Revista UBC #36

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Dos tambores herdados da África, essa mãe com tantos filhos distintos, aos atabaques eletrônicos do funk carioca, a música negra brasileira demonstra sua força através dos tempos. Neste mês de maio em que a abolição de um dos piores crimes já cometidos pela humanidade, a escravidão de seres humanos africanos, completa 130 anos, a Revista UBC homenageia os grandes expoentes que levaram a musicalidade negra a romper os grilhões e chegar a outros patamares.

Mas o que é que define essa tal música negra brasileira? Caçulinha desta família, a paulistana MC Soffia, de 14 anos, já nasceu de um lar empoderado e, para ela, é tudo o que se remete a força, resistência, luta e inspiração. Pudera, a sua referência principal é a da black music americana da nova e da novíssima geração, como Rihanna e Beyoncé, além dos brasileiros Karol Conka, Linn da Quebrada e as rappers do Rimas & Melodias. Mas tudo começou antes, bem antes de ela bombar com o hit “Menina Pretinha” e de agora, aos 14 anos, se ver como cantora e influencer. “Escutei muito a Willow Smith, que era uma menina da minha idade quando a conheci, com 10 anos na época, e isso me contagiou. Não existia uma menina negra que cantava, e isso me inspirou bastante a fazer música pop, a ter cabelos legais...” Ídolo de Soffia, Karol Conka, sem falta modéstia, pontua a riqueza e

a ginga da negritude que ecoa das vozes brasileiras, como a sua. “Os temas falam sobre o cotidiano e a ancestralidade. Dentro disso, a minha música é livre e autêntica. Mergulho em melodias diferenciadas, que têm a ver com minha personalidade”, declara a curitibana, autora do hino “Tombei”, símbolo de um geração empoderada. Cria de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, o rapper Marcão Baixada lançou o seu EP, “Vermelho Outono”, em março, e nele narra a saga de um jovem negro que enfrenta a pobreza e a violência no dia a dia. O jovem de 24 anos começou a escrever poemas aos 9 e entrou no mundo do hip hop graças ao basquete, que jogava na Vila Olímpica da cidade vizinha de Nova Iguaçu. Costuma comentar muito com os amigos, principalmente os DJs, sobre os rumos distintos que a música negra brasileira tomou, mas sempre preservando algo em comum.

A partir da esquerda, MC Soffia, Marcão Baixada e Karol Conka: três estilos, três artistas orgulhosos da sua negritude


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