Jornal Sinditest | Número 30 - Maio 2018

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remetente: SINDICATO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR NO ESTADO DO PARANÁ SINDITEST-PR | Av. Agostinho de Leão Júnior, 177, Alto da Glória. Curitiba - PR

Jornal do Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior no Estado do Paraná

edição 30 | ano 24 | maio 2018 | gestão sindicato é pra lutar

| www.sinditest.org.br Mídia Ninja

Democracia na

corda bamba Governo Temer e parcialidade do Judiciário atacam os direitos sociais e democráticos e ameaçam a soberania nacional pág. 4 e 5

Legislação

Reforma Trabalhista: A CLT do patrão já está em vigor. Confira os principais retrocessos pág. 6

Entrevista

O Sinditest falou com Maria da Penha, ícone do combate à violência contra a mulher pág. 7


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editoriaL

Notas Culturais

Não há justiça

sem democracia

É

estranho perceber a necessidade de defender direitos democráticos mesmo após 30 anos de vigência da Constituição Cidadã de 1988. Poderíamos hoje estar falando da proposta real de aprimoramento e melhoramento do SUS, ou poderíamos estar debatendo onde será aberta uma nova universidade federal, ou quando será aprovada uma nova legislação que proteja mais as mulheres, a comunidade LGBT, a população negra, ou ainda, o quanto precisamos de aumento no salário e, talvez até alcançar uma redução na jornada de trabalho. Mas, ao invés de debater avanços, somos confrontados diariamente com novos retrocessos. É impossível falar da operação Lava Jato que determinou a prisão de Lula sem perguntar: a quem interessa prender Lula agora? A quem interessa condenar o maior líder popular do Brasil que aparece em 1º

lugar na pesquisa eleitoral? Por que o discurso do ódio venceu a razão? Defender hoje a democracia é reivindicar o óbvio: o povo deve decidir. Nenhum corte, nenhuma empresa de comunicação, nenhum congresso de corruptos poderia decidir por nós. Apesar das críticas que sempre fizemos aos governos do PT, entendendo que poderia ter avançado nas políticas de distribuição de renda, nas políticas que regulassem os meios de comunicação ou nas reformas pelas quais tanto ansiamos como a reforma agrária e urbana, precisamos denunciar o que há de podre nesse “grande acordo nacional com supremo, com tudo...”. Diante disso, temos dois caminhos: continuar fazendo nossa política corporativa descolada da realidade sem contrapor uma narrativa de ódio de classe, ou construir de forma justa e fraterna uma frente única que defenda a democracia e os direitos dos trabalhadores.

Exposição em 3D para pessoas com deficiência visual

Uma mostra desenvolvida especialmente para as pessoas com deficiência visual. Esta é a proposta da exposição “De Fotografia à Tactography”, em cartaz até o dia 10 de junho no Museu da Fotografia da Cidade de Curitiba (Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 533 (Solar do Barão). Por meio de uma técnica suíça que escaneia o objeto fotografado e o transforma em peças 3D de alto relevo, o artista Gabriel Bonfin permite que os(as) visitantes tenham uma experiência sensorial sem igual com as imagens expostas. A entrada é gratuita.

Meu crespo é de rainha

O livro, indicado para crianças a partir dos três anos, apresenta às meninas brasileiras diferentes penteados e cortes de forma positiva, alegre e elogiosa. Publicado pela editora Boitempo, Meu crespo é de rainha enaltece a beleza dos fenótipos negros, empodera e serve de referência positiva aos seus jovens leitores. De autoria de Bell Hooks e com ilustrações de Chris Raschka, está disponível para compra diretamente no site da editora pelo valor de R$35. Divulgação

charge

Baile do Sinditest

Vem aí o baile em comemoração ao Dia do Trabalhador e Trabalhadora. A festa, promovida pelo Sindicato, já tem data marcada: 8 de junho, sexta-feira, às 21h, na Sociedade Morgenau. Fique atento(a): em breve divulgaremos mais informações!

expediente O Jornal do Sinditest-pr é uma publicação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral do Estado do Paraná. Avenida Agostinho Leão Junior, 177 – Alto da Glória - Curitiba/Paraná | Telefone: (41) 3362-7373 | Fax: (41) 3363-6162 www.sinditest.org.br | imprensa@sinditest.org.br Fotos: Sinditest-PR. Jornalista Responsável: Silvia Cunha - MTB: 0009599/PR. Redação: Luisa Nucada e Silvia Cunha | Diagramação: Ctrl S Comunicação (www.ctrlscomunicacao.com.br) Tiragem: 5.000 exemplares | Gráfica: Gráfica Mansão - fone: 3598.1113 e 9926.1113. É permitida a reprodução com a citação da fonte.

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rapidinhas

Funpar: ninguém fica pra trás! No dia 20 de abril, os(as) trabalhadores(as) da Funpar/HC, juntamente com a comissão obreira e a coordenação do Sinditest, protocolaram a proposta de Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2018/2019 da categoria, e fizeram a entrega da pauta de reivindicações ao reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, na Sala dos Conselhos da instituição. Aprovado por unanimidade, o texto do ACT apresenta as principais demandas da categoria para este ano e o próximo, com destaque para os seguintes pontos: manutenção dos empregos até que todos(as) se aposentem, reposição da inflação (INPC 30 de abril até 1º de maio de 2018) e das perdas salariais históricas da categoria, aumento real de 10%, base de cálculo adicional de insalubridade conforme o piso da categoria, além do aumento do auxílio alimentação para R$32,83 de acordo com a tabela da ASSERT. Sinditest-PR

Unila realizará consulta para Reitor A realização de consulta para o(a) novo(as) reitor(a) da UNILA foi aprovada na última sessão do Conselho Universitário (Consun), realizada em 23 de março. As votações ocorrerão em duas modalidades: 70/30 e paritárias. A Comissão Eleitoral Central será constituída e coordenará o processo. Também nessa sessão do Conselho foi reconstituída a Comissão Permanente de Flexibilização da Jornada. Cabe a essa comissão avaliar os processos que solicitam a flexibilização da jornada de trabalho. Atualmente, apenas os(as) TAES da Biblioteca, Secretarias Acadêmicas e Laboratórios fazem 30 horas. Além disso, o reitor Gustavo Oliveira Vieira assinou o acordo da greve de 2016, no qual ficou acordado que já foi feita a reposição de trabalho.

UTFPR: licença para pós-graduação

Funcionários da Funpar protocolam ACT. A luta está só começando!

EBSERH: ameaça de corte de insalubridade mobiliza a categoria Trabalhadores(as) dos setores administrativos do HC contratados pela EBSERH compareceram em peso à Assembleia Geral da categoria realizada no dia 19 de abril. Em pauta, a ameaça do corte do adicional de insalubridade. Os(as) funcionários(as) procuraram o Sindicato para que juntos exigissem da gestão do hospital um posicionamento oficial sobre o assunto. “No momento não há nenhuma notícia de corte de insalubridade”, afirmou a chefe da Divisão de Gestão de Pessoas Laryssa Martins Born. De acordo com o representante do SOST – Serviço de Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho, departamento responsável pela execução dos laudos, a auditoria que está acontecendo não é vinculada à insalubridade, mas estrutural. O Sinditest se coloca à disposição dos(as) trabalhadores(as) da EBSERH e acompanha de perto a questão.

Motivo de preocupação para a categoria, a Instrução Normativa PROPPG 04A/2017, que se refere aos processos de afastamento integral e prorrogação de afastamento para pós-graduação, foi tema de uma reunião entre o Sinditest e a Reitoria da UTFPR no fim de fevereiro, dia 23. Desta vez, gestão e Sindicato estão de acordo: a normativa precisa ser revista. Na prática, o documento inviabiliza o acesso aos técnicos e técnicas à licença integral. Atualmente, dos 276 afastamentos para doutorado, 14 foram concedidos para TAEs. No mestrado, os servidores e servidoras são maioria: 19 entre as 24 liberações integrais. “A gente entende que não dá pra liberar todo mundo, por isso existem os editais. Esse é um ponto que é pauta da categoria desde 2012. Gostaríamos de ter participado deste processo, mas se há a possibilidade de diálogo, que a gente consiga junto com a CIS fazer essa discussão e avançar nisso”, afirmou uma das coordenadoras do Sindicato, Claudia Nardin. Sinditest-PR

Sinditest-PR

Assembleia EBSERH: corte de insalubridade preocupa trabalhadores(as) UTFPR: Coordenadores do Sindicato e delegados(as) de base após reunião com o Reitor


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Conjuntura

Governo Temer:

duros ataques à soberania nacional, aos direitos sociais e democráticos Ricardo Stuckert

Militantes, estudantes, representantes de movimentos sociais e sindicais protestam em frente à PF contra as ilegalidades da prisão de Lula

Ricardo Stuckert

A

conjuntura atual está marcada pela continuidade das medidas antidemocráticas e antissociais pós golpe de 2016 que derrubou Dilma Rousseff. Desde então, observamos uma combinação de violações dos direitos democráticos e sociais, além de ataques a soberania nacional através, principalmente, da entrega da Petrobrás às multinacionais dos EUA. A crise econômica mundial chegou ao país de forma contundente às vésperas do golpe, e isso não foi coincidência. O objetivo dos golpistas foi justamente garantir um governo favorável à aplicação de medidas que restauras-

Família Bolsonaro foi contra CPI das Milícias, marco no combate ao crime organizado

sem, rapidamente, a rentabilidade dos bancos e multinacionais. Foi por isso que atacaram os direitos dos trabalhadores e os investimentos nos serviços públicos. Praticamente rasgaram a CLT e a Constituição de 1988. A Lava Jato, de Sérgio Moro, utilizou-se de mecanismos autoritários para isso, tais como delações premiadas, depoimentos coercitivos, vazamento de gravações, condenação e prisão sem provas. Dilma foi derrubada do governo sem crime de responsabilidade. O mesmo judiciário que atua cotidianamente contra os(as) trabalhadores(as) nas greves e mobilizações foi o que condenou Lula à prisão, sem provas. Nem mesmo as declarações de Lula que apontavam para um novo governo de composição com setores de direita, como Renan Calheiros (MDB), foram suficientes para que o judi-

Fabio Rodrigues Pozzebom | Agência Brasil

ciário recuasse em sua decisão de puni-lo. Lula é, sem dúvida, um preso político. O objetivo é simples, primeiro tirar o PT do governo e depois impedir que ganhe novamente as eleições. E por quê? Porque não passa mais pela cabeça da elite de nosso país negociar com os(as) trabalhadores(as) e suas organizações. Não admitem nenhum empecilho para a aplicação de seus planos. Para eles, já se foram os tempos da conciliação entre as classes sociais, agora a política é a do “tratoraço”, com bombas de gás lacrimogênio e efeito moral, balas de borracha e cassetetes.


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Derrota da Reforma da Previdência, militarização do governo e crescimento do neofascismo

A partir do golpe de 31 de agosto de 2016, com apoio da mídia (principalmente a Rede Globo, Band, Record e SBT), do judiciário (Lava Jato), das forças armadas e de parlamentares corruptos, foram aprovadas as Reformas do Ensino Médio e Trabalhista, a “PEC do Teto” e a Lei das Terceirizações. Por conta da resistência dos(as) trabalhadores(as), combinada com o processo eleitoral, a base parlamentar golpista recuou da apreciação da Reforma da Previdência. Passadas as eleições certamente este tema será pautado no Congresso Nacional. Por isso, querem um governo burguês puro sangue. Caso não seja possível, apontam inclusive para a possibilidade de um regime autoritário. Um movimento de militarização da política passa por dentro do executivo de Michel Temer (MDB). A presença de generais ocupando cargos importantes se amplia a cada dia. Por ordens de Temer os militares já dirigem a segurança pública no estado do Rio de Janeiro, e foi alterado a legislação (Lei 13.491/2017) para que possam ser julgados em tribunais próprios por crimes praticados durante operações de rua que antes passavam pela justiça comum. Atitudes impensadas a pouco tempo já viraram rotina. Generais da ativa e reserva se posicionam publicamente na defesa de um governo autoritário. Recentemente o comandante das forças armadas ameaçou com a possibilidade de uma intervenção militar caso o STF não atuasse para tirar Lula do processo eleitoral. Somado a tudo isso, o candidato da extrema direita, Jair Bolsonaro, que expressa um setor autoritário, racista, machista, xenofóbico, homofóbico e neofascista das FFAA e da sociedade civil, ganha peso eleitoral de massas. Esse setor social empoderou-se com o golpe a ponto de armar uma emboscada com capangas armados que apedrejaram e atiraram com armas de fogo contra dois ônibus da caravana da précandidatura de Lula no sul do país.

Bolsonaro foi contra a CPI das Milícias na Assembleia Legislativa. Esta CPI foi um marco na luta contra o crime organizado e sua articulação com o poder público. O relatório final pediu o indiciamento de 225 políticos, policiais, agentes penitenciários, bombeiros e civis. Não podemos deixar de mencionar o comentário do Pastor Feliciano (PSC), importante líder religioso do país, que participou de um programa popular de rádio no qual afirmou em rede nacional que “esquerdista demora para morrer porque a bala não acha o cérebro”. A temática do programa era exatamente a morte de Marielle.

Todos estes elementos da conjuntura atuam no sentido de aprofundar o golpe com o objetivo de garantir que nas eleições de 2018 ganhe um candidato alinhado com a destruição dos direitos sociais e dos serviços públicos

Construir uma ampla unidade para impedir o avanço do golpe

A conclusão que se chega é que existe uma relação muito próxima entre a militarização do governo Temer, da atuação acima da lei do judiciário, a prisão de Lula sem provas, a execução de Marielle e Anderson, o incentivo à violência e emboscadas por setores fundamentalista religiosos, charlatões e fascistas e a disseminação de notícias falsas nas redes sociais. Todos estes elementos da conjuntura atuam no sentido de aprofundar o golpe com o objetivo de garantir que nas eleições de 2018 ganhe um candidato alinhado com a destruição dos direitos sociais e dos serviços públicos, e que entregue nossa riqueza, através de privatizações, ao capital internacional. Portanto, é urgente que os sindicatos e centrais, as federações e confederações, os movimentos sociais do campo, da cidade, da juventude, da luta contra as opressões, as organizações religiosas democráticas e os partidos políticos que representam a classe trabalhadora, construam a mais ampla unidade para impedir o avanço do golpe, que leva o nosso país para o caminho do retrocesso, das trevas e da barbárie, do endurecimento do regime e das restrições às liberdades democráticas, do fim dos direitos e dos serviços públicos, da entrega da riqueza nacional.

Uma grande frente social de resistência é necessária para inverter essa correlação de forças. Não há tempo a perder! Midia Ninja

A execução de Marielle foi política

É nesse contexto que se dá o assassinato de Marielle Franco (PSOL/RJ). Como parte da resistência ao golpe e a militarização do país, no dia 28 de fevereiro a vereadora do Rio de Janeiro, Marielle (PSOL), foi nomeada relatora da comissão que fiscalizaria a intervenção no RJ. Em 10 de março Marielle denunciou a violência policial em Acari, afirmando que a intervenção empoderou as milícias nas favelas. Em 14 de março Marielle é executada à tiros, assassinato realizado por profissionais, com munições que pertenciam à Polícia Federal de Brasília. O chefe da Secretaria Nacional de Segurança Pública, Raul Jungmann, disse que as munições teriam sido roubadas nos Correios da Paraíba, informação desmentida logo depois. Muito suspeito também foi a postura do indicado de Michel Temer, Laerte Rímoli, na Empresa Brasil de Comunicações – EBC, que orientou censura sobre o caso Marielle em uma empresa pública, vinculada ao Governo Federal. Um fato curioso é que em 2008 a família

Vereadora Marielle Franco, executada poucos dias após integrar uma comissão para monitorar a intervenção militar no RJ

Midia Ninja


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Se liga!

Reforma Trabalhista é a CLT do patrão e já

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Confira os principais retrocessos na legislação

Durval Wanderbroock Junior, Coordenador Nacional do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (IBEPS)

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ma Reforma lamentada pelos(as) trabalhadores(as) e mais do que desejada pelo Governo e, principalmente, pelos grandes empresários. Em vigor desde novembro do ano passado, as novas leis trabalhistas aniquilam conquistas históricas e reduzem direitos, cortando na pele dos(as) mais explorados(as). É a CLT do patrão, que veio para oficializar o calote dos(as) empregadores(as) sobre os(as) empregados(as)! “De um modo geral todas as categorias do serviço público e privado serão afetadas pelas novas leis. O que é importante destacar é que aquelas com menor capacidade organizativa, com sindicatos mais frágeis, serão as mais afetadas porque estão mais desprotegidas. Os(as) trabalhadores(as) mais precarizados e desorganizados serão mais prejudicados, como os terceirizados, as mulheres e os

Sobreposição do negociado sobre o legislado

“Após a aprovação da Reforma, tudo aquilo que é negociado passa a ser maior do que a lei. Problemas: primeiro, a relação de força entre o empregado e o empregador favorece o patrão. A parte mais frágil é sempre o empregado. Portanto, ele tem menos munição e poder de barganha do que o empregador, podendo sofrer ameaças e chantagem. Alguém já viu um trabalhador dizer a um empregador que caso ele não queira aumentar o seu salário existe uma fila enorme de gente lá fora disposto a fazer isto? Não! O que se escuta todos os dias é o oposto, mostrando que quem paga, manda. Portanto, não existe igualdade para se negociar. A lei, que era um piso acima do qual se poderia ampliar

negros e negras, sem contar as outras minorias, como o público LGBT”, explica o coordenador Nacional do IBEPS - Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais Durval Wanderbroock Junior. Para ele, uma reforma necessária aos trabalhadores(as) deveria ir na contramão da que foi aprovada. “Isso significaria ampliar direitos e não reduzi-los. Ampliação do direito de greve, a proteção contra dispensa arbitrária, a tutela antecipada para agilizar as ações trabalhistas, a ampliação da licença paternidade e maternidade, além de medidas como a estabilidade no emprego e redução da jornada de trabalho sem redução do salário. É trabalhar menos para que trabalhem todos”, pontua. Junior completa: “O problema é que essa reforma que seria necessária para os empregados e empregadas não só não foi feita como todas as poucas conquistas da CLT ou foram diminuídas ou foram diretamente aniquiladas, que é o processo que a gente chama de desregulamentação dos direitos trabalhistas”. Com mais de 100 artigos e dispositivos que alteram as suas leis, a nova CLT torna a vida do(a) trabalhador(a) ainda mais difícil. Confira as principais mudanças comentadas pelo coordenador do IBEPS:

direitos, passou a ser um teto, abaixo do qual quase tudo pode ser negociado”.

Acordos Coletivos

“Os acordos coletivos estão acima das convenções, e os acordos individuais estão acima de acordos e convenções coletivas e, deste modo, acima da lei. Se um Presidente da República não consegue fazer frente aos empresários, imagine um trabalhador dentro de uma empresa”.

Trabalho intermitente

“É a regularização do ‘bico’. Se você trabalha você recebe, se você não trabalha você não recebe. Por exemplo: universidades poderão tentar contratar um professor universitário pelo número de aulas que realiza. Na raiz das demis-

sões em massa praticadas por algumas universidades logo após a aprovação da reforma está esta nova modalidade de trabalho”.

Trabalhadores autônomos

“O trabalhador autônomo, que exerce suas funções dentro de alguns critérios, não tem mais vínculo nenhum com a empresa. Se sofrer qualquer tipo de acidente durante a sua jornada de trabalho a empresa não tem mais responsabilidade sobre ele. Virou uma espécie de empregado sem emprego”.

Rescisão contratual

“Agora as empresas podem fazer quitações trabalhistas durante as dispensas e também nos PDV – Programas de Demissão Voluntária. Isso significa que o(a) funcionário(a) poderá assinar um termo renunciando a todos os direitos que teria ao ser dispensado. Isso vai causar sérios prejuízos aos trabalhadores e trabalhadoras”.

Jornada de Trabalho

“A partir de agora as horas extras podem ser negociadas – o percurso do trabalho até a casa, quando fornecido pela empresa, já não é mais contabilizado como adicional. A intrajornada, aquele momento de descanso, higiene pessoal e alimentação, que é o horário do almoço, pode ser diminuído para até 30 minutos. Vale ressaltar que tudo que está relacionado à compensação de jornada só poderia ser feito mediante acordo ou convenção coletiva. Do contrário, estará em flagrante ato de inconstitucionalidade”.

Gestantes e Lactantes

“Agora é permitido que gestantes e lactantes trabalhem em lugares insalubres de nível mínimo e médio, que é onde estão concentradas o maior número de mulheres trabalhadoras, violando convenções da OLT . Existe ainda a possibilidade de acabar com os períodos de amamentação”.

Fim da justiça gratuita

“Viola diretamente o artigo 5º da Constituição Federal que trata da acessibilidade das pessoas ao Poder Judiciário. Ele acaba com o critério de hipossuficiência – onde o desempregado, sem dinheiro, não poderá acessar a justiça. A perícia passa a ser paga - se condenado o(a) trabalhador(a)terá que pagar os honorários entre 5% a 15% do valor da sentença. Já é difícil para o(a) trabalhador(a) reunir provas, e quando você perde uma ação além de não receber nada ainda vai ter que pagar aquilo que você pediu”.

Existe saída?

“Poderíamos começar baixando a taxa de juros, que é um dispositivo criado única e exclusivamente para enriquecer os bancos. A Reforma Tributária progressiva também é uma alternativa: os que ganham mais pagam mais e os que ganham menos pagam menos. Poderíamos criar isenção de impostos como o IPTU para pessoas que estão desempregadas, combater a sonegação fiscal, cobrar os devedores da União e uma infinidade de medidas que garantiriam receitas para o país sem precisar sacrificar quem já é sacrificado todos os dias”.


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Entrevista

Maria da Penha: “A desconstrução do machismo só acontece com a educação”

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aria da Penha, 72 anos, é símbolo da luta contra a violência doméstica. Seu ex-marido a agrediu por 23 anos e tentou assassiná-la duas vezes, o que a deixou paraplégica. Seu caso se arrastou por anos na justiça brasileira, e só foi resolvido quando chegou à Organização dos Estados Americanos (OEA). Como retaliação pela negligência, o Brasil foi obrigado a criar uma legislação de combate à violência contra a mulher: a Lei Maria da Penha, sancionada em 2006.

A senhora e seu ex-marido se conheceram quando faziam pós-graduação. Ele era professor universitário. Sua história mostra que mulheres de todas as classes sociais e escolaridades podem ser vítimas de violência doméstica? Sim, com certeza. O que acontece é que com a chegada da Lei Maria da Penha, muitas mulheres de condição social melhor conseguem sair da situação de violência sem se expor numa delegacia, elas têm seus advogados, e as coisas não ficam muito visíveis para a sociedade. Mas eu sou prova de que para a violência doméstica não existe classe social, todas as mulheres de todos os tempos sofreram e sofrem violência doméstica.

Divulgação

A parte financeira é uma questão que impede as mulheres de denunciar? Sim, principalmente quando a mulher é de classes sociais mais altas, quando ela não tem renda compatível com a educação que os filhos têm, muitas vezes ela escolhe se manter no relacionamento por conta dessa questão. Porque não vai ter condição de dar o mesmo nível de lazer e educação.

Para a violência doméstica não existe classe social, todas as mulheres de todos os tempos sofreram e sofrem violência doméstica

O que mais dificulta a denúncia? Muito são os fatores. Além da questão econômica, a questão da mulher gostar demais da pessoa, e vivenciar o ciclo da violência doméstica. O homem agressor pede perdão, diz que não vai mais repetir aquele ato, começa a presentear a mulher, e torna a agredir essa mulher. Duas coisas podem acontecer, ou ela decide sair do ciclo ou fica com aquela sensação de que não pode reverter aquele quadro. Ela perde o estímulo de vida e de procurar um centro de referência ou uma delegacia da mulher porque está fragilizada emocionalmente. É necessário que exista em todos os municípios o centro de referência, onde a mulher será orientada através de uma equipe de advogados, assistentes sociais e psicólogos, vai se inteirar sobre seus direitos e com essa equipe achar o caminho que ela deve recorrer, e decidir se vai continuar ou não no relacionamento. Por que os homens agridem suas companheiras? A cultura machista é determinante dessa situação. Ao longo da história muitos desses agres-

sores viram seu pai bater na sua mãe, seu avô bater na sua avó, isso sendo considerado normal. O homem sendo provedor, com todos o respeitando, há uma dificuldade de domínio sobre esse homem, que parte para a agressão. É lamentável que o Brasil ainda não tenha acatado uma determinação que a Organização dos Estados Americanos (OEA) colocou no meu caso, que é o investimento na educação, nos ensinos fundamental, médio e universitário, para desconstruir isso que se perpetua há muitos anos. Seria a educação voltada para questões de gênero? Exatamente, para desconstruir o machismo, porque os homens se sentem superiores às mulheres. Foram criados como superiores e isso precisa ser desconstruído, essa desconstrução só acontece através da educação. Ter uma rede de apoio de mulheres – amigas, familiares – é importante para a prevenção da violência ou para escapar de situações de risco? Muito importante. Muitas vezes a família dessa mulher também é machista. Ela condena a mulher que quer sair da relação. Como a família foi criada nesse regime de machismo, diz “você não está sabendo cumprir seus deveres de dona de casa e de mãe, procure mudar seu jeito”, culpa a mulher pela violência do marido. Muitos familiares acham que a esposa é a responsável. Quais são os desafios que a Lei Maria da Penha enfrenta no combate à violência? A lei tem que ser trabalhada para ser cumprida, isso ainda não é uniforme no país. Os gestores dos pequenos municípios agem como se não existisse violência contra a mulher. Estão sendo omissos demais, mesmo nas grandes cidades. Tem que ter conduta muito firme do gestor para que haja mais delegacias da mulher, mais centros de referência, mais casas-abrigo e mais juizados, para atender a enorme demanda que chega ao poder judiciário. No caso das mulheres dos pequenos municípios que não tem apoio na política pública, se orientem pelo número 180, é gratuito, funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. Ligue e vá procurar ajuda onde for informado.


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Confasubra

prestação de contas - 2017

TAE’s definem os rumos da categoria no 23º CONFASUBRA

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Mesas

Nesta edição, conjuntura nacional e internacional, educação, o projeto Universidade Cidadã, Hospitais Universitários e opressões serão alguns dos temas abordados nas mesas centrais. Também serão discutidas a alteração estatutária e a prestação de contas da entidade, bem como a eleição da Direção Nacional e do Conselho Fiscal. Já as mesas temáticas irão abordar questões diversas, como organização e estrutura sindical, as relações de trabalho, 100 anos da

R$ 3.034.889,15

CONVÊNIOS

R$ 3.928,11

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

R$ 44.798,83

COLÔNIAS DE FÉRIAS

R$ 90.146,00

RECEITAS OPERACIONAIS

R$ 41.382,16

DEDUÇÕES DA RECEITA BRUTA

R$ 48.549,98

(-) DEVOLUÇÃO DE MENSALIDADES

R$ 25.379,73

(-) DEVOL. CONTRIB. SINDICAL

R$ 23.170,25

TOTAL RECEITA LÍQUIDA

R$ 3.166.594,27

DESPESAS COLÔNIA SHANGRI-LÁ

R$ 36.708,92

ENERGIA ELÉTRICA

R$ 4.784,61

ÁGUA E ESGOTO

R$ 4.641,11

DESPESAS COM COMUNICAÇÃO

R$ 864,26

SERVIÇOS PESSOAS JURÍDICAS

R$ 286,00

DESPESAS COM MANUTENÇÃO

R$ 24.792,96

DESPESAS COM SEGURANÇA

R$ 1.339,98

COLÔNIA ITAPOÁ

R$ 52.318,60

ENERGIA ELÉTRICA

R$ 16.106,81

ÁGUA E ESGOTO

R$ 5.831,77

DESPESAS COM COMUNICAÇÃO

R$ 1.176,22

DESPESAS COM CORREIOS

R$ 167,15

SERVIÇOS PESSOAS JURÍDICAS

R$ 579,00

MATERIAL DE ESCRITÓRIO

R$ 146,90

REFEIÇÃO/COPA/COZINHA

R$ 825,50

DESPESAS COM SEGURANÇA

R$ 2.855,24

DESPESAS COM MANUTENÇÃO

R$ 24.630,01

SEDE ADMINISTRATIVA

R$ 3.112.020,62

MANDATO CLASSISTA

R$ 84.487,03

ORDENADOS E GRATIFICAÇÕES

R$ 754.872,23

ENCARGOS

R$ 255.377,03

BENEFÍCIOS

R$ 198.296,29

DESPESAS COM ESTAGIÁRIO

R$ 17.273,15

SERVIÇOS PESSOAS JURÍDICAS

R$ 117.141,98

SERVIÇOS PESSOA FÍSICA

R$ 6.056,32

INDENIZAÇÕES TRABALHISTAS

R$ 957,69

ENERGIA ELÉTRICA

R$ 12.669,43

ÁGUA E ESGOTO

R$ 8.998,01

DESPESAS COM COMUNICAÇÃO

R$ 57.289,62

SEGUROS

R$ 3.411,13

DESPESAS COM CONDUÇÃO

R$ 26.143,28

DESP.CARTÓRIOS E FOTOCÓPIAS

R$ 7.437,40

MATERIAL DE ESCRITÓRIO

R$ 12.083,24

REFEIÇÕES/COPA/COZINHA

R$ 37.350,78

Os 39 delegados(as) das trabalhadoras e trabalhadores assistidos(as) pelo Sinditest foram eleitos(as) democraticamente por meio de assembleias realizadas ao longo dos meses de fevereiro, março e abril. Os delegados e delegadas têm como missão defender frente ao Congresso as teses escolhidas pela base. Eleita pela maioria, a chapa que defende a tese SonharLutar levará ao Congresso 24 delegados(as); a tese Ressignificar, segunda colocada, vai ao CONFASUBRA com 11 representantes. Já as teses UNIR e Frente Base enviam dois delegados(as) cada.

MANUTENÇÃO DE SISTEMAS

R$ 3.422,00

DESPESAS COM PROVEDOR

R$ 2.292,42

DESPESAS COM VIAGENS

R$ 235.832,72

ANÚNCIOS E PUBLICAÇÕES

R$ 155.491,62

DESPESAS COM CONVÊNIOS

R$ 11.086,08

ASSOCIAÇÕES E ENTIDADES DE CLASSE

R$ 274.127,04

DESPESAS COM SEGURANÇA

R$ 12.920,76

LIMPEZA E CONSERVAÇÃO

R$ 19.388,33

DESPESAS COM CONDOMÍNIO

R$ 2.859,41

DESPESAS COMBUSTÍVEL

R$ 21.255,18

DESPESAS COM FRETES E MOTOBOY

R$ 125,00

DESPESAS COM INFORMÁTICA

R$ 14.033,85

DESPESAS COM CONGRESSOS E SEMINÁRIOS

R$ 2.555,01

DESPESAS COM JORNAIS E REVISTAS

R$ 1.917,60

DESPESAS COM FARMÁCIA

R$ 336,00

DESPESAS COM CONFRATERNIZAÇÃO

R$ 44.128,18

22º edição

DESPESAS COM PEDÁGIO

R$ 1.881,40

MANUTENCÃO DE VEÍCULOS

R$ 4.747,10

DESP LOCAÇÃO DE MAQ E EQUIPAMENTOS

R$ 2.321,76

DESPESAS COM LOCAÇÃO DE VEÍCULOS

R$ 23.832,83

BENS DE PEQUENO VALOR

R$ 2.204,99

MANUTENÇÃO E REPAROS

R$ 141.137,68

DESPESAS COM ESTACIONAMENTO

R$ 19.426,08

MATERIAL DE CONSUMO

R$ 11.229,19

DESPESAS COM ATIVIDADES SINDICAIS

R$ 282.791,19

DESPESAS COM GREVE

R$ 220.832,59

DESPESAS FINANCEIRAS

R$ 9.007,26

DESPESAS TRIBUTÁRIAS

R$ 28.055,92

DEPRECIAÇÕES

R$ 4.824,27

TOTAL DESPESAS

R$ 3.242.935,59

RESULTADO DO PERÍODO

-R$ 76.341,32

Sinditest-PR

ais de 1000 delegados e delegadas, representando 42 entidades filiadas à Federação – entre elas o Sinditest-PR. Esta é a expectativa para o 23º Congresso Nacional da Fasubra Sindical, o CONFASUBRA. O encontro, que acontece aproximadamente a cada dois anos, vai organizar e definir o plano de luta dos(as) técnicos(as) administrativos(as) em educação e eleger a nova direção da entidade para o biênio 2018/2019. A categoria se reúne de 06 a 11 de maio em Poços de Caldas, Minas Gerais. Instância máxima de deliberação da entidade, o Congresso é soberano sobre qualquer proposta, desde que esteja incluída no temário do evento, aprovado durante a última Plenária Nacional de julho. “O CONFASUBRA é crucial para os rumos da categoria. É a oportunidade que temos de levar a nível nacional as nossas demandas e de construirmos um projeto político que beneficie, sobretudo, a carreira dos técnicos e técnicas”, explica Youssef Ali, coordenador de Organização por Local de Trabalho.

RECEITAS MENSALIDADES

Votação durante assembleia geral para os técnicos UFPR Curitiba, Piraquara, Funpar e Ebserh

Revolução Russa e da primeira Greve Geral no Brasil (1917). Não ficam de fora das discussões a luta contra a hegemonia na comunicação e a situação das universidades estaduais e municipais.

Delegados e delegadas

Em sua última edição, realizada em 2015, o CONFASUBRA deliberou sobre o aprimoramento da carreira (step e níveis de capacitação), sobre a construção do índice de reposição salarial e também sobre o ponto eletrônico. Avançaram ainda discussões sobre a implementação das 30 horas - sem redução de salário, ascensão funcional, manutenção da paridade (ativos, pensionistas e aposentados), definição de política salarial e data base e também a regulamentação da negociação coletiva. Para este ano, a expectativa é que a categoria saia do Congresso fortalecida e articulada para as próximas lutas.


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