VOID*3, Júlio Pomar

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Outras obras agora identificadas e também destruídas multiplicam as direcções de pesquisa: quatro ensaios da série Beatles (vejam-se as três telas de 1965, CR I n.os 327-329,) e mais quatro variantes da tela Parade, n.º 343 do mesmo catálogo. Esta é uma obra isolada, datada de 1966, que alude, no limiar do reconhecimento, a um desfile imaginário de músicos e mascarados com caveiras. Na documentação fotográfica agora revelada inclui-se também um grande crocodilo em formato 50 × 150 cm (CR I n.º 346). É mais uma peça de um bestiário que por essa época se renova com os primeiros porcos (CR I n.os 347-349). Mas no caso de outras telas adiante reproduzidas já não existe ou não é possível reconhecer qualquer dado referencial. Documentam uma pesquisa claramente assumida pelos caminhos da abstracção gestual, de notório automatismo, a que o pintor não deu continuidade. Notar-se-á, no entanto, que essas cinco telas destruídas são de algum modo próximas do quadro Foire du trône (CR I n.º 353), nome de uma feira popular parisiense, e de Vista de Lisboa (CR I n.º 351) – duas obras únicas na produção do pintor, habitualmente estruturada em séries. A seguir a um período de quatro meses de férias e trabalho no Algarve, no Verão de 1967, em Manta Rota, em que começou a produzir assemblages6 de objectos e materiais encontrados na praia7, e seguramente já sob o impacto dos acontecimentos de Maio de 1968, o pintor terá considerado o seu trabalho num impasse. Terá sentido a necessidade de voltar a «estabilizar» a sua pintura, o que aconteceria com os fundos lisos e as formas recortadas que surgem a partir das séries Rugby e Mai 68 (CRS-SS), obras que têm origem em fotografias da imprensa – uma mudança decisiva na sua metodologia de trabalho – com sequência nos Banhos turcos, segundo Ingres e nos retratos dos anos seguintes, em que o gesto e as pinceladas livres desapareceram. As imagens de época que se apresentam neste volume são testemunhos de um conjunto de experiências que o pintor desenvolveu, quase em passagem para o campo da «abstracção» (conceito explorado na exposição Void*: Júlio Pomar 6 A exposição que juntará Júlio Pomar e Pedro Cabrito Reis, em Junho-Setembro de 2017, procurará investir sobre esta fase e este tipo de produção artística. 7 Foram mostradas pela primeira vez na retrospectiva de 1978.

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