Vila Velha, por Exempo: 60 Anos de um Teatro do Brasil - O Vila: Da Gênese à Metamorfose

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O VILA, DA GÊNESE À METAMORFOSE

Edson Rodrigues com a colaboração de Marcio Meirelles e textos de Lucas Fróes

Ricardo Sizilio

Ronei Jorge

Ministério da Cultura e Banco do Brasil apresentam:

vila velha por exemplo

Apoio

Realização

Produção Coprodução

Salvador. Bahia —2024

O VILA, DA GÊNESE À METAMORFOSE

Edson Rodrigues com a colaboração de Marcio Meirelles e textos de Lucas Fróes

Ricardo Sizilio

Ronei Jorge

Banco do Brasil apresenta e patrocina Vila Velha, por Exemplo – 60 Anos de um Teatro do Brasil, uma exposição que mostra a vida de um teatro construído e gerido por artistas, que se reinventou com a cidade e os tempos.

O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) será vizinho do Teatro Vila Velha e, a partir desse momento, as duas histórias passam a dialogar, criando um potente parque artístico, junto com outras organizações, no Corredor Cultural do Centro de Salvador.

Enquanto prepara sua instalação definitiva no Palácio da Aclamação, o CCBB já se faz presente na cidade com programação em parceria com diversos espaços culturais, a exemplo do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), que calorosamente nos acolheu para a realização desta importante exposição.

7 AprEseNtaçãO

Ao realizar este projeto, o CCBB reafirma o compromisso de ampliar a conexão dos brasileiros com a cultura e com a valorização da produção cultural nacional. Viva! O CCBB chegou à Bahia.

Centro Cultural Banco do Brasil

AprEseNtaçãO

O Teatro Vila Velha retoma o projeto Cadernos do Vila a partir da publicação dos artigos curatoriais para a exposição Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de Um Teatro do Brasil, patrocinada pelo Centro Cultural Banco do Brasil. São quatro Cadernos nos quais os conteúdos são apresentados e aprofundados, oferecendo uma outra experiência ao leitor no contato com o vasto material histórico e iconográfico que compõe o Acervo do Teatro Vila Velha.

Mais do que um teatro que exibe produções artísticas diversas – o que já seria muito –, o Vila é um espaço de construção cidadã através da arte. Atento e consciente de sua responsabilidade frente às questões do tempo, tem uma história marcada pelo ativismo em seu palco, mas também em espaços públicos diversos, em Salvador, em cidades do interior da Bahia e pelo mundo afora.

Essa série de quatro publicações dentro do projeto Cadernos do Vila foi pensada para oferecer ao leitor a história do teatro, mas também das diversas relações construídas durante seu percurso de décadas. Adentrar essa história é acompanhar trajetórias de artistas e coletivos de arte, militantes sociais e políticos, gente das periferias e dos postos de comando. Também é conhecer como determinados fatos da história do Brasil levaram o Vila a se superar, reinventar-se tantas vezes quantas se fez necessário, sempre defendendo aquilo que lhe é inegociável: sua independência.

O Cadernos do Vila Volume 7 – DA GÊNESE À METAMORFOSE é a terceira publicação da série desenvolvida a partir da exposição Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de Um Teatro do Brasil. Este volume traz a trajetória do Vila desde o surgimento do grupo que concebeu o projeto de erguer em Salvador um teatro independente, profissional e de produção continuada, a Sociedade Teatro dos Novos. A pesquisa segue até o ano que antecedeu o início da requalificação estrutural empreendida no Vila a partir de 1994, tema do próximo Cadernos do Vila.

A exposição Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de Um Teatro do Brasil viabiliza a reunião de vasto conteúdo que passa a ser disponibilizado a pesquisadores e ao público em geral. Os novos volumes do projeto Cadernos do Vila (de 5 a 8) já são um dos desdobramentos do levantamento histórico e iconográfico empreendido para a exposição. Outros virão.

Boa leitura!

Teatro Vila Velha

Dos Novos Baianos à Temporada de Verão Lucas Fróes

A BAHIA ANTES DO VILA

1939 — 1959

TEATRO AMADOR, ESCOLAS DE ARTE

Entre os anos 1950 e 1960, a Federação Baiana de Teatros Amadores era composta pelos coletivos Teatro de Amadores da Bahia, Teatro Espírita da Bahia e Grêmio Dramático Familiar, sendo que este último, dirigido por Paulo Serra, vinha realizando anualmente, nos períodos de Semana Santa , a encenação Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo , ocupando o auditório do Instituto Central de Educação Isaías Alves, no bairro do Barbalho. O próprio instituto, aliás, possuía um grupo de teatro desde os tempos em que a instituição era conhecida como Escola Normal da Bahia.

Em 1958, no governo de Otávio Mangabeira, é inaugurado o imponente Teatro Castro Alves, no bairro do Campo Grande, como um teatro de ópera. No mesmo governo, sob o comando do reitor Edgard Santos, a criação das novas escolas de música, teatro e dança, que se unem à já existente Escola de Belas Artes, foi decisiva para a consolidação das atividades artísticas na cidade e no estado.

Mas essa consolidação, com incremento profissional e mesmo acadêmico, não significou o silenciamento dos amadores. Em 1960, o Teatro de Cultura da Bahia, que um ano antes havia sido premiado no Festival do Norte, usou a imprensa local para convidar artistas amadores para um festival a ser realizado em Salvador, nos meses de agosto e setembro.

À época, os Amadores do Fantoches, sob a organização de Oscar Tôrres, ocupavam o Clube Fantoches da Euterpe e tinham uma produção orientada por ensaiadores designados pelo Serviço Nacional de Teatro. Dessa experiência surgiu a tentativa de se viabilizar uma escola de teatro na Bahia, que durou apenas de 1950 a 1953, mas que deixou dezenas de seus ex-alunos criando e

atuando na cena local. A produção somava-se à de vários outros grupos, para um público também variado e numeroso.

Inaugurada em 1956, a Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia tem cursos livres até 1963, quando se formalizaram o curso de direção teatral, em nível superior, e o de formação do ator, em nível médio. Para dirigir esse projeto, o reitor Edgard Santos convidou um pernambucano com experiências artísticas e acadêmicas em seu estado, em São Paulo e no Rio de Janeiro: Eros Martim Gonçalves.

Martim Gonçalves vinha colecionando elogios e prêmios como cenógrafo e experimentava-se na direção teatral com o elenco do grupo que ajudou a criar no Rio de Janeiro, em 1951, o Teatro O Tablado. Também no Rio, era professor de cenografia e de história do teatro em curso promovido pela União Nacional dos Estudantes. Sua vinda para a Bahia tornou real o projeto de se discutir o teatro sob os moldes considerados modernos naquela iniciada segunda metade do século XX. A experiência com os amadores, principalmente de O Tablado, mostrouse importante para o entendimento da cena artística que se desenvolvia em Salvador.

Para dar corpo a seus projetos na Bahia, Martim Gonçalves convidou, durante sua permanência à frente da Escola de Teatro, vários artistas oriundos de polos diferenciados, como o encenador e cenógrafo italiano radicado no Brasil Gianni Rato e os estadunidenses Charles Mac Gaw (diretor do Goodmann Theatre, Chicago) e George Izenour, hoje reconhecido como pioneiro mundial no design e tecnologia teatral. “Izenour é creditado pelo Diário de Notícias como inventor da aparelhagem instalada na Escola de Teatro.1” Importante destacar que o Teatro Santo Antônio (hoje Teatro Martim Gonçalves), construído para equipar a Escola de Teatro, no bairro do Canela, foi inaugurado em 1958. A chegada de Mac Gaw e Izenour a Salvador data de 1959.

Antes, em 1956, Martim Gonçalves trouxe com ele, para exercer as funções de professor de dramaturgia e de história do teatro, um jovem que havia sido também da turma inaugural d’O Tablado, em 1951. Era João Augusto.

1 LEÃO, Raimundo Matos de. Abertura Para Outra Cena: O moderno teatro na Bahia, 2. ed., Salvador, Edufba, 2013, p. 187.

É compreensível que a existência e a produção da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia tenham causado controvérsias nesse ambiente em ebulição. A isso se somou a presença de Eros Martim Gonçalves, que respeitava os amadores, mas incentivava a profissionalização dos trabalhadores da arte, sobretudo por meio da instrumentalização acadêmica. Sucederam-se polêmicas. Umas alimentadas por ranços políticos alheios aos interesses culturais; outras de cunho pessoal, quando acusavam Martim Gonçalves de ditador, arrogante e pouco afeito às dramaturgias local e nacional.

Pressionado, Eros Martim Gonçalves deixa a direção da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia em 1961 e retorna para o Rio de Janeiro. Fecha-se um ciclo que constitui, controvérsias à parte, um legado, com realizações que ajudaram a reformatar o teatro feito na Bahia.

1960 — 1968 A CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO DE LIBERDADE

O VILA ANTES DO VILA OCUPA A CIDADE

A Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, sob a direção de Eros Martim Gonçalves, estava prestes a formar a sua primeira turma de intérpretes. O ano era 1959. Aquela formatura era esperada pela comunidade baiana. Havia uma pressão no ar, que infelizmente se somou a insatisfações diversas, já existentes na Escola de Teatro, para dar contornos a um ambiente de desarmonia e enfrentamentos.

Foi nesse cenário que, no último ano do curso, os formandos Sonia Robatto, Carlos Petrovich, Carmen Bittencourt, Echio Reis, Maria Francisca (Thereza Sá) e Othon Bastos – que já planejavam formar a Sociedade Teatro dos Novos após a formatura – e mais Nevolanda Amorim, Mário Gadelha e Martha Overbeck decidiram abandonar a Escola de Teatro. Aos alunos juntou-se um professor, o carioca João Augusto Azevedo.

A vontade era fazer um teatro profissional ligado às camadas sociais populares, com capacidade de intervir na realidade. Para isso, quando escolhido um autor, esse deveria ser daqueles que enxergam a potência revolucionária da arte. E mais, textos estrangeiros precisavam ser integrados ao contexto local, com adequações de realidade, personagens e mesmo transposição cênica (cenário, figurino, adereços...). Essa defesa atraiu outros jovens atores ao grupo que se formava. Da Escola de Teatro ainda veio Mário Gusmão, que, com vivência e consciência em questões do campo da negritude, muito influenciou o grupo e o diretor. Do teatro amador chegou Wilson Mello. Estabelecia-se a formação inicial da Companhia Teatro dos Novos, grupo artístico ligado à sociedade.

Os Novos já nasceram produzindo. Afinal, a intenção era viver do exercício da profissão, meta difícil nas artes cênicas baianas

até hoje. Para isso, ainda no mesmo ano do desligamento da Escola de Teatro, no dia 19 de dezembro, o grupo trouxe à cena a sua primeira criação. O Auto do Nascimento, com texto de Sonia Robatto e direção de João Augusto, estreou na cidade de Itabuna, no Auditório da Ação Fraternal. Dali até o dia 7 de janeiro de 1960, os Novos fizeram apresentações da peça nos cinemas de Ilhéus, Mataripe e Pojuca, no Club da Cidade (Catu), nos conventos da Mercês e Soledade (Salvador), e ainda realizaram um seminário na cidade de Itaparica.

Em abril de 1960, os Novos estreiam a peça O Casaco Encantado. Nessa experiência fica claro o compromisso em valorizar o coletivo. Para encenar o texto de Lúcia Benedetti, a direção ficou a cargo de Carlos Petrovich. Entre abril de 1960 e dezembro de 1961, fizeram 39 apresentações de O Casaco Encantado, em espaços como: Auditório do Colégio Dois de Julho, Instituto Normal, Iate Club da Bahia, Associação Atlética da Bahia, em hospitais como o Santa Terezinha (Pau Miúdo) e Preventório Eunice Weaver (Águas Claras) e também em escolas municipais nos bairros de Pau da Lima, Itapagipe, Mata Escura do Retiro, Bom Juá e Brotas, dentre outros locais.

O sucesso na empreitada inaugural deu à Sociedade Teatro dos Novos uma boa visibilidade e o convite para uma residência artística fora das fronteiras da Bahia. Em matéria do jornal A Tarde de 3 de dezembro de 1960 anuncia-se excursão de quatro meses do grupo a Ouro Preto, Minas Gerais, viabilizada pelo Patrimônio Histórico Nacional. Na ocasião, traz o jornal, os baianos foram acolhidos por Domitila Amaral, atriz que havia sido professora da Escola de Teatro, dissidente, como eles.

DE REBELDIA E CONSTÂNCIA

SE FAZ UM TEATRO

De volta à Bahia, o grupo divide seus interesses em duas frentes: continuar realizando espetáculos e erguer um teatro para abrigar essa produção. Quanto ao teatro, o primeiro desafio era conseguir o terreno. Os Novos vinham realizando reuniões e eventos públicos, assim como guardando equipamentos e material cênico, em casarões que lhes foram emprestados inicialmente no bairro da Graça e depois no Corredor da Vitória. Mas, primeiro um e depois o outro, foram vendidos e posteriormente demolidos. Nessa busca por espaço, chegaram a firmar contrato de comodato de dois anos com a Aliança Seguros da Bahia para erguer um teatro provisório e desmontável em um terreno nos Barris, mas logo desistiram da empreitada.

Foi quando a Sociedade Teatro dos Novos conseguiu autorização para realizar os ensaios na Galeria Oxumaré, no Passeio Público, de onde surgiu a ideia de ocupar um espaço vazio naquele parque. O governador à época, Juracy Magalhães, autorizou que a Sociedade Teatro dos Novos erguesse sua sede no terreno, por meio de Cessão a Termo Precário expedida no dia 5 de outubro de 1961.

Mas ter um terreno não significa ter um teatro, e os Novos tiveram que continuar a estrear as próximas montagens e leituras de peças em espaços diversos de Salvador e em outras cidades. Fizeram 136 apresentações no primeiro ano de atividades. A repercussão na imprensa chamava a atenção para a consolidação do grupo, e ficou comum, à época, a comparação entre os resultados da Companhia Teatro dos Novos com os d’A Barca, grupo da Escola de Teatro, que tinha equipe e elenco formados por professores e alunos da unidade, sempre reforçados, a cada montagem, por artistas convidados, inclusive atores, vindos de fora da Bahia.

Essas comparações tinham um objetivo específico. Em grande parte, eram incentivadas pelo jornalista Odorico Tavares, que dirigia, na Bahia, os veículos de comunicação dos Diários Associados1 e alimentava uma série de discordâncias com relação a Martim Gonçalves e seu projeto. Em 1961, esse debate ficou muito forte, confrontando seguidamente as produções daquele ano do Teatro dos Novos (Brasil Antigo, História da Paixão do Senhor e A Farsa do Mestre Pedro, ou Pathelin – as duas últimas dirigidas por João Augusto) e d’A Barca (Ópera dos 3 Tostões, com a participação de Eugênio Kusnet; e Calígula, com Sérgio Cardoso – ambas dirigidas por Martim Gonçalves, com cenários de Lina Bo Bardi). As duas montagens de 1961 do grupo A Barca ocuparam as dependências de um Teatro Castro Alves ainda destruído por recente incêndio e onde Lina Bo Bardi montou, inicialmente, o Museu de Arte da Bahia.

Os Novos estrearam A História da Paixão do Senhor com o firme intuito de mostrar o espetáculo ao maior e mais diverso público possível. Assim, promoveram sessões em escolas, em praças de bairros periféricos, no Terreiro de Jesus e em adros de igrejas. Sobre isso há uma elogiosa crítica de Napoleão Lopes Filho, publicada no jornal A Tarde (3/4/1961): “O espetáculo popular que o Teatro dos Novos vem apresentando constitui um dos pontos altos da história do teatro na Bahia”.

1 O grupo Diários Associados chegou a ser o maior da imprensa no Brasil, tendo cerca de 100 empresas em seu auge. Era comandado por Assis Chateaubriand, que convidou o pernambucano Odorico Tavares para dirigir as empresas na Bahia. Na época, o Diários Associados possuía no estado os jornais Diário de Notícias e Estado da Bahia, além da Rádio Sociedade; mais tarde, o D.A. também incluiu ao seu conglomerado a TV Itapoan.

Nessa fase, os Novos organizam e realizam, em espaços públicos de Salvador e do interior da Bahia, leituras dramáticas de peças de Bertold Brecht e Nelson Rodrigues, ao tempo em que também criam campanhas para levantar recursos que viabilizem o projeto da casa de espetáculos, sede do grupo, que já tinha terreno e estrutura metálica cedidos pelo governo do estado.

Àquela altura, os Novos já possuíam um símbolo: a figura do sol, que ilustra até hoje as ações e, por consequência, a história do Teatro Vila Velha.

Em 1962, os Novos montam uma comédia: Da Necessidade de Ser Polígamo, de Silveira Sampaio, dirigida por João Augusto. A empreitada buscava levantar dinheiro para a construção do teatro. Também com esse fim, o grupo organizou seguidas ações junto à comunidade de Salvador: bingos, livro de ouro, leilão de obras de arte, além de campanhas, como Ajude os Novos a Dar um Teatro à Bahia e a Campanha da Cadeira, na qual era possível colaborar com a aquisição de uma ou mais cadeiras permanentes na plateia do teatro, por meio de uma doação financeira. Essa campanha, em específico, viabilizou a compra das cadeiras de um cinema de Santo Amaro que acabara de ser desativado, em articulação levada à frente por Rodrigo Velloso, ator da companhia, irmão de Caetano e Bethânia.

OS NOVOS NO VILA

Em 1964, o país passava por um dos mais difíceis momentos de sua trajetória política. Entre 31 de março e os primeiros dias de abril, consolidou-se o golpe militar. Dali pra frente, toda expressão intelectual e/ou artística passava a ser monitorada, desincentivada ou impedida. A apreensão e o medo tomaram o Brasil. Porém, como contraponto da resistência, em 31 de julho de 1964, exatos quatro meses depois do golpe militar, foi inaugurado o teatro-sede da Sociedade Teatro dos Novos em Salvador, na Bahia.

Batizado de Vila Velha – como era conhecida a vila construída e habitada por indígenas e portugueses antes da fundação de Salvador2 –, o teatro foi inaugurado com exposição que registrava a produção cênica da Companhia Teatro dos Novos até então. No mês seguinte, a Batucada da Escola de Samba Juventude do Garcia batizou seu palco com uma apresentação performática repleta da força do Carnaval e da cultura negra, abrindo caminho para um agosto musical no Vila, que seguiu com o Madrigal, grupos de Câmara e a Orquestra dos Seminários Livres de Música da Universidade da Bahia, o Coral dos Franciscanos, o grupo de óperas e o antológico show Nós, Por Exemplo… dentre outros.

Apesar das dificuldades, os Novos estreiam, em dezembro de 1964, no recém-inaugurado Teatro Vila Velha, em um Passeio Público transformado em área de segurança, o espetáculo Eles Não Usam Bleque-Tai, a partir do texto de Gianfrancesco Guarnieri. A montagem trouxe direção de João Augusto, cenografia de Calasans Neto e participação da Batucada da Escola de Samba Juventude do Garcia, mesmo grupo que participou da programação de estreia do teatro.

2 O primeiro donatário a chegar à região foi Francisco Pereira Coutinho, em 1536, que fundou o Arraial do Pereira na região hoje conhecida como Ladeira da Barra. Esse arraial, 12 anos depois, passou a ser chamado de Vila Velha.

Grupos teatrais – profissionais, amadores e experimentais –tiveram o palco do teatro à disposição para seus projetos. O Vila também abriu seu espaço para escolas de samba, estudantes e sua produção cultural, encontros políticos e reuniões. É muito grande o conjunto de iniciativas e projetos que passaram a ser desenvolvidos entre suas paredes, sobre seu tablado, logo a partir do primeiro ano de atividades.

A música contemporânea de concerto do Grupo de Compositores da Bahia teve sua apresentação inaugural no Vila. Depois, em 1966, os Compositores da Bahia, junto com a Companhia Teatro dos Novos, apresentaram o espetáculo Romanceiro da Paixão, com a parte musical coordenada por Ernst Widmer e a teatral dirigida por João Augusto. Trouxe composições de Widmer e também de Fernando B. Cerqueira, Milton Gomes, Nicolau Kokron, Jamary Oliveira, Rinaldo Rossi e de um certo Antônio José Santana Martins, que depois veio a ficar mundialmente conhecido como Tom Zé3. Nesse espetáculo, atores faziam as partes faladas das obras em diálogo com o Coro e a Orquestra da Universidade Federal da Bahia.

Quanto à música popular, o palco do Vila recebeu, nesse período histórico, apresentações de grupos e artistas diversos. Do pessoal do Nós, Por Exemplo… a Sylvia Telles, Batatinha, Aracy Cortes, Clementina de Jesus, Hermínio Belo de Carvalho e Edu Lobo, dentre outros. Como também recebeu artistas de teatro que já tinham reconhecimento nacional, como Tônia Carrero, Sérgio Brito e Nathalia Timberg.

A defesa do Teatro dos Novos aos princípios de liberdade e democracia continuou até o término da produção do grupo, em 1968. Em A Paixão Segundo os Retirantes, de 1965, os Novos discutem, em plena Semana Santa, uma questão à época muito viva e pulsante: a ida de centenas de milhares de nordestinos para o Sul e o Sudeste do Brasil, fugindo da miséria, da seca, da falta de trabalho e oportunidades. Em 1966, dentre outros destaques, ressalta-se a sequência de espetáculos a partir de textos de cordel e da relação desse material com a obra de Gil Vicente.

3 A composição de Tom Zé foi Impropérios.

O TEATRO DOS NOVOS: PAUSA NA CRIAÇÃO

Em 1968, ano do AI-5, ocorreu um fato relacionado à montagem de texto de Alcyr Ribeiro Costa, dirigida por Álvaro Guimarães.

A estreia de Senhoritas foi proibida pela censura “em todo o território nacional”. Um ensaio geral da peça, realizado para um público de artistas e jornalistas no Teatro Castro Alves, foi invadido pela polícia, que mostrou armas, espancou e prendeu o elenco e outras pessoas presentes. Ao serem liberados, seguiram para o Teatro Vila Velha, onde foi redigido um manifesto de protesto e planejada uma exposição de fotos dos ensaios, feitas por Sérgio Maciel.

As constantes revistas da Polícia Federal aos espectadores, desde o AI-5, afastam o público do Teatro Vila Velha, provocando o cancelamento de pautas por parte das companhias. [...] Além disso, dificulta-se o acesso ao Passeio Público, local onde se situa o Teatro Vila Velha.4

Foi também em 1968 encerrado o ciclo da Sociedade Teatro dos Novos como criadora de conteúdos no Vila. Em abril daquele ano, o grupo estreou a última produção para os palcos com sua assinatura. Stopem/Stopem teve direção de João Augusto e Haroldo Cardoso para um texto-colagem de João, com fragmentos de Maiakovski, Shakespeare, Joyce, Daniel Defoe, Alexandre Dumas, Pero Vaz de Caminha, Oswald de Andrade, Dalton Trevisan, Olavo Bilac, Carlos Drummond de Andrade, dentre outros. O cenário foi assinado por Jameson Pedra e Gilson Rodrigues.

Na montagem considerada revolucionária já não havia sócios do Teatro dos Novos no elenco, apesar de o grupo assinar a produção do espetáculo. Carlos Petrovich, Echio Reis, Othon Bastos, Sonia Robatto e Thereza Sá estavam em outros lugares, seguindo suas carreiras. Carmen Bittencourt, por sua vez, havia

4 LEÃO, Raimundo Matos de. Transas na Cena em Transe: Teatro e contracultura na Bahia, Salvador, Edufba, 2009, p. 117.

decidido se afastar dos palcos, tendo entregue a João Augusto uma carta comunicando isso, na qual relata ter tomado a decisão para cuidar de assuntos familiares. Apesar da carta e de não integrar o elenco de Stopem/Stopem, Carmen seguiu em seu ofício e trabalhos com arte, vez por outra, em projetos e palcos da cidade e continuou a cuidar da administração da Sociedade e do Teatro Vila Velha até 1994.

Sobre Stopem/Stopem, Glauber Rocha escreveu:

Quando vi os ensaios do Teatro de Cordel, disse a João Augusto que sua concepção de cena já estava adiante do Teatro de Arena de São Paulo. João não acreditou muito. Hoje, depois da revolução de José Celso Martinez com Rei da Vela e Roda Viva, toda crítica do Sul pensa que o teatro brasileiro chegou ao máximo. Mas Stopem/ Stopem ultrapassa tudo. Ele reconstruiu nossa estrutura estourada e montou um documento vivo, crítico, atuante, agressivo e original da realidade brasileira, de ontem e de hoje. É um teatro ‘teatral’. Não um teatro cinematográfico ou pirotécnico. Um teatro, eu diria, ‘Godardiano’. Uma montagem de fatos e fotos, uma montagem de temas e textos, uma estrutura aberta, uma neo-tropicália.5

5 Programa da peça Stopem/Stopem, maio de 1968, p. 3.

Lucas Fróes

Se a peça Eles Não Usam Bleque-Tai1 tivesse ficado pronta a tempo de integrar a série de espetáculos de inauguração do Teatro Vila Velha, talvez o Vila não tivesse a mesma vocação musical. E provavelmente as expressões Tropicália e Doces Bárbaros seriam palavras sem o significado que passaram a ter para todos nós. Por sorte, a montagem não ficou pronta, e o diretor teatral João Augusto sugeriu a um ator de seu grupo, Roberto Sant’Ana, que fizesse um show musical com seus amigos no lugar da peça. O show colocou pela primeira vez Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Tom Zé juntos num palco, atando para sempre seus destinos musicais.

Nós, Por Exemplo… foi o nome escolhido por Caetano para o espetáculo, indicando que aquele grupo era mais um exemplo, entre tantos daquela geração, que devia seu surgimento à Bossa Nova, mas com as reticências que, inconscientemente, apontavam para um futuro que continua acontecendo, como num big bang sonoro que se expande indefinidamente.

Às 21 horas do sábado, 22 de agosto de 1964, no Teatro Vila Velha, subiram ao palco Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, o cantor Fernando Lona, o pianista Perna Fróes, o percussionista Djalma Corrêa e o violonista Alcyvando Luz. Tom Zé participaria dos shows do mês seguinte, substituindo Fernando Lona. Apresentando suas intenções, o Nós, Por Exemplo… dava as caras ao público:

Gilberto Gil – Somos todos amigos, apenas tentamos fazer a coisa da maneira mais bonita possível. Caetano – E se cantamos é porque achamos que toda pessoa, de

1 João Augusto e a Companhia Teatro dos Novos optaram por modificar o título da peça, que no original é grafado Eles Não Usam Black-Tie. A busca foi por “abrasileirar” o título.

algum modo, deve cantar. Bethânia – Nós, por exemplo, acreditamos no Carnaval. Fernando Lona – Cantar é o que gostamos de fazer, e, como encontramos este lugar, isto é uma festa.2

Caetano, Gil e Roberto Sant’Ana assinaram a direção, enquanto Djalma fez a sonoplastia. “Antigamente era tudo assim, mais bonito, coletivo”3, lembrou Roberto, que também foi produtor e iluminador do show. A turma ainda ajudou o Teatro Vila Velha a ficar pronto. Perna se virou para arranjar um piano que a Sociedade Teatro dos Novos tivesse condições de comprar, enquanto as cadeiras do teatro foram adquiridas de um cinema que estava fechando as portas, em Santo Amaro, graças à indicação de Rodrigo Velloso, irmão de Caetano e Bethânia.

“Foi a primeira vez que eu pisei num palco na minha vida, assim com público na minha frente, e eu cantei Se É Tarde, Me Perdoa e outras músicas mais. Foi maravilhoso, inacreditável”4, contou Gal Costa.

“Haverá voz de menina moça mais afinada, mais maviosa, mais meiga, mais instrumental do que a de Maria da Graça?”5, escreveu à época o jurista, crítico e compositor Carlos Coqueijo, entusiasta do grupo. Pensando no registro agudo da voz de Gal e no grave da voz de Bethânia, Caetano compôs Sol Negro para o canto das duas se entrelaçarem no palco do Vila.

“É certo que Caetano se consagrou, naquela noite memorável, um dos melhores compositores brasileiros populares contemporâneos – assim, na galeria de Jobim e Vinicius, sem exagero. Suas composições são fabulosas. Aquela do duo feminino, então, não se fala”6, decretou Coqueijo.

Gilberto Gil, o mais conhecido do público até então, apresentou as suas Maria (Me Perdoe, Maria) e Samba Ainda Sem Nome, indo às lágrimas com sua participação no show. “E era lindo a gente cantar naquele Teatro Vila Velha, nós todos jovens, e a gente descobrindo

2 Diálogo do roteiro original do show Nós, Por Exemplo

3 Depoimento ao autor, 2018

4 Programa Ensaio, TV Cultura, 1994

5 Coqueijo, Carlos. Jornal da Bahia, 1964.

6 Coqueijo, Carlos. Jornal da Bahia, 1964.

que a gente podia falar com as pessoas, que as pessoas reagiam com alegria ao que a gente dizia. Era uma verdadeira descoberta, assim, gostosa”7, encantou-se Tom Zé, que no show cantou A Moreninha, música que depois foi gravada por Gil.

As canções de Fernando Lona resplandeceram a dor do povo nordestino, enquanto Perna Fróes exibiu seu virtuosismo ao piano. Em Tema de Candomblé, inspirou-se no avô pianista, o maestro Silvio Deolindo Fróes. Em Crepúsculo, compôs paisagens marítimas inspiradas por Dorival Caymmi. “Foi um show muito bonito, com uma qualidade que não tinha na Bahia”8, relembrou Perna.

Na sua futurista Bossa 2000 D.C., Djalma Corrêa usou uma parafernália eletrônica. “Só eu que fazia isso na Bahia”9, garantiu ele, que aproveitou para gravar as apresentações do Nós, Por Exemplo…, guardadas por ele durante toda a vida. A gravação registra até a interferência do telégrafo do governo, ali perto, naquele início de ditadura. Mas, no Vila Velha, a revolução era musical.

“As pessoas ovacionaram, o impacto que a gente causou nessas pessoas foi muito grande. E na cidade de Salvador todo mundo ficou falando nisso durante muito tempo. Foi uma coisa muito impressionante”10, declarou Caetano.

Com o sucesso do Nós, Por Exemplo…, que superlotou o Vila, a turma emplacou um novo show no teatro, o Nova Bossa Velha & Velha Bossa Nova.

“O que aconteceu foi uma propaganda espontânea, as pessoas falando sobre o assunto, os estudantes falando sobre os shows em seus colégios e faculdades. Ainda não existia o termo, mas podemos utilizá-lo em retrospectiva: viralizou”11, sintetizou Orlando Senna, produtor do espetáculo.

7 Programa Ensaio, TV Cultura, 1991.

8 Depoimento ao autor, 2018

9 Depoimento ao autor, 2018

10 Programa Ensaio, TV Cultura, 1992.

11 Depoimento ao autor, 2019.

NOVOS ENCONTROS MUSICAIS

NO VILA VELHA

O Teatro Vila Velha não tinha nem seis meses de vida, mas já promovia encontros musicais definidores para o futuro da cultura brasileira. No final de 1964, Carlos Coqueijo levou Nara Leão a um ensaio do grupo no Vila. Na virada do ano, surgiu o convite de Nara para Bethânia substituí-la no show Opinião, no Teatro de Arena, no Rio de Janeiro.

Antes de ser a primeira da turma musical do Vila a cruzar as fronteiras da Bahia com sua voz, Bethânia protagonizou Mora na Filosofia, seu show individual dirigido por Gil e Caetano, aproveitando o cenário da peça Eles Não Usam Bleque-Tai, que enfim foi encenada, tendo Fernando Lona e Roberto Sant’Ana no elenco.

Em 1965, os shows individuais agitaram o Vila Velha. Em março, Gil apresentou Inventário, sua despedida de Salvador, como ficava claro na nova canção Eu Vim da Bahia. “É uma música que eu fiz quando eu já sabia que tava indo embora. Ainda estou nessa situação até hoje: indo da Bahia pro mundo e voltando do mundo pra Bahia”12, disse Gil.

Com script de João Augusto – parceiro de Gil na música Roda – e narração do ator Othon Bastos, o show contava com as participações de Tom Zé, do sambista Batatinha e de Bethânia, já de volta do Rio, cantando o grande sucesso Carcará. A banda de apoio era comandada pelo Perna Trio – formado por Perna Fróes, Tutty Moreno e Moacyr Albuquerque –, ao lado de Perinho Albuquerque e Pitti. O sucesso foi tanto que apresentações extras tiveram que ser realizadas.

Em seguida foi a vez de Terra de Ninguém, espetáculo individual de Fernando Lona, dirigido por Orlando Senna. No mês seguinte, a já famosa nacionalmente Maria Bethânia retornou ao Vila para

12 Documentário Tempo Rei, direção de Andrucha Waddington, 1996.

mais um show individual, É Um Tempo de Guerra, com direção de Augusto Boal. O texto baseado em Bertolt Brecht foi motivo de autoritária implicância do Departamento de Ordem Política e Social da ditadura, que o considerou subversivo e intimou a atriz Carmen Bittencourt, administradora do teatro, para depor.

No primeiro aniversário do Teatro Vila Velha, a música foi representada pelo show Nossa Bossa, com o Perna Trio reforçado por Perinho Albuquerque, Tuzé de Abreu e Walmir Oliveira, além das cantoras Maria Eugenia e Judy Spencer. Poemas de Carlos Drummond de Andrade foram lidos por Othon Bastos.

Em novembro – depois de participar com Gil, Bethânia, Gal, Pitti, Tom Zé e Roberto do Arena Canta Bahia, em São Paulo –, Caetano voltou ao Vila Velha para o seu show solo Cavaleiro. Com coreografias executadas por sua namorada, Dedé Gadelha, aluna da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, o show trazia as músicas Cavaleiro e Samba em Paz, gravadas por ele naquele mesmo ano em seu primeiro compacto.

Em dezembro foi a vez do show da jovem estrela Edu Lobo, com direção de Orlando Senna. No mesmo mês, mais um encontro decisivo no Vila. Trazida pelo onipresente Coqueijo, Sylvinha Telles ensaiava até de madrugada com Perinho Albuquerque e o Perna Trio. Chamado por João Augusto para roteirizar o show, Caetano conheceu a cantora, que no ano seguinte seria sua cicerone no Rio.

“Terminei fazendo uma encenação e pus no palco. Bolei uma iluminação com o pessoal do teatro e resolvi botá-la [Sylvinha] conversando com um boneco daqueles de ventríloquo, que eu manipulava debaixo de uma mesa, para levá-la a falar entre as canções, dar uma certa teatralidade”13, contou Caetano.

A série de apresentações do grupo musical que estreou no Vila só terminou em março de 1966, com Depois do Carnaval, show de Gal Costa em dupla com Pitti, outro que também esteve na peça Eles Não Usam Bleque-Tai. Pitti era passista da Escola de Samba Juventude do Garcia, responsável pelo primeiro ato musical da história do Vila, em agosto de 1964. “Pitti não sambava, ele deslizava”14, derreteu-se Roberto Sant’Ana.

13 Gonzaga, Gabriel. Para Ouvir Sylvia Telles, Showtime, 2021.

14 Depoimento ao autor, 2018.

Depois do Carnaval encerrou uma jornada iniciada com o Nós, Por Exemplo…, um ciclo que Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Tom Zé completaram como grupo e indivíduos. “E esse grupo tinha uma liberdade e uma irmandade muito bonita, inesquecível. Acho que uma fonte, um início de vida artística deslumbrante”15, disse Bethânia.

Em agosto de 1968, em pleno auge do Tropicalismo, Tom Zé voltou a se apresentar no Vila, logo depois do lançamento do LP coletivo Tropicália.

Se os Beatles brotaram no Cavern Club antes de invadirem a América no The Ed Sullivan Show, e a Bossa Nova soou no Beco das Garrafas antes de ecoar no Carnegie Hall, os jovens baianos que ganharam o mundo como tropicalistas e doces bárbaros estiveram primeiro no Vila Velha, num batismo duplo deles e do teatro que Gilberto Gil chamou de “pia batismal dos artistas baianos”.

15 Minissérie documental O Nome Dela É Gal, direção de Dandara Ferreira, HBO, 2017

— 1979 o vila após o dilúvio

O VILA ENTRE A REPRESSÃO

E O DESBUNDE

Com a interrupção de produção artística do Teatro dos Novos, o grupo continuou na administração do teatro, mas seus integrantes buscaram diferentes caminhos profissionais a partir daqueles penúltimos dois anos da década de 1960. O Vila, então, teve que, novamente, repensar seus caminhos. Era uma quadra difícil. O presidente Costa e Silva publicou, em 13 de dezembro de 1968, o Ato Institucional nº 5, o AI-5, que foi o mais duro entre os 17 grandes decretos do governo militar, tornando todo o cenário ainda mais espinhoso para as liberdades, o pensamento e, consequentemente, as artes.

É possível dimensionar o quanto os anos 1969 e 1970 foram desafiadores para as artes no Brasil. Quanto mais para um teatro que sempre se impôs pela visão crítica de mundo e pela defesa da liberdade para a criação artística. O momento inóspito asseverou desavenças e impôs dificuldades. João Augusto decidiu levar à frente os projetos do Vila Velha para reanimar o teatro.

Apesar dos constantes obstáculos, o Teatro Vila Velha continuava abrindo espaço para o novo e o criativo. Em agosto de 1969, com roteiro de Paulinho Boca de Cantor e Galvão, o show musical

O Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal fez três apresentações no Vila, marcando a temporada inaugural do coletivo, que se transformou em Os Novos Baianos. No mesmo mês, Tom Zé e Os Trogloditas se apresentaram no teatro.

Também em 1969, o Vila foi palco do primeiro Baile das Atrizes, evento que marcou época na cena artística, cultural e boêmia da Bahia. Nilda Spencer foi a primeira rainha, tendo Gessy Gesse e Sônia dos Humildes como princesas. No ano seguinte, Helena Ignês foi a rainha e, em 1971, Gessy Gesse foi a escolhida para ser homenageada. Em 1972, em fevereiro, Gal Costa assumiu a coroa,

no mesmo mês em que apresentou no Vila Velha o show Fa-Tal –Gal A Todo Vapor, que havia estreado em outubro do ano anterior no Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro. Fa-Tal fez da intérprete baiana, mesmo em meio à repressão militar, a maior expressão musical do período de desbunde brasileiro1 .

O Baile das Atrizes representou, nessa difícil época e até a década de 1980, um importante suporte financeiro para o Teatro Vila Velha, homenageando e recebendo artistas em festa que antecedia o período carnavalesco. No Vila, foram coroadas rainhas, além das já citadas: Laura Ohara (1973), Sônia dos Humildes (1974), Marina Montini (1975), Wilma de Leonah (1977), Maria Adélia (1978), Baby do Brasil (à época Baby Consuelo, 1979), Tereza Rachel (1980), Elba Ramalho (1981), Dulce Schwabacker (1983), dentre outras. Os valores angariados com as primeiras festas produzidas para o Baile das Atrizes serviam, por exemplo, para ajudar em reparos necessários no prédio do Vila.

1 À época, o movimento da contracultura se fortalecia nos Estados Unidos. A tônica era mudar o mundo. Para isso, era defendida a bandeira do amor livre e incentivada a relação entre vida e arte. O movimento hippie fica em evidência e há uma busca por experiências psicodélicas estimuladas por drogas, como também por uma busca interior alicerçada no autoconhecimento. Influenciados por esse cenário, jovens brasileiros, entre os anos 1960 e 1970, viveram o que se convencionou chamar de o “desbunde”. Esse sentimento de uma época, no Brasil, cresceu reivindicando direitos e liberdades em meio a uma realidade disputada entre a esquerda armada e a direita militar.

A CHUVA E O SALVE O VILA

Aberto diariamente para ensaios, reuniões, planejamentos e espetáculos, o teatro teve que improvisar mais uma vez para continuar. Na última semana de abril de 1971, fortes chuvas atingiram Salvador, causando grandes estragos na cidade. Jornais da época relatam mais de sete mil desabrigados e uma centena de mortes. Uma das paredes do Teatro Vila Velha desabou, destruindo o seu foyer e inviabilizando apresentações. O espetáculo Orin Orixá (Sinfonia dos Orixás), que teve sua estreia em Belo Horizonte, em março, e iria ocupar o Vila no início do mês de maio, teve as apresentações transferidas para o auditório da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia.

Orin Orixá foi um espetáculo que teve textos e direção de João Augusto e Mário Gusmão. Unia teatro, dança e música. Na parte musical, promovia junções do rock da banda Creme e a música de candomblé com a percussão de alabês. Mário foi o grande protagonista da apresentação, trazendo, mais uma vez, a força de seu talento e de sua ancestralidade para o Vila.

Além da imediata necessidade de reconstrução de seu foyer e realização de várias obras de manutenção, o Vila enfrentava outro problema. Iniciadas obras de recuperação no parque onde está localizado o teatro, o Passeio Público, houve movimentos no Departamento de Parques e Jardins para a retirada do teatro do espaço. Diante da pressão, mais uma vez a comunidade artística baiana se mobilizou a favor do Vila.

O produtor Lázaro Guimarães organizou o show Salve o Vila , reunindo artistas da música baiana. Batatinha, Edil Pacheco, Ederaldo Gentil e os grupos Terminus e Creme foram alguns que responderam ao chamado. O show foi um sucesso de público e também serviu para destacar a importância do Teatro Vila Velha

para a vida cultural da Bahia. Sucederam-se matérias e notas em jornais, e, pressionado, o poder público desiste de retirar o Vila do Passeio. No mesmo compasso, o teatro recebe da Secretaria de Educação e Cultura uma verba para sua reforma 2 , à época em que o governador da Bahia era Antonio Carlos Magalhães. No dia 15 de janeiro de 1972, reformado, o Teatro Vila Velha é reaberto ao público.

Provando mais uma vez sua relevância para as cenas artísticas baiana e nacional, logo depois de reformado, no primeiro mês de 1972, o Vila recebe uma série de shows, começando pelo de Vinícius de Moraes, Toquinho, Maria Creuza e Trio Mocotó. Estava novamente em cena, revigorado, o Teatro Vila Velha.

Em paralelo, a produção de João Augusto ganha novas cores. Em dezembro de 1969, o grupo Teatro Livre da Bahia apresentou no espaço a peça Aquela Garota dos Olhos Grandes. Nascia ali uma relação entre o coletivo e João Augusto. Passados dois anos, João dirigiu o Teatro Livre na peça GRRRRrrrrrr, contando com a banda Creme na parte musical e trazendo no elenco Nilda Spencer, Kerton Bezerra, Sônia dos Humildes e Nonato Freire.

Ainda em 1972, em maio, João Augusto retoma um projeto que sempre é lembrado ao se falar da trajetória desse homem de teatro: a encenação de folhetos populares. Leva à cena, em maio, Teatro de Cordel nº 2, que traduzia para o teatro a produção literária dos cordelistas, devidamente creditados no programa.

Uma iniciativa que teve marco inaugural com as peças Histórias de Gil Vicente e Teatro de Cordel, de 1966, encenadas pelo Teatro dos Novos, com direção de João Augusto, Othon Bastos, Orlando Senna, Péricles Luiz e Haroldo Cardoso.

Na sequência, o Teatro Livre da Bahia adentra o universo de Jorge Amado, que, cerca de um ano antes, havia tecido elogios à montagem de Teatro de Cordel nº 2: “Realmente não sei de experiência teatral mais séria entre todas as realizadas no Brasil no último decênio”3, opinou o escritor baiano sobre a montagem. Em 1973, João Augusto assina adaptação e direção de Quincas Berro D´Água, que traz grande elenco e conta com cartaz e programa assinados pelo artista plástico Calasans Neto.

2 LEÃO, Raimundo Matos de. Transas na Cena em Transe: Teatro e Contracultura na Bahia, Salvador, Edufba, 2009, p. 232.

3 Amaral Filho, Lindolfo Alves do. João Augusto: Uma viagem no tempo. Repertório, Salvador nº 17, p.198-204, 2011.2, p. 202.

A produção foi de Roberto Sant´Ana, o ex-ator de João Augusto e primo de Tom Zé que, em 1964, produziu o show Nós, Por Exemplo...

O ano de 1974 começou com o Temporada Verão 74, uma programação musical que teve a produção de Guilherme Araújo e José Walter Lima. Entre janeiro e fevereiro, o Vila recebeu shows de Caetano Veloso, Pitti, Luiz Melodia, Jorge Mautner, Jorge Ben (Jor), Jards Macalé, Marcelo Costasantos e Gal Costa, cuja banda contava com Dominguinhos do Acordeon. Meses depois, o Teatro Livre da Bahia traz à cena uma nova investida de João Augusto no universo popular nordestino: o espetáculo Um, Dois, Três, Cordel, outra adaptação para o teatro realizada a partir de uma dezena de cordéis, desta feita em parceria com Haroldo Cardoso. O espetáculo foi apresentado na Feira da Bahia no Ibirapuera (São Paulo), como representação do teatro baiano.

Com João Augusto à frente do Teatro Livre da Bahia, o grupo circulou por diversos estados do Brasil e pelo exterior. Em 1977, participou do Festival de Arte de São Cristóvão, de 23 a 25 de setembro. Na cidade sergipana, o Livre apresentou espetáculos em teatro e na rua. A leitura d’Os Fuzis da Senhora Carrar ocupou um teatro de câmara; A Chegada de Lampião no Inferno – Oxente Gente e Felismina Engole Brasa foram duas peças que tiveram sessões na rua. Realizaram também uma oficina de teatro de rua, que deu origem ao grupo sergipano Imbuaça. Em 1978, o Teatro Livre da Bahia participou do Mambembão, projeto do Serviço Nacional de Teatro que proporcionou a grupos selecionados a circulação pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Também fez excursões internacionais com suas criações, em festivais na França, Itália, Colômbia e Venezuela.4

Durante as excursões do Teatro Livre da Bahia, o Vila Velha era ocupado por outros grupos de teatro e por uma programação diversa. Mas não só durante esses períodos. O teatro sempre foi um espaço aberto a muitos outros grupos, consolidados ou iniciantes. Espetáculos de Álvaro Guimarães foram apresentados no teatro, e muitos outros grupos, inclusive o Avelãz y Avestruz, dirigido por Marcio Meirelles, ali fizeram temporadas.

4 Ver Amaral Filho, Lindolfo Alves do. João Augusto: Uma viagem no tempo. Repertório, Salvador nº 17, p.198204, 2011.2. p. 203.

Em 1978, João Augusto montou com o Teatro Livre da Bahia as suas últimas produções. Quis o destino que trabalhasse com dois extremos, como se fosse uma oportunidade para ratificar a genialidade desse diretor, dramaturgo, ator, cenógrafo, figurinista, enfim, desse criador de teatro. Em janeiro, assinou textos e direção de Oxente Gente, Cordel; em novembro, estreou Mulheres de Troia (a partir de Eurípedes, Jean-Paul Sartre e Maria do Socorro Matoso), espetáculo que traz sua assinatura na adaptação e direção.

No mesmo ano em que o AI-5 foi revogado, 1979, João Augusto morreu, na tarde de 25 de novembro, devido a um câncer. Era como se o Vila pudesse descansar um pouco de sua tarefa de ser um antídoto à repressão. Era um dia daqueles nos quais ele se acostumou a brilhar. Um domingo.

Lucas Fróes

DOS NOVOS BAIANOS À TEMPORADA DE VERÃO

Os anos 1960 começaram em preto e branco e terminaram coloridos. E não foi só nas fotografias, mas também na lisergia e no desbunde que contrastavam com a barra pesadíssima da repressão. O Ato Institucional nº5, o famigerado AI-5, era uma espada de Dâmocles colocada sobre as cabeças pensantes.

Na mesma noite em que o homem foi à Lua pela primeira vez, Gil e Caetano se despediram da Bahia no Teatro Castro Alves, bem perto do Vila, antes de rumarem para o exílio. Como numa passagem de bastão, a banda que os acompanhou no show de despedida, Os Leif’s, tinha na bateria e na guitarra os irmãos Jorginho e Pepeu Gomes.

Menos de um mês depois, em 7 de agosto de 1969, Os Leif’s vieram acampar no espaço sideral do Vila no show O Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal. Com eles estavam no palco Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Bernadete Dinorah, que ficaria conhecida como Baby Consuelo. Eles ainda não tinham esse nome, mas no fim daquele ano passariam a se chamar Novos Baianos.

“À noite, quando as luzes foram acesas, surgia no ar o disco voador sobrevoando o palco e aterrissando num canto. Em seguida, a portinha do disco foi aberta e o elenco do show saiu por ela pisando o palco como se chegasse pela primeira vez ao nosso planeta. A transa do disco lembra a abertura dos programas de Xuxa”1, escreveu o poeta Luiz Galvão, letrista dos Novos Baianos.

1 Galvão, Luiz. Blog Os Novos Baianos, 2010. Disponível em: https://osnovosbaianos.wordpress.com/ 2010/04/14/306. Acesso em: 2 julho 2024.

O texto de apresentação do show foi escrito por Caetano Veloso. No espírito de colaboração típico da época, o artista plástico argentino Edigardos Ramón apareceu no Vila e já começou ali mesmo uma transa com o cenário do show, juntando forças criativas com Ivan Mariotti, que fez uma pintura psicodélica no disco voador de Ramón.

“Outra grande criação de Ramón foi o robô que confeccionou com papelão e que circulou pelo palco com ele dentro. A certa altura do espetáculo, o robô encostou-se em determinado ponto do palco, junto a uma parede de papelão, dando condições para que Edigardos Ramón o deixasse sem que a plateia percebesse, para minutos depois todo o elenco do show destruir o robô ante os olhos do público”2, descreveu Luiz Galvão, que dividiu a direção do espetáculo com o cineasta José Walter Lima e fez o roteiro junto com Paulinho Boca de Cantor.

“Eu me lembro Paulinho vendedor de laboratório, de terno e gravata. E um dia ele me disse que pintou um cara do disco voador que falou pra ele que ele tinha uma missão, que ele ia criar um movimento” 3, disse o tropicalista Rogério Duarte.

Foi no Teatro Vila Velha que os Novos Baianos desembarcaram na música brasileira, numa corrida espacial própria, desbundada, propícia para quem buscava, no espírito do seu tempo, encontrar e ser o mistério do planeta.

2 Galvão, Luiz. Blog Os Novos Baianos, 2010. Disponível em: https://osnovosbaianos.wordpress.com/ 2010/04/14/306. Acesso em: 2 Julho 2024.

3 Documentário Filhos de João: O admirável mundo novo baiano, direção de Henrique Dantas, 2011.

BAHIA, ANOS 70

Arembepe, Porto da Barra, Pedra da Sereia, Berlinque, Ponta de My Friend, Janis Joplin em Salvador curtindo com Judy Spencer e Pitti. Os cães e os gorilas rosnam, mas a caravana da contracultura continua passando.

Em 1971, um temporal com consequências trágicas para a cidade fez também uma parede do teatro desabar. Quando o Vila reabriu, seus filhos da década passada voltaram crescidos ao palco em que começaram. Gal, a menina de voz maviosa, voltou a todo vapor com os espetáculos Fa-Tal e Índia.

Em 1974, a Temporada de Verão em Salvador reuniu Caetano, Gil, Gal, Jorge Ben, Luiz Melodia, Jards Macalé, Jorge Mautner e Marcelo Costasantos em uma série de shows que tomou conta do Vila entre 10 de janeiro e 20 de fevereiro, em plena alta estação. Nas bandas de Gil e Caetano estavam outros habitués daquele palco, como Perna Fróes, os irmãos Perinho e Moacyr Albuquerque, Tutty Moreno e Tuzé de Abreu, que também participou do espetáculo O Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal.

“Eu lembro que Gil falou meu nome durante o show, dizendo que ia cantar uma música a meu pedido”4, diz José Walter Lima, que produziu aquela série de espetáculos com Guilherme Araújo. Trechos dos shows de Caetano, Gil e Gal integraram o LP Temporada de Verão.

Na sua estreia na temporada, Caetano subiu ao palco vestido com uma camisa vermelha e um calção branco do Bahia, frente a um público que se espalhava pelo chão do teatro. Nem Gal Costa conseguiu uma poltrona para se acomodar. Sentado numa cadeira azul, Caetano tinha um brinco pequeno e brilhante na orelha esquerda, além de pulseiras nos tornozelos.

Ele ainda se curava da rouquidão adquirida dias antes, na Lavagem do Bonfim, mas o show já havia sido pensado por ele como algo

4 Depoimento ao autor, 2024.

intimista. “Mas nesse show a gente está se testando. Vai parecer mais como um ensaio, é meio fora do esquema de verão, sem nada para esquentar o público”, disse Caetano5.

A sinergia e a proximidade entre a plateia e o público foram uma marca daqueles tempos, como no show que Caetano fez em prol da Anistia, em 1979, e em tantos outros com variados artistas de rock, bossa nova, MPB, música regional, samba, festivais estudantis. O teatro abriu alas também para o mais famoso representante da antiga turma do Elvis Rock Club, que sacudia o Cine Roma: Raul Seixas, que em seu último disco fez galhofa com o Vila na divertida canção Rock’n’Roll

Em agosto de 1973, um trio de sambistas símbolos da Bahia, formado por Riachão, Panela e Batatinha – este último com raízes na Ladeira dos Aflitos, pertinho do Vila – levou sua arte popular da rua para o palco. “Batatinha era um lorde, sempre gentil e atencioso. Apresentou-me a Riachão e a Panela, também compositores populares, e me comprometi a produzir um show deles, que chamei de Samba da Bahia, no Teatro Vila Velha”6 , escreveu o produtor Paulinho Lima.

Samba da Bahia virou disco por iniciativa do próprio Paulinho, que aproveitou a estada em Salvador do técnico de som escocês Maurice Hughes para registrar o show.

“Era menção obrigatória, naqueles tempos de fervura cultural, o Teatro Vila Velha, que viu Vinicius de Moraes sem Toquinho, em um show beneficente que dirigi, chamado Vinicius Sois entre as Mulheres. Foi lindo”7, relembra a atriz Gessy Gesse, que foi casada com Vinicius e chegou a ser coroada como rainha no Baile das Atrizes do Vila.

Do início ao fim, o Teatro Vila Velha de João Augusto esteve com as portas abertas para novos e velhos baianos.

5 Gropper, Symona. Jornal do Brasil, 1974.

6 Lima, Paulinho. Anjo do Bem, Gênio do Mal, Luz da Cidade, 2016

7 Siqueira, Sérgio; Afonso, Luiz. Blog Anos 70 Bahia, 2016. Disponível em https://anos70ba.blogspot.com/ 2016/06/a-pia-batismal-dos-artistas-baianos.html. Acesso em: 2 de setembro de 2024.

— 1993 UM TEATRO GUERREIRO CONTRA O DRAGÃO DA MALDADE

OS NOVOS RETOMAM O VILA

Em 1979, com a doença de João Augusto, muita coisa começou a mudar na administração do Teatro Vila Velha. O grupo Teatro Livre da Bahia, aos poucos, foi afastado do cotidiano do teatro. Carmen Bittencourt reassumiu a gerência da Sociedade Teatro dos Novos, mas logo a transferiu para Echio Reis, que também ficou responsável por sua direção artística.

Echio, naquele momento, morava no Rio de Janeiro, onde dirigia o Teatro Teresa Rachel. Com o falecimento de João Augusto, retornou a Salvador para assumir a gestão do Teatro Vila Velha, que dinamizou durante os cinco anos em que ali permaneceu.

Naturalmente, os anos 1980 foram iniciados em clima de luto no Vila. A morte de João Augusto, no ano anterior, abalou o cenário artístico da Bahia e impactou a sobrevivência do Vila. Somado a isso, havia todas as dificuldades do momento histórico, ainda vivendo e repercutindo o período de governos militares. O teatro precisava trazer público para suas apresentações. A saída encontrada foi abrir-se ainda mais para produções de fora, que passaram a dividir pauta com as criações da casa.

Logo no primeiro ano do Vila sem João Augusto, a pauta foi ocupada por apresentações de teatro para crianças e, sobremaneira, shows musicais. De Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Elba Ramalho ao Grupo Tarancon, passando por Moraes Moreira, Paulinho da Viola, Jorge Mautner, Xangai, Agnaldo Timóteo, Clara Nunes, Djavan e Ângela Ro Ro, foram, ao todo, cerca de trinta shows diferentes ao longo do ano. A estratégia se mostrou um acerto da nova gestão, tanto no quesito financeiro quanto em termos de prestígio.

O Vila, nas mãos de Echio Reis, passou de novo a produzir espetáculos, que primavam pela qualidade estética e apurada de cenários e figurinos, na sua maioria assinados pelo próprio Echio. Em 1980, dirigiu três montagens, O Arquiteto e o Imperador da Assíria, Chapeuzinho Vermelho e O Boi e o Burro a Caminho de Belém . No ano de 1983, duas novas produções foram dirigidas por ele: A Gata Borralheira e A Revolução das Mulheres. Nesta última, entrega a cenografia a Carlos Bastos, que volta a colaborar com o Vila depois de haver feito o cenário de A Farsa de Mestre Pathelin para os Novos, em 1961.

Na gestão de Echio percebe-se um alargamento nos períodos de pautas, possibilitando a espetáculos de teatro uma maior permanência em cartaz. E isso não valendo apenas para as produções do próprio teatro, mas também para outros produtores, que no Vila, somado a tudo, ainda tinha a possibilidade de ensaiar suas realizações.

Em 1981, o grupo Teatro Livre da Bahia, agora dirigido por Benvindo Siqueira, voltou ao Vila com o espetáculo Yes, Nós Temos Cordel . No elenco, que contou com Maria Adélia e Ednéas Santos, também estava Ruy César, que em 1979 havia sido eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).

A FUNCEB OCUPA O VILA

Apesar das iniciativas e do inegável espaço do Teatro Vila Velha na vida cultural da Bahia, sempre com repercussão nacional, o fato é que as finanças da casa passavam por um difícil momento. A dispersão dos integrantes da Sociedade Teatro dos Novos colabora para as dificuldades administrativas. Sônia Robatto tocava sua carreira como escritora e empresária em São Paulo; Othon Bastos se tornara um nome reconhecido nacionalmente e atuava entre São Paulo e Rio de Janeiro; Carmen Bittencourt vivia um dilema sobre prosseguir ou não na carreira de atriz; Thereza Sá intercalava períodos no Rio de Janeiro e outros em Salvador. Só Echio Reis e Carlos Petrovich continuavam engajados e atuantes no Teatro Vila Velha.

Em 1982, Echio voltou-se para a realização de ensaios das montages O Pranto da Madona e A Via Sacra , peças que foram apresentadas em praças públicas, com espetáculos comprados pela Prefeitura de Salvador e pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, em iniciativas que geraram recursos também para o Teatro Vila Velha.

Ainda em 1982 Echio dirigiu o texto de João Augusto A História do Marido que Trocou a Mulher por Uma Vaca , em comemoração aos 18 anos do Teatro Vila Velha. Pode-se imaginar com quais dificuldades econômicas foi erguida a montagem.

Entre 22 de agosto e 19 de setembro de 1982, Carmen, Sonia, Thereza, Othon, Echio e Petrô trocam cartas sobre uma possível dissolução da Sociedade Teatro dos Novos e venda ou doação do Teatro Vila Velha ao governo. Echio Reis e Carlos Petrovich foram as vozes que se levantaram contra essa possibilidade.

Echio, em carta de 18 de setembro de 19821, destacou a importância do Vila como espaço livre para o exercício artístico, na sua defesa pela continuidade da Sociedade Teatro dos Novos.

Eu sou absolutamente contrário à ideia de se entregar o Teatro Vila Velha ao governo. O Teatro Vila Velha, por ser um teatro particular e pertencer a um grupo de artistas, se constitui, com certeza, no único espaço livre e independente a serviço da Arte e da Cultura.

Petrovich, por sua vez, reforçou o sentido de grupo dos Novos e mostrou disposição para, junto com Echio, tocar o projeto, em carta de 19 de setembro de 1982. 2

Sei que se não estivessem cada um dos nossos companheiros com suas vidas programadas em diferentes partes do país, com certeza somaríamos todos novamente com aquele mesmo elã de vinte anos passados. Por isso, Carmen, não estou de acordo com a dissolução da Sociedade Teatro dos Novos. Você deverá considerar, junto aos demais, que Echio e eu temos o maior interesse em manter a Sociedade Teatro dos Novos funcionando produtivamente.

Mas as coisas seguiam difíceis, apesar da disposição de Echio e Petrô. Naquele 1982 da troca de cartas, no mês de janeiro só há registro de uma produção: o show Folia de Carnaval , produzido por Lui Muritiba. Em fevereiro, quando a atriz e diretora de teatro Yumara Rodrigues foi coroada rainha do XIV Baile das Atrizes, apenas Moraes Moreira e depois o grupo Afoxé Badauê ocuparam o palco do Vila Velha. Em março, apenas três eventos foram programados, incluindo apresentações da peça O Jardim das Borboletas . Naquele ano, como alternativa, foram iniciadas exibições de cinema no Vila Velha.

Mesmo diante de grandes dificuldades, o Vila não deixava de mostrar a sua sintonia com artistas de diversas linguagens artísticas, que buscavam retratar e discutir realidades pulsantes do momento histórico. O texto Blue Jeans , de Zeno Wilde e Wanderley Aguiar Bragança, teve apresentações no Vila Velha em março de 1982. Em setembro, uma então promessa da cena

1 Acervo Teatro Vila Velha.

2 Acervo Teatro Vila Velha.

rocker, o grupo Camisa de Vênus, apresentou-se no Vila; a seguir vieram outros; e o teatro tornou-se um palco importante para o punk rock de Salvador.

Em 1983, Yumara Rodrigues apresentou no Vila a peça Apareceu a Margarida . O texto-metáfora de Roberto Athayde para a ditadura brasileira era mais uma ousadia do teatro baiano, em tempos de governo militar. Yumara e Manoel Lopes Pontes realizaram, cada um com suas respectivas produções, diversos espetáculos para crianças, e essas iniciativas em muito contribuíram com o pagamento das contas do teatro.

No ano de 1985, Echio Reis retornou para o Rio de Janeiro depois de repassar a gestão do Teatro Vila Velha sem que houvesse dívidas financeiras relacionadas ao Teatro ou à Sociedade. Mas as dificuldades continuavam, a ponto de a Sociedade Teatro dos Novos, por maioria, ter decidido, um ano antes, firmar um contrato que passava a administração e manutenção do Vila para a Fundação Cultural da Bahia. A decisão e seu resultado são descritos da seguinte forma pelo jornalista e crítico de teatro Jacques de Beauvoir, entrevistado para matéria da jornalista Ângela Peroba (Tribuna da Bahia, 20/09/1986):

O Vila praticamente acabou. Está longe aquele tempo em que era um teatro maravilhoso. Agora nos resta a história. Fui obrigado a abrir guardachuva em pleno espetáculo e, em outra ocasião, contemplei, pela primeira vez, um corpo de baile de baratas. [...] Vale um toque: o Vila está arrendado à Fundação Cultural do Estado.

A PREPARAÇÃO DA METAMORFOSE

Diante do difícil quadro, possíveis soluções foram apresentadas. Os empresários responsáveis pela TV Itapoan levantaram a possibilidade de aquisição do prédio para as produções de auditório da emissora. A Fundação Cultural da Bahia, por sua vez, pensou em resolver a questão fazendo de todo o Passeio Público um grande corredor cultural, com incorporação do Teatro Vila Velha como um dos itens desse cardápio. Toda essa movimentação chamou a atenção da imprensa, que passou a acompanhar o desenrolar dos fatos. Diante de tamanha pressão, o governo decidiu devolver à Sociedade Teatro dos Novos o comando do teatro. Carlos Petrovich assumiu a posição de diretor do Vila Velha.

O teatro acusava as dificuldades do período. Sua estrutura estava muito desgastada; o palco representava um perigo, com partes do piso em madeira soltas e até podres; os equipamentos de iluminação e som da casa estavam obsoletos ou quebrados. A situação se mostrava agravada por muitas dívidas, geradas no período do convênio com a Fundação Cultural, gerida por Olívia Barradas, que não pagou muitos meses, ao grupo, o acordado por contrato. Tudo isso levou o teatro a ter telefone, água e luz cortados ou em iminência disso. O preocupante quadro só foi sanado pelo secretário José Carlos Capinan, da nova Secretaria de Cultura, criada pelo governo Waldir Pires, em 1987, que pagou, em parcelas, a dívida do Estado para com o Vila.

Para garantir a sobrevivência do Vila, incapaz de gerar a própria programação, Petrovich investiu pesadamente no público infantil e em projetos de formação. Também abriu-se para propostas de ocupação de pautas com produções variadas, inclusive algumas entre o sensual e o pornô. Em 1987, Clínica das Taras fez várias apresentações no teatro, abrindo caminho para produções como Nua na Plateia (1988), Taras de Uma Médica e Despertando para o

Sexo (1989) e Os Felinos (1990).

Essa programação convivia com as opções teatrais tradicionais e um grande conjunto de peças e projetos de formação dedicados ao público infantil, faixa etária que seguiu prestigiada durante a administração de Carlos Petrovich. Eram peças como, em 1987, A Onça e o Bode (direção de Yumara Rodrigues), O Principezinho das Estrelas (direção de Gil Santana), em 1988, O Cavalinho Encantado (direção de Lucia Di Sanctis) e Turma da Mônica em O Teatrinho da Revistinha; dentre outras.

O Vila adentrava a década de 1990 com apenas três dos antigos sócios: Petrovich, Sonia Robatto e Thereza Sá. Novamente precisava que seu legado fosse preservado e sua história reinventada. Mostravam-se urgentes uma drástica mudança em sua filosofia de trabalho e uma grande reforma que também modernizasse sua estrutura física e equipasse o espaço. Diante da realidade, o Teatro Vila Velha apresentava à sociedade e às classes artística e política a sua história, defendia sua importância como polo produtor e exibidor de cultura e pedia socorro.

Ronei Jorge

O início de uma nova década, marcada por um flerte com a esperança de abertura política e fim de um longo período de ditadura, permitiu o surgimento de uma juventude ávida por mudanças comportamentais que refletiriam de forma decisiva na música popular brasileira, criando um novo cenário: o rock dos anos 1980. O movimento e seus congêneres surgem como uma resposta artística imediata à possibilidade de mudança e, finalmente, retorno à democracia.

Essa tendência, antenada com a música pop produzida à época, principalmente nos Estados Unidos e no Reino Unido, ecoou com força não só numa juventude de classe média, em sua maioria, mas também em jovens da periferia, que, imediatamente, se espelharam na atitude do punk. Se é verdade que os sons produzidos pelas bandas eram quase decalcados dos seus pares estrangeiros, o texto refletia, em língua nacional, a realidade brasileira.

A novidade espalhou-se nas capitais de todo o Brasil, e em Salvador o fenômeno também deu seus frutos.

O Teatro Vila Velha, desde sua criação atento às vanguardas e manifestações populares, acabou por abrigar, nesse período, as ainda iniciantes bandas de rock e punk. Tudo em conformidade, inclusive, com o momento precário em que se encontrava o teatro: sem apoio, muito degradado. O aparente mau momento não foi empecilho para que parte importante da cena punk e rock eclodisse em seu palco. Afinal, ainda era o prestigioso palco onde se apresentaram e surgiram para o cenário artístico várias das importantes personalidades musicais do país. E o lema “faça você mesmo” do punk terminou adequando-se ao período underground do Vila.

O ponto alto dessa confluência do teatro com o punk rock deu-se na apresentação daquele que viria a ser o grupo baiano de rock mais conhecido nacionalmente: o Camisa de Vênus. O show no Vila, em setembro de 1982, ajudou a catapultar a banda, que vinha se apresentando para um público que crescia a cada nova aparição do grupo.

Nesse sentido, o que aconteceu no período entre 1980 e início dos anos 1990 foi que o Vila Velha abriu as portas para uma geração que tocava e curtia o punk. Tocar no teatro para o seu público era uma forma de ascensão da banda, por mais contraditório que seja para um grupo forjado no movimento punk, o que de fato só confirma o caráter inovador da casa.

Em dezembro de 1987, as bandas punk locais Dissidentes e Dever de Classe (esta última fundamental na história do punk soteropolitano) juntaram-se a uma das formações mais importantes nacionais do gênero, a Banda Cólera, de São Paulo, em uma noite antológica para o público. Colhendo os depoimentos, a impressão que fica é que o próprio momento das instalações, de certa forma decadente, acabou se transformando no cenário adequado e possível para aquela juventude desgarrada da possibilidade de se apresentar satisfatoriamente. Tocar em um teatro como aquele revelava a importância do movimento.

E essa simbiose entre o momento do Teatro Vila Velha e as bandas de rock foi se confirmando com a continuidade de apresentações de importantes grupos locais, como Elite Marginal, Treblinka e Flores do Mal, este último com o show no teatro selecionado e posteriormente vencedor do Troféu Caymmi.

O caráter “marginal” desse período do Vila foi concluído musicalmente no ano de 1992, de maneira simbolicamente perfeita, com a apresentação dos dois mais importantes artistas da Vanguarda Paulista: Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé. Foi o desfecho de um período em que a vitalidade dava as caras no subterrâneo, nas sombras.

De maneira espontânea, o Teatro Vila Velha cobriu e contribuiu com parte significativa do que havia de underground na década de 1980, reafirmando o seu papel de casa de vanguarda, resistência e luta.

Ricardo Sizilio JOÃO AUGUSTO

João Augusto Azevedo Filho nasceu no Rio de Janeiro em 1928 e, ao longo dos seus 51 anos de vida, foi autor, ator, diretor, crítico teatral, contrarregra, iluminador, cenógrafo, sonoplasta, figurinista, compositor, entre tantos. Aos nove anos, sua peça O Rei que Virou Jacaré foi encenada no teatro de fantoches da escola. Aos 17 anos, passou a efetivamente acompanhar o movimento teatral do Rio e entrou no Teatro do Estudante do Brasil (TEB), participando pela primeira vez de uma grande montagem, Hamlet. Em fins da década de 1940, João Augusto foi um dos fundadores do Teatro de Fantoches de Brighella e também participou do Teatro 48. Aos 20 anos, adaptou para o teatro o texto A Matrona de Efheso, sua primeira tentativa profissional como autor teatral, peça que foi encenada anos mais tarde.

No início dos anos 1950, João Augusto começou a trabalhar na Rádio Nacional. Concursado como técnico em comunicação social, anos mais tarde foi transferido para o Serviço Nacional de Teatro, para o cargo de professor do Conservatório Nacional de Teatro. Concomitantemente, em 1951, participou da fundação do Teatro O Tablado, com Maria Clara Machado e Eros Martim Gonçalves, dentre outros. Esteve na Bahia, em Salvador e no interior, entre 1952 e 1953, colhendo material para escrever sua peça premiada, A História de Jerônimo e Maria, inspirada em um tema da literatura de cordel. E com o pseudônimo de Didina Guerra venceu o concurso Martins Pena de 1956. Nesse contexto, começou a escrever sobre teatro para jornais do Rio de Janeiro.

Em 1957, recebeu o convite do diretor da Escola de Teatro da Ufba, Martim Gonçalves, para ser professor e dirigir o Departamento de Documentação. Mas, em 1959, em meio a uma série de conflitos entre o corpo discente e Martim, João deixou a Escola de Teatro, junto com um grupo de estudantes. Decidiu permanecer na Bahia, dirigindo o Teatro dos Novos, o primeiro grupo de teatro profissional do estado.

Se no Rio de Janeiro João Augusto teve sua formação teatral iniciada, foi na Bahia, nas duas décadas seguintes, que ele consolidou e amadureceu o seu ofício, colocando seu nome como uma das grandes figuras das artes cênicas no Brasil. Dirigindo o Teatro dos Novos, em 1964 inaugurou o Teatro Vila Velha. A peça Eles Não Usam Bleque-Tai, sucesso de público e crítica, foi dedicada “aos habitantes dos Alagados, agrupamento aviltante onde moram milhares de baianos”. Segundo João, sua busca era fazer “um teatro crítico, popular e pelo povo”, já que “o teatro é sintoma do que acontece no mundo”. Ao permanecer no estado, criou um “teatro na Bahia, em lugar de baiano”, que suportava “tudo, graças a Deus e ao Diabo”. Diante da implantação da Ditadura Militar (1964-1985), João Augusto teve censurados trechos de peças e/ou peças integrais, como no caso de Quem Não Morre Não Vê Deus.

Em 1965, João Augusto abriu as portas do Teatro Vila Velha para outras manifestações artísticas, sendo o palco da estreia de muitos “tropicalistas”. João dirigiu espetáculos de poesia e música, como os de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Piti. Com dez anos residindo em Salvador, tornou-se uma figura importante da cena artística da cidade, de tal forma que em 1967 foi convidado para ser o diretor artístico do Teatro Castro Alves, principal equipamento teatral do estado.

Até sua morte, em 1979, João manteve sua atuação artística e de crítico teatral. Para ele, o teatro deveria ser “popular, pelo povo, profissional, político e bonito que não excluía o feio”. João Augusto, “baiano por acaso, hoje por convicção” ou “baiano honorário”, teve sua vida inteiramente ligada à arte e ao teatro. E, quando viajava, dizia sentir “saudades enormes da Bahia – terra maldita. A gente tenta se livrar e não pode. Acho que virei baiano mesmo”.

A arte de João Augusto muito contribuiu para a Bahia e o Brasil, servindo até hoje de inspiração.

TExtOs

Edson Rodrigues

Jornalista, documentarista, dramaturgo, doutorando em Cultura e Sociedade pela Ufba.

Lucas Fróes

Jornalista e pesquisador.

Ronei Jorge

Cantor e compositor, curador do Festival Radioca.

Historiador, mestre e doutorando em História (Ufba). Autor do livro Vai, Carlos, Ser Marighella na Vida e organizador do livro Bahia: Política e Sociedade (1930-1940). Ricardo Sizilio

FICHA TÉCNICA

Coleção CADERNOS DO VILA

Volume 7

Projeto Editorial: Edições do Vila

Coordenação Editorial: Marcio Meirelles e Edson Rodrigues

Projeto Gráfico, Design e Capa: Ramon Gonçalves

Marca da Coleção: Luciana Aquino

Revisão de Textos: Cristiane Sampaio e Edson Rodrigues

A coleção CADERNOS DO VILA

é uma realização do TEATRO VILA VELHA através do selo Edições do Vila.

FROES, Lucas; MEIRELLES, Marcio; RODRIGUES, Edson; RONEI, Jorge; SIZILIO, Ricardo. Vila Velha, por Exemplo: 60 anos de um teatro do Brasil – O Vila: da Gênese à Metamorfose. Salvador, Edições do Vila, 2024. Coleção

Cadernos do Vila, v. 7.

ISBN Nº 978-65-984609-5-2

1. Teatro. 2. Arte. 3. Teatro Vila Velha.

TEATRO VILA VELHA – Edições do Vila

Sociedade Teatro dos Novos

Avenida Sete de Setembro 1303 – Dois de Julho

CEP: 40.060-000

Salvador – Bahia

2024

01. HAYDIL LINHARES - 4 PEÇAS de Haydil Linhares (2002)

02. O TEATRO DO BANDO - NEGRO, BAIANO E POPULAR de Marcos Uzel (2003)

03. TEATRO DE CABO A RABO: DO VILA PRO INTERIOR E VICE-VERSA org. Marcio Meirelles (2004)

04. MAIS TEATRO DE CABO A RABO org. Marcio Meirelles (2006)

05. VILA VELHA, POR EXEMPLO - 60 ANOS DE UM TEATRO DO BRASIL CONTEXTO HISTÓRICO de Ricardo Sizilio (2024)

06. VILA VELHA, POR EXEMPLO - 60 ANOS DE UM TEATRO DO BRASIL DESENVOLVIMENTO URBANO E TRANSFORMAÇÕES

ARQUITETÔNICAS

de Nivaldo Andrade (2024)

07. VILA VELHA, POR EXEMPLO - 60 ANOS DE UM TEATRO DO BRASIL O VILA, DA GÊNESE À METAMORFOSE org. Edson Rodrigues de Edson Rodrigues, Marcio Meirelles, Lucas Fróes, Ronei Jorge e Ricardo Sizilio (2024)

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