Jornal Sinditest | Número 09 - Maio 2014

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JORNAL DO Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral do Estado do Paraná

SINDITEST.pr Gestão SINDICATO É PRA LUTAR

A GREVE CONTINUA! AS PRIMEIRAS BATALHAS FORAM VENCIDAS, MAS TEM MUITO MAIS PELA FRENTE! Depois de muita luta e muita pressão, a caravana de servidores técnicoadministrativos federais que seguiu até brasília arrancou um prazo: o Governo tem até o dia 22 de maio para apresentar uma proposta para o movimento grevista! LEIA MAIS NAS PÁGINAS 4 e 5

Na luta contra as demissões e pela garantia de estabilidade: Trabalhadores FUNPAR/ HC sinalizam greve a partir da próxima semana!

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A situação de sucateamento do HC/UFPR está no limite! A luta é por concurso público amplo e maior repasse de recursos públicos para a saúde pública! Não à EBSERH!

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Confira Entrevista com o sociólogo Daniel Romero: “O Brasil vai ser palco da Copa mais injusta de toda a história da FIFA”

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editorial

A greve continua Há um mês do início da Copa do Mundo no Brasil, os trabalhadores técnico-administrativos das Universidades Públicas Federais mantém a greve por tempo indeterminado. Arrancamos a primeira reunião com o representante do Governo somente com a ação radicalizada de bloqueio das portas do MPOG no dia 07 de maio. O descaso com a negociação da greve da FASUBRA é reflexo de uma política de governo que não investe em Educação e Saúde, e apresenta a precarização do trabalho e a privatização da gestão como solução para os problemas das IFES.

com corte de ponto e abertura de Processo Administrativo Disciplinar sobre os servidores técnico-administrativos em greve. Nosso recurso teve êxito no TRF, e o retorno à greve ocorreu pela intervenção jurídica e pela convicção dos grevistas que não se abstiveram de lutar pelo direito à greve. É preciso entender que o nosso interesse é contrário ao interesse do governo. No ano da COPA, os olhos e ouvidos do povo brasileiro estão mais voltados para fora do campo do que para os craques da seleção. Seguimos na luta, a greve continua!

Ainda dentro do Hospital de Clínicas, também os trabalhadores FUNPAR/HC travam uma dura batalha contra as demissões. Eles permanecem mobilizados e, diante da recusa da Reitoria em negociar salário e estabilidade, a greve é cada vez mais necessária.

expediente

São mobilizações justas que encontram apoio junto à população, mas que enfrentam governos e Reitorias autoritários, sem compromisso com a classe trabalhadora, por isso, sofremos a judicialização da greve no HC, inclusive

O Jornal do SINDITEST-PR

é uma publicação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral do Estado do Paraná. Avenida Agostinho Leão Junior, 177 – Alto da Glória – Curitiba/Paraná – Telefone: (41) 3362-7373 – Fax: (41) 3363-6162 – www.sinditest.org.br – imprensa@sinditest.org.br Fotos: Sinditest-PR. Jornalista Responsável: Adriana Possan - DRT 10049. Projeto Gráfico e Diagramação: Excelência Comunicação - fone: (41) 34080300 Tiragem: 6.000 exemplares. Grafica: Mega Impressão Grafica e Editora - fone: 3598.1113 e 9926.1113. É permitida a reprodução com a citação da fonte.

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Trabalhadores FUNPAR/HC indicam greve: A luta é contra as demissões e a favor da

cláusula de estabilidade! A Reitoria da UFPR, Direção do HC e a FUNPAR não podem mais deixar os trabalhadores inseguros em relação a seus empregos. Chega de enrolação! Os trabalhadores FUNPAR/ HC ainda aguardam uma resposta do judiciário e do MPT e também que as negociações do ACT 2014/2015 avancem, mas até agora o que se tem é apenas uma grande enrolação. Cansados de tanto descaso os trabalhadores estão dispostos a começar uma forte greve no dia 14 de maio. A Assembleia Geral de Deflagração de Greve acontecerá no dia 09 de maio (sexta-feira), a partir das sete horas, com café da manhã, na sala 02 do Anexo B do Hospital de Clínicas da UFPR. O Acordo Coletivo de Trabalho 2014/2015 está atravessado pela decisão judicial que dá um ultimato para que a situação de cerca de mil trabalhadores contratados pela FUNPAR tome um caminho definitivo. Esse é o momento de construir medidas efetivas, de ir pra luta, para assegurar juridicamente os postos de trabalho dos trabalhadores da FUNPAR/HC e garantir tranquilidade para trabalhar. Por isso, o ponto mais importante da pauta do ACT deste ano é que seja aprovada a cláusula de estabilidade dos trabalhadores da FUNPAR/ HC até que o ocorra a aposentadoria. A proposta dos trabalhadores é de que se modifique a cláusula 25, letra “J”, já existente em todos os acordos anteriores, na qual já está garantida a consistência da estabilidade provisória em período de pré-aposentadoria. Na proposta de

alteração da cláusula está a dilatação desse período de pré-aposentadoria, passando de três para dez anos, o que garante a estabilidade para a totalidade dos trabalhadores fundacionais. Carmem Luiza Moreira, diretora sindical e servidora FUNPAR/HC há 23 anos, desabafa e chama os colegas para defender seus empregos: “A gente está carregando esse piano, só que esse piano deixou marcas, esse piano está muito pesado e a gente vai continuar carregando, mas com dignidade, de cabeça erguida, pra luta, com consideração, com respeito a todos esses anos trabalhados que não é pouca coisa! Dez anos até que chegue o momento de se aposentar não é um pedido que não possa ser negociado”. A decisão sobre as demissões passou para nova fase depois que do Ato Público que os trabalhadores da FUNPAR/HC fizeram até o Ministério Público do Trabalho, no dia 30 de março e depois da Paralisação 24 Horas, realizada nos dias 15 e 16 de abril. No dia 24 de março o Sinditest já havia entregado uma petição MPT pedindo um novo prazo para resolver definitivamente a situação dos trabalhadores por meio da cláusula de estabilidade nos empregos. A FUNPAR, a Reitoria da UFPR e a Direção do Hospital de Clínicas só se manifestaram no processo no dia

04 de abril, dia em que o juiz do caso chamou uma audiência pública para ouvir as partes envolvidas no processo. A Comissão Obreira está trabalhando nas reuniões com a patronal para que o ACT contemple a estabilidade. Duas reuniões do ACT 2014/2015 já foram realizadas, mas os patrões tentam arrastar o prazo de negociações e desmobilizar os trabalhadores até que consigam o estrangulamento de todos, já que estão com uma corda no pescoço por conta do processo de demissões. Aliás, a Comissão Patronal declarou que não está disposta a discutir a estabilidade na pauta, se limitando a negociar apenas as questões econômicas. Se agora não for a hora de garantir o emprego desses trabalhadores, será quando? Vale ressal-

tar que esse momento na vida dos trabalhadores da FUNPAR/HC, que dedicaram o melhor de suas vidas ao HC e que estão no hospital há mais de 20 ou 25 anos, é o momento mais crítico pelo qual já passaram ao longo dos mais de 10 anos que se estende a ameaça das demissões. Na última reunião do ACT a Comissão Patronal garantiu que até o dia 23 de abril teriam uma contraproposta para pautar na mesa de negociações, mas até a presente data nada foi apresentado. Mais uma mostra de que os patrões estão ganhando tempo, enquanto os trabalhadores FUNPAR/HC agonizam a espera de uma solução concreta a seus empregos.


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A GREVE CONTINUA! As primeiras batalhas foram vencidas, mas tem muito mais pela frente! A greve dos servidores técnico-administrativos prossegue: o momento é de coragem e confiança para vencer as próximas etapas da luta! A greve continua e ganha força com grande mobilização nacional, pressionando o Governo Federal para que atenda a pauta de reivindicações da categoria. Nos dias 06 e 07 de maio os servidores públicos em greve, organizados em caravanas com trabalhadores de todas as partes do país, realizaram dois grandes Atos em Brasília para forçar a abertura de negociações com o governo e conseguiram êxito! O Comando Nacional de Greve, a Direção Nacional da FASUBRA, e os batalhadores que fazem parte da base dos sindicatos que se deslocaram até a capital federal, fizeram forte pressão, iniciada às cinco horas da manhã do dia 07 de maio, em frente ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Só assim o “Governo do Rei na Barriga” recebeu os grevistas. O secretário de Relações de Trabalho no Serviço Público, Sérgio Mendonça, afirmou que levará as propostas do movimento até a cúpula do governo para que haja abertura de negociação e que dentro de até 15 dias, ou seja, no máximo 22 de maio, haverá uma resposta para a categoria. Com uma grande adesão nacional, que chega a quase 90% de entidades que fazem parte da base da FASUBRA, a greve mostra o quanto os servidores técnico-administrativos federais podem juntar forças e batalhar por conquistas na carreira e por conquistas sociais! A luta está sendo dura, mas os trabalhadores estão se mostrando firmes e fortes nesse combate. O Governo Dilma não pode continuar ignorando os trabalhadores da educação e da saúde como tem feito até agora! Já passou da hora de negociar! Já deu para ver que a categoria não é como a FIFA, ou os banqueiros, ou os empresários, que são prioridades para esse governo, e por isso a categoria tem consciência de que trabalhador da saúde e da educação no Brasil, não pode ser tratado com tamanho descaso. A categoria dos TAE’s mostrou em Brasília a sua coragem de lutar!

VITÓRIA! Trabalhadores do HC voltam para GREVE com força total! Sinditest batalha na justiça e consegue reverter a situação para os trabalhadores

Os trabalhadores do HC obtiveram uma vitória judicial no processo que tentou criminalizá-los e decidiram por unanimidade durante assembleia voltar para a greve. A ameaça de judicialização da greve no âmbito do HC além arbitrária e abusiva feriu o direito de greve dos trabalhadores, garantido e assegurado em lei. O sindicato entrou com recurso de agravo de instru-

mento no Tribunal Regional Federal na sessão de Porto Alegre-RS e foi atendido. O despacho do órgão determina a suspensão do corte de ponto e da responsabilização individual dos trabalhadores do HC em greve. Conforme votação unânime decidida em assembleia, a partir do dia 09 de maio, os trabalhadores do HC estarão na greve novamente!

Reitoria da UFPR ataca direito de greve dos servidores técnicos do HC 24 de abril: um dia que jamais será esquecido pelos trabalhadores do HC! Os trabalhadores do Hospital de Clínicas da UFPR viveram um dos piores momentos da história da universidade com a posição de repressão que a Reitoria definitivamente assumiu, depois de tanto tentar maquiar. Além de mentir para a categoria, o Reitor Zaki Akel Sobrinho decide puni-la, ignoran-

do o direito de greve, baseando-se numa ação judicial arbitrária e repleta de incoerências. A liminar que determinou a suspensão da paralisação no HC, sob pena de corte do ponto e de responsabilização individual dos servidores técnico-administrativos em greve do

Entenda a tentativa de judicialização da greve no hc! O ataque contra os trabalhadores em greve foi arquitetado!

HC, é extremamente autoritária e seu pano de fundo indica que é uma ação arquitetada. O documento foi feito nas vésperas do feriado prolongado de Páscoa, numa quinta-feira (17/04), pelo juiz de plantão Eduardo Fernando Appio e o sindicato não foi notificado. O que é mais evidente, todavia, é que desde o início, a greve dentro do HC incomoda vários setores do governo que se organizam para a implementação da EBSERH nos HU’s, haja vista que a greve dos servidores técnico-administrativos do HC é uma forte barreira de resistência contra a entrada da empresa no hospital.


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Reitor ZAKI AKEL mostra as garras!

Reitor e governo se unem para derrotar os trabalhadores UFPR entra como autora, junto com o MPF, no processo de judicialização da greve no âmbito do Hospital de Clínicas

Na terça-feira (22) uma comissão de trabalhadores e da direção do Sinditest foi até o gabinete do Reitor Zaki Akel Sobrinho e depois de muita insistência e pressão foram atendidos pelo “magnífico”. Ao ser cobrado sobre sua posição frente à ordem judicial Zaki Akel, com postura arrogante e visivelmente contrariado, disse que já estava cumprindo a determinação do juiz desde o sábado (19). A presidente do Sinditest, Carla Cobalchini, ressaltou que Zaki poderia entrar com pedido de suspensão, ou mesmo outros instrumentos jurídicos a favor dos trabalhadores, até que ocorresse a “Audiência de Conciliação”, marcada para o dia 24 de abril. Mas a posição do Reitor Zaki Akel estava irredutível, o compromisso de culpabilizar os trabalhadores já estava assumido. Entretanto, nesta mesma reunião, Zaki Akel Sobinho afirmou que na audiência a posição a ser tomada pela UFPR seria de tentar derrubar a liminar. Na quinta-feira (24), horas depois de o Conselho Universitário da UFPR aprovar uma moção de apoio à greve dos TAE’s, em “Audiência de Conciliação” entre a UFPR, Direção-Geral do HC, Ministério Público Federal e o Sinditest, a Reitoria da UFPR entrou como pólo ativo da ação, juntando forças com o Ministério Público Federal.

Se antes o discurso de Zaki era de que não poderia contrariar uma decisão judicial (tentando passar a imagem de que fica de “mãos atadas”, como sempre), agora deixou bem claro que por trás de um administrador demagogo estão aspirações que não são as dos trabalhadores. Mentindo, o Reitor Zaki induziu os trabalhadores ao erro, já que afirmou que iria defendê-los em juízo, e depois entrou como autor da ação. Com essa postura da Reitoria a Direção do hospital poderiam cumprir medidas de criminalização e repressão dos trabalhadores do HC que decidiram entrar em greve para lutar por seus direitos. Fica mais claro que de nunca que a greve é

uma pedra no sapato da Reitoria, da Direção-Geral do HC, do Governo Federal, do MPF, cujo único interesse é arrumar o terreno para a entrada e permanência da EBSERH nos Hospitais Universitários. O Governo Federal cumpre sua parte na greve da forma mais medonha possível: articulando tentativas de judicialização da greve nos HU’s como tentativa de enfraquecer o movimento.

Sinditest denuncia os ataques à greve e Reitoria da UFPR recua a contragosto no processo! A estratégia da Reitoria da UFPR de atacar os trabalhadores em greve por meio do processo judicial não pegou bem, teve repercussão desastrosa, e os trabalhadores perceberam o discurso dissimulado do Reitor Zaki Akel Sobrinho e do Diretor do HC FlávioTomasich. No dia seguinte a audiência em que a UFPR pediu para ser pólo ativo houve uma mudança “súbita” de posicionamento no processo, ou seja, de pólo ativo, a UFPR pediu para ser pólo “passivo”, o que é mais conveniente para sua “imagem”. Mais uma vez se percebe a posição da Reitoria e da Direção do Hospital de Clínicas que é de ataque aos direitos dos trabalhadores.


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O HC é estrangulado a cada ano, agora está no limite! A solução é a luta

por amplo concurso público e maior repasse de recursos! Não à EBSERH! População brasileira desaprova manobras do Governo Federal na saúde

Segundo pesquisa do Ibope realizada em março deste ano, 77% dos brasileiros está descontente com a política do Governo Dilma em relação à saúde. Conferindo o orçamento do Ministério da Saúde em 2014, dá para entender a atitude de reprovação do povo. A União destina para a saúde este ano R$4,3 bilhões, em contraponto, o orçamento para a Copa do Mundo está muito bem garantido em R$25,9 bilhões e mais de R$1 trilhão, cerca de metade das riquezas produzidas no Brasil, estão sendo destinados a pagar juros e amortizações da dívida pública (veja o gráfico). A grave crise que se prolonga há anos no Hospital de Clínicas da UFPR é um dos termômetros que demonstra o quadro febril que se encontra a saúde pública no Brasil. As filas para atendimento, longas esperam por exames, tratamentos e cirurgias, a falta de funcionários, equipamentos obsoletos, sucateados, ou parados, fechamentos de leitos, a falta de materiais básicos e de condições de trabalhos para os profissionais lamentavelmente e estrategicamente fazem parte da realidade do HC, o hospital público de maior referência no Paraná. Estrategicamente por que o Governo Federal vem minguando o repasse de verbas para setor público com a finalidade de desonerar o sistema e para lubrificar a entrada do setor privado de assistência médico-hospitalar no mercado. Essas medidas vêm subordinando a saúde à mercadoria e transformando um serviço essencial para o povo em fonte de lucro. Esse tipo de interesse é sinistro por que gera uma hierarquização de atendimento, que não leva em conta o aspecto clínico dos pacientes, mas sim o aspecto financeiro. O principal remédio e instrumento na luta para a saúde pública é apontado pelos movimentos sociais, que seria o repasse de no mínimo 10% do PIB para o SUS. O Governo Federal, entretanto,

prioriza interesses econômicos e financeiros de grupos e empresas, e no caso dos hospitais universitários sua mais recente manobra privatizante é a criação da EBSERH. Na prática a Lei 12.550/11, de criação da EBSERH, livra o Estado da responsabilidade de gerir a saúde pública nos HU’s. “Primeiro já nos surpreendeu uma MP assinada no último minuto do mandato do ex-presidente Lula. A lei da EBSERH veio com um enunciado de “empresa pública de direito privado” e isso pra gente é um engodo para não deixar caracterizado que é uma privatização, o que é um monstro, pegar uma empresa criada pelo governo, que é pública, com recurso do governo, mas que vai ser gerenciada por empresas privadas”, declara Giuliano. Além disso, o maior entrave legal da criação da EBSERH é a quebra de isonomia salarial, já que os contratados via CLT desenvolvem o mesmo trabalho que os contratados via RJU, mas não têm efetivados os mesmo direitos, mas sim, há a institucionalização da precarização do trabalho.

Desde o ano de 2006 o Governo Federal não abre um amplo concurso público para contratação de funcionários no HC da UFPR, pelo contrário, tenta estrangular os serviços e oferece a EBSERH como solução, no intento de negociações do MEC o clima é de “pegar ou largar”. Ou seja, é uma situação de assédio da União em relação às universidades e que fere a Autonomia Universitária, garantida no artigo 207 da Constituição Federal. “A precarização do serviço público é uma política de governo, que é acabar com o serviço público e privatizar todos os trabalhos essenciais, no caso educação, saúde e segurança. O principal foco de privatização do Governo hoje é a saúde. Há uma melhor conscientização da categoria, principalmente quem trabalha dentro do HC, de como se deu todo esse processo, as pessoas sofreram, todo o conjunto de

trabalhadores da saúde sentiu e sente na própria pele o processo de precarização do SUS”, conta Giuliano.

A falta de investimento na saúde pública reflete diretamente na qualidade de atendimento à população mais pobre. No Brasil a vida de quem tem plano de saúde vale quatro vezes mais do que a vida de quem não tem. Exemplos como o de Seu José Alberto ocorrem todos os dias.


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No caso do Hospital de Clínicas do Paraná, a situação se agrava ainda mais com a ameaça forçosa de demissão de cerca de mil trabalhadores da FUNPAR/HC e com a posição da Reitoria da UFPR de criminalizar os trabalhadores em greve dentro do HC. A greve nacional unificada dos técnico-administrativos federais que acontece nesse momento traz para o centro do debate a ameaça de privatização da saúde e reivindica, entre outros, abertura de concurso público amplo e a revogação da Lei da EBSERH. O abandono estratégico da saúde faz parte da política adotada pelo Governo do PT e atinge a população em geral e também quem trabalha dentro de hospitais públicos, como foi o caso do ex-funcionário do HC, José Alberto Zilli, que

em 2008, com crise de dor aguda, quando procurou atendimento no próprio hospital, foi diagnosticado com infecção urinária, mas não foram feitos exames especializados. Apenas em abril 2009, quando procurou atendimento fora do hospital, fez exames detalhados e recebeu o diagnóstico de câncer na bexiga, no entanto, Zilli veio a falecer em 2010. Dona Elisete Zilli, que foi casada com ele por mais de 20 anos, conta que se viu desamparada, pois ela acredita que ele teria mais expectativa de vida caso houvesse um atendimento completo: “Eu senti muito descaso, deveriam ter pedido mais exames. O caso dele era sério e a gente não sabia. Ele trabalhava lá e não conseguiu encaixe, já que ele era funcionário, achei que teria pelo menos a devida atenção no atendimento.”

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SUS O Sistema Único de Saúde (SUS) nasceu junto com a Constituição Federal de 1988 e deveria ser um programa de garantia ao acesso universal, integral, igualitário e gratuito pela população brasileira a todos os serviços de saúde. Giuliano Monn, diretor sindical e técnico lotado na UTI do HC/UFPR, aponta que o SUS carrega uma imagem negativa entre a população por que até hoje não funciona de maneira integral. “A gente escuta muito falar da própria mídia e do próprio governo, que propagandeiam isso, que o SUS não presta e que o SUS é ruim, o que é uma mentira, por que se você ler e estudar a fundo a lei que cria o SUS você vai perceber que ele não foi implementado na sua totalidade, nem como recurso financeiro e nem com a lógica toda de funcionamento. Se nós tivéssemos de fato implementado toda a lei do SUS, com recursos adequados, talvez nós não estaríamos incorrendo em dizer que ele é ruim hoje.”

Os princípíos do SUS nascem do debate da 8ª Conferência Nacional de Saúde de 1986


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A Copa do Mundo de 2014 terá como cenário as lutas de movimentos sociais. “O Brasil vai ser palco da Copa mais injusta de toda a história da FIFA”, afirma o sociólogo Daniel Romero Ao que parece, de forma geral, é quase inseparável da imagem dos brasileiros o gosto pelo futebol. Porém, o fato mais notável nos últimos tempos é que além de gostar de futebol os brasileiros também questionam as dimensões políticas, sociais, culturais e econômicas de sediar a Copa do Mundo da FIFA 2014, entidade acalentada em nosso berço esplêndido neste momento. O Governo Federal destina R$29 bilhões para a Copa, sendo que nove pedaços desse bolo vêm do bolso da população brasileira. Já a FIFA agradece a nutritiva mamadeira, já que a estimativa de lucro da enteidade é de R$ 10 bilhões de reais. Enquanto isso setores essenciais do país como saúde e educação vivem no caos e com migalhas de investimento. Em entrevista, o professor e sociólogo do Instituto Federal da Bahia e pesquisador do ILAESE, Daniel Romero, pontua as consequências fatídicas do megaevento no Brasil. Romero também fala sobre a greve dos servidores públicos federais e sobre a atuação da CSP-Conlutas na organização dos trabalhadores. A Copa da FIFA no Brasil é chamada de Copa das Copas pelo Governo. Na sua opinião, isso se dá em que sentido? O Brasil vai ser palco da Copa mais injusta de toda a história da FIFA, no sentido de ser uma Copa que vem sendo propagandeada de uma forma completamente diferente do que ela começou. No início do processo, lá em 2010, quando o Brasil se candidatou para ser sede da Copa, uma das coisas que se prometeu é que não teria dinheiro público envolvido com os investimentos da Copa do Mundo. Hoje nós temos, no relatório do próprio Tribunal de Contas da União, que praticamente 98% de todos os investimentos da Copa são oriundos de recursos públicos, ou indiretamente, pelo BNDES, ou diretamente através de recursos das prefeituras, estados e União. Então, nós temos na prática uma Copa que é quase 100% financiada com recursos da população, sendo que a população, na prática, não deliberou sobre isso. Além disso, os estádios estão quase prontos, mas as obras de mobilidade urbana ficaram para trás, ou aquelas que foram concluídas, assim o foram abrindo mão de projetos mais arrojadas que havia anteriormente. A população está sendo removida, o que transforma determinados setores das cidades, setores que não eram valorizados pela especulação imobiliária, em setores que agora passam a ser objeto de especulação e tudo isso com dinheiro público. Então, além de ser a Copa mais injusta de todas é uma Copa extremamente autoritária. O governo estabeleceu tribunais de exceção, ou seja, tribunais para julgar praticamente em tempo real as pessoas que participarem de manifes-

tações, o curioso é que nós não temos nenhum tribunal desses para julgar corruptos. Não temos tribunais desse tipo para fazer a fiscalização sobre os gastos da Petrobrás, sobre os criminosos do mensalão, sobre o caso do metrô de São Paulo, mas vamos ter tribunais em 24 horas para poder criminalizar manifestantes. Copa do Mundo no Brasil, pra quem? É curioso por que a Copa vai ser no Brasil e a maior parte da população brasileira vai ver a copa pela televisão. Então é uma Copa que tem uma grande demanda pelos ingressos mas isso não tem resultado numa simpatia que a população tem com a Copa. Isso demonstra na verdade que a Copa é algo completamente separado da vida do país. Eu moro em Salvador que é onde foi construído um estádio belíssimo, chama Arena Fonte Nova, e fui assistir a um jogo lá. A impressão que eu tive quando eu entrei na Arena é de que parece um portal que transporta a gente para outra região do planeta, parece que a gente entra na Europa, tudo muito bonito, organizado. O entorno do estádio é exatamente a cara da cidade, ou seja, é uma ilha de prosperidade, cercada por um mar de mendicância, trabalho informal, pobreza, criminalidade. Então, a Copa no Brasil é como se fosse, na verdade, um corpo estranho nas 12 cidades sede da Copa, com estádios alienígenas que não tem nada a ver com a paisagem e com a vida do país e que em vários lugares vão se transformar em algo completamente inútil. Uma das polêmicas recentes foi uma patrocinadora oficial da Copa lançar camisetas que incentivam o turismo sexual. Qual a eficiência das medidas que visam combater o turismo e exploração sexual durante a Copa, já que elas só estão aparecendo agora, em cima da hora dos jogos? O que o governo fez com a Copa do Mundo é de uma hipocrisia gigantesca. Quando a Adidas lançou aquelas duas camisas fazendo referência ao turismo sexual, ela estava fazendo algo de menor impacto do que o próprio governo fez na publicidade da Copa fora do país. Todas as vezes que o governo criou comitês e grupos de propaganda para divulgar a Copa fora do Brasil ele levava mulheres como passistas de carnaval, em trajes mínimos, colocando que isso é modelo de mulher brasileira para os estrangeiros. A Adidas fez algo que na verdade o próprio governo fez o tempo todo. Hoje um dos maiores agenciadores e divulgadores do turismo sexual brasileiro, por incrível que pareça, de forma indireta, é próprio Governo Federal. Quando utiliza a imagem da mulata, da sambista, do carnaval

- que tem um apelo sexual forte -, utiliza isso como um mecanismo de divulgação da identidade da cultura brasileira e do povo brasileiro. Não é um discurso moral da questão da vestimenta, evidentemente, mas é importante destacar o que o governo ressalta e constrói isso como identidade do nosso povo. Então não é a Adidas que está fazendo um desserviço, todas as propagandas que o governo fez, relacionadas a divulgar a Copa do Mundo fora do Brasil, ele usou as mesmas referências culturais, os mesmos símbolos, as mesmas imagens e agora o governo não tem nenhuma autoridade para falar que está combatendo o turismo sexual. É evidente que esses eventos fortalecem algo que é a expressão mais degenerada das relações de machismo no Brasil que é a prostituição e em alguns casos é inclusive a prostituição de crianças e adolescentes. No dia 12 de junho será a abertura das grandes manifestações de movimentos sociais que criticam a Copa do Mundo da FIFA no Brasil. O que se pode esperar dessas manifestações? Vale a pena destacar duas coisas. As manifestações de junho de 2013, que foram as maiores manifestações que o Brasil vivenciou nos últimos 20 anos, é provável que não se repitam em junho de 2014 na Copa, em função, principalmente, da tentativa do governo e da imprensa de criminalizar os movimentos. Mas, nós vamos ter manifestações que com certeza serão grandes manifestações e muito qualificadas. Primeiro por que a maior parte da população, inclusive os institutos de pesquisas oficiais vêm identificando isso, não considera mais positivo que a Copa seja no Brasil, em algumas cidades isso chega a quase 60%, e a maior parte da população brasileira também não considera que vai ter benefícios reais com a Copa. Somado a isso, a gente tem uma depreciação muito grande no padrão de vida da população, em função da inflação, endividamento e serviços públicos de baixíssima qualidade. Então o que a gente pode esperar concretamente? Essas greves localizadas, como nós tivemos agora dos garis no Rio de Janeiro, e recentemente a greve dos trabalhadores da construção civil na Comperj, elas vão continuar durante todo o ano de 2014. São greves, em geral, por reajuste salarial, por questões econômicas, mas elas tendem a assumir uma questão de enfrentamento direto, ou com a prefeitura, ou governo do estado, ou com o governo federal. O mais importante ainda é a unificação da greve dos trabalhadores na área do serviço público federal, isso é muito importante. Nós já tivemos isso em 2012, tivemos uma das maiores greves do serviço público, se não a maior greve, que paralisou cerca de 400 mil trabalhadores só no serviço público. A possibili-

dade é de a gente retomar a greve num patamar superior a greve de 2012, que unifique saúde, educação, previdência... O dia 12 de junho é um dia que vai ser importante para os setores públicos e também vamos ter o conjunto da população que vai ser em unidades aos movimentos sociais que estão lutando contra os despejos desses grandes eventos, como a Copa e as Olimpíadas. Qual é o papel da CSP-Conlutas nas lutas que estão sendo feitas nesse momento no Brasil? A CSP-Conlutas é uma central sindical e popular, é uma das entidades menores do Brasil em número de sindicatos e organizações. Ao mesmo tempo é uma das mais importantes politicamente no país por que ela tem conseguido estabelecer um diálogo com amplos setores das organizações sociais, sindicais e estudantis no Brasil. A CSP fortaleceu o encontro, talvez mais importante nesse período de 2014, que foi o espaço Unidade de Ação, tentando viabilizar ampla participação de setores dos mais diversos, com a finalidade de realmente construir lutas sociais que tem como objetivo mobilizar os trabalhadores, a juventude e a população mais pobre desse país. Hoje a CSP-Conlutas tem sido determinante para estabelecer tanto um ponto de unidade entre as organizações sociais no Brasil, de diversas matizes políticas e ideológicas, como também de estabelecer um programa de definição sobre bandeiras centrais para esses setores. É importante demarcar contra o que realmente se luta: contra a PL da terceirização, que na prática viabilizaria uma terceirização também na atividades fim, que significa permitir que tudo praticamente seja terceirizado; luta pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários; luta pela anulação da reforma da previdência, de 2003, que resultou na formação da Funpresp. Além dessas três medidas centrais, a CSP apoia a pauta dos movimentos sociais que são diretamente atingidos pelos grandes eventos, portanto, contra as remoções. Essas bandeiras nacionais são bandeiras que organizam a maior parte das reivindicações dos trabalhadores e da juventude nesse último período e é um esforço muito grande para que o movimento sindical possa se debruçar sobre essa pauta unificada.


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