poder transformador da voz and the transformative power of the voice
Colunistas/Writers: Dércio Parker, Sany Weng, Emilia Gimo Tradução (Português-Inglês)/Translation (Portuguese-English): Pedro Sargaço
Fotografia/Photography: Helton Perengue Design de Capa/Cover Design: Nuno Azevedo
Infografia e Paginação/ Infographics and Pagination: Omar Diogo
Produtores Audiovisuais/Audiovisual Producers: Omar Diogo, Nuno Lopes, Ana Piedade
Gestão de Redes Sociais/ Social Media Management: Nuno Soares
Conteúdos de Marketing e Comunicação/ Marketing and Communication Contents: Omar Diogo, Nuno Azevedo
Gestão de Homepage e Edição Online/ Homepage Management and Online Editing: Omar Diogo, Jorge Oliveira Departamento Comercial/Commercial Department: Nuno Soares -comercial@xonguila.co.mz Registo de Propriedade Industrial/ Industrial Property Registration: 35065/2017 - 35066/2017 (15/01/2018) ISSN / Registo/Register: ISSN-0261-661 / 02/Gabinfo-dec/2018
Impressão/Printing: Txelene LDA
Estimado leitor,
Do Director / From the Director
Chegar à 85.ª edição é um motivo de festa. Entre memórias e novidades, procuramos revelar a diversidade que compõe o mosaico moçambicano em diversas vertentes, sem perder de vista as ligações que nos aproximam do mundo.
Neste número, contamos com uma conversa inspiradora com Georgina Angélica, educadora e formadora que criou o método Educar com Amor e Consciência, aplicado em escolas e famílias de vários países lusófonos. Ximena Calero incentiva-nos a olhar para o desafio da poluição em Moçambique e no mundo, e Sany Weng lança um apelo para planeamento de longo prazo, desmistificando o tema da segurança financeira na velhice.
Os eventos também ganham aqui destaque, com o The Pink Table, um encontro de elegância e sororidade que reuniu mais de cem mulheres na Quinta Beija-Flor, e o concerto Otis & Friends II, uma celebração da música moçambicana que aproximou gerações e estilos no Centro Cultural Moçambique-China.
Trazemos ainda histórias que inspiram e revelam diferentes formas de criar impacto. A capa presta homenagem ao Outubro Rosa, símbolo de força e união feminina.
Que a energia desta edição se prolongue para lá das suas páginas. Que seja inspiração para agir, criar e celebrar connosco.
A Xonguila é sua, e a viagem continua.
Dear reader,
Reaching our 85th edition is cause for celebration. Between memories and new discoveries, we aim to showcase the rich diversity that forms the Mozambican mosaic in all its facets, while keeping an eye on the ties that connect us to the wider world.
In this issue, we feature an inspiring conversation with Georgina Angélica, an educator and trainer who developed the Educar com Amor e Consciência method, now used in schools and homes across several Portuguese-speaking countries. Ximena Calero invites us to reflect on the pressing challenge of pollution in Mozambique and beyond, while Sany Weng makes a compelling case for long-term planning, breaking down the myths around financial security in later life.
Events take centre stage too, with highlights including The Pink Table—a stylish and heartfelt gathering of more than a hundred women at Quinta Beija-Flor—and Otis & Friends II, a musical celebration of Mozambican talent that brought together generations and genres at the Mozambique-China Cultural Centre.
We also share stories that inspire and reveal the many ways individuals are making a difference. This month’s cover pays tribute to Pink October, a symbol of strength and female solidarity.
May the energy of this edition carry you beyond its pages. May it inspire you to act, to create, and to celebrate with us.
Xonguila is yours—and the journey goes on.
Nuno Soares Director
“Educar com Amor e Consciência é uma proposta que não chega com respostas, mas com perguntas, disponibilidade e presença.”
Fotografia: Cortesia de Georgina Angélica
Georgina Angélica
Quando a educação se encontra com a voz da diáspora
Educadora, consultora e formadora, Georgina Angélica criou o método Educar com Amor e Consciência, baseado em quatro pilares — consciência, comunicação, organização e liderança — e aplicado em escolas, famílias e equipas em Portugal, Cabo Verde, Angola e outros territórios. Com experiências em Inglaterra e Angola, é a partir de Portugal, onde reside, que continua a construir pontes com África, fonte de desafios e inspirações. Desde 2023, dá voz a novas narrativas através de O Tal Podcast, co-criado com Paula Cardoso e Yuri Lopes Pereira e difundido pelo Expresso. Semanalmente, o programa promove conversas autênticas sobre identidade, cultura afrodescendência, arte e afectos. Entre a educação e os microfones, mantém a convicção: cuidar de quem educa é cuidar do futuro.
Quando pensa nas suas origens, que momentos acenderam a vontade de dedicar a vida à educação?
Ao pensar nas minhas origens cabo-verdianas, recordo-me de ter crescido rodeada por mulheres profundamente cuidadoras — mães, avós, tias — que davam tudo de si aos outros, mas que raramente se colocavam como prioridade nas suas próprias vidas. Foi a partir dessa observação que nasceu a minha primeira inquietação: quem cuida, também precisa de ser cuidado. Com o tempo, percebi que eu própria repetia esse padrão. E foi esse reconhecimento — esse espelho — que acendeu em mim a vontade de olhar para a educação não só como uma prática voltada para a criança, mas como um espaço de transformação para quem educa. Trabalhei em creches em Inglaterra e, mais tarde, na Escola Internacional de Luanda. Em ambos os contextos, deparei-me com profissionais exaustas, muitas vezes emocionalmente esgotadas. Foi aí que percebi, com clareza, que cuidar de quem educa é cuidar da infância.
Em mais de 20 anos de carreira, qual foi a transformação mais visível que acompanhou nas crianças?
Ao longo dos anos, vi crianças que inicialmente expressavam agressividade, medo ou retraimento florescerem quando lhes era oferecido um espaço de escuta, respeito e presença. Recordo-me de uma criança que, durante semanas, evitava qualquer contacto visual e recusava participar nas actividades em grupo. Ao invés de forçar a integração, criei rotinas de presença silenciosa, respeitando o seu ritmo. Com o tempo, ela começou a aproximar-se espontaneamente — primeiro com o olhar, depois com pequenos gestos, até se sentir confortável para brincar, comunicar e fazer parte. Estas mudanças não acontecem de um dia para o outro. São processos que exigem consistência, empatia e atenção verdadeira. O que aprendi — e continuo a aprender — é que quando cuidamos do ambiente emocional e relacional, as crianças mostram-nos quem são e do que precisam para crescer.
Trabalhei em creches em Inglaterra e, mais tarde, na Escola Internacional de Luanda. Deparei-me com profissionais exaustas, muitas vezes emocionalmente esgotadas. Foi aí que percebi que cuidar de quem educa é cuidar da infância.
“Quem cuida, também precisa de ser cuidado. Cuidar de quem educa é cuidar do futuro.”
Para Georgina Angélica, o “sinto que melhorou” é apenas o início. Os resultados do seu método medem-se nas relações mais saudáveis entre adultos e crianças, na participação activa, na redução de conflitos e no bem-estar das equipas. Vê também famílias mais envolvidas, profissionais com maior equilíbrio emocional e crianças mais autónomas e confiantes. Porque cuidar de quem educa traduz-se sempre em ambientes mais equilibrados.
Como garante que o método se adapta a diferentes contextos culturais, de Lisboa a Luanda ou à Praia?
A adaptabilidade faz parte do próprio ADN do método Amor e Consciência. Os quatro pilares — consciência, comunicação, organização e liderança — são universais, mas a forma como se manifestam depende sempre da escuta profunda de cada realidade. Antes de propor qualquer intervenção, observo e ouço com atenção: como se comunica nesta comunidade? Que práticas já existem e funcionam bem?
Que desafios específicos enfrentam estas famílias, estas crianças e esta equipa? Só depois é que o método é implementado, de forma sensível ao contexto e sempre em diálogo com quem está no terreno. Por exemplo, o que funciona numa escola urbana em Lisboa pode não fazer sentido numa creche comunitária na Praia. Mas o que é comum a todas é o desejo de cuidar melhor — das crianças, das famílias e de quem educa. É a partir desse desejo comum que construímos pontes e adaptamos estratégias, sempre com respeito pelas culturas, pelos saberes locais e pela identidade de cada comunidade.
Quando forma equipas, que resistência encontra mais vezes e que argumento abre portas?
A resistência mais frequente é a crença de que não há tempo para cuidar de quem educa. Muitos profissionais estão tão absorvidos pelas exigências
do dia-a-dia que consideram o autocuidado uma prioridade impossível — ou até um luxo. Há também quem olhe com desconfiança para abordagens mais humanas ou emocionais, como se fossem incompatíveis com a eficácia. O que costumo trazer, antes de tudo, é empatia: reconheço a exaustão, o cansaço acumulado e a falta de reconhecimento que tantos educadores enfrentam. E, a partir daí, apresento dados e experiências que demonstram o contrário: quando cuidamos de quem educa, tudo melhora — o ambiente, o comportamento das crianças, a relação com as famílias, a motivação da equipa. O argumento que mais abre portas é simples, mas poderoso: não se trata de fazer mais, mas de fazer com mais consciência. E isso não exige mais tempo — exige apenas um novo olhar.
Que projectos gostaria de ver nascer também em Moçambique que pudessem beneficiar directamente as crianças e educadores?
Embora ainda não tenha tido a oportunidade de trabalhar directamente com educadores e instituições em Moçambique, acompanho com atenção o que vai sendo feito no campo da educação na infância, e reconheço o enorme potencial humano e cultural do país. Gostaria muito de ver nascer, em Moçambique e noutros contextos africanos, iniciativas que valorizem o bem-estar de quem educa, oferecendo não só formação contínua, mas também
espaços de escuta, cuidado e reconhecimento do trabalho pedagógico como uma prática transformadora. Naturalmente, o meu desejo é levar o método
Educar com Amor e Consciência a mais territórios africanos, incluindo Moçambique, sempre com uma abordagem que parte da escuta e do respeito pelas realidades locais. Acredito que, através do diálogo com profissionais moçam -
bicanos e parceiros locais, seria possível adaptar o método às necessidades específicas do país e co-criar projectos verdadeiramente relevantes e sustentáveis. Educar com Amor e Consciência é uma proposta que não chega com respostas, mas com perguntas, disponibilidade e presença — e acredito que Moçambique poderá ser um terreno fértil para esse encontro.
Quando olha para o continente, Georgina Angélica vê práticas inspiradoras que colocam a criança no centro como ser comunitário e cultural. Na África do Sul, os currículos integram histórias orais, cantigas e línguas locais; no Gana, a tradição de contar histórias alimenta a alfabetização e o vínculo entre gerações; no Quénia e na Tanzânia, o saber dos Maasai entra nas salas de aula. Para ela, a excelência africana nasce dessa reconexão com raízes ancestrais — um caminho onde também deseja ver crescer o seu método Educar com Amor e Consciência.
Como envolver as famílias em bairros com poucos recursos, sem culpabilizar quem já está exausto?
A primeira condição para envolver famílias em contextos de maior vulnerabilidade é reconhecer a sua realidade com respeito e sem julgamentos. Muitos pais e cuidadores vivem sob enorme pressão: jornadas de trabalho longas, dificuldades financeiras, falta de apoio institucional e, por vezes, traumas acumulados. Culpabilizar essas famílias é não só injusto, como ineficaz. Sempre que trabalho com comunidades em contextos de maior escassez, parto da escuta: O que estas famílias já fazem? Que redes de apoio
informal existem? Que saberes e experiências podem ser valorizados? Muitas vezes, há um cuidado profundo — mesmo que silencioso — que precisa apenas de ser legitimado e reconhecido. As estratégias mais eficazes são sempre as que partem da proximidade e da simplicidade. Encontros curtos, em horários acessíveis. Linguagem clara, afectiva e não académica. Actividades que acolham também as crianças, para que a participação não exija mais esforço logístico. E sobretudo, uma abordagem que reforce esta ideia: não estamos aqui para ensinar nada às famílias, mas para construir em conjunto.
O Tal Podcast nasceu da inquietação partilhada por Georgina Angélica e Paula Cardoso: a ausência de conversas profundas e representativas sobre identidade e cultura afrodescendente nos media portugueses. Com a entrada de Yuri Lopes Pereira, o projecto ganhou corpo e tornou-se um espaço de escuta afectiva e de novas narrativas. Para Georgina, é também uma extensão da sua missão educativa: educar através da palavra, dar visibilidade a vozes silenciadas e cuidar pela escuta.
Já sente que O Tal Podcast está a preencher um espaço que faltava nos media portugueses em relação à cultura afrodescendente?
Sim, sinto com convicção que O Tal Podcast veio ocupar um espaço que, durante demasiado tempo, esteve vazio. Ao abrir espaço para que pessoas afrodescendentes possam falar por si, sem guião, com liberdade e profundidade, estamos não só a dar visibilidade, mas a legitimar formas de estar, pensar e sentir que foram his -
toricamente marginalizadas. E isso tem um impacto educativo poderoso — porque amplia as referências, combate o silenciamento e contribui para a construção de uma sociedade mais plural. O podcast não pretende ser a única resposta, mas é certamente uma peça fundamental num movimento mais amplo. E para mim, enquanto educadora, é um privilégio participar nesta construção colectiva, onde a palavra é usada para cuidar, inspirar e transformar.
Se tivesse apenas dez minutos com um ministro da Educação africano, Georgina Angélica não hesitaria: pediria que se cuidasse melhor de quem educa, que os currículos dessem voz à cultura local e que as famílias encontrassem nas comunidades o apoio de que precisam. Porque, acredita, investir na primeira infância é investir no futuro.
Onde a veremos a trabalhar, em África, nos próximos dois anos?
Nos próximos dois anos, espero ver o método Educar com Amor e Consciência a chegar a mais contextos africanos, através de parcerias com escolas, creches, organizações sociais e empresas que partilhem da visão de uma educação mais humana, enraizada e cons -
ciente. Moçambique está no centro desse desejo. Tenho vindo a estabelecer contactos, a escutar o contexto e a preparar o terreno com responsabilidade e respeito. Acredito que há um enorme potencial para criar pontes entre o que já existe no país e as ferramentas que tenho desenvolvido ao longo dos anos. Embora cada passo seja dado com cautela e em diálogo com os parceiros locais, posso dizer com confiança que me vejo a colaborar activamente em Moçambique, Cabo Verde e Angola — países com os quais mantenho laços afectivos e profissionais profundos. Mais do que “levar” um projecto, o meu propósito é construir com. Ouvir, adaptar, e contribuir com práticas que valorizem quem educa e fortaleçam as comunidades desde a primeira infância.
Georgina Angélica
When education meets the voice of the diaspora
Educator, consultant and trainer, Georgina Angélica created the Educate with Love and Awareness method, based on four pillars — awareness, communication, organisation and leadership — and applied in schools, families and teams in Portugal, Cape Verde, Angola and other regions. With experience in England and Angola, it is from Portugal, where she resides, that she continues to build bridges with Africa, a source of challenges and inspiration. Since 2023, she has been giving voice to new narratives through O Tal Podcast, co-created with Paula Cardoso and Yuri Lopes Pereira and broadcast by Expresso. Each week, the programme promotes authentic conversations about identity, Afro-descendant culture, art and affection. Between education and the microphone, she maintains her conviction: to care for those who educate is to care for the future.
When you think about your origins, which moments sparked the desire to dedicate your life to education? When I think of my Cape Verdean roots, I remember growing up surrounded by deeply nurturing women — mothers, grandmothers, aunts — who gave everything of themselves to others but rarely put themselves first in their own lives. It was from that observation that my first unease arose: carers also need to be cared for. Over time, I realised that I was repeating that same pattern. And it was that recognition — that mirror — which sparked in me the desire to view education not only as a practice directed at children, but as a space for transformation for those who educate. I worked in nurseries in England and, later, at the International School of Luanda. In both settings, I came across professionals who were exhausted, often emotionally drained. That was when I clearly realised that caring for those who educate is caring for childhood.
In more than 20 years of work, what has been the most visible transformation you've seen in children? Over the years, I’ve seen children who initially showed aggression, fear or withdrawal flourish when offered a space of listening, respect and presence. I remember a child who, for weeks, avoided any eye contact and refused to take part in group activities. Instead of forcing integration, I created routines of silent presence, respecting the child’s pace. Over time, they began to approach spontaneously — first with their gaze, then with small gestures, until they felt comfortable enough to play, communicate and take part. These changes don’t happen overnight. They are processes that demand consistency, empathy and genuine attention. What I’ve learnt — and continue to learn — is that when we care for the emotional and relational environment, children show us who they are and what they need in order to grow.
“More than simply ‘bringing in’ a project, my purpose is to build with others. To listen, adapt, and contribute with practices that value educators and strengthen communities from early childhood onwards.”
For Georgina Angélica, “I feel it’s improved” is only the beginning. The results of her method are measured in healthier relationships between adults and children, in active participation, in reduced conflict and in team wellbeing. She also sees more engaged families, professionals with greater emotional balance, and children who are more autonomous and confident. Because caring for those who educate always translates into more balanced environments.
How do you ensure the method adapts to different cultural contexts, from Lisbon to Luanda or Praia?
Adaptability is part of the very DNA of the Love and Awareness method. The four pillars — awareness, communication, organisation and leadership — are universal, but the way they take shape always depends on deep listening to each reality. Before proposing any intervention, I observe and listen attentively: how is communication done in this community? What practices already exist and work well? What specific challenges are these
families, these children and this team facing? Only after that is the method implemented, in a way that is sensitive to the context and always in dialogue with those on the ground. For example, what works in an urban school in Lisbon may not make sense in a community nursery in Praia. But what is common to all is the desire to care better — for children, families and educators. It is from this shared desire that we build bridges and adapt strategies, always with respect for cultures, local knowledge and each community’s identity.
Fotografia: Cortesia de Georgina Angélica
When training teams, what resistance do you encounter most often, and what argument opens doors?
The most frequent resistance is the belief that there’s no time to care for those who educate. Many professionals are so absorbed by the daily demands that they see self-care as an impossible priority — or even a luxury. Some also view more human or emotional approaches with scepticism, as if they were incompatible with efficiency. What I usually bring first is empathy: I acknowledge the exhaustion, the accumulated fatigue and the lack of recognition that so many educators face. And from there, I present data and experiences that show the opposite: when we care for those who educate, everything improves — the environment, the children’s behaviour, the relationship with families, the team’s motivation. The argument that opens the most doors is simple but powerful: it’s not about doing more, it’s about doing with more awareness. And that doesn’t require more time — only a new perspective.
What projects would you like to see take shape in Mozambique that could directly benefit children and educators?
Although I haven’t yet had the opportunity to work directly with educators and institutions in Mozambique, I follow closely what’s being done in the field of early childhood education and I recognise the country’s enormous human and cultural potential. I would love to see initiatives emerge — in Mozambique and other African contexts — that value the wellbeing of those who educate, offering not only continuous training, but also spaces for listening, care and recognition of educational work as a transformative practice. Naturally, my wish is to bring the Educate with Love and Awareness method to more African territories, including Mozambique, always through an approach that begins with listening and respect for local realities. I believe that, through dialogue with Mozambican professionals and local partners, it would be possible to adapt the method to the country’s specific needs and co-create truly relevant and sustainable projects. Educate with Love and Awareness is a proposal that doesn’t arrive with answers, but with questions, availability and presence — and I believe Mozambique could be fertile ground for that encounter.
When she looks to the continent, Georgina Angélica sees inspiring practices that place the child at the centre as a community and cultural being.
In South Africa, curricula incorporate oral storytelling, songs and local languages; in Ghana, the tradition of storytelling nourishes literacy and the bond between generations; in Kenya and Tanzania, Maasai knowledge is brought into classrooms. For her, African excellence is born from this reconnection with ancestral roots — a path along which she hopes to see her Educate with Love and Awareness method grow.
How do you involve families in low-income neighbourhoods without blaming those who are already exhausted?
The first condition for involving families in more vulnerable contexts is to recognise their reality with respect and without judgement. Many parents and carers live under immense pressure: long
working hours, financial difficulties, lack of institutional support and, at times, accumulated trauma. Blaming these families is not only unfair, but ineffective. Whenever I work with communities in contexts of greater scarcity, I begin with listening: what are these families already doing? What informal support networks
exist? What knowledge and experiences can be valued? Very often, there is deep — even if silent — care that simply needs to be legitimised and recognised. The most effective strategies are always those that stem from proximity and simplicity. Short meetings, at accessible times.
Clear, warm and non-academic language. Activities that also welcome children, so that participation doesn’t demand extra logistical effort. And above all, an approach that reinforces this idea: we are not here to teach families anything, but to build together.
O Tal Podcast was born from the shared unease of Georgina Angélica and Paula Cardoso: the absence of deep, representative conversations about Afro-descendant identity and culture in Portuguese media. With the arrival of Yuri Lopes Pereira, the project took shape and became a space of emotional listening and new narratives. For Georgina, it is also an extension of her educational mission: to educate through speech, give visibility to silenced voices and care through listening.
Do you already feel that O Tal Podcast is filling a gap that existed in Portuguese media regarding Afro-descendant culture? Yes, I strongly feel that O Tal Podcast has come to occupy a space that was empty for far too long. By opening a space for Afro-descendant people to speak for themselves — unscripted, with freedom and depth — we are not only giving visibility but legitimising ways of being, thinking and feeling that were historically marginal-
ised. And that has a powerful educational impact — because it broadens reference points, combats silencing and contributes to the building of a more plural society. The podcast doesn’t aim to be the only answer, but it’s certainly a key part of a broader movement. And for me, as an educator, it’s a privilege to take part in this collective construction, where the spoken word is used to care, to inspire and to transform.
If she had just ten minutes with an African Minister of Education, Georgina Angélica wouldn’t hesitate: she would ask for better care of those who educate, for curricula to give voice to local culture, and for families to find in their communities the support they need. Because, she believes, investing in early childhood is investing in the future.
Where will we see you working in Africa in the next two years?
In the next two years, I hope to see the Educate with Love and Awareness method reaching more African contexts, through partnerships with schools, nurseries, social organisations and companies that share the vision of a more human, rooted and conscious education. Mozambique is at the heart of that desire. I’ve been establishing contacts, listening to the context and preparing the ground with responsibility and respect. I believe there’s huge potential to build bridges between what already
exists in the country and the tools I’ve been developing over the years. Although each step is taken with care and in dialogue with local partners, I can confidently say that I see myself actively collaborating in Mozambique, Cape Verde and Angola — countries with which I have deep emotional and professional ties. More than “bringing” a project, my aim is to build with. To listen, adapt and contribute with practices that value educators and strengthen communities from early childhood onwards.
Biblioteca Municipal do Zimpeto
De novo a funcionar, graças ao Millennium bim
Fotografia: Cortesia de Millennium bim
Biblioteca Municipal do Zimpeto
De novo a funcionar, graças ao Millennium bim
No âmbito do seu programa de Responsabilidade Social Corporativa “Mais Moçambique pra Mim”, o Millennium bim concluiu a reabilitação da Biblioteca Municipal do Zimpeto, devolvendo à comunidade um espaço de conhecimento, leitura e cultura, um investimento directo na educação e no futuro das novas gerações.
Acerimónia de reabertura, realizada no dia 17 de Outubro, contou com a presença do Vereador do Pelouro de Educação, Cultura e Desporto do Conselho Municipal de Maputo, Osvaldo Faquir, em representação do Presidente do Conselho Municipal, bem como de representantes do Millennium bim, autoridades locais e membros da comunidade.
Localizada no Bairro do Zimpeto, a cerca de três quilómetros do Mercado Grossista e próximo do balcão do Millennium bim, a Biblioteca foi originalmente inaugurada em 2008. Desde então, tornou-se um ponto de referência local, recebendo cerca de 200 visitantes por mês, sobretudo estudantes e famílias, e afirmando-se como um espaço essencial de estudo, leitura e convivência sociocultural.
O encerramento temporário da Biblioteca privou a comunidade de um espaço fundamental para a aprendizagem e o acesso ao conhecimento. Sensível a esta realidade,
O Millennium bim concluiu a reabilitação da Biblioteca Municipal do Zimpeto, devolvendo à comunidade um espaço de conhecimento, leitura e cultura.
o Millennium bim reabilitou o edifício com o objectivo de devolver ao Zimpeto um espaço condigno, funcional e pronto para apoiar os estudantes e toda a comunidade. “Com esta Biblioteca
queremos devolver aos jovens do Zimpeto um espaço que desperte a curiosidade, incentive a leitura e promova o conhecimento. Mais do que um edifício, é uma porta aberta para o futuro, porque acreditamos que a educação é o verdadeiro alicerce do progresso de Moçambique.” destacou Miguel Crispim, Director Coordenador Sul do Millennium bim.
Esta intervenção enquadra-se no programa de Responsabilidade Social do Banco, através do qual, desde 2006, o Millennium bim apoia projectos estruturantes nas áreas da educação, saúde, cultura, desporto e ambiente. Ao mesmo tempo, insere-se nas comemorações dos 30 anos do Millennium bim, uma trajectória marcada pela proximidade às comunidades e pelo compromisso com o desenvolvimento humano e social do País.
“Mais do que um edifício, a Biblioteca Municipal do Zimpeto é uma porta aberta para o futuro, porque a educação é o verdadeiro alicerce do progresso de Moçambique.”
– Miguel Crispim, Director Coordenador Sul do Millennium bim
Zimpeto Municipal Library
Reopens with Millennium bim’s Support
The Zimpeto Municipal Library has officially reopened its doors following a full refurbishment made possible by Millennium bim, under its Corporate Social Responsibility programme Mais Moçambique pra Mim. The initiative returns to the local community a vital space for learning, reading and culture— an investment in education and in the future of new generations.
“The refurbishment of the Zimpeto Library returns to the community a vital space for learning, reading and culture — an investment in education and in the future of new generations.”
The reopening ceremony, held on 17 October, was attended by Osvaldo Faquir, the Councillor for Education, Culture and Sport at the Maputo City Council, representing the Council President. Also present were Millennium bim representatives, local authorities and members of the community.
Situated in Zimpeto, approximately three kilometres from the Wholesale Market and close to a Millennium bim branch, the library first opened in 2008. Since then, it has become a local landmark, receiving around 200 visitors each month— primarily students and
families—and has established itself as a vital hub for study, reading and sociocultural interaction.
The library’s temporary closure deprived the community of an essential educational resource. In response, Millennium bim stepped in to restore the building, with the aim of returning to Zimpeto a modern, functional space ready to support students and the wider community.
“With this library, we want to give the young people of Zimpeto a space that sparks curiosity, encoura ges reading and promotes knowledge. More than a building, it is an open door to
the future, because we believe education is the true foundation of Mozambique’s progress,” said Miguel Crispim, Millennium bim’s Southern Regional Director.
This initiative forms part of Millennium bim’s longstanding Social Responsibility programme, through which the bank has supported key projects in education, health, culture, sport and the environment since 2006. It also aligns with celebrations marking the bank’s 30th anniversary—a journey defined by its close ties to communities and its commitment to human and social development across the country.
CFAO Mobility lança nova
sede em Maputo e consolida crescimento em Moçambique
Nova infra-estrutura fortalece operação da Toyota e aposta em tecnologia de ponta
O grupo CFAO Mobility Mozambique, representante oficial das marcas Toyota, Suzuki e Hino, lançou, na quinta-feira, dia 16 de Outubro, a primeira pedra da sua nova sede em Maputo. O projecto, com duração estimada de 12 meses, visa consolidar a operação da marca em Moçambique, elevando os padrões de atendimento, pós-venda e eficiência operacional. O investimento, na ordem dos 10 milhões de dólares, reflecte o compromisso do grupo com o desenvolvimento económico, social e urbano da capital, acompanhando a expansão já em curso da sua rede nacional.
Com dois pisos e mais de 27 mil metros quadrados, o novo complexo incluirá um novo showroom de viaturas novas Toyota, outro de viaturas usadas, uma oficina de última geração, lojas de Peças Genuínas Toyota, áreas técnicas e zonas verdes. O projecto privilegia processos mais flexíveis, maior conforto para clientes e colaboradores, e soluções de eficiência de recursos, como iluminação técnica optimizada e mobiliário e equipamentos mais modernos.
Como parte integrante deste projecto, estão também em curso obras de requalificação das vias de acesso às futuras instalações, com o objectivo de melhorar significativamente a mobilidade dos clientes, colaboradores e da população local. Paralelamente, está a ser desenvolvido um sistema de escoamento seguro de águas pluviais, abrangendo tanto o edifício como a via pública. Esta iniciativa visa mitigar os riscos ambientais associados à erosão, contribuindo directamente para a promoção de condições de vida mais seguras e dignas para a comunidade envolvente.
“Com esta nova sede, damos um passo decisivo para servir melhor os nossos clientes, sempre de acordo com os padrões técnicos de referência da marca Toyota. É um investimento na qualidade do serviço e no futuro da
mobilidade em Moçambique. O grupo CFAO acredita no nosso mercado e, apesar de vivermos períodos menos bons, continuamos a investir. Esta infra-estrutura materializa a nossa visão de crescimento sustentado, combinando tecnologia, excelência operacional e um design moderno, permitindo oferecer aos colaboradores e clientes mais conforto e eficiência nos nossos serviços”. - considera Henrique Bettencourt, Director-geral da CFAO Moçambique.
O grupo CFAO Mobility está presente em Moçambique com dois showrooms, duas oficinas e duas lojas de Peças Genuínas Toyota em Maputo, e mais recentemente na Matola. Presente em todas as províncias, através de uma rede nacional de Centros de Serviços Autorizados Toyota (CSAs), com técnicos certificados e equipamentos de alta performance, assegurando assim um serviço de excelência, maior proximidade ao cliente, prazos de atendimento reduzidos e a qualidade Toyota, onde quer que esteja.
CFAO Mobility unveils new headquarters in Maputo, reaffirming growth strategy in Mozambique
New facility to bolster Toyota operations and drive innovation with cutting-edge technology
CFAO Mobility Mozambique, the official distributor of Toyota, Suzuki and Hino, laid the foundation stone for its new headquarters in Maputo on Thursday, 16 October. The 12-month project marks a significant milestone in the company’s expansion strategy, aiming to elevate customer service, after-sales support, and operational efficiency across the country. Representing an investment of around US$10 million, the development underscores CFAO Mobility’s commitment to Maputo’s economic, social and urban advancement, in line with the ongoing growth of its national network.
Spanning over 27,000 square metres across two floors, the new facility will feature a modern Toyota showroom for new vehicles, a separate pre-owned vehicle showroom, a state-of-the-art workshop, dedicated Toyota Genuine Parts stores, technical areas and landscaped green spaces. The complex has been designed with flexibility, comfort, and resource efficiency in mind, incorporating optimised lighting systems, contemporary furnishings and advanced equipment to improve
both customer and staff experience.
As part of the project, infrastructure upgrades are also under way to improve road access to the future site, significantly enhancing mobility for customers, employees, and the wider community. Additionally, a comprehensive stormwater drainage system is being implemented to serve both the building and surrounding public roads, aiming to reduce environmental risks linked to erosion and promote safer, more sustainable living conditions in the area.
“With this new headquarters, we are making a decisive move towards better serving our customers, in full alignment with Toyota’s global technical standards. It is an investment in service quality and the future of mobility in Mozambique. CFAO Mobility has confidence in this market and, despite challenging times, we continue to invest. This facility embodies our vision of sustainable growth, blending technology, operational excellence, and modern design to provide greater comfort and efficiency for both staff and clients,”
said Henrique Bettencourt, Managing Director of CFAO Mozambique.
CFAO Mobility currently operates two showrooms, two workshops and two Toyota Genuine
Parts outlets in Maputo, and more recently in Matola. The company’s footprint extends nationwide through a network of Certified Toyota Service Centres (CSAs), staffed by qualified technicians and
equipped with high-performance tools, ensuring exceptional service quality, quicker response times, and proximity to customers—delivering the Toyota standard wherever they may be.
“With this new headquarters, we are making a decisive move towards better serving our customers, in full alignment with Toyota’s global technical standards.”
Fotografia: Cortesia de CFAO
CFAO, JICA
e
Ministério da Saúde unidos pela saúde materna
Num gesto que reforça a cooperação entre Moçambique e o Japão, foi recentemente assinado um Memorando de Cooperação (MoC), marcando um novo capítulo na relação entre os dois países. O acordo, que envolve o Governo de Moçambique, a JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão) e a CFAO último, numa cerimónia que contou com a presença do Ministro da Saúde, Ussene Isse, do Embaixador do Japão, Keiji Hamada, e do representante da JICA, Sr. Otsuka Kazuki.
Esta iniciativa estabelece uma parceria pioneira entre o sector público e o sector privado, unindo o sector da saúde de Moçambique à indústria automóvel japonesa com o objectivo comum de reforçar os cuidados de saúde materna e infantil.
O propósito do Memorando de Coopera-
ção é definir o enquadramento da colaboração entre o Ministério da Saúde de Moçambique, a CFAO Mobility Moçambique, a Toyota Tsusho Corporation e o Escritório da JICA em Moçambique, visando a implementação nacional e o uso sustentável do “Manual de Saúde Materna e Infantil”.
Os participantes comprometeram-se a:
• Facilitar a distribuição eficiente do Manual de Saúde Materna e Infantil.
• Promover a utilização eficaz do manual para melhorar as práticas de saúde materna e infantil.
• Apoiar o reforço das capacidades dos profissionais de saúde, contribuindo para a melhoria dos cuidados prestados.
• Assegurar transparência e coordenação mútua em todas as actividades de colaboração.
Desde 2021, o Grupo CFAO tem sido o distribuidor oficial da Toyota em Moçambique, operando no sector da mobilidade através das marcas Toyota, Suzuki e Hino. Contudo, a presença da CFAO estende-se a mais de 46 países africanos, com um portefólio diversificado que inclui saúde,
bens de consumo e construção. Embora as suas operações em Moçambique estejam centradas na mobilidade, a saúde é uma das suas prioridades estratégicas a nível global. Apoiar este projecto como parte da sua estratégia de responsabilidade social corporativa está alinhado com
a sua missão mais ampla e re flecte o seu compromisso com as comunidades onde actua.
“Hoje, em Moçambique, o Grupo CFAO emprega mais de 170 pessoas, cerca de 30% das quais são mulheres. Mas, para além dos números, vemos fa mílias, mães, pais e filhos que dependem directa e indirec tamente do nosso trabalho. Incluindo os dependentes, somos uma comunidade de mais de 500 pessoas. É por isso que esta parceria nos toca tão profundamente, porque compreendemos, na primeira pessoa, a importância de pro teger a saúde das mulheres e das crianças. Vemos todos os dias o impacto que o acesso a cuidados e informação tem nos nossos colaboradores, nas suas famílias e nas gerações fu turas”, afirmou Hajy Barbosa, Director Comercial da CFAO.
Com a assinatura do memoran do, Moçambique prepara-se agora para expandir gradual mente o uso do manual a todas as províncias e distritos. O im pacto esperado é abrangente: registos de saúde mais preci sos, melhor acompanhamento dos cuidados, prevenção de riscos mais eficaz e, acima de tudo, uma redução da morta lidade materna e infantil. Tes temunhos de mulheres nos distritos-piloto já confirmam esta mudança, referindo maior confiança e tranquilidade gra ças a esta nova ferramenta.
CFAO, JICA and Ministry of health
join forces to improve maternal healthcare
In a significant move that strengthens cooperation between Mozambique and Japan, a Memorandum of Cooperation (MoC) has been signed, ushering in a new chapter in the relationship between the two countries. The agreement brings together the Government of Mozambique, Japan’s International Cooperation Agency (JICA), and CFAO, and was formalised at a ceremony attended by Mozambique’s Minister of Health, Ussene Isse, Japan’s Ambassador to Mozambique, Keiji Hamada, and JICA Representative Mr Otsuka Kazuki.
This initiative marks a pioneering public–private partnership, linking Mozambique’s health sector with Japan’s automotive industry in a shared commitment to improve maternal and child healthcare. The MoC outlines the framework for col-
laboration between Mozambique’s Ministry of Health, CFAO Mobility Mozambique, Toyota Tsusho Corporation, and the JICA office in Mozambique, with the goal of supporting the national rollout and sustainable use of the Maternal and Child Health Handbook.
The parties have committed to:
• Ensuring the efficient distribution of the Maternal and Child Health Handbook;
• Promoting effective use of the handbook to enhance maternal and child health practices;
• Supporting the capacity-building of healthcare professionals to improve the quality of care;
• Guaranteeing transparency and mutual coordination across all collaborative activities.
CFAO has been the official distributor of Toyota in Mozambique since 2021, operating in the mobility sector through the Toyota, Suzuki and Hino brands. However, CFAO’s presence extends across more than 46 African countries, with a diverse portfolio encompassing healthcare, consumer goods and construction. While its Mozambique operations are mobility-focused, health is a strategic priority for
Fotografia: Cortesia de BCI
CFAO globally. Backing this project forms part of its corporate social responsibility agenda and reflects its wider mission and commitment to the communities it serves.
“Today in Mozambique, CFAO employs over 170 people, around 30% of whom are women. But beyond the numbers, we see families—mothers, fathers and children— who depend directly or indirectly on our work. Including their dependents, we’re a community of over 500 people. That’s why this partnership resonates so deeply with us—we understand, first-hand, how crucial it is to protect the health of women and children. Every day, we witness the impact that access to healthcare and information has on our staff, their families and future generations,” said Hajy Barbosa, CFAO’s Commercial Director.
With the signing of this memorandum, Mozambique is now poised to gradually extend the handbook’s use across all provinces and districts. The anticipated impact is far-reaching: more accurate health records, improved care tracking, more effective risk prevention, and, most importantly, a reduction in maternal and child mortality. Women in pilot districts have already reported feeling more confident and reassured thanks to this new resource.
BCI e UNICEF Alianças que impactam vidas
O Banco Comercial e de Investimentos (BCI) acolheu, no auditório do seu edifício sede em Maputo, o Workshop B4R: Parcerias Estratégicas com o Sector Privado, para Resultados a Favor das Crianças, uma iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). O encontro reuniu empresas e instituições do sector privado, num espaço de diálogo, partilha e compromisso. Ao promovê-lo, o BCI reafirmou a sua vocação de agente impulsionador, abrindo espaço para a construção conjunta de soluções sustentáveis e para a defesa de uma causa que ultrapassa fronteiras e estatísticas: o direito de cada criança a um futuro digno, saudável e promissor.
Mais do que um fórum empresarial, o evento transformou-se num momento de consciência e de responsabilidade partilhada, onde o sector privado foi convidado a assumir-se como co-autor de um futuro mais justo e inclusivo.
Na sua intervenção, Francisco Costa, Presidente da Comissão Executiva (PCE) do BCI, sublinhou que a responsabilidade social faz parte do ADN do Banco. Reforçou ainda que, quando se cruzam razão e coração, o BCI opta por investir nas áreas que geram maior impacto positivo: alimentação, educação e saúde, com especial atenção às crianças. “Estas têm sido as grandes prioridades do Banco, com particular atenção às crianças”, afirmou, acres-
Ao
promover o Workshop B4R, o BCI
reafirmou a sua vocação na defesa do direito de cada criança a um futuro digno, saudável e promissor.
que os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável exigem mais do que intenções: requerem mais acção. “Há uma urgência: agir hoje, com as crianças de hoje, sem perder de vista o futuro”, afirmou. As suas palavras ecoaram com serenidade e inspiração, reavivando a certeza de que um país mais justo e sustentável se edifica passo a passo, com gestos simples e concretos que dão forma aos sonhos e tornam o progresso uma
O workshop desenrolou-se
nizado por representantes
das telefonias móveis moçambicanas, focalizou as potencialidades da inclusão e aprendizagem digital como ferramentas de geração de renda. O segundo, com enfoque nos direitos da criança e práticas empresariais responsáveis, contou com a participação do próprio PCE do BCI, que defendeu um modelo de crescimento económico aliado à ética e à sustentabilidade.
Na sua intervenção, Mary Louise Eagleton, Representante da UNICEF em Moçambique, destacou que o progresso social depende da união de esforços e da coerência de propósitos. Explicou que o actual programa de cooperação da UNICEF (2022–2026) assenta em pilares fundamentais: nutrição e saúde; educação e competências; protecção contra a violência e o abuso; água e saneamento; e inclu-
são social. Reconheceu que ainda há desafios, desde o acesso limitado a serviços básicos até à pobreza e aos casamentos prematuros, mas reafirmou a convicção de que, com parcerias sólidas e comprometidas, é possível abrir caminhos de esperança e construir um futuro melhor para todas as crianças de Moçambique. Neste contexto, o BCI volta a afirmar-se como um parceiro de confiança, investindo em iniciativas de impacto social e promovendo parcerias que dão sentido humano à economia. Ao lado da UNICEF e de outras instituições, o Banco assume o propósito de contribuir para que as crianças de Moçambique cresçam com liberdade, saúde e esperança. Porque o futuro nasce no olhar de uma criança e ganha corpo nas acções do presente. Cada gesto de hoje é um investimento real num amanhã mais promissor.
Fotografia: Cortesia de BCI
Quando se cruzam razão e coração, o BCI opta por investir nas áreas que geram maior impacto positivo: alimentação, educação e saúde, com especial atenção às crianças.
– Francisco Costa, PCE do BCI
Fotografia: Cortesia de BCI
BCI AND UNICEF Alliances that change lives
BCI (Banco Comercial e de Investimentos) recently hosted the “B4R Workshop: Strategic Partnerships with the Private Sector for Results for Children” at its headquarters in Maputo, in collaboration with UNICEF. The event brought together businesses and private sector institutions in a space for dialogue, exchange, and commitment. In organising this workshop, BCI reaffirmed its role as a driving force for change, paving the way for sustainable solutions and standing in support of a cause that transcends borders and statistics: every child’s right to a dignified, healthy, and promising future.
More than a business forum, the workshop became a moment of shared awareness and responsibility. The private sector was called upon to recognise its role as a co-author in building a fairer, more inclusive society.
In his address, Francisco Costa, CEO of BCI, emphasised that social responsibility is embedded in the bank’s DNA. He highlighted that when reason meets compassion, BCI chooses to invest in areas that deliver the greatest positive impact—namely nutrition, education, and health, with a particular focus on children. “These have been our top priorities, especially when it comes to children,” he said, stressing that well-being begins at home, in mater-
nal care, family support, and workplace cultures that value life.
Mr Costa also conveyed a sense of intergenerational urgency, reminding the audience that the Sustainable Development Goals require more than goodwill—they demand action. “There is urgency: we must act today, for today’s children, without losing sight of the future,” he stated. His words resonated with calm determination and inspiration, reinforcing the belief that a fairer, more sustainable country is built step by step—through simple, tangible actions that turn aspirations into shared progress.
The workshop featured two panel discussions. The first, led by representatives from Mozambique’s mobile tele -
communications sector, explored the potential of digital inclusion and digital learning as tools for income generation. The second focused on children’s rights and responsible business practices, with BCI’s CEO participat -
ing directly to advocate for a model of economic growth rooted in ethics and sustainability.
Mary Louise Eagleton, UNICEF Representative in Mozambique, stressed that social progress depends on joined-up efforts and shared purpose. She outlined the key pillars of UNICEF’s current cooperation programme (2022–2026): nutrition and health; education and skills; protection from violence and abuse; water and sanitation; and social inclusion. While acknowledging the ongoing challenges—from limited access to basic services, to poverty and early
marriage—she reaffirmed the belief that, through strong and committed partnerships, it is possi-
“Há uma urgência: agir hoje, com as crianças de hoje, sem perder de vista o futuro.”
– Francisco Costa, PCE do BCI
ble to open pathways of hope and build a better future for all children in Mozambique.
In this context, BCI continues to position itself as a trusted partner, investing in high-impact social initiatives and fostering partnerships that bring a human dimension to economic growth. Alongside UNICEF and other institutions, the bank is committed to helping children in Mozambique grow up with freedom, health, and hope.
Because the future begins in a child’s eyes— and takes shape through the actions we take today. Every gesture we make now is a real investment in a brighter tomorrow.
Fotografia: Cortesia de BCI
Concerto Otis & Friends II
Um encontro de gerações pela música moçambicana
O Otis & Friends II celebrou a música moçambicana como encontro de gerações, identidade e partilha.
Fotografia: Cortesia de Jazzt Gigs
Concerto Otis & Friends II
Um encontro de gerações pela música moçambicana
No dia 10 de Outubro de 2025, o Centro Cultural Moçambique-China acolheu uma celebração da música, da amizade e da identidade: o concerto Otis & Friends II. Idealizado pelo saxofonista moçambicano Otis Sax, o evento reuniu artistas de diferentes estilos e gerações num mesmo palco, promovendo um rico diálogo entre tradição e modernidade, entre raízes e experimentação.
Antes do espectáculo, a organização apresentou, em conferência de imprensa no Hotel Rovuma, as motivações por detrás desta segunda edição, sublinhando a importância de se criarem espaços onde os músicos possam crescer juntos e o público reencontrar-se com o que há de mais autêntico na cultura nacional. “O objectivo central deste evento é a promoção dos novos talentos e, acima de tudo, enaltecer a cultura moçambicana, provando que através do cruzamento de gerações podemos ter resultados positivos surpreendentes”, explicou um dos responsáveis.
O conceito parte da convicção de que a diversidade é a força motriz da criação artística. “Trabalhar com
artistas de diferentes estilos só enriquece o produto final. Cada um, da forma como sabe, aplica o seu conhecimento e, em palco, só visto”, referiu a organização, destacando nomes como Aniano Tamele, Dua Maciel, Celso Durão, Valter Mabas, Sarmento e Mahu, além do próprio Otis.
Mais do que música, o evento integrou também gastronomia e artesanato, reforçando a ideia de que “a cultura é o espelho de um povo”. O público pôde, assim, viver uma experiência sensorial completa — um verdadeiro retrato da vitalidade criativa de Moçambique.
Outro ponto forte foi a presença de artistas da diáspora, cuja participação, segundo a organização, “tem um papel crucial na redefinição e ampliação da identidade cultural nacional”. Para os promotores, a diáspora moçambicana representa uma ponte entre o local e o global, capaz de mostrar que “ser moçambicano é também uma experiência transnacional — moldada pela migração, pelo diálogo intercultural e pela memória”.
O Otis & Friends II é visto como uma semente para futuras colaborações. A organização revelou que está em discussão a criação de residências artísticas e projectos de intercâmbio, de modo a consolidar a iniciativa como plataforma permanente de diálogo cultural. “Ganha a cultura e ganha Moçambique”, resumem.
Entrevista com Otis Sax
O Otis & Friends II surge como um espaço de encontro entre diferentes vozes e estilos. O que o inspirou a dar continuidade a este formato?
O Otis & Friends inicia com a produção do mais recente álbum com o mesmo nome. O lançamento deu-se em 2019 em Maputo. Os meus amigos, os “friends”, acompanham-me ao longo da carreira de forma directa ou indirecta e, por esse motivo, juntei-os para juntos fazermos uma obra atemporal. Com o concerto Otis & Friends 2, junto em palco
gerações diferentes com imenso talento. Os mais novos, nomeadamente Mahu e Sarmento, na minha opinião, representam o futuro. Tal como fez Miles Davis, faço eu agora: trabalho com a nova geração. Aprendemos sempre uns dos outros.
Tendo iniciado o seu percurso em Inhambane e vivido grande parte da sua carreira em Portugal, de que forma a distância influenciou a sua relação com Moçambique e com a sua música?
A distância fez com que
pudesse “beber” de outras águas e, com isso, enriquecer as minhas habilidades. A minha relação com Moçambique sempre esteve presente, quer nas minhas obras, quer nas minhas visitas frequentes e, acima de tudo, no contacto com os amigos, a nível corporativo e institucional. Sinto que o carinho por mim e pelo que faço se manteve ao longo dos anos. Note que a minha música não é de todo comercial. O meu primeiro álbum, lançado há mais de 20 anos, ainda é presente.
Fotografia:
Cortesia de Jazzt
Gigs
"A música tem o poder de transmitir mensagens, e fazemos uso dela para influenciar a cidadania, o bem-estar entre os moçambicanos e a paz duradoura.”
A sua trajectória inclui colaborações com nomes marcantes da lusofonia. Que aprendizagens dessas experiências transporta hoje para o palco moçambicano?
Cada um dos artistas com quem colaborei ensinou-me muito. Cada um é ímpar e isso influenciou a minha forma de estar artisticamente, sem contar com o facto de essas colaborações me terem concedido o privilégio de conhecer meio mundo. O maior aprendizado com estas figuras icónicas foi perceber que, em tudo o que fazemos, devemos manter a nossa genuinidade. Não precisamos ser os melhores, mas sim únicos no que fazemos. Essa tem sido a lição que carrego todos os dias.
A sua música cruza jazz, afro soul, marrabenta e sonoridades urbanas. Como define o seu lugar dentro da actual cena musical moçambicana e africana?
Julgo que a minha genuini-
dade permite que o meu lugar na cena musical tenha o devido destaque e merecimento. A minha música é atemporal. Apesar de distante, tenho acompanhado o evoluir da qualidade da música produzida em Moçambique e devo reconhecer que a nova geração está muito melhor preparada do que nós na década de 80.
O evento valorizou a diversidade e o diálogo entre culturas. Que significado pessoal encontra nesse cruzamento entre tradição e modernidade? Muito simples. Temos de ter sempre noção de onde viemos, das nossas origens. Essa tem sido a minha fórmula. A minha discografia tem sempre algum elemento que nos conecta a África e a Moçambique em particular. A modernidade sofre alterações todos os dias; a autenticidade deve ser firme para não perdermos a nossa essência.
Depois de tantos anos de carreira e de nove álbuns
publicados, como olha para a evolução do seu percurso e o que o continua a mover artisticamente?
Cada obra discográfica é como um filho que colocamos no mundo. Cada álbum é único e tenho a mesma ligação com todos.
Vivo o som do saxofone dia e noite e isso é o motivo para acordar todos os dias. Artisticamente, não me vejo com outra motivação além de continuar a criar enquanto tiver saúde.
Que mensagem gostaria que o público levasse consigo no final do concerto?
Este evento promoveu os novos talentos e a diversidade cultural, mas, acima de tudo, foi uma voz para a paz e reconciliação entre nós, moçambicanos. A música tem o poder de transmitir mensagens, e fazemos uso dela para influenciar a cidadania, o bem-estar entre os moçambicanos e a paz duradoura.
O Otis & Friends II reafirmou o percurso de Otis Sax como um dos grandes embaixadores da música moçambicana contemporânea. Nascido em Inhambane, o artista — nome artístico de Alípio Cruz, em homenagem a Otis Redding — construiu uma carreira que o levou de Moçambique a Lisboa, colaborando com figuras como Roberto Leal, Rui Veloso, Mariza, Bonga e Tito Paris. Em 2025, destacou-se também ao lado dos Calema, num concerto histórico que encheu o Estádio da Luz. Com este regresso a Maputo, Otis trouxe consigo o mesmo espírito que o acompanha desde sempre: o de fazer da música um acto de partilha, identidade e união.
Fotografia: Cortesia de Jazzt Gigs
"Being Mozambican is also a transnational experience, shaped by memory and intercultural dialogue."
Concerto Otis & Friends II
A meeting of generations through Mozambican music
On 10 October 2025, the Mozambique-China Cultural Centre hosted a celebration of music, friendship and identity: the Otis & Friends II concert. Conceived by Mozambican saxophonist Otis Sax, the event brought together artists from different styles and generations on the same stage, promoting a rich dialogue between tradition and modernity, between roots and experimentation.
Before the show, the organisers held a press conference at the Rovuma Hotel to present the motivations behind this second edition, highlighting the importance of creating spaces where musicians can grow together and where the public can reconnect with the most authentic expressions of national culture.
“The main goal of this event is to promote new talent and, above all, to celebrate Mozambican culture, proving that through intergenerational exchange we can achieve surprisingly positive results,” explained one of the organisers.
The concept is rooted in the belief that diversity is the driving force
of artistic creation.
“Working with artists of different styles only enriches the final product. Each one, in their own way, applies their knowledge, and what happens on stage is something you have to see to believe,” said the organisers, highlighting names such as Aniano Tamele, Dua Maciel, Celso Durão, Valter Mabas, Sarmento and Mahu, alongside Otis himself.
More than just music, the event also included gastronomy and crafts, reinforcing the idea that “culture is the mirror of a people.” The audience was treated to a full sensory experience — a true reflection of Mozambique’s creative vitality.
Another strong point was the presence of
artists from the diaspora, whose participation, according to the organisers, “plays a crucial role in redefining and expanding the national cultural identity.” For the promoters, the Mozambican diaspora represents a bridge between the local and the global, showing that
“being Mozambican is also a transnational experience — shaped by migration, intercultural dialogue and memory.”
Otis & Friends II is seen as a seed for future collaborations.
The organisers revealed that they are discussing the creation of artistic residencies and exchange projects, aiming to establish the initiative as a permanent platform for cultural dialogue.
Interview with Otis Sax
Otis & Friends II brings together different voices and styles. What inspired you to continue this format?
Otis & Friends began with the production of my most recent album of the same name. It was released in 2019 in Maputo. My friends — the “friends” — have accompanied me throughout my career, directly or indirectly, and for that reason, I brought them together to create a timeless piece of work. With Otis & Friends II, I bring together different generations on stage with immense talent. The younger ones, namely Mahu and Sarmento, in my view, represent the future. Just as Miles Davis did, I now do: I work with the new generation. We always learn from one another.
You started your journey in Inhambane and spent much of your career in Portugal. How did the distance influence your relationship with Mozambique and your music? Distance allowed me to “drink from other waters” and, in doing so, enrich my skills. My relationship with Mozambique has always been present — in my works, in my regular visits, and above all in my connections with friends, both professionally and institutionally. I
feel that the affection for me and for what I do has remained over the years. Note that my music is not at all commercial. My first album, released more than 20 years ago, is still relevant today.
Your career includes collaborations with iconic figures from the Lusophone world. What lessons from those experiences do you bring to the Mozambican stage? Each artist I’ve worked with taught me a great deal. Each one is unique, and that has shaped my artistic presence — not to mention that these collaborations gave me the privilege of seeing half the world. The biggest lesson from these iconic figures was understanding that, in everything we do, we must maintain our authenticity. We don’t need to be the best — but we do need to be unique in what we do. That’s the lesson I carry with me every day.
Your music blends jazz, afro soul, marrabenta and urban sounds. How do you see your place in the current Mozambican and African music scene? I believe my authenticity allows my place in the music scene to have the visibility and recognition it deserves. My music is timeless. Despite the distance, I’ve followed the
evolution of the quality of music produced in Mozambique, and I must acknowledge that the new generation is much better prepared than we were in the 1980s.
The event celebrated diversity and intercultural dialogue. What personal meaning do you find in that crossing between tradition and modernity?
Very simple. We must always be aware of where we come from — our roots. That has always been my formula. My discography always contains some element that connects us to Africa and to Mozambique in particular. Modernity changes every day; authenticity must remain firm so we don’t lose our essence.
After so many years of career and nine albums released, how do you see your journey, and what continues to drive you artistically?
Each album is like a child we put into the world. Each one is unique, and I have the same connection to all of them. I live the sound of the saxophone day and night, and that is the reason I wake up every day. Artistically, I can’t see myself with any other motivation than continuing to create, as long as I have my health.
What message would you like the audience to take away at the end of the concert?
This event promoted new talent and cultural diversity, but above all, it was a voice for peace and reconciliation among us Mozambicans. Music has the power to transmit messages, and we use it to promote citizenship, wellbeing among Mozambicans, and lasting peace.
Otis & Friends II reaffirmed the journey of Otis Sax as one of the great ambassadors of contemporary Mozambican music. Born in Inhambane, the artist — stage name of Alípio Cruz, in tribute to Otis Redding — built a career that took him from Mozambique to Lisbon, collaborating with figures such as Roberto Leal, Rui Veloso, Mariza, Bonga and Tito Paris. In 2025, he also stood out alongside Calema in a historic concert that filled Lisbon’s Estádio da Luz. With this return to Maputo, Otis brought with him the same spirit that has always defined his path: making music an act of sharing, identity and unity.
We don’t need to be the best, we just need to be unique in what we do. That’s the lesson I carry with me every single day.
Com novo livro branco, lidera debate económico africano
O livro branco do UBA redefine o financiamento do desenvolvimento, passando da dependência da ajuda para vias de investimento assentes na inovação africana.
United Bank for Africa
Com novo livro branco, lidera debate económico africano
Obanco global africano United Bank for Africa (UBA) Plc reafirmou o seu compromisso com o crescimento sustentável e a transformação económica do continente, ao lançar oficialmente o seu livro branco inovador intitulado “Apostando no futuro de África: desbloqueando capital e parcerias para o crescimento sustentável”.
O White Paper, apresentado à margem das reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, em Washington, na quinta-feira, traça um roteiro abrangente para acelerar o progresso de África através de soluções financeiras inovadoras, reformas políticas e parcerias estratégicas, colocando as prioridades económicas africanas no centro das discussões financeiras internacionais.
O documento propõe um plano detalhado e exequível, concebido para aproveitar as enormes oportunidades económicas do continente, examinando áreas essenciais de crescimento como a facilitação do comércio, o desenvolvimento de infra-estruturas, a inovação digital, o financiamento climático e o crescimento inclusivo.
Ao defender a integração do capital interno com alianças globais estratégicas, o livro branco visa desbloquear cerca de 4 biliões de dólares em activos financeiros afri-
canos, incluindo 2,5 biliões de dólares em activos bancários comerciais e mais de 1,1 biliões de dólares em capital institucional de longo prazo, ao mesmo tempo que aproveita o potencial de 3,4 biliões de dólares do mercado único da Zona de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA).
Para África, este relatório representa um avanço crucial na infra-estrutura financeira e no empoderamento económico. Aborda desafios persistentes como o acesso limitado ao capital e as parcerias pouco desenvolvidas, propondo soluções capazes de acelerar o desenvolvimento sustentável em todo o continente.
O presidente do grupo UBA, Tony Elumelu, apresentou uma visão ousada para o futuro do continente durante o lançamento: “África encontra-se numa encruzilhada transformacional, rica em resiliência, criatividade e potencial inexplorado. Com este livro branco, o UBA defende o Africapitalismo, capacitando o nosso sector privado para impulsionar um crescimento sustentável que traga prosperidade e riqueza social.”
Elumelu, também defensor do conceito de africanismo, acrescentou que, ao focar-se no crescimento inclusivo e na inovação digital, o relatório visa melhorar a inclusão financeira de milhões de pessoas, reforçar projectos
de infra-estruturas e impulsionar iniciativas resilientes às mudanças climáticas, promovendo, em última instância, a criação de emprego, a redução da pobreza e a integração regional no âmbito da AfCFTA.
No cenário financeiro global, a publicação sublinha igualmente a crescente relevância de África como um actor fundamental na economia mundial, convidando investidores, instituições e decisores políticos internacionais a envolverem-se mais profundamente com os mercados africanos, e a reconhecerem as oportunidades mutuamente benéficas de fluxos de capital e colaborações.
Segundo Elumelu, esse movimento ajudará a redefinir as estratégias globais de investimento, estimulando uma viragem em direcção aos mercados emergentes e incentivando carteiras diversificadas que incluam activos africanos, contribuindo assim para um crescimento económico mundial mais equilibrado.
Elumelu destacou ainda: “Aos investidores em toda a África e no mundo: Juntem-se a nós na mobilização do nosso capital interno de 4 biliões de dólares, juntamente com parcerias estratégicas para criar oportunidades, reduzir os riscos dos investimentos e construir um futuro autodeterminado. A era da acção está a chegar, vamos aproveitá-la
juntos para a soberania económica de África.”
O director-geral e CEO do grupo UBA, Oliver Alawuba, reforçou que o white paper redefine o financiamento do desenvolvimento, passando da dependência da ajuda para vias de investimento assentes na inovação africana.
“O UBA, com o seu profundo conhecimento local e alcance global, está numa posição única para desbloquear fluxos de capital e promover colaborações que transformam desafios em oportunidades. Apelamos aos líderes financeiros de todo o mundo: façam parceria connosco para implementar soluções ágeis, desde plataformas digitais a financiamento misto, e co-criar um crescimento resiliente que beneficie milhões de pessoas. A hora de África é agora, comprometam-se hoje a fazer parte desta jornada transformadora”, declarou.
O United Bank for Africa é um dos maiores empregadores do sector financeiro no continente, com 25 mil colaboradores em todo o grupo e mais de 45 milhões de clientes no mundo. Opera em vinte países africanos, bem como no Reino Unido, Estados Unidos da América, França e Emirados Árabes Unidos, oferecendo serviços bancários de retalho, comerciais e institucionais, liderando a inclusão financeira e investindo em tecnologia de ponta.
“África encontra-se numa encruzilhada transformacional, rica em resiliência, criatividade e potencial inexplorado.”
– Tony Elumelu - Presidente do grupo UBA
Fotografia: Cortesia de UBA
United Bank for Africa
With new white paper, leads African economic debate
The African global bank United Bank for Africa (UBA) Plc has reaffirmed its commitment to the continent’s sustainable growth and economic transformation with the official launch of its groundbreaking white paper entitled “Betting on Africa’s Future: Unlocking Capital and Partnerships for Sustainable Growth.”
The white paper, unveiled on the sidelines of the International Monetary Fund (IMF) and World Bank Annual Meetings in Washington on Thursday, sets out a comprehensive roadmap to accelerate Africa’s progress through innovative financial solutions, policy reforms, and strategic partnerships, placing African economic priorities at the heart of international financial discussions.
The document proposes a detailed and actionable plan designed to harness the continent’s vast economic opportunities, examining key growth areas such as trade facilitation, infrastructure development, digital innovation, climate finance, and inclusive growth.
By advocating the integration of domestic capital with strategic global alliances, the white paper aims to unlock around $4 trillion in African financial assets, including $2.5 trillion in commercial banking assets and more than $1.1 trillion in longterm institutional capital, while also leveraging the $3.4 trillion potential of the African Continental Free Trade Area (AfCFTA) single market.
For Africa, this report represents a crucial step forward in financial infrastructure and economic empowerment. It addresses persistent challenges such as limited access to capital and underdeveloped partnerships, proposing solutions capable of accelerating sustainable development across the continent.
UBA Group Chairman, Tony Elumelu, presented a bold vision for the continent’s future during the launch:
“Africa stands at a transformational crossroads, rich in resilience, creativity, and untapped potential. With this white paper, UBA champions Africapitalism, empowering our private sector to drive sustainable growth that brings prosperity and social wealth.”
Elumelu, also an advocate of the Africanism concept, added that by focusing on inclusive growth and digital innovation, the report aims to improve financial inclusion for millions, reinforce infrastructure projects, and drive climate-resilient initiatives — ultimately promoting job creation, poverty reduction, and regional integration within the AfCFTA framework.
in mobilising our $4 trillion in domestic capital, together with strategic partnerships to create opportunities, de-risk investments, and build a self-determined future. The era of action is here — let us seize it together for Africa’s economic sovereignty.”
United Bank
for
UBA Group Managing Director and CEO, Oliver Alawuba, stressed that the white paper redefines development finance by moving away from aid dependency towards investment pathways grounded in African innovation.
Africa operates
in twenty African countries, as well as in the United Kingdom, the United States of America, France, and the United Arab Emirates.
On the global financial stage, the publication also highlights Africa’s growing relevance as a key player in the world economy, calling on investors, institutions, and international policymakers to engage more deeply with African markets and to recognise the mutually beneficial opportunities of capital flows and collaboration.
According to Elumelu, this movement will help redefine global investment strategies, driving a shift towards emerging markets and encouraging diversified portfolios that include African assets — thus contributing to more balanced global economic growth.
Elumelu further emphasised: “To investors across Africa and around the world: Join us
“UBA, with its deep local knowledge and global reach, is uniquely positioned to unlock capital flows and promote collaborations that turn challenges into opportunities. We call on financial leaders around the world: partner with us to implement agile solutions — from digital platforms to blended finance — and co-create resilient growth that benefits millions. Africa’s time is now, commit today to being part of this transformative journey,” he declared.
United Bank for Africa is one of the largest employers in the financial sector on the continent, with 25,000 employees across the group and over 45 million customers worldwide. It operates in twenty African countries, as well as in the United Kingdom, the United States, France, and the United Arab Emirates, offering retail, commercial and institutional banking services, leading financial inclusion, and investing in cutting-edge technology.
O Desafio da Poluição em Moçambique e no Mundo
O lixo que não desaparece
O Desafio da Poluição em Moçambique e no Mundo
O lixo que não desaparece
A poluição ambiental tem-se tornado um dos maiores desafios globais da actualidade, e Moçambique não está imune a esta realidade. Nas praias do país, os resíduos sólidos acumulam-se diariamente, prejudicando o equilíbrio ecológico, a saúde pública e a economia local. A problemática vai muito além da simples presença de lixo visível na areia; trata-se de um fenómeno que compromete a vida marinha, altera ecossistemas e reflecte-se directamente na qualidade de vida das comunidades costeiras.
Amaior parte dos resíduos encontrados
Mobilização Local e Global
Em Moçambique, a poluição das praias traz consequências directas para as comunidades que dependem da pesca artesanal. Espécies fundamentais para a dieta alimentar e para a economia costeira, como sardinhas, camarões e carapaus, são cada vez mais afectadas por alterações nos seus habitats. A redução das populações de peixes não resulta apenas da sobre -
nas zonas costeiras moçambicanas são plásticos descartáveis, como garrafas, sacos, embalagens e palhinhas, elementos que também dominam a lista dos detritos mais comuns recolhidos em praias a nível global, segundo o relatório anual da Ocean Conservancy (2024). Estes materiais, de difícil decomposição, fragmentam-se em microplásticos que são ingeridos por peixes, tartarugas e aves marinhas, entrando posteriormente na cadeia alimentar humana. Estudos internacionais indicam que já há microplásticos presentes no sangue humano e até na placenta de bebés, o que demonstra a gravidade do problema e a sua interligação com a saúde.
pesca, mas também da degradação ambiental causada por resíduos tóxicos que comprometem o ciclo reprodutivo das espécies. Para muitas famílias que vivem da pesca em zonas costeiras como a Beira, Nacala ou Pemba, isso significa menos rendimento, maior insegurança alimentar e aumento da vulnerabilidade social.
Outro impacto menos visível, mas igualmente preocupante, é a alteração da atmosfera provocada pela queima inadequada de lixo, uma prática ainda comum em vários bairros costeiros. A emissão de gases tóxicos contribui para
Escrito por: Ximena Calero
o aquecimento global e agrava problemas respiratórios nas populações locais. Este círculo vicioso, em que a poluição terrestre se transforma em poluição atmosférica e marítima, mostra como a questão ambiental é interligada e exige soluções integradas.
A poluição ambiental tem-se tornado um dos maiores desafios globais da actualidade, e Moçambique não está imune a esta realidade.
A nível internacional, diversas iniciativas têm chamado a atenção para a urgência de agir. O World Cleanup Day, celebrado anualmente em Setembro, é um exemplo da mobilização global em prol do ambiente. Em Moçambique, este movimento também tem ganhado força. Durante a edição de 2025, em Maputo, a EUMAM MOZ, em parceria com a associação Repensar, organizou limpezas costeiras que resultaram na recolha de centenas de quilogramas de resíduos sólidos nas praias da cidade. A acção envolveu estudantes, activistas, cidadãos comuns e empresas privadas, demonstrando que a luta contra a poluição depende do compromisso de todos os sectores da sociedade. Estas mobilizações não apenas retiram toneladas de resíduos do ambiente, como também cumprem um papel educativo, ao sensibilizar a população para o impacto do seu consumo diário.
No entanto, especialistas alertam que as limpezas, por si só, não resolvem o problema. São necessárias mudanças estruturais e de longo prazo. O investimento em educação ambiental deve começar nas escolas, para formar cidadãos conscientes desde cedo. Campanhas de sensibilização comunitária, associadas a incentivos práticos como pontos de recolha selectiva de resíduos e apoio a cooperativas de reciclagem, podem criar dinâmicas económicas e reduzir o descarte inadequado.
Outro ponto fundamental é o papel do Estado e das empresas. A implementação de políticas públicas mais rigorosas, que responsabilizem indústrias e distribuidores pela gestão dos resíduos que produzem, é essencial. Muitos países têm avançado com a proibição de plásticos descartáveis de uso único, como sacos e palhinhas, e Moçambique pode seguir o mesmo caminho, adaptando estas medidas à sua realidade social e económica. Ao mesmo tempo, deve haver incentivos à inovação, estimulando o desenvolvimento de embalagens biodegradáveis e soluções baseadas na economia circular.
Culturalmente, Moçam -
bique possui uma forte ligação com o mar. As suas praias não são apenas espaços de lazer, mas também pontos de encontro comunitário, fonte de sustento e símbolos de identidade nacional. Preservar o ambiente costeiro significa proteger não apenas a biodiversidade, mas também a herança cultural e económica do país.
A poluição, quando ignorada, converte-se numa ameaça silenciosa. Mas quando enfrentada colectivamente, pode transformar-se numa oportunidade de desenvolvimento sustentável. As pequenas acções, como reduzir o consumo de plástico, participar em limpezas comunitárias ou apoiar projectos de reciclagem, quando multiplicadas, têm um impacto transformador. E se o exemplo dado no World Cleanup Day 2025 em Maputo mostra alguma coisa, é que Moçambique tem a capacidade de se mobilizar e inspirar mudanças concretas.
O combate à poluição é, em última análise, uma luta por dignidade, saúde e futuro. A preservação do meio ambiente não é uma opção, mas sim uma necessidade urgente para garantir a sobrevivência de todos nós num planeta em equilíbrio.
Nas praias de Moçambique, acumulam-se diariamente resíduos sólidos, prejudicando o equilíbrio ecológico, a saúde pública e a economia local.
The pollution challenge in Mozambique and beyond
The waste that doesn’t disappear
Written by: Ximena Calero
Environmental pollution has become one of the most pressing global challenges of our time—and Mozambique is no exception. Along the country’s coastline, solid waste accumulates daily, threatening ecological balance, public health and the local economy. The issue runs far deeper than the visible litter on the sand; it is a complex phenomenon affecting marine life, disrupting ecosystems, and directly impacting the quality of life in coastal communities.
Asignificant proportion of waste found on Mozambique’s beaches consists of single-use plastics such as bottles, bags, packaging and straws—items that also top the list of debris collected on beaches worldwide, according to the 2024 Ocean Conservancy report. These materials, which degrade extremely slowly, break down into microplastics that are ingested by fish, turtles and seabirds—eventually making their way into the human food chain. International studies have found microplastics in human blood and even in the placentas of unborn babies, underscoring the severity of the crisis and its
far-reaching health implications.
Local and global mobilisation
In Mozambique, pollution along the coast has immediate consequences for communities that depend on artisanal fishing. Key species such as sardines, prawns and horse mackerel—vital both for nutrition and for local economies— are increasingly affected by habitat degradation. Their declining numbers are not solely the result of overfishing, but also of environmental damage caused by toxic waste, which interferes with reproductive cycles. For many families living off the sea in regions like Beira, Nacala or Pemba, this
translates into reduced income, heightened food insecurity and increased social vulnerability.
Another, less visible but equally alarming issue is the air pollution caused by the widespread burning of waste—a common practice in many coastal neighbourhoods. Toxic emissions contribute to global warming and exacerbate respiratory problems among local populations. This vicious cycle—where landbased pollution becomes atmospheric and marine pollution—illustrates the deeply interconnected nature of the environmental crisis and the need for integrated solutions.
At the international level, a
number of initiatives have helped to raise awareness around the urgency of environmental action. One such initiative is World Cleanup Day, celebrated annually in September. In Mozambique, the movement is gaining momentum. During the 2025 edition, in Maputo, EUMAM MOZ, in partnership with the organisation Repensar, coordinated coastal cleanup drives that resulted in the collection of hundreds of kilograms of solid waste along the city’s beaches.
The initiative brought together students, activists, private companies and everyday citizens, demonstrating that tackling pollution requires cross-sector collaboration. These clean-ups not only remove waste from the environment but also serve an important educational function, helping to raise awareness about the consequences of everyday consumption habits.
However, experts stress that clean-up efforts alone are not enough. Longterm, structural changes are essential. Environmental education must begin in schools, shaping environmentally conscious citizens from a young age. Community awareness campaigns, coupled with practical incentives like selective waste collection points and support for recycling cooperatives, can help foster a more sustainable and circular economy.
The role of both the state and the private sector is critical. Stricter public policies are needed to hold industries and distributors accountable for the waste they generate. Many countries have already banned single-use plastics such as bags and straws. Mozambique could follow suit, adapting such measures to suit its specific social and economic context. Simultaneously, innovation
should be encouraged— particularly in the development of biodegradable packaging and circular economy solutions.
Culturally, Mozambique has a deep-rooted connection to the sea. Its beaches are more than just places of leisure—they are spaces for community, sources of livelihood and symbols of national identity. Protecting the coastal environment means safeguarding not only biodiversity but also the cultural and economic fabric of the nation.
Pollution, when ignored, becomes a silent threat. But when faced collectively, it can become a powerful catalyst for sustainable development. Small actions—like reducing plastic use, joining community clean-ups, or supporting recycling initiatives—can have a profound impact when replicated across the population. And if World Cleanup Day 2025 in Maputo is anything to go by, Mozambique has both the capacity and the will to mobilise for meaningful change.
Ultimately, the fight against pollution is a fight for dignity, health and the future. Preserving the environment is not a choice— it is an urgent necessity for ensuring a livable, balanced planet for generations to come.
Reforma e planeamento de longo prazo em Moçambique: Por onde começar?
Falar de reforma ainda é tabu
Em Moçambique, poucas pessoas encaram seriamente o tema da reforma. Muitos confiam em que o INSS será suficiente para garantir tranquilidade financeira na velhice. Na realidade, essa confiança pode ser arriscada.
• O sistema depende das contribuições dos trabalhadores activos.
• O valor da pensão futura está ligado ao estado da economia e ao número de contribuintes no activo.
• Isso significa que não existem garantias sólidas para o futuro. Contar apenas com a segurança social é uma aposta incerta. Planear a longo prazo deixou de ser um luxo, passou a ser uma necessidade.
Escrito por: Sany Weng
Como funciona o sistema actual (INSS/INPS)
• Obrigatório para trabalhadores formais.
• Facultativo, mas recomendado, para trabalhadores informais.
• O valor da pensão depende do tempo e do montante das contribuições.
• Na maioria dos casos, não cobre totalmente as despesas durante a reforma.
• As regras constam do Decreto 51/2017 de 9 de Outubro.
Pense bem: se deixasse de trabalhar hoje, conseguiria manter o seu estilo de vida apenas com o valor da pensão?
Quanto mais cedo começar a planear a sua reforma, maior será o impacto positivo do tempo e da disciplina financeira.
Alternativas e Complementos
Depender de uma única fonte é arriscado. Existem várias formas de complementar a segurança social:
• Fundos privados de pensão - Permitem contribuições adicionais e, em alguns casos, a participação financeira da empresa.
• Contribuições voluntárias - Úteis para trabalhadores independentes ou informais que desejam garantir um futuro mais estável.
• Poupanças e investimentos de longo prazo - Depósitos a prazo, seguros de vida com componente de poupança ou títulos do tesouro com prazos entre 5 e 10 anos.
Exemplo: uma poupança mensal de 2.000 MZN durante 20 anos, com uma taxa média de 6% ao ano, pode gerar um complemento significativo à pensão pública.
Passos práticos para começar
1. Defina o objectivo - Determine quanto gostaria de receber mensalmente após a reforma.
2. Calcule quanto precisa poupar desde já
- Use ferramentas simples ou peça apoio a um especialista financeiro.
3. Escolha a melhor estratégia - Pode combinar INSS, fundos privados e poupanças de longo prazo.
4. Revise o plano regularmente - A cada 2–3 anos, ajuste o plano conforme a sua situação financeira evolui.
Quanto mais cedo começar, maior será o impacto positivo do tempo e da disciplina financeira.
O papel das empresas
As entidades empregadoras têm um papel crucial na construção de um futuro mais estável para os trabalhadores:
• Garantir que as contribuições para o INSS são correctamente canalizadas.
• Oferecer contribuições complementares para fundos privados (mesmo 5–10% faz diferença).
• Promover programas de literacia financeira no local de trabalho.
• Incentivar trabalhadores temporários ou informais a aderirem a poupanças voluntárias.
Empresas que apoiam os seus colaboradores na preparação para a reforma criam equipas mais motivadas, leais e produtivas.
Benefícios claros para todos
Para os trabalhadores:
• Maior segurança financeira no futuro
• Menos stress e mais controlo sobre a sua vida
• Capacidade de tomar decisões com confiança
Para as empresas:
• Menos pedidos de adiantamentos salariais
• Colaboradores mais focados e tranquilos
• Reforço da imagem como empregador responsável
A decisão está nas suas mãos
Planear a reforma é um acto de responsabilidade pessoal e colectiva. Começar cedo é a melhor forma de garantir independência financeira no futuro.
Uma marca parceira do progressoseu
UBA divulga o seu White Paper (Livro Branco), um projeto para impulsionar a transformação de África de
Acesse através do ubagroup.com/white-paper
www.ubamozambique.com | África
Londres, Paris, Nova Iorque, Emirados Árabes Unidos
Reform and long-term planning in Mozambique: Where to begin?
Written by: Sany Weng
Talking about retirement is still taboo
In Mozambique, few people take the subject of retirement seriously. Many believe the INSS will be enough to ensure financial security in old age. In reality, that trust may be misplaced.
• The system depends on contributions from active workers.
• The value of future pensions is tied to the state of the economy and the number of active contributors.
• This means there are no firm guarantees for the future.
Relying solely on social security is a risky bet. Long-term planning is no longer a luxury — it’s a necessity.
How the current system works (INSS/INPS)
• Mandatory for formal workers.
• Optional, but recommended, for informal workers.
• Pension value depends on how long and how much you’ve contributed.
• In most cases, it does not fully cover retirement expenses.
• The rules are outlined in Decree 51/2017 of 9 October.
Think carefully: if you stopped working today, could you maintain your lifestyle on pension income alone?
Alternatives and complements
Depending on a single source is risky. There are several ways to supplement social security:
• Private pension funds – Allow for additional contributions and, in some cases, employer participation.
• Voluntary contributions – Useful for self-employed or informal workers who want to secure a more stable future.
• Long-term savings and investments –Fixed-term deposits, life insurance with a savings component, or treasury bonds with 5–10-year terms.
Example: A monthly saving of 2,000 MZN over 20 years, with an average annual interest rate of 6%, can provide a meaningful boost to your public pension.
Practical steps to get started
1 - Define your goal – Determine how much you’d like to receive each month after retirement.
2 - Calculate how much to start saving now – Use simple tools or get help from a financial advisor.
3 - Choose the best strategy – Consider a combination of INSS, private funds, and long-term savings.
4 - Review your plan regularly – Every 2–3 years, adjust it as your financial situation evolves.
The earlier you start, the greater the positive impact of time and financial discipline.
The role of employers
Employers play a crucial role in building a more secure future for their workforce:
• Ensure INSS contributions are properly processed.
• Offer additional contributions to private pension funds (even 5–10% makes a difference).
• Promote financial literacy programmes in the workplace.
• Encourage temporary or informal workers to join voluntary savings schemes.
Companies that support employees in preparing for retirement foster more motivated, loyal, and productive teams.
Clear
benefits for everyone
For workers:
• Greater financial security in the future
• Less stress and more control over their lives
• Ability to make informed decisions with confidence
For companies:
• Fewer requests for salary advances
• More focused and stress-free employees
• Stronger reputation as a responsible employer
The choice is yours
Planning for retirement is both a personal and collective responsibility. Starting early is the best way to ensure future financial independence.
“Não existe fragilidade em sermos mulheres, apenas força, coragem e visão.”
- Yara Benedito Chidiamassamba
Fotografia: Cortesia de Yara Benedito
Por elas, por todas
Histórias no feminino que inspiram
Chamo-me Yara Benedito Chidiamassamba. Nasci em Maputo e sou a mais velha de três irmãs. Cresci a ouvir que, por não haver rapazes, deveria ser “o homem da família” e que o sobrenome do meu avô terminaria connosco. Em vez de me prender, essas palavras despertaram em mim uma determinação silenciosa: a de provar que não existe fragilidade em sermos mulheres — apenas força, coragem e visão.
Formei-me em Arquitectura e Planeamento Físico, mas descobri cedo que a minha verdadeira missão ia muito além dos projectos e das pranchetas. Hoje, como Gestora de Performance Social na Fundação para o Desenvolvimento de Palma, encontro-me diariamente no terreno, lado a lado com comunidades que enfrentam desafios imensos, mas que carregam um potencial extraordinário.
Desde cedo acreditei que o progresso de Moçambique passa pela valorização das suas zonas rurais, pela educação das raparigas, pelo acesso à água potável e pela melhoria das condições de saúde. É aí que vejo nascer um futuro resiliente, sustentável e justo. Pauto-me por valores que herdei e cultivo: honestidade, trabalho árduo, paixão e liberdade. São eles que sus-
tentam o meu compromisso de inspirar mudanças e criar oportunidades reais.
Durante cinco anos em Maputo, trabalhei na área de arquitectura, desenvolvendo projectos e supervisionando obras. Foi nesse período que fundei a Maquetheia, uma marca criada para apoiar estudantes e profissionais de arquitectura com ferramentas criativas e de aprendizagem. Organizei workshops para crianças e jovens, convidando-os a repensar a cidade e a descobrir o seu potencial criativo.
Em 2020, segui para Nampula, determinada a apoiar jovens mulheres que abandonavam a escola. Com elas, aprendi que persistir é também um acto de resistência. Foi nesse percurso que colaborei com a Girl Move Academy, integrando acções de mentoria e capacitação que
ampliaram o impacto junto de raparigas e jovens mulheres, reforçando o seu caminho académico e de liderança. Mais tarde, assumi a coordenação de uma plataforma de apoio a comunidades deslocadas pelo conflito em Cabo Delgado, liderando acções de distribuição de alimentos, insumos agrícolas e apoio ao reassentamento. Hoje, conduzo o Projecto Bambu do Rovuma, que transforma o bambu em produtos sustentáveis e cria emprego para agricultores locais, construindo não só uma economia verde, mas também dignidade e futuro. Carrego comigo uma con-
quista especial: tornei-me
Campeã Mundial de Tang
Soo Do, erguendo a bandeira de Moçambique em palcos internacionais. Nesse momento, percebi que o meu sobrenome não terminaria comigo — ele seria um símbolo de resistência e de identidade.
Recentemente, concluí formações em Arquitectura e Infraestrutura Humanitária, Habitação para Crises e Planificação e Gestão de Projectos de Desenvolvimento Social. O próximo passo é um mestrado em Paz, Conflito e Desenvolvimento, para ampliar o meu impacto e aprofundar a mi-
nha capacidade de transformar realidades.
Ao longo do caminho, aprendi que o desenvolvimento verdadeiro nasce da proximidade: conhecer as comunidades, ouvir as suas histórias e trabalhar ombro a ombro na construção de soluções sustentáveis. Trago na memória a mudança de Maputo para Chimoio, os seis anos de simplicidade que nos permitiram comprar o primeiro carro, e as amizades que guardo até hoje.
Sou filha de Etevaldo Boca e profundamente marcada pela força da minha
mãe e da minha madrinha Edite. No desporto, encontrei disciplina e espírito de equipa: joguei voleibol, basquetebol e futsal, e fundei a primeira equipa feminina de voleibol da Faculdade de Arquitectura.
O meu sonho é ver um Moçambique mais pacífico, com menos desemprego e comunidades rurais fortes, com acesso a infra-estruturas sociais essenciais. Porque acredito que a esperança está no conhecimento, na participação e na capacidade de transformar — mesmo quando o caminho é difícil.
Fotografia: Cortesia de Yara Benedito
For them, for all Stories of inspiring women
My name is Yara Benedito Chidiamassamba. I was born in Maputo and am the eldest of three sisters. Growing up, I was often told that, in the absence of any boys, I would have to be “the man of the family”, and that my grandfather’s surname would end with us. Rather than holding me back, those words ignited in me a quiet determination — to prove that there is no weakness in being a woman, only strength, courage, and vision.
Itrained in Architecture and Physical Planning, but I soon discovered that my true purpose went far beyond blueprints and drafting tables. Today, as Social Performance Manager at the Foundation for the Development of Palma, I work daily on the ground, side by side with communities facing enormous challenges, yet brimming with potential.
From early on, I believed that Mozambique’s progress depended on valuing rural areas, educating girls, securing access to clean water, and improving healthcare. That is where I see the seeds of a resilient, sustainable, and fair future taking root. I live by the values I inherited and continue to nurture: honesty, hard work, passion, and freedom. These are the foundations of my commitment to inspiring change and creat-
ing real opportunities.
For five years in Maputo, I worked in architecture, designing projects and overseeing construction works. It was during this period that I founded Maquetheia, a brand created to support architecture students and professionals with creative tools and learning resources. I organised workshops for children and young people, inviting them to rethink the city and explore their creative potential.
In 2020, I moved to Nampula, driven by a desire to support young women who had dropped out of school. Through them, I learned that persistence is also an act of resistance. It was during this time that I collaborated with the Girl Move Academy, engaging in mentoring and capacity-building initiatives that helped girls and young women stay
on their academic and leadership paths. Later, I coordinated a platform supporting communities displaced by conflict in Cabo Delgado, leading efforts to distribute food, agricultural supplies, and provide resettlement support. Today, I lead the Rovuma Bamboo Project, which transforms bam-
boo into sustainable products and provides jobs for local farmers — building not just a green economy, but dignity and a future.
One of my proudest achievements is becoming a World Champion in Tang Soo Do, raising Mozambique’s flag on international stages. In
that moment, I realised my surname would not end with me — it would become a symbol of resistance and identity.
I have recently completed training in Humanitarian Architecture and Infrastructure, Emergency Housing, and Social Development Project Planning
and Management. My next step is a master’s degree in Peace, Conflict and Development, so I can deepen my impact and continue transforming realities.
Along the way, I’ve learned that real development is born of closeness: knowing the communities, listening to their stories, and working shoulder to shoulder to build sustainable solutions. I carry with me the memory of our move from Maputo to Chimoio, six years of simplicity that allowed us to buy our first car, and the friendships I still cherish.
I am the daughter of Etevaldo Boca and have been deeply shaped by the strength of my mother and my godmother, Edite. Through sport, I discovered discipline and teamwork: I played volleyball, basketball and futsal, and I founded the first women's volleyball team at the Faculty of Architecture.
My dream is to see a more peaceful Mozambique, with less unemployment and stronger rural communities with access to vital social infrastructure. Because I believe that hope lies in knowledge, participation and the will to transform — even when the road ahead is hard.
Fotografia: Cortesia de Yara Benedito
Voz com alma, comunicação que cura, segundo
Sylla Faruk
Descobri que comunicar com verdade exige primeiro escutar a nossa voz interior.
Fotografia: Cortesia de Sylla Faruk
Nascida em Maputo e criada em Lisboa, Sylla Faruk é hoje uma das referências femininas na área da comunicação em Moçambique. Com uma energia serena e uma clareza rara de propósito, construiu uma carreira que alia técnica e sensibilidade, mostrando que comunicar é também um acto de cura.
Aminha história na comunicação começou há quase duas décadas, movida pela paixão em dar voz a marcas, projectos e pessoas. Dediquei-me às Relações Públicas, e trabalhei com empresas de referência, e, este ano, fui reconhecida pela COMARP como uma das TOP 30 mulheres mais influentes da comunicação em Moçambique. Foram anos de resultados visíveis, mas também de descobertas pessoais profundas.
Ao longo deste percurso, percebi que a comunicação não se limita a estratégias e campanhas. Há uma dimensão humana que pede escuta, empatia
e verdade. Por trás das câmaras, percebia algo que nenhuma técnica resolvia: não eram apenas os discursos mal preparados que travavam profissionais e líderes, mas sim crenças, medos e bloqueios invisíveis. Eu própria vivi essa realidade. Durante muito tempo, falava para todos, mas não para mim mesma.
Esse foi o ponto de viragem: quando descobri o ThetaHealing, percebi que comunicar com verdade exige primeiro escutar a nossa voz interior.
Foi neste cruzamento entre espiritualidade e comunicação que encontrei o meu propósito. Desta consciência nasceu o SHE-
volution. Mais do que um programa, é uma experiência sensorial e íntima, onde mulheres encontram um espaço seguro para desbloquear a sua voz, transformar vulnerabilidade em força e aprender a liderar com autenticidade. Desde o seu lançamento, o SHEvolution tem reunido mulheres de várias áreas — empreendedoras, artistas, executivas e educadoras — unidas pelo desejo de reconectar-se à sua própria essência.
É um movimento que combina mentoria, escrita intuitiva, escuta activa, partilhas reais e momentos de conexão profunda.
Mas é importante partilhar
também os bastidores. Concretizar este sonho não tem sido fácil. Criar retiros, encontros e formações de alto impacto exige recursos, patrocínios e parcerias que nem sempre estão disponíveis. Muitas vezes, o maior desafio não é desenhar a experiência — isso flui naturalmente — mas sim encontrar o apoio necessário para que ela chegue a mais mulheres e tenha a escala que merece. Já vivi a frustração de ver projectos quase prontos ficarem em suspenso por falta de apoios financeiros ou logísticos.
Mesmo assim, cada edição do SHEvolution tem mostrado que o impacto é real. Mulheres relatam mudanças profundas na forma como se expressam, lideram e se relacionam. É essa transformação que me move.
No meu Instagram @ syllafaruk partilho dicas práticas, exercícios simples e reflexões sobre desbloqueio da voz e expressão autêntica. É lá que mostro os bastidores, histórias reais de transformação e a rotina de quem aplica este método. Para quem deseja ir mais fundo, ofereço também formações exclusivas que têm ajudado profissionais a posicionarem-se com segurança e autenticidade.
O meu livro “Voz com Alma” é o manifesto desta visão. Escrito entre poesia e técnica, ele nasceu do desejo de mostrar que comunicar é mais do que articular bem palavras: é um reencontro com a essência. É aprender a escutar o silêncio, a respeitar o corpo e a transformar dores em potência.
Com esta obra e com o movimento que a acompanha, pretendo inspirar uma nova geração de comunicadores — pessoas que não falam apenas para serem ouvidas, mas para criarem pontes, curarem feridas e moverem consciências.
Hoje, o SHEvolution já impacta mulheres, mas sei que este é apenas o início. Com o apoio certo — de investidores, parceiros estratégicos e influenciadores que acreditam na força do feminino — podemos expandir esta experiência, alcançar milhares de mulheres e criar um legado colectivo.
A tua voz não é apenas som. É memória, é território, é legado. E o meu convite é este: junta-te a mim nesta jornada. Apoia o SHEvolution, partilha-o, leva-o mais longe.
Porque o mundo precisa de vozes com alma — e nunca mais será o mesmo depois de ouvi-las.
Fotografia: Cortesia de Sylla Faruk
A voice with soul, communication that heals, according to Sylla Faruk
Born in Maputo and raised in Lisbon, Sylla Faruk is today one of the leading female figures in the field of communication in Mozambique. With a serene energy and a rare clarity of purpose, she has built a career that combines technique and sensitivity, showing that communication is also an act of healing.
My story in communication began almost two decades ago, driven by a passion for giving voice to brands, projects and people. I dedicated myself to Public Relations, and worked with leading companies, and this year I was recognised by COMARP as one of the TOP 30 most influential women in communication in Mozambique. These were years of visible results, but also of deep personal discoveries.
Throughout this journey, I realised that communication is not limited to strategies and campaigns. There
is a human dimension that calls for listening, empathy and truth. Behind the cameras, I noticed something that no technique could solve: it wasn’t just poorly prepared speeches that held back professionals and leaders, but rather beliefs, fears and invisible blocks. I experienced this myself. For a long time, I spoke to everyone, but not to myself.
That was the turning point: when I discovered ThetaHealing, I realised that communicating with truth first requires listening to our inner voice. It was at this intersection between spirituality and communication that I
found my purpose. From this awareness, SHEvolution was born. More than a programme, it is a sensory and intimate experience, where women find a safe space to unlock their voice, transform vulnerability into strength, and learn to lead with authenticity. Since its launch, SHEvolution has brought together women from various fields — entrepreneurs, artists, executives and educators — united by the desire to reconnect with their own essence. It is a movement that combines mentoring, intuitive writing, active listening, real sharing and moments of deep connection.
But it’s also important to share what goes on behind the scenes. Making this dream a reality hasn’t been easy. Creating retreats, gatherings and high-impact training requires resources, sponsorship and partnerships that are not always available. Often, the biggest challenge is not designing the experience — that flows naturally — but finding the support needed for it to reach more women and achieve the scale it deserves. I have already experienced the frustration of seeing nearly completed projects put on hold due to lack of financial or logistical support.
Even so, each edition of SHEvolution has shown that the impact is real. Women report profound changes in how they express themselves, lead, and relate to others. It is this transformation that drives me.
On my Instagram @syllafaruk I share practical tips, simple exercises and reflections on unlocking the voice and authentic expression. That’s where I show the behind-the-scenes, real stories of transformation and the routine of someone who applies this method. For those who want to go deeper, I also offer exclusive training that has helped professionals position themselves with confidence and authenticity.
My book “Voz com Alma” (A Voice with Soul) is the manifesto of this vision. Written between poetry and technique, it was born from the desire to show that communication is more than articulating words well: it is a reconnection with one’s essence. It is learning to listen to silence, to respect the body and to transform pain into power.
With this work, and with the movement that accompanies it, I intend to inspire a new generation of communicators — people who don’t speak just to be heard, but to build bridges, heal wounds and move minds.
Today, SHEvolution is already impacting women, but I know this is only the beginning. With the right support — from investors, strategic partners and influencers who believe in the power of the feminine — we can expand this experience, reach thousands of women, and create a collective legacy.
Your voice is not just sound. It is memory, it is territory, it is legacy. And my invitation is this: join me on this journey. Support SHEvolution, share it, take it further.
Because the world needs voices with soul — and it will never be the same after hearing them.
Fotografia: Cortesia de Sylla Faruk
Quando a roupa inspira negócios
Em cada peça de roupa bem lavada e engomada há uma história de rigor, disciplina e paixão. Para Sandra Patrícia, Directora Geral de uma lavandaria que começa a marcar a diferença no mercado, esse zelo foi sempre uma inspiração. “Sempre gostei de ver roupas bem lavadas e passadas”, recorda. A ideia de abrir o negócio surgiu da sua própria frustração como cliente: perdas inexplicáveis de peças, trocas, manchas de tingimento e atrasos que nunca eram justificados. O que para muitos era apenas um transtorno, para ela tornou-se o ponto de partida para criar uma empresa. “Decidi que era a oportunidade certa, não só para resolver os meus problemas pessoais, mas também para ajudar outros clientes que enfrentavam exactamente as mesmas situações.”
Os primeiros passos não foram fáceis. O início foi marcado por obstáculos, sobretudo na procura de clientes e na sua fidelização. Mas a resposta não tardou. Sandra Patrícia apostou em marketing criativo e firmou parcerias com bancos, hotéis e ginásios. Essa estratégia abriu portas e deu visibilidade a uma marca que começou a ser associada à confiança e ao profissionalismo.
Na condução da empresa, prefere nunca decidir sozinha. Recolhe opiniões da equipa e consulta profissionais experientes do sector. Depois, avalia cada hipótese com base
no custo-benefício. “Se o retorno compensa o risco, sigo em frente, mas nunca sem um plano de contingência”, afirma.
Para Sandra Patrícia, sucesso é sinónimo de qualidade. Significa oferecer um serviço rápido, de excelência, a preços competitivos, mantendo a equipa motivada e saudável financeiramente. A avaliação é feita através de indicadores claros: tempo médio de execução, satisfação dos clientes medida pelo feedback, controlo rigoroso dos custos e uma taxa mínima de reclamações.
Mais do que experiência técnica, valoriza o sentido de responsabilidade
e o espírito de equipa. A selecção passa por entrevistas práticas, onde coloca os candidatos em situações do dia-a-dia. “Procuro pessoas pontuais, confiáveis, comunicativas e com gosto pelo atendimento ao cliente. É essa dedicação que garante consistência no serviço.”
Num mercado competitivo, a sua estratégia é simples, mas exigente: consistência na qualidade. A empresa oferece entregas em até 24 horas, dependendo do volume de serviços, recolha e entrega eficientes, horários alargados e programas de fidelização criativos, que vão de descontos a mensagens personaliza -
das em datas especiais. Esse cuidado aproxima os clientes e reforça a relação de confiança.
A aposta em inovação é constante. Desde sistemas de gestão que tornam os processos internos mais eficientes até à participação em feiras para acompanhar tendências, tudo é pensado para estar um passo à frente. “Observamos também o que é feito noutras lavandarias e adaptamos boas práticas à nossa realidade”, explica.
Na rotina quotidiana, a atenção recai sobre três eixos principais: tempo de entrega, pagamentos pendentes e stock de consumíveis. Estes indicadores ajudam a decidir com rapidez e precisão onde concentrar esforços, mantendo o negócio organizado e previsível.
Ser empreendedora é exigente, mas Sandra Patrícia aprendeu a impor limites. Organização rigorosa, horários definidos e a delegação de tarefas são pilares do seu equilíbrio. O exercício físico e o tempo em família são prioridades de que não abdica. “Um negócio só cresce de forma saudável quando quem o lidera
também encontra espaço para viver”, sublinha.
Aos que sonham iniciar um projecto próprio, deixa uma mensagem clara: validar a ideia antes de investir. Isso implica compreender as necessidades reais do mercado, planear o fluxo de caixa e procurar uma rede de apoio. Os erros mais comuns que testemunhou incluem confiar
demasiado no círculo de amigos e familiares como primeiros clientes, assumir custos fixos elevados sem testar o modelo e contratar pessoas apenas pela afinidade pessoal.
A jornada de Sandra é uma prova de que determinação, visão prática e atenção às necessidades dos clientes podem transformar uma experiência pessoal num projecto de sucesso.
Fotografia: Cortesia de Sandra Patrícia
When clothing inspires business
Behind every freshly laundered and crisply ironed garment lies a story of discipline, precision, and passion. For Sandra Patrícia, Managing Director of a laundry service that is steadily making its mark in the market, this attention to detail has always been a source of inspiration. “I’ve always loved seeing clothes that are properly cleaned and pressed,” she recalls.
The idea to launch the business stemmed from her own frustrations as a customer— unexplained losses of garments, mix-ups, dye stains, and constant delays without justification. What many viewed as a simple inconvenience, she saw as the spark to start something new. “I realised it was the right opportunity—not just to solve my own problems, but to help other customers facing exactly the same issues.”
The early days were far from easy. Finding and retaining customers proved particularly challenging. But the response wasn’t long in coming. Sandra Patrícia embraced creative marketing and forged partnerships with banks, hotels and gyms. This strategy opened doors
and gave visibility to a brand soon associated with reliability and professionalism.
When it comes to decision-making, she rarely goes it alone. She gathers input from her team and consults experienced industry professionals before weighing each option in terms of cost-benefit. “If the return outweighs the risk, I move forward—but never without a contingency plan,” she affirms.
For Sandra Patrícia, success is synonymous with quality. It means offering fast, top-tier service at competitive prices while ensuring the team remains motivated and financially stable. Performance is measured through clear indicators: average turnaround time, customer satisfaction via
feedback, strict cost control, and a minimal complaint rate.
More than technical expertise, she values a sense of responsibility and team spirit. Recruitment involves practical interviews where candidates face real-life scenarios. “I look for people who are punctual, trustworthy, good communicators, and who genuinely enjoy customer service. That dedication is what guarantees consistency in our work.”
In a competitive market, her strategy is straightforward but demanding: consistency in quality. The company offers 24-hour delivery depending on service volume, efficient pick-up and drop-off, extended operating hours and creative loyalty programmes, from discounts to personalised messages
on special dates. These thoughtful touches build stronger client relationships and reinforce trust.
Innovation is a constant focus. From management systems that streamline internal operations to participating in trade fairs to stay on top of industry trends, everything is geared towards staying one step ahead. “We also observe what’s being done in other laundries and adapt best practices to our own reality,” she explains.
In her daily routine, she keeps a close eye on three core areas: delivery times, outstanding payments and supply stock. These indicators help her quickly and accurately decide where to focus efforts, ensuring the business
remains organised and manageable.
Being an entrepreneur is demanding, but Sandra Patrícia has learnt to set boundaries. Strict organisation, defined working hours and task delegation form the foundation of her work-life balance. Physical exercise and family time are non-negotiables. “A business only grows sustainably when its leader also finds space to live,” she emphasises.
For those dreaming of starting their own venture, she offers clear advice: validate your idea before investing. That means understanding the real needs of the market, planning cash flow carefully and building a support network. The most common mistakes she’s witnessed include over-relying on friends and family as initial customers, taking on high fixed costs without testing the model, and hiring people based solely on personal rapport.
Sandra’s journey is proof that determination, practical vision and an acute awareness of customer needs can turn a personal frustration into a thriving business.
Fotografia: Cortesia de Sandra Patrícia
E se o ChatGPT puder chegar a todos?
Há muito, muito tempo, a sobrevivência dependia da memória colectiva e da observação atenta da natureza. Reunidos possivelmente à volta de uma fogueira, os humanos contavam histórias, ensinavam técnicas de caça e descreviam caminhos seguros. O saber passava de boca em boca, sujeito a esquecimentos e distorções.
Agora imagine-se que, nesse mundo primitivo, existia, e todos podiam ouvir, algo como o ChatGPT — uma voz capaz de responder a qualquer pergunta, combinar informações de diferentes fontes e oferecer soluções imediatas. Com esse recurso, as tribos teriam aprendido a polir ferramentas, domesticar plantas e animais ou explorar novas rotas em muito menos tempo. O conhecimento circularia livremente, unindo comunidades que antes viviam isoladas. A cooperação aumentaria, os erros repetidos diminuiriam e a criatividade encontraria terreno fértil para florescer.
Nas terras a que hoje chamamos Moçambique, a mudança seria notável. Povos que habitavam zonas como o Niassa ou o Vale do Zambeze poderiam ter identificado plantas medicinais com maior rapidez, construído embarcações mais resistentes para explorar o Índico ou planificado colheitas de acordo com padrões climáticos registados e partilhados. Poderíamos até imaginar redes de troca muito antes do tempo dos mercadores estrangeiros, ligando comunidades costeiras e do interior numa economia precoce e dinâmica.
Esta visão, por mais hipotética que seja, serve para iluminar o presente. Hoje, Moçambique já vive um processo de transformação digital: mais pessoas têm acesso à internet, o telemóvel tornou-se a principal porta de entrada para o mundo online, e ferramentas como a banca móvel encurtam distâncias económicas. No entanto, tal como naquele passado distante, grande parte do território, especialmente
em zonas rurais – onde o sinal é fraco e o custo do acesso ainda um obstáculo –, continua afastada destas oportunidades.
E a questão não é apenas dispor de tecnologia, mas também saber aplicá-la. O futuro será mais promissor se a literacia digital chegar a todas as comunidades, se a informação for adaptada às necessidades locais e se o conhecimento global se combinar com a experiência que já existe no terreno. Exemplos actuais mostram que, quando pescadores usam previsões digitais para decidir a saída ao mar ou agricultores recebem alertas sobre pragas via telemóvel, o impacto é imediato e tangível.
A lição é simples: não basta haver uma “fogueira” moderna onde se transmite o saber. É preciso garantir que todos consigam sentar-se à sua volta. Se naqueles tempos distantes uma ferramenta como o ChatGPT teria encurtado séculos de evolução, hoje temos a oportunidade real de acelerar o desenvolvimento, desde que haja vontade de partilhar, aprender e criar em conjunto. Moçambique, com a sua juventude e rica diversidade, tem todas as condições para o fazer, e talvez seja este o verdadeiro salto civilizacional que importa dar.
What if ChatGPT could reach everyone?
Long ago, human survival relied on collective memory and a keen observation of nature. Gathered perhaps around a fire, people would share stories, teach hunting techniques, and map out safe routes. Knowledge was passed down orally—subject to forgetfulness, distortion, and the slow erosion of time.
Now imagine that in this early world, there was something akin to ChatGPT—a voice that could answer any question, draw from multiple sources, and offer immediate solutions. With such a resource, communities might have learned to refine tools, domesticate plants and animals, or chart new paths in far less time. Knowledge would have flowed freely, connecting once-isolated groups. Cooperation would have grown, repeated mistakes would have diminished, and creativity would have flourished.
In the lands we now call Mozambique, the transformation would have been profound. Peoples in regions like Niassa or
the Zambezi Valley might have identified medicinal plants sooner, built sturdier boats to explore the Indian Ocean, or planned harvests according to shared records of seasonal patterns. One could even imagine early trading networks long before the arrival of foreign merchants—linking coastal and inland communities in a vibrant, proto-economy.
As speculative as this vision may be, it serves to shed light on the present. Mozambique is undergoing a digital transformation: more people are online, mobile phones have become the primary gateway to the internet, and tools like mobile banking are narrowing economic divides. Yet, much like in those distant times, vast swathes of the country—especially rural areas where signal strength is weak and costs remain high—are still cut off from these opportunities.
And the issue isn’t just about having access to technology—it’s about knowing how to use it
meaningfully. The future will be brighter if digital literacy reaches every community, if information is tailored to local needs, and if global knowledge is combined with lived, local experience. There are already real-world examples: when fishermen use digital
forecasts to decide when to go to sea, or farmers receive pest alerts via mobile, the benefits are immediate and measurable.
The lesson is clear: it’s not enough to build a modern-day "fire" around whi-
ch knowledge is shared. Everyone must be able to sit around it. If, in ancient times, a tool like ChatGPT could have condensed centuries of progress, today we have a very real chance to accelerate development—provided there’s
a willingness to share, to learn, and to build together. With its youthful population and rich diversity, Mozambique has everything it needs to take that leap—and perhaps this is the true civilisational shift that lies ahead.
“Truques” de construção que amenizam o calor
No nosso país, onde o verão traz temperaturas frequentemente acima dos 35 °C, a maioria das famílias vive sem ar condicionado. Ao longo do tempo, em diferentes regiões do país, surgiram técnicas construtivas adaptadas ao clima que reduzem a temperatura interior sem recurso a energia eléctrica.
No norte, na Ilha de Moçambique, as casas históricas de pedra e cal foram desenhadas para resistir ao calor e à humidade. As paredes espessas
isolam do calor, enquanto pátios internos e varandas altas, viradas para o mar, aproveitam a brisa. As ruas estreitas mantêm-se sombreadas grande parte do dia, ajudando a refrescar
o ar que circula entre as habitações. Na Zambézia e no vale do Zambeze, as palhotas de pau-a-pique ou adobe, com tectos de colmo alto e inclinado, permitem que o ar quente suba e se dissipe. As paredes de barro conservam a frescura acumulada durante a noite e libertam-na lentamente durante o dia. Pequenas aberturas orientadas para a direcção predominante do vento promovem ventilação cruzada.
No Centro e no Sul, onde é comum o uso de chapas de zinco, surgiram soluções práticas para reduzir o calor. Pintar o telhado de branco ou de cores claras reflecte parte da radiação solar. Cobrir o zinco com folhas de coqueiro ou capim cria uma barreira térmica adicional. Alguns moradores instalam tectos falsos em madeira, caniço ou cartão, diminuindo o con-
tacto directo com o calor acumulado no metal.
Nas casas de alvenaria ou cimento, a orientação e o desenho arquitectónico influenciam muito o conforto térmico. Beirais largos, paredes pintadas com cores claras e janelas colocadas para aproveitar a direcção da brisa ajudam a manter o interior mais fresco. Em alguns casos, pátios internos ou árvores de sombra no quintal contribuem para baixar a temperatura ambiente.
Estas soluções, simples e adaptadas aos recursos disponíveis, mostram que a construção pensada de acordo com o clima continua a ser uma forma eficaz de melhorar o conforto térmico — e que a sabedoria local tem um papel decisivo na habitação moçambicana.
“Construction tricks” that ease the heat
In our country, where summer often brings temperatures above 35 °C, most families live without air conditioning. Over time, across different regions, construction techniques have emerged that are adapted to the climate and help lower indoor temperatures without the need for electricity.
In the north, on Mozambique Island, the historic stone-and-lime houses were designed to withstand both heat and humidity. Thick walls provide insulation from the heat, while internal courtyards and high verandas facing the sea capture the breeze. Narrow streets remain shaded for much of the day, helping to cool the air that circulates between homes.
In Zambézia and the Zambezi Valley, traditional homes made of wattle and daub or adobe, with high, sloped thatched roofs, allow hot air to rise and dissipate. The earthen walls retain the coolness absorbed at night and release it slowly throughout the day. Small openings, oriented towards the prevailing wind, encourage cross-ventilation.
In the central and southern regions, where zinc roofing is common, practical solutions have emerged to mitigate the heat. Painting the roof white or in light colours reflects some of the sun’s radiation. Covering the zinc sheets with palm leaves or grass adds an extra thermal barrier. Some residents install
false ceilings made of wood, reed, or cardboard, reducing direct exposure to the heat stored in the metal.
In brick or cement houses, orientation and architectural design play a major role in thermal comfort. Wide eaves, light-coloured walls and windows
placed to catch the breeze all help to keep interiors cooler. In some cases, internal courtyards or shade trees in the yard contribute to lowering the surrounding temperature.
These simple, resource-conscious solutions demonstrate that climate-responsive construction remains an effective way to improve thermal comfort — and that local knowledge continues to play a vital role in Mozambican housing.
Soneto do laço invencível
Um dia sentiu no peito uma estranheza, e o mundo, por instantes, silenciou. Respirou fundo, chamou a fortaleza, decidiu enfrentar o que chegou.
Vieram dias de dura incerteza, mas nunca o brilho dos olhos se apagou. Entre quedas, guardou a singeleza de quem sabe que a vida sempre voou.
E, quando a luz voltou à sua estrada, ergueu-se inteira, com riso verdadeiro, trazendo ao peito a marca conquistada.
Hoje é exemplo, farol por inteiro: toque-se, cuide-se, pois vale a jornada — Outubro é rosa, mas cuidado é o ano inteiro.
Pintado Gaspar
Código das Serpentes De Hélder Muteia
Num país marcado por segredos ancestrais e poderes ocultos, quando Afonso, jovem médico moçambicano residente em Portugal, motivado por um sonho estranho, volta a confrontar-se com uma enigmática estatueta levada do seu país, é arrastado para um labirinto de mistérios, símbolos esquecidos e sociedades secretas que importa descobrir.
Entre florestas densas, figuras enigmáticas e rituais escondidos, a busca pela verdade revela muito mais do que simples lendas. Serpentes, neste universo, não são apenas criaturas, são códigos vivos de resistência, sabedoria e poder.
Code of the Serpents
By Hélder Muteia
In a country shaped by ancestral secrets and hidden powers, Afonso — a young Mozambican doctor living in Portugal — is compelled by a strange dream to confront once more a mysterious statuette brought from his homeland. This encounter draws him into a labyrinth of mysteries, forgotten symbols, and secret societies waiting to be uncovered.
Amid dense forests, enigmatic figures, and concealed rituals, the search for truth unveils far more than mere legends. In this world, serpents are not simply creatures — they are living codes of resistance, wisdom, and power.
Hélder Muteia leads us through an intense narrative, where past and present intertwine, and decoding the code may be the only way to survive.
Hélder Muteia conduz-nos numa narrativa intensa, onde passado e presente se entrelaçam, e onde decifrar o código pode ser a única forma de sobreviver.