Apontamentos para a História Contemporânea

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(Dicionário bibliográfico português, Tomo XII, Lisboa, Imprensa Nacional, 1894)

Joaquim Martins de Carvalho

JOAQUIM MARTINS DE CARVALHO, natural de Coimbra. Nasceu na Rua de Coruche, da freguesia de S. Tiago, aos 19 de novembro de 1822. Destinavam-no seus pais ao estado eclesiástico, para o que frequentou uma das aulas de Latim que os jesuítas tinham em Coimbra, nos anos de 1833 e 1834; ficando, porém, órfão em tenros anos, não pôde continuar os estudos; e por isso teve de seguir a carreira do comércio e depois a das artes. Por se achar envolvido nos acontecimentos políticos, de que resultou a guerra civil, denominada da Maria da Fonte (1846-1847), foi preso em 4 de fevereiro de 1847, e conduzido em 19 do mesmo mês, com alguns Lentes da Universidade e outros indivíduos, para a Figueira da Foz, e dali para Buarcos, onde o obrigaram a embarcar no vapor da marinha de guerra Terceira com destino a Lisboa. Aqui o meteram na cadeia do Limoeiro com os demais companheiros, e se conservou na prisão até o dia 29 de abril de 1847, em que, juntamente com os outros presos, pôde evadir-se. Foi recapturado no mesmo dia, e só o soltaram em virtude da Convenção de Gramido, em julho do indicado ano. Tem prestado inumeráveis serviços à classe operária e às letras pátrias. Em 1851 cooperou em Coimbra com alguns académicos e artistas na fundação da Sociedade de Instrução dos Operários, que prestou muitos benefícios aos desvalidos. No mesmo ano foi o principal fundador do Montepio Conimbricense, que teve, e tem ainda hoje, vida próspera e segura. Tem pertencido a outras associações, e desempenhado várias comissões, não poupando esforços para lhes ser útil. Em 1851 também administrou e colaborou no Liberal do Mondego, folha que então saía em Coimbra; e colaborou no Observador, gazeta cuja publicação começara naquela cidade no dia 16 de novembro de 1847, e da qual veio a ser proprietário, quando mudou o título para o de Conimbricense, em 24 de janeiro de 1854. Em 30 de outubro de 1855, fundou uma tipografia na Rua de Coruche para imprimir o mencionado periódico, e atualmente a possui na Rua das Figueirinhas, onde igualmente reside e possui uma escolhida biblioteca, valiosa não só pela quantidade de volumes, mas pelo grande número de miscelâneas e coleção de obras políticas e históricas, em harmonia com os estudos prediletos do seu proprietário, tantas vezes demonstrados nas páginas do Conimbricense, sem dúvida a folha portuguesa que tem mais vasto e importante repositório de escritos e memórias acerca da antiguidade do Reino, e especialmente de Coimbra; e a que encerra maior soma de notas e apreciações de subido mérito para a história política e literária de Portugal, compreendendo esclarecimentos inéditos, fruto de aturadas e bem sucedidas investigações do seu benemérito redator. BRITO ARANHA

Apontamentos para a História Contemporânea

OBRAS DE JOAQUIM MARTINS DE CARVALHO

Joaquim Martins de Carvalho

Apontamentos para a História Contemporânea Recolha de textos, introdução e notas por

Mário Araújo Torres www.sitiodolivro.pt

Joaquim Martins de Carvalho nasceu em Coimbra em 19 de novembro de 1822 e aí faleceu em 18 de outubro de 1898, Órfão muito jovem, o regime de morgadio então vigente determinou que a parte substancial do património familiar fosse encabeçada no filho primogénito, Venceslau Martins de Carvalho. Como filho segundo, fora Joaquim Martins de Carvalho destinado à carreira eclesiástica, ao que ele resistiu. A sua única instrução formal consistiu na frequência, durante um ano, em 1833, da aula de Latim no Colégio das Artes, então dirigido pelos jesuítas. Deve-se ao seu abnegado esforço de autodidata a aquisição de vastíssimos conhecimentos, sobretudo nas áreas da história e da bibliografia. Na sua juventude, exerceu as modestas profissões de empregado comercial e de latoeiro, que lhe valeu o epíteto de Doutor Latas ou Lord Latas. Convicto lutador liberal, esteve vários meses preso na cadeia do Limoeiro, em 1847, como membro do Partido popular (patuleio) contra o cabralismo. Depois de libertado, dedicou-se ao jornalismo, essencialmente no Observador (1847-1853), a que sucedeu, logo em janeiro de 1854, o Conimbricense, de que foi proprietário, diretor e principal redator, até à sua morte, em 1898. Liberal progressista, foi membro da Maçonaria e da Carbonária Lusitana. Promotor do associativismo, sobretudo no sentido do progresso económico da região de Coimbra e da defesa das classes laboriosas, nos domínios da instrução e do mutualismo. Foi membro de diversas instituições científicas, designadamente a Academia das Ciências de Lisboa e o Instituto de Coimbra. Em vida publicou dois livros, com seleção de artigos e estudos seus saídos em O Conimbricense: Apontamentos para a História Contemporânea e Os Assassinos da Beira.


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