Clarim
PORTO ALEGRE, NOVEMBRO DE 2015 - EDIÇÃO NO 2
Gabriel Rache Cardozo e Rafaella Barcelos
A
metamorfose, de Franz Kafka, relata os últimos momentos da vida de um garoto que é transformado em inseto. Estranheza, insegurança e medo são os sentimentos expressados no livro. E a motivação para eles é uma só: mudança. Mudar faz parte da vida e o Colégio Farroupilha tem sido a grande força que transforma os alunos, através de um círculo de amizades, conhecimento e amor. Mas um dia, o ciclo se encerra. Os sonhos que carregamos são diferentes, assim como nossas memórias e a perspectiva de futuro, por isso é normal ter medo. Mas ao lembrar do que construímos ao longo de anos convivendo no espaço escolar, o medo desaparece. Saber que fomos preparados toda a vida para terminar um ciclo e começar outro tranquiliza e nos dá forças. Talvez, essa tristeza fosse insuperável se não a combatêssemos juntos – amigos, colegas, professores e funcionários. Nos momentos de dificuldade, alguns desses importantes personagens estendem a mão, cordialmente, e nos ajudam a levantar, para que, assim, possamos continuar nossa trajetória. Agora, vamos em busca de nossos sonhos. Agora, a mudança depende do protagonismo pessoal de cada um de nós. Mudar é inevitável. Transformar-se faz parte da vida.
SOBRE A FOTO Anton Tang é um artista e blogueiro de Cingapura que adora fotografar cenas cotidianas. Um de seus trabalhos mais fofos é a série de imagens de Danbo, um bonequinho feito com caixas de papelão que aparece em situações e ambientes típicos de seres humanos. Fonte: revistacriativa.globo.com
(...) E são tantos caminhos pra se seguir e lugares pra se descobrir e o sol a girar sobre o azul deste céu nos mantém neste rio a fluir É o ciclo sem fim. (Rei Leão)
BOLHA DE SABÃO O ser humano criou os conceitos de “início” e “fim” para diversos fatos da vida que acontecem no tempo: tem início e fim do dia, do mês, do ano. Início e fim de um pequeno fenômeno ou mesmo de uma longa etapa. A ideia de começo e fim marca a noção de ciclo. E o que seria o período escolar se não uma grande etapa do ciclo da nossa história? Vamos entendê-lo com a magia transformadora que tem. Quando entramos na escola vemos o mundo como uma bolha de sabão: delicado, colorido e leve. Com um simples sopro nosso desejo de liberdade ganha o ar em forma redonda e fica ali, flutuando por perto, todo furta-cor, enquanto observamos extasiados. Com o passar do tempo nossa visão dá ao mundo novas formas e cores, e a bolha de sabão
adquire um sentido concreto e lúdico: pular corda e cor de uniforme sujo; amarelinha e cor de joelho ralado. Lá pelas tantas, muda de novo: vemos o mundo com a cor da paixão pelo colega e o formato indefinido do primeiro amor (quem nunca?). Nossa bolha de sabão se esparrama em pensamentos românticos, quase evapora em divagações. Logo a bolha se agita no ar com as cores do dia sem uniforme e o formato psicodélico das primeiras festas. A bolha está por tudo, toma conta dos espaços. Gira, colore, rodopia – muda sem parar. Onde há bolha, haverá alegria. Até que chega o dia em que nos damos conta de que nossa bolha de sabão não é eterna, ela precisa estourar. E quando ela estoura, atinge nossos olhos e nos faz chorar. Sofremos por
antecipação com o novo formato da bolha: vazio, com a cor cinza da saudade. Mas é preciso aceitar o ciclo, saudar a evolução e viver com alegria o final dessa longa etapa. Nossa bolha de sabão está maior do que nunca. Inflada pelas expectativas com o futuro. Seu formato é algo inexplicável: a soma de tudo o que vivemos. Pronta para transformar-se. Estourá-la vai provocar lágrimas, sim, mas também vai derramar sorrisos. O segredo está em guardar na memória as formas e as cores que encantaram nosso olhar nas diferentes fases dessa etapa que agora termina. O ser humano criou os conceitos de início e de fim. E entre eles, há essa bolha mágica chamada transformação. Rafaella Tonietto Coppetti – 3º Ano