UM ARTISTA DE PROVÍNCIA - PARTE IV - A GRADUAÇÃO NO AVELÃZ Y AVEZTRUZ (1976-1984)

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um artista de província

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um artista de província

marcio meirelles


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de onde se explica um livro de sombras de teatro que é um fractal http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/maio2013/matematica_artigos/dissertacao_nunes.pdf

este é o primeiro livro que faço de outros participei e outros foram antes peças para o teatro que acabaram no papel este faz o caminho inverso e nem vai ao papel fica numa plataforma virtual para existir assumiu o lugar de encenação é uma colagem é um livro maleável fluido sempre em movimento um livro mais dramaturgia e montagem do que livro objeto que se coloca na estante depois de ler livro que é multiforme polimorfo feito de muitas tonalidades feito de fragmentos de memórias reais recriadas relidas redescobertas notícias reconstruídas que não sei se lembro mas foi e de memórias que não lembro mas leio agora e me surpreendo então foi assim um livro de memórias coletivas de tempos por onde passamos muitas muitos e eu construímos eventos assuntos ações teatro e outras artes linguagens um artista de província – de um quase balneário que está sendo despedaçado até quase virar quase nada restos de um lugar que já não é – não quis deixar a bahia e morar em outro lugar


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foi uma escolha política opção devolver ao lugar o que tirei dele para criar devolver às vozes que ouvi o som que me emprestaram devolver às raízes que me deram a possibilidade de germinar e frutificar o sumo a seiva para fabricar as folhas e frutos por isso todas as fichas técnicas e dados do que fiz participei colaborei onde estive todos os nomes e dados e datas e locais que estão registrados uma multidão está ali e governantes e alguns acontecimentos que nos dizem o que se passava enquanto passou uma geração e outra e outra e muitas anteriores e posteriores muita gente um período do teatro 17 anos até chegar ao palco e quase 50 sem sair dele nele um que pensa encenador ator gestor técnico espectador desenhador livro registro referencia para ser livros estudos do que fizemos neste tempo neste lugar teatro do mundo 29 quase 30 de agosto do funesto ano de 2021 marcio meirelles


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parte iv

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Minha graduação em Teatro foi no Avelãz y Avestruz. Para isso fiz o preparatório nas seguintes escolas: no teatro universitário entendi que teatro é uma arte coletiva e fazer teatro uma ação política; com Jurema Penna, desde a infância, recebi informações vindas da Escola de Teatro de Martin Gonçalves, do teatro profissional do Rio, do cinema, da televisão, das memórias de Alcobaça de onde ela veio, de suas raízes indígenas e aprendi que nossas raízes dão frutos; com Wilker, uma explosão de informações e experiências vindas diretamente do Teatro Ipanema, de Rubem Correia; da Escola de Belas Artes, o que não fazer; da Faculdade de Arquitetura, estruturas; da vida, tudo que pode ser representado: dos meus caminhos, como representar a vida e tudo que nela vai. Em 1976, depois da residência no Rio, período em que desenvolvi a escrita do texto de Rapunzel e talvez um pensamento de como encená-lo, voltei para a Bahia, em um sábado de carnaval. O Avelãz y Avestruz começou a ser construído muito tempo antes de existir, resultado de todas essas vivências e encontros anteriores e foi em si uma rede de encontros. Pessoas que vieram, ficaram por mais ou menos tempo e passaram. A princípio queria montar uma peça, mas entendia que para isso seria preciso um coletivo e esse coletivo poderia ter morte anunciada, no encerramento da temporada. Ou durar por mais tempo e evoluir, ter uma curva criativa e produtiva mais longa e, um dia, um fim como tudo neste mundo.


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O agrupamento Avelãz se formou em buscas recíprocas, tentativas de entender o que é teatro. E cada elenco que se formava mantinha elementos do anterior, conservava uma memória coletiva, não começava do zero. Essa memória era transmitida não sei bem como, no modo de fazer, no entendimento, na mimese, na empatia, na troca. Essa é a principal vantagem do teatro de grupo. A construção de um processo feito de processos. Há perigos nisto, entretanto. O pior efeito colateral é a transformação dos participantes em personagens. Eles começam a assumir papéis e lugares que lhe são atribuídos inicialmente pelo seu temperamento e passam a ser cobrados pelo grupo. Sempre se espera que alguém reaja de determinada maneira em determinada situação e esse alguém não frustra a expectativa, não surpreende. E essas qualidades, tanto positivas quanto não, vão sendo atribuídas e cobradas de acordo com a própria dinâmica e as necessidades do grupo. Mesmo a distribuição de papéis nas peças acaba tendendo a se repetir a partir desta lógica. A consciência e o combate a isso é a maior virtude de um grupo, é o que proporciona crescimento individual e coletivo. É o que valida e justifica a permanência de um ator ou atriz nele. Quando um grupo é dirigido pelo mesmo encenador, ele precisa estar atento na escolha de papéis para o elenco. Quando os espetáculos são encenados por vários diretores diferentes, as atrizes e atores devem estar conscientes do perigo de se repetirem nos mesmos papéis. Sarah Bernardt, na sua lista de qualidades de um bom ator, colocou a consciência de qual personagem ele pode e deve fazer e quando. Isso, acrescenta ela, se tiver condição de escolher. E, acrescento eu, quando não pode escolher e lhe oferecem sempre o mesmo personagem, que não se repita na sua construção. Como princípio, os atores e atrizes de grupo têm essa condição ou, quando não têm, podem questionar porque


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foram escolhidos para fazer aquele papel ou de pesquisar alternativas para desenvolvê-los de uma forma nova. É preciso levar em conta que a construção de um personagem é um processo coletivo, que pode e deve ser baseado na contracena, nas relações com os demais atores e seus personagens. É preciso surpreendê-los com suas reações, isso agrega qualidades insuspeitas ao material de ambos. É preciso buscar, na essência de cada personagem, o que o diferencia do outro já feito, ainda que cumpram idêntica função nos discursos. Dois personagens não amam ou odeiam da mesma maneira ainda que surjam da mesma fonte: o ator ou atriz que o fazem. Sim, porque cada indivíduo ama ou odeia de formas diferentes, de acordo com o objeto do amor ou ódio, ou das circunstâncias em que amor e ódio florecem. Entretanto é rico quando um ator ou atriz usa conscientemente gestos, inflexões, sonoridades já usadas como citação, assinatura reconhecível, como arte e fonte de prazer para o público ao descobrir onde e como e porque aquilo já foi feito e o que diz, quando se repete, agregando mais uma camada ao feito. Sem esta consciência, cada atriz e ator sempre farão o mesmo papel, porque os personagens estão nos atores e atrizes. Elas e eles os desenvolvem a partir do material que trazem e coletam: seu tipo físico, sua natureza, sua história, suas experiências, suas memórias. Este é o material de que são feitos os personagens ou, prefiro dizer, os discursos em ação. A idéia de personagem sempre remete a pessoas, o que por sua vez leva à prática da individuação, da criação de singularidades construídas de dentro pra fora, apenas com os materiais trazidos pelos atores e atrizes. Prefiro que esses materiais sejam confrontados, desestabilizados, reajam ao inesperado.


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Faço isso acontecer de maneira mais substancial em peças criadas por uma dramaturgia colaborativa. Quando materiais vão sendo trazidos nas improvisações sugiro relações inusitadas entre os personagens, mais das vezes sugeridas por intuição do que pela razão. A razão é chamada depois, para justificar e consolidar o que surgiu de uma falha, de uma reação impensada, de coisas que são entrevistas nas brechas de cada ato e ficam numa zona de semiobscuridade se não são experimentadas verticalmente. É preciso trazer esses fantasmas à luz para entender sua utilidade de mantê-los ou não no que vai ser dito e mostrado ao público. Lembro situações com o Bando de Teatro Olodum, com a Companhia dos Comuns ou com a Black Theatre Co.operative que ilustram o que falo. Nas peças que criei para estes grupos sempre tinha um momento, depois de várias improvisações, onde consolidava e moldava com atores e atrizes o que seriam os personagens. Criados com seus materiais e também da relação com os dos outros já em sua gênese. Então definia relações que não apareceram, dessas que apenas entrevi ou intuí, para seguirmos em improvisações onde as estruturas pudessem ser desenhadas. Muitas vezes as reações, inicialmente, foram de rejeição. Pedia que um personagem fosse irmão de outro ou marido ou filho ou fosse gay ou médico e a princípio: “não não pode ser, não dá, ele não tem filho ou não tem mãe, ou, ou, ou...”. Sempre “ele” para o personagem. Sempre a terceira pessoa. E sempre perguntei “ele quem?”. Porque é necessário eliminar essa dissociação: o personagem é o ator fazendo alguma coisa, defendendo alguma posição. Diante da rejeição ao proposto, insistia que fosse experimentado, sem conseguir dar ainda uma razão para a


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insistência, mas tentando entender de onde ela vinha, aonde tinha entrevisto o que estava pedindo. Às vezes, depois de um papo, conseguíamos entender, às vezes não. Como a regra número um do improviso teatral é dizer sim ao proposto, insistia, e era aceito. E chegávamos a algum lugar novo. Ou então, quando trabalho numa peça já existente, peço que dois ou três personagens criem a memória de algum acontecimento que viveram, e não apareceu nas improvisações ou no enredo, e trabalhem a partir dela. Isso desestabiliza o previsível e o torna curioso. É preciso uma investigação na ação. Um não sabe exatamente como se construiu a memória dessas relações ou situações no outro e tudo começa a contecer, como na vida real, sem que um possa programar as ações do outro e, consequentemente, a sua reação. Em processos que partem de peças previamente escritas. Lembro de duas situações em Hamlet que ao mesmo tempo revelaram saídas e desestruturaram caminhos anteriormente tidos como seguros. Vinicius Bustani, que fazia o príncipe, um dia, antes do ensaio, colocou um vestido e disse de brincadeira que ia ensaiar assim, e pedi que não só ensaiasse mas fizesse com o vestido a cena onde Hamlet finge estar louco. E descobrimos como sinalizar sua estratégia para o público: entrar em cena em trajes femininos surpreendia a platéia, assim como a Ofélia e aos outros personagens e justificava o estranhamento que demonstravam com as atitudes do príncipe. Por outro lado, Vinicius teve que retrabalhar seu Hamlet com esse novo dado, inclusive usando novos trajes em cada cena: um biquine no encontro com Polônio e Ofélia no pátio, uma roupa de bailarina na cena após a morte de Polônio, antes de ser mandado para a Inglaterra Outra que resolvemos por uma falha e desestruturou


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completamente o caminho da atriz que fazia Ofélia, foi quando Hamlet mata Polônio. Em um dos últimos ensaios Andréa Nunes por acaso entrou no palco quando Vinícius/Hamlet, com a arma na mão, contempla o corpo de Polônio. Resolvi criar esta interpolação e deixar Ofélia encontrar o seu amor possivelmente após ter assassinado seu pai, que ainda sangra. O trauma justificava a loucura posterior da personagem. Muitas coisas como essas aconteceram nos oito anos do Avelãz y Avestruz. Aprendi a aprender com as atrizes e atores o que fazer da peça e como conduzí-los. Muitas vezes mudei a direção e o resultado das cenas por causa de sugestões diretas ou por falhas ou vislumbres de possibilidades apontadas pelas atrizes e atores em ensaios. Constatei que as melhores soluções e invenções não são necessariamente criações do encenador. Cabe a ele escolher e manter o que é trazido por muita gente: do elenco, da equipe ou do público que eventualmente vai assistir aos ensaios. Dirigir é estar atento, escutar, perscrutar e optar que caminho seguir. A história do Avelãz y Avestruz sempre levou em conta o jogo, o prazer, as relações. A partir da escolha do nome. O por quê desse nome e seu significado sempre foram motivo de curiosidade do público. Brincávamos também com isso e nunca revelavamos. Mas foi uma escolha aleatória. Queríamos um nome duplo e sonoro como Arte e Ave ou Ato e Ação mas também queríamos um nome que tivesse uma boa energia na numerologia. E fomos testando vários até que Avelãs e Avestruz soou bem, mas o número não era bom. Daí trocamos o S do avelãs por Z e a conjunção aditiva E tomou seu nome espanhol Y, o que também dava um tom circense ou de companhia de variedades ao nome.


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A história do Avelãz foi escrita pela primeira vez em 1982, por Carlos Wilson Andrade. Ele fazia assessoria de comunicação de nosso Macbeth e a enviou para a imprensa como sugestão de pauta. Em 2011, nos 35 anos do grupo, contei o fim da história do ponto onde ele parou, para ser publicada junto com o documento Dramática Companhia Teatral em Crise, lançado no Festival Internacional de Artes Cênicas (FIAC). virá a ter o link do livreto Durante toda minha trajetória sempre estive envolvido em criação de grupos. Além do Avelãz, o Bando, a Comuns, a reestruturação da Companhia Teatro dos Novos e por fim a criação da universidade LIVRE do teatro vila velha, que não é um grupo, mas um estímulo para a criação de grupos, um celeiro para os Novos. Em meu trabalho com elencos em montagens onde fui convidado, também sempre levei em conta as dinâmicas e sintaxes de grupo. Ultimamente tenho duvidado um pouco da possibilidade de existência de grupos onde coincidem elenco e produção/ gestão, como o Bando e o Galpão que continuam mas reinventaram seus caminhos, e são e atuam agora de forma diferente de como o faziam em suas origens. No novo mundo virtual, fragmentado, individualizado, é necessária a luta pela sobrevivência profissional muito cedo, sem dar tempo ao artista de se experimentar. Mundo em que, pelo excesso de necessidade de independência e autonomia no discurso e de ter visibilidade midiática ou em redes, revela um novo modelo de organização de trabalho. Os agrupamentos artísticos formam um sistema onde indivíduos, por identidades, se conectam com vários coletivos que se conectam entre si em projetos específicos. Isso muito mais os mantém juntos do que um projeto de médio/longo prazo de pesquisa e sustentabilidade coletiva ou esse longo prazo


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e sustentabilidade estão inseridos no conceito do sistema: conexão efêmera sem vínculos mais sólidos ou permanentes. Durante o processo de elaboração do livro, como parte do projeto Um Artista de Província, foi realizada uma conversa online com Silvana Garcia e Luiz Marfuz, mediada por João Guisande, sobre teatro de grupo, para discutir essas e outras questões.

https://www.youtube.com/watch?v=20IYmzgwBHI&t=13s


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GOVERNANTES 56o prefeito: Jorge Hage . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1975 a 1977 38o governador: Roberto Santos . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1975 a 1979 29o presidente: Ernesto Geisel . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1974 a 1979 A Lei Falcão alterou o código eleitoral, reduzindo a níveis mínimos a propaganda política no rádio e na televisão. O ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu em um acidente de carro na Rodovia Presidente Dutra, próximo de Resende, Rio de Janeiro. Jango, que era monitorado pela ditadura todo o tempo, morreu exilado na Argentina, oficialmente, de ataque cardíaco. Mao Tsé-Tung. o líder da Revolução Chinesa, governou a República Popular da China desde sua fundação em 1949. Morreu por complicações após um infarto. Glauber Rocha filma o velório de Di Cavalcanti, sob protesto da família do pintor. O filme está proibido em território nacional até hoje.


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AVELÃZ Y AVESTRUZ – ANO UM O Avelãz y Avestruz estreou com Rapunzel. O projeto, criado por Maria Eugênia, Jorge Santori e eu nos ensaios, temporada e viagens de A Estória do Bombeirinho Valente, foi alimentado em muitos papos e experimentos com radionovelas, fotonovelas, cinema mudo, cartas trocadas e se desenvolveu como possibilidade de montagem a partir da vivência com o Relógio Emocionado, dirigida por José Wilker, e do encontro com ele. Os participantes do elenco de Rapunzel, além de nós, chegaram também mais por afeto do que por experiência. Não me interessava trabalhar com atores formados nos cânones do teatro ocidental, ou atores vindos do teatro profissional. Me interessavam amadores, jovens que inventariam comigo um aprendizado mútuo. Um jeito novo de atuar. Essa decisão tinha sido confirmada no trabalho do Relógio Emocionado. Todos éramos relativamente iniciantes, curiosos, instigados, investigadores. Tínhamos que dar conta de uma proposta insana, de um encenador que também estreava, como alguns de nós naquela peça, como diretor. E demos conta, parece. As críticas, em sua maioria, são sempre elogiosas ao elenco, apesar das sinalizações de algumas falhas técnicas, especialmente na dicção. Talvez por isso, antes de começarmos os ensaios, tenha procurado Lia Mara, a melhor foneaudióloga que conheci, para preparar o elenco. Ela declinou do convite e indicou Hebe, que eu já conhecia. Hebe Alves era a mais experiente do grupo que se formava sem saber que estava se formando. Aluna da Escola de Teatro da Ufba, já tinha participado de algumas peças profissionais, atuado em outro grupo e ter feito a Poncia na montagem de Bernarda Alba, de Possi Neto. Ela aceitou trabalhar conosco na preparação de voz e como


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atriz. Luciene Tavares, Marcus Antônio, Vilma Florentina não faziam teatro, ou tinham feito uma ou outra incursão pela linguagem. Vilma era visualmente muito forte. Tê-la como Coro era um trunfo. Marcus fazia belas artes, Luciene, psicologia e eram nossos amigos. Até hoje me interessa muito mais trabalhar com iniciantes e construir com eles formas novas de atuar. Foi assim com o Bando. Foi assim com a universidade LIVRE. Foi assim muitas vezes, em muitos coletivos, com muita gente. São aprendizados síncronos, simétricos, como foi o do Avelãz. Mas de outro jeito me encantam grandes atores e atrizes com seus estilos e idiossincrasias, e gosto de trabalhar com eles para reaprendermos juntos a nos desafiar a recomeçar. Começávamos os ensaios com aquecimento de corpo e voz. Depois da preparação fazíamos muita improvisação com músicas, textos inspiradores, reflexões sobre os temas da peça: a solidão das grandes cidades e da vida cotidiana, as fragilidades e crueldade da classe média, o capitalismo e o sistema de consumo, as relações de poder. Só depois de muito trabalho encarávamos o texto, e começávamos a montar de fato as cenas. Todos os processos de ensaios do Avelãz, mais especialmente os primeiros, estão registrados em diários elaborados pelo elenco e por mim. A peça era sobre a farsa do sistema, uma reflexão sobre a solidão imposta, o poder e suas estratégias e os personagens no fim se transformavam em figuras de circo. Havia três núcleos de ação. De um lado do palco, a família de Rapunzel. Mãe e Pai sempre conectados a uma televisão,


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representavam o consumo absoluto, sugerido pelo desejo descontrolado da mãe de comer beterrabas, na história original. Isso fez com que perdessem a filha para a Bruxa, dona dos “meios de produção”. O cenário em que viviam, era feito por vários objetos domésticos amontoados, remetia à instalação Monumento à Família ou Lar Doce Lar. As roupas do Pai e da Mãe da peça lembravam às dos personagens da instalação: a Mãe, um vestido de cetim azul, o Pai, um terno escuro. Depois de perderem a filha e assumirem sua condição de consumidores, transformavam-se em palhaços com pierrôs carnavalescos. Ela azul, ele preto. Do outro lado do palco, o Trono do Rei, onde sentava um grande boneco. O Rei era uma estrutura cilindrica feita de madeira, papelão e pano, com pernas e braços de espuma e tecido, e representava o Rei de Ouro do baralho, com máscara e mãos modeladas por Alecy, cenógrafo da TV Itapoan. Essa peça cenográfica mantinha um parentesco com o Rei de Ouro, boneco de papelão articulado exibido no Bruxo Cigano. Era manipulado por Hebe Alves, que fazia o interior do personagem e, ao final, era “libertada” pelo Príncipe que desmascara o poder mostrando ao público que as estrtuturas são farsas frágeis, se confrontadas. Hebe saia da estrutura como uma palhaça em tons de azul e preto, inspirada em La Goulue, segundo Lautrec. E o Príncipe, de jeans, era um rebelde sem causa, baseado em James Dean, e se transformava num príncipe de contos de fadas, assumia a herança simbólica do rei, seu pai, se conformando à máscara. A Torre da Bruxa para onde era levada Rapunzel, como objeto de troca, ocupava o centro do palco. Era um praticável mais alto com escadas que sugeriam escadas de musicais. Jorge Santori fazia de seu personagem uma Diva do cinema mudo, a Vamp malvada, a dona dos desejos dos outros, detentora do


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poder absoluto de fornecer ou negar o objeto desses desejos. No final, ao perder Rapunzel, seu vestido se transformava num traje de rumbeira. Eugênia, em contraponto, fazia uma Rapunzel ingênua no início, como as dos filmes expressionistas. Na caminhada para a torre e para o final, transformava-se na que deseja. E seu desejo, ao contrário do desejo de consumo da Mãe, era a ferramenta que possibilitava sua transgreção e saída daquela estrutura. Como o príncipe não era nenhum herói salvador, ela precisava se libertar daquele sistema/picadeiro por conta própria e seguia para a solidão, sem príncipe. Era a única que não se transformava em personagem circense. Sua transformação ocorria quando ia para a torre: trocava um vestido de criança azul bebê e a touca branca, para um vestido de princesa. Penso hoje que talvez o clichê da princesa devesse ser evitado. Poderia ter construído um figurino ímpar para uma personagem ímpar na peça, não uma composição entre o dela e os da bruxa e do príncipe. Costurando a história e a encenação, o Coro, feito pela única atriz negra do elenco, Vilma Florentina, com traje de bailarina branco, cantava canções compostas por Marco Antônio Araújo, que iam dos ritmos das canções de trabalho dos escravos ao ritm and blues e ao rock’n’roll, traçando a história da música negra americana. Algo como uma trajetória simbólica da escravidão à liberação e rebeldia. A linha seguida pela dramaturgia musical do coro era uma narrativa paralela e complementar ao discurso textual da peça.


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Em carta a Marco Antônio Araújo, compositor e diretor musical da peça, exponho o seu conceito:

Marquinho, meu santo. Parece q as coisas vão. Tá tudo se encaixando direitinho. Já soube por Kátia q cê gostou do texto. E isto é bom. Mas o texto é pretexto e a gente vai ter que enlouquecer mto em cima disto. Vou te dizer algumas coisas que vão por minha cabeça pra você poder começar a pensar. É o seguinte: tô afim de fazer de Rapunzel 1 longplay c/ 13 músicas. Rapunzel n é uma peça de teatro é um musical sem coreografias hollywoodianas. Ou 1 balet falado. Quero q cada cena tenha 1 ritmo (bolero, fox trote, tango, rock, etc.) a ser dançado. Em cima da dança a gente joga as falas e os objetos de cena e as marcas. Acerca dos climas: antes de tudo “Rapunzel” é 1 espetáculo azul. O Pai e a Mãe são o kitsch. Tenho 1s coisas q quero q cê leia acerca da música kitsch. São mto pro Ray Coniff, Waldir Calmon e estas coisas. O Príncipe é o ídolo pop, James Dean. E as cenas dele c/ o Rei vão contar a história do rock partindo do blues X western’d’country -> até o momento de liberação qdo ele vai embora q é o superstar – Jagger Bowie. A Bruxa é Marlene Dietrich e as vamps do cinema mudo. A grande trágica. A primeira cena dela c/ Rapunzel será ao som de paganines e violinos. Romance ao luar. 1a aula de balet. Essas coisas. Depois entra pelo tango afora e culmina c/ 1 explosão de circo. O music hall. Cancan. A 1a cena Rapunzel – Príncipe é como o encontro de Romeu e Julieta no balcão. A música, alguma coisa como a música flamenga. Coisas de Lorca e Concerto de Aranjuez. O coro é uma pessoa só. E as músicas devem ser encaixadas


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nos ritmos das cenas. É mais ou menos como o mestre de cerimônias de Cabaret. É aquele q está presente a tudo. Q sabe. Bom, pretinho, estas são minhas idéias básicas. Preciso discutir tudo isto c/ vc ainda. Os ensaios começaram ontem e dentro de 1 semana ou 2 já estará no ponto pra começarmos a transar as músicas. Pq será fundamental a música neste balet circense. Pq antes de tudo vai ser um grande circo o q a gente vai fazer. As pessoas na sua maioria são inexperientes. Mas mto interessadas e dispostas a dar todo o sangue q for necessário. Aguardo notícias. Um beijo em Nena, Kátia e todas as pessoas q gosto. Um abraço no Wilker. um beijo m.”


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Os cenários, concebemos eu e Chico e ele desenhou as plantas e projetos executivos. Dona Ady, mais uma vez se colocou de produtora, coisa que fez durante toda a vida para sobreviver e criar seus três filhos. Conseguiu material para cenário e figurino, gráfica para as impressões de cartazes e programas e todas as outras coisas que uma produtora faz para levantar um espetáculo. O Teatro do Sesc/Senac Pelourinho não é um grande palco, quase um auditório sem profundidade nem altura, mas era novo, não tinha muito tempo de inaugurado. Estreamos na época do São João, que na Bahia, como em todo o Nordeste, mobiliza muita gente para festas e viagens para o interior. Não tivemos muito público. Pessoas interessantes e interessadas assistiram e o retorno foi bom. Mas longe da recepção e da festa do Bruxo Cigano. Ou seja minha estréia como artista visual foi mais espetacular do que como encenador. Mas, pelo que o teatro tem de coletivo, era muito mais o que buscava.


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do programa de RAPUNZEL RESPEITÁVEL PÚBLICO Rapunzel pode ser tudo. Menos um conto de fadas. Talvez um conto de bruxas. Talvez um cotidiano monótono e repetido da classe média. Este espetáculo é cotidiano e repetido. É dedicado à classe média. Talvez os clichês de comunicação de massas. Este espetáculo é um clichê. Talvez a luta de gerações. Este espetáculo é uma luta. É dedicado às velhinhas aposentadas. Talvez um assassinato da inocência. Este espetáculo é inocente. É dedicado aos assassinatos. Talvez a solidão do século XX. Este espetáculo é a solidão. É dedicado ao século XX e à TV em cores. Afora isto, somos um bando de crianças classe média. And God save the Queen AVELÃZ Y AVESTRUZ

link p programa de rapunzel


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Ficha Técnica de RAPUNZEL Texto, direção, cenário (com Chico Mazzoni), figurino, iluminação, cartaz e programa: Marcio Meirelles Assistente de direção: Margarid’Almeida Música: Marco Antônio Araújo Produção: Ady Meirelles Elenco: Hebe Alves (Rei) Jorge Santori (Bruxa) Luciene Tavares (Mãe) Marcio Meirelles (Príncipe) Marcus Antônio (Pai) Maria Eugênia Milet (Rapunzel) e Vilma Florentina (Coro) Estréia: 17 A 27/06/76 Teatro Senac (SSA – BA)

fotos dos ensaios e apresentações de Rapunzel https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157625219072134


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OUTROS TRABALHOS EM 1976 João Augusto me chamou para participar como ator de uma produção do Teatro Livre da Bahia, Caça às Feiticeiras, a partir d’As Feiticeiras de Salem, de Arthur Miller. Fui a dois ensaios e foi muito bom ter tido este contato com João e sua forma de trabalhar. Não muito diferente: improvisações, relaxamento, contatos, conversas. Tive o privilégio de ter tido esse encontro com ele e o grupo que dirigia. Não fiquei no trabalho porque já estava envolvido no projeto seguinte e não tinha tempo hábil para fazê-los simultaneamente. Durante o processo de Rapunzel, comecei a preparar um trabalho gráfico. Dois projetos simultâneos que acabaram sendo lançados juntos: um poema visual de Aninha, já feito algum tempo atrás, que refiz com a nova técnica desenvolvida dos desenhos a nanquim com pincel. E uma série, na mesma técnica, sobre o sonho americano, em celebração aos 200 anos da independência americana. Já que ainda não podíamos celebrar a nossa em relação à eles. Era o que eu anunciava. TODA UMA FESTA QUE SE INICIA COM A MADRUGADA EM QUARTOS DE MOTEL BARATO, um poema visual de Aninha Franco e meu, em edição dos autores, foi lançado no dia 19 de outubro, junto com a exposição de desenhos A NOUS LA LIBERTÉ que ficou em exibição até 30 de outubro, na Galeria do Icba (SSA – Ba).


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TEXTO BASE PARA RELEASE E DIVULGAÇÃO DO EVENTO 1. Eu nasci há muito tempo, não sei bem onde. Sei que meus desenhos mais antigos, que tenho guardados, foram feitos aos cinco anos. Provavelmente comecei bem antes. Antes mesmo de nascer. Comecei brincando e brincando continuei. Experimentei muito e de repente aprendi a dar sentido a essa brincadeira. A brincar outra vez com a mesma seriedade dos cinco anos, quando brincar era a única coisa realmente importante. E quando isso aconteceu foi o princípio do meu reencontro. Passei dois anos trancado num útero refazendo a vida e, em 1975, finalmente saí do ovo. Rompi a casca e me atirei ao mundo pra mostrar a minha brincadeira: brincar com o mundo. “Venha rever a cidade que a festa continua. Se embriague no meu sangue” – Assim foram convidados e assim compareceram e assim se embriagaram. Mostrei tudo. As entranhas. Meu lixo ocidental. • Uso o lixo pra fazer o meu trabalho. Vomito tudo o que como: o café da manhã, o dia a dia, e tudo que vejo na rua nas minhas andanças sem pressa.

• Uso o que mais me convém pra expressar o que quero. Sou um pintor sem estilo. • Acho que as coisas devem ser todas misturadas. • Se arte é vida, o espectador deve estar no centro. • “Pedaços de objetos velhos, recortes de jornais e outros materiais do gênero constituem os elementos que Marcio utilizou em seus trabalhos de colagem e arte ambiental.” • “Marcio, que pinta, desenha, faz ambientações, escreve poesia, cria coreografias e encenações é, enfim, o que um artista hoje deve ser.” • “Marcio tem muitas ideias, sendo sua qualidade maior a fidelidade aos seus princípios, que impede que se perca em floreios inúteis.” “Venha rever a cidade que a festa continua...” – Assim foram convidados e assim compareceram. “Um bruxo cigano contou...” Desprendeu-se outro módulo da nave e parti por outra estrada que me levou a outros mares. Ao palco, à passarela, à tela. E o espetáculo continuou.


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Eu não trabalho em termos de quadro porque quadro é uma coisa parada e sou muito irrequieto. Trabalho em termos de espetáculo mesmo. Meu trabalho é uma fração de tempo entre um antes e um depois. É um momento da história que não começa nem acaba ali. Mas a partir desse momento pode-se descobrir o que virá e o que passou. Por isso me interesso muito por história em quadrinhos que é uma forma de fazer teatro sem atores e cinema sem dinheiro. Que é uma linguagem única, própria, forte e brilhante de brincar e contar histórias. Recolhi-me outra vez e a partir de história em quadrinhos, publicidade e o art nouveau, descobri o traço. A linha. Agora, com uma linha pura, limpa sobre fundo branco, um certo toque de humor, um risinho entre dentes, conto histórias. Histórias de terror tecnológico. Este terror feérico que não tem nada a ver com a morbidez do gótico. Alguma coisa como a angústia deste século, alegre, divertida, colorida. Com o peito de plástico, a boca de acrílico e os braços de neon nos atrai, encanta e amedronta.

Um dia, no hemisfério norte da América, declararam independência. Independentes, ditaram sonhos, cresceram medos e resolvi comemorar 200 anos. Descobri então, festejando, que seus símbolos não são seus, são do mundo. São meus. Escrevi: À nous la liberté – desenhos para colorir. Alguns desenhos publicitários que contam como nos oferecem situações ideais, como nos mentem, como os objetos declararam independência e controlam os destinos do homem. E vou mostrar isso com coca cola e cachorro quente. E depois, quando estiver entupido de coca cola, vou seguir viagem. Pra onde, não sei. Sem compromissos. Por sete mares, sem navio. Talvez vá pra hollywood plantar um pé de araçá.


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2. À nous la liberté – desenhos para colorir Neste ano em que se comemora o bicentenário da independência dos Estados Unidos da América, tive uma ideia – Vamos festejar. Comecei a contar História, a história da independência dos objetos, criados inicialmente para servir ao homem, mas que, com o correr do tempo, ganharam dimensões inesperadas e começaram a comandar o espetáculo. Organizei meu caos. Apaixonei-me pela linha pura sobre grandes espaços em branco – para colorir – e comecei a reinventar a publicidade oferecendo uma situação ridícula contra cada situação ideal que me apresentam no vídeo, nas revistas coloridíssimas, nos out door. Deixei a cor aos cuidados do cliente que tem livre arbítrio mental para usar a que melhor lhe convier. Abandonei a tragédia e ofereço a tragicomédia. Rindo é mais fácil engolir as coisas. Rindo e cantando. E sorrio entre dentes enquanto me debruço no papel para fazer os meus rabiscos de terror tecnológico. Rabiscos muito bem feitos, por sinal.

link para o poema

Escolhi a língua inglesa para dar título aos desenhos pelo que ela tem de onomatopéico, de universal, de tecnológico, de hollywoodiano. De óbvio: por que falar outra língua, se inglês é a língua dos objetos? Eles falam off – on – stop – start – etc. Então por que falar outra língua, quando a corrente é esta? Depois, nos USA se fala inglês, sabia? E eles comemoram 200 anos de independência, sabia? Essa história dos objetos não começa nem acaba aqui, nos desenhos. Não sei onde começaram nem onde vão acabar. Talvez ainda faça uma centena mais, talvez acabe aí. Talvez eu pudesse contar essa história com somente um, mas preferi fazer esta série que será vista, ou não. Não precisa ser vista, porque todo mundo vê TV ou pelo menos já viu uma revista ou um outdoor. E basta ter um pouco de cabeça pra saber que tudo que se diz é mentira, que as situações ideais são ridículas e que os objetos não vão salvar ninguém. Muito pelo contrário. É isto que digo nesta exposição. Gargalhando. marcio meirelles Salvador, outubro de 1976


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GOVERNANTES 56o prefeito: Jorge Hage . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1975 a 1977 57o prefeito: Raimundo Urbano . Aliança Renovadora Naciona (arena) 29 de março de 1977 a 1.º de abril de 1977 prefeito por 4 dias 58o prefeito: Fernando Magalhães . Aliança Renovadora Naciona (arena) 1.º de abril de 1977 a 1978 38o governador: Roberto Santos . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1975 a 1979 29o presidente: Ernesto Geisel . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1974 a 1979 O congresso aprovou a emenda constitucional que instituiu o divórcio. A escritora Rachel de Queiroz foi a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras. Por meio de lei, foi criado o estado do Mato Grosso do Sul. A atriz Anecy Rocha, irmã de Glauber Rocha, morre num trágico acidente, ao cair no fosso de um elevador. O cineasta incorpora o fato no romance Riverão Sussuarana. E seu curta-metragem, Di Cavalcanti, foi premiado no Festival de Cannes


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AVELÃZ Y AVESTRUZ – ANO DOIS Resolvemos continuar e seguimos Hebe, Eugênia, Jorge e Vilma para a montagem d’A Rainha, peça de Aninha Franco, que propôs e se dispôs a produzir. Novamente o elenco não era formado por pessoas de teatro. A maioria vinha de outras áreas, pessoas que tinham tido experiências com teatro, alguns fizeram Sonhos e Concretos, de um novo grupo da Escola de Arquitetura e eu tinha gostado. Enfim, todas e todos convidados por algum motivo, como escolhia os modelos para meus apóstolos da Santa Ceia inacabada: pelo tipo, aleatoriamente, por que gostei de ter visto alguma coisa. Cada uma e um por que eram uma ou um. Os convidados que se sentiram desafiados pelo meu convite, toparam o desafio e fizeram. Continuei a preferir atores em formação, ou não atores que gostavam e queriam teatro. Vinham mais “limpos”, sem estilos, fórmulas ou vícios da profissão. Os que ficaram por mais tempo no Avelãz tiveram sua graduação, como eu. Entre as/os desafiados que aceitaram, estava Solange Gama hoje Solange Farkas, nossa amiga que fazia jornalismo, que nunca tinha pensado em ser atriz mas, segundo ela, ter tido essa experiência lhe deu forças e ferramentas para seguir no caminho brilhante que trilhou em sua vida. Desde sempre me desafiei a trabalhar com não atores. Via isso também em João Augusto, e me encantava. E em Pasolini e Glauber e outros que admirava. E minha formação foi também a formação de muita gente. Esta foi a semente da universidade LIVRE do teatro vila velha. Formar formando, fazendo, arriscando, precipitando-se, vencendo obstáculos, carregando o piano.


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A concepção da montagem de A Rainha partia da estrutura espacial. Escolhi a capela do Solar do Unhão, para minha celebração. Tinha tido uma boa conversa com o diretor da Fundação Cultural, que administrava e ocupava o solar e marcamos a data e tudo certo. Perto da época da estreia, ao voltar para organizar o processo de montagem, não existia mais o acordo. Estávamos sem o espaço, estrutura fundante da encenação. A peça estava ensaiada, com figurinos e adereços e quase tudo pronto e não tínhamos lugar para estrear. O bônus foi que, nesse dia do não, estava entreaberta a porta de uma saleta do lado do solar, no pátio de baixo, na antiga senzala, quase um quartinho de limpeza. Nela, cheia de poeira, uma estante tosca com muitas peças de arte popular. Bonecas de barro, bichos, pequenos objetos. Fiquei muito inclinado a levar pelo menos um, mas não o fiz. Anos depois, quando já era secretário de Cultura, passando por uma das casas-oficina do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), vi, pela janela, Mary do Rio cuidando, restaurando, reconstruindo, como fez por mais de 40 anos, aquelas peças que vi no quartinho do Unhão. Ela cuidava porque tinha trabalhado com Lina, na origem daquele acervo e, fiel à arquiteta e às peças, continuou a cuidar delas. Eram parte da exposição de arte popular que Lina Bardi levaria para a Itália, mas foi proibida pela ditadura e ficou guardada naquele quarto e depois em caixas por esse tempo todo. Pedi a Daniel Rangel, diretor dos museus à época, que abrisse as caixas e fizemos a exposição permanente de arte popular de Dona Lina no Solar do Ferrão. Sem a Capela do Unhão para estrear, corremos pela cidade e o Teatro Vila Velha nos acolheu. João Augusto ofereceu o palco para estrearmos. Mas só em horários alternativos, quando tinha pauta disponível. Topamos e fomos. Segundo o panfleto publicitário que convidava o “respeitável público”


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dizendo “segure a cabeça que A Rainha vem aí!” acontecia às sextas, sábados e domingos, à meia noite e segundas e terças, 21 horas. Concluia: “Quem viver verá e quem for saberá que continuar vivo é uma questão de conservar a cabeça sobre os ombros”

A peça foi um fracasso de público. Não sei se tenho distanciamento para saber o quanto do fracasso era responsabilidade da própria montagem, do texto, ou se estava no inusitado do horário, ou se não conseguimos divulgar bem. Enfim, foi uma peça maldita que tratava de uma disputa de poder. A Rainha era inspirada na Rainha de Copas de Alice, mas a personagem era baseada em uma amiga de Aninha. Na verdade, a peça era estruturada em cima de uma turma que andava conosco. Nossos amigos estavam em cena, como personagens, e a disputa de poder entre eles ganhava dimensões políticas porque era teatro, uma extrapolação das aventuras dos desbundados da classe média branca baiana. Fazia sentido encaixá-los naquela corte, naquela trama surreal. Carla Karr, a garotinha que fazia Ela, a Bela, talvez estivesse nos sinalizando algo quando escreveu o seguinte, ilustrado por uma boneca coroada e sorridente com os braços abertos, no verso de um dos panfletos: “A RAINHA é uma pesa(sic) muito Boa mas é muito embaralhada eu como trabalho na pesa(sic) não compreendo que dirá o público”


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Três convidados para fazerem o Principe, em Rapunzel, ensaiaram, improvisaram e nos deixaram na mão. Acabei fazendo o Príncipe. Também em A Rainha, o cidadão que faria o Sir Uma Vaga Surpresa abandonou-a e tive que fazer o personagem. Era um deus ex machina, com a máscara do Deus Diabo das Diabladas bolivianas, que entrava no final da peça e resolvia tudo. Não resolvi. Ficamos devendo pra muita gente. A produção não se responsabilizou pelo fracasso, nem se moveu para salvar a peça nem o elenco nem nada. “Já tinha investido demais”. Foi a primeira ruptura entre Aninha Franco e eu. Texto de Matilde Matos, em sua Página Quente da Revista do Jornal da Bahia, do dia 06/02/1977, sobre A Rainha: “Verão é A Rainha acontecendo no Vila Velha, no horário ingrato da meia-noite mas nem por isso deixando de ter seu público atento às manifestações da linguagem de hoje, que é a que fala A Rainha. Dadaista, pop, se uma espécie de distimia parece às vezes motiva-la, é também a desmistificação da autoridade (baseada na velha Rainha Vermelha de Carroll) da falsa moral das convenções e do sexo, ou seja, o que as velhas gerações glorificavam. Isto é o que passa o visual, a maneira como a peça é encenada, porque de texto, não sei se por falta dos atores ou da acústica local, pouco nos passa para o grebo. A Rainha, dirigida por Marcio, ia ser levada numa promoção da Fundação, e depois de toda a trabalheira de ensaios, montagem, produção, etc, etc, o grupo foi simplesmente comunicado de que não dava mais, daí terem de recorrer ao horário da meia-noite do Vila. A Fundação perdeu aí uma ótima oportunidade de mostrar o que os jovens estão fazendo.”


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Anos depois, tive outra recompensa d’A Rainha. Um dia, Harildo Déda me disse que João Augusto tinha assistido à peça, de seu lugar de assistir as coisas no Vila: uma ponte que ficava acima da plateia, suspensa junto ao forro, com uma passagem meio secreta que vinha da sala da administração do teatro, pelo urdimento, até ela. Depois da estreia, João teria dito a Harildo que, como encenador, eu era uma promessa.

Ficha Técnica de A RAINHA Direção, trilha sonora (seleção de músicas), cenário (com Chico Mazzoni) e figurino: Marcio Meirelles Texto: Aninha Franco Iluminação: Roberto Wolf e Suzuki Elenco: Aglaé Mota (Uma Vaca Amarela) Carla Karr (Ela, a Bela) Fátima Barreto (Um Caso Abafado) Hebe Alves (Lacaio) Helenita Ambros (Lacaio) Jorge Santori (O Bobo da Corte) Marcio Meirelles (Sir Uma Vaga Surpresa) Maria Eugênia Milet (Meu Pedido de Casamento) Sérgio Manoel [de Carvalho] (Lacaio / o Príncipe Consorte) Solange Gama [Farkas] (Uma Holandesa) Vilma Florentina (A Rainha) Zambo (Lacaio / Dois Lacaios Neuróticos) Estréia: 21/01 a 1°/02/1977 Teatro Vila Velha (SSA – BA)

fotos dos ensaios, da apresentação e para divulgação https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157627517617654


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OUTROS TRABALHOS EM 1977 Depois de A Rainha, Matilde Matos e Edson da Luz me convidaram para participar do

IV PROJETO DO ETSEDRON / XIV BIENAL DE SÃO PAULO Orientação de oficinas, ator e co-direção em performance: Marcio Meirelles GRUPO ETSEDRON: ARTES: edson da luz (criação e execução do projeto) Márcio Meirelles, (teatro) Rita Matos (teatro - produção) Chico Diabo, Antoneto e Milton Sampaio (ambientação) Lícia Morais (coreografia e dança) Djalma Silva da Luz (música) Carlos Sampaio (poesia) Eduardo Cheade (cinema) Hamilton Luz, Cláudia Wudmüller e José Olavo de Assis (fotografia) CIÊNCIAS: Durval Benício da Luz e Célia Maria Da Luz (medicina tropical) Tibúrcio Barreiros e Altamirando Luz (direito) Carlos Alberto Parracho e Manuel Ribeiro Carneiro (ciências políticas e sociais) Vera Lúcia de Paula e Felipe Benício da Luz (estudos de elementos etinográficos) Maria Eugênia Milet (educação e psicologia). COMUNICAÇÃO: Matilde Matos (transcrição literária) Carlos Ramon Sanchez (editor). Realização das oficinas: junho a agosto/77 (Porto Seguro – Ba) Apresentações de performance na XIV BIENAL DE SÃO PAULO: 1° a 08/10/77 (durante a primeira semana da Bienal) Pavilhão Armando Arruda Pereira (São Paulo – SP)


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INTEGRAÇÃO SOCIAL PELO TEATRO Primeiro contato em maio - a apresentação do trabalho do grupo Etsedron num espetáculo de dança de um grupo de Camacã. Vestido num lençol branco, o rosto pintado de branco, eu dizia que o grupo Etsedron lançava a semente de uma arte mestiça cabocla brasileira feita de cipó e raízes, naquele Porto Seguro. Antes ainda foi o papo com Édison, falando da cidade, das possibilidades, das lendas de Jarapiti e Marubatã. Pensava e via um espetáculo armado à beira do mar, com naus portuguesas e andaimes e côro de índias e fogo iluminando o mar e bandas de música e procissões pela cidade e gaivotas cinzentas e o vento sul devastando tudo. E não vi mais nada. Vi somente que teatro é teatro em qualquer parte do mundo - o circo e o sal da terra Teatro são todas as definições sociofilosóficas, todas as posições político-religiosas, todas as angústias metafísico existenciais E é uma coisa pequena, como acordar, escovar os dentes e abrir a porta da rua. Começo do trabalho em junho - Boa tarde, eu faço parte de um grupo de artistas que deu por fé que arte não se faz só na capital. Sou ator e pretendo trabalhar em teatro com vocês. O barco tá

pronto. E a fim de embarcar apareceram mais de sessenta pessoas. Por idade e disponibilidade de horários, formaramse grupos. Trabalhamos um mês, da manhã à noite. Os corpos se soltaram e foram descobertos, redescobertos, com exercícios de sensibilização, vontade de suar-dançar-agir. As inibições se desprenderam e fizemos improvisações que eram pequenos espetáculos teatrais onde se contavam os problemas de uma cidade onde chegaram os de fora e se enriqueceram e derreteram o resto da cultura semi-virgem que ainda existia. Depois de um mês vieram as férias escolares e dois grupos se desfizeram. Formamos um único grupo. Trabalhamos de personagens em busca de uma máscara, de pessoas em busca de um personagem. Depois um redescobrimento das lendas do lugar, um interesse pelas histórias da cidade e o aparecimento de músicas antigas de ranchos que passaram pelas ruas. A identificação do mito da índia Inaiá - a que se entregou de amores a um português para ser depois abandonada, louca, só e morta - com o turismo de Porto Seguro. Com a vida em Porto Seguro, onde os aventureiros chegam, conseguem e partem, deixando tudo só, louco e morto.


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Um trabalho feito nos lugares onde o drama aconteceu há algum séculos atrás e onde acontece todos os dias, todos os verões. A oficina. a feitura do texto por todos e organizado por um só. A confecção das roupas em conjunto. a batalha por um lugar para a apresentação. Outra vez a luta pelo reconhecimento do artista como indispensável e da arte como necessidade vital. A minha partida. O começo da segunda fase do trabalho. O grupo continua. A semente ficou lançada e germinando. O grupo está decidido a não deixar acabar uma coisa que descobriram. Professores usando teatro nas escolas infantis. Uma reação da cidade. Uma descoberta de novos valores muito antigos enterrados com suas raízes. Uma descoberta de que podem. De que devem. De que vão. Uma descoberta. MÁRCIO MEIRELLES Junho a agosto de 1977 Porto Seguro, Bahia


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MALDITA COINCIDÊNCIA (A CASA DE DEUS) Filme Ator (personagem cortado na edição final do filme) Roteiro e direção: sérgio bianchi Elenco: Lélia Abramo, Adriani Bacchi, Circe Bernardes, Sergio Bianchi, Patricio Bisso, Walter Breda, Angela De Castro, Delci de Oliveira, Mercedes Dias, José Luiz Ferreira, Thereza Freitas, Luis Roberto Galizia, Paulo Márcio Galvão, Roberto Gigante, Isa Kopelman, Bronie Lozneanu, Celuta Machado, Sérgio Mamberti, Célia Maracajá, Carlos Nascimbeni, George Otto, Dóris Paredes, Reinaldo, Elaine Rig, Rodrigo Santiago, Jacques Suchodolski, Maria Alice Vergueiro 1977/1979 (São Paulo – SP)


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O BONEQUEIRO VITALINO OU NADA É IMPOSSÍVEL AOS OLHOS DE DEUS E DAS CRIANÇAS Texto e direção: Jurema Penna Assistente de direção: Lina Lemos Música: improviso de Mestre Vitalino e zabumba de Mestre Vicente Cenário e figurino: Leonel Amorim Movimentos e expressão: Guido Lima Assistente de produção: Meire Lima Produção: Companhia Bahiana de Comédias Elenco: Daniel Robson, Eduardo Logulo, Frieda Gutman, Jandira de Jesus, Jorge Santori, Marcio Meirelles, Marcus Antônio, Paulo de Lácio e Waldemar Nobre Estréia: dezembro/77 Igreja do Rio Vermelho, Igreja de São Caetano, Solar do Unhão, Largo da Lapinha, Parque da Cidade e Largo do Pau da Lima (no Ciclo de Natal – 1977 da Prefeitura da Cidade do Salvador) 06 e 07/01/78 IV Festival de Cinema Brasileiro de Penedo (al), em palanque próximo ao Rio São Francisco Troféu Martim Gonçalves (TV Aratu / Rede Globo) 1977 Prêmio especial do júri pelo trabalho de pesquisa Melhor figurino na categoria infantil – Leonel Amorim Prêmio do Serviço Nacional De Teatro Melhor Espetáculo Infantil OFICINA DE DIREÇÃO TEATRAL Professor: Aderbal [Freire Filho] Júnior Realização: Departamento de Cultura da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Salvador 22 a 27/11/77 Escola de Teatro da UFBA (SSA – BA)


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GOVERNANTES 58o prefeito: Fernando Magalhães . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1977 a 15 de agosto de 1978 59oprefeito: David Mendes Pereira . Aliança Renovadora Nacional (arena) 15 de agosto de 1978 a 18 de agosto de 1978 prefeito por 3 dias 60o prefeito: Edvaldo Brito . Aliança Renovadora Nacional (arena) 18 de agosto de 1978 a março de 1979 38o governador: Roberto Santos . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1975 a 1979 29opresidente: Ernesto Geisel . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1974 a 1979 Um incêndio destruiu parte significativa do acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Foram proibidas greves nos setores de segurança nacional e serviços públicos em todo o país. O congresso nacional outorgou a Emenda Constitucional n° 11, que substituiu e extinguiu o Ato Institucional n° 5. A justiça responsabilizou a União pela morte do jornalista Vladimir Herzog, ocorrida nas dependências do DOI-CODI.


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O Polo Petroquímico de Camaçari, foi implantado na Bahia. Além de ser o primeiro complexo petroquímico planejado do país, era o maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul na época em que foi inaugurado, com mais de 90 empresas químicas, petroquímicas e de outros ramos de atividade como indústria automotiva, de pneus, entre outros. Glauber Rocha filma seu filme testamento A Idade da Terra em Salvador, Brasília e Rio de Janeiro. Em 18 de junho de 1978, o feirante Robson Silveira da Luz foi acusado de roubar frutas na feira onde trabalhava. O homem negro de 27 anos foi levado para a 44º Delegacia de Polícia de Guaianazes, na Zona Leste de São Paulo. Lá o rapaz foi torturado e morto. Em 7 de julho de 1978, um ato contra a morte de Robson reuniu duas mil pessoas na escadaria do Teatro Municipal de São Paulo. A partir do ato, vários representantes de entidades que lutavam pela igualdade racial uniramse em uma única entidade, mais forte e coesa. Naquele momento nascia o Movimento Negro Unificado (MNU). Como conquistas do MNU, além da proclamação do dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, há a proibição da discriminação racial na Constituição Federal de 1988 e a criação da Lei Caó, de 1989, que tipifica o crime de racismo no Código Penal.


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AVELÃZ Y AVESTRUZ – ANO TRÊS Meu primeiro encontro com Fausto se deu quando eu era muito jovem e podia fazer um pacto com o demônio do teatro. E o fiz. Em troca da minha alma eu só queria poder dizer coisas para as pessoas, contar histórias, fazer com que elas se divertissem e pensassem. Refletissem sobre o mundo em que vivemos e sobre o que fazemos de nossas vidas enquanto nele estamos. E o pacto foi feito. Abracei o teatro, ou ele me abraçou. Deste abraço de corpo e alma foi que construí meu caminho por este mundo. Na verdade, antes de Fausto eu já tinha entrevisto o que seria esse caminho. Já tinha cheirado os odores e bebido o vinho antigo, envelhecido nas madeiras dos palcos. Mas com Fausto, em 1977, eu selei o meu destino. Tinha 23 anos e muitos sonhos. Não tive acesso ao Urfaust e me debrucei sobre a 1a parte do grande poema dramático. E tentei retomar o seu espírito original, sem a poeira da erudição que séculos acumularam sobre a obra, tirando-lhe o vigor necessário ao teatro. Transformando-o mais num poema filosófico do que num possível espetáculo feito em versos. Então, com toda a ousadia de minha juventude, me atirei sobre o mito e misturei-o, ou antes, extraí dele o que percebia nele de popular, o que existia nele que se casava com o meu universo imaginário. Com os meus mitos individuais, com o circo, o cinema expressionista, a ópera oriental, o melodrama. E assim foi feito o meu primeiro Fausto. A partir da notícia de que a origem primeira do Fausto era a tradição popular, o maravilhoso teatro ambulante e de marionetes. Assim cheguei ao meu Urfaust.


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Foi um sucesso. E para mim ficou claro que o pacto estava selado e era para sempre. Das muitas vezes em que tentei abandonar o teatro por motivos vários, por várias crises, o demônio não me deixou. Se mostrou sempre maior do que o meu pequeno eu individual que gostaria de ter uma vida mais fácil sem os infernos e purgatórios a que o teatro nos leva, para nos salvar a seguir como maiores eus coletivos, que podem alguma coisa. E sempre Fausto lá estava, sorrindo e acenando com a grande perspectiva de um dia ser encenado em sua plenitude. Todo o Fausto, partes 1 e 2. Início do texto escrito, em 1999 a ser enviado para o Instituto Goethe, na Alemanha, nas comemorações dos 250 anos de Johann Wolfgang von Goethe, quando montei com a Companhia Teatro dos Novos o UrFaust, nosso Fausto #Zero.


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Ficha Técnica de FAUSTO Ficha técnica de FAUSTO Texto: Johann Wolfgang von Goethe Tradução (do inglês e espanhol), adaptação, direção, cenário, figurino, caracterização e cartaz/programa: Marcio Meirelles Música e direção musical: Antônio Carlos Tavares e Chiquinho Brandão Iluminação e operação de luz: Rita Mattos Produção executiva: Eduardo Moraes Elenco: Beth Cabral (Coro) Carlos Nascimento (Mefistófeles) Jerry Faro (Coro) Jorge Santori (Fausto) Maria Eugênia Milet (Margarida) Paulo De Lácio (Coro) Vera Pita (Feiticeira / Marta / Coro) e Zambo Augusto (Valentim / Coro) Estreia: 24/08 a 17/09/78 Sala do Coro do TCA (SSA – BA) Troféu Martim Gonçalves 1978/79 (TV Aratu – Rede Globo) Direção Ator coadjuvante: Carlos Nascimento Atriz coadjuvante: Maria Eugênia Milet Figurino Indicações para o Troféu Martim Gonçalves Espetáculo Melhor ator: Jorge Santori

fotos de Fausto: https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157625115118243


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OUTROS TRABALHOS EM 1978 MAIS QUERO ASNO QUE ME CARREGUE QUE CAVALO QUE ME DERRUBE Texto e direção: Carlos Alberto Sofredini Cenário e figurino: Marcio Meirelles Música: Carlos Cintra Direção musical: Tom Tavares Coreografia: Edva Barreto Luz: Enrico Allata Direção de produção: Orlanita Ribeiro Produção executiva: Eduardo Moraes Produção: Teatro Castro Alves / Fundação Cultural do Estado da Bahia Elenco: Alda Louceiro, Antônia Adorno, Antônio Livino, Carlos Nunes, Enierre Rachel, Hebe Alves, Helena Brito, Guetz, Maria Amélia Carvalho, Maria Rivas, Mariza Rangel, Orlanita Ribeiro E Vailda Matos Estreia: 11 a 29/10/78 Sala do Coro do tca (SSA – BA) Troféu Martim Gonçalves (TV Aratu / Rede Globo) 1978 Atriz: Mariza Rangel Figurino VII FESTIVAL BRASILEIRO DE TEATRO DE BONECOS Participante / aluno Curso: Teatro de Bonecos na Educação e Terapia (12 horas) Professora: Lea Wallace Realização: ABTB (Associação Brasileira de Teatro de Bonecos) 12 a 21/03/78 (Petrópolis – RJ)


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TEORIA E PRÁTICA DO TEATRO DE BONECOS Professor: Friedrich Arndt Realização: Instituto Goethe e Universidade Federal da Bahia 23 a 27/10/78 ICBA (SSA – BA) FOTOBAHIA – 78 Exposição coletiva de 51 fotógrafos, entre os quais: Aristides Alves, Artur Ikissima, Claude Santos, (Mario) Cravo (Neto), David Glat, Jamison Pedra, Juarez Paraíso, Juca Gonçalves, Juraci Dórea, Marcos Maciel, Marcio Meirelles, Rino Marconi, Sérgio Rabnovitz, Silvio Robatto, Tomaz Neto e Vito Diniz. Coordenação: Aristides Alves Exposição: 26/09 a 09/10/78 Foyer do Teatro Castro Alves (SSA – BA) ANTROPOFAGIA ERÓTICA Filme Super 8 inacabado Ator Roteiro e direção: Marcos Sergipe e Virgílio Neto Fotografia: Ronaldo Duarte Filmado em Sergipe e no Litoral Norte da Bahia ATUAL IDADE DA TERRA Filme super 8 Ator Roteiro e direção: Marcos Sergipe e Virgílio Neto Exibido na Jornada de Cinema Da Bahia (SSA – BA)


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GOVERNANTES 60o prefeito: Edvaldo Brito . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1978 a 1979 61o prefeito: Mário Kertész. Aliança Renovadora Nacional (arena) 1979 a 1981 38o governador: Roberto Santos . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1975 a 1979 39o governador: Antônio Carlos Magalhães . Partido Democrático Social (pds) 1979 a 1983 29o presidente: Ernesto Geisel . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1974 a 1979 30o presidente: João Figueiredo . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1979 a 1985

Eunice Michiles tornou-se a primeira mulher ocupar uma vaga no Senado Federal. Foi sancionada a Lei da Anistia, permitindo, entre outros, que os exilados voltassem ao brasil, mas a negociação para sua aprovação também permitiu que torturadores e assassinos ficassem impunes.


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AVELÃZ Y AVESTRUZ – ANO QUATRO Texto escrito para o programa de Alice: Alice, como quase todos os contos infantis, conta o trajeto que uma criança deve percorrer para se tornar adulta, que monstros e que fantasmas ela deve enfrentar; e os mais terríveis de todos: os pais, que incentivam esse crescimento e o impedem que se efetue pois inevitavelmente perderão seus filhinhos para o mundo, perderão a tutela das crianças e isto significa perder o poder. Os contos infantis ensinam às crianças como vencer o “dragão” e encontrar o “príncipe” ou a “princesa”. Alice nos ensina a sair. Mas a sair resolvidos. A sair porque descobrimos que o poder “não passa de um baralho de cartas” e podemos enfrentá-lo cara a cara e dizer “não é nada disso”. A viagem através do “País das Maravilhas” é entrar fundo na estrutura familiar, é viajar antes, através de si mesmo e descobrir tudo que está errado, distorcido, o que não está bem nesta relação eu/mundo e corrigir. E, principalmente, conseguir tocar a música que se quer ao piano. Entenda-se família como o primeiro contato que a gente tem com uma estrutura formada, sólida e edificada em leis, com um poder constituído e hierarquizado (Pai – mãe – filhos), e que é o núcleo de outra estrutura maior, regida por leis, solidamente edificada, com um poder constituído e hierarquizado. Que faz parte de outra estrutura maior.... Alice mostra que é possível sair.

https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157627457937538


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Com Alice viajamos por mais de dois meses, éramos oito atores, a iluminadora e um motorista, todo o cenário e figurinos da peça em duas kombis. Nos apresentamos em sete cidades. O Avelãz era então de fato um grupo. O elenco de Alice é até hoje no imaginário de muita gente, inclusive o nosso, o grupo que foi de fato o Avelãz y Avestruz. Ficha Técnica de ALICE - FANTASIA DRAMÁTICA Texto (adaptação de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll), direção, cenário, figurino, cartaz e programa: Marcio Meirelles Direção musical: Antonio Carlos Tavares Iluminação e operaÇão de luz: Rita Matos Preparação de corpo: Luciano Luciani, Elísio Pita e Palhaço Futuca Direção de produção / produção executiva: Eduardo Moraes Elenco: Hebe Alves (Irmã / Aguioto / Lagarta / Rainha) Jerry Faro – substituído por Márcio Meirelles (Porta / Bill / Lacaio-peixe / Chapeleiro) Jorge Santori (Caranguejo / Duquesa / Leirão / Falsa Tartaruga) Fernando Fulco (Dodô / Patt / Lacaio-rã / Jardineiro / Rei de Copas) Maria Eugênia Milet (Alice) Milton Macedo (Coelho Branco / Pato / Gato de Cheshire / Jardineiro) Paulo de Lácio (Rato / Pomba / Cozinheira / Grifo) Sérgio Carvalho (Caranguejola / Cachorro Gigante / Bebê / Valete de Copas / Lebre de Março) Estreia: 10/03 a 30/04/79 Sala do Coro do TCA (SSA – Ba) Temporadas: 17 a 20/05/79 Teatro Carlos Gomes (Vitória – ES) 25 a 27/05/79 Teatro Marília (Belo Horizonte – MG) 31/05 a 01/06/79 Teatro Nacional – Sala Martins Pena (Brasília – DF) 07 e 08/06/79 Teatro Goiania (Goiania – GO) 29 e 30/06 e 01/07/79

https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157629239118762


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Teatro Santa Cecília – 6o Festival de /Inverno de Petrópolis (Petrópolis – RJ) 10 a 22/07/79 Teatro João Caetano (São Paulo – SP) 25/07 a 05/08/79 Teatro Experimental Cacilda Becker (Rio de Janeiro – RJ) Troféu Martim Gonçalves (TV Aratu / Rede Globo) 1979 ESPETÁCULO DIREÇÃO ATRIZ: Maria Eugênia Milet ATOR COADJUVANTE: Jorge Santori ATRIZ COADJUVANTE: Hebe Alves

Depois da viagem de Alice, resolvemos montar Baal, primeira peça de Bertolt Brecht. Para isso mergulhamos profundamente no universo do dramaturgo. Lemos os textos dramáticos e teóricos dele que já tinham sido traduzidos para o português. E, como exercício de um teatro didático, montamos um ensaio de Horácios e Curiácios que apresentamos num evento da Escola de Teatro da Ufba. Ficha técnica de HORÁCIOS E CURIÁCIOS Texto: Bertolt Brecht Tradução: Mário da Silva Direção, espaço cênico e figurino: Marcio Meirelles Elenco: Fernando Fulco, Hebe Alves, Maria Eugênia Milet, Milton Macedo, Sérgio Carvalho e Sergio Guedes Apresentações: 08/12/79 Escola de Teatro da UFBA – Semana de Música e Artes Cênicas (SSA – Ba) 21/12/79 Faculdade de Ciências Humanas /UFBA (SSA – Ba)

https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157627786483759


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OUTROS TRABALHOS EM 1979 CADASTRO Fundação Cultural do Estado da Bahia/Museu de Arte Moderna xx/79 Museu de Arte Moderna (SSA – Ba) “Nessa gestão (de Chico Liberato) o MAM-BA promove a emblemática exposição coletiva Cadastro (1979), para a qual não houve curadoria e seleção: os artistas interessados apenas se cadastravam, informando as fichas técnicas de suas obras. A exposição ocupou o casarão do Solar e contou com trabalhos de artistas de diversos territórios do estado, apresentando um amplo panorama da produção baiana do período. Desde as Bienais da Bahia não acontecia uma mostra com um número tão expressivo de obras e artistas locais. Essa exposição é bastante simbólica no contexto de reabertura da instituição e reflete os sinais de abertura política e de esgotamento da ditadura militar.” https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/26722/1/O%20Museu%20de%20 Arte%20Moderna%20da%20Bahia%20e%20suas%20contemporaneidades_de%20 Lina%20Bo%20Bardi%20a%20Solange%20Farkas.pdf


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Apresentei a obra EROS E THÂNATOS, uma série de desenhos eróticos que foi censurada e não exposta, apesar da chamada ser exatamente para um cadastro e dizia que todos os trabalhos enviados estariam na mostra. Foi um grande mal estar quando atores e atrizes do Avelãz y Avestruz e eu entramos no museu cheio de gente, na abertura da mostra, percorremos todas as salas e não encontramos os desenhos. Pergutei a Chico Liberato o que tinha acontecido e ele me disse que infelizmente não tinha podido expor o material pelo seu conteúdo. Fiz um escândalo, que aumentou quando Geraldo Machado, diretor da Fundação Cultural do Estado, entidade que coordenava o museu, me perguntou o que tinha acontecido e me pediu calma. Pedir calma numa situação dessas pra mim é o estompim de uma explosão violenta. Foi horrível.


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APESAR DE TUDO A TERRA SE MOVE I Curso Livre de Teatro do TCA Textos: Bertolt Brecht (compilação de Cleise Mendes) Direção: Paulo Dourado Direção musical e composição: Antonio Carlos Tavares Coreografia: Conceição Castro Iluminação: Enrico Allata e Haeckel Cenário, figurino e programa: Marcio Meirelles Realização: Teatro Castro Alves Elenco: Caito Lima, Daniel Robson, Gideon Rosa, Gil Gomes, Ho Reyes, João Pereira, Jô Moura, Leonor Motta, Maria Arlete, Nilson Serra, Pirajá, Rita de Cássia, Roberto Werneck, Rosane Santiago, Rosely Arouk, Sátiro Costa, Weltma Estreia: 18 a 28/10/79 Teatro Castro Alves (SSA – Ba) PORQUE O GIGANTE AZUL CHORA Texto: Ilo Krugli Direção: Maria Idalina Direção Musical: Tom Tavares Cenografia e figurino: Gilson Nascimento Coreografia : Marta Saback Iluminação: Enrico Allata Cartaz/programa: Marcio Meirelles Direção de produção: Carmem Maristela Elenco: Afonso César, Antônio César, Guido Lima, Fernanda Junqueira Ayres, Raquel Peixoto, Roberto Nose e as crianças: Adriana da Motta, Fabiana Varela, Fernanda Torres, Honorato Smetak, Juliana Teixeira, Klebver Benício, Márcia Nascimento, Milena Ortins, Naira Ortins, Rakmus Benício e Uibitú Smetak Instrumentistas: Asa Branca, Beca e Edu Nascimento Estreia: Xx/10/79 Teatro Castro Alves (SSA – Ba) Troféu Martim Gonçalves (TV Aratu / Rede Globo) 1979/80: DIREÇÃO DE ESPETÁCULO INFANTIL


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FOTOBAHIA – 79 Exposição coletiva de 74 fotógrafos, entre os quais: Adenor Gondim, Aristides Alves, Arlete Soares, Claude Santos, (Mario) Cravo (Neto), David Glat, Isabel Gouveia, Jamison Pedra, Juarez Paraíso, Juca Gonçalves, Juraci Dórea, Marcio Meirelles, Marcos Maciel, Rino Marconi, Sérgio Rabnovitz, Silvio Robatto e Tomaz Neto. Coordenação: Aristides Alves Exposição: 13 a 25/11/79 Foyer do Teatro Castro Alves (SSA – Ba) DELEGACIA REGIONAL DO TRABALHO Registro como Artista e Técnico em Espetáculos e Diversões, na função de diretor, ator, cenógrafo e figurinista, sob o n° 96 fl. 48 V livro competente 01, conforme processo ORT n° 05925/79. 22/05/79 CARNAVAL MEMBRO DA EQUIPE JULGADORA DO DESFILE DAS ENTIDADES, NO CRITÉRIO EFEITO DE CONJUNTO 16/02/79 (SSA – Ba)


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GOVERNANTES 61oo prefeito: Mário Kertész. Aliança Renovadora Nacional (arena) 1979 a 1981 39o governador: Antônio Carlos Magalhães . Partido Democrático Social (pds) 1979 a 1983 30o João Figueiredo . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1979 a 1985

Um boeing da Transbrasil caiu em Florianópolis, causando a morte de 54 pessoas. O papa João Paulo II visitou o Brasil pela primeira vez, ficando doze dias no país. O Congresso Nacional aprovou por unanimidade a Emenda Constitucional que restabeleceu as eleições diretas para os governadores dos estados e do distrito federal. Glauber Rocha lança A Idade da Terra, e é mal recebido em Veneza e no Brasil.


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AVELÃZ Y AVESTRUZ – ANO CINCO Baal, a poesia cruel de Brecht Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de agosto de 1980 no jornal Estado do Paraná. Numa semana repleta de atrações, a temporada de Baal (miniauditório Glauco Flores de Sá Brito, 21,30 horas, até dia 17, ingressos a Cr$100,00) merece especial atenção. De principio por se tratar de um texto de Bertolt Brecht (Augsburg, 10 de fevereiro de 1898 Berlim Oriental, 14 de agosto de 1956), que estará justamente em cartaz, no 24o aniversário da morte do mais importante dramaturgo de nosso século. Mas Baal é também uma peça significativa por trazer a Curitiba o trabalho de um grupo de vanguarda, com propósitos novos e que há bastante tempo desenvolve trabalho da maior repercussão em Salvador: o Avelãz y Avestruz. Dirigido por Marcio Meirelles, também responsável pela iluminação, cenário e figurino, o Avelãz y Avestruz busca uma linguagem direta, polêmica em suas encenações e ao se decidir pela montagem da primeira das peças escritas por Brecht (que teve sua estréia em Leipzig, em 1923), ao que consta, nunca antes montada no Brasil. Márcio buscou dar uma atualidade às ideias que o ainda jovem e inexperiente Brecht, já colocava em seu texto. Não se trata de uma peça de fácil consumo. É um espetáculo rico em efeitos simbólicos, que exige do elenco - Sérgio Martins, Fernando Fulco, Hebes Alves da Silva, Maria Eugenia, Milton Macedo, Paulo de Lácio e Sérgio Carvalho - extraordinário desempenho. Cada personagem tem múltiplas implicações e Marcio, em sua direção, buscou extrair as potencialidades de cada ator/atriz. Utilizando o jogo claro/escuro, com longos silêncios, Baal pode surpreender quem não esteja acostumado com uma linguagem de teatro não convencional. Mas assim como uma escalada a uma montanha compensa o cansaço pelo panorama que permite dela vislumbrar, também o entendimento de Baal, em suas várias propostas, é altamente gratificante a


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quem sabe estimular o bom teatro. Há alguns meses, quando vimos Baal em Salvador, sentimos a garra deste espetáculo, a seriedade de seus realizadores e intérpretes. A temporada que agora fazem em Curitiba é significativa em vários aspectos, especialmente por permitir que os jovens que também se propõe a uma renovação do teatro e que tanto tem falado a respeito conheçam o que Márcio Meirelles e seus colegas vêm fazendo. No momento em que José Maria Santos, presidente da Associação dos Produtores e Empresários Teatrais do Estado do Paraná, promove na Casa do Jornalista um seminário para discussão de problema da classe, é oportuno também conhecer e debater propostas novas, idéias bem-fundamentadas, como a que o grupo Avelãz y Avestruz apresenta. Na mesma semana em que temos também em cartaz em outros auditórios do Guaíra, uma experiência de fundir a música e o texto em Diário de Bordo (auditório Salvador de Ferrante 18,30 horas), uma revista de fundo político (Rio de Cabo a Rabo, auditório Salvador de Ferrante, 21,30 horas) e o balé O Último Trem, música de Milton Nascimento, roteiro de Fernando Brant, coreografia e direção geral de Oscar Araiz, com o grupo Corpo de Belo Horizonte. De Salvador, do Rio, de Minas, chegam propostas artísticas que devem ser vistas, estimuladas, discutidas... XXX Fernando Peixoto, ex-Teatro Oficina, ator, diretor e escritor, autor de um didático estudo sobre “Brecht, Vida e Obra” ( José Álvaro Editor S/A, 281 páginas, 1968), conta que embora Baal seja a primeira peça de Brecht, em 1918 ele já havia anunciado ao romancista Lion Feuchtwanger que tinha feito um outro texto, Spartakus, sobre um soldado que volta da guerra e se envolve na revolução (temática que retornaria em 1920, em Tambores na Noite), Baal nasceu de uma aposta: irritado com a visão idealista e sentimental de “O Solitário” de Hans Johst (que, mais tarde, seria um dos escritores mais destacados do nazismo), Brecht apostou com seu antigo companheiro de escola, George Pfanzelt,


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que escreveria em quatro dias uma peça superior sobre o mesmo assunto. O tema de Johst era a vida do poeta Grabbe. Brecht vira a peça de Johst pelo avesso, torce as cenas para sua visão de mundo. Escreve o que Bernard Dort chama de “biografia de um expressionista sem ilusões. Um atestado de óbito”. Mergulhando a fundo na estrutura do teatro expressionista, rompe com os últimos exteriores do romantismo alemão. A aposta já foi uma atitude que Brecht voltaria a repetir muitas vezes em sua vida: a criação não é menos livre, nem limitada, pelo fato de partir de um modelo pré-existente. A criação pode nascer justamente do debate. A peça de Johst foi um objeto de reflexão para Brecht partir para uma obra profundamente pessoal, autobiográfica em muitos sentidos, bastante individualista, mas ao mesmo tempo reflexo de toda uma geração destruída espiritualmente pela violência de uma guerra estúpida e de uma revolução fracassada, desesperadamente voltada para o ataque anárquico e desenfreado contra todas as instituições preconceitos que sobreviveram à guerra. Baal não é ainda uma peça política mas tem um significado evidentemente político na medida em que é uma agressão brutal aos valores da sociedade burguesa. É verdade que o melhor teatro expressionista também foi antiburguês, mas em nenhuma obra da época os valores da sociedade foram negados e contestados com tanta violência e tanto sarcasmo. E ao mesmo tempo que destrói tudo, Baal é um gigantesco hino à vida, à liberdade anárquica, individual, à poética e poderosa celebração do culto aos instintos mais primitivos, à natureza. Em determinado momento, o personagem-título (baseado, segundo Brecht, num poeta que realmente existiu), grita: “Temos que libertar o animal”. A peça, estruturada livremente, diversas cenas sem ligação imediata, acompanhando a trajetória (permanentemente envolvida em bebida, mulheres, mortes, suicídios, assassinatos, homossexualismo, poesia e canções) do personagem, inclui muitas baladas nos cafés e bares noturnos). A própria estrutura da peça, em si, é uma espécie de balada da revolta, do desespero, da solidão, do sexo, da vida e da morte. Dos poemas-baladas que Brecht inclui


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um Baal o mais conhecido certamente é o do jovem que se afoga envolvida em algas (“os peixes frios nadavam no meio de suas pernas/ e plantas e animais ainda a incomodavam/ em sua última viagem/e então ela entrou em decomposição no rio/que já estava cheio de corpos decompostos) mas sem dúvida o mais surpreendentemente agressivo é o elogiado à privada. Aliás, no cenário, uma privada ocupa um lugar de destaque. “É um lugar onde nos sentimos bem Tendo acima as estrelas, abaixo os excrementos. Um lugar simplesmente maravilhoso onde Mesmo na noite de casamento é possível estar só. Um lugar de humildade, onde você descobre nitidamente Que não passa de um homem que nada pode conservar. Um lugar de sabedoria, onde voce pode preparar. A barriga para novos prazeres”. XXX Definida por um crítico como balada do nihilismo, Baal é sobretudo seu personagem: um novo deus pagão, rebelde, indiferente à existencia ou à ausencia de Deus, com receio das crianças, apenas achando que não se deve ser muito preguiçoso, senão não há prazer, que é preciso ser forte porque o prazer e o gozo nos enfraquecem, sempre livre, sempre sem sentido, embriagado de álcool ou de poesia, homossexual, irreverente, produto que uma sociedade que ele condena, que ele refuta com sua liberdade, às vezes mesmo com sua ternura.Uma vítima que percorre os campos em busca de alguma solução, que termina morrendo como um cachorro, rastejando, buscando ar, claridade, solidariedade, calor humano. Com razão, Fernando Peixoto acentuou que Baal é a poesia da podridão, fruto típico de uma época podre. Na época que fez a peça final da segunda década deste século, Brecht ainda não tinha consciência política clara. Escrevia em transe e mais tarde afirmaria: “Reconheço e advirto: falta clarividencia nesta peça. Mas o que mais sobra na peça é poesia, nas situações, nas cenas, na linguagem dos personagens, na força das imagens. Talvez seja o texto de teatro mais poético de toda a obra de Brecht. E o per-


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sonagem título, este anti-herói, tão distante dos personagens expressionistas, numa peça que é uma denúncia do idealismo como visão do mundo, é uma marginal desesperado que: “Eu luto até o fim com unhas e dentes. Quero viver até o fim, mesmo que seja sem pele”. E que apesar de assassino é capaz de um amor imenso: “Profanei cadaveres duas vezes porque tu tinhas que ficar limpo. Preciso disso. Não tive nenhum prazer juro”. Quando estreou, há 57 anos passados, em Leipzig, Baal causou grande escândalo pois é ao mesmo tempo a história de uma liberdade individualista e a consequente história de uma solidão trágica. XXX A temporada do grupo Avelãs y Avestruz será de dez dias. Tempo para que se discuta a sua proposta, se conheça esta peça diferente na obra de Brecht, um autor falecido há 26 anos passados e que se mantém com imensa atualidade, em tudo que disse e escreveu.

https://www.millarch.org/artigo/baal-poesia-cruel-de-brecht


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BAAL Texto: Bertolt Brecht Avelãz y avestruz Tradução (do inglês e do espanhol), direção, cenário, figurino e cartaz: Marcio Meirelles Música e direção musical: Tom Tavares Preparação corporal e coreografias (não usadas): Luciano Lucciani Elenco: Fernando Fulco (Baal), Hebe Alves, Jorge Santori (substituindo Sérgio Carvalho), Maria Eugênia Milet, Milton Macedo, Sérgio Carvalho e Sergio Guedes Estreia: 24/04/80 a 01/06/80 Sala do Coro do tca (ssa – ba) 07 a 17/08/80 Miniauditório Glauco Flores De Sá Brito Do Teatro Guaira (Curitiba – PN) 20 a 31/08/80 Teatro Cacilda Becker (Rio de Janeiro – RJ) Troféu Martim Gonçalves (TV Aratu / Rede Globo) 1980 Ator: Fernando Fulco Cartaz Indicações para o Troféu Martim Gonçalves Ator coadjuvante: Jorge Santori Atriz coadjuvante: Hebe Alves

fotos de Baal: https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157625114982175


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DEPOIMENTO VERDADE DO AVELÃZ Y AVESTRUZ – COOPERATIVA 1° Fórum Nacional de Teatro / Festival de Arte da Bahia 80 / Forum João Augusto Tema: Técnicas regionais de criação e produção - Nordeste Expositores: Luís Marfuz, Márcio Meirelles e Eduardo Cabus Texto do depoimento: Avelãz y Avestruz Coordenação do festival: Ernst Widmer Coordenação do fórum: Armindo Bião Realização Departamento de Música e Artes Cênicas da UFBA 11/08/80 Teatro Gregório de Mattos (SSA – Ba)

OUTROS TRABALHOS EM 1980 DESMEMÓRIAS Textos: Cleise Mendes, Guido Guerra e Aninha Franco Direção: Deolindo Checucci Cenário, figurino e cartaz: Marcio Meirelles Elenco: Frieda Guttman, Harildo Deda, Nilson Mendes e Paula Martins Estreia: Xx/xx/80 Sala do Coro do TCA (SSA – Ba) Troféu Martim Gonçalves (TV Aratu / Rede Globo) 1980/81 ESPETÁCULO ATRIZ COADJUVANTE: Frieda Gutmann FIGURINO CENOGRAFIA CARTAZ


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A TERCEIRA MARGEM II Curso Livre de Teatro do TCA Roteiro e adaptação: Cleise Mendes e Paulo Dourado (compilação de autores latino americanos) Cenário, figurino e maquiagem: Marcio Meirelles Direção e iluminação: Paulo Dourado Coreografia: Conceição Castro Realização: Teatro Castro Alves Elenco: Antônio Metereó, Cacau Carvalho, Cleise Mendes (substituindo Suzana Outeiral no Projeto Mambembão) Chico Ribeiro, Denise Duarte, Eduarda Uzeda, Gideon Rosa, Iara Maria, Josélia Ribeiro, Márcia Schmalb, Paulo Davi, Raimundo Porto e Suzana Outeiral Estreia: 26/10/80 Sala do Coro do TCA (SSA – Ba) 03 a 08/02/81 Teatro Experimental Cacilda Becker – Projeto Mambembão (Rio de Janeiro – RJ) 10 a 15/02/81 Teatro Eugênio Kusnet – Projeto Mambembão (São Paulo – SP) Xx/02/81 Teatro Galpão (Brasília – DF) MERAS OBSERVAÇÕES DE UM PRÍNCIPE LILÁS De Aninha Franco Capa e ilustrações: Marcio Meirelles Edição: Fundação Cultural do Estado da Bahia/Prêmio Nestor Duarte Lançamento: 14/02/80 Museu de Arte Moderna - Solar do Unhão (SSA – Ba)


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GOVERNANTES 61o prefeito: Mário Kertész. Aliança Renovadora Nacional . (arena) 1979 a novembro de 1981 62o prefeito: Renan Baleeiro . Partido Democrático Social (pds) Novembro de 1981 a 1983 39o governador: Antônio Carlos Magalhães . Partido Democrático Social (pds) 1979 a 1983 30o presidente: João Figueiredo . Aliança Renovadora Nacional . (arena) 1979 a 1985 Luiz Inácio Lula da Silva e outros sindicalistas foram condenados a três anos de prisão por incitamento à desordem coletiva. Duas bombas explodiram no Riocentro, no Rio de Janeiro, durante um show comemorativo do Dia do Trabalhador, matando o sargento e ferindo o capitão do exército brasileiro quando se preparavam para executar o atentado. Com tela de 5 polegadas e pesando 12 kg, o primeiro modelo de notebook foi inventado por Adam Osborne. Glauber viaja para Paris e depois Portugal.Define-se como “sebastianista” e apocalíptico. Vive em Sintra – “um belo lugar pra morrer” – quando adoece de uma “pericardite viral”. Volta ao Brasil em estado grave. Morre no dia 22 de agosto e é velado no Parque Lage, cenário de Terra Em Transe e de Macunaima, de Joaquim Pedro de Andrade, em meio a grande comoção e exaltação num evento carnavalizado.


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AVELÃZ Y AVESTRUZ – ANO SEIS SALOMÉ Avelãz y Avestruz e Grupo Experimental de Dança da UFBa Roteiro (com Lia Robatto) direção teatral, texto (adaptação e colagem de textos de Oscar Wilde – Salomé, Stephane Mallarmè – Herodíade, Apocalipse, Livro de Isaias e textos de alquimistas) e figurino (com J. Cunha): Marcio Meirelles Músicas: Danças Medievais, Fachos de luz (Walter Smetack) Cantos (criação coletiva dos atores) Pavana e Galharda (P. Phalèse) e Dança de Salomé (Lindemberg Cardoso) Proposta cênica, roteiro e direção coreográfica: Lia Robatto Assistente de direção coreográfica: Carla Leite Iluminação: Enrico Alata Cartaz e fotos: Silvio Robatto Produção: Paulo Conde e Liana Bruno Realização: Grupo Experimental de Dança da UFBa Elenco: Avelãz y Avestruz – Fernando Fulco (Yokanaam), Hebe Alves (Herodíade) Maria Eugênia Milet (Salomé) Sérgio Carvalho (Anjo da Morte) e Sérgio Guedes (pianista) Grupo Experimental de Dança da UFBa: Beth Rangel, Carla Leite, Daniela Stasi, Dionísio Conceição Filho, Elísio Pita, Eurico dos Santos, Fátima Leonardo, Fernando Passos (Herodes), Iracema Cersósimo, Luiz C. Manequim, Márcia de Carvalho, Macalé, Mariza Queiroz, Tereza de Oliveira, Convidados: Raimundo Porto e Wilson D’Argolo Quarteto de Cordas da Bahia: Piero Bastianelli, Salomão Rabinovitz, Salomon Zlotnik e Tatiana Onnis Orquestra Sinfônica da UFBa: Piero Bastianelli (regente) Clóvis R. de Carvalho, Francisco Assis, Fernando Santos, Fernando Mascarenhas, Jaime Ledezma Bradley, Luis Brito, Luiz Moreira e Oscar Dourado Atabaquistas: Bernardo dos Santos e Edson Alves de Almeida Grupo Anticália: Bárbara Vasconcelos, Conceição Perrone, Cristina Tourinho, Cândida Lobão, Renata Becker e Selma Alban Estreia: 14 a 25/01/81


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Museu de Arte Sacra / Convento de Santa Tereza (SSA – Ba) Indicações para o Troféu Martim Gonçalves ESPETÁCULO ATOR: Fernando Fulco

fotos de Salomé: https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157624380019308 1ª EXPOSIÇÃO BRASILEIRA DE CARTAZES DE TEATRO Exposição coletiva de cartazes de teatro. Curadoria: Ailton Silva Participação com três cartazes: Rapunzel, Fausto e Baal Realização: Fundação Cultural de Curitiba (PN) Inauguração: 16/07/81 Solar do Barão (Curitiba – PR) O PAI Avelãz y Avestruz Roteiro, colagem do texto, direção, cenário, figurino, fotos, cartaz e programa: Marcio Meirelles Texto: August Strindberg Composição e direção musical: Antônio Carlos Tavares Assistência de direção: Márcia Schmalb Direção de produção: Paulo Conde Projeto do barco e painéis: Chico Mazzoni Preparação de corpo: Carla Leite e Fernando Passos Preparação de voz: Hebe Alves Laboratórios de análise de texto: Cleise Mendes Elenco: Avelãz y Avestruz: Chica Carelli (Berta) Fernando Fulco (Adolf / Dr.Ostermark / Nöjd) Hebe Alves (Margret), Maria Eugênia Milet (Laura) Paulo David (Adolf / Dr.Ostermark / Jonas) e Sérgio Carvalho (Adolf / Dr.Ostermark) Grupo Anticália: Bárbara Vasconcelos, Conceição Perrone, Cristina


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Tourinho, Cândida Lobão, Renata Becker e Selma Alban Pré estreia: 17/06/81 (5 anos de Avelãz y Avestruz, com exposição de fotos de Beg Euremberg) Teatro Castro Alves (SSA – Ba) 18 a 22/06/81 Teatro Castro Alves (SSA – Ba) 20 a 30/08/81 Teatro Santo Antônio (SSA – Ba) 20 a 25/10/81 (II Painel de Teatro do TCA) Teatro Castro Alves (SSA – Ba) Indicações para o Troféu Martim Gonçalves CENÁRIO ATRIZ COADJUVANTE: Hebe Alves ATOR COADJUVANTE: Paulo David REVELAÇÃO: Chica Carelli

LINK PARA ISSUU RAPUNZEL Avelãz y Avestruz Roteiro, direção, cenário, figurino, adereços, cartaz e programa: Marcio Meirelles Texto: Marcio Meirelles (roteiro) e Cleise Mendes (versos) Assistente de direção: Henrique Jesuíno Coreografia: Carla Leite Produção executiva: Tereza Neiva Elenco: Avelãz y Avestruz: Chica Carelli (Mãe e coro), Fernando Fulco (Pai e coro), Hebe Alves (Bruxa), Marcia Schmalb (Rainha e coro), Maria Eugênia Milet (Rapunzel), Rogério Menezes (Rei e coro), Romeu Rezende (Cavalo do Príncipe e coro) e Sérgio de Carvalho (Príncipe e coro) Grupo Anticália: Bárbara Vasconcelos, Conceição Perrone, Cristina Tourinho, Cândida Lobão, Renata Becker e Selma Alban Estréia: 12/10/81 Teatro Castro Alves (SSA – Ba) Outubro/81


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Bairros, orfanatos e hospitais de Salvador (SSA – Ba) 20 a 25/10/81 (II Painel de Teatro do TCA) Teatro Castro Alves (SSA – Ba) Troféu Martim Gonçalves (TV Aratu / Rede Globo) 1980 DIREÇÃO DE ESPETÁCULO INFANTIL ATRIZ COADJUVANTE DE ESPETÁCULO INFANTIL: Chica Carelli FIGURINO DE ESPETÁCULO INFANTIL Indicações para o Troféu Martim Gonçalves – espetáculo infantil ESPETÁCULO INFANTIL ATRIZ DE ESPETÁCULO INFANTIL: Maria Eugênia Milet ATOR DE ESPETÁCULO INFANTIL: Fernando Fulco

https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157627580404480 https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157627889176248 https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157627538696121 OFICINA DO AVELÃZ Y AVESTRUZ Outubro de 81 Teatro Castro Alves (SSA – Ba)


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OUTROS TRABALHOS EM 1981 UBU REI – EFEMÉRIDES PATAFÍSICAS III Curso Livre de Teatro do TCA Texto: Alfred Jarry Adaptação, direção, direção musical e iluminação: Paulo Dourado Cenário, figurino e cartaz: Marcio Meirelles Produção executiva: Eduardo Gomes Coreografia: Marlene Andrade Elenco: Adalberto Santos, Ana Morales, Charles Debeffe, Cid Macedo, Conceição Lima, Eduardo Gomes, Eliane Rodrigues, Geraldo Seara, Hirton Fernandes, Iami Rebouças, Jocélia Souza, Júlio Queiroz, Lílian Rocha, Lucília Menezes, Meran Muniz (Vargens), Nei Alves, Milton Castro, Pio Lima, Sérgio Ramos, Valter Fonseca Realização: Teatro Castro Alves Estréia: 20 a 31/11/81 Sala do Coro do TCA (SSA – Ba) CON-TACTO Balé Teatro Castro Alves Música: Ernst Widmer (Mobile e Quinteto) Coreografia: Lia Robato (com a contribuição criativa dos dançarinos) Cenário e figurino: Marcio Meirelles Assistente de coreografia: Ariane Asscherick Direção de cena: Irma Vidal Iluminação: Enrico Allata Direção do BTCA: Antônio Carlos Cardoso Elenco: Anna Paula Drehmer, Armando Pequeno, Augusto Omolu, Dionísio Filho, Edna Queiroz, Eurico de Jesus, Evandro Macedo, Giovanni Luquini, Iracema Cersósimo, Ivete Ramos, Jane Vasconcelos, Konstanze Mello, Maria Freitas, Paulo Fonseca, Roberval Sant’Ana e Verônica Fonseca Realização: Fundação Cultural do Estado da Bahia/TCA Estreia: Xx/08/81 Teatro Castro Alves (SSA – Ba)


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KIUÁ Grupo Experimental de Dança da Universidade Federal da Bahia Proposta cênica, roteiro e direção coreográfica: Beth Rangel Composição e direção musical: Sérgio Souto Cenário e figurino: Marcio Meirelles Realização: Grupo Experimental de Dança da UFBa. Elenco: Carla Leite, Christina Telles, Eliane Araújo, Luís Carlos Manequim, Márcia de Carvalho, Monique Valente, Ricardo de Carvalho, Roberto Neves e Tereza Oliveira. Apresentações: 12 a 16/08/81 Teatro do ICBA (SSA – Ba) Xx/01/82 Teatro Tereza Rachel - Rio de Janeiro RJ.

https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157642519915783 OUR TOWN Texto: Thornton Wilder Direção: Décio Torres Cruz Cenário figurino e cartaz: Marcio Meirelles Realização: Drama Club da EBEC Estreia : 10 e 11/11/81 Teatro Vila Velha (SSA – Ba) SEIS PERSONAGENS À PROCURA DE UM AUTOR Texto: Luigi Pirandello Direção: Harildo Deda Cenário: Sonia Rangel Figurino e maquiagem: Marcio Meirelles Iluminação: Íside Carvalho Produção executiva: Jorge Gáspari Realização: Escola de Música e Artes Cênicas da


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Universidade Federal da Bahia Elenco: Aloísio Andrade, Antônio Marcelino, Carlos Petrovich, Cleise Mendes, Edlo Mendes, Eliza Mendes, Eloína Lima, Henrique Andrade, Gil Gomes, Irema, Ivana Pavlova, Jorge Gáspari, Mário Gadelha, Nilda Spencer, Paulo Cunha, Pedro Karr, Raimundo Porto, Ronaldo Braga, Tito Iriarte e Yumara Rodrigues Estreia: 09/07 a 02/08/81 Teatro Santo Antônio (SSA – Ba) Indicações para o Troféu Martim Gonçalves FIGURINO RATEU E GATINHETA Livro Autora: Ana Maria Pedreira Franco de Castro (Aninha Franco) Ilustrações: Marcio Meirelles Programação visual: Washington Falcão e Willeford Leão Figurino: Ney Galvão Edição: Fundação Cultural do Estado da Bahia 1981 Salvador COMO UM QUADRO DE MONET Artigo In: ART 003 – REVISTA DA ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS Editor: Paulo Lima Edição da Universidade Federal da Bahia Outubro/dezembro/1981 Salvador/BA


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COMO UM QUADRO DE MONET Falar sobre o ano que passou fica muito difícil porque o ano já passou. E captar um momento que já não é mais fica como fazer história, o que não é bem o meu papel neste palco. Posso falar da impressão que me causou este ano ao passar. Foi como uma impressão de sol se levantando. Uma impressão de recomeço, de retomada. De repente surge uma nova onda formada de cabeças, coroas, idéias, desejos com a clara intenção de retomar o que sempre lhe pertenceu. De resgatar da poltrona em frente à televisão um público que também lhe pertence. Durante anos o teatro baiano (com raras e honrosas exceções) lutou desesperadamente para afastar o público de suas salas. Uma luta sistemática expressa por uma falta de teatralidade absoluta. Uma falta de amor, de cuidado, de desvelo em revelar as emoções num palco. E de repente o salto. De repente, não. Foi um salto preparado, arquitetado com artimanhas de poeta. Exatamente no ano do sol. Depois da fase lunar de recolhimento e morte. Esperou-se este ano como se tivesse sido marcado em um calendário qualquer, em todas as agendas. E foi-se preparando o público, foi-se anunciando o susto, como que para não

matar. A visão do absoluto é fulminante. E assim: uma montagem aqui, outra ali. Foi-se antecipando o que viria. Porque só uma montagem por ano não justifica a ida de ninguém ao teatro. Ninguém bebe leite se tem que beber dez copos para poder saborear um só que valha a pena. É preciso uma constância nesta satisfação. E foi-se pouco a pouco armando esta constância de qualidade nos palcos e, consequentemente, pouco a pouco, meio receoso, meio duvidando, o público vai retomando seu lugar nas cadeiras em frente ou ao redor do espetáculo. É admirável a quantidade de bons atores se movimentando, se agrupando e, pelo menos aparentemente, tendo como única meta o trabalho e a qualidade deste trabalho. O prazer que se tem em fazer uma coisa bem feita, em ser impecável, norteia esse bando de gente que foi surgindo, saindo da toca, subindo num palco e ocupando seu devido lugar. Não se pode falar numa linguagem única, a não ser que se chame de linguagem esse comportamento, esta retomada. É talvez uma língua que a gente descobre fascinado que não fala sozinho, e se encontra cumplicemente no olho do outro a mesma faísca que incendeia. Encontra-se no gesto do outro, no modo de dizer certas palavras, a mesma potência a um tempo divina e demoníaca que desencadeia a revolução.


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E a gente vê atores, grandes atores, que quase já não acreditavam mais. Não, isso não é verdade: um grande ator não deixa de acreditar nunca. Mas a gente vê atores que já estavam cansados de acreditar, esgotados na espera, quase descarregados de energia, retomarem as máscaras, tirarem as máscaras, reassumirem titanicamente suas estaturas, redescobrirem a alegria de fazer. Deixar de se envolver na amargura de não conseguir e marchar. Porque o teatro é como uma bomba que o ator carrega na mão e a felicidade é uma arma quente, disparada no alvo certo. E se ele não detona, se não consegue detonar esta arma e incendiarse e aos outros ele não faz teatro. E ator que não faz teatro é como nada. Isso amarga. E o público só deseja ser explodido. Sentar-se ali na semiproteção do escuro de sua cadeira e deixar-se bombardear. E se o ator, diretor, cenógrafo, figurinista, músico, dançarino, e todos os responsáveis por este bombardeio deixam que ele saia ileso, permitem que ele não tenha o prazer de morrer e renascer, ele se frustra e não volta. O ano que passou foi como um rebombardeamento de platéias. A impressão de um sol se levantando. Márcio Meirelles ART. 003, Salvador: 61 - 88, out./dez. 1981 pgs 75 a 77


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GOVERNANTES 62o prefeito: Renan Baleeiro . Partido Democrático Social (pds) 1981 a 1983 39o governador: Antônio Carlos Magalhães . Partido Democrático Social (pds) 1979 a 1983 30o presidente: João Figueiredo . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1979 a 1985

O Tribunal Superior Eleitoral concedeu o registro definitivo ao Partido dos Trabalhadores por unanimidade de votos. Os candidatos a governador do estado de São Paulo, Franco Montoro, do PMDB, e Reinaldo de Barros, do PDS, realizaram o primeiro debate na televisão após a suspensão da proibição imposta pela Lei Falcão. Foram realizadas as eleições diretas para governadores, senadores, prefeitos, deputados federais e deputados estaduais. Acidente aéreo. Um avião da Vasp chocou-se com a Serra da Aratanha, Ceará, matando todos os 137 ocupantes, o maior acidente aéreo da história da aviação brasileira até 2006. A maior hidrelétrica do mundo foi inaugurada: Itaipu. Foram presos 91 membros do Partido Comunista Brasileiro por participarem do sétimo congresso do partido, em São Paulo.


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AVELÃZ Y AVESTRUZ – ANO SETE Matilde Matos se associou ao Avelãz para criar um centro cultural alternativo. Uma casa na Rua da Paciência, no Rio Vermelho, foi reformada e ocupada por muita imaginação e criações. Era a sede do grupo, mas também de muitos coletivos e artistas independentes. Era um ponto de encontro para gente de teatro de Salvador e do mundo. Helena Ignez retornou aos palcos, lá, Ítala Nandi lançou seu filme In Vino Veritas, grupos latino americanos, de outras partes do Brasil e locais se apresentaram. Foi onde se formou a Charanga Lítero-Musical Amigos de Pagú, o braço mais irreverente, anárquico, do Avelãz y Avestruz, em homenagem ao teatro, a fazer intervenções, no Hotel Meridien, durante a entrega do Prêmio Martim Gonçalves; e em bares, nas ruas, em eventos artísticos, performances no Teatro Castro Alves, durante a Oficina Nacional de Dança Contemporânea e, por fim, fazendo peças infantis. A aventura durou um ano, aproximadamente. Ano intenso.


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A FÁBRICA Centro cultural Criação, conceito, administração e programação: Marcio Meirelles Janeiro a novembro/1982 Rua da Paciência, 70 – Rio Vermelho (SSA – Ba) CHARANGA LÍTERO-MUSICAL AMIGOS DE PAGU Ações performáticas de interferência urbana Avelãz y Avestruz Propostas, roteiros e direção UMA NOITE LUNÁTICA Festa performática 18/01/82 Singapura Danceteria (SSA – Ba) ENTREGA DO TROFÉU MARTIN GONÇALVES DE 1981 Performance interferência 15/02/82 Hotel Meridien (SSA – Ba) O SILÊNCIO POSSÍVEL Oficina de teatro Ministrante: Marcio Meirlles Carga horária: 24 horas Turma 1 – Início: 15/03/82 Turma 2 – Início: 29/03/82 A Fábrica EXPOSIÇÃO DE FOTOS, FIGURINOS E CARTAZES DO AVELÃZ Y AVESTRUZ Performance na inauguração em comemoração ao Dia Mundial do Teatro 27/03/82 A Fábrica


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O PALHAÇO VAI À VERBA Performance no centro da cidade com o Grupo Abracadabra (Rio – RJ) Leitura da Carta Aberta ao Prefeito 15/04/82 Praça Municipal (SSA – Ba) TUPI OR NOT TUPI Comemoração ao dia do índio em colaboração com o ANAÍ - Ba. 19/04/82 Campo Grande e A Fábrica (SSA – Ba) II ENCONTRO DE LITERATURA EMERGENTE Exposição/performance com a Charanga Lítero Musical Amigos de Pagu apresentando A CONFERÊNCIA Expositor, proposta, roteiro e direção: Mrcio Meirelles Mesa: Literatura e outras formas de arte Debatedores: Cleise Mendes, Florisvaldo Mattos, Juracy Dórea e Myrian Fraga Realização: FUNCEB / UFBA 19 a 21/05/82 Instituto de Letras (SSA – Ba) A CONFERÊNCIA Interferência no II Encontro de Literatura Emergente – FCEBa durante o debate: “Literatura e outras formas de Arte” 21/05/82 Instituto de Letras da UFBA – (SSA – Ba) 28 a 30/05/82 A Fábrica

Fotos da Charanga Lítero Musical Amigos de Pagu: https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157629552523181


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FEBRIL SÃO JOÃO FABRIL São João dos Artistas 26/06/81 A Fábrica UNE BARQUE SUR L’OCÉAN Dança/performance Roteiro, direção, figurino (com o grupo) e luz: Marcio Meirelles Música: Ravel Coreografia: coletiva Elenco: Avelãz y Avestruz (Hebe Alves, Chica Carelli, Maria Eugênia Milet e Fernando Fulco), Grupo Tran Chan (Beth Grebler) Mary Weinstein, Pola Ribeiro, José Araripe Jr., Antônio José da Motta Leal, Norm, Getúlio, Domingos André e outros. Oficina Nacional de Dança Contemporânea Apresentação: 23/07//82 Teatro Castro Alves (SSA – Ba)

Fotos d’Une Barque sur l’Ocean: https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157627393736947 FANTÁSTICOS EPISÓDIOS DA VIDA ÍNTIMA DE FERNANDO E ANA Avelãz y Avestruz Texto: Franz Xavier Kroetz Tradução: grupo de tradutores do Instituto Goethe/Curitiba Direção, cenário e figurino: Marcio Meirelles Direção musical: Tom Tavares Video: Equipe técnica ICBA Produção executiva: Eduardo Gomes Produção: Instituto Goethe/Salvador Elenco: Chica Carelli, Lucília Menezes e Meran Vargens (Ana); André Torreta, Eduardo Gomes e Fernando Fulco (Fernando) Estreia: 28/08 a 12/09/82 Teatro do ICBA (SSA – Ba)

Fotos de Fantásticos episódios...: https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157627393736947


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MACBETH Avelãz y Avestruz Texto: William Shakespeare Traduções: Geir Campos e Nelson Araújo Direção, cenário, figurino, fotos, cartaz/programa: Marcio Meirelles Composição e direção musical: Tom Tavares Preparação de Corpo: Betty Grebler e Carla Leite Preparação de voz: Hebe Alves Análise de texto: Cleise Mendes Produção executiva: Eduardo Gomes, Póla Ribeiro, André Torretta, Célia Bandeira e José Araripe Planejamento e produção gráfica: Araripe e Pola Ribeiro Divulgação: Wilson Andrade Elenco: Afonso César (Macduf e coro) André Torreta (Porteiro, Filho de Macduf e coro) Carla Leite (Lady Macduf e coro) Chica Carelli (Feiticeira e coro) Célia Bandeira (Lady Macbeth) Domingos André (Malcolm e coro) Ely Brand (Porteiro e coro) Maria Eugênia Milet (Espíritos) Eduardo Gomes (Banquo e coro) Fernando Fulco (Macbeth) José Araripe Jr (Assassino e coro) Mary Weistein (Feiticeira e coro) Marilda Santana (Feiticeira e coro) e Pola Ribeiro (Rei Duncan e coro) Lançamento: 25/09/82 Castelo da Torre de Garcia D’Ávila (Praia do Forte – Ba) Estreia: 02 e 03/10/82 Teatro Guaira (Curitiba – PN) 21 a 26/10/82 Teatro Castro Alves (SSA – Ba) Troféu Martim Gonçalves (TV Aratu / Rede Globo) 1983 FIGURINO

Fotos de Macbeth.: https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157627670395804 https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157627819302464


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OUTROS TRABALHOS EM 1982 DECAMERÃO IV Curso Livre de Teatro do TCA Texto: Cleise Mendes (a partir de Bocaccio) Direção: Luiz Marfuz Cenografia e Figurino: Gilson Rodrigues Iluminação: Marcio Meirelles Elenco: Agê Habib, Bia Mendes, Cláudia Az, Cláudio Marcelo, Dailton Araújo, Ditmar Schwuwarzeimuller, Dora Prat, Eleonora Ramos, Filinto Coelho, Hilton Cobra, Jaciara Vieira, Lino Costa, Jorge Sá Côrtes, Lelo Filho, Lia Correia, Koryne Gama, Márcia Carvalho, Moacir Moreno, Nélia Carvalho, Paulo Menezes, Rita Alves, Teomar Rios, Vera Violeta, Yulo Mandarino. Participação especial das crianças: Joana Fialho e Laila Garin. Estreia: 24/11 a 19/12/1982 Sala do Coro do TCA (SSA – Ba) Indicações para o Troféu Martim Gonçalves DIREÇÃO CENÁRIO FIGURINO ATOR COADJUVANTE: Hilton Cobra REVELAÇÃO: Filinto Coelho O INSPETOR GERAL Grupo Troca de Segredos em Geral Texto: Nicolai Gogol Adaptação, direção e sonoplastia: Paulo Conde Cenário e figurino (com o troca de segredos em geral) e cartaz/programa: Marcio Meirelles Iluminação: Edmundo vieira Produção executiva: Paulo Conde, João Elias e Cláudio [Caco] Monteiro Fotos: Ophicina (Paulo e Sérgio Mastrange) Elenco: Arly Arnaud, Cláudio [Caco] Monteiro, Edmundo Vieira, Heitor Guerra, João Elias, Margareth Menezes, Tereza Araújo


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Estreia: setembro e outubro/1982 Sala do Coro do TCA (SSA – Ba) 1982/1983 Bairros do subúrbio de Salvador e Cidades do Interior Janeiro/1983 Circo Troca de Segredos (SSA – Ba) Indicações para o Troféu Martim Gonçalves ESPETÁCULO DIREÇÃO ATOR: Caco Monteiro O ESPELHO Pessoal d’Ubu Texto: Paulo Dourado (adaptação de contos de Edgard Allan Poe) Direção: Pessoal d”Ubu Cenário: Manoel Carvalho e Floriano Freaza Figurino: Marcio Meirelles Coreografia: Betty Grebler Música: Marcus Roriz Elenco: ngela Fialho, Beto Santos, Jocélio Telles, Marcos Roriz (músico) Meran Vargens, Nei Alves, Sérgio Ramos e Valter Fonseca Temporada: dezembro/82 Teatro do ICBA (SSA – Ba) Troféu Martim Gonçalves (TV Aratu / Rede Globo) 1983 FIGURINO LA TRAVIATA ALBA (Associação Lírica da Bahia) Direção geral: Pino Onnis Direção de cena: Nilson Mendes Coreografia: Maria Betânia dos Guaranis Direção de arte: Marcio Meirelles


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Figurino: Maria Eugênia Milet Cenário: Chico Mazzoni Iluminação: Enrico Alatta e Íside Tavares Elenco: Mirian Moldes Fontal (Violetta), Nicola D’Augello (Alfredo), Luciano Fiúza e Fernando Oliveira (Jorge), Walter Boaventura (D’Obigny), Mariza Jambeiro (Flora), Edna Oliveira (Annina) Adoniram Cunha (Dottor Duphol), Paulo Gondim (Gaspone), Miguel Huertas (Giuseppe) Jaime Ledezma (comissionário) Jesus Vivas e Marco Bahia (criados) e coro da ALBA Orquestra Sinfônica da UFBA Regência: Pino Onnis Estreia: 03 e 05/12/82 Teatro Castro Alves (SSA – Ba) OFICINA DE INTERPRETAÇÃO I Encontro Integrado de Teatro da Bahia Fundação Cultural do Estado da Bahia Aluno Professor: Harildo Deda 08 a 12/09/82 (40 horas) Espaço X (SSA – Ba) OFICINA DE INTERPRETAÇÃO: II ETAPA Aluno Professor: Harildo Deda 16 a 27/11/82 A Fábrica (SSA – Ba)


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GOVERNANTES 62o prefeito: Renan Baleeiro . Partido Democrático Social (pds) 1981 a 1983 63o prefeito: Manoel Castro . Partido Democrático Social (pds) 1983 a 1985 39o governador: Antônio Carlos Magalhães . Partido Democrático Social (pds) 1979 a 1983 40o governador: João Durval Carneiro . Partido Democrático Social (pds) 1983 a 1987 30o presidente: João Figueiredo . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1979 a 1985 Abertura política: Tomaram posse os primeiros 22 governadores eleitos por voto direto após o golpe militar de 1964. Após um coma de 28 dias, morreu a cantora Clara Nunes. A criação da Central Única dos Trabalhadores foi aprovada pelo 1° Congresso Nacional da Classe Trabalhadora,realizado em São Bernardo do Campo, em São Paulo. A Taça Jules Rimet, conquistada pela Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo de 1970, foi roubada da sede da Confederação Brasileira de Futebol.


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AVELÃZ Y AVESTRUZ – ANO OITO BÃOBALALÃO Teatro infantil Charanga Lítero Musical Amigos de Pagu Texto (colagem de textos de Manoel Bandeira, Cecília Meireles, Caetano Veloso e outros), direção, cenário, figurino e cartaz: Marcio Meirelles Produção executiva: Caco Monteiro e Tereza Oliveira Realização: Circo Troca de Segredos Elenco: André Torreta, Caco Monteiro, Chica Carelli, Lucília Menezes, Márcia Schmalb, Rai Alves e Tereza Oliveira Músicos: Eduardo Torres (violão), Ivan Huol (bateria), Tota (flauta) Estreia: 08 a 23/10/83 Circo Troca de Segredos (SSA – Ba) 15, 18, 20 e 22/10/83 Iguatemi (SSA – Ba) outubro/83 Escolas públicas de Salvador (SSA – Ba) Troféu Martim Gonçalves (TV Aratu / Rede Globo) 1984 ESPETÁCULO INFANTIL FIGURINO DE ESPETÁCULO INFANTIL Indicações aoTroféu Martim Gonçalves ATRIZ COADJUVANTE: Lucília Menezes e Márcia Schmalb DIREÇÃO: Marcio Meirelles

Fotos de Bão Balalão: https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157629610644999 SIMUN Texto: August Strindberg Tradução: Cacá Rossett e Luís Roberto Galízia Direção, cenário, figurino, luz, cartaz e postal: Marcio Meirelles Assistência de direção: Arany Santana Música e direção musical: Tom Tavares Administração de produção: Jorge Gaspari


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Realização: Avelãz y Avestruz/ Departamento de Teatro da Escola de Música e Artes Cênicas – UFBA Elenco: Fernando Fulco (Youssef), Harildo Deda (Guinard) e Maria Eugênia Milet (Briska) e Alfredo Moura, Ana Nossa, Bárbara Suzarte, Edyara de Moraes Santana, Carlo de Paula, Hirton Fernandes Jr, Lilian Graça, Joran Macedo e Orlanita Ribeiro (Coro) Músicos: Grupo Anticália: Bárbara Vasconcelos (flauta doce), Cândida Lobão (violoncelo) e Romeu Rezende (percussão); e Celso Aguiar (oboé). Estreia: 06 a 23/10/83 Teatro Santo Antônio (SSA – Ba)

Fotos de Simun: https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157627456106179 FALA COMIGO DOCE COMO A CHUVA Texto: Tennessee Williams Direção: Chica Carelli Direção musical: Sérgio Souto Cenário, figurino e luz: Marcio Meirelles Orientação: Harildo Deda Cartaz: Chico Mazzoni Elenco: Andréa Daltro (Cantora), André Becker (Flautista), Caco Monteiro (Mendigo), Fernando Fulco (Homem) e Maria Eugênia Milet (Mulher) Realização: Avelãz y Avestruz e Departamento de Teatro da Escola de Música e Artes Cênicas/UFBA Estreia: 03 a 13/11/83 Teatro Santo Antônio (SSA – Ba)

Fotos de Fala Comigo Doce Como a Chuva: https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157719601923568


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...E SOBRE O ASSASSINATO Dança/performance Avelãz y Avestruz, Tran Chan e outros grupos e artistas convidados Roteiro, direção, figurino (com os grupos) e luz: Marcio Meirelles Coreografia: coletiva Elenco: Avelãz y Avestruz, Bety Grebbler, Teatro da Encruzilhada, Dança de Tudo e outros Oficina Nacional de Dança Contemporânea Apresentação: 07/11/83 Teatro Castro Alves (SSA – Ba)


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OUTROS TRABALHOS EM 1983 A MAIS FORTE Texto: August Strindberg Direção, cenário, figurino, luz e cartaz/programa: Marcio Meirelles Assistente de direção: Wilson Andrade Elenco: Alice Becker (Senhora Y), Bety Grebler (garçonete), Eduardo Torres (pianista) e Yumara Rodrigues (Senhora X) Produção: Yumara Rodrigues Estreia: 21/03 a 10/04/83 Foyer do Teatro Castro Alves (SSA – Ba) 1° a 12/02/84 Sala do Coro do TCA (SSA – Ba)

Fotos de A Mais Forte: https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157719656930940 REGRAS DO JOGO Exposição Colagens 21/03 a 10/04/83 Foyer do Teatro Castro Alves (SSA – Ba) EM CENA: O VISUAL, O SONORO E O RACIONAL Oficina Oficina Nacional de Dança Contemporânea Orientador: Marcio Meirelles Realização: novembro/83 Teatro Castro Alves (SSA – Ba)


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SERTANIA Grupo Viravolta Música: Ernst Widmer (Sertania – Sinfonía do Sertão OP 138) Concepção, direção, roteiro: Lia Robatto Coreografia: Lia Robato (com a participação do elenco) Assistente de direção: Márcia Carvalho Figurino e adereços: Marcio Meirelles Iluminação: Enrico Allatta e equipe do TCA Cartaz e fotografia: Sílvio Robatto Elenco: Alice Becker, Cristina Castro, Dionisius Filho, Edmar Soares, Edson Bispo, Ernane Santos, Gal Villas Boas, Gisela Rocha, Jocenice Conceição, Leo Reis, Luigi Escobar, Marcos Moura, Rita Brandi, Sonia Gonçalves, Ticiana Garrido e Yaciara Marques Participação: ngela Bandeira e Bule Bule (cantador) Orquestra Sinfônica da Bahia: Regente: Érick Vasconcelos Solistas: Adriana Lys (canto) e Leonardo Boccia (violão) Realização: Fundação Cultural do Estado da Bahia Estreia: 17 a 20/11/83 Teatro Castro Alves (SSA – Ba) 24/11/83 Teatro Cultura Artística (São Paulo – SP) 24 a 27/11/83

Fotos de Sertania: https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157631373930400


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A MORTA Texto: Oswald de Andrade Direção: Walter Seixas Jr. Cenário, figurino, caracterização e cartaz: Marcio Meirelles Trabalho de corpo e movimento: Iranto Quadros Direção de produção: Walter Seixas Produção executiva: Bertrand Duarte e Luiz Portugal Realização: Grupo Teatrampo Elenco: ngela Ribeiro, Bertrand Duarte, Dedé Rebouças, Ednéas Santos, Fátima Barreto, Fátima Brito, Frieda Gutmann, Gesney Braga, Iranto Quadros, José Carlos Torres e Moacir Moreno Estreia: 16/11 a 04/12/83 Teatro do ICBA (SSA – Ba) Indicações ao Troféu Martim Gonçalves ATRIZ: Fátima Barreto POBRE ASSASSINO Texto: Pavel Kohout Direção: Harildo Deda Cenário: Sonia Rangel Figurino: Marcio Meirelles Iluminação: Íside Carvalho Elenco: Américo Motta (pianista) Amilcar Barros, Carlos Nascimento, Carlos Petrovich, Chantal Limay, Cleise Mendes, Hebe Alves, Hirton Fernandes Junior, Humberto Dias, Jorge Gaspari, José Reynaldo, Raquel Pradho e Wilson Mello Realização: Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia Estreia: 20/08 a 25/09/83 Teatro Santo Antônio (SSA – Ba) Indicações ao Troféu Martim Gonçalves ATOR Coadjuvante: Jorge Gaspari ATOR: Carlos Nascimento CENOGRAFIA


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DIREÇÃO ESPETÁCULO O SANTO INQUÉRITO Texto: Dias Gomes Direção: Fernando Guerreiro Cenário, figurino e cartaz: Marcio Meirelles Realização: Novoângulo Elenco: André Torreta, João Sá, José Carlos Torres, Maurício Pinheiro, Milton Gaúcho, Narcival Rubens e Regina Lúcia (Branca Dias) Estreia: 23/03 a 03/04/83 Teatro Maria Bethânia (SSA – Ba) OS MISTÉRIOS DO SEXO Texto: Coelho Neto Direção: Manoel Lopes Pontes Cenário e figurino: Marcio Meirelles Sonoplastia: Adelaide Amorim Coreografia: Mary Weinstein Programação visual: Henrique Passos Produção: Angélica Lopes Pontes Produção executiva: Walter Seixas Patrocínio: Fundação Cultural do Estado da Bahia (Prêmio Elenco: Anita Bueno, Bertrand Duarte (Eufêmia), Ednéas Santos, Fátima Barreto, Fernando Neves, Gesney Braga, Thelma Rios e Yumara Rodrigues Estreia: 05 a 28/08/83 Teatro Vila Velha (SSA – Ba) CABARÉ DAS ILUSÕES V Curso Livre de Teatro do TCA Texto: Cleise Mendes / colagem de Dorotéia, Viúva porém honesta e Álbum de família, de NelsonRodrigues Direção: Luiz Marfuz


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Cenário e figurino: Marcio Meirelles Coreografia: Beth Rangel Elenco: Amália Couto, Diana Brandão, Helga Mara, Frank Menezes, Gisele Machado, Kita Veloso, Lelo Filho, Mara Volmer, Mariângela Nogueira, Meire Moreno, Miro Paternostro, Ricardo Bittencourt e Sueli Oliveira. Músicos: Bira Reis (percussão) e Eduardo Torres (piano) Realização: Fundação Cultural do Estado da Bahia/Teatro Castro Alves Estreia: 22/11/83 Sala do Coro/TCA (SSA – Ba) Indicações ao Troféu Martim Gonçalves FIGURINO REVELAÇÃO: Ricardo Bittencourt ATOR COADJUVANTE: Miro Paternostro ATIZ COADJUVANTE: Diana Brandão e Gisele Machado VISITA AOS ESTADOS UNIDOS International Visitor Program – USIA Visita de intercâmbio para conhecer grupos, entidades e pessoas do teatro americano. Cidades visitadas: Wahington, D.C., Nova York, Los Angeles, San Francisco, Chicago, Filadélfia 13/04 a 23/05/83 FOTOBAHIA – 83 Fotos Exposição coletiva de 82 fotógrafos, entre os quais: Adenor Gondim, Aristides Alves, Bauer Sá, Célia Aguiar, Claude Santos, Maria Sampaio, David Glat, Juarez Paraíso, Juca Gonçalves, Juraci Dórea, Rino Marconi, e Tomaz Neto. Realização: Grupo de Fotógrafos da Bahia Exposição: 16/08 a 04/09/83 Foyer do Teatro Castro Alves (SSA – Ba)


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II SEMINÁRIO INTEGRADO DE TEATRO DA BAHIA Fundação Cultural do Estado da Bahia Conferencista 18 A 25/09/83 Teatro Vila Velha e Teatro Santo Antônio (SSA – Ba) BLEFF Bar e danceteria de Aninha Franco e Rita Assemani Programação visual, design de móveis e pintura de painéis 1983 Rio Vermelho (SSA – Ba)


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GOVERNANTES 63o prefeito: Manoel Castro . Partido Democrático Social (pds) 1983 a 1985 40o governador: João Durval Carneiro . Partido Democrático Social (pds) 1983 a 1987 30o presidente: João Figueiredo . Aliança Renovadora Nacional (arena) 1979 a 1985

A explosão de um duto da Petrobras matou 508 pessoas na Favela Vila Socó, em São Paulo. O Sambódromo da cidade do Rio de Janeiro, com projeto de Oscar Niemayer foi inaugurado com o desfile de escolas de samba. Mesmo após grande mobilização da sociedade, a emenda Dante de Oliveira, que previa as eleições diretas para presidente da República, foi rejeitada pela Câmara dos Deputados. Joaquim Cruz ganhou a medalha de ouro nos 800 metros, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles.


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AVELÃZ Y AVESTRUZ – ANO NOVE E INTERVALO O Avelãz teve vários fins e nenhum. Em cada final de espetáculo ou projeto o grupo acabou. Em cada novo projeto, renasceu. Fala comigo... foi o último assinado, como Avelãz y Avestruz. Ainda fizemos, como Charanga, o Concurso da Rainha do Carnaval, contratados pela Bahiatursa e mais um infantil. O Concurso contava a história do carnaval na Bahia, dos bailes brancos nos palacetes e clubs burgueses, com árias de óperas e tudo o mais, e entrudos negros nas ruas da cidade, à grande celebração dionisíaca que se tornou o carnaval de rua em Salvador. O figurino era todo branco, cinza e prata e foi usado depois pelo Balé Teatro Castro Alves, acrescentado de mais alguns trajes, no Boi no Telhado, de Lia Robatto/Darius Milhaud, três meses depois. CONCURSO RAINHA DO CARNAVAL Performance Charanga Lítero-Musical Amigos de Pagu Direção, roteiro, cenário e figurino: Marcio Meirelles Elenco: Andréa Daltro, André Torreta, Arani Santana, Bertrand Duarte, Chica Carelli, Eduardo Torres, Fernando Fulco, Márcia Schmalb, Marilda Santana, Martha Santos, Meran Vargens e Milton Macedo Apresentação: Harildo Deda e Nilza Barude Participação: Oficina de Frevos e Dobrados, maestro Fred Dantas Realização: Bahiatursa Apresentação: 16/02/84 Ginásio Antônio Balbino (SSA – BA)

Retomamos nossa pesquisa de teatro de revista infantil com poemas, canções, três elementos do grupo “oficial” (Chica, Hebe e Paulo David), outros que já tinham feito espetáculos conosco e músicos parceiros de vários outros projetos.


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TEM CARDUME NO MEU AQUÁRIO Charanga Lítero Musical Amigos de Pagu Roteiro, texto (colagem), direção, cenário, figurino e projeto gráfico: Marcio Meirelles Músicas: Eduardo Torres, Maria Eugênia Milet e Tom Tavares Letras: David Durval, Lewis Carroll, Luis Marfuz e Myrian Fraga Elenco: André Torreta, Chica Carelli, Eduardo Torres (piano), Hebe Alves, Ivan Huol (bateria), Márcia Schmalb, Miro Paternostro, Paulo David e Tota (flauta) Estreia: 12/05 a 10/06/84 Circo Troca de Segredos (SSA – Ba) Troféu Martim Gonçalves (TV Aratu / Rede Globo) 1985 ATRIZ COADJUVANTE DE ESPETÁCULO INFANTIL: Chica Carelli ATOR COADJUVANTE DE ESPETÁCULO INFANTIL: André Torreta Indicações para o Troféu Martim Gonçalves ESPETÁCULO DIREÇÃO FIGURINO ATRIZ COADJUVANTE DE ESPETÁCULO INFANTIL: Márcia Schmalb

Fotos de Tem Cardume no Meu Aquário: https://www.flickr.com/photos/marciomeirelles/albums/72157629610225883 INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO TEATRO NA BAHIA Curso Palestrante Tema: O grupo Avelãz y Avestruz Professor do curso: Nelson Araújo Coordenador dos cursos de teatro: Ewald Hackler Realização: Fundação Cultural do Estado da Bahia / Teatro Castro Alves 22/10/84 Teatro Castro Alves (SSA – Ba)


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OUTROS TRABALHOS EM 1984 FANNY C Pessoal d’Ubu Texto: Pessoal d’Ubu, criação coletiva inspirado no poema de Iderval Miranda Direção: Walter Fonseca Vice direção: Meran Vargens Cenário, figurino e cartaz/programa: Marcio Meirelles Iluminação: Paulo Dourado Elenco: Atilano Munhoz, Beto Santos, Júlio Queiroz, Lindy Cruz, Meran Vargens, Nei Alves e Selma Santos Músicos: Ivan, Heron e Tavinho Estreia: 16/03 a 08/04/84 Sala do Coro do TCA (SSA – Ba) Indicação para o Troféu Martim Gonçalves ATRIZ COADJUVANTE: Selma Santos REVISTA ILUSTRADA – 1984 Roteiro, texto (colagem), direção, cenário, figurino e projeto gráfico: Marcio Meirelles Música e Direção Musical: Ivan Bastos Produção: Lúcia Grisi Produção executiva: Moacir Moreno Realização: Aquarius – Escola de Expressão Artística Elenco: Atores convidados – Hilton Cobra, Lelo Filho, Moacir Moreno, Odávia Oliveira e Sandra Loureiro Dançarinos convidados – Ana Baldini, Bel Cunha, Carlos Crispim, Conceição Santos, Edvaldo Mascarenhas, Edvana Burgos e Paulo Lázaro Elenco da Aquarius – Alfredo Duarte Neto, Carlos Alberto, Denise Gonçalves, Lorival (professores) e 42 alunos Músicos: Andréa Daltro (voz), Eduardo Torres (piano), Geraldo Guima (violino), Ivan Bastos (violoncelo), Jeová Nascimento (sax) e Rogério Laborda (violino)


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Flores do Mal: Fredy Luedy (vocal), Heyder (guitarra), Paquito (guitarra e vocal) e Tony Moreno (bateria) Estreia: 28/11/84 Teatro Castro Alves (SSA – Ba) 30/11 a 2/12/84 Teatro Solar Boa Vista (SSA – Ba) O BOI NO TELHADO Balé Teatro Castro Alves Música: Darius Milhaud Concepção, roteiro e direção: Lia Robatto Coreografia: Lia Robato (com a participação do elenco) Figurino e adereços: Marcio Meirelles Iluminação: Enrico Allata e Lia Robatto Elenco: Ájax Viana, ngela Bandeira, Anna Paula Drehmer, Augusto Ololu, China, Déa Rocha, Dino Oliveira, Eliana Pedroso, Eurico de Jesus, Evandro Macedo, Flexa II, Gilberto Baixote, Iracema Cersósimo, Ivete Ramos, Konstanze Mello, Lícia Morais, Lílian Bittencourt, Maria Freitas, Maurício Marques, Nair Couto, Paulo Fonseca e Pedro Paulo Participação: Orquestra Sinfônica da Bahia Estreia: 17 A 19/05/84 Teatro Castro Alves (SSA – Ba) CRIAÇÃO DO MUNDO Balé Teatro Castro Alves Música: Darius Milhaud Concepção, roteiro e direção: Lia Robatto Coreografia: Lia Robato (com a participação do elenco) Figurino e adereços: Marcio Meirelles Iluminação: Enrico Allata e Lia Robatto Elenco: Ájax Viana, ngela Bandeira, Anna Paula Drehmer, Augusto Ololu, China, Déa Rocha, Dino Oliveira, Eliana Pedroso, Eurico de Jesus, Evandro Macedo, Flexa II, Gilberto Baixote, Iracema Cersósimo, Ivete Ramos, Konstanze Mello, Lícia Morais, Lílian Bittencourt, Maria Freitas, Maurício


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Marques, Nair Couto, Paulo Fonseca e Pedro Paulo Estréia: 1° e 02/09/84 Teatro Santa Isabel (Abertura do II Ciclo de Dança do Recife) – PE 13 a 15/09/84 Teatro Castro Alves (SSA – Ba) POPEYE, O MISTÉRIO DA ILHA Texto: José Reynaldo Direção: José Reynaldo Cenário: Gesney Braga Figurino: Marcio Meirelles Direção de produção e sonoplastia: José Reynaldo Assistente de produção: Moacir Moreno Cartaz e Programa: Gesney Braga Divulgação: Rocha Meirelles Elenco: Gésney Braga, Lívia Pedro, Moacir Moreno e Rocha Meirelles Estreia: abril/84 Circo Troca de Segredos (SSA – Ba) 19/05 a 10/07/84 Teatro Vila Velha (SSA – Ba)

Aceitei o convite para escrever, no jornal A TARDE, uma coluna semanal intitulada TEATRO e o fiz, paradoxalmente, por que tinha e tenho muita dificuldade de escrever. É sempre um parto. O texto tem que ser construído inicialmente em minha cabeça, para ganhar o papel. Até isso acontecer há todo um processo de diálogos, teses e antíteses, formas e conteúdos borbulhando internamente até gerar uma síntese. Daí posso começar a escrever. Com o compromisso de escrever uma coluna por semana, me obrigava a um exercício constante. Podia contribuir também de outra forma com o teatro, divulgando, refletindo, apontando coisas novas e coisas velhas já meio esquecidas. Além das colunas, comecei a propor pautas e a fazer entrevistas e reportagens sobre


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artes cênicas. A que mais me gratificou foi a que fiz com um dos maiores atores que conheci: João Gama. Passei a escrever de 14/01/1984 até 11/01/1986. Torneime colunista e jornalista colaborador, registrado como tal, pela Delegacia Regional do Trabalho, sob o n° 58, fls. 29 V livro competente 01, conforme processo ORT n° 24150 – 002029/84, em 11/04/1984 Abri a primeira coluna que escrevi com a proposta e o conceito do que faria e fiz por exatos dois anos menos três dias, até ir para Nova York com uma bolsa de aperfeiçoamento na Circle Repertory Company:


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A TARDE – TEATRO Salvador, 14/01/1984 Marcio Meirelles Ano Velho – Ano Novo O convite para escrever esta coluna, primeiro me espantou um pouco pela diferença que há entre fazer teatro e escrever sobre. Mas logo tornou-se uma idéia interessante: a tentativa de pensar teatro, racionalizar e objetivar este pensamento em palavras e possibilidades de com isso escrever uma ponte entre o espetáculo e o público, levando a classe produtora e consumidora a reflexões mais constantes sobre o fato teatral, não deixa de ser uma pretensão fascinante. UM RÁPIDO VIRAR D’OLHOS SOBRE O ANO QUE PASSOU O grande acontecimento como proposta e prática foi o Teatro da Encruzilhada. Toda sexta-feira às cinco e meia da tarde, os transeuntes e motoristas, que dirigem para os lados Canela – Reitoria, colégios Maristas e São Paulo – tinham a grata ou incômoda satisfação de se verem envolvidos por um engarrafamento provocado pelos atores deste evento. O Teatro da Encruzilhada ganhava a rua e se expandia por limites muito mais amplos do que o acidente geografico urbano

que lhe emprestou o nome. Ganhava a dimensão da celebração, do despacho (de encruzilhada), do rito teatral por cima dos carros e do asfalto, provocando uma crise real onde, por um minuto, não se percebia o que estava acontecendo até que se pudesse ver e ouvir o pessoal transformando em ação asssuntos do dia – FMI, Malvinas, punks etc. Concordando ou não com eles, com o que dizem e com o que faziam, os espectadores – como pretendiam Artaud e Brecht – seguiam seus caminhos transformados e pensados. O grande trabalho foi O Pobre Assassino. Montagem de Harildo Deda, pelo Departamento de Teatro da Escola de Música e Artes Cênicas da UFBa. Num espetáculo razoavelmente longo (em que conta o tempo?), para nossas mentes tornadas ansiosas pelos bombardeamentos informáticos, o texto de Pavel Kohout nos foi apresentado com direção segura e competente – Harildo realmente em sua arte um mestre. E, da mesma estatura que a direção e o texto (terrível rede de sutis armadilhas, num discurso louco a respeito da loucura), a interpretação dos atores nos deu momentos antológicos. A volta de Carlos Nascimento aos palcos, de onde esteve afastado como ator desde Fausto, foi uma das coisas mais cheias de brilho deste ano. Como se ele durante todo este tempo


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estivesse re-recolhido ao casulo esperando a hora certa, o personagem certo, num certo espetáculo do diretor perfeito para a sua volta. E voltou – graças a Deus! Outro grande evento foi o surgimento de uma nova diretora: Francisca Alice Carelli. Não foi assim como uma geração espontânea, não, foi um longo aprendizado como atriz, como aluna da Escola de Teatro, como atenta observadora. Chica inventou um espetáculo a partir de um texto curto de Tennessee Williams: Fala Comigo Doce Como a Chuva. E o Avelãz y Avestruz e o teatro ganharam um novo diretor, melhor que isso: diretora. Esse espetáculo de graduação foi uma pequena jóia de apenas 25 minutos (em que conta o tempo para uma obra de arte? Não se mede a qualidade de um livro pelo seu número de páginas). Uma perfeita harmonia entre o que se via e ouvia: os atores, o cenário, a música funcionavam como um bloco harmônico, um grande “outdoor” da nossa atual condição de animais solitários e imaginários. Maria Eugênia Milet, Fernado Fulco, Claudio Monteiro, Andréa Daltro e André Denovaro beiravam a perfeição. E o sucesso de público da peça EQUUS, de Peter Shaffer, dirigida por Fernando Guerreiro. Um fenômeno grato para o nosso teatro onde, às vezes, ainda, a plateia é escassa. Seguramente muitas outras coisas aconteceram, também dignas de nota e de louvor. Preferi assinalar apenas estas. E também o fato de que o nosso teatro tão múltiplo em experiências e estilos vai se enriquecendo cada vez mais com o aparecimento de novos diretores e, principalmente com o movimento do teatro amador e o de periferia que apontam caminhos novos e insuspeitados para nossa dramaturgia e encenação. (...)


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O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.


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apoio financeiro


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