UM ANO ENTRE ESCOMBROS E PROMESSAS
Canoas e Muçum seguem à espera de soluções pós-enchente de 2024 / Pág 6 e 7


PREFEITURA DE GRAMADO INTENSIFICA CUIDADOS COM CÃES RESGATADOS
Iniciativa oferece atendimento vitalício a animais adotados em resposta ao aumento dos casos de abandono na cidade
Fundada em 2020, ONG já ofertou mais de 50 cursos profissionalizantes, suporte psicológico e rede de acolhimento
AÇÕES DE PREVENÇÃO ÀS ISTS SÃO AMPLIADAS EM PORTO ALEGRE
Reforço na testagem e na prescrição de medicamentos por meio de consultas remotas considera os dados do Boletim Epidemiológico de HIV e Aids de 2024
2 . ESPERANÇA
CANIL VIRA REFERÊNCIA EM ADOÇÃO EM CACHOEIRINHA
VOLUNTÁRIA FABIANA
MACHADO RELATA COM ORGULHO O TRABALHO DE RITA E DOS OUTROS
VOLUNTÁRIOS UM ANO APÓS A TRAGÉDIA
Durante as enchentes que atingiram o estado do Rio Grande do Sul, em maio de 2024, diversos animais foram gravemente afetados, ficando desabrigados e feridos. Neste contexto, voluntários de Cachoeirinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre, se mobilizaram organizando de maneira emergencial um abrigo para cães e gatos resgatados das áreas inundadas. Essa ação solidária teve como objetivo fornecer lar temporário para os animais, em especial os que foram resgatados no bairro Mathias Velhos, em Canoas. A iniciativa, que surgiu com recursos limitados, foi montada de forma improvisada em uma casa vazia cedida para o projeto, na rua Gravataí, em Cachoeirinha, e resgatou cerca de 200 animais durante esse período. Com o propósito de ser uma ação pontual, destinada a acolher esses animais exclusivamente durante o período de calamidade, o projeto ganhou força e se tornou um abrigo fixo. Com o apoio da comunidade local, que se mobilizou para contribuir com doações de alimentos, medicamentos e materiais para o cuidado dos animais, e com a liberação da prefeitura junto à vigilância sanitária, o abrigo, que era improvisado, tornou-se um
BABÉLIA
Jornal produzido semestralmente por alunos do curso de Jornalismo da Unisinos (campus São Leopoldo/RS).

projeto permanente. Responsável pela criação do projeto, Rita Benites relata que, no início, não contavam com grandes recursos financeiros, mas com o apoio de entidades como o Grupo de Resposta a Animais em Desastres (GRAD) Brasil, o projeto pôde ser viabilizado e hoje possui uma estrutura adequada.
Fabiana Machado, 46 anos, voluntária que auxiliou no alojamento dos animais nos
REDAÇÃO
Textos e fotos: alunos da disciplina de Notícia em Jornal, sob orientação do professor Micael Behs (vierb@ unisinos.br).
ARTE
primeiros dias, relata com orgulho o trabalho de Rita e dos outros voluntários um ano após a tragédia. “No início foi complicado. Muitos animais estavam doentes por terem passado longos períodos em contato com a água. Passei a madrugada no abrigo, em uma noite de chuva e frio. Não tínhamos como deixar eles sozinhos, então nos revezávamos em turnos. É incrível ver que o projeto conseguiu se fortificar
Realização: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom). Projeto gráfico e diagramação: Marcelo Garcia (marcelog@unisinos.br).
IMPRESSÃO Gráfica UMA.
Mais de 200 animais foram acolhidos pelo canil durante as enchentes, que segue contando com o apoio da comunidade local para manter suas atividades
e continuar ajudando nessa causa social”, afirma.
Referência em acolhimento e proteção animal, o local agora é denominado Abrigo Cachoeirinha, acolhendo 40 cães e 39 gatos que buscam um lar definitivo. Esses animais podem ser adotados nas feiras de adoção, que acontecem aos finais de semana no bairro Parque da Matriz, em Cachoeirinha, onde também ocorrem brechós solidários para arrecadação de verbas
para a instituição. Inajara Figueiró, 47 anos, moradora de Gravataí e gestora ambientalista, visitou uma das feiras de adoção. “Vivi um daqueles momentos que aquecem a alma. Em meio ao caos, eles foram puro amor e responsabilidade com os animais resgatados. Fui apenas visitar a feira de adoção, sem grandes intenções e foi ali que adotei minha gatinha Estrela, que agora faz parte da nossa família”. Ela também destacou a importância de iniciativas como a do Abrigo Cachoeirinha, que representa um ato de amor que transforma a vida de quem não pode pedir ajuda, mas sente tudo. “Adotar é um ato de amor, mas também de reconhecimento. Reconheço, com todo o meu coração, o trabalho transformador que o Abrigo Cachoeirinha realiza”, pontua. Por conta do crescimento do projeto, o Abrigo Cachoeirinha procura um novo espaço para ampliar suas atividades e dar conta da demanda por acolhimento animal. Mesmo com uma estrutura organizada, o local atual já não comporta todos os cães e gatos sob sua responsabilidade. Muitos deles estão em lares temporários pagos, o que gera um custo elevado para a instituição. A mudança para um espaço maior é vista como fundamental para reduzir gastos, reunir os animais em um só local e melhorar a qualidade do cuidado oferecido. Além disso, o abrigo necessita de doações recorrentes de ração e granulados higiênicos para cães e gatos, que podem ser feitas de forma presencial ou pela chave pix “abrigocachoeirinha2024@ gmail.com”. n
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Av. Unisinos, 950, Cristo Rei - CEP 93022 750. Telefone: (51) 3591 1122.
E-mail: unisinos@unisinos.br. Reitor: Sergio Eduardo Mariucci. Vice-reitor: Artur Eugênio Jacobus. Pró-Reitor Acadêmico e de Relações Internacionais: Guilherme Trez. Pró-reitor de Administração: Cristiano Richter. Diretora de Graduação: Paula Dal Bó Campagnolo. Decana da Escola da Indústria Criativa: Laura Dalla Zen. Coordenador do curso de Jornalismo: Felipe Boff (feboff@unisinos.br).
GRAMADO GARANTE ATENDIMENTO VITALÍCIO PARA CÃES ADOTADOS
PROJETO BUSCA
COMBATER O ABANDONO E OFERECER DIGNIDADE AOS ANIMAIS RESGATADOS PELO ABRIGO MUNICIPAL
POR ANNELIZE MATTOS
Oabandono de animais cresce em Gramado, situação que preocupa autoridades e protetores da cidade. Em 2024, foram registrados 430 casos de abandono de cães e gatos no município, o que equivale a mais de um animal abandonado por dia. A maioria desses animais foi deixada em locais de divisa com municípios vizinhos ou em bairros periféricos, o que dificulta o regaste. Diante desse cenário, a prefeitura lançou uma campanha de atendimento vitalício para animais acolhidos pelo abrigo municipal.
Relançada por meio do Programa Posse Responsável, a iniciativa garante que todo cão adotado do abrigo receba cuidados médicos por toda a vida, desde que o tutor cumpra com os deveres básicos de bem-estar e segurança. O projeto busca tornar a adoção mais atrativa e responsável, além de aliviar a superlotação do abrigo. “Essa foi uma medida de desespero”, admite Laura de Rossi, coordenadora do Programa Posse Responsável, vinculado à Secretaria de Saúde de Gramado. “Temos cães aqui há mais de nove anos”, indica.
Com 105 cães no abrigo –todos castrados, vacinados e chipados -, a estrutura começa a se mostrar insuficiente. Segundo Laura, o novo projeto é exclusivo para cães abrigados até o dia 11 de abril de 2025 e adotados após essa data. A adoção requer entrevista, preenchimento de termos e, principalmente, responsabilidade. “O adotante precisa ter local adequado para os cães, oferecer alimentação de qualidade, potes limpos, segurança e bem-estar”, explica. “A devolução não é aceita, sendo o tutor o responsável pelo animal adotado”, acrescenta a coordenadora.
Lucas Moraes, auxiliar de veterinária no abrigo municipal, destaca o impacto da ação. “Atendimento clínico custa caro

Brazino é um dos animais que aguarda para ser adotado no abrigo municipal de Gramado
e, quando o bichinho fica doente, o custo pesa. Esse atendimento ajuda muito e incentiva mais pessoas a adotar”, comemora. Contudo, o projeto não combate o problema do abandono. Outro desafio é a preferência dos adotantes por animais de raça. “As pessoas precisam pegar um bicho de abrigo que está realmente precisando de um carinho e de uma casa”, explica Lucas. Um centro de bem-estar animal está em licitação aguardando o início das obras. Com o novo espaço, os animais que atualmente estão no abrigo serão transferidos para a nova sede.
ATENDIMENTO VITALÍCIO
Apesar do apelo, o benefício tem limitações. A prefeitura custeia vacinação anual, vermifugação, consultas clínicas e atendimento emergencial para patologias fisiológicas, mas problemas derivados de negligência, como atropelamentos ou ingestão de objetos, ficam sob responsabilidade do tutor.
“O atendimento é um incentivo, mas também uma forma de garantir que esses cães tenham uma vida digna. Porém, isso não isenta o tutor dos seus deveres”, alerta Laura. No total, nove clínicas veterinárias estão conveniadas ao município. Dentre elas, duas
clínicas atendem animais do abrigo municipal e outras sete clínicas específicas realizam procedimentos de castração e chipagem.
Moradores de outras cidades também podem adotar os animais, mas precisam cumprir os requisitos e buscar atendimento nas clínicas conveniadas pelo programa de Gramado.
CÃES COMUNITÁRIOS
Nem todos os animais da cidade vivem no abrigo. Um número expressivo de cães e gatos estão soltos nas ruas sob os cuidados da comunidade: são os chamados “cães comunitários”, uma figura protegida por lei estadual. “Eles podem ter casinha na calçada, desde que não atrapalhe o passeio público”, explica Carla Hilling, 50 anos, protetora animal há mais de uma década e fundadora da ONG “Mãos Dadas, Patas Salvas”.
Famoso cão morador do bairro Várzea Grande, Dorflex vivia em frente a uma das farmácias da região. “Ali o pessoal o adotou e a dona da farmácia deixou colocar uma casinha”, relembra Carla. “Só que a farmácia ficava em um prédio e o síndico não queria ele ali. Eu sei que o Dorflex, por conta própria, se mudou. Atravessou a faixa e
foi para frente das Farmácias Associadas, onde outras pessoas o acolheram”, conta. Contudo, a ideia de um animal comunitário ainda enfrenta resistência. “Muita gente não aceita. Em alguns bairros, moradores ameaçam bater, envenenar ou mandar recolher”, denuncia a protetora. “Já tivemos casos graves de ameaça e violência”, explica Carla. Lares temporários também representam uma estratégia de manejo da imensa quantidade de animais deixados nas ruas. As ONGs fornecem todo o suporte para o cuidado com o animal, desde ração e vermífugo até a castração. A única exigência para a pessoa que hospeda temporariamente o animal é oferecer um espaço seguro para o cão ou gato permanecer até a ONG conseguir um adotante permanente. “A comunidade poderia se envolver um pouco mais e pessoas com pátio cercado em casa, que não tem outro bicho, poderiam se oferecer”, finaliza Carla.
UMA MUITASADOÇÃO,HISTÓRIAS
Para Júlia Caldas, 25 anos, moradora de Gramado, o ato de adotar foi motivado por amor e necessidade. Após a morte do cão Billy, sua cadela Kira entrou
em depressão. “Foi então que decidimos adotar o Oliver, que virou apoio emocional para ela e para gente”, conta.
Depois veio a Madalena, carinhosamente conhecida por sua dona como Madá, adotada em uma feira para ajudar o próprio Oliver, que passou a demonstrar tristeza após o falecimento de Kira.
Ambos foram adotados ainda filhotes por meio da ONG “Amigo Bicho”, de Canela. O processo, segundo Júlia, foi rigoroso, mas acolhedor. “Eles visitaram minha casa, pediram fotos, e só após aprovarem, trouxeram os cães. Eles também vieram com carteirinha, chip e todas as orientações,” lembra.
Ao saber do programa de atendimento vitalício, Júlia ficou surpresa e animada. “Eu acho que é um ótimo incentivo. Se eu fosse adotar hoje, com certeza isso pesaria na decisão, pois a gente gasta muito com veterinário”, afirma.
Madalena e Oliver são provas dos frutos, do amor incondicional, que só a adoção pode gerar. “Hoje, não me imagino sem eles. São parte da família. É especial, pois um animalzinho adotado demonstra uma gratidão que é diferente, sabe?”, finaliza Júlia.
O abrigo municipal de Gramado segue de portas abertas. Para conhecer os animais disponíveis ou saber mais sobre o programa de atendimento vitalício é possível entrar em contato com a coordenadora do programa Posse Responsável. A comunidade pode ajudar oferecendo um lar temporário, doando ração ou artigos para os brechós organizados por ONGs e, até mesmo, divulgando os animais disponíveis nas redes sociais. n
TELEFONES ÚTEIS
Conheça o trabalho de quem está lutando todos os dias pela causa animal: l Contato para adoções e denúncias: Posse Responsável (Prefeitura de Gramado), telefone: (54) 98402-0423. l Instagram da ONG: @maosdadaspatassalvas –Para castrações, denúncias ou doações.
INSTITUTO LOLAS APOIA E ACOLHE MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA
PROJETO OFERECE CURSOS PROFISSIONALIZANTES E FORTALECE A AUTOESTIMA DE MULHERES
EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
POR AMANDA SILVEIRA E ANDRESSA BRZEZINSKI
OInstituto Lolas, ONG voltada ao acolhimento de mulheres que superaram relações de violência doméstica, vem transformando vidas por meio de cursos profissionalizantes, sendo alguns deles realizados em parceria com o Centro Esportivo e Cultural Bom Jesus, na zona norte da capital. Entre as atividades oferecidas, estão as aulas de crochê, ministradas pela professora Marcia Colombo nas manhãs de terça-feira, com apoio de uma empresa privada que fornece os materiais.
"Estou tendo uma segunda chance na vida", relata uma aluna do curso de crochê. “Me recuperei de uma pneumonia muito severa que me deixou na UTI. Hoje quero aproveitar a vida e gosto muito de fazer crochê. No ano passado, consegui vender 200 panos de prato feitos por mim”, comemora.
Desde sua fundação, em 2020, o Instituto Lolas já ofereceu mais de 50 cursos, ministrou diversas palestras motivacionais e de planejamento financeiro familiar beneficiando aproximadamente 600 mulheres. “Muitas delas se autossabotam no processo de aprendizagem, mas isso acontece porque, no passado, alguém sabotou sua autoestima e sua capacidade de aprender ", afirma Juliana Olsen, fundadora da ONG. Além das aulas de crochê, o projeto também disponibiliza cursos na área da estética e beleza, por exemplo, maquiagem profissional, depilação, design de sobrancelhas e cabeleireiro.
A ideia de criar o Instituto Lolas surgiu no início da pandemia, quando Juliana acompanhou de perto a luta de uma amiga para sair de

Mulheres em recomeço têm acesso gratuito a aulas no Centro Esportivo Bom Jesus, em Porto Alegre

uma relação abusiva. Após o término, sua amiga enfrentou acusações do ex-companheiro sobre a forma como criava a filha do casal, o que agravou ainda mais seu sofrimento.
Determinada a ajudar, Juliana tentou levantar recursos para que a amiga pudesse contratar uma advogada, mas encontrou dificuldades financeiras para auxiliar a amiga. No caminho, conheceu outras mulheres vivendo
experiências semelhantes e construiu uma rede de apoio com o objetivo de acolher, capacitar e empoderar mulheres que enfrentam situações de violência e abuso. Uma das alunas do Instituto Lolas, que atualmente enfrenta um delicado tratamento contra um câncer no útero e lida com sequelas severas da radioterapia e da quimioterapia, compartilha como o projeto faz diferença
em sua vida. “Quando estou fazendo meu crochê, esqueço de todos os problemas. É como uma terapia e, também, o único momento que saio de casa”, relata.
Além disso, durante as enchentes de maio de 2024, o Instituto Lolas arrecadou e distribuiu doações para cerca de 300 pessoas, reforçando seu compromisso com a comunidade em momentos de crise. Atualmente, a ONG se mantém por meio de doações e parcerias com empresas privadas, além do espaço cedido pelo Centro Esportivo e Cultural Bom Jesus, que abriga as aulas do projeto há dois anos.
O Rio Grande do Sul registrou 72 casos de feminicídio em 2024, conforme dados divulgados pela Polícia Civil, no mapa de feminicídios. Desse total, 84,7% das vítimas foram assassinadas por companheiros ou ex-companheiros, evidenciando a gravidade da violência de gênero. Os números ainda
são alarmantes e reforçam a necessidade de ações efetivas de prevenção e proteção às mulheres. Para denunciar casos de violência contra a mulher, o principal canal é o Ligue 180, da Central de Atendimento à Mulher, que funciona 24 horas por dia, de forma gratuita e sigilosa. Em situações de emergência, a orientação é ligar para o 190 da Brigada Militar. O Estado também disponibiliza a Delegacia Online da Mulher, permitindo o registro de ocorrências pela internet. A Defensoria Pública também oferece assistência jurídica gratuita e apoio psicológico às vítimas, auxiliando na solicitação de medidas protetivas e no encaminhamento para a rede de proteção. Para saber mais sobre o trabalho do Instituto Lolas, acompanhar as histórias de superação e descobrir como você pode contribuir com essa causa, visite a rede social no Instagram: @institutoaslolas. n
FORÇA ROSA ACOLHE MULHERES COM CÂNCER DE MAMA HÁ 11 ANOS
MESMO SEM APOIO DO PODER PÚBLICO, ASSOCIAÇÃO DE SÃO LEOPOLDO JÁ AJUDOU
MAIS DE 400 MULHERES
POR GABRIELA FERNANDES E LUÍSA GARCIA
AAssociação Força Rosa de São Leopoldo realiza, desde 2014, atividades de fortalecimento emocional, promovendo encontros regulares e atuando como ponte com outras redes de apoio à saúde de mulheres. Também promove campanhas de doação de lenços, perucas, kits de higiene e cestas básicas, e realiza palestras em escolas, igrejas e comunidades para ampliar a conscientização sobre o câncer de mama. Tudo isso sem apoio do poder público, apenas com parcerias de empresas e da comunidade, demonstrando o comprometimento da associação em fornecer suporte integral a mulheres em tratamento oncológico.
O COMEÇO
A iniciativa foi idealizada ainda em 2011 com um pequeno grupo de apoio formado por mulheres que se encontravam às terças e quartas-feiras na Secretaria da Mulher de São Leopoldo. Unidas pelo desafio do enfrentamento ao câncer de mama, elas tinham um objetivo em comum: amparar umas às outras. Mais tarde, em 2014, o grupo se constituiu judicialmente e passou a ser uma associação, que, há pouco mais de 2 anos, conquistou sua primeira sede. A Associação, que se mantém através de recursos voluntários e doações, já acolheu mais de 400 mulheres. “Tudo é feito com muito amor e esforço. Realizamos rifas, eventos beneficentes e contamos com o apoio da comunidade. Mas nosso maior combustível são as histórias de superação que vemos todos os dias. O cuidado vai muito além do físico. Acolhemos com o olhar, o abraço, e a presença”, relata Fabrícia Jaeger, que, há 20

anos, vivenciou a batalha contra o câncer de mama. Atualmente com 59 anos, ela atua como fisioterapeuta e presidente da Associação. Muitas mulheres chegam emocionalmente frágeis à associação. O trabalho do grupo começa com um simples gesto: escutar. A partir de então uma rede de apoio se forma, oferecendo acompanhamento psicológico, terapêutico, atividades integrativas, rodas de conversa e ações de autocuidado. “Antes da Força Rosa, eu não sabia como seguir. Aqui encontrei amor, escuta e coragem para continuar”, destaca Pedra Augusta, 73 anos, uma das participantes mais antigas da associação.
A BATALHA Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer de mama é o tipo mais frequente entre mulheres, tanto no Brasil quanto no mundo. Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), em 2022, foi estimado um crescente de 73.610 novos casos no país para o período compreendido entre 2023 e
Coletivo Força Rosa construiu uma rede de apoio à promoção da saúde e autoestima de mulheres com câncer de mama
2025, o que equivale a uma taxa de incidência de 66,54 casos por 100 mil mulheres. Outro dado preocupante é o número de mortes: somente em 2021, foram registradas 18.139 vítimas da doença. “Eu já havia perdido minha irmã, da minha idade, para o câncer em dezembro, então quando recebi o diagnóstico em abril do ano posterior eu só chorava de desespero”, compartilha Claudia Azevedo, 54 anos, professora de crochê da associação.
Calcula-se que uma em cada oito mulheres pode desenvolver câncer de mama ao longo da vida. As regiões Sul e Sudeste apresentam os maiores índices de ocorrência. O autoexame, o diagnóstico precoce e o acesso ao tratamento continuam sendo fundamentais para reduzir a mortalidade causada pela doença.
Nesta batalha contra a doença, há dores que vão além do diagnóstico. Lidar com a queda dos cabelos, os efeitos da radioterapia e quimioterapia, além do medo de um futuro incerto, são algumas das marcas que não aparecem nos exames. É justamente nessas
feridas invisíveis aos olhos do mundo que a Associação Força Rosa, de São Leopoldo, atua há mais de uma década acolhendo com afeto, dignidade e escuta, mulheres em tratamento oncológico. “O que mais dói não é a doença, mas o abandono. Aqui a gente nunca está sozinha”, comenta Liane Beatriz Baldissera, 73 anos.
APOIO QUE VAI ALÉM DA ASSOCIAÇÃO O impacto do acolhimento da Força Rosa vai além das pacientes. Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou uma forte enchente que causou estragos significativos em várias cidades, deixando famílias desabrigadas e em situação de vulnerabilidade. Enquanto Liane estava em viagem pela Amazônia, seus filhos auxiliavam as pacientes afetadas pelas cheias. Ela conta que esse gesto foi uma forma de retribuir o carinho e apoio que recebeu da Força Rosa quando estava em tratamento.
Além do apoio emocional, a associação contribui de forma significativa para promover a autonomia das
pacientes. Através de oficinas de crochê, macramé e marche, elas adquirem habilidades que posteriormente podem ser utilizadas como ferramenta de trabalho. “Estou muito feliz, pois fui convidada para fazer minha segunda feira de artesanato com coisas que eu aprendi aqui”, comemora Mônica Machado.
DESFILE QUE EMPODERA Entre os muitos momentos marcantes, um evento é lembrado com especial carinho: o “Like a Woman – Edição Outubro Rosa”, promovido pela psicóloga, influenciadora e escritora gaúcha Claudia Bartelle, autora do livro “Muito Para Viver”, no qual compartilha sua trajetória com a doença. Durante o evento, houve um desfile de moda cujas modelos eram as próprias pacientes oncológicas, em diferentes fases do tratamento, além de voluntárias da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Novo Hamburgo e Campo Bom. “Quando entrei naquela passarela, ouvi alguém gritando meu nome, e me vi de novo. Pela primeira vez em muito tempo, me senti bonita, viva e poderosa. Foi um dos dias mais emocionantes da minha vida”, conta Luciene Stein, 53 anos, emocionada. n
COMO PARTICIPAR
A associação oferece atividades abertas à comunidade, como oficinas de macramé, realizadas nas terças-feiras, e a oficina de marche, às quintas-feiras. Para participar, é solicitado apenas o valor de 10 reais, referente ao material disponibilizado. É possível contribuir com o trabalho da Força Rosa por meio de doações, participação em rifas solidárias, divulgação ou prestação de serviços voluntários.
Endereço: Rua Frei Caneca, 35 – Pinheiro, São Leopoldo – RS Telefone: (51) 99599-3152
E-mail: associacaoforcarosa@ gmail.com
Instagram: @forcarosa_oficial
MUÇUM E CANOAS AINDA SOFREM OS
UM ANO APÓS A CALAMIDADE, FAMÍLIAS REIVINDICAM APOIO PARA A INFRAESTRUTURA E RECONSTRUÇÃO DE MORADIAS
POR NATHÁLIA SANTOS RODRIGUES E LUÍS HENRIQUE GUARNIERI
Em maio de 2025, completou-se o primeiro ano da maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul. As chuvas intensas e ininterruptas fizeram rios romperem suas margens, devastando cidades inteiras. Segundo dados da Defesa Civil, aproximadamente 2,4 milhões de pessoas foram afetadas pelas enchentes em 478 municípios. Dentre todas cidades, duas se destacam pela magnitude do impacto das águas. De acordo com estatísticas do Mapa Único do Plano Rio Grande (MUP-RS), que reúne números oficiais da catástrofe, o município de Muçum, no Vale do Taquari, teve mais de 79% da população atingida. Canoas, na Região Metropolitana, registrou mais de 150 mil afetados. Um ano depois deste marco, moradores seguem lidando com seus destroços — emocionais, físicos e estruturais.
O QUE FOI FEITO, E O QUE AINDA FALTA
Letícia Couto Vidal, 30 anos, trabalhava como costureira no bairro São José, em Muçum, quando recebeu uma ligação de sua mãe, Cleci Couto, de 55 anos. A voz do outro lado do telefone não deixava dúvidas: era hora de correr para casa. Horas depois, Letícia atravessaria a pé a ponte Brochado da Rocha, em uma tentativa de escapar da água que subia ininterruptamente. A ponte que liga Muçum a Roca Sales já havia sido varrida pelas águas em setembro de 2023, voltando a ruir.
“Conseguimos tirar alguns móveis e fugimos para a ponte. Logo veio a notícia de que ela estava prestes a cair. Uma multidão começou a atravessar e fomos junto. Poucas horas depois, a ponte caiu”, relata. Letícia, sua mãe e muitos vizinhos ficaram ilhados do outro lado do rio. Foi preciso caminhar pelos trilhos do trem para retornar à cidade, onde encontrariam abrigo no bairro Jardim Cidade Alta. Lá permaneceram por quase um mês. “Quando voltamos para ver nossa casa, ela já não existia mais. A água levou tudo. Mesmo tendo salvo alguns móveis, perdemos lembranças, fotos e objetos que carregavam nossa história”, afirma.


Hoje em dia, Letícia trabalha no Hotel Marchetti e cursa licenciatura em pedagogia. Nunca voltou à antiga rotina. A dor emocional, segundo ela, foi mais difícil do que a perda material. Ainda assim, decidiu permanecer na cidade. Participou de ações solidárias com voluntários da prefeitura e atuou como apoiadora em ações na cidade de Camboriú (SC), também atingida por alagamentos posteriormente.
“Muçum tem se reconstruído, sim. É visível. Mas há promessas de
moradia e infraestrutura que ainda não foram cumpridas. Seguimos esperando”, critica. “O que me liga a esse lugar é a história. O vazio onde antes era minha casa nunca saiu da minha cabeça. Mas também foi dali que recomecei", completa.
Segundo o prefeito de Muçum, Mateus Trojan, as enchentes de 2023 e 2024 inundaram cerca de 80% da área urbana da cidade, afetaram mais de 90% do comércio e comprometeram metade das indústrias muçunenses. Mais de 1.7


mil domicílios foram destruídos ou prejudicados. Dos pouco mais de 4.6 mil habitantes, cerca de 3.6 mil sofreram direta ou indiretamente os impactos da catástrofe (MUPRS). Este número corresponde a 79,1% da população total. Atualmente, a cidade conta com três novos loteamentos habitacionais em áreas fora da zona de risco. Ao todo, estão previstas 177 unidades pela Defesa Civil Nacional, 80 casas pelo programa estadual “A Casa É Sua”, 63 residências doadas por grupos privados do programa “Minha Vida Rural – Calamidade”. há obras de infraestrutura damento, como a Ponte Brochado da em dezembro de Apesar dos avanços, reconhece impasses que atrasam a nística. “Os desafios Ainda precisamos tos em estudos de de alerta, comunicação
OS IMPACTOS DA ENCHENTE DE 2024


privados e 36 unidades “Minha Casa, Minha Calamidade”. Também infraestrutura em anreconstrução da da Rocha, reaberta 2024. avanços, o prefeito impasses burocráticos expansão urbadesafios são muitos. precisamos de investimende bacia, sistemas comunicação e ações
coordenadas em nível regional. Mas é importante dizer que, em maio de 2024, não tivemos nenhuma morte em Muçum. Isso mostra que estamos aprendendo", sublinha.
ESCOMBROS DE MEMÓRIAS
Quando a enchente invadiu o município de Canoas, mais de 157 mil pessoas foram atingidas (MUP-RS). César Cabral, 46 anos, microempresário e educador físico em formação, não perdeu apenas
a sua casa, mas uma vida inteira de memórias guardadas em fotos, vídeos e documentos que jamais serão recuperados. Morador do bairro Central Park, em poucas horas ele viu décadas de lembranças e conquistas serem levadas pelas águas.
“Perder móveis e eletrodomésticos dói, mas perder as memórias é uma dor que ninguém consegue descrever. São pedaços de vida que não voltam nunca mais", desabafa o empreendedor.
Seu filho, hoje soldado da Brigada Militar, atuou diretamente na Base Aérea de Canoas durante a catástrofe — mesmo tendo sido também atingido. “Ele não pensou duas vezes. É meu orgulho. Trabalhou sem descanso enquanto a cidade afundava”, conta.
A tragédia, porém, não foi apenas uma questão da força da natureza. Para o canoense, o desastre foi agravado pela falta de preparo das autoridades. “Ninguém estava pronto para enfrentar isso. O poder público falhou em todos os níveis e, quem acabou segurando a barra, foram os próprios cidadãos, voluntários e organizações que correram para ajudar”, argumenta.
Enquanto César conseguiu evacuar sua família e seus cães em segurança, muitos não tiveram essa sorte. “As águas avançaram rápido demais. Pessoas ficaram presas, sem rotas seguras. Era como um filme de terror, com caminhões passando de porta em porta para avisar que era hora de sair”, relembra.
No cenário pós-tragédia, a reconstrução é um caminho lento, doloroso e cheio de obstáculos financeiros e políticos. “Dá para reconstruir, mas o dinheiro não aparece. O governo demora e as promessas não se cumprem. A recuperação é lenta e difícil, um passo por vez”, comenta.
Ainda assim, mesmo no meio da dor, ele ressalta a força da solidariedade. “O suporte dos amigos e da comunidade foi fundamental para atravessarmos esse momento. A solidariedade mostrou que, mesmo na pior situação, podemos contar uns com os outros”, afirma.
As enchentes de 2024 atingiram cerca de 45% da população canoense, que em sua totalidade corresponde a mais de 347 mil pessoas.
Ainda de acordo com estatísticas do MUP-RS, 65% dos afetados vivem em situação de baixa renda, pobreza ou extrema pobreza. Os dados oficiais apontam que o município recebeu mais de 47 milhões de reais através dos programas “Volta por Cima” e “SOS RS”, contabilizando mais de 20 mil auxílios.
DO IMPROVISO
À PREVENÇÃO
Há um ano, Canoas foi tragada pela água e pelo despreparo institucional e o resgate precisou ser feito às pressas, em barcos conduzidos, muitas vezes, por voluntários e civis não treinados. À época, a cidade contava apenas com uma diretoria de Defesa Civil subordinada a outra pasta, sem estrutura de secretaria própria. Os alertas de evacuação demoraram, os abrigos foram
improvisados e o medo correu mais rápido que qualquer sirene. Agora, a atual gestão não poupa críticas à anterior. Em nota enviada à reportagem, a atual gestão executiva da Prefeitura Municipal de Canoas afirmou que “a resposta foi morosa e ineficaz” e que “a falta de estrutura da Defesa Civil contribuiu para o caos no atendimento”. Em 2025, a cidade reestrutura seus protocolos, agora sob responsabilidade da recém criada Secretaria da Defesa Civil e Resiliência Climática, que coordena planos integrados com outras áreas — de Obras à Saúde — e realiza monitoramento permanente dos rios. No campo habitacional, a reconstrução ainda é um desafio. Atualmente, 1.2 mil famílias recebem aluguel social e mais de 3 mil novas moradias estão previstas para entrega até o fim do ano, em áreas consideradas seguras.
A promessa oficial é de que Canoas esteja mais preparada para o que antes a surpreendeu. Mas para quem perdeu tudo, como César Lopes, o que se espera mesmo é que, em uma eventual nova cheia, o socorro venha antes da água.
RETROCESSO DA RECONSTRUÇÃO
Apesar da visibilidade internacional, a reconstrução segue travada. O Governo Federal anunciou 1 bilhão de reais em recursos emergenciais, mas a burocracia emperrou parte dos repasses. Os municípios reclamam de falhas de comunicação, de exigências desproporcionais e da falta de prioridade.
Em Muçum, o terreno para reassentamento foi identificado, mas não há obras em andamento. A ponte ferroviária continua caída. Escolas seguem com estrutura provisória. Moradores relatam que o aluguel social foi interrompido sem aviso.
SEGURANÇA PÚBLICA E PREVENÇÃO
O secretário de Segurança Pública do RS, Sandro Caron, avalia que o desastre levou o governo estadual a reforçar alertas e a organizar planos emergenciais. “Estamos ampliando os protocolos, melhorando os sistemas de aviso e ampliando a formação dos agentes locais”, destaca.
Segundo o coronel Luciano Boeira, da Defesa Civil, a resposta rápida precisa ser acompanhada por planejamento de longo prazo: “O maior desafio agora é garantir que não se reconstrua no mesmo lugar, com o mesmo risco. Essa decisão exige coragem política”. n
TELECONSULTAS AMPLIAM AÇÕES DE PREVENÇÃO ÀS ISTS NA CAPITAL
SERVIÇO PASSA A OFERECER TESTAGEM E PRESCRIÇÃO DE MEDICAMENTOS POR CONSULTAS REMOTAS
Desde o início de abril, o programa “A Hora é Agora”, referência em ações de prevenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e no diagnóstico e acompanhamento de HIV/Aids, passou a oferecer o serviço também de forma remota, incluindo testagem e prescrição da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). O programa, que agora conta com o “TelePrep”, é realizado na capital gaúcha desde 2021, por meio da cooperação entre Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Centro de Controle de Doenças (CDC) do Brasil e secretarias municipais de saúde.
A ampliação do serviço leva em conta os números nacionais indicados no Boletim Epidemiológico de HIV e Aids 2024. O estudo mostra que Porto Alegre lidera o coeficiente de mortalidade por Aids (14,1 óbitos por 100 mil habitantes) e é nono colocado no ranking de detecção de casos de HIV entre as capitais (43,8 casos por 100 mil habitantes). Antes da iniciativa, o acompanhamento era feito exclusivamente presencial, o que limitava o alcance do serviço. “Por meio do teleatendimento e entrega da profilaxia em domicílio, reduzimos a barreira geográfica de acesso aos serviços de saúde e aos medicamentos, além de favorecer o acesso de pessoas em situação de maior vulnerabilidade para o HIV, como pessoas trans, travestis e não binárias e/ou pessoas jovens, que relatam dificuldade de acesso a modelos convencionais de acompanhamento de saúde”, afirma Lara Colles, coordenadora local das equipes do projeto.
INTERRUPÇÕES NO SERVIÇO
No início de 2025, Donald Trump interrompeu o

financiamento do Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio da AIDS (PEPFAR) — programa que financia ações globais de enfrentamento ao HIV. O corte impactou diretamente os serviços do programa em Porto Alegre, que ficaram interrompidos do dia 31 de janeiro a 17 de fevereiro.
Morador do bairro São Geraldo, situado na zona norte de Porto Alegre, Guilherme Oliveira, 52 anos, conta que foi pego de surpresa pela paralisação no CTA Navegantes, onde era atendido. “Ao buscar uma nova remessa de PrEP no posto, fui parado pelo segurança da recepção, que disse que o pessoal do projeto não estava mais ali”, relata. A coordenadora local das equipes do “A Hora é Agora”, Lara Colles, conta que a retomada do programa foi realizada inicialmente pela realocação das equipes e, posteriormente, realizaram contato com os usuários para informar sobre a reativação do projeto e
possibilidade de continuidade do cuidado em saúde sexual nestes locais. “Devido ao cenário de instabilidade promovido pelo governo norte-americano e para garantir a continuidade do cuidado das pessoas usuárias em caso de nova interrupção, os CTAs apoiados pelo projeto passaram a atuar dentro de serviços já existentes e estabelecidos na rede de saúde pública de Porto Alegre, sendo eles o SAE IAPI e SAE CSVC”, afirma.
Usuário de PrEP há dois anos, Guilherme ainda relata que, mesmo com o restabelecimento dos serviços, ele ainda enfrenta dificuldades. “Era tudo mais prático quando era no Navegantes. A gente fazia tudo lá: testagem, recebia a medicação, tudo num lugar só. Agora, com a mudança para o IAPI, ficou mais longe, toma mais tempo e o atendimento demora”, relata.
COMO FUNCIONA
O paciente agenda a consulta online e é enviado um
link para acessar a plataforma e-SUS (Sistema de Informação em Saúde do Ministério da Saúde) na data e hora marcada. Durante a teleconsulta, o profissional faz a avaliação e solicita o teste para HIV. O teste pode ser: por meio de exame laboratorial, desde que realizado em até sete dias; teste rápido realizado em alguma unidade de saúde; ou, ainda, realizar o autoteste na videochamada. “Enquanto o teste está ‘correndo’, a gente faz perguntas ao paciente: como está a saúde, as vacinas, os exames laboratoriais, a adesão da PrEP — em caso dele já fazer uso — e o uso de preservativo”, relata Ana Rita Siqueira, enfermeira do programa. “A gente fica à disposição, caso ele queira fazer um acompanhamento híbrido: um atendimento presencial e o outro online. A ideia é dar mais acesso”, completa. Em caso de resultado negativo, o paciente está apto a fazer uso do medicamento e recebe a prescrição. A solicitação do medicamento ocorre por
Teleatendimento e entrega de profilaxia em domicílio ajudam a reduzir barreiras de acesso à saúde
meio de outra plataforma indicada pelo profissional, onde deve inserir os dados do local de entrega e anexar a prescrição. O paciente recebe o medicamento no local escolhido em até 10 dias. n
ONDE BUSCAR ATENDIMENTO
Os atendimentos presenciais seguem concentrados em duas unidades da rede pública de saúde, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e as consultas remotas podem ser agendadas diretamente pelo WhatsApp, no número (51) 9312-8830
Equipe do CTA Comerciários –atende no SAE Vila dos Comerciários, localizado na Rua Moab Caldas, 400 – Área 11, das 8h às 17h;
Equipe do CTA Navegantes –atende no SAE IAPI, localizado na Rua Três de Abril, 90 – Área 12, das 8h às 17h.
34ª FESTA DA COLÔNIA DE GRAMADO MARCA REENCONTRO APÓS ENCHENTES
A34ª Festa da Colônia de Gramado representou um marco para população da cidade após a tragédia climática que assolou o Rio Grande do Sul. O evento reuniu a comunidade gramadense e turística na ExpoGramado entre os dias 30 de abril e 18 de maio. A retomada da festa fortalece o tradicionalismo dos imigrantes italianos, alemães e portugueses para a nova geração e a exposição dos produtos coloniais destaca a agricultura familiar.
Segundo Ricardo Bertolucci Reginato, Secretário de Turismo de Gramado, a Festa da Colônia de 2025 foi a edição de maior movimentação de pessoas na história do evento, reunindo cerca de 350 mil pessoas. Devido às enchentes de 2024, a festa do ano passado precisou ser interrompida, provocando prejuízos aos expositores. “O evento deste ano gerou grande movimentação e os colonos conquistaram resultados excelentes”, comemora.
Na avaliação do Secretário, Gramado se consolida no

Tradição, superação e reencontros marcam edição histórica da Festa da Colônia após enchentes de 2024
cenário nacional como uma das cidades com melhor infraestrutura turística. “Temos 25 mil leitos hoteleiros e mais de 300 restaurantes, além de um hospital, que servem de base não apenas para a Festa da Colônia, mas também para eventos como o Natal Luz,
que atrai 2 milhões de pessoas”, relata.
Para a expositora Carol Augsten, a Festa da Colônia é fundamental para o comércio local. “Minha família participa desde as primeiras edições. É um evento esperado por todo gramadense e importante para
o pessoal do interior mostrar seus produtos à população e aos turistas”, comenta. Como a festa atrai muitos visitantes, a produção das geleias é feita com bastante antecedência. “Iniciamos o preparo cerca de dois meses antes do evento, pois temos mais
VENÂNCIO AIRES CELEBRA RETORNO DA FENACHIM
Jarbas da Rosa durante a cerimônia de abertura do evento.
Após os desafios causados pelas fortes enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, a cidade de Venâncio Aires voltou a celebrar, o que representa não apenas uma tradição cultural, mas também um símbolo de resistência: a Fenachim – Festa Nacional do Chimarrão. A 17ª edição aconteceu do dia 1º a 4 e 7 a 11 de maio de 2025, nos pavilhões do Parque do Chimarrão.
A retomada da festa foi vista como um gesto coletivo de reconstrução, orgulho e esperança. “Mais do que nunca, a Fenachim é nossa forma de mostrar que seguimos em frente juntos. A festa é do povo, e o povo precisa desse momento”, disse o prefeito
A festa, que incluiu apresentações culturais, feiras comerciais, espaços gastronômicos e muito chimarrão, foi retomada com adaptações para garantir segurança e acessibilidade ao público. Além disso, o evento disponibilizou, gratuitamente, erva-mate e água quente aos visitantes. Entre as atrações gastronômicas, os destaques foram as criações culinárias que utilizam a erva-mate, a exemplo do bolo de erva-mate e das geleias artesanais. Opção inusitada, o sushi de erva-mate também conquistou a curiosidade e o paladar dos visitantes.
A programação musical do evento contemplou shows nacionais com Mc Livinho, Diego e Victor Hugo e Raça

Durante o evento, visitantes conheceram as diferentes formas de preparo do chimarrão
Negra. Além disso, houve uma variedade de apresentações regionais, com estilos que representam a diversidade
cultural da região, como rock, sertanejo, gospel e a tradicional bandinha, estilo musical típico e apreciado pelos venâncio-airenses.
Para comerciantes e expositores, a Fenachim impulsionou recuperação econômica do município. “Tivemos muitas perdas nas enchentes. Por isso, estar na Fenachim representa uma oportunidade de retomar as vendas e reencontrar os nossos clientes”, comemora Luciane Fritzen, que participou da festa com um estande de produtos coloniais. Já para moradores, a festa representou uma oportunidade de reencontro com a própria identidade. “A Fenachim não é só diversão, mas a cara da nossa cidade. Depois de tanta dor, poder se reunir e voltar a celebrar as nossas raízes tem um
de 20 rótulos e precisamos de estoque suficiente”, explica Carol, que teve sua produção atingida pelas cheias de 2024. Segundo ela, “a festa deste ano representa um recomeço para o povo”.
Para Rosa Helena Volk, presidente da Gramadotur, a Festa da Colônia celebra a união dos povos que ajudaram a construir a cidade. “Com essa mesma união, iniciamos a festa há 34 edições”, destaca. Ubirajara Elias de Moura, proprietário da Linguiçaria Zacaria, relembra que a produção de embutidos iniciou com os esforços do seu pai, na década de 60, como alternativa para aproveitar melhor a carne. “Em 1971, fundamos a fábrica e seguimos no ramo”, conta, mas as enchentes de 2024 afetaram diretamente a produção da empresa. “Tivemos prejuízos com os produtos, mas conseguimos nos reorganizar. Este ano, a festa representa uma retomada”, comemora.
Para ele, estar presente no evento é essencial. “A festa é para a comunidade. Mesmo na zona urbana somos colonos e essa é uma oportunidade de mostrar nosso trabalho e reencontrar amigos”, finaliza. n
valor imenso”, disse Fernanda Ernsen, 40 anos, moradora que já participou de mais de cinco edições da festa. A Fenachim reforça a vocação de Venâncio Aires como capital nacional do chimarrão, destacando a importância da erva-mate na economia e no modo de vida do sul do Brasil. Para os organizadores, a retomada da festa demonstra a força da cultura gaúcha e da comunidade que a sustenta. Durante a abertura oficial do evento, o governador do Estado, Eduardo Leite, destacou a dimensão simbólica da celebração. “Não se está celebrando aqui na Fenachim a erva-mate como uma bebida, se celebra a amizade, a nossa vontade de estarmos juntos e a capacidade de juntos superarmos os desafios”, pontuou. n
10 . PROJETO SOCIAL / TRANSPORTE
COM AULAS DE BOXE, INSTITUTO BUSCA INCENTIVAR O ESPORTE
OInstituto Capoeira Social, localizado na Travessa Itapemirim, em Sapucaia do Sul, oferece atividades esportivas e cursos de capacitação profissional para a comunidade local. Entre as modalidades, o boxe tem se destacado como ferramenta de transformação social.
“Comecei porque assistia a vídeos de vários caras praticando boxe e achava muito legal. Quero competir no futuro”, relata Denis Pereira, 13 anos, que participa das aulas de boxe no Instituto. Assim como ele, outros jovens encontram no projeto não apenas a prática esportiva, mas também incentivo e acolhimento.
Fundado por Elias Tom, o Instituto surgiu da sua vivência com a capoeira e da necessidade de criar alternativas para jovens em situação de vulnerabilidade. O projeto atende 120 crianças e jovens com aulas de skate, boxe, capoeira e o cursos profissionalizante de manicure. Entre as modalidades oferecidas, o boxe ganhou destaque por seu potencial de impacto pessoal e social. À frente das aulas está Juliana Loef, professora de artes marciais. Apaixonada por esportes de

Arthur e Denis: além do treino físico, participar das aulas de boxe favorece o desenvolvimento de vínculos e fortalece a autoestima dos participantes
combate desde a infância, Juliana só teve a oportunidade de começar a praticar aos 33 anos, após enfrentar problemas de saúde física e emocional. Em 2017, conquistou o bicampeonato brasileiro de Muay Thai.
Hoje, ela se vale de sua trajetória para formar novos atletas. “Eles têm potencial e eu quero que enxerguem que o esporte pode ser um caminho de verdade”, afirma. Arthur Eduardo Borges,
NECESSIDADE DE BALDEAÇÃO ENTRE ESTAÇÕES DA TRENSURB GERA INSEGURANÇA NOS PASSAGEIROS
No fim de março de 2025, foi anunciado pela Trensurb a alteração na operação dos trens após o horário das 20h, de segunda a sábado, e durante o dia, em domingos e feriados, entre as estações Mathias Velho (Canoas) e Mercado (Porto Alegre). A mudança resultou na necessidade de baldeação para completar o trajeto, gerando apreensão nos passageiros devido à falta de assistência nas estações e nos locais escolhidos para o transbordo.
Após as cheias que atingiram o Rio Grande do Sul, a Trensurb, empresa que transporta mais de 100 mil pessoas diariamente, teve três estações da capital inundadas, resultando em danos
às estruturas. Com isso, o serviço de transporte passou a ser complementado, desde dezembro de 2024, com o auxílio de ônibus.
Andressa Machado, 33 anos, moradora de Porto Alegre, utiliza semanalmente o trem para se deslocar até São Leopoldo, onde estuda à noite. Ao descer na estação para realizar o transbordo, ela relata se sentir insegura devido à falta de iluminação e supervisão no local. Além disso, destaca como a variação no horário de chegada impacta a sua rotina. “É muito diferente chegar no centro de Porto Alegre às 22h45 ou à meia-noite. Quanto mais cedo eu chego, mais seguro é para mim”, afirma.
A estudante da UFRGS, Nicoly Leal, 22 anos, utiliza o trem todos os dias para se deslocar entre São Leopoldo e

Porto Alegre e relata se sentir insegura enquanto aguarda a chegada do ônibus na estação Mercado. “Prefiro sair mais cedo da aula e conseguir pegar
o último trem”, pontua. Segundo dados apresentados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado, entre 2022 e 2024
14 anos, também participa do projeto e destaca a acessibilidade como ponto fundamental. “Sempre quis praticar o esporte, mas não tinha outros lugares que não precisasse pagar mensalidade. Já fazia capoeira aqui e comecei no boxe. Fiz novas amizades e chamei meus amigos para virem junto”, destaca. Além do treino físico, o ambiente favorece o desenvolvimento de vínculos e fortalece a autoestima dos participantes. Lislie Naira, mãe de um dos alunos, relata a mudança percebida no filho. “Para meu filho foi uma descoberta. Ele aprendeu a fazer amizades e se tornou mais sociável”, comemora. Apesar dos impactos positivos, o projeto enfrenta desafios para ampliar seu alcance. A falta de visibilidade e apoio financeiro dificulta a expansão da atividade. “Queremos chegar em locais em que o Estado não chega”, afirma Elias, destacando a importância que iniciativas como essa têm para a transformação social. n
Usuários aguardam a retomada total das operações da Trensurb após as enchentes do ano passado
houve redução no número de ocorrência de roubo e furto na região próximo à Estação Farrapos da Trensurb. “Verifica-se que não chega a ter dois fatos por mês”, informa o tenente Márcio Luiz da Costa Limeira. Foram feitas tentativas de contato com a assessoria de imprensa da Trensurb para o esclarecimento de dúvidas quanto ao prazo para a normalidade da operação dos trens e questões envolvendo a falta de segurança, conforme relatos, porém a empresa não se manifestou a respeito até a data de publicação da matéria. n
ANIMAIS AINDA ESPERAM UM LAR EM SÃO LEOPOLDO
Um ano após as enchentes que devastaram a cidade de São Leopoldo no ano passado, 144 cães ainda estão sob os cuidados do canil municipal da Secretaria de Proteção Animal (Sempa). Embora muitos cães já tenham sido acolhidos desde o desastre, a estrutura segue lotada e parte dos resgatados ainda lida com traumas físicos e emocionais. A coordenadora de veterinária da Sempa, Thais Calvi Arend, relata que os desafios diários da equipe envolvem desde tratamentos clínicos até o esforço contínuo para garantir o bem-estar de cada animal. Com capacidade máxima para 150 cães, o espaço é organizado por porte, idade e comportamento dos cães. No local são realizados, em média, 15 atendimentos veterinários por dia, entre procedimentos clínicos, emergências e acompanhamentos. “A gente faz o possível, mas é difícil não se abalar quando percebe que algum animal fica para trás por causa da alta demanda”, desabafa Thais. As marcas deixadas pela enchente de 2024 ainda afetam a saúde e o comportamento dos animais acolhidos.
Resgatado durante a tragédia climática no Rio Grande do Sul, o cão da foto é um dos 144 da Sempa que ainda aguardam adoção

Muitos deles ficaram debilitados após o desastre, e doenças como cinomose, tumor venéreo transmissível (TVT) e até um caso de leptospirose foram diagnosticadas nos
meses seguintes. Atualmente, oito cães estão em processo de reabilitação em um centro de adestramento na cidade de Farroupilha, onde recebem acompanhamento
especializado para ficarem aptos à adoção. Com recursos limitados, a Sempa busca equilibrar os cuidados diários com a atenção individualizada, principalmente nos casos mais delicados. Um dos exemplos mais comuns envolve animais de rua atropelados. Após o resgate, recebem tratamento da equipe e, já recuperados, aguardam adoção no canil.
Apesar dos desafios, a Sempa segue empenhada em garantir que cada animal tenha a chance de encontrar um novo lar. Foram realizadas quatro feiras presenciais de adoção e ações pelas redes sociais, especialmente no Instagram, principal meio de divulgação da secretaria. Foi por lá que Igor Juliano Dias, morador de Osório, conheceu a história de um filhote que perdeu a mãe na enchente. Mesmo distante, decidiu adotá-lo. “O processo foi simples e a equipe foi muito atenciosa. No começo, o Spok tinha muito medo de água, mas com paciência e carinho a gente foi ganhando a confiança dele”, conta. Para Igor, adotar foi uma forma de oferecer ao filhote a chance de viver com segurança e afeto. n
SALA DE ESCOLA DE CANOAS SOFRE ABANDONO ESTRUTURAL
Com 1.135 alunos matriculados, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Irmão Pedro, localizada em Canoas, convive há cerca de dez anos com a precariedade da sala de Educação Física. O espaço, utilizado regularmente por 670 estudantes, sofre com paredes comprometidas, goteiras e falta de recursos pedagógicos. A situação permanece sem solução por parte da prefeitura, que alega estudar projeto de reforma do espaço.
A diretora Rosana da Silva Cardoso, que assumiu a gestão da escola em fevereiro deste 2025, relata que a situação da sala afeta diretamente a rotina escolar. "Essa é uma sala temática usada não somente
em dias de chuva. Ali os professores desenvolvem tanto atividades práticas quanto teóricas. Então, uma estrutura precária interfere no conforto dos estudantes, nos recursos, e na aprendizagem", alega. O uso da sala ocorre em um regime de duas turmas por aula, com professores cumprindo até 26 períodos semanais. Enquanto as turmas do 1º ao 5º ano têm salas fixas, os alunos do 6º ao 9º circulam entre os espaços temáticos, o que aumenta a procura de infraestrutura em cada sala.
Sala destinada para as aulas de Educação Física sofre com goteiras e a falta de recursos pedagógicos
De acordo com os professores de Educação Física, Leonardo Feijó Kellermann e José Miguel Volkheis Junior, a aplicação de provas teóricas enfrenta obstáculos: como a sala da

disciplina não oferece condições adequadas, eles dependem da disponibilidade de outras salas livres na grade
de horários da escola, o que dificulta o planejamento pedagógico. Apesar de receber duas
fontes de verba, uma do município e outra do Governo Federal, a escola não tem autorização para destinar esses recursos para obras estruturais, como exige a situação da sala de Educação Física. Segundo estimativas da própria instituição, seriam necessários cerca de 100 mil reais para solucionar os problemas do espaço. A nova gestão municipal, que assumiu em meio ao impacto das enchentes na cidade, tem concentrado esforços nas escolas mais diretamente afetadas. "Temos consciência de que há instituições que perderam toda a sua estrutura. Nossa escola, comparada a essas, está de pé. Mas esperamos que, ao menos depois dessa fase emergencial, possamos ter uma resposta mais concreta", afirma a diretora. n


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