

título: A Tríade Disjuntiva: Literatura, Antropologia e Educação autor: Luís Souta edição: Edições Ex-Libris® (Chancela Sítio do Livro)
prefácio: José Guardado Moreira
posfácio: Pedro Soares Neves fotos: Luís Souta, Constança Dupic S. (p. 51), Eva Costa (p. 261) revisão: José Gouveia
ilustração da capa: Lionor Dupic desenho da badana: Teresa Mena Matos (1980) arranjo de capa: Ângela Espinha
paginação: Paulo Resende
1.ª edição Lisboa, maio 2025
isbn: 978-989-9198-32-6 depósito legal: 546504/25
© Luís souta
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Luís Souta
Literatura, Antropologia e Educação
Ao Professor Raúl Iturra, caro mestre, orientador e companheiro em muitos anos de trabalho compartido, no campo da Antropologia da Educação. Um verdadeiro Amigo.
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Os textos incluídos nesta obra foram anteriormente editados, mensalmente, no blogue Estudo Geral (https://luis-eg.blogspot.com), editado pelo colega e amigo Luís Carlos Santos. Os da primeira parte, na rubrica “Literatura: o pão nosso de cada dia”, publicados entre 13/11/2021 e 22/03/2024. Estes 24 artigos tiveram a sua origem na dissertação de provas públicas para professor coordenador (“A Escola na Palavra dos Escritores”, IPS, Dezembro de 2002). Um trabalho académico, com as especificidades de estrutura e linguagem, destinado a um nicho de arguentes, não pode ser editado como tal, ou então, continuaria fechado a um certo universo de leitores. Daí as mudanças operadas e as imperiosas actualizações. O título – Literatura: o pão nosso de cada dia – sintetiza a minha ligação com esta área (que foi, realmente, “tardia” no meu percurso de vida pessoal e profissional): mas agora não há um dia que passe sem a leitura de um romance, um livro de contos ou de poesia. Assim, como o nosso corpo não prescinde de um alimento diário – o pão – o meu espírito exige esse contacto quotidiano com a literatura. Os da segunda parte, na rubrica “Graffitar a Literatura”, foram divulgados entre 17/09/2014 e 07/01/2023, num conjunto de 43 textos (alguns deles em duas versões). O interesse por esta temática acabou por originar o projecto “Etnografar a Arte de Rua. Graffitar a Literatura”, que decorreu no ano lectivo 2017-18, no âmbito do programa de “Licenças Sabáticas Parciais” do IPS, de que beneficiei no decorrer do 1º semestre; essa pesquisa, conduziria à organização conjunta com a CMS, do Encontro “Impactos
da Street Art” que decorreu a 22/11/2018 no Auditório da Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal. Esta segunda parte do presente livro inclui fotos de murais e graffiti de sete locais de Portugal: Alcabideche, Alcácer do Sal, Cascais, Ericeira, Lisboa, Ribamar, São João do Estoril, Setúbal (parte significativa provém do “Muraliza - Festival de Arte Mural”, nas três edições efectuadas em Cascais – 2014, 2015, 2016). Aqui se divulgam trabalhos plásticos de graffiters portugueses (16) e estrangeiros (4). Nestes textos curtos, parte-se sempre de um trabalho de street art, com o propósito de divulgar uma obra de escritores portugueses (23) e estrangeiros (13). Em alguns dos textos acrescentou-se um post-scriptum quando se verificou depredação ou mesmo desaparecimento dos respectivos murais/graffiti. Numa arte (de rua) que tende a ser transitória, também por esta via, se preservou o que o tempo ou a mão humana acabaram por arruinar.
* Jornalista e Poeta.
José Guardado Moreira*
«Toda a boa literatura nos transforma em homens e mulheres de outras culturas, de outros países, de diferentes religiões, diferentes tempos e faz-nos sentir em casa em lugares muito distantes. É esse o milagre e a magia da literatura.»
(Amos Oz, entrevista ao Ípsilon, 26/02/2016, p. 26)
O percurso académico do autor desta Tríade fala por si, e este livro condensa de forma exemplar muitas das suas preocupações com a antropologia da vida, escolar e literária. Permito-me uma pequena lembrança dos anos em que frequentámos as mesmas salas e jardins do Palácio Burnay, onde descobrimos as variedades e as paletas das sociedades humanas, espalhadas em páginas e ecos de outros continentes e culturas, pela mão de professores que indicavam caminhos, desde Jorge Listopad e as culturas e línguas eslavas, ou Dias Farinha, na vertente arábica, à sombra dos jardins e na majestosa Sala Verde, que se abria a um horizonte de saberes e interrogações. Este livro é também a floração dessa vivência, configurado em outras dimensões, da literatura à fotografia e ao grafitti, tudo envolto na experiência do ensino e da leitura de tantos autores que por aqui se passeiam, num jardim de signos e descobertas, ecoando uma inscrição, num muro das Amoreiras, dizendo que se “Herrar é Umano”, então a leitura, o estudo e a reflexão são os melhores antídotos para as interrogações, dúvidas e perplexidades em face das circunstâncias do tempo. Há muito para descobrir nestas páginas que fazem do presente um alerta: educar pela leitura é o melhor meio de não esquecer que a vida se deixa gravar nas paredes atemporais das marés da existência.
Parte
«– A literatura é uma doença universal… o sarampo das crianças e o reumático dos velhos…»
(Uma Fábula – o Advogado e o Poeta, Teixeira de Pascoaes)
«Está acabada a cultura baseada em livros que era partilhada pelas “pessoas intelectuais” de todo o Ocidente e das suas colónias» (Passos Perdidos, Paulo Varela Gomes, 2016: 58)
As sociedades letradas colocaram o livro como um bem único, central no combate ao esquecimento e na aquisição do saber. O livro é a memória. «O que não se escrever não consta» (Eduarda Dionísio)1, esvai-se, é como se não tivesse acontecido ou, como diz Ítalo Calvino, «todas as ‘realidades’ e ‘fantasias’ só podem tomar forma através da escrita» (1990: 119). Ou ainda como Jack Goody (1986) demonstrou, a escrita acaba como elemento estruturador da organização social. Esta visão, chegaria ao limite quando Mallarmé, citado por Calvino (id.: 166), afirma que «tudo no mundo, existe para acabar num livro». E como bem nos recorda Irene Vallejo (2019: 38) «todo o livro é um passaporte sem data de caducidade.» É evidente que os livros não são todos iguais, na importância que a sociedade lhes atribui. E que tal hierarquia se altera no curso histórico e no seio das diversas instituições. Numas – as igrejas – aprendia-se a ler para ter acesso aos livros sagrados. Noutras – as escolas – erigiu-se o livro como elemento primordial da sua acção. Era o ‘sagrado’ manual, instrumento básico de apropriação de conhecimentos e fonte de aprendizagem, e que já foi “livro único”, não permitindo outras alternativas, pelo menos no seu seio. Isso nos relembra, por exemplo, a escritora Ester de Lemos:
«Era proibido ler romances no Liceu» (1959: 46).
Mas ainda hoje, mesmo nas aulas de Português e Literatura, e por paradoxal que isso pareça, o manual continua a ser “o Livro dos livros”2. Os princípios dominantes nas sociedades de mercado, uma econocracia que tudo transforma em mercadoria, e que procura satisfazer os “clientes” pondo à sua disposição opções credíveis de escolha, chegou também aos materiais escolares. Hoje a multiplicidade de manuais é tal (em formatos vários que vão da vetusta sebenta para decorar ao ‘moderno’ livro de fichas para exercitar, a que se juntou o «manual do professor»!) que, em torno dele, gira uma florescente actividade produtiva e comercial que, todos os anos lectivos, tem assegurada uma fatia certa e volumosa de compradores3; quanto a genuínos leitores já é mais problemático, como o evidenciam as permanentes taxas de insucesso escolar. As editoras escolares são, no panorama editorial português, empresas que não sabem o que é a crise. Os estabelecimentos de ensino têm oficialmente que os adoptar, mesmo que alguns professores prescindam deles na sua actividade lectiva. A selecção de manuais é uma tarefa em que a pressão do marketing e as “contrapartidas” oferecidas pelas editoras acabam por constituir-se como factores condicionantes das opções pedagógicas de selecção4.
Agustina Bessa-Luís, em entrevista ao Ensino Magazine5, diz que «ler exige uma elevada concentração e um grande silêncio e não é uma criança qualquer que está em condições adequadas para o fazer.» Estamos cientes que os ambientes físicos, em casa, no trabalho, ou nos transportes públicos são pouco incentivadores a esse recolhimento. O ruído é um dos males das nossas modernas sociedades. Nos lares, os espaços reduzem-se a apartamentos claustrofóbicos, onde o televisor e o rádio, permanentemente ligados, são a ‘companhia’ garantida. Mais recentemente, nos transportes públicos, passaram a “dar-nos música” (de fundo) e, para as viagens de longo curso, instalaram-se circuitos de vídeo interno, entrecortados por informações regulares sobre a estação que se segue. Ler, passou a ser uma tarefa cheia de obstáculos e distractores concorrenciais. Nas nossas escolas domina a “cultura do berro”, num
barulho permanente (por vezes ensurdecedor) que já não se restringe aos espaços exteriores de recreio:
«O liceu era um inferno de barulho» (José Rodrigues Miguéis 1973: 100).
Dentro dos edifícios, nos corredores, e, pior um pouco, no interior das salas de aula, o ruído ou, na melhor das hipóteses, o burburinho de fundo é a tónica dominante na atmosfera escolar. Restam alguns nichos, onde o silêncio, propiciador de uma leitura concentrada e produtiva, reina – as bibliotecas – e mesmo muitas delas, têm-se vindo a transformar em locais de trabalho de grupo mais do que espaços íntimos e pessoais de pesquisa e leitura. Este clima institucional, reflexo mais uma vez do mundo circundante, denota também, neste domínio, o défice de cidadania. É em escolas onde a vertente de cidadania constitui preocupação constante da equipa docente e, em particular, de quem a dirige, porque inscrita como linha orientadora no seu projecto educativo e nas práticas quotidianas baseadas em metodologias fomentadoras da autonomia e responsabilidade, que se podem encontrar as excepções. Um desses raros exemplos foi-me dado presenciar na Escola da Ponte, em Vila das Aves, que o meu amigo José Pacheco pacientemente erigiu: uma escola de 1º ciclo onde o silêncio, o falar baixo, o tom moderado de voz nos constantes trabalhos em grupo, se impunham; mesmo após o fim das aulas, as tradicionais correrias na saída da escola, acompanhadas de um verbalismo esfuziante, ali não se verificavam. Isto quer dizer que não é assim tão utópico as escolas serem ‘oásis’ em muitas vertentes da sua vida organizacional (há quem prefira chamar-lhe “cultura de resistência”, os mais dados à ideologia, ao combate e à luta).
A mesma Agustina conta, numa outra entrevista, como ficou sem uma empregada doméstica quando esta identificou a sua potencial patroa: «Ai a senhora é a Dona Agustina! Pois fique a saber que para si não trabalho nem morta, porque fui obrigada a ler os seus livros na escola…»6. Não se veja neste comportamento um mero caso pessoal, pois já o estudo realizado pelo Observatório das Actividades Culturais, em 1998-99 mas só publicado em 2001, chamava Preview
a atenção para o potencial efeito perverso na aquisição de práticas de leitura decorrentes da prescrição escolar da «leitura obrigatória». Para além da aversão e repulsa por essas obras literárias, quantas vezes dissecadas até à exaustão pelos “bisturis” estruturalista e didáctico, o Observatório alertava ainda para o risco que se corre de «diminuir drasticamente a disponibilidade dos jovens estudantes para outro tipo de referências literárias»7. Também aqui a diversidade cede ao cânone.
Vasco Graça Moura denunciava, de forma contundente8, o falhanço da escola no que respeita ao contacto com o livro e ao fomento da leitura: «continua a sair uma gente que já mal sabe falar a sua própria língua, a despreza manifestamente e não é capaz de pensar porque não a domina, uma gente que não conhece um só autor do passado, uma gente a quem não foi incutido o hábito da leitura, e muito menos o prazer da boa leitura, uma gente que nunca aprendeu para que é que serve um livro e quando muito sabe vagamente o que é uma fotocópia».
Muito se tem discutido sobre o futuro do livro na «sociedade da informação» (pois mas “a informação só nos causa dor”) ou «sociedade cognitiva» (pois mas “o conhecimento só gera, de certa forma, mais impotência”) ou «sociedade educativa», como R. Carneiro a classificou em 2001, (pois mas vivemos no “analfabetismo ilustrado: sabemos tudo, mas não podemos nada”)9. Debate algo estranho e aparentemente deslocado no tempo, pois seria natural que, num macro contexto deste tipo, o livro ganhasse um estatuto e uma divulgação como nunca conhecera no passado. Só que outros fenómenos emergiram pujantes, designadamente o multimédia. Concorrente fortíssimo o audiovisual – «civilização videológica» – onde a imagem não exige o esforço de concentração e descodificação que a leitura implica (Sartori 1997). Num tempo de fugacidade, de que o spot e o videoclipe são o paradigma, a leitura de um livro, que exige tempo e continuidade, corre sérias ameaças.
No romance Para Sempre, Vergílio Ferreira remete o livro para um passado de que hoje só nos restam imagens, memórias ou artefactos de museu:
«O tempo do livro é o tempo do artesanato. Coisa destinada a um indivíduo, fabricada com vagares, consumida com vagares. (…) O tempo do livro é o do candeeiro de petróleo, o das meias de algodão feitas em casa à agulha, o das papas de linhaça e do óleo de fígado de bacalhau. O das ceroulas compridas com atilhos. É o tempo dos botins e das cuias, dos palitos para palitar os dentes depois da sobremesa. O tempo das perucas, das lamparinas e dos penicos. (…) O tempo do livro é o do carro de bois» (1983: 106,107,108).
Numa posição mais confiante na durabilidade do livro, independentemente dos novos aparatos comunicativos, Miguel de Sousa Tavares, numa entrevista concedida à revista semanal Pública10 , aquando da edição do seu livro Não te deixarei morrer David Crockett, defende
«que os grandes leitores têm uma relação física com os livros (…) o livro objecto é aquilo que desperta a vontade, o verdadeiro prazer de ler. Acho que as pessoas que lêem a internet nem sequer são leitores. Um leitor é uma pessoa que adormece com o livro ao colo, acorda, escreve no livro ou não escreve, marca as páginas (…). Eu não acredito numa civilização que não lê.»
Mais peremptório ainda é António Barreto quando afirma, com convicção:
«O livro é eterno» (2002: 343).
Muitos são aqueles que questionam a prática generalizada da leitura de um livro (e em especial de um romance) num ecrã de computador. Hoje, o acesso ao livro electrónico (e-book)11 é extremamente
facilitado (em termos técnicos, operacionais e até financeiros). Mas a relação física e afectiva (o toque, o cheiro, a memória de uma oferta…) que o leitor estabelece com o livro enquanto objecto não é substituível pelos meios informáticos, que remetem o texto para o campo da virtualização. As potencialidades que são reconhecidas ao «hiperlivro» (por exemplo, a rapidez na pesquisa de um elemento do texto, seja uma frase, uma expressão, o nome de um personagem ou de um lugar, os links possíveis com outros textos e autores), dirigem-no mais para uma utilização pragmática e parcelar, ligada a actividades de análise e estudo, do que ao processo normal de uma leitura sequenciada, capítulo a capítulo.
A leitura em livro tem a vantagem de ser feita em casa, na rua, nos transportes, praticamente em qualquer lugar; ainda que a miniaturização dos computadores aproxime o portátil, o tablet ou o iphone dessas virtualidades atribuídas ao livro, há limites e obstáculos a superar (por enquanto?) como a autonomia energética, o acesso à rede wireless ou a dimensão reduzida da mancha gráfica (ainda que atenuada com os ecrãs suaves que não cansam a vista). Coisas menores, poder-se-ia dizer, preconceitos de uma geração que, tem dificuldades de adaptação na passagem do táctil para o digital (do palpável ao virtual). Uma geração que entrou em contacto com todos estes equipamentos numa fase muito adiantada da sua formação, com uma maturidade já definida e estilos de vida pessoal e de aprendizagem consolidados. Seriam então os jovens, já socializados com a informática desde muito cedo, os “coveiros” do livro. Mas tal parecia ser contrariado, entre nós, pelos dados divulgados por diversos estudos. Livreiros e bibliotecas públicas mostravam como a compra e a leitura de livros, entre os estratos mais jovens, era das mais florescentes. O Observatório das Actividades Culturais constatava, em 2001, a manutenção da «centralidade simbólica» do livro, ainda colocado pelos jovens no topo hierárquico dos bens culturais, apesar de no dia a dia privilegiarem os meios audiovisuais. Só que um outro estudo12, mais recente (de 2019), dava conta de um «crescente desamor dos jovens pelos livros»: 17,4% dos alunos do ensino básico e 26,2% do secundário assumem que não
leram «nenhum livro por prazer» no último ano antes do inquérito (em 2007, esses valores eram respectivamente 12,5% e 11,4%).
Estamos numa nova fase de transição, onde as certezas são abaladas e as dúvidas mais que muitas. Algo de semelhante deve ter ocorrido em outros momentos da História, por exemplo, quando o pergaminho foi substituído pelo papel (Vallejo 2019). E o livro continuou, ainda com maior vigor. Agora, «o mundo digital não é o inimigo maior dos livros, mas o modo de vida», avisa Zoran Zivkovic13.
Mas as consequências do desenvolvimento informático não se colocam apenas no patamar do consumo. A própria literatura, na área da produção, enfrenta fortes desafios decorrentes da escrita cibernética. Num tempo de «aceleração» (Hartmut Rosa 2005), quando se potencializa a “imaterialização de conteúdos”, se expande a interactividade, se alargam as redes a limites inimagináveis, e quando a regra é “falta de tempo”, novos horizontes se rasgam à gente da escrita (que a tem como profissão ou como hobby). Uma nova geração de escritores irá irromper em definitivo, a que já não usa a “caneta” pois funciona permanentemente no teclado (o que se vai tornando vulgar mesmo para os escritores ‘clássicos’) e desconhece o ‘papel’, uma vez que a escrita entra de imediato nos circuitos electrónicos e fica disponível on-line. Em regra, os autores electrónicos criam o seu site pessoal e nele disponibilizam as suas obras, criam mailing lists, newsletters, fóruns de discussão o que lhes permite um contacto constante com os seus leitores. Este tipo de escritor dispensa assim as tradicionais estruturas intermédias: ele não só anula os círculos editoriais de impressão, como se livra de editoras e distribuidoras, com a vantagem de encurtar, de forma vertiginosa, os circuitos de divulgação, alargando imensamente o acesso à sua obra. Deste modo, temos reunidas numa só pessoa as tarefas e funções que se encontravam pulverizadas numa teia empresarial a jusante do acto da escrita. Em regra, essa cadeia de produção e prestação de serviços escapava ao controlo do escritor, Preview
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