REVISTA UBC #31

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18/UBC : HOMENAGEM

'FOI MARAVILHOSO, FANTÁSTICO. NADA FOI TÃO BOM' CARLOS COLLA, UM DOS MAIORES COMPOSITORES DO NOSSO POP, REPASSA DÉCADAS DE VIDA NA MÚSICA E SEGUE CRIANDO, COM ROTINA REGRADA: 'UM DIA SÓ TEM RAZÃO DE SER SE EU PUDER CRIAR. SE NÃO, É UM DIA PERDIDO' Do Rio O pop produzido no Brasil – e que, tamanha a nossa pluralidade geográfica, social, étnica, abarca gêneros tão díspares quanto o sertanejo e o axé, o funk e o pagode, o brega e o arroxa – é, não raro, maltratado por uma certa intelectualidade. Mas é, foi e continuará a ser também ponta de lança da indústria fonográfica e expressão privilegiada da cultura brasileira. Pelo menos enquanto tiver entre seus compositores gente do calibre de Carlos Colla. Nascido em Niterói (RJ), numa família coalhada de engenheiros, pôs a mão pela primeira vez, sozinho, num violão há coisa de 60 anos. Não tirou mais. E traduziu, com suas composições – muitas criadas enquanto advogava em plena ditadura militar, na década de 1970 – amores, decepções, alegrias e amarguras compartilhados por milhões de brasileiros. Autor de canções inesquecíveis nas vozes de Roberto Carlos, Sandra de Sá, Emílio Santiago, Alcione, Bruno & Marrone, Erasmo Carlos, Sandy & Júnior, Wanderléia, Fafá de Belém, Chitãozinho & Xororó, Wanderley Cardoso, Agnaldo Timóteo, Xuxa, The Fevers e até do atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella – a lista segue –, Colla não para de criar e conta à Revista UBC como mantém uma linha de produção diária e disciplinada. Sua vida é intrinsecamente ligada à música. Mas nem sempre foi assim, certo? Como começou essa relação? Carlos Colla: Fui totalmente desestimulado pela família (risos). Fui criado para outra coisa: na minha família, engenharia era a tradição. E, pelo lado do meu avô materno, o jornalismo. Mas eu não tinha a ver com nada disso, queria era saber de música. Aos 13 ou 14 anos pus a mão num violão pela primeira vez e me apaixonei. Aprendi sozinho e não parei mais. Anos depois, me formei advogado, cumpri minha obrigação burguesa (risos). E a música seguia ali como o escape, como a loucura. Era a cachaça. Paguei 10 anos de penitência dentro da OAB cumprindo minhas obrigações, digamos, patrióticas e consegui escolher o lado doce depois disso. Tive uma colega de trabalho, funcionária da OAB, como eu, que morreu na explosão de uma carta bomba. Eram tempos duros. Então decidi que queria viver, abracei a música. Aos 38 comecei a me dedicar exclusivamente a ela. Também renunciei a coisas. O


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