BCI e parceiros apoiam comunidades e vida selvagem
BCI and partners support communities and wildlife
A voz que abriu caminhos sem pedir licença
The voice that forged paths without asking permission
RECAVI
Maputo à procura de ruas mais seguras
Maputo in search of safer streets
Sérgio Faife
A alma da rádio onde cabe o país inteiro
A voz de Sérgio Faife não é apenas familiar — é uma presença. Durante mais de trinta anos, atravessou gerações em programas de rádio e televisão que se tornaram parte da memória colectiva. Por detrás do “embaixador da alegria” e do recordista de maratonas radiofónicas, há também um homem feito de silêncios, perdas e escolhas profundas. Nesta conversa com a Xonguila, Faife fala-nos do menino que sonhava com helicópteros, da dor de ter perdido a mãe, do valor da família e da responsabilidade de continuar a falar — mesmo quando a vida pede pausa.
A tua história com a rádio começa muito cedo. O que é que te fascinava tanto nesse universo sonoro, quando eras ainda um miúdo debaixo da mesa a imaginar um helicóptero?
Eu não consigo entender porquê, mas é uma paixão muito antiga. Recordo-me de ficar debaixo da mesa de jantar e imaginar um helicóptero. Também porque, naquela altura, assistia a uma série em que havia um actor com um helicóptero todo preto — esse helicóptero fazia maravilhas. Eu ficava ali a fazer relatos: olha, agora está a passar a viatura vermelha, o semáforo está verde. A minha mãe encontrava-me a falar sozinho e eu ficava todo sem jeito. Depois comecei a acompanhar os programas da rádio, colado à coluna, como se a pessoa fosse sair dali — e aquilo fascinava-me. Cheguei a criar uma rádio imaginária, a Faife Star Radio 2010, com programação completa. Houve também uma fase em que pegava no rádio do meu pai, aumentava o som nas músicas e, quando os locutores falavam, baixava e falava por cima. Pegava em músicas moçambicanas, mudava a letra e colocava algo meu. A
rádio esteve sempre presente na minha vida. Sempre.
Já passaste por mais de 25 programas de rádio e 12 de televisão. Qual deles te marcou mais — e porquê?
O programa de televisão que mais me marcou foi o primeiro, o Ritmos, da Miramar. E depois o Alô Família, o meu primeiro na televisão pública, com o qual ganhei muitos prémios. Moçambique parava às sextas-feiras para acompanhar o Sérgio Faife. Eu tinha uma contagem: "É um, é dois, é três, é quatro, é Faife!" — e as pessoas gritavam: "Alô, Família!" Esse programa foi considerado pela CNN como o melhor talk show da África Austral, e uma equipa veio cá para perceber como fazíamos. Guardo-o com muito carinho. Na rádio, o que mais me marcou foram as maratonas de horas ininterruptas, chegando às 60 horas. Mas talvez tenha sido o 9 Loucuras, na 9FM (depois 99FM), porque finalmente pude fazer o que queria. O Bruno Morgado e o Nelson Camal disseram-me: "Brilha, faz aquilo que tu queres!" — e isso mexeu muito comigo.
[Nos momentos difíceis] transformo a dor em energia positiva, pelo amor que tenho à rádio, à televisão — ao meu trabalho.
Em que momento percebeste que a tua voz tinha poder?
Percebi quando, perto da Escola 16 de Junho, estava à conversa com o músico Zé Pires. Na altura eu apresentava o Alô Família e ele disse-me: "Olha, Faife, tu tens um poder muito grande. Tens um microfone a teu favor, uma audiência enorme. Com ela, podes mudar coisas, fazer maravilhas e influenciar de forma positiva. Usa isso para ajudar os outros." Acho que foi aí que deu o click na minha carreira.
És conhecido como “embaixador da alegria”. Mas, por detrás do sorriso, houve momentos difíceis. Como transformas a dor em energia positiva?
Transformo a dor em energia positiva pelo amor que tenho à rádio, à televisão — ao meu trabalho. Amo o que faço, amo a minha família e ver as pessoas felizes. Mesmo nos dias em que estou em baixo, o simples facto de proporcionar alegria a alguém, seja na rádio, na televisão ou fora desses mundos, muda a minha frequência.
A perda da tua mãe foi um ponto de viragem na tua vida. De que forma esse momento te moldou — e se pudesses voltar a entrevistá-la hoje, o que gostarias de lhe perguntar?
Isto aqui é forte, porque quando falam da minha mãe, eu mudo completamente. Muitas vezes perguntam-me: "Qual foi o momento mais triste da tua vida?"
Antes sequer de a pessoa terminar a pergunta, eu já respondo: foi a morte da minha mãe. Porque foi algo que… não, não… não é uma ferida — é uma ferida que, até hoje, está aberta. Está aberta. E é muito, muito difícil. Muito difícil. Esse momento moldou-me?
Acho que sim. Talvez tenha começado aí a dar mais valor à vida. Comecei
a dar mesmo valor à vida. E também à união familiar, à unidade entre a família. Aproveitar mais. Estarmos mais juntos. Mudei muito, mesmo. Hoje sou muito apegado a essas coisas. Quero ver todos os irmãos, o papá, a família, todos juntos. E quando isso não acontece — quando nos zangamos por coisinhas pequenas, e não conseguimos contornar — isso fere-me. Dói-me bastante. Porque estamos de passagem, e temos de aproveitar cada momento. A família é aquele núcleo onde as pessoas… é onde nos conhecemos. Conhecemo-nos melhor do que qualquer outra pessoa. E quando não conseguimos ultrapassar obstáculos juntos… para mim, isso custa. Não consigo digerir. Como é que as famílias não conseguem ser unidas? Acho que nas famílias não devia haver fronteiras. Não deveriam existir fronteiras. Não deviam. Tinha de haver amor. Compaixão. E, acima de tudo, empatia. Empatia. O que é que eu gostaria de lhe perguntar? Epá, essa questão da morte… é algo que — pronto — gostava de perceber melhor. Porque eu acredito muito… queria falar de um tópico que talvez não abrisse tantos outros debates. Mas entrevistá-la? Não… neste momento, eu só queria abraçá-la. Ya. Talvez… um abraço sem fim.
Já fizeste um programa a fingir que estavas bem quando, por dentro, te sentias a desmoronar? Como se suporta isso?
Já fiz vários programas. Já fiz mesmo vários. Mas, como disse antes, quando amamos o que fazemos… quando o realizador diz "estás no ar", olha, a frequência muda. Se eu estava numa frequência errada, ali a frequência certa vem. E surge aquela alegria, aquela boa disposição — mesmo quando, por dentro, estou a sangrar. Na rádio é exacta -
“Acho que nas famílias não devia haver fronteiras. Tinha de haver amor. Compaixão.
E, acima de tudo, empatia.”
mente a mesma coisa. Quantas vezes saí de casa sem feeling nenhum, e cheguei à rádio ainda sem feeling…, mas, quando o microfone abre, o espírito enche-se de energia. Por exemplo, agora fizeram-me recordar um momento bastante difícil da minha vida. Fiquei gravemente doente. Muito perto mesmo de perder a vida. E não tinha condições de apresentar um especial do meu programa. Na altura, o programa chamava-se Sérgio Faife — era na TVM. Acho que estou a contar isto pela primeira vez. Estava gravemente doente, acamado, sem forças, perdi muitos quilos. E tínhamos uma edição especial preparada há algum tempo: fora da televisão, com plateia, público ao vivo, músicos convidados, duas partidas de futebol — tudo ia ser televisionado em directo. O Presidente do Conselho de Administração estaria presente. Foi uma grande alegria para todos nós... mas eu não estava em condições. Recordo-me de, dois dias antes, ter ido ao médico quase a gatinhar. Disse ao profissional de saúde: "Preciso de medicamentos tiro e queda, porque no domingo tenho um programa especial." Mesmo com os medicamentos, eu não estava a recuperar. Mas acabei por apresentar o programa assim mesmo. Quando começou… não sei de onde veio aquela energia. Consegui apresentar do início ao fim. Mas, assim que entrei no carro, caí. Voltei para estaca zero. E uma das coisas que mais me tocou foi o meu irmão estar presente. No fim do programa, ouvi-o dizer a alguém: "Aquele jovem que estava ali a saltar — não era aquele que estava doente? Estava ali a saltar e a apresentar o programa..." Ya, é algo surreal. É algo que eu próprio também não consigo explicar.
“Quando o realizador diz ‘estás no ar’, a frequência muda. E surge aquela alegria, aquela boa disposição, mesmo quando, por dentro, estou a sangrar.”
O que é que nunca disseste em antena por saberes que poderia mudar o rumo de uma vida?
Muitas coisas. Penso lançar em 2026 um livro com textos que partilhei nas redes sociais. Mas quero deixar outro, para ser publicado apenas depois da minha morte, com os direitos para os meus filhos. Talvez aí responda a esta pergunta.
És o único locutor em Moçambique com maratonas radiofónicas que chegaram às 60 horas. O que te move para bater esses recordes?
É uma forma de me doar e de provar a mim mesmo que sou capaz. É um desafio pessoal, não estou ali para competir.
Já surgiram propostas para fazer mais horas, mas não posso mentir a mim mesmo. Aproveito para partilhar alegria e mensagens positivas, e as pessoas interagem comigo durante essas longas horas.
Existe alguma música que guardas só para ti, que nunca passaste em antena?
Gosto muito de Paradise, dos ColdPlay, e já a passei em antena. É a música que gostaria que tocassem no meu velório, porque adoro mesmo Paradise.
Tens uma relação muito afectiva com o público. Já sentiste medo de perder esse carinho?
Não. Desde os 11 anos que estou presente na vida das pessoas e nunca senti medo. Sempre levei as coisas com naturalidade e construí uma relação real e bonita com o público. Quanto às redes sociais, abracei logo a mudança e adaptei-me à nova dinâmica, o que considero muito importante.
Entre a força da imagem na televisão e a intimidade da rádio, onde sentes que
as pessoas te conhecem melhor?
Acho que gostam mais de me ouvir na rádio, onde me solto mais e sou mais eu. Na televisão, muitas vezes apresento programas que já vêm com a sua dinâmica, embora tente dar o meu toque. Por isso, luto para ter um programa semanal meu, com público, banda e estúdio grande, onde os telespectadores conheceriam mais de mim. Tenho muitas influências, como o radialista José Baleira, e também brasileiras, portuguesas e norte-americanas. A cultura moçambicana moldou-me muito, especialmente a partir do programa Ritmos, onde entrevistei grandes nomes da música ligeira moçambicana, experiência que me ajudou a ser o verdadeiro Sérgio Made in Mozambique.
Há um lugar de Maputo que te devolve memórias sem pedires?
O Prédio Guimarães, ao lado do Ministério da Saúde, na Avenida Eduardo Mondlane. Cresci ali, no bairro Central, e sempre que passo por lá vêm-me as memórias: a infância, as brincadeiras com os vizinhos, os meus pais antes de se separarem. Havia um casal vizinho, português, com dois filhos, o Carlito — a quem chamava Quitos — e a Nádia. Hoje vivem em Portugal e África do Sul. Tenho boas memórias.
Por fim, Sérgio: quando desligas o microfone e as câmaras, quem é o Faife fora do palco?
Acho que sou o mesmo. Gosto de televisão, de ouvir rádios internacionais, de ver notícias, séries e filmes no YouTube. Gosto muito de estar em casa — é o meu ninho seguro. Vivi muitos anos sozinho e isso fez com que hoje aprecie o silêncio. Gosto de ficar só, meditar, pensar em mim mesmo, ler, ver televisão ou escrever.
Fotografia: Helton Perengue
Sérgio Faife
The soul of radio that holds an entire nation
Sérgio Faife’s voice isn’t just familiar — it’s a presence. For over thirty years, it has spanned generations through radio and television shows that have become part of Mozambique’s collective memory. Behind the “ambassador of joy” and record-holder for radio marathons is also a man shaped by silences, losses, and life-shaping choices. In this conversation with Xonguila, Faife talks about the boy who dreamed of helicopters, the pain of losing his mother, the value of family, and the responsibility to keep speaking — even when life demands a pause.
Your relationship with radio started early. What fascinated you so much about that sound-filled world, when you were just a boy under the table imagining a helicopter?
I’ve no idea why, but it’s a very old passion. I remember sitting under the dining table imagining a helicopter. Back then, I used to watch a series with a black helicopter — it did amazing things. I’d sit there narrating: “look, now the red car is going past, the traffic light is green.” My mum would find me talking to myself, and I’d get all shy. Then I started listening closely to radio shows, stuck to the speaker as if the person would come out of it — I was fascinated. I even invented a make-believe station, Faife Star Radio 2010, with a full programming schedule. There was also a phase where I’d grab my dad’s radio, turn the music up and, when the presenters spoke, I’d turn it down and talk over them. I’d take Mozambican songs, change the lyrics, and add something of my own. Radio has always been
part of my life. Always.
You’ve done over 25 radio shows and 12 TV programmes. Which one marked you the most — and why? The TV programme that left the biggest mark was Ritmos, my first, on Miramar. Then came Alô Família, my first on public television — and it won me many awards. Mozambique used to come to a standstill on Fridays to watch Sérgio Faife. I had this catchphrase: “One, two, three, four — Faife!” and the audience would shout: “Alô Família!” That show was named by CNN as the best talk show in Southern Africa, and a team came to see how we did it. I hold it dearly. On radio, what impacted me most were the marathon sessions, up to 60 hours non-stop. But maybe it was 9 Loucuras, on 9FM (later 99FM), because I finally got to do exactly what I wanted. Bruno Morgado and Nelson Camal told me, “Shine — do what you want!” That meant a lot.
When did you realise your voice had power?
I realised it one day near the 16 de Junho School, talking with the musician Zé Pires. I was presenting Alô Família, and he said: “Faife, you’ve got serious power. You’ve got a mic in your hands, and a massive audience. You can change things, do wonders, and influence people positively. Use that to help others.” I think that was the moment my career shifted.
You’re known as the “ambassador of joy”. But behind the smile, there have been difficult times. How do you turn pain into positive energy?
I turn pain into positive energy because I love radio and TV — I love what I do. I love my family, and I love seeing people happy. Even on my lowest days, simply making someone smile — whether on the air or off — changes my whole frequency.
Losing your mother was a turning point. How did that moment shape you — and if you could interview her today, what would you ask?
This one’s hard, because when people mention my mum, I change. People often ask: “What was the saddest moment of your life?” Before they even finish, I say: losing my mother. Because it wasn’t just a wound — it’s a wound that’s still open. And it’s very, very hard. Did it shape me? I think so. That’s probably when I began to truly value life — and family unity. Making the most of time together. I’ve changed a lot. I’m very attached to that now. I want to see all my siblings, my dad, the whole family, together. And when that doesn’t happen
— when we fall out over small things and can’t move past them — it really hurts. It cuts deep. We’re just passing through this life, and we have to make the most of every moment. Family is where we know each other best. When we can’t face obstacles together… that’s hard. I can’t digest it. How can families not be united? I think there shouldn’t be barriers in families. There should be love. Compassion. And above all, empathy. Empathy. What would I ask her? This whole subject of death… I’d like to understand it better. I believe in many things… I’d want to talk about something that wouldn’t stir up too much debate. But interview her? No… I’d just want to hug her. Yeah. Maybe… a never-ending hug.
Have you ever done a show pretending to be fine when, inside, you were falling apart? How do you carry that weight?
I’ve done it many times. Many. But as I said, when you love what you do… when the director says “You’re live,” the energy shifts. If I’m in the wrong frequency, the right one comes. And with it, the joy, the good energy — even if inside I’m bleeding. Same with radio. So many times I’ve left home feeling nothing, arrived at the station still flat… but once the mic is live, my spirit fills with energy. For instance, this reminds me of a really tough time. I was seriously ill. So close to dying. I wasn’t well enough to present a special episode of my show. It was Sérgio Faife, on TVM. I think I’m telling this for the first time. I was bedridden, weak, lost a lot of weight. We had planned a special outdoor episode, with an audience, live music, two foot -
ball matches — all to be broadcast live. The chairman of the board would be present. It was a big deal… but I wasn’t up to it. I remember crawling to the doctor two days before and saying: “I need something fast — I’ve got a special on Sunday.” Even with the meds, I wasn’t getting better. But I still did the show. When it started… I don’t know where the energy came from. I presented the whole thing. But as soon as I got in the car, I collapsed. Straight back to zero. One thing that really touched me was my brother being there. At the end, I heard him say to someone: “That guy jumping on stage — wasn’t he the one who was sick? He was just up there dancing and presenting…” Yeah. It was surreal. Even I can’t explain it.
Is there anything you’ve never said on air because it could change someone’s life?
Plenty. I plan to publish a book in 2026 with texts I’ve shared on social media. But I want to leave another book to be published only after my death, with the rights going to my children. Maybe I’ll answer that question there.
You’re the only radio host in Mozambique to have done 60-hour marathons. What drives you to set those rec ords?
It’s a way of giving myself completely and proving to myself that I’m capable. It’s a personal challenge — I’m not in it to compete. I’ve had offers to go even longer, but I can’t lie to myself. I use the time to spread joy and positivity, and people interact with me during those long hours.
Is there a song you’ve kept just for yourself — one you’ve never played on air?
I really love Paradise by Coldplay, and yes, I’ve played it on air. It’s the song I’d like played at my funeral, because I truly love Paradise.
You have a strong emotional bond with your audience. Have you ever feared losing that connection? No. I’ve been present in people’s lives since I was 11, and I’ve never been afraid. I’ve always done things naturally and built a real, beautiful connection with the audience. As for social media, I embraced it from the start and adapted quickly — I think that’s vital.
Between TV’s visual power and radio’s intimacy, where do people get to know you best?
I think they enjoy hearing me more on radio — that’s where I’m more relaxed and more myself. On TV, I often present shows with their own format, though I always try to add my touch. That’s why I fight to have a weekly show of my own, with a live audience, a band, and a big studio — so people can get to know me better. I’ve got many influences — José Baleira on the radio, and others from Brazil, Portugal, and the US. Mozambican culture shaped me a lot, especially from my time on Ritmos, where I interviewed legends of Mozambican popular music — it helped me become the real Sérgio, Made in Mozambique.
Is there a place in Maputo that brings back memories without warning?
The Guimarães Building, next to the
Fotografia: Helton Perengue
Ministry of Health, on Avenida Eduardo Mondlane. I grew up there, in Bairro Central, and every time I pass by, memories come flooding back: childhood, playing with neighbours, my parents before they split up. There was a Portuguese couple next door, with two children — Carlito, whom I called Quitos, and Nádia. Today they live in Portugal and South Africa. I have fond
And finally, Sérgio: when the microphones and cameras are off, who is Faife off stage?
I think I’m the same person. I enjoy TV, listening to international radio, watching the news, series, and films on YouTube. I love being at home — it’s my safe nest. I lived alone for many years, and that taught me to value silence. I enjoy being alone, meditating, thinking about
Sérgio Faife
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Estimado leitor,
Do Director / From the Director
Com a chegada da 83.ª edição, neste mês de Agosto, reafirmamos a perseverança de um projecto que nasceu com a ambição de durar. Entre desafios e conquistas, a Xonguila tem mantido firme o compromisso de mostrar o país nas suas várias vertentes: cultural, social, empresarial e criativa.
Nesta edição damos destaque a trajectórias que marcaram gerações. Gutto, pioneiro do hip-hop em português e explorador do R&B, fala-nos do percurso onde a música se tornou cura e linguagem universal. Já Sérgio Faife, voz incontornável da rádio e presença na memória colectiva do país, revela o homem por detrás do microfone, moldado por escolhas e persistência.
Apresentamos também olhares sobre grandes e pequenos desafios e soluções. Trazemos a RECAVI, que, em Maputo, se empenha por ruas mais seguras, e, no domínio do 5G, deixamos uma reflexão sobre o papel que desempenha como ponte entre o urbano e o rural. Surge ainda a delicadeza da Calia, marca que une mãe e filha através da bijuteria artesanal.
Somam-se um acordo histórico entre Moçambique e o Estado da Diáspora Africana (SOAD), iniciativas de reflorestamento, histórias de mulheres que inspiram, parcerias estratégicas para a saúde e praias onde ondas brilham à noite. E há mais para descobrir.
Que esta edição lhe proporcione uma leitura envolvente e plena de descobertas. Boa viagem pelas páginas da Xonguila.
Dear reader,
With the arrival of the 83rd edition this August, we reaffirm the perseverance of a project that was born with the ambition to endure. Amid challenges and achievements, Xonguila has remained steadfast in its commitment to showcase the country in its many facets: cultural, social, entrepreneurial, and creative.
In this edition, we highlight paths that have shaped generations. Gutto, a pioneer of Portuguese-language hip-hop and an explorer of R&B, tells us about the journey where music became both healing and a universal language. Sérgio Faife, an unmistakable voice of radio and a presence in the collective memory of the country, reveals the man behind the microphone, shaped by choices and persistence.
We also present perspectives on both major and minor challenges and solutions. We feature RECAVI, which is working for safer streets in Maputo, and in the realm of 5G, we offer a reflection on the role it plays as a bridge between urban and rural areas. There is also the delicacy of Calia, a brand that connects mother and daughter through handmade jewellery.
Added to this are a historic agreement between Mozambique and the State of the African Diaspora (SOAD), reforestation initiatives, stories of inspiring women, strategic partnerships for health, and beaches where the waves shine at night. And there is more to discover.
May this edition provide you with an engaging and discovery-filled read. Enjoy your journey through the pages of Xonguila.
Nuno Soares Director
A voz que abriu caminhos sem pedir licença
Como homem, a minha esperança é ter feito mais bem do que mal, que a minha influência tenha trazido felicidade.
“As questões de preconceito e dignidade são humanas e não estão circunscritas a um país ou a uma fronteira.”
A voz que abriu caminhos sem pedir licença
Há vozes que atravessam gerações e fronteiras sem fazer alarde. Gutto é uma delas. Cresceu na Margem Sul de Lisboa, mas a sua voz encontrou eco em todo o mundo lusófono — e em Moçambique, especialmente, nunca deixou de ser ouvida. Com os Black Company, ajudou a erguer o hip-hop em português, dando nome às dores e força às identidades. Mais tarde, com Private Show, desbravou terreno no R&B cantado em português, com a mesma entrega de quem entende a arte como um acto de cura. Hoje, longe dos palcos e mais perto da terra, Gutto vive entre a música, a reflexão e o silêncio escolhido. Mas continua atento, presente, activo — como formador, como pai, como cidadão.
Nesta conversa íntima com a Xonguila, revemos os marcos de uma carreira pioneira, revisitamos lutas antigas e escutamos o que permanece por dizer. Fala-se de pertença, de identidade, da relação com Moçambique, de encontros que não chegaram a acontecer — como com Azagaia, de quem guarda admiração — e da liberdade de, por vezes, escolher calar.
Gutto, quando pensas no miúdo que cresceu na Margem Sul e sonhava com música, o que mais te surpreende na viagem que fizeste até aqui?
O que mais me surpreendeu foi como tudo passa tão rápido, e, às vezes, o que não é planificado é o que melhor resulta para nós. Na verdade, a melhor coisa que eu fiz foi ouvir sempre o meu instinto e fazer escolhas baseadas no que era o melhor para mim no momento.
Cantaste durante anos contra o preconceito e pela dignidade de quem é negro em Portugal. Achas que o país
mudou realmente desde então?
O país mudou, claro que mudou. É impossível um país não mudar de alguma forma. Resta saber se mudou para melhor ou para pior. Na verdade, as questões de preconceito e dignidade são humanas e não estão circunscritas a um país ou a uma fronteira. Haverá sempre uma batalha entre formas de ver, formas de viver, formas de entender os outros, e eu acho que depende das gerações. A nossa esperança é que as acções que vêm a seguir sejam melhores do que as anteriores, mas nem sempre é o caso. Como se costuma dizer, a história repete-se.
Fotografia: Cortesia de Augusto Armada
Black Company foi um grito colectivo. Quando olhas para esses primeiros tempos, lembras-te de momentos que te marcaram com alegria ou dor e tinhas noção, naquela altura, do impacto que estavam a ter no mundo lusófono, sobretudo nos PALOP? Em Moçambique, por exemplo, foram uma referência enorme. Não fazíamos a mínima ideia de qual seria o nosso impacto ou qual a importância do que estávamos a fazer. Na verdade, a nossa intenção não era dar um grito colectivo, mas apenas encontrar a
nossa essência, encontrar as nossas raízes, encontrar um sentimento de pertença que, na altura, não tínhamos.
Estávamos confusos, divididos entre a nossa africanidade e a nossa portugalidade, e o hip-hop foi como que o remédio, o instrumento que nos permitiu encontrar outras pessoas na mesma situação e encontrar um sentido para aquilo que procurávamos. A verdade é que procurávamos apenas ser felizes e, felizmente, outras pessoas também encontraram felicidade naquilo que nós fazíamos.
quela altura, assim que ganhei confiança na minha voz e na minha capacidade, também comecei a cantar. Só foi uma surpresa para quem não me conhecia. Foi libertador, sim, porque permitiu-me explorar toda a minha musicalidade e não ficar preso numa caixa, limitado a um género.
A música “Ser Negro” marcou uma geração. Hoje, com tantos debates sobre representatividade, voltarias a escrevê-la da mesma forma?
“A verdade é que procurávamos apenas ser felizes e, felizmente, outras pessoas também encontraram felicidade naquilo que nós fazíamos.”
Em que medida a tua transição para o R&B foi libertadora, e em que aspectos foi solitária ou desafiante?
Quem me seguia em Black Company percebia que eu já tinha uma propensão para cantar melodias e que já tentava colocar o R&B em tudo o que fazia. A minha musicalidade sempre foi muito além de ser um MC ou ser um rapper — sou produtor, escrevo, sou rapper — e, na-
Eu creio que aquela obra está fechada, e, se tivesse que escrever lá nesta altura, escreveria o mesmo. Provavelmente, o que poderia acontecer era fazer uma parte 2.
“Ser Negro” faz sentido naquele momento, naquela altura e naquela fase da minha vida.
Disseste que passar a viver no campo foi das melhores decisões da tua vida. Que lições tiraste da terra, do silêncio, da distância, e o que é que hoje tens, aí, que sentes que nunca poderias ter conseguido vivendo na cidade?
Sem dúvida. É uma vida mais calma, mais focada no que realmente importa, com maior conexão com as pessoas e com a terra, e, acima de tudo, mais simples. Permite recordar o que realmente é mais importante e o que faz de nós mais humanos. Não deixei de ser tendencialmente urbano, mas estamos a falar de uma vida no campo que comporta todos os benefícios do urbanismo em termos de equipamentos e serviços. O melhor dos dois mundos.
Fotografia: Cortesia de Augusto Armada
O que é que te levou ao coaching e à formação — e o que é que tens aprendido com os mais novos que encontras nesses contextos?
Iniciei a minha actividade como formador através de programas institucionais de “Educação para a Cidadania através da Música”, direccionados para jovens. Partilhei essa experiência com o Boss AC, nas “Workshops de Rap”. Desde então, aprimorei e desenvolvi a minha instrução na área da formação profissional. O que concluí é que a educação formal se concentra quase exclusivamente na vertente técnico-cognitiva, ignorando o que considero mais importante: a inteligência emocional e a comunicação assertiva. É aí que reside grande parte do segredo do sucesso profissional e pessoal.
Recentemente celebraste os 20 anos do Private Show com concertos e novas músicas. Sentiste que ainda há muito por dizer?
Nunca fiz música por achar que tinha muito para dizer. Reajo apenas aos estímulos e impulsos que me inspiram. Como afirmei anteriormente, aprendi a escutar o meu instinto. E, acima de tudo, faço o que me traz felicidade.
Muitas vezes as canções nascem de dor ou urgência — hoje, o que é que te faz querer cantar?
Neste momento, a minha actividade como músico está muito restrita a eventos isolados, apenas no sentido de matar saudades. O meu percurso profissional na música já encerrou o seu círculo. O que não quer dizer que, no futuro, não me sinta inspirado a criar novamente. Não há tempo nem idade ideal para se criar arte.
Que espaço vês hoje para o R&B cantado em português? Há uma nova geração pronta para o levar adiante?
Ainda me parece uma área subdesenvolvida
e subexplorada. É normal, porque é um género muito específico da cultura americana. Mas acredito que, em breve, teremos o desenvolvimento de um R&B com alma luso-africana, mais genuíno, e espero ter feito uma modesta contribuição para esse fim.
O Azagaia foi uma das vozes mais intensas da música de intervenção em Moçambique — e no mundo lusófono. Nunca chegaram a colaborar, mas, se ele ainda estivesse entre nós, e tivesses a oportunidade de partilhar com ele uma música, uma letra ou até só um silêncio, como imaginas que seria esse momento?
Acho que seria uma experiência muito interessante. É bom partilhar o processo criativo com pessoas inteligentes, com conhecimento e com uma visão do mundo larga e profunda. Tenho pena de não ter tido oportunidade.
Em Moçambique continuas a ser uma referência viva — há quem ainda saiba de cor as tuas letras e se emocione com a tua voz. Que palavras gostarias de deixar a essas pessoas que, mesmo longe, nunca deixaram de te ouvir?
Muito obrigado pelo carinho e por partilharem comigo as mesmas frequências, comungando das mesmas vibrações.
Por fim, que herança queres deixar?
Não só como músico, mas como homem, pai e cidadão?
Não faço questão de deixar qualquer herança. Como pai, espero ter deixado à minha filha as ferramentas para ter uma vida plena, feliz e realizada. Como cidadão, espero ter deixado um bom exemplo de cumprimento, mas também de censura e activismo. Como homem, a minha esperança é ter feito mais bem do que mal, que a minha influência tenha trazido felicidade. Mas, no cômputo geral, somos apenas um grão de areia no grande esquema do universo.
O hip-hop foi como que o remédio, o instrumento que nos permitiu encontrar outras pessoas na mesma situação e encontrar um sentido para aquilo que procurávamos.
Fotografia: Cortesia de Augusto Armada
The voice that forged a path without asking permission
There are voices that cross generations and borders without making a fuss. Gutto is one of them. He grew up on the South Bank of Lisbon, but his voice found an echo throughout the Lusophone world — and in Mozambique, especially, it has never stopped being heard. With Black Company, he helped build hip-hop in Portuguese, giving a name to pain and strength to identities. Later, with Private Show, he broke ground in Portuguese-language R&B, with the same dedication of someone who understands art as an act of healing. Today, far from the stage and closer to the land, Gutto lives between music, reflection and chosen silence. But he remains attentive, present, active — as a trainer, as a father, as a citizen.
In this intimate conversation with Xonguila, we revisit the milestones of a pioneering career, go back over old struggles, and listen to what remains to be said. There is talk of belonging, identity, the relationship with Mozambique, of encounters that never came to pass — like with Azagaia, for whom he holds admiration — and of the freedom to sometimes choose to be silent.
Gutto, when you think of the kid who grew up on the South Bank and dreamed of music, what surprises you the most about the journey you've made so far?
What surprised me the most was how everything goes by so fast, and sometimes what isn’t planned is what works out best for us. In fact, the best thing I did was to always listen to my instinct and make choices based on what was best for me at the time.
You sang for years against prejudice and for the dignity of being Black in Portugal. Do you think the country has really changed since then?
The country changed, of course it changed. It’s impossible for a country not to change in some way. The question is whether it changed for better or for worse. In fact, the issues of prejudice and dignity are human issues and are not confined to a country or a border. There will always be a battle between ways of seeing, ways of living, ways of understanding others, and I think it depends on the generations. Our hope is that the actions that follow will be better than the previous ones, but that’s not always the case. As they say, history repeats itself.
Fotografia: Cortesia de Augusto Armada
Black Company was a collective cry. When you look back at those early days, do you remember moments that marked you with joy or pain, and were you aware at the time of the impact you were having in the Lusophone world, especially in the PALOP countries? In Mozambique, for example, you were a huge reference. We had no idea what our impact would be or how important what we were doing was. In fact, our intention wasn’t to make a collective cry, but just to find our essence, find our roots, find a sense of belonging that, at the time, we didn’t have. We were confused, divided between our Africanness and our Portuguese-ness, and hip-hop was like the remedy, the instrument that allowed us to find other people in the same situation and find meaning in what we were looking for. The truth is we were just looking to be happy, and fortunately, other people also found happiness in what we were doing.
In what way was your transition to R&B liberating, and in what aspects was it lonely or challenging?
Those who followed me in Black Company realised that I already had a tendency to sing melodies and that I already tried to put R&B into everything I did. My musicality has always gone far beyond being an MC or a rapper — I’m a producer, I write, I’m a rapper — and, at that time, as soon as I gained confidence in my voice and in my ability, I also started to sing. It was only a surprise for those who didn’t know me. It was liberating, yes, because it allowed me to explore all my musicality and not be stuck in a box, limited to a genre.
The song “Ser Negro” marked a generation. Today, with so many debates about representation, would you write it the same way again?
I believe that work is complete, and if I had
to write it now, I would write the same. Probably, what might happen would be to make a part two. “Ser Negro” makes sense in that moment, at that time and that stage of my life.
You said that moving to live in the countryside was one of the best decisions of your life. What lessons have you learned from the land, from the silence, from the distance, and what do you have now, there, that you feel you could never have achieved living in the city? Without a doubt. It’s a calmer life, more focused on what really matters, with greater connection to people and to the land, and, above all, simpler. It allows you to remember what’s really most important and what makes us more human. I haven’t stopped being naturally urban, but we’re talking about a life in the countryside that includes all the benefits of urbanism in terms of equipment and services. The best of both worlds.
What led you to coaching and training — and what have you learned from the younger people you meet in those contexts?
I started my work as a trainer through institutional programmes of “Education for Citizenship through Music”, aimed at young people. I shared that experience with Boss AC, in the “Rap Workshops”. Since then, I’ve refined and developed my instruction in the area of professional training. What I concluded is that formal education focuses almost exclusively on the technical-cognitive aspect, ignoring what I consider most important: emotional intelligence and assertive communication. That’s where much of the secret of professional and personal success lies.
You recently celebrated 20 years of Private Show with concerts and new music.
Did you feel there’s still a lot left to say? I never made music because I thought I had a lot to say. I just react to the stimuli and impulses that inspire me. As I said before, I’ve learned to listen to my instinct. And, above all, I do what brings me happiness.
Often songs are born from pain or urgency — today, what makes you want to sing? At the moment, my activity as a musician is very limited to isolated events, just to kill the longing. My professional path in music has already come full circle. That doesn’t mean that, in the future, I won’t feel inspired to create again. There is no ideal time or age to create art.
What space do you see today for R&B sung in Portuguese? Is there a new generation ready to carry it forward?
It still seems to me like an underdeveloped and underexplored area. It’s normal, because it’s a genre very specific to American culture. But I believe that soon we will have the development of an R&B with a Luso-African soul, more genuine, and I hope to have made a modest contribution to that end.
and you had the opportunity to share with him a song, a lyric or even just a silence, how do you imagine that moment would be?
I think it would be a very interesting experience. It’s good to share the creative process with intelligent people, with knowledge and with a broad and deep vision of the world. I’m sorry I didn’t have the opportunity.
The best thing I did was to always listen to my instinct and make choices based on what was best for me at the time.
Azagaia was one of the most powerful voices of protest music in Mozambique — and in the Lusophone world. You never collaborated, but if he were still with us,
In Mozambique you remain a living reference — there are those who still know your lyrics by heart and are moved by your voice. What words would you like to leave to those who, even from afar, never stopped listening to you?
Thank you very much for the affection and for sharing the same frequencies with me, sharing the same vibrations.
Lastly, what legacy do you want to leave? Not just as a musician, but as a man, father and citizen?
I don’t make a point of leaving any legacy. As a father, I hope I’ve given my daughter the tools to have a full, happy and fulfilled life. As a citizen, I hope I’ve left a good example of commitment, but also of criticism and activism. As a man, my hope is that I’ve done more good than harm, that my influence has brought happiness. But, all in all, we’re just a grain of sand in the grand scheme of the universe.
Regeneração de ecossistemas costeiros
Millennium bim promove plantação de mangais e casuarinas
Regeneração de ecossistemas costeiros
Millennium bim promove plantação de mangais e casuarinas
O Millennium bim reforça o seu compromisso com o meio ambiente através de uma ampla acção de voluntariado que contempla a plantação de 4.800 mudas de mangais e casuarinas, numa área total de 4 hectares, nas províncias de Inhambane, Sofala e Nampula.
Ainiciativa, integrada no programa de Responsabilidade
Social “Mais Moçambique pra Mim”, contou com a participação de mais de 350 voluntários, entre Colaboradores do Banco e membros das comunidades locais. Foram plantadas 3.500 mudas de mangais e 1.300 de casuarinas, contribuindo para a regeneração de ecossistemas costeiros e para a mitigação dos efeitos das alterações climáticas. Esta acção de reflorestação visa, a longo prazo, promover a recuperação ambiental e gerar benefícios sustentáveis para as comunidades envolvidas. Na Ilha de Moçambique, a actividade decorre em parceria com a Fundação Aga Khan, reforçando a continuidade, a eficácia local e o impacto comunitário da intervenção.
“Há 30 anos, lançámos raízes em Moçambique
com uma visão que vai além do crescimento económico. Acreditamos que o desenvolvimento sustentável exige
“Há 30 anos, lançámos raízes em Moçambique com uma visão que vai além do crescimento económico.”
Moisés Jorge, Presidente do Conselho de Administração do Millennium bim.
respeito pela natureza e pelas pessoas. Esta acção de regeneração costeira simboliza o nosso compromisso contínuo com um futuro mais
equilibrado, justo e resiliente”, afirmou Moisés Jorge, Presidente do Conselho de Administração do Millennium bim.
Esta acção insere-se na estratégia ambiental contínua do Millennium bim, que tem sido implementada através de projectos com impacto real nas comunidades e nos ecossistemas. Entre as iniciativas destacam-se a campanha de voluntariado “Uma Cidade Limpa Pra Mim”, realizada pelos Colaboradores em várias cidades do país; as Brigadas Samorianas, uma iniciativa que leva educação ambiental às escolas; o apoio à Conferência da Biodiversidade Marinha; e a parceria com o Parque Nacional de Maputo, património natural da UNESCO, reafirmando o compromisso do Banco com a preservação dos recursos naturais e a promoção da sustentabilidade em Moçambique.
Fotografia: Cortesia de Millennium bim
Com a participação de mais de 350 voluntários foram plantadas 3.500 mudas de mangais e 1.300 de casuarinas, contribuindo para a regeneração de ecossistemas costeiros e para a mitigação dos efeitos das alterações climáticas.
Fotografia: Cortesia de Millennium bim
Coastal ecosystem regeneration
Millennium bim promotes mangrove and casuarina planting
Millennium bim is strengthening its commitment to the environment through a wide-reaching volunteer initiative involving the planting of 4,800 mangrove and casuarina saplings across a total area of 4 hectares in the provinces of Inhambane, Sofala and Nampula.
The initiative, part of the “Mais Moçambique pra Mim” corporate social responsibility pro -
gramme, involved more than 350 volunteers, including bank employees and members of local communities. A total of 3,500 mangrove saplings and 1,300 casuarinas were planted, contributing to the regeneration of coastal ecosystems and
the mitigation of climate change effects. This reforestation effort aims, in the long term, to promote environmental recovery and generate sustainable benefits for the communities involved. On Mozambique Island, the activity is being carried out in partnership with the Aga Khan Foundation, reinforcing the continuity, local effectiveness and community impact of the intervention.
“Thirty years ago, we took root in Mozambique with a vision that goes beyond
economic growth. We believe sustainable development requires respect for both nature and people. This coastal regeneration initiative symbolises our ongoing commitment to a more balanced, fair and resilient future,” said Moisés Jorge, Chairman of the Board of Directors at Millennium bim.
This initiative is part of Millennium bim’s ongoing environmental strategy, which has been implemented through projects that deliver tangible benefits to communities and
ecosystems. Highlights include the “Uma Cidade Limpa Pra Mim” volunteering campaign, carried out by employees in various cities across the country; the Samorian Brigades, a project that brings environmental education to schools; support for the Marine Biodiversity Conference; and a partnership with Maputo National Park, a UNESCO natural heritage site, reaffirming the bank’s commitment to preserving natural resources and promoting sustainability in Mozambique.
Fotografia: Cortesia de Millennium bim
Fotografia: Cortesia da Recavi
A cidade de Maputo, cheia de vida e movimento, carrega também cicatrizes profundas nas suas estradas. A sinistralidade rodoviária é uma realidade com que os seus habitantes convivem diariamente — uma ameaça constante à vida de peões, condutores e, sobretudo, das crianças. Com efeito, ao longo dos últimos anos, a cidade tem assistido a um preocupante número de acidentes de viação, comprovado pelo facto de, apenas entre Janeiro e Setembro do ano passado, a província de Maputo ter registado 43 acidentes, resultando em 47 óbitos e 45 feridos. Estima-se que mais de 60% das vítimas mortais envolvem peões e ciclistas. Entre os mais afecta-
dos encontram-se as crianças, expostas a riscos diários no percurso entre casa e escola.
A Rede Contra Acidentes de Viação e Protecção Infantil (RECAVI), com sede no bairro do Alto-Maé, tem-se destacado pelo empenho na defesa da segurança rodoviária e pelo compromisso com a protecção da infância. Com um histórico de intervenção comunitária e educativa, a organização lançou o projecto Um Município, Zero Acidentes, iniciativa que procura transformar a relação dos cidadãos com o espaço público e contribuir para a redução dos índices de sinistralidade.
O novo projecto da RECAVI, com duração prevista de 45 dias, propõe-se a intervir directamente nos cinco distritos urbanos da capital, com enfoque em zonas identificadas como de maior vulnerabilidade. Através de campanhas comunitárias, formação de activistas e instalação de sinalização, pretende-se criar
um ambiente mais seguro e disciplinado nas vias públicas. Estes activistas, preparados para orientar e regular o trânsito, actuam em articulação com a Polícia de Trânsito, o INATRO e outras instituições. O plano inclui ainda a criação de um gabinete de apoio às vítimas de acidentes e a aquisição de uma ambulância para resposta rápida em emergências.
A RECAVI defende uma abordagem integrada, que valorize também a reorganização do espaço urbano. O projecto contempla o estudo das rotas mais utilizadas pelos peões e a adaptação da sinalização, com semáforos visíveis e tempos de travessia ajustados às crianças. A associação sublinha que a segurança nas estradas deve começar no desenho da cidade e nas prioridades que esta impõe aos seus diversos utilizadores.
Com a participação de lideranças comunitárias, organizações de base e escolas, a educação rodoviária passa a ser encarada como parte da formação
cívica. A RECAVI inspira-se também em modelos de patrulha escolar, onde os próprios alunos contribuem para a travessia segura diante dos estabelecimentos de ensino. A proposta educativa da rede valoriza o envolvimento activo dos cidadãos. Professores, pais, activistas e profissionais de saúde unem esforços numa estratégia que cruza urbanismo, civismo e pedagogia. A par da formação, o projecto promove o uso do cinto de segurança, o respeito pelos limites de velocidade e a consciencialização sobre os riscos do álcool ao volante.
Com Um Município, Zero Acidentes, a RECAVI propõe-se a reorganizar o tráfego e fortalecer a cultura de responsabilidade nas estradas. O espaço urbano deixa de ser dominado exclusivamente por veículos e passa a acolher, com maior segurança, quem caminha a pé — especialmente os mais jovens. Maputo tem, nesta iniciativa, a possibilidade de se tornar referência na construção de uma cidade mais segura, inclusiva e humana.
The vibrant and bustling city of Maputo also bears the deep scars of its roads. Road traffic accidents are a grim part of daily life for its residents — a constant threat to pedestrians, drivers, and, above all, to children. Over the past few years, the city has witnessed an alarming number of road incidents. Between January and September of last year alone, the province of Maputo recorded 43 accidents, resulting in 47 fatalities and 45 injuries. It is estimated that over 60% of these fatalities were pedestrians and cyclists. Among the most vulnerable
are children, exposed to daily hazards on their journeys to and from school.
Based in the Alto-Maé neighbourhood, the Road Accident Prevention and Child Protection Network (RECAVI) has emerged as a leading voice in the fight for road safety and child welfare. With a solid track record in community engagement and educational outreach, the organisation has launched a new initiative: A Borough Without Accidents. This project seeks to transform how residents interact with public space and aims to significantly reduce the incidence of road accidents.
Set to run for 45 days, the RECAVI initiative will focus on all five urban districts of the capital, prioritising areas identified as particularly high-risk. Through community campaigns, training of road safety activists, and the installation of road signage, the project aims to foster a more orderly and secure traffic environment. These trained
activists, working in coordination with the traffic police, the National Institute of Road Transport (INATRO), and other institutions, will help guide traffic and raise awareness. The initiative also includes the establishment of a support office for accident victims and the purchase of an ambulance to improve emergency response capabilities.
RECAVI advocates for a holistic approach that incorporates urban planning into the conversation about road safety. The project includes a study of the routes most used by pedestrians and adjustments to road signage, including more visible traffic lights and longer crossing times to accommodate children. The organisation emphasises that safer roads begin with how a city is designed and the priorities it places on its users.
With the support of community leaders, grassroots organisations, and local schools, road safety education is
being woven into the fabric of civic learning. Inspired by school patrol models, RECAVI is promoting initiatives in which pupils themselves help to manage road crossings outside their schools. The organisation’s educational strategy values active citizen participation. Teachers, parents, activists, and healthcare professionals are joining forces in an approach that bridges urban planning, civic responsibility, and education. Alongside training, the project promotes the use of seatbelts, adherence to speed limits, and awareness of the dangers of drink-driving.
With A Borough Without Accidents, RECAVI aims to restructure traffic flow and strengthen the culture of responsibility on the roads. Urban space is no longer solely for vehicles but increasingly accommodates those on foot — especially the youngest residents. This initiative offers Maputo a real opportunity to become a model city for safety, inclusion, and human-centred design.
BCI e parceiros unidos na defesa da biodiversidade e das comunidades
Realizou-se no Auditório do BCI, em Maputo, o evento de encerramento do projecto “Vozes da Savana: Elefantes Monitorados, Comunidades Ouvidas”, cuja operacionalização marcou avanços significativos na mitigação dos conflitos entre comunidades e elefantes nos distritos de Moamba, Namaacha e Matutuíne.
Acerimónia marcou celebração e inspiração, destacando a parceria entre o BCI e a BIOFUND. Incluiu momentos culturais, apresentações e debates, exposição fotográfica sobre a biodiversidade e exibição de vídeos com testemunhos autênticos da realidade vivida no terreno.
Financiado pelo Cartão Bio, o projecto visou criar um sistema eficaz de prevenção e monitoria dos conflitos entre pessoas e animais, promovendo uma convivência pacífica. Foi implementado pela Mozambique Wildlife Alliance (MWA), com apoio da ANAC, recorrendo a satélites, vedações eléctricas, métodos de dissuasão e equipas comunitárias, numa abordagem participativa que valorizou a escuta e o envolvimento das comunidades.
Principais resultados alcançados
Em 2024, o projecto "Vozes da Savana" registou a resolução bem-sucedida de mais de 200 casos de conflito, assegurando a protecção de comunidades locais e suas machambas. Instalaram-se vedações eléctricas em zonas-chave de Moamba e Incomáti, e cerca de 700 membros das comunidades receberam formação. O uso de colares de satélite nos elefantes permitiu prever deslocamentos e reduzir significa-
tivamente os incidentes, assegurando uma gestão preventiva e inovadora da convivência entre as comunidades e os animais.
Rogério Lam, Administrador do BCI, sublinhou, na sessão de encerramento: “O Cartão Bio é um modelo pioneiro que demonstra como instrumentos financeiros podem ser catalisadores de mudanças sociais e ambientais positivas. ‘Vozes da Savana’ é a expressão concreta dessa visão”. Lam destacou ainda que até Junho de 2025, o BCI contabilizava mais de 43.000 Cartões Bio activos, cujas transacções geraram fundos substanciais para projectos de conservação.
Na mesma ocasião, Teresa Alves, da BIOFUND, defendeu que a parceria deve ser expandida para novas geografias, replicando os resultados obtidos em Moamba, Namaacha e Matutuíne. Já Rezia Cumbe, da ANAC, sublinhou: “Este projecto alia ciência, tecnologia e saber local. O seu encerramento é, na verdade, um ponto de partida para consolidar e ampliar boas práticas”.
Ao longo de oito anos, o BCI e a BIOFUND consolidaram uma parceria estratégica que combina impacto económico, social e ambiental, respondendo de forma eficaz aos desafios da conservação da biodiversidade no país.
Fotografia: Cortesia do BCI
“Estar
próximo de um elefante selvagem despertou em mim respeito, admiração e responsabilidade, mostrando que é possível conciliar desenvolvimento, protecção da biodiversidade e empatia.”
— Francisco Costa, PCE do BCI.
Fotografia: Cortesia do BCI
Uma experiência simbólica e transformadora No âmbito do “Vozes da Savana”, após o evento de encerramento, o Presidente da Comissão Executiva (PCE) do BCI, Francisco Costa, participou, a 11 de Agosto, numa operação de monitoria na área do Incomati Conservancy, tendo procedido à colocação da última coleira de satélite num elefante.
Segundo referiu Francisco Costa, a experiência de acompanhar todo o processo, da captura à sedação e à colocação da coleira, foi profundamente marcante: “Estar próximo de um elefante selvagem despertou em mim respeito, admiração e responsabilidade, mostrando que é possível conciliar desenvolvimento, protecção da biodiversidade e empatia”. O PCE sublinhou ainda o valor do Cartão Bio como inovação financeira que se traduz em resultados concretos, convertendo o compromisso do BCI em acções que regeneram a natureza, protegem a biodiversidade e impactam positivamente vidas.
Um modelo de inovação financeira ao serviço da conservação
Lançado a 8 de Dezembro de 2017, o Cartão Bio, feito de material biodegradável à base de milho, foi o primeiro do género em Moçambique. Para além de oferecer serviços bancários, cada transacção gera fundos para projectos de conservação liderados pela BIOFUND, sem custos adicionais para o utilizador.
Com os recursos recolhidos, várias acções ambientais têm sido desenvolvidas, tais como a protecção de rinocerontes e tartarugas marinhas, a conservação da Raphia australis na Reserva Botânica de Bobole, o monitoramento de rotas migratórias de tartarugas nas Ilhas Primeiras e Segundas, a revitalização do Jardim Botânico da UEM e acções no Parque Nacional de Banhine, bem como em Cheringoma e Muanza, contribuindo para a conservação da natureza e a criação de emprego.
Com inovação, parcerias sólidas e investimento contínuo, o BCI reafirma o seu compromisso com a inclusão e a sustentabilidade.
Com inovação, parcerias sólidas e investimento contínuo, o BCI reafirma o seu compromisso com a inclusão e a sustentabilidade.
BCI and partners united in protecting biodiversity and local communities
The closing event of the project “Voices of the Savanna: Monitored Elephants, Heard Communities” was held at the BCI Auditorium in Maputo. Its implementation marked significant advances in mitigating conflicts between communities and elephants in the districts of Moamba, Namaacha and Matutuíne.
The ceremony was a moment of celebration and inspiration, highlighting the partnership between BCI and BIOFUND. It included cultural moments, presentations and debates, a photographic exhibition on biodiversity, and video screenings with authentic testimonies of the reality experienced on the ground.
Funded by the Bio Card, the project aimed to create an effective system for the prevention and monitoring of conflicts between people and animals, promoting peaceful coexistence. It was implemented by the Mozambique Wildlife Alliance (MWA), with support from ANAC, using satellites, electric fences, deterrent methods and community teams, in a participatory approach that valued listening to and involving the communities.
Main results achieved In 2024, the Voices of the Savanna project recorded the successful resolution of more than 200 conflict cases, ensuring the protection of local communities and their machambas. Electric fences were installed in key areas of Moamba and Incomáti, and around 700 community members received
training. The use of satellite collars on elephants allowed for the prediction of movements and significantly reduced incidents, ensuring preventive and innovative management of coexistence between communities and animals.
Rogério Lam, BCI Administrator, underlined at the closing session: “The Bio Card is a pioneering model that demonstrates how financial instruments can be catalysts for positive social and environmental change. ‘Voices of the Savanna’ is the concrete expression of that vision.” Lam also highlighted that by June 2025, BCI had recorded more than 43,000 active Bio Cards, whose transactions generated substantial funds for conservation projects.
On the same occasion, Teresa Alves, from BIOFUND, stated that the partnership should be expanded to new geographies, replicating the results achieved in Moamba, Namaacha and Matutuíne. Rezia Cumbe, from ANAC, underlined: “This project brings together science, technology and local knowledge. Its closure is, in fact, a starting point for consolidating and expanding good practices.”
Fotografia: Cortesia do BCI
Over eight years, BCI and BIOFUND have consolidated a strategic partnership that combines economic, social and environmental impact, effectively responding to the challenges of biodiversity conservation in the country.
A symbolic and transformative experience
As part of the Voices of the Savanna project, following the closing event, the President of the Executive Committee (PCE) of BCI, Francisco Costa, took part on 11 August in a monitoring operation in the Incomati Conservancy area, hav-
ing placed the final satellite collar on an elephant.
According to Francisco Costa, the experience of accompanying the entire process — from capture to sedation and collar placement — was deeply impactful: “Being close to a wild elephant awakened in me respect, admiration and responsibility, showing that it is possible to reconcile development, biodiversity protection and empathy.” The PCE also underlined the value of the Bio Card as a financial innovation that translates into concrete results, turning BCI's commitment into actions that regenerate nature, protect biodiversity and positively impact lives.
A model of financial innovation in service of conservation
Launched on 8 December 2017, the Bio Card, made from biodegradable cornbased material, was the first of its kind in Mozambique. In addition to offering banking services, each transaction generates funds for conservation projects led by BIOFUND, at no additional cost to the user.
With the resources collected, various environmental actions have been developed, such as the protection of rhinos and sea turtles, the conservation of Raphia australis in the Bobole Botanical Reserve, the monitoring of turtle migration routes in the Primeiras and Segundas Islands, the revitalisation of the UEM Botanical Garden, and initiatives in Banhine National Park as well as in Cheringoma and Muanza — contributing to nature conservation and job creation. With innovation, strong partnerships and continuous investment, BCI reaffirms its commitment to inclusion and sustainability.
Ministro da Economia visita fábrica da
HEINEKEN Moçambique
Fotografia: Cortesia de Heineken
AHEINEKEN Moçambique teve a honra de receber, na sua unidade fabril, a do Ministro da Economia da República de Moçambique, Basílio Zefanias Muhate. A visita realizou-se no âmbito da promoção de sinergias para o desenvolvimento económico sustentável do país.
Durante a deslocação, o Ministro foi recebido pela equipa de
liderança da HEINEKEN e teve a oportunidade de conhecer de perto as operações da fábrica, incluindo os processos produtivos, os padrões de qualidade e as práticas sustentáveis adoptadas pela empresa.
No seu pronunciamento, o Ministro destacou o papel estratégico da HEINEKEN Moçambique para a promoção da cultura moçambicana.
“Sendo a Heineken uma indústria nacional, vamos continuar a acompanhar o trabalho e a dar apoio naquilo que são os desafios da empresa”
– Basílio Muhate, Ministro da Economia, reiterando o apoio ao sector privado e ao desenvolvimento da indústria.
Na visita efectuada, o Ministro da Economia felicitou a componente de responsabilidade social da Heineken e a ligação desta com programas da juventude e de formação.
HEINEKEN Mozambique
had the honour of receiving, at its production facility, the Minister of Economy of the Republic of Mozambique, Basílio Zefanias Muhate. The visit took place within the scope of promoting synergies for the country’s sustainable economic development.
During the visit, the Minister was
welcomed by HEINEKEN’s leadership team and had the opportunity to see the brewery’s operations up close, including the production processes, quality standards, and the sustainable practices adopted by the company.
In his statement, the Minister highlighted the strategic role of HEINEKEN Mozambique in promoting Mozambican culture.
Maverick AI
uma plataforma pioneira na comunicação
empresarial em Moçambique
A Maverick AI posiciona-se como um exemplo de inovação tecnológica desenvolvida em Moçambique, oferecendo às empresas uma solução escalável e adaptada às exigências actuais do mercado.
Maverick AI uma plataforma
pioneira na comunicação empresarial em Moçambique
AMaverick AI é uma plataforma pioneira de inteligência artificial criada em Moçambique, dedicada à automatização de chamadas para empresas. Concebida para responder às necessidades de comunicação das organizações, a solução permite ampliar o contacto com clientes de forma contínua, personalizada e eficiente, sem depender de call centers tradicionais. “Sempre vi o mundo como meu campo de actuação. Mesmo em Moçambique, pensar globalmente nunca foi uma escolha — foi uma necessidade”, afirma Milton Domingos, fundador e CEO da marca. “Por isso, fundei a Maverick AI nos EUA, como uma decisão estratégica para dar credibilidade, escala e acesso a recursos que ainda são limitados no meu país.”
O sistema recorre a agentes virtuais capazes de realizar mais de 10 mil chamadas em apenas 30 a 60 minutos, com interacção natural em 56 idiomas e sotaques. Estes agentes ligam, falam e respondem como humanos, funcionando 24 horas por dia, sete dias por semana. A ideia, conta Milton, nasceu “depois de anos a empreender e de uma experiência espiritual marcante em 2025, que me fez perceber que a minha missão exigia ousadia e caminhos fora do padrão. Lembrei-me das dificuldades que enfrentei em 2021, tentando
automatizar processos de atendimento sem recursos. Foi aí que pensei: e se existisse uma plataforma de chamadas automatizadas com IA, acessível para pequenos negócios?”. Com o apoio da esposa, Letícia Muchança, e da irmã, Lígia Domingos, Milton transformou a visão em realidade. “Hoje, a Maverick AI é mais do que tecnologia — é uma prova de que grandes soluções podem nascer fora do Vale do Silício. O que mais me orgulha é mostrar que, mesmo vindo de um país com poucos recursos como Moçambique, é possível criar tecnologia com impacto global. A inovação nasce da visão, não da localização.”
Entre as principais vantagens da plataforma destacam-se a redução significativa dos custos operacionais e a superação das limitações de produtividade típicas dos modelos convencionais. A solução integra-se com WhatsApp, CRMs e agendas, oferecendo funcionalidades como gravação e transcrição de chamadas, emissão de relatórios em tempo real, lembretes automáticos, confirmações inteligentes de presença e aplicações adaptadas a vendas, cobranças, apoio ao cliente e pesquisas.
Em pouco tempo de operação, a Maverick AI poupou mais de 100 mil horas de trabalho manual aos seus clientes e registou ganhos de eficiência até 95%. A tecnologia já é utilizada em sectores
como saúde, educação, logística, telecomunicações, serviços financeiros e administração pública. “A minha missão é colocar o poder da automação nas mãos de quem mais precisa. Mostrar que não é preciso ter tudo para começar — mas sim, começar com o que se tem, com coragem, visão e propósito. Estamos só no
começo”, sublinha Milton.
Com sede em Maputo, a Maverick AI posiciona-se como um exemplo de inovação tecnológica desenvolvida em Moçambique, oferecendo às empresas uma solução escalável e adaptada às exigências actuais do mercado.
Maverick AI a pioneering voice in business communication from Mozambique
Maverick AI is transforming how companies in Mozambique – and beyond – engage with their clients, offering a powerful and scalable voice automation platform built with a global outlook.
Maverick AI, an innovative AI-driven communication platform developed in Mozambique, is reshaping the landscape of corporate communication by automating voice calls for businesses. Designed to meet the evolving communication needs of organisations, the platform enables continuous, personalised and efficient customer engagement—without the need for traditional call centres.
“I’ve always seen the world as my playing field. Even in Mozambique, thinking globally was never a choice—it was a necessity,” says Milton Domingos, founder and CEO of Maverick AI. “That’s why I established the company in the United States, as a strategic decision to gain credibility, scale, and access to resources that are still limited in my country.”
The system leverages virtual agents capable of making over 10,000 calls in just 30 to 60 minutes, engaging users in natural conversation across 56 languages and accents. These agents can call, speak, and respond like humans—operating 24/7. The idea, Milton explains, emerged “after years of entrepreneurship and a power-
ful spiritual experience in 2025 that made me realise my mission required boldness and unorthodox paths. I remembered the struggles I faced in 2021, trying to automate customer service processes without adequate resources. That’s when the thought came to me: what if there were an AI-powered call automation platform accessible to small businesses?”
With the support of his wife, Letícia Muchança, and sister, Lígia Domingos, Milton turned that vision into reality. “Today, Maverick AI is more than just technology—it’s proof that groundbreaking solutions can come from outside Silicon Valley. What makes me most proud is showing that even from a country with limited resources like Mozambique, it’s possible to build technology with global impact. Innovation is born from vision, not location.”
The platform’s key benefits include significantly reduced operational costs and a marked improvement in productivity when compared to conventional communication models. Maverick AI integrates seamlessly with tools such as WhatsApp, CRMs, and calendars, and offers features including real-time call recording and transcription, detailed reporting, automated reminders, intelligent appointment confirmations, and custom applications for sales, collections, customer support, and surveys.
Despite being in early stages of operation, Maverick AI has already saved its clients over 100,000 hours of manual work, achieving efficiency gains of up to 95%. The technology is currently in use across sectors such as healthcare, education, logistics, telecommunications, financial services, and public administration.
“My mission is to put the power of automation into the hands of those who need it most. To show that you don’t need to have everything to start—just the courage, vision and purpose to begin with what you’ve got. We’re just getting started,” Milton emphasises.
With its headquarters in Maputo, Maverick AI stands as a testament to the potential of homegrown innovation in Mozambique, offering businesses a smart, scalable solution tailored to the demands of today’s fast-evolving markets.
O SOAD e Moçambique
Uma nova aliança para unir história, cultura e futuro
Em 2003, Maputo inscreveu-se nas páginas da história africana como o cenário onde a Cimeira de Chefes de Estado da União Africana aprovou uma resolução inédita: a Diáspora Africana seria reconhecida como a 6.ª região do continente, juntando-se a África do Norte, Austral, Ocidental, Central e Oriental. Esse acto político representou o reconhecimento de que milhões de africanos e seus descendentes espalhados pelas Américas, Caraíbas, Europa e Ásia não estão desligados do continente de origem, mas fazem parte dele de forma orgânica e inseparável. Nascia, assim, um novo capítulo na relação entre África e a sua diáspora, um elo que, durante séculos, fora enfraquecido pela escravatura, pela colonização e por migrações forçadas.
Foi dessa semente que germinou o Estado da Diáspora Africana (SOAD), formalmente instituído, anos mais tarde, com uma missão dupla: reparar a desconexão histórica e criar pontes de desenvolvimento para o futuro. A sua Ministra do Turismo, Meshella Eddye Woods, define-o como “tanto uma resposta prática a séculos de desconexão provocada pela escravatura e pela colonização, como uma plataforma para criar oportunidades de capacitação económica, expressão cultural, educação e reconexão significativa com o continente.”
O SOAD funciona como um governo sem fronteiras, operando em paralelo com os estados africanos e unindo comunidades de várias latitudes sob uma mesma identidade política e cultural. É liderado pelo Primeiro-ministro Dr. Louis-Georges Tin, acompanhado pela Primeira Vice-Primeira-Ministra Keturah Amoako e pelo Segundo Vice-Primeiro-Ministro Hugh Johnson. Conta ainda com cerca de trinta mi-
nistros, um parlamento, uma câmara real e uma rede de embaixadores espalhados por todos os continentes. “Juntos, trabalhamos para unir a família africana global”, sublinha Woods, reforçando que a visão é pan-africana, mas o método é prático e assente na cooperação directa.
Essa visão ganhou nova dimensão com a assinatura de um acordo histórico entre Moçambique e o SOAD, que estabelece o reconhecimento mútuo como Estados soberanos. O entendimento abre caminho a um conjunto de iniciativas com impacto real na vida de cidadãos de ambas as partes. Para Meshella Eddye Woods, “este reconhecimento permite discutir a dupla nacionalidade e avançar com projectos conjuntos com legitimidade. Os cidadãos moçambicanos poderão beneficiar de intercâmbios económicos, educativos e culturais, enquanto os membros da diáspora terão novas oportunidades de investir e restaurar ligações com Moçambique.”
O pacto entre Moçambique e o SOAD é uma promessa de narrativa partilhada, onde memória histórica, reconexão cultural e desenvolvimento económico se entrelaçam.
Entre os projectos já delineados estão cidades inteligentes, complexos médicos, iniciativas agrícolas e uma universidade. As cidades inteligentes, planeadas para várias províncias, incluirão habitação, comércio, espaços de trabalho, serviços de saúde e educação superior, criando novos polos de dinamismo económico e social. Em Março de 2025, equipas do SOAD e parceiros financeiros reuniram-se com líderes provinciais para definir terrenos e prioridades, tendo também conseguido a aprovação da conta bancária do investidor. Apenas se aguarda a luz verde final do Ministério das Finanças para o início das obras.
No campo do turismo, Moçambique surge como peça central de uma estratégia continental que o SOAD está a desenvolver para o turismo de memória histórica. Por ter sido, durante o tráfico transatlântico de escravos, um ponto de partida para milhares de vidas arrancadas ao continente, o país possui um acervo de locais e memórias de valor incalculável. Portos costeiros, sítios culturais no interior e tradições orais compõem um património vivo que o SOAD quer integrar numa rede pan-africana de roteiros patrimoniais, ligando o continente às comunidades da diáspora. Em Maputo, o Chefe de Gabinete do Ministério do Turismo do SOAD, Lino Cassimo, também Embaixador para a África Austral, coordena no terreno esta missão, que inclui visitas guiadas, centros educativos, instalações comemorativas e eventos culturais destinados a envolver visitantes internacionais e comunidades locais. A diáspora moçambicana espalhada
pelo mundo é vista como um activo fundamental. Em países como Portugal, Brasil e África do Sul, os moçambicanos no estrangeiro são reconhecidos como embaixadores culturais e económicos. Woods recorda que, na sua última viagem, esteve em Lisboa, onde conheceu Eddy Chiveve e a sua esposa, proprietários do Restaurante Chiveve Lisboa. “É um marco cultural e culinário para a nossa comunidade no estrangeiro”, descreve. Participou também na Black Lisbon Tour, um percurso guiado que revela a presença africana na história de Portugal, e que para si foi revelador: “São histórias muitas vezes não contadas, mas profundamente significativas. Mostram como a diáspora preserva a cultura e cria plataformas de empoderamento.”
No entanto, se o presente se constrói com parcerias e pontes culturais, o futuro exige uma aposta clara na juventude. Woods dirige-se directamente aos jovens moçambicanos: “Não estão sozinhos nem esquecidos. A diáspora africana é uma herança viva que vos inclui. Queremos que liderem e moldem os próximos 50 anos de Moçambique com orgulho e determinação.”
Essa aposta ganha forma em programas de empreendedorismo, inovação digital, turismo patrimonial e liderança global, desenvolvidos em colaboração com Christian Maheed Kwesi Kumah, fundador da ONG Young Africa Great Mind e Embaixador da Juventude do SOAD.
A ministra faz questão de frisar que esta não é uma agenda movida apenas por idealismo. “A nossa abordagem é pan-africana, mas assente na colaboração prática. Não repetimos modelos externos, criamos soluções concebidas por e para africanos, sempre com a participação local e a liderança intergeracional.”
Assim, o pacto entre Moçambique e o SOAD afirma-se como mais do que um acordo diplomático: é uma pro -
messa de narrativa partilhada, onde memória histórica, reconexão cultural e desenvolvimento económico se entrelaçam. É também um convite para que Moçambique assuma um papel central num movimento que quer honrar o passado e, ao mesmo tempo, escrever um futuro colectivo. “Estamos atentos. Queremos que Moçambique seja protagonista de um movimento que honra o passado e constrói o futuro”, conclui Meshella Eddye Woods.
SOAD and Mozambique
A new alliance to unite history, culture and the future
In 2003, Maputo was inscribed in the pages of African history as the site where the African Union Heads of State Summit approved a landmark resolution: the African Diaspora would be officially recognised as the sixth region of the continent, joining North, Southern, West, Central and East Africa. This political act marked the acknowledgement that millions of Africans and their descendants across the Americas, Caribbean, Europe and Asia are not disconnected from their ancestral homeland, but form an organic and inseparable part of it. Thus began a new chapter in the relationship between Africa and its diaspora – a bond that, for centuries, had been weakened by slavery, colonisation and forced migrations.
It was from this seed that the State of the African Diaspora (SOAD) took root, formally established years later with a dual mission: to repair the historical disconnection and to build bridges for future development. Its Minister of Tourism, Meshella Eddye Woods, describes it as “both a practical response to centuries of disconnection caused by slavery and colonisation, and a platform for creating opportunities for economic empowerment, cultural expression, education and meaningful reconnection with the continent.”
SOAD functions as a government without borders, operating in parallel with African states and uniting communities from across the globe under a shared political and cultural identity. It is led by Prime Minister Dr Louis-Georges Tin, alongside First Deputy Prime Minister Keturah Amoako and Second Deputy Prime Minister Hugh Johnson. The government also includes around thirty ministers, a parliament, a royal chamber and a network of ambassadors across all continents. “Together, we work to unite the global African family,” Woods emphasises, noting that the vision is pan-African, but the method is grounded in practical, direct cooperation
This vision has gained fresh momentum through the signing of a historic agreement between Mozambique and SOAD, establishing mutual recognition as sovereign states. The agreement paves the way for a series of initiatives with tangible impact on the lives of citizens on both sides. According to Meshella Eddye Woods, “this recognition allows for discussions on dual nationality and the advancement of joint projects with legitimacy. Mozambican citizens will be able to benefit from economic, educational and cultural exchanges, while members of the diaspora will find new opportunities to invest and restore ties with Mozambique.”
Among the projects already outlined are smart cities, medical complexes, agricultural initiatives and a university. The smart cities, planned for various provinces, will include housing, commercial spaces, workplaces, healthcare services and higher education institutions – creating new hubs of economic and social dynamism. In March 2025, SOAD teams and financial partners met with provincial leaders to define land allocation and priorities, also securing approval for the investor’s bank account. The green light from the Ministry of Finance is now the final
SOAD functions as a government without borders, operating in parallel with African states and uniting communities across various regions under a shared political and cultural identity.
Mozambique holds a wealth of sites and memories of immeasurable value, which SOAD seeks to integrate into a pan-African network of heritage routes.
step before construction begins. In the field of tourism, Mozambique features as a central pillar of a continental strategy SOAD is developing around heritage-based tourism. As a departure point for thousands of lives torn from the continent during the transatlantic slave trade, the country possesses a wealth of historical sites and memories of immense value. Coastal ports, inland cultural sites and oral traditions make up a living heritage that SOAD aims to incorporate into a pan-African network of heritage routes, linking the continent to diaspora communities. In Maputo, the Chief of Staff of the Ministry of Tourism at SOAD, Lino Cassimo – who also serves as Ambassador to Southern Africa – is overseeing this mission on the ground. It includes guided visits, educational centres, commemorative installations and cultural events aimed at engaging both international visitors and local communities.
The Mozambican diaspora scattered around the world is seen as a vital asset. In countries like Portugal, Brazil and South Africa, Mozambicans abroad are recognised as cultural and economic ambassadors. Woods recalls her recent trip to Lisbon, where she met Eddy Chiveve and his wife, owners of Chiveve Lisboa Restaurant. “It’s a cultural and culinary landmark for our community abroad,” she says. She also took part in the Black Lisbon Tour, a guided route that reveals the African presence in Portuguese history – an experience she found eye-opening: “These are stories often left untold, but deeply meaningful. They show how the diaspora preserves culture and cre -
ates platforms for empowerment.”
Yet while the present is built on partnerships and cultural bridges, the future depends on a clear investment in youth. Woods addresses young Mozambicans directly: “You are not alone or forgotten. The African diaspora is a living legacy that includes you. We want you to lead and shape the next 50 years of Mozambique with pride and determination.” This commitment is reflected in programmes focused on entrepreneurship, digital innovation, heritage tourism and global leadership, developed in collaboration with Christian Maheed Kwesi Kumah, founder of the NGO Young Africa Great Mind and SOAD Youth Ambassador.
The minister is keen to stress that this is not an agenda driven by idealism alone. “Our approach is pan-African, but rooted in practical collaboration. We don’t replicate external models – we create solutions designed by and for Africans, always with local participation and intergenerational leadership.”
In this way, the pact between Mozambique and SOAD stands as more than a diplomatic agreement: it is a promise of a shared narrative, where historical memory, cultural reconnection and economic development intertwine. It is also an invitation for Mozambique to play a central role in a movement that seeks to honour the past while forging a collective future. “We are watching. We want Mozambique to be a leading voice in a movement that honours the past and builds the future,” concludes Meshella Eddye Woods.
5G e conectividade Unir o urbano e o rural
Escrito por: Bruno Kakoobhai
Olá, Moçambique! Já pensaram como seria se conseguíssemos ligar o nosso mercado no centro de Maputo à machamba mais remota do Niassa com a mesma velocidade com que enviamos uma mensagem no WhatsApp? O 5G – essa nova geração de redes móveis – pode parecer um luxo de um filme futurista, mas na verdade pode ser a ponte real entre o urbano e o rural, entre o digital e o tradicional. E essa ponte pode transformar o nosso desenvolvimento.
O5G não é apenas “internet mais rápida”. Pensem no 4G (o que temos hoje) como uma bicicleta que nos trouxe longe – conseguimos enviar mensagens, fazer chamadas de vídeo, ver vídeos do TikTok. O 5G é um foguete: velocidades até 100 vezes superiores, latência quase nula (ou seja, o tempo de resposta quase instantâneo) e capacidade para ligar milhões de dispositivos ao mesmo tempo. Um relatório da GSMA Intelligence de 2025 estima que, até 2030, o 5G poderá acrescentar mais de $26 mil milhões à economia africana, através do aumento de produtividade, serviços inteligentes e inclusão digital.
Mas atenção: não basta ter uma torre de 5G em Maputo e achar que o trabalho está feito. Em Moçambique, 63% da população vive em zonas rurais (segundo o INE), onde a conectividade ainda é fraca
ou inexistente. Aqui entra o verdadeiro potencial do 5G: não é só para download rápido, mas para transformar sectores inteiros – da agricultura à saúde, da educação ao comércio informal.
O maior
obstáculo
à igualdade digital não é a tecnologia em si, mas o acesso desigual.
Um sistema que já é realidade no Quénia, onde a Safaricom está a testar tecnologias agrícolas com apoio da Huawei. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Digital da ONU (2024), o maior obstáculo à igualdade digital não é a tecno-
logia em si, mas o acesso desigual. O 5G pode ser o grande equalizador – se for implementado de forma inclusiva. Chris Johnson, da Ericsson, afirmou em entrevista à TechCrunch que “a verdadeira revolução do 5G acontecerá quando o agricultor e o engenheiro tiverem acesso ao mesmo nível de conectividade”.
Mas, como sempre, surgem os dilemas. Será que vale a pena investir em 5G quando ainda há escolas sem electricidade ou aldeias sem rede móvel básica? A resposta não está num “ou”, mas num “e”. O 5G deve ser parte de uma estratégia nacional mais ampla de conectividade, que inclua fibra óptica, redes 4G expandidas e soluções alternativas como satélites. A Starlink, por exemplo, já começou a operar em Moçambique e países vizinhos como o Malawi, prometendo cobrir zonas remotas onde as opera -
doras tradicionais não chegam. Um estudo da McKinsey de 2024 defende que combinar o 5G urbano com tecnologias de baixo custo nas zonas rurais é a abordagem mais sustentável para países em desenvolvimento.
Vamos imaginar o cenário: o Joaquim tem um pequeno posto de saúde em Mueda. Com a tecnologia 5G, poderia usar telemedicina para consultar um médico especialista em Maputo em tempo real. A escola da Sandra, em Marracuene, poderia aceder a conteúdos interactivos e aulas ao vivo com outras turmas do mundo.
E os jovens criadores digitais da Beira poderiam transmitir os seus conteúdos em directo, com qualidade profissional, para o mundo inteiro. Tudo isto é possível – se a infra-estrutura for bem desenhada, se houver formação digital e se os custos forem acessíveis.
Claro que não faltam desafios. Segundo a African Union Commission, a instalação de redes 5G requer grandes investimentos em infra-estruturas e licenciamento de espectro, muitas vezes dominado por empresas estrangeiras. Além disso, persistem mitos e desinformação – como os que associam o 5G a doenças ou vigilância excessiva
– que podem atrasar a aceitação pública. É essencial haver campanhas de literacia digital e políticas claras que regulem, mas também incentivem, o uso responsável da tecnologia.
Em 2025, Moçambique tem a oportunidade de liderar com inteligência.
A Estratégia Nacional de Banda Larga já aponta para metas de conectividade rural até 2030. Mas o 5G pode ser mais do que uma tecnologia –pode ser um símbolo de ambição. Unir o urbano e o rural não é apenas ligar redes – é ligar sonhos. Um país onde um estudante de Mocímboa da Praia pode competir com um de Joanesburgo, ou onde uma agricultora em Inhambane pode vender os seus produtos num mercado virtual em Paris, é um país onde a distância já não define o destino.
A transição para o 5G é como atravessar o rio Zambeze numa nova ponte digital. Não será fácil – há correntezas, há obstáculos – mas do outro lado está um futuro mais conectado, mais justo e mais próspero. E como diz o provérbio: “Caminha-se devagar, mas sempre em frente.” Que o 5G seja o nosso passo firme rumo a um Moçambique mais unido.
5G and connectivity
Bridging urban and rural Mozambique
Written by: Bruno Kakoobhai
Hello, Mozambique! Have you ever imagined connecting a market in central Maputo to a remote farm in Niassa with the same speed it takes to send a WhatsApp message? 5G – the next generation of mobile networks – may sound like something out of a sci-fi film, but it holds the real potential to bridge the gap between urban and rural, digital and traditional. And this bridge could redefine our path to development.
But 5G is more than just “faster internet”. Think of 4G – what most of us use today – as a bicycle that has carried us far: we can send messages, make video calls, watch TikToks.
Now imagine 5G as a rocket – up to 100 times faster, with near-zero latency (that is, almost instant response time), and capable of connecting millions of devices simultaneously.
According to a 2025 report by GSMA Intelligence, by 2030, 5G could add over $26 billion to Africa’s economy, through greater productivity, smart services and digital inclusion
However, installing a 5G tower in Maputo and ticking the box is not nearly enough. In Mozambique, 63% of the population lives in rural areas (according to the National Institute of Statistics), where connectivity is often limited or non-existent. This is where the true potential of 5G lies:
not simply in speedy downloads, but in transforming entire sectors – from agriculture to healthcare, education to the informal economy. It’s already happening in Kenya, where Safaricom is trialling agricultural technologies with support from Huawei. According to the United Nations' 2024 Digital Development Report, the biggest barrier to digital equality is not the technology itself, but unequal access. 5G could become the great equaliser – but only if rolled out inclusively. As Chris Johnson of Ericsson told TechCrunch, “the real 5G revolution will happen when the farmer and the engineer have access to the same level of connectivity.”
Of course, this raises real dilemmas. Is it worth investing in 5G when some schools still lack electricity or villages remain without basic mobile coverage? The answer isn’t an “either/or” – it’s a “both/ and”. 5G must be part of a
broader national connectivity strategy, one that includes fibre optic infrastructure, expanded 4G networks and alternative solutions such as satellites.
Starlink, for example, has already launched operations in Mozambique and neighbouring countries like Malawi, promising to reach remote areas where traditional operators don’t. A 2024 McKinsey study advocates a hybrid approach for developing nations: combining urban 5G with lower-cost rural technologies as the most sustainable path forward.
Picture this: Joaquim runs a small health post in Mueda. With 5G, he could consult a specialist in Maputo via real-time telemedicine.
Sandra’s school in Marracuene could access interactive resources and live lessons from classrooms across the globe. And young content creators in Beira could stream high-quality productions to international audienc-
es. All of this is possible – if the infrastructure is well designed, digital skills are developed, and the cost of access remains affordable.
That said, the road ahead is not without obstacles. The African Union Commission notes that rolling out 5G requires significant investment in infrastructure and spectrum licensing – often dominated by foreign firms. There’s also a need to counter myths and misinformation – from health scares to surveillance fears – that could hinder public acceptance. Strong digital literacy campaigns and clear, support-
ive policy frameworks are essential to regulate and encourage the responsible use of the technology
In 2025, Mozambique has an opportunity to lead with wisdom. The National Broadband Strategy already outlines targets for rural connectivity by 2030. But 5G could be more than just another network – it could become a symbol of national ambition. Connecting urban and rural areas isn’t just about linking up networks – it’s about linking up aspirations. A country where a student from Mocímboa
da Praia can compete with one in Johannesburg, or a farmer in Inhambane can sell her produce to a virtual market in Paris, is a country where distance no longer dictates destiny.
The move to 5G is like crossing the Zambezi on a newly built digital bridge. It won’t be easy – there will be currents and challenges – but on the other side lies a more connected, equitable and prosperous future. And as the proverb says, “We may walk slowly, but we always move forward.”
Let 5G be the bold step towards a more united Mozambique.
Praias em Moçambique com curiosos brilhos à noite
Há noites, em certas praias do nosso país, em que o mar parece guardar pedaços do firmamento. Ao toque de cada onda, surgem pequenas centelhas azuis, como se milhares de estrelas tivessem trocado o céu pelas águas. Este espectáculo chama-se bioluminescência e é provocado por minúsculos organismos marinhos – muitas vezes fitoplâncton – que, quando agitados, libertam luz própria através de reacções químicas no seu corpo.
Ofenómeno, resultado da interacção entre uma enzima chamada luciferase e uma molécula denominada luciferina, é mais do que um capricho da natureza. Para alguns seres marinhos, a bioluminescência serve para atrair presas, confundir predadores ou comunicar com outros da mesma espécie. Para nós, humanos, é pura magia visual, um instante raro que parece suspender o tempo.
Embora seja observado em vários pontos do globo, em Moçambique este espectáculo encontra palco privilegiado. Locais como a Ponta do Ouro, a Ilha de Inhaca, a Baía de Maputo, a Praia de Tofo, o arquipélago de Bazaruto, a Ilha de Moçambique e até algumas praias menos conhecidas da costa de Nampula e Cabo Delgado já foram cenário desta dança luminosa. Pescadores e comunidades costeiras conhecem bem o fenómeno, que, em algumas histórias orais, é descrito como “o mar a conversar com as estrelas”.
Ver a bioluminescência é quase entrar num sonho. Cada passo dado na areia
molhada deixa um rasto luminoso, e um simples mergulho transforma-se num ballet de luz à volta do corpo. Mas esta maravilha é sensível e efémera. Para testemunhá-la, é preciso uma noite escura e águas calmas. Costuma surgir com maior intensidade no verão e em épocas de maior actividade biológica no oceano, quando o fitoplâncton floresce.
Assim, da próxima vez que se encontrar junto à costa moçambicana após o pôr-do-sol, pare e observe. Talvez o mar esteja prestes a revelar-lhe um segredo antigo, escrito não em palavras, mas em luz – um diálogo silencioso entre a noite e as ondas.
Mozambican beaches with curious night-time glows
On certain nights, on some of our country’s beaches, the sea seems to hold fragments of the sky. With each wave that touches the shore, tiny blue sparks appear, as if thousands of stars had left the heavens to dance upon the water. This phenomenon is called bioluminescence and is caused by microscopic marine organisms – often phytoplankton – which, when agitated, emit their own light through chemical reactions in their bodies.
The phenomenon, the result of the interaction between an enzyme called luciferase and a molecule known as luciferin, is more than just a whim of nature. For some marine creatures, bioluminescence serves to attract prey, confuse predators or communicate with others of the same species.
For us humans, it’s pure visual magic – a rare moment that seems to suspend time.
Although it can be observed in several places around the world, Mozambique offers a privileged stage for this display. Places like Ponta do Ouro, Inhaca Island, Maputo Bay, Tofo Beach, the Bazaruto Archipelago, Mozambique Island, and even lesser-known beaches along the Nampula and Cabo Delgado coasts have been the backdrop for this luminous dance. Fisher-
men and coastal communities know the phenomenon well; in some oral traditions, it’s described as “the sea speaking with the stars.”
Seeing bioluminescence is like stepping into a dream. Each step on the wet sand leaves a glowing trail, and a simple swim becomes a ballet of light around the body. But this marvel is delicate and fleeting. To witness it, one needs a dark night and calm waters. It tends to appear more intensely in the summer and during times of heightened biological activity in the ocean, when phytoplankton blooms.
So, next time you find yourself by the Mozambican coast after sunset, stop and look. The sea might be about to reveal an ancient secret, written not in words but in light – a silent dialogue between the night and the waves.
Num mundo onde a originalidade se tornou moeda rara, há histórias que nos lembram da beleza de criar com o coração. Assim nasceu a Calia, uma marca moçambicana de bijuteria artesanal que une criatividade e perseverança. O nome, de sonoridade suave e cativante, tem origem na fusão de dois: Cathy e Lia — mãe e filha. É essa união afectiva e simbólica que serve de alicerce à marca, um projecto pessoal que rapidamente conquistou admiradores pela sua autenticidade e delicadeza.
Aalma por detrás da Calia é Cathy, uma autodidacta apaixonada por arte e trabalhos manuais. Foi há cerca de dois anos que, entre o cansaço dos dias e a necessidade de um refúgio criativo, encontrou na modelagem de argila polímera um novo horizonte. “Comecei como uma forma de relaxar. Via vídeos, comprava os materiais, fazia experiências. Houve muitos erros, mas fui aprendendo”, confessa. O que começou como um simples passatempo nocturno, acabou por evoluir para um negócio em crescimento, fruto de dedicação, paciência e de um apurado sentido estético.
A técnica utilizada — modelagem em argila polímera — permite-lhe dar forma a peças leves, versáteis e de visual arrojado. Trata-se de um processo que exige rigor: a argila é moldada, cortada, cozida em forno e depois finalizada com acabamentos que lhe conferem resistência e um aspecto refinado. O resultado? Brincos únicos que conjugam cor, leveza e design contemporâneo — pequenas obras de arte prontas a ser usadas.
A aceitação do público não tardou a chegar. As criações da Calia rapidamente cativaram um segmento de mulheres que privilegiam acessórios diferenciadores, fei-
tos à mão e com personalidade. “Ouvimos muitos elogios pela leveza das peças e pela sua originalidade. Há quem se surpreenda ao ver que mesmo os brincos maiores são incrivelmente leves”, partilha Cathy, visivelmente orgulhosa.
A marca encontra-se presente, actualmente, na feira do Parquinho da Sommerschield, em Maputo, realizada no primeiro sábado de cada mês. É neste ambiente descontraído e acolhedor que a criadora interage com os seus clientes, recolhe feedback e sente, de perto, o impacto positivo das suas peças. Paralelamente, aceita encomendas através das redes sociais — o Instagram, em particular, tem sido uma montra eficaz para dar visibilidade ao seu trabalho: @caliadesigns.moz.
No entanto, nem tudo são flores no caminho do empreendedorismo criativo. Cathy aponta a escassez de materiais de qualidade no mercado nacional como uma das principais dificuldades. Muitas vezes, vê-se obrigada a importar ferramentas e componentes, o que encarece e atrasa o processo. Além disso, sendo cada peça feita manualmente, o tempo de produção é considerável. Ainda assim, acredita que cada peça concluída compensa o esforço investido.
Os planos para o futuro da Calia são ambiciosos, mas realistas. A criadora sonha com a presença da marca em lojas físicas, tanto em Moçambique como além-fronteiras, e com a possibilidade de lançar colecções em maior escala. A visão é clara: crescer sem abdicar da autenticidade que tornou a Calia especial.
A quem deseja iniciar um negócio semelhante, Cathy deixa um conselho firme: “Comecem sem medo. Aprender com os erros é essencial, e a prática constante traz evolução. É preciso per-
sistência, curiosidade e, acima de tudo, paixão pelo que se faz.”
A Calia é, acima de tudo, um reflexo de amor e empenho, moldado em cada curva da argila e em cada escolha de cor. Uma marca que se impõe pela sua essência genuína e pelo carácter artesanal das suas criações. Uma promessa em expansão, feita de talento, sensibilidade e a inquebrantável vontade de transformar um sonho em realidade palpável — ou, neste caso, em belíssimos brincos.
Arte Daqui
In a world where originality has become a rare currency, some stories remind us of the beauty of creating from the heart. Such is the story of Calia, a Mozambican artisan jewellery brand that blends creativity and perseverance. The name — soft-sounding and evocative — is a fusion of two: Cathy and Lia, mother and daughter. This emotional and symbolic union lies at the heart of the brand, a personal project that quickly won admirers for its authenticity and finesse.
The soul behind Calia is Cathy, a self-taught artist with a passion for crafts and creativity. Around two years ago, amidst the weariness of daily life and a yearning for a creative outlet, she discovered a new horizon in working with polymer clay. “I started as a way to relax. I’d watch videos, buy materials and experiment. There were plenty of mistakes, but I learnt as I went,” she recalls. What began as a quiet evening pastime has since grown into a flourishing small business, built on dedication, patience, and a refined aesthetic sensibility.
The technique she uses — polymer clay modelling — allows her to craft lightweight, versatile pieces with a bold visual appeal. It’s a meticulous process: the clay is shaped, cut, oven-cured and finished with touches that add durability and a polished appearance. The result? Unique earrings that combine colour, lightness and contemporary design — small wearable works of art.
Public interest followed swiftly. Calia’s creations soon captured the attention of women drawn to distinctive, handmade accessories with personality. “We hear a lot of compliments about how light the pieces are and how original they look. People are
often surprised at how even the larger earrings feel featherlight,” Cathy shares, her pride evident.
The brand currently has a regular presence at the Parquinho da Sommerschield fair in Maputo, held on the first Saturday of each month. It’s in this relaxed, welcoming setting that Cathy engages with customers, gathers feedback and sees firsthand the positive impact of her work. She also takes custom orders via social media — Instagram, in particular, has proven an effective showcase: @caliadesigns.moz.
Yet the journey of creative entrepreneurship is not without its hurdles. Cathy cites the limited availability of quality materials in Mozambique as one of the main challenges. She often has to import tools and components, driving up costs and delaying production. And with each piece handmade, production time is significant. Still, she believes each finished piece justifies the effort.
Looking ahead, Calia’s ambitions are grounded but bold. Cathy envisions the brand reaching physical retail spaces, both within Mozambique and internationally, and dreams of launching larger-scale collections. The vision is
clear: to grow without losing the authenticity that makes Calia special.
To those considering a similar path, Cathy offers firm advice: “Start without fear. Learning from your mistakes is essential, and consistent practice leads to growth. You need persistence, curiosity, and above all, passion for what you do.”
Above all, Calia reflects love and dedication, shaped into every curve of clay and every choice of colour. A brand that stands out for its genuine essence and artisanal character. A blossoming promise — crafted from talent, sensitivity and an unshakable will to turn a dream into tangible beauty. Or in this case, into exquisite earrings.
Por elas, por todas
Histórias no feminino que inspiram
Chamo-me Iva Monteiro. Sou natural de Quelimane e cresci rodeada por mulheres determinadas, que me transmitiram valores de resiliência, responsabilidade e coragem. Foram elas que moldaram a minha visão do mundo e fortaleceram a convicção de que a mudança começa exactamente onde estamos.
Uma das coisas que mais me marcou na infância foi a união da minha família e da comunidade. Sempre existiu um forte sentido de apoio mútuo — nos bons e maus momentos, todos estavam presentes. Essa solidariedade deu-me uma base segura para crescer e sonhar. A minha família, especialmente as mulheres – as minhas irmãs, tias e a minha mãe – teve um papel essencial na minha formação. Sempre valorizaram a educação e ensinaram-me, com o exemplo, a importância do esforço, da integridade e da resiliência. Foram (e continuam a ser) a minha maior fonte de inspiração.
Confesso que, no início, não gostava muito da escola. Mas, com o tempo, fui ganhando interesse e construindo uma relação mais profunda com o aprendizado — especialmente com a leitura. Lembro-me até hoje da primeira vez que li Paulina Chiziane, aos 15 anos. Essa leitura foi um ponto de viragem: abriu-me os olhos para as histórias das mulheres moçambicanas e para a força e complexidade da experiência feminina no nosso país.
Mais tarde, vim para Maputo, com o propósito de estudar. Nunca tinha estado aqui antes, por isso tudo era novo. Nos primeiros meses, fiquei em casa de familiares, o que facilitou bastante a adaptação. Mais
tarde, mudei-me para a residência universitária, onde vivi uma experiência mais independente — igualmente marcante para o meu crescimento pessoal.
Desde cedo, acreditei que podia fazer a diferença. Com persistência, dedicação e um espírito inquieto, agarrei cada oportunidade como se fosse única. Nunca deixei que as dificuldades ditassem o meu destino — pelo contrário, usei-as como combustível para ir mais longe. Desde a escola, era conhecida pela curiosidade, disciplina e pelo desejo profundo de impactar positivamente o mundo à minha volta.
Formei-me em Administração Pública pelo ISRI e, mais tarde, segui, com uma bolsa Chevening, para o Reino Unido, onde concluí o mestrado em Gender Analysis in International Development, na University of East Anglia. Essa experiência reforçou ainda mais o meu compromisso com a justiça social e com a criação de oportunidades reais para raparigas e mulheres moçambicanas.
Ao longo do meu percurso, tive a honra de liderar o envolvimento juvenil no programa DREAMS, apoiando mais de 70 embaixadoras e milhares de raparigas em acções de prevenção do HIV e liderança comunitária. Na Girl Move Academy, contribuí para estruturar programas de apoio à transição
Fotografia: Cortesia de Iva Monteiro
For them, for all Stories of women that inspire
My name is Iva Monteiro. I’m originally from Quelimane, where I was raised among strong, determined women who instilled in me the values of resilience, responsibility and courage. It was through them that I came to understand the world and solidified the belief that real change begins exactly where we are.
One of the most defining aspects of my childhood was the unity within my family and community. There was always a strong sense of mutual support — in good times and bad, everyone showed up. That solidarity gave me a solid foundation to grow, and to dream. The women in my family — my sisters, aunts and my mother — played a central role in shaping who I am. They always valued education and taught me, through their example, the importance of hard work, integrity and perseverance. They were, and still are, my greatest source of inspiration.
I’ll admit I didn’t enjoy school very much at first. But over time, I grew to love learning — especially reading. I still remember the first time I read Paulina Chiziane, at 15. It was a turning point. Her writing opened my eyes to the lives of Mozambican women and the depth and strength of the female experience in our country.
Later, I moved to Maputo to study. I had never been there before, so everything felt new. In the early months, I stayed with relatives, which helped ease the transition. Eventually, I moved into university accommodation, where I had a more independent experience that proved just as important for my personal growth.
From a young age, I believed I could make
a difference. With persistence, dedication and a restless spirit, I embraced every opportunity as if it were the only one. I never let challenges define my future — on the contrary, I used them as fuel to go further. Even at school, I was known for my curiosity, discipline and my deep desire to create a positive impact on the world around me.
I graduated in Public Administration from ISRI and later received a Chevening Scholarship to pursue a master’s degree in Gender Analysis in International Development at the University of East Anglia in the UK. That experience further strengthened my commitment to social justice and to creating real opportunities for Mozambican girls and women.
Over the course of my journey, I’ve had the honour of leading youth engagement for the DREAMS programme, supporting over 70 ambassadors and thousands of girls in HIV prevention and community leadership initiatives. At Girl Move Academy, I helped design programmes supporting school transitions, created and energised mentoring networks, led recruitment processes, and coordinated the organisation’s first impact data collection. I also developed Mwarusi in Motion, an innovative programme that uses dance and sport as tools to keep girls in school — a model later replicated in other provinces through university mentorship networks.
Today, I serve as Field Coordinator for UN Women in Nampula. My work focuses on supporting local organisations, youth networks and government institutions to strengthen collective efforts in women’s empowerment initiatives, particularly in humanitarian and post-crisis contexts. With calm determination, I strive to show that true impact begins with listening, commitment and a real presence on the ground.
African moot, juventude que afia a lei
Durante uma semana em Gaborone, no Botsuana, alguns dos melhores estudantes de Direito de África reúnem-se para disputar uma competição intensa de tribunal simulado dedicada aos direitos humanos. É este o ponto de partida de African Moot, documentário realizado pela sul-africana Shameela Seedat, que nos conduz para lá das formalidades jurídicas e nos mergulha nas ambições, dilemas e convicções de uma geração que pretende usar a lei para transformar o mundo.
A câmara de Seedat segue quatro duplas vindas do Uganda, Quénia, África do Sul e Egipto. Vemos os ensaios nas universidades, a preparação das estratégias, os debates internos e, finalmente, as sessões formais diante de jurados.
O caso em discussão — sobre os direitos das pessoas refugiadas — obriga-os a confrontar preconceitos, explorar nuances éticas e defender posições que, por vezes, desafiam as suas próprias convicções. É uma competição, mas é também um laboratório de cidadania, onde se percebe que a prática forense, mesmo simulada, deixa marcas profundas em quem a vive.
O filme vive da presença vibrante dos seus protagonistas, entre eles Aska Amor, Edward Mugerwa-Sekawabe, Daniella Mushikazi e Jerome Owagage.
São jovens com discursos claros e uma energia contagiante, que nos fazem esquecer que, fora da competição, ainda são estudantes. Por detrás da câmara, Seedat, jurista de formação, coloca o olhar certo para extrair momentos de humanidade sem perder de vista o rigor do processo legal. Produzido no âmbito do projecto pan-africano Generation Africa, o documentário resulta de uma parceria entre a Undercurrent Film & Television, a STEPS e a finlandesa Tuffi Films.
African Moot é uma conversa urgente sobre migração, refúgio e direitos humanos, apresentada com ritmo, proximidade e sensibilidade. Mostra-nos um continente jovem que debate ideias com seriedade, emoção e empatia — e que, entre argumentos e contra-argumentos, afia as ferramentas para um futuro mais justo. No fim, ficamos a torcer não apenas pelas equipas, mas pelo triunfo de uma advocacia mais humana, atenta e comprometida com o bem comum.
African Moot: youth sharpening the law
For one week in Gaborone, Botswana, some of Africa’s best law students come together to take part in an intense mock court competition dedicated to human rights. This is the starting point for African Moot, a documentary directed by South African filmmaker Shameela Seedat, which takes us beyond legal formalities and immerses us in the ambitions, dilemmas, and convictions of a generation determined to use the law to change the world.
Seedat’s camera follows four pairs of students from Uganda, Kenya, South Africa, and Egypt. We witness their rehearsals at university, the preparation of legal strategies, internal debates, and finally, the formal sessions before the judges. The case under discussion — on the rights of refugees — forces them to confront prejudices, explore ethical nuances, and defend positions that sometimes challenge their own beliefs. It’s a competition, but it’s also a laboratory of citizenship, where it becomes clear that even a simulated legal practice leaves a deep impression on those who experience it.
The film is driven by the vibrant presence of its protagonists, among them Aska Amor, Edward Mugerwa-Sekawabe, Daniella Mushikazi, and Jerome Owagage. They are young people with articulate arguments and infectious energy, making us forget that outside the competition, they are still students. Behind the camera,
Seedat — a trained lawyer — brings a perceptive gaze, capturing moments of humanity without ever losing sight of the legal rigour. Produced as part of the pan-African project Generation Africa, the documentary is a collaboration between Undercurrent Film & Television, STEPS, and Finnish company Tuffi Films.
African Moot is a timely reflection on migration, asylum, and human rights, told with energy, intimacy, and care. It shows a young continent debating with seriousness and empathy — sharpening the legal tools for a fairer future. By the end, we’re not only rooting for the teams, but for a more humane and socially engaged practice of law.
Pensamentos da Madrugada Conversas ao longo da estrada
De Yud Mauro da Costa e Jéssica Fortes Mesquita
Dois talentos entrelaçam as suas vozes neste conjunto, explorando temas que ressoam com a vibração e os desafios da vida contemporânea em Moçambique. Com habilidades e sensibilidades únicas, convidam o leitor a uma jornada literária que não pretende apenas entreter, mas também provocar reflexão e diálogo. Pensamentos da Madrugada — para extrair o que revoluciona por dentro. Nas caminhadas pelas noites, pautadas por aflições e amarros, nasceram as palavras
do poeta de rua Yud da Costa. Pelos becos e caminhos do dia, surgiu a poeta Jéssica Mesquita. Juntos, fazem esta obra que aqui apresentamos: dois poetas moçambicanos em conversa. Para o vosso saborear e prazer. "Dualogo - Conversas a Dois" é uma marca no intercâmbio entre dois apaixonados pela escrita e pela troca de significados surgidos da palavra. O convite é o de criar em diálogo, de conversar através de obras. Assim nasceu neste primeiro livro e o que nos espera na próxima publicação.
Yud Mauro da Costa – “Embora a cerimónia oficial de lançamento ainda não tenha acontecido, o livro já se encontra disponível, e isso, por si só, tem um significado profundo para mim. Ver esta obra ganhar forma e chegar às mãos dos leitores representa a realização de um processo íntimo e intenso, iniciado a partir de conversas, emoções e vivências partilhadas. O lançamento marca o início de uma nova fase, a da partilha pública de algo que, por muito tempo, viveu apenas dentro de mim. É um acto de coragem, de entrega e, acima de tudo, de conexão com quem se permitir ler-me.”
Jéssica Fortes Mesquita – “Arte é uma coisa muito íntima, mas que ao mesmo tempo, no fim, não nos pertence propriamente. Criar significados com a beleza e poder das palavras é uma forma de fazer arte que tem a capacidade de tocar, curar e dar voz. Uma simples brincadeira de palavras pode revelar sentimentos e pensamentos que antes não tínhamos como expressar, pode criar pontes pelas quais muitos mais do que só nós podemos atravessar. Ter alguns poemas meus num livro que oferecemos ao mundo é um grande presente e poder me expressar na minha língua materna é uma honra da qual desfruto. Ao exercitarmos a nossa voz também damos voz a quem partilha caminhos e identidades similares às nossas. Foi um pouco desse aspecto de partilhar algo em comum que me levou a continuar uma conversa, que ainda hoje perdura, com o Yud. É com grande prazer e gozo que partilho um pouco de mim com ele e vejo que nossas conversas ganham asas em coisas a dizer. E agora é convosco que também fazemos essa partilha. Khanimambo.”
Fotografia: Cortesia de Yud da Costa
Midnight Thoughts Conversations along the road
By Yud Mauro da Costa and Jéssica Fortes Mesquita
Two talents intertwine their voices in this collection, exploring themes that resonate with the pulse and challenges of contemporary life in Mozambique. With unique skills and sensibilities, they invite the reader on a literary journey that aims not only to entertain but also to provoke reflection and dialogue. Midnight Thoughts — to draw out what stirs from within. During night-time walks, marked by anguish and bindings, the words of street poet Yud da Costa were
born. Through the alleys and paths of the day, came the poet Jéssica Mesquita. Together, they bring forth this work: two Mozambican poets in conversation. For your enjoyment and pleasure. Dualogue – Conversations for Two is a hallmark of the exchange between two lovers of writing and the shared meanings that arise from words. The invitation is to create through dialogue, to converse through works. Thus was born this first book — and so shall continue in our next publication.
Yud Mauro da Costa – “Although the official launch ceremony has yet to take place, the book is already available, and that, in itself, holds deep meaning for me. Seeing this work take shape and reach readers’ hands represents the realisation of an intimate and intense process, born of shared conversations, emotions, and experiences. The launch marks the beginning of a new phase — that of publicly sharing something which, for a long time, lived only within me. It is an act of courage, of offering, and above all, of connection with those who choose to read me.”
Jéssica Fortes Mesquita – “Art is something deeply personal, and yet, in the end, it doesn’t quite belong to us. Creating meaning through the beauty and power of words is a form of art capable of touching, healing, and giving voice. A simple play on words can reveal feelings and thoughts we previously had no way of expressing — it can build bridges that many, not just ourselves, can cross. Having some of my poems in a book we offer to the world is a tremendous gift, and to be able to express myself in my mother tongue is an honour I deeply cherish. In exercising our voice, we also give voice to those who share similar paths and identities. It was partly this aspect — of sharing something in common — that led me to continue a conversation, one that still endures today, with Yud. It is with great pleasure and joy that I share a part of myself with him and see our conversations take flight in things to be said. And now, we share that with you too. Khanimambo.”
Metamorfose Iluminada
De Eduardo White
“Escrever sobre Eduardo White é difícil, porque é quase impossível separar a pessoa do poeta. O presente era a sua medida. O tempo de ser palavra e existência. De nomear uma palavra substantiva: o Amor. Em torno dela girava tudo, o país, os amigos, os filhos, a criatividade, a dádiva de ser ele próprio em processo autocriativo. O país de si.
Se a dimensão narcísica da sua personalidade era uma evidência, as diferentes imagens que ele provavelmente encontraria, quando se olhava ao
Illuminated Metamorphosis
De Eduardo White
“Writing about Eduardo White is no easy task, for it is almost impossible to separate the man from the poet. The present was his measure — the time to be both word and existence. To name a substantive word: Love. Around it, everything revolved — the country, his friends, his children, his creativity, the gift of being himself in a state of continuous self-creation. His own personal country.
If the narcissistic dimension of his personality was undeniable, the various reflections he might have encountered when looking in the mirror allowed the delightful delirium of summoning multiple voices from a single mouth, which radiated poetry in a spectrum of hues. For Eduardo White, to write poetry, to speak poetry, or to be poetry were deeply intertwined
espelho, permitiam o delírio de evocar múltiplas vozes a partir de uma boca que se arcoirizava de poesia em diversas tonalidades. Para Eduardo White, escrever a poesia, dizer a poesia ou ser a poesia eram modalidades com interligação profunda e quase indissociável.
[…] Que dizer de Eduardo White? Que ele era como pessoa o poeta, e seu nome próprio era, e é, a poesia.”
Ana Mafalda Leite
modes of being — almost inseparable.
[…] What can one say of Eduardo White? That the man was the poet — and his given name was, and still is, poetry.” - Ana Mafalda Leite
O contrabandista de sorrisos
(Diário encontrado numa paragem de chapa na Av. Guerra Popular)
Num banco de metal, entre jornais velhos e bilhetes amarrotados, alguém encontrou um caderno de capa gasta. Nas primeiras páginas, a caligrafia era firme, mas discreta. Onde se esperaria um nome, lia-se apenas: "O que faço não cabe no meu nome". Logo a seguir, um título escrito a lápis: "Agosto, o contrabandista de sorrisos". Depois, um calendário de acções para oferecer ao mundo e desenvolver ao longo do mês. Um mapa secreto de boas acções para tornar a cidade mais bonita e justa.
1 a 5 de Agosto
Colocar flores nas entradas das escolas, levar fruta madura a hospitais, apagar mensagens de ódio nos muros e escrever frases positivas. Arranjar torneiras públicas e repartir pão com quem tem fome.
6 a 10 de Agosto
Plantar um cajueiro num pátio escolar, ajudar vizinhos a carregar compras, deixar livros em mercados, agradecer aos varredores e pôr cinzeiros nas praias.
11 a 15 de Agosto
Dar sementes a vendedores de hortaliças, tapar buracos e sinalizar, oferecer água gelada a motoristas, pagar transportes a quem não tem troco e ensinar crianças a fazer papagaios para verem voar juntas.
16 a 20 de Agosto
Oferecer brinquedos a crianças sem recursos, transformar terrenos baldios em campos de jogo, levar água a famílias, limpar margens de rios e pintar bancos de jardim com cores vivas.
21 a 25 de Agosto
Plantar árvores em estradas poeirentas, entregar roupas limpas a sem-abrigo, ler histórias em bibliotecas, arranjar bicicletas de estudantes e servir sopa quente a quem dorme na rua.
26 a 30 de Agosto
Deixar bilhetes com incentivo em portas, resgatar cães e entregá-los a cuidadores, organizar trocas de alimentos, reparar casas e, no último dia, sentar-me num banco de praça com a certeza de que o bem, quando se espalha, nunca mais se perde.
Ninguém sabe quem escreveu este diário. Mas, desde que foi encontrado, surgem histórias — de flores nas escolas, bicicletas consertadas, estranhos que recebem pão ou livros sem saber de onde vieram. Talvez o contrabandista de sorrisos exista. Ou talvez exista em cada um que decide fazer um gesto de bondade, mesmo que ninguém veja. Porque, quando o bem se espalha, não há quem o detenha — e um único sorriso pode mudar o dia de uma cidade inteira.