TEXTOS-GESTOS-MOVIMENTOS

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oficina LABORATÓRIO DE ESCRITA CRIATIVA E

PERFORMATIVA

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Textos-Gestos -Movimentos

oficina LABORATÓRIO DE ESCRITA CRIATIVA

E PERFORMATIVA conduzida por MÔNICA SANTANA

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salvador, 5 de fevereiro de 2023

O Teatro Vila Velha há 35 anos vem realizando o Vila Verão, projeto que, durante os meses de Janeiro e Fevereiro, apresenta uma programação que envolve espetáculos, eventos culturais e atividades de formação no campo das artes e performatividades.

primeiro domingo de Fevereiro, reunindo no Passeio Público e nas dependências do Vila, atividades de teatro, música, audiovisual, canto, dança e performance, porque todo processo artístico desemboca inevitavelmente no contato com o público.

A parte das Oficinas Vila Verão

- neste ano se 2023, curadas e gerenciadas por Chica

Carelli - culminam sempre em apresentações, geralmente no

Este ano a oficina Laboratório de Escrita Criativa e Performativa, coordenada por Mônica Santana, resultou em um audiobook e um ebook, que você terá a possibilidade de acompanhar nas próximas páginas.

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escrita criativa e performativa

Durante quatro manhãs do verão intenso de Salvador, 11 pessoas das mais variadas trajetórias profissionais e experiências artísticas se encontraram para escrever. Sobretudo, foram encontros para desbloquear medos com relação à escrita, desfazer crenças arraigadas e principalmente encorajar o ato criativo e o compartilhamento de suas produções. A Oficina de Escrita Criativa e Performativa objetiva pensar a escrita como ato, como gesto que brota no corpo, uma intervenção sobre o mundo, um movimento. Nas

manhãs de trabalho, as pessoas participantes receberam uma série de estímulos disparadores para a produção escritapráticas cronometradas, derivas e exercícios de observaçãomas sobretudo conectaram o ato de escrever com o próprio corpo, entendendo a escrita como extensão desse corpo e suas experiências.

Nestes textos, você leitor, leitora, se aproximará dessas criações: que partiram de sonhos, rezas, memórias, aspirações, passeios, ficções, observações, meditações, livre fluxo de

consciência, tomadas de posição diante do mundo.

Também é possível acessar esses textos em formato de áudios em outras plataformas - ouvindo as autoras e os autores nas suas próprias vozes (o texto escrito por Breno Carvalho foi lido por Mônica Santana).

Seja bem vinda, bem vindo, aos textos e gestos de Alberto Abreu, Arthur Strauch, Breno Carvalho, Jonathan Rodrigues Silva, Júlia Batista, Luane Souto, Osvan Costa, Samuel Lopes, Suellen Magalhães.

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Mônica Santana

é dramaturga e atriz. Literatura. Comunicação. Registros visuais. Doutora em Artes Cênicas PPGACUFBA. Certificado em Estudos Afrolatinoamericanos.

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Na garganta da noite”, de Alberto de Abreu, é uma criação sombria e tropical, o texto tateia entre o frio do medo e o calor da noite para contar um solitário desespero.

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Na Garganta da Noite, de Alberto Abreu

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Meu Deus, cadê os viciados em crack, quando a gente precisa deles?

Não acreditei, não quis acreditar, mas a hora chegou. Fama, Fortuna, sexo, dinheiro. Era para ser só uma brincadeira. A gente se reúne em círculo, acende as velas, despeja sangue, canta os cânticos, diz as palavras e pede, pede tudo. Tudo que o mundo faz a gente deseja. Paga com a alma. E quem é que tem a alma hoje em dia, caralho?

Minha voz - aquela voz - tinha proclamado um sopro gelado, que veio da mata: “Daqui a 10 anos, quando nenhuma outra alma estiver em tua presença, tu terás o teu resgate”. Eu me esqueci, apaguei da mente, estava muito ocupado com o sexo, o sucesso, a fama. Agora dá para ouvir uma onda, um vagalhão em um trem gritando no escuro, vindo na minha direção. E eu sozinho numa calçada deserta, nenhum ladrão, nenhum sem teto, nenhum usuário de drogas, nenhuma prostituta, ninguém

deitando um ébo na esquina. Estou só e a garganta da noite vai me engolir.

E aí vem um silvo. Meu coração dispara porque o ouvido pensa que é um caminhão de lixo que vai aparecer com as luzes piscando e o mecanismo trabalhando. E garis, garis! Estou salvo! Disparo correndo pela rua, procurando o veículo, quase gritando de alívio. Mas não tem nada. Só esse silvo agudo cortando a madrugada. No meio de um estrondo que não para. Que gosto de condenação na boca, eu vou cambaleando. Tremendo pela rua. As árvores estão ofegando, o chão está borbulhando, os postes estão amolecendo. A noite está tão quente que está tudo suando lá. E eu me sinto no fim de um túnel, um túnel saindo de profundezas que minha mente não alcança. Um túnel, caminho de uma inteligência maligna em ebulição que vem em chamas me destruir.

Então tudo gira, eu troco os pés. Me arrebentou no chão. Sem fôlego. Sem fala, paralisado. Meus restos, eu sei que vou encontrar, derretidos na sarjeta.

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na garganta da noite

Alberto Abreu

iniciou sua formação de ator no XXVII° Curso Livre de Teatro da UFBA em 2012, performando e criando cenas desde então.

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“Cidade-corrente e os construtores de ruínas”, de Artur Strauch, discute a cidade como espaço habitável a partir do estímulo da observação do entorno urbano no Passeio Público. Uma reflexão sobre abandono e preservação.

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Cidade-corrente e os construtores de ruínas, de Artur Strauch

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Você já tentou desenhar uma corrente?

Atentando-se a liga por liga. Um processo repetitivo, obstinado, imerso em suas continuidades. Ao desenhar uma cidade, também reconhecemos diversas continuidades: cerca sequenciada protegendo prédios prolongados verticalmente. Os fios dos postes, o asfalto rasgado pelos carros ferozes e a calçada que guarda os pedestres. Em tudo isso, há continuidades. E, como em qualquer continuidade, uma hora quebra. Se não vira círculo.

Outro dia, entrei em uma casa abandonada e vi suas continuidades se quebrando. Pelo descaso com sua estrutura, anunciavam que logo aquilo ali iria adquirir uma nova função. Ou então, virar nada, terra, demolição. Ninguém constrói uma ruína para ser habitada.

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cidade-corrente e os construtores de ruínas

Artur Strauch

é nascido em 2001, artista visual, arte educador e pesquisador. Vive e produz entre Campinas/SP e Salvador/BA.

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Chama”, de Breno Carvalho, é um pequeno registro apresentado em forma de áudio de WhatsApp. No relato, tem-se uma falante animada (e excitada?) em contar uma pequena fofoca, articulando suas impressões e desejos à história. Lança-se o convite para esta escuta.

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Chama, de Breno Carvalho

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- Bê, você não acredita?

Tava eu aqui passando creme na menina para fazer a depilação - uma cliente que eu já atendo há tempo.

Ela veio me contar de um sonho que teve - surreal! Ela sonhou com um dragão transando com um dinossauro. E ela estava assistindo a cena toda - tipo na beira do Lago do Monstro Ness. Com vapor saindo da água. E nem te conto: ela sonhou com o mesmo dragão que tem tatuado no braço. Eu nunca invejei tanto uma tatuagem, um sonho e um dragão.

O finado - eu já estou chamando ele de finado, viu? Porque, pra mim, ele já está mais morto do que vivo - que nem era tão dragão assim, sumiu de vez e eu tô naquela, viu? Com um sonho desses, eu acordaria suada, elétrica. Nem sei como não queimei a menina, coitada.

E você? Resolveu o seu BO? E teu dragão? Ele tem soltado chama.

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chama

Breno Carvalho

Soteropolitano. Publicitário e antropólogo. Professor do Departamento de Comunicação Social (DECOM) na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

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No batuque do Passeio Público”, de Jonathan Rodrigues, é uma brincadeira entre as percepções do corpo que anda e os batuques de uma aula de percussão no momento da deriva.

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No batuque do Passeio Público, de Jonathan Rodrigues Silva

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no batuque do passeio público

O professor explica o próximo ritmo.

Olho a paisagem ao mesmo tempo que acompanho a batida com a mão e o pescoço. Continuo andando pelo Passeio Público e percebo que hoje não está tão quente aqui em Salvador. Talvez sejam as árvores que dão uma força na sombra. Vários tamanhos, formas, tipos de árvores e corpos sentados, andando, dando aula de percussão.

E 1, 2, 3 e...

O professor faz a contagem para a turma começar a tocar. As batidas me levaram para o café da manhã de hoje, onde conversei sobre música, coração, tambor, chacra. Outra batida

me trouxe de volta ao passeio. Um ebó arriado no pé da árvore. E que árvore, hein? Alta, com caule grosso. Tinha uma parte do tronco recuada, era lá que estava o alguidar com um tecido vermelho, algo em cima e um cheiro forte.

Paracatu, Paracatu, Paracatu, Paracatu, Tuntum, tu, Paracatu, Paracatu.

O som do tambor do mestre corre solto no passeio. Bate fora e dentro de mim. Olho para o céu e os tambores param. Ficou olhando aquele espaço, aquele pedaço de azul entre a copa de duas grandes árvores: o tempo suspende.

Fim do exercício de observação, me despeço da percussão. Hora de voltar para casa.

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Pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá, pá.

Jonathan Rodrigues

é pessoa preta, licenciado em Teatro (UFS – 2015) e pós-graduado como Mestre pelo PPGCULT (UFS - 2020). Vem, ao longo de treze anos, elaborando pesquisa teórico/prática sobre processos de composição cênica com foco no corpo como dispositivo para criação da cena.

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“Sábado”, de Balista, é uma experimentação: uma cena a partir de uma frase de um livro, com a intenção de escrita de minhas referências dramatúrgicas. O resultado (ou ainda o processo dele) é uma cena cotidiana, em toda sua intimidade.

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Sábado, de Júlia Balista

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Quando vi as flores amarelas nas mãos dele,

abrigadas junto ao peito, falei alto:

- Ela vai gostar!

Ele sorriu, cortou a ponta dos caules e cuidadosamente as encaixou na jarra de vidro com água no centro da mesa. Ele disse:

- Eu espero que ela me desculpe.

Fechei a cara, como quem sabe que vai ser preciso mais do que isso. Vesti a saia, o top, ajeitei o cabelo, conferi se estava tudo na bolsa: chave, batom, celular, carteira, bombinha de asma. Só no fim, coloquei a calcinha. Nos abraçamos forte. O cheiro das flores ainda em seu peito. Andei sozinha até a porta, como quem já

conhece o caminho. Olhei para trás e em voz alta:

- Não liga para ela não, Arnaldo. Manda carta, várias com seu perfume, as marcas de batom.

Saí, mas deixei a porta aberta. Arnaldo entendeu o recado. No dia seguinte, eu encontrei na rua. Mãos suadas, testa transpirando, rosto quente. Arnaldo tomou uma decisão e, para minha surpresa, eu não estava mais em seus planos. Arnaldo não entendeu o recado. Tentei argumentar, não adiantou.

Ele queria como se purificar de todo o calor que já sentiu. Perguntei se estava disposto ou preparado para tornar tudo em cinzas. Mas Arnaldo é homem de justiça, só a verdade verdadeira o deixaria em paz. Arnaldo também é homem de atitude. Me pegou pela cintura, afastou meu cabelo da nuca e me deu um último beijo.

Dessa vez falei em voz baixa:

- Ela é uma mulher de sorte.

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sábado

Júlia Balista

é roteirista e diretora, que veio para Salvador estudar sobre cinema e não voltou até hoje. É entusiasta das artes experimentais e teve o curtametragem “Jaqueline” exibido no 18ª Panorama Internacional Coisa de Cinema.

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Onde Está o Mateus?”, de Luane Souto, é o início de uma novela, ou de um romance. É sobre amor. É sobre perdas. Sobre relações que se transformam e “O que fica? O que vai?”. É sobre coragem de amar antes de tudo, a si mesme.

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Onde está o Mateus? de Luane Souto

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29 onde está o mateus?

1970, Caetano Manuel Figueiredo Santtana.

Com 2 “t”, assinou com orgulho seu nome no canto direito daquele cartaz. No meio, desenhou uma árvore enorme com detalhes em cada folha grudada ao tronco.

- Manuel! Despertou com o pai lhe chamando, já estava na hora de ir para a escola.

1972, Caetano Manuel Figueiredo Santanna. Com 2 “n”, dessa vez. Assinou com orgulho seu nome no canto direito daquele quadro, onde pintou a fazenda de seu pai. A paisagem por lá era quase

estática. Olhando pela janela da cozinha, parecia que o tempo havia parado de passar.

- Manuel! Era assim que seu pai lhe chamava. Caetano foi ideia de sua mãe, Matheuzza. Filha de italianos que imigraram em algum momento aqui para esse interior do Brasil. E é em homenagem a ela que nomearam o Mateus. O pai de Caetano era mais pontual que qualquer galo da fazenda: todos os dias, no mesmo horário ele o chamava. Tivesse aula ou não.

1993 Caetano Manuel Figueiredo Santana. Apenas com um “t” e um “n”. Como na certidão de batismo, no certificado do curso de engenharia não cabia pôr um nome artístico.

2022. A voz de seu pai ainda ecoa em suas mãos quando vai

30 onde está o mateus?

assinar uma obra. É muito difícil lembrar a si mesmo todos os dias de que é um artista...

- Caetano! A voz de Matheuzza atravessa a janela.

- Filho, vovó chegou.

Caetano bebe um último gole de café, levanta da mesa ajeitando a bolsa a tiracolo onde guarda, entre mamadeira, chupeta e fraldas extra, a caneta que hoje vai assinar contrato com a Casa de Cultura Brasil Plural e o divórcio com a mãe de seu filho. Pega as chaves apressado

- Ludmila odeia seus atrasosagarra o menino nos braços e sai.

- Onde está o Mateus? Violino toca Beethoven.

- Eu deixei ele com a minha mãe. Não se preocupe.

Caetano se aproxima do muro ao fundo da casa, onde agora só mora Ludmila. Ele empilha algumas latas no muro e entrega a ela um punhado de amêndoas.

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Era assim que eles tinham as conversas sérias, brincando. Sempre foi assim. Se conheciam por serem vizinhos, mas o afeto de quando crianças cresceu, e se transformou junto com a idade. Estendida ali, com um punhado de amêndoas nas mãos, Ludmila, dessa vez, não ousava arremessar. Ela sabia que essa era a última vez que teria a chance de acertar.

- Vai passar a vez?

- Não! Disse ela, apressada. Mirou na lata prateada de adesivo vermelho, arremessou a amêndoa na direção do muro e atingiu em cheio a lata que caiu. Aquela valia 50 pontos!

- Eu não acredito! Disse Caetano, verdadeiramente perplexo por ela ter virado o jogo. Ludmila sempre teve péssima mira.

- Agora que ganhei, vai me dar mais uma chance?

- Lud…Me desculpe o aborrecimento. Eu espero que

você seja feliz, que tenha uma vida incrível. Violino, toca Beethoven. Caetano sai, Ludmila, fica ali parada. Olhando a vassoura, que sem querer deixou ao lado da porta que dá para o fundo da casa. Então ela pegou a vassoura e foi varrendo: as paredes, as teias de aranha…Tirou o sofá do lugar e varreu por baixo. Varreu as folhas mortas das plantas que foram ficando pelo chão, misturadas à poeira dos livros tirados do lugar, e ao resto de comida embolorada embaixo do fogão. Ela pega a pá, mas logo desiste, volta à vassoura.Varre a comida para fora da geladeira, varre as vasilhas sem tampa para fora do armário. Varre. Violino toca acompanhado por trompete. Varre os próprios pés para nunca mais casar.

“- Me desculpe pelo aborrecimento”. Aquela frase ficou ecoando.

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Luane Souto

é atriz. Escreve, ensina línguas, comunica, e tem tesão pela força das palavras conscientemente escolhidas.

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Passeio Público”, de Osvan Costa, é uma prosa poética sobre mazelas, belezas e esperança. O velho que se pretende novo porque é antes de tudo ancestral.

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Passeio Público, de Osvan Costa

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É velha, a cidade que se debruça em frente ao mar.

“Já era Velha, a Vila que criou tudo aqui”, me conta a mangueira. Me conta a mangueira estéril já em seu leito de morte. Ela, quase morta, exala vida. Ainda parece querer cantar, revelar segredos.

“Está vendo aquele mar?”, continua ela. “É o princípio de tudo, é como mãe. Eu gosto de chamar o mar como se fosse pai. Prefiro chamar maré, mãe. A mãe também é velha, é mais velha ainda e resiste. Tem poder, tem poder. Eu sei. Às vezes eu até duvido, mas ela tem poder, sim, e se quiser, ou se quisesse, renovava, remoçava tudo aqui. E essa sua revolta de faxina, eu mesmo ficaria em pé. Eu sei, eu não ficaria em pé, mas cairia alegre de viva”.

“Está morrendo!”, avisa o guarda no portal

da entrada da cidade. “Vai durar muito, não! Ó aquela lá, está vendo? Não dou seis meses”.

A mangueira me olha triste. Olho para a mangueira triste. Uma brisa de vento respinga o resto de lágrima que vem de lá. Sinto. Senti-me como planta. Grudada no Jardim da cidade.

“O futuro é venda”, continua o guarda. “Você vai ver é venda, venda, venda”.

A mangueira parece concordar. A boca do futuro está lá, do lado de fora e grita, grita, grita: “Velhos, velhas, velhos caia fora! O futuro é venda!”

A placa no Jardim avisa: “Direito, não se vende”. Opanijé. A música do velho toca.

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passeio público

Osvan Costa

é ator, poeta, performer, produtor cultural, engenheiro e dono de casa. Integrou o grupo de teatro Tá Na Rua do diretor Amir Haddad. Hoje vive na ponte área-etérea-virtual Rio-Bahia.

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Dia dos Pais”, de Samuel Lopes, é um dia no dia dos pais.

Dia dos Pais, de Samuel Lopes

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Dia dos Pais. Todo dia eu vou ver o pôr do sol.

Eu nasci às 5:30 da tarde de uma Lua Cheia no mês do Leão.

Esse luxo - que não é nenhum - eu me dei quando percebi que a vida termina rápido demais e já tinha perdido para a morte, minha avó e meus amigos. Todo dia eu venho nesta praia ou naquela ali do outro lado.

Hoje, continuo a acordar às 5:30. Tomo café, não fumo mais tabaco. Rezo, leio e vou nadar. Nado quilômetros, como se a vida jamais fosse acabar. Volto para casa, troca água das gatas e da minha rotweiller. Elas também comem. Preparo o almoço. Minha mãe vem me

visitar hoje. Minha irmã e o meu cunhado também. Faço quiabada (meu cunhado adora). Para minha mãe, cozinho algo mais leve. Não sentimos falta do meu pai. Sentimos alívio. Um dia desses, li algo do tipo “ainda estou para descobrir para que serve um pai”.

Estou de férias, adoro estar de férias. Lembro que quando eu retornar ao trabalho, vou iniciar o acervo musical de Ederaldo Gentil. A vida parece se resolver por si só. Desligo o fogão, preparo a mesa celular. O

despertador me lembra que o meu prazo para finalizar o roteiro é amanhã até pôr do sol. A cachorra late e as gatas estão à porta. Minha família chegou.

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dia dos pais

Samuel Lopes

é pesquisador dos mundos, gosta de praia, literatura, cerveja e pessoas comuns.

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Oração para a Artista”, de Suellen Magalhães, é uma invocação ao que está por vir.

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Oração para a Artista, de Suellen

Magalhães

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Peço coragem, força de vontade, atitude, sabedoria e criatividade.

Mas espera um pouco... e não é que eu já possuo tudo isso?

O mundo precisa saber.

Gratidão pela clareza e que eu continue me permitindo. Assim é.

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oração para a artista
44 45 28 anos, modelo, atriz e das artes em geral. Suellen Magalhães

imagens utilizadas

Textos-Gestos-Movimentos

Na Garganta da Noite

Cidade-corrente e os construtores de ruínas

Chama

No Batuque do Passeio Público Sábado

Onde está o Mateus?

Passeio Público Dia dos Pais

Oração para a Artista

almoço, marcio meirelles, 1979

night shadows, de edward hopper

antes do vila, 1962, acervo teatro dos novos

da necessidade de ser polígamo, acervo teatro dos novos, 1962

s/ título, marcio meirelles, 2012

o livro, marcio meirelles, 1979

o último godot, marcio meirelles, 2014

construção do teatro vila velha, acervo teatro dos novos, 1962-64

travessia, marcio meirelles, 2013

história da paixão do senhor, 1961, acervo teatro dos novos

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46 47 APOIO FINANCEIRO
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