Revista Sino - Julho/2012

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N°3 | julho | 2012

Revista dos antigos alunos do Santo Inácio

Arsoi é um sucesso e arrecadação vai ajudar nos projetos sociais da ASIA

Arraiá da Solidariedade



Índice

N°3 | julho | 2012

Conheça a Ação Claveriana, o projeto social da ASIA que reúne voluntárias para confeccionar enxovais para recém nascidos da comunidade do Santa Marta página 6 Arsoi é organizada pela primeira vez pelo CSI era feito pela ASIA -, com algumas novidades. Lucro será revertido para projetos sociais da associação de antigos alunos página 8

Nesta edição lançamos nova campanha para o envio de fotos antigas pelos ex-alunos da escola. Veja alguns exemplos e envie material para nós página 10

Perfil do antigo aluno Alexandre Henderson (95), apresentador do “Globo Ciência”, mostra a importância da educação e do CSI em sua vida página 12

Revista dos antigos alunos do Santo Inácio Conselho Editorial Pe. Luiz Antonio de Araújo Monnerat, SJ; Vera Porto; Izabela Fischer; e Maria José Bezerra

Artigo do antigo aluno Guilherme Prista (94), que morou três anos na Espanha, faz um retrato da crise econômica na vida dos espanhóis página 16

Jornalista Responsável Pedro Motta Lima (JP21570RJ) (editor@revistasino.com) Projeto Gráfico Ana Mansur (anamansur@gmail.com) Diagramação Daniel Tiriba (dtiriba@gmail.com) Revisão André Motta Lima Contato Publicitário 21 2421 0123

Criador do site Kibe Loco e antigo aluno, Antônio Pedro Tabet, faz artigo sobre novas mídias e o limite das piadas na Internet página 20

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Fale com professores e alunos do Colégio Santo Inácio, seus familiares e mais de 2 mil antigos alunos que recebem a revista em casa, pelo correio

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Tiragem 6 mil exemplares

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Produção ML+ (Motta Lima Produções e Comunicação)

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editorial

Campanha estimula envio de fotos antigas

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Neste terceiro número da nossa SINO, resolvemos lançar uma campanha para que os antigos alunos nos enviem fotos de seus tempos de colégio. A ideia surgiu após constatarmos a forte mobilização causada pela publicação de registros antigos nas redes sociais. A nossa proposta é aglutinar as fotos no site da revista (www.revistasino. com.br) e no facebook da publicação (www.facebook. com/revistaSino), facilitando a procura daqueles que perderam suas fotos ou estão em busca “dos velhos tempos”. Nesta edição vamos levar para as nossas páginas a primeira foto que recebemos, e que foi para o facebook. O retrato da turma do quarto ano primário de 1959 nos foi enviado por Ricardo Pessoa, que arriscou enumerar o nome de todos os colegas, com as ressalvas de que algumas grafias podem estar erradas e de que não se lembrava de alguns sobrenomes. Fica o convite para envios e manifestações. Ah, e farei a minha parte colocando uma foto da minha turma do CA e assinando este editorial com o meu diploma de alfabetização na cartilha da Talita.

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Também temos matéria sobre a Ação Claveriana, o projeto social da ASIA que ainda não havia sido mostrado nas páginas da SINO. Vamos falar um pouco sobre este grupo de senhoras que se reúne semanalmente para produzir enxováis para recém nascidos da comunidade do Santa Marta. Os antigos alunos têm uma forte participação nesta edição. Além de termos um perfil com Alexandre Henderson, o jovem apresentador do programa “Globo Ciência”, que já citou o Santo Inácio algumas vezes durante suas entrevistas, temos dois artigos feitos por ex-alunos. Num deles, o jornalista Guilherme Coimbra (94), que morou alguns anos na Espanha e está de volta ao Brasil, fala um pouco sobre a crise que atingiu aquele país, relatando algumas histórias. No outro, o criador do site Kibe Loco fala sobre novas mídias para chegar até a Internet e debater questões polêmicas como o politicamente correto nas piadas e até onde podem ir as gozações. Boa leitura. Pedro Motta Lima (94) editor@revistasino.com.br

Compartilhe conosco suas memórias inacianas Quais professores marcaram sua vida? Quais colegas de turma se tornaram grandes amigos? Com quem você perdeu contato e gostaria de reencontrar? Envie fotografias antigas e recentes, conte as histórias de época de colégio e diga como está sua vida agora. Você também pode comentar as notícias da Revista Sino e sugerir pautas para as próximas edições, além de enviar artigos sobre temas de seu interesse. O material enviado poderá ser publicado nesta revista e em nossa página no Facebook. Saudações inacianas!

minhasino@revistasino.com.br facebook.com/RevistaSino


badaladas

A tradicional casa que o CSI mantém em Corrêas, distrito de Petrópolis, está aberta para confraternizações. Antigos alunos podem matar a saudade dos amigos e do espaço, que passou por reformas e funciona como uma pousada, com 20 suítes (as disposições de quartos estão em www.revistasino.com.br). Podem ser fechados grupos de até 75 pessoas. O local, cujos passeios geravam tanta expectativa entre os alunos, tem piscina, sauna, quadra poliesportiva, campo de futebol e churrasqueira. Os grupos interessados devem ter um representante, que será responsável pelo contato com o colégio, assim como pelo depósito de 20% do valor total do evento para garantir a reserva. A diária com pernoite é de R$ 106 e inclui café da manhã, almoço e jantar. Sem pernoite, o valor é de R$ 56 e o jantar é substituído por um lanche no fim da

Maria Auxiliadora / Núcleo de Mídia CSI

Confraternizações em Corrêas

tarde, antes da saída. Crianças com até 5 anos não pagam. As que tiverem entre 5 e 14 anos pagam meia. Refeições poderão ser substituídas por churrasco com o acréscimo de R$ 20 na diária. Todas as bebidas são pagas por fora. Os interessados em agendar uma data devem mandar e-mail para antigosalunos@ santoinacio-rio.com.br ou ligar para 3184-6207 e falar com Izabela Fischer, que fará uma consulta à agenda do local.

Conheça todas as regras de utilização de Corrêas visitando nosso site ou pelo QR Code abaixo www.revistasino.com.br Aponte o leitor de QR Code de seu celular e acesse o conteúdo de onde você estiver

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ação social

AÇÃO SOCIAL DA ASIA

Neide Maioli Penello opera uma das máquinas de costura usadas pelas voluntárias do projeto

Costurando o futuro

Grupo de senhoras se reúne semanalmente para confeccionar enxovais para os recém nascidos da comunidade do Santa Marta.

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á 31 anos senhoras garantem que bebês nascidos na comunidade Santa Marta, em Botafogo, tenham um enxoval. Elas fazem parte da Ação Claveriana, que funciona desde 1981 dentro da Associação de Antigos Alunos do Colégio Santo Inácio. Com verbas mensais da ASIA, além das doações recebidas – que, por sinal, sempre são muito bem vindas –, estas voluntárias fazem camisas, lenções, sapatos, casacos, toalhas e babadores, tudo com muito capricho. São 12 enxováis por mês, entregues para mães selecionadas por uma funcionária da creche que a ASIA mantém no Dona Marta, e que é moradora da comunidade. A situação econômica da família é o principal critério. E todos as doações vão com um folheto sobre os primeiros cuidados que devem ser tomados com os bebês, além

de dicas sobre higiene, saúde, segurança e alimentação. Apesar de existir desde 1981, no formato atual, de confecção de roupas, pode-se dizer que o projeto vem desde 1978, quando um grupo de mulheres, estimuladas pelo então reitor da escola, padre Aloysio Penna, se reuniu para montar um trabalho social. “No início nos reuníamos para subir o morro e distribuir alimentos e roupas, uma ação que, por sinal, é mantida pela igreja até hoje. Durante nossas visitas percebemos que as mulheres pediam muito por roupas de bebês. Foi quando resolvemos confeccionar os enxovais”, conta a atual coordenadora da Ação Claveriana, Magdala Teixeira, uma das senhoras que está no projeto desde o início. “Felizmente, a comunidade está muito diferente atualmente. No fim da década de 70 era

muita pobreza, barracos de madeira e esgoto a céu aberto”, lembra-se. O grupo foi inicialmente formado por pessoas que participavam dos encontros de casais promovidos pelo colégio e senhoras que formavam do apostolado da Igreja de Santo Inácio - que é uma organização criada pelos jesuítas para reunir católicos com o objetivo de orar, evangelizar e promover ações sociais. Hoje em dia, o grupo está aberto a quem quiser doar um pouco do seu tempo à causa, independente de ter ligação direta com o colégio ou a igreja. “Atualmente somos 19 pessoas e nos reunimos uma vez por semana, às quartas, das 14h às 16h. Mas não há uma obrigação de vir sempre e os trabalhos podem ser levados para casa. Enfim, o importante é a participação”, contou Lígia Lopez, que foi designada como responsável para receber novas vo-


estamos aqui”, contou Magdala, cercada por panos, linhas agulhas, máquinas de costura e, claro, de suas companheiras. Mas as voluntárias ainda continuam muito presentes no dia-a-dia do colégio. O trabalho desenvolvido por elas, anualmente, é visitado pelas oito turmas do ensino infantil. “Adoramos receber as crianças. Elas ficam encantadas com as máquinas de costura e podemos falar um pouco sobre a importância de ser solidário. É muito especial para nós”, conta Cordélia Ruffiere, mais uma voluntária de primeira hora, que está desde 1981 no projeto. “Além

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luntárias e para isso deixou seu telefone de contato, o 9452-8174. As reuniões, que já foram realizadas na sede da ASIA e dentro do colégio, acontecem na sede da Costura e Lactário Pró-Infância (Celpi), que fica na Rua Bambina 160, em Botafogo. “Até o ano passado, tínhamos uma sala na Academia Loyola, mas o prédio foi derrubado. A irmã de uma funcionária da formação cristã do colégio é a presidente desta instituição que faz um trabalho muito bonito. Ela, gentilmente, nos cedeu este espaço, onde fomos muito bem acolhidas, e

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Durante o encontro elas costuram, fazem crochê e bordado para que as peças do enxoval, além de úteis, sejam bonitas. Além disso, colocam o papo em dia, pois o projeto é responsável por amizades de até 30 anos

disso, o colégio faz uma campanha com as famílias das crianças para estimular a doação de material de costura, de roupinhas, mamadeiras, fraldas, enfim, tudo aquilo que é importante para um recém nascido. A resposta é fantástica. Recebemos roupas lindas”, conta Cordélia. Talvez a únida dificuldade das crianças seja pronunciar corretamente o nome do projeto, Ação Claveriana. Cordélia e Magdala explicam o surgimento do nome: “Quem nos sugeriu foi o padre Souza. Ele nos falou sobre São Pedro Claver, um padre do Peru que tinha um trabalho muito intenso com a população pobre daquele país. Ele passou, então, a ser nosso patrono. Por isso, o nome”, explicam as amigas. Por sinal, o projeto acaba sendo responsável por muitas amizades. “Nos frequentamos fora daqui também. São relações para o resto da vida”, contam as decanas. As amizades, por sinal, têm sido responsáveis por trazer sempre novas voluntárias para o projeto. A novata do grupo, Mary Alô, que há quatro meses participa das reuniões, foi trazida por uma amiga da academia de ginástica, que, por sinal, também foi responsável pela entrada de Lígia. “Ela me falou sobre o projeto e resolvi conhecer. Estou vindo sempre desde então”, contou a caloura, enquanto empunhava uma agulha de crochê.

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As voluntárias da Ação Claveriana se reúnem às quartas-feiras, das 14h às 18h, na sede da Celpi, na Rua Bambina, em Botafogo

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o colégio

Anarriê! Arsoi é, mais uma vez, sucesso de público e toda a arrecadação será usada nas obras sociais geridas pela associação de antigos alunos do colégio

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o primeiro ano em que o Arraial da Solidariedade Inaciana (Arsoi) foi organizado pelo CSI - até o ano passado a tarefa era da ASIA -, os resultados parciais mostram que o evento foi um sucesso. A prévia do balanço - os números serão fechados até a segunda quinzena de agosto - apresenta um resultado positivo de aproximadamente R$ 70 mil, valor que será destinado às obras sociais geridas pela ASIA, como a creche e a pré-escola que funcionam na comunidade do Santa Marta e a Ação Claveriana, apresentada nesta edição, além do Ambulatório São Luiz Gonzaga e do projeto Imagem Solidária. Uma das novidades deste ano, foi a abertura da Arsoi para barracas não administradas pela comunidade inaciana, através de pais de alunos, voluntários da ASIA e estudantes. Estandes, carrocinhas de produtos como cachorro-quente Geneal, sorvete Itália, crepes e comida japonesa, renderam aproximadamente R$ 6 mil. A cobrança de entradas, outra novidade implementada neste ano, foi responsável por outros R$ 10 mil. E também foram obtidos por volta de R$ 15 mil com patrocínios de empresas parceiras. Além disso, houve a arrecadação das tradicionais barracas, como a do Salcichão, do Nordeste, do Rio de Janeiro... Elas foram responsáveis por aproximadamente R$ 120 mil. Todos os valores somados darão a arrecadação bruta. Ainda serão descontadas todas as despesas para se montar a festa. E neste ano até o lixo produzido pela Arsoi teve um destino social – assim como já é feito com o lixo diário produzido pela escola. Houve coleta seletiva durante o evento e os resíduos foram destinados ao projeto Light Recicla, para que gere um desconto nas contas de luz dos projetos sociais da ASIA.

Fotos: Pedro Motta Lima

Pais de alunos se aglomeram para ver e registrar a apresentação das quadrilhas ensaiadas pelos professores do colégio. Evento foi realizado no Centro Esportivo


Comunhão acompanhada de coral

A área de convivência criada onde funcionava a antiga piscina foi usada para instalação de brinquedos

Dia de Santo Inácio é celebrado com missa no CSI Foi realizada, na Igreja do colégio, no dia 31 de julho, a missa em homenagem ao fundador da Companhia de Jesus, Santo Inácio de Loyola. A celebração, organizada pela Rede Apostólica Inaciana (RAI), foi presidida pelo reitor da Pontifícia Universidade Catória do Rio de Janeiro (PUC-Rio), padre Josafá Carlos de Siqueira, S. J. Ao final da cerimônia, foi apresentada a nova logomarca dos jesuítas no Brasil (mais detalhes na próxima edição da SINO). O último dia do mês de julho é a data de morte de Santo Inácio e passou a ser o seu dia no calendário litúrgico.

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Inácio de Loyola viveu em um mundo de profundas mudanças, na Europa do século XVI. Sua experiência de oração e a espiritualidade que dela surgiu são sempre atuais, numa sociedade de tantos conflitos e incertezas, na qual somos desafiados a educar crianças e jovens. O fundamento e a inspiração da ação educativa dos colégios jesuítas estão na experiência mística de Inácio de Loyola e na pedagogia presente nos seus Exercícios Espirituais. Consiste na procura constante da comunicação com o Deus de Jesus, nela encontrando os critérios e valores para fazermos as opções exigidas no dia a dia, seja como indivíduos, seja como comunidade. Sempre na busca daquilo que mais nos aproxima da realização de nossa missão.

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As barracas, responsáveis pela maior parte da arrecadação, vendiam doces, salgados e bebidas. Opções para todos os gostos

Saiba um pouco mais

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As crianças pequenas tiveram um espaço dedicado a elas, com brincadeiras como pescaria e a de atirar bolas na boca do plalhaço

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antigos alunos

saudades Para matar as

Da esquerda para a direita começando pelo degrau de cima - 1º degrau: Carlos Alberto Mello dos Santos, Ronaldo de Andrade Lanzelotti, Alexandre Neri, Eduardo Garcia, Sergio Santos Klug, Anibal Espinola, Ricardo Lira de Melo, Humberto Torres Braz, Antonio Cruz Lopes e Ricardo Bartolo; 2º degrau: Marco Antonio Pita, Ciriaco Cristovam, Ricardo Lobo da Costa Pessoa, Eduardo Uchoa, Leonardo Porto Gadelha, Laport, Roberto Tunis de Virgilis, George Eduardo, Antonio Carlos Roselle e Luciano Roberto da Cunha Lima; 3º degrau: Heitor Jose Augusto Caiubi, Mauro Viegas, Marcio Antonio, Rogerio Salgado Bauer, Aldo de Sá Brito, Eduardo Pristo Paraiso Ramos, Paulo Gusmão, José Antonio Aboim, Antonio Lemos Bastos Neto e Sergio Luiz Dantas; 4º degrau: Ingles de Souza, Luiz Augusto Barbosa da Silva, Rubens Abdelai, Prof. Renato, Padre Gil, Prof. Francisco, Edison de Sousa Guedes, Tarcisio Otavio e Ari Escaf

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stas serão as primeiras das muitas fotos de antigos alunos que pretendemos publicar na SINO, no site (www.revistasino.com.br) e no Facebook (www.facebook.com/revistaSino). Nada mais justo que darmos destaque para a primeira imagem que recebemos, logo após o lançamento da primeira edição, em março deste ano: a turma do quarto ano primário de 1959, que nos foi enviada por Ricardo Pessoa. Ele ainda se arriscou a

identificar todos os seus colegas e já pediu desculpas antecipadas por possíveis erros de grafia ou esquecimento de sobrenomes. Se alguém quiser complementar o trabalho feito por Pessoa, basta escrever para nós minhasino@revistasino.com.br. Para o lançamento da campanha, o editor da SINO, Pedro Motta Lima (94), também contribuiu com a foto de sua turma do Curso de Alfabetização, o atual primeiro ano do ensino fundamental.

Ele mandou as identificações, mas já pede desculpas por possíveis erros ou esquecimentos. A outra foto é uma contribuição de Ana Karine Almeida (95), que atendeu o pedido do colega Alexandre Henderson (95), que tem o seu perfil publicado nesta edição, para enviar fotos antigas da turma de colégio. Esperamos receber muitas fotos e contribuições para ajudarmos a matar um pouco a saudade dos tempos de escola.


No alto a Tia Alice, professora; De cima para baixo, da esquerda para a direita: Leonardo Khéde, Aline, Clarisse Costa, Camila, Bruno Otoch, Carlos Gustavo Ciarelli e João Paulo; Henri, Marcus Vinícius, Paulo Hugo, Pedro Motta Lima e Rodrigo Assemany; Alessandra Carla, João, Marcelo Lins, Cintia, Fabrício Vasconcelos, Fernanda e Marcus França; Flávia, Renata Maculan, Joana, Ana Cristina, Rafael Porto, Daniela Bastos, Gustavo, Márcio Penha e André Ladeira

De cima para baixo, da esquerda para direita: Rafael Teixeira, Renata Cattapan, Jayme Chataque, Graziela Pedras, Felipe Oliveira Nunes, Walter Liu Cheng Costa (falecido ), Leonardo V. Grinstein, Carlos Afonso, Luiz Eduardo Ematné, Alexandre Abrão Martins, Larissa Morimoto Doi, Ana Karine Almeida, Alexandre Henderson de Oliveira, Daliana Seidl, Georges Ayoub Riche, Carolina Mello, Rodrigo Von Jess, André Ricotta, Trajano Oliveira, xxx ( Não lembro o nome ), Romário, Fuei ( Alexandre pode completar ), Javier, Renata Muniz, Carla Albano, Alexandre Romeiro, Luciana Carvalho, Christiane Magdalena, Renata Braune, Juliana Passos, Carolina de Castro, Mariana Couceiro, Ana Paula Vital Moreira e Aurélio de Queiroz; Professor: Lucas - História

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perfil |

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Henderson em frente ao Museu da Língua Portuguesa, durante gravação do “Globo Ciência”, em 2010

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m negro em movimento. Assim o antigo aluno Alexandre Henderson (95) se define. E depois de algumas horas de conversa é fácil perceber que não é pouco movimento. Apresentador do programa “Globo Ciência”, uma parceria entre a Rede Globo e o Canal Futura, Henderson sempre que pode fala sobre a importância do Santo Inácio em sua formação. Foi assim quando sentou no sofá ao lado de Jô Soares e também quando foi convidado a participar do programa “Tempos de Escola”, apresentado por Serginho Groisman, em que um artista é chamado para falar sobre o seu colégio. O interessante é que Alexandre passou apenas dois anos no Santo Inácio - os últimos do ensino médio. “Mas foi como se fosse a vida inteira. Fiquei até mais tempo em outras escolas, mas nenhuma teve a importância do Santo Inácio”, contou.

Educação: passaporte para o sucesso


A questão racial sempre foi “bem resolvida”, como o próprio Alexandre define, em sua cabeça. “Eu já tinha os relatos familiares de preconceito racial, mas sempre tive boas referências e exemplos que nunca me deixaram ter uma postura defensiva. Minha mãe era professora, o irmão de meu avô foi promotor de Justiça, na família temos engenheiros, advogados... enfim, exemplos de sucesso para que eu pudesse me espelhar”, conta ele, que não se esquiva de temas polêmicos, como as cotas raciais. “Não sou do movimento negro. Costumo dizer que sou um negro em movimento. Mas acho ótimo que exista a discussão sobre as cotas, pois é inegável que há uma distorção no Brasil. Na UFRJ, uma universidade pública, também eram poucos negros. Acho que a cota é um ajuste, mas tem que ser algo de curto prazo. A transformação tem que ser no sistema educacional para que todos tenham as mesmas ferramentas. Afinal, não podemos esquecer que há o branco pobre também. A igualdade de oportunidades é boa para todos. Lembremos que, em grande parte, a violência é fruto da

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(Mendonça Tavares de Almeida), que até hoje é minha melhor amiga. Nos aproximamos, pois a família dela é de Fortaleza e tenho primos em Salvador. Acabamos tendo o Nordeste como um assunto em comum e, através dela, fui conhecendo as pessoas e me entrosando”, contou. Durante os dois anos em que esteve no colégio, Henderson foi o único negro de sua série. “Apesar de perceber alguns olhares de estranheza, nunca passei por qualquer situação de preconceito no colégio. Acho que isto tem a ver com a formação que o Santo Inácio dá aos seus alunos. Mesmo que não se fale especificamente sobre a questão racial, conceitos de igualdade, fraternidade e solidariedade se fazem sempre presentes, assim como o tema da desigualdade”, afirma ele, que cita as amizades que fez como sendo o que mais lhe marcou. “Fiz amigos de verdade. Havia uma pureza naquela convivência. Eu podia contar com meus amigos e eles comigo. Por ser um aluno novo, havia sempre a preocupação em me incluir”.

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A forma como entrou talvez explique um pouco da relação que tem com o colégio. “Sempre fui bom aluno e a educação é algo muito valorizado em minha casa, talvez por minha mãe ser professora. Passei por alguns colégios, mas sempre quis estudar no Santo Inácio. Por conta própria, me inscrevi no processo de seleção e passei. Sabia que ficaria pesado para minha mãe pagar a mensalidade, pois ainda tinha meus dois irmãos. Fui ao colégio procurar o reitor, que era o padre Felix, e expliquei a situação. Consegui um belo desconto e só então fui contar tudo para minha mãe”, lembra Alexandre. “Ela ficou feliz, mas me disse que eu tinha que estar entre os 10 melhores alunos”. Ou seja, a expectativa não era pequena, o que poderia aumentar a possibilidade de frustração no caso do colégio não ser aquilo tudo. “Lembro de entrar no 3º dia de aula. As pessoas se conheciam há anos, pois o pessoal entra muito cedo no Santo Inácio. Mas vieram falar comigo. Logo no início tive a sorte de conhecer a Ana Karine

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Gravação do “Globo Ciência” em Recife, em 2008, sobre o médico Josué de Castro, que fez o mapa da fome no Brasil, na década de 40

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Nas fotos enviadas por seus amigos de colégio, Henderson faz graça com a turma no pátio do Sino, se diverte numa viagem com os colegas de classe e, ainda com os amigos, participa de uma das edições do Sarau do Santo Inácio

desigualdade”, afirma, lembrando que os exemplos também são importantes para a juventude. “Ver negros em posição de destaque é importante para os jovens” A educação oferecida pelo Santo Inácio também correspondeu às expectativas do jovem aluno. “Logo no início já percebi que o ritmo era outro, bem mais puxado. Era um desafio para mim e isso me ajudou na vida, pois me inspirou a querer crescer e batalhar para isso. Nunca fui o ‘filho do dono’ disso ou daquilo. Estudei com pessoas que tinham muito dinheiro, que eram de classe média... enfim, que tinham uma origem familiar diferente da minha. Eu sabia que tinha que vencer pelo estudo”. Ele se sente recompensado por todo o esforço. “Quando você fala que estudou no Santo Inácio as pessoas te olham diferente. Queira ou não queira, a instituição é uma grife quando o assunto é educação. E isso, evidentemente, ajuda no mercado de trabalho. Quando recebi a Medalha Pedro Ernesto, na Câmara Municipal do Rio, falei que tinha estudado no Santo Inácio. No final, uma senhora negra foi até mim e comentou que ao me ouvir estava pensando que ‘com certeza, este menino tem uma formação’. É muito bom ouvir isso”. E quando Alexandre fala em formação, ele não está se referindo apenas à questão acadêmica. “Ali eu aprendi que não há limites para os nossos desejos. Todos os alunos querem ser muita coisa e correm atrás para conseguir”, acredita. Além disso, Henderson acredita que a auto-estima de quem passou pelo Santo Inácio é diferente. “Tenho vários amigos dos outros colégios pelos quais passei. Sinto a diferença. As pessoas acabam achando que não têm condição de fazer algo ou que não vão conseguir. O colégio me ajudou a ver que eu posso. Há muito estímulo por parte dos professores e das próprias famílias. Isto ajuda demais”, afirma ele, que cita alguns professores como influências positivas. “A Lídia Bronstein, de Geografia, me fez pensar o mundo. A aula dela


Veja a entrevista que Henderson concedeu no Programa do Jô, onde ele menciona com carinho o CSI http://bit.ly/hendersonjo Ou aponte o leitor de QR Code de seu celular e acesse o conteúdo de onde você estiver

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Henderson como ator, durante o espetáculo “Ai, ai Brasil”, quando foi dirigido por Sérgio Brito, em 2000

tivo dentro de mim. Sou atento com minha carreira, tenho disciplina, prezo as relações interpessoais. E acho que muito disso eu aprendi no colégio e até mesmo com meus amigos”, explica. Quando se formou, Alexandre foi chamado para fazer uma série do Canal Futura chamada “Nota 10”. “Eles estavam atrás de um apresentador negro que fosse ator ou jornalista. Eu era os dois e tinha, além disso, um bom currículo. Consegui a vaga”, contou. O programa debatia a questão racial nas escolas e teve uma boa repercussão. “Quando os episódios acabaram, voltei a fazer televisão, como ator. Trabalhei na novela “Paixões Proibidas”, na Band, e quando acabei de filmar fui convidado para apresentar o “Globo Ciência”, que já faço há seis anos”. Durante esta fase de apresentador já foram quatro prêmios: o troféu Raça Negra, em 2009, de melhor apresentador; uma homenagem da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Espirito Santo, em 2010; a Medalha Pedro Ernesto, principal comenda da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 2012; e o troféu Top of Business, como destaque de apresentador de TV, também neste ano. Apesar do pouco tempo que tem entre as constantes viagens pelo Brasil para gravar o “Globo Ciência”, Alexandre conseguiu espaço na agenda para escrever o livro infanto juvenil “O menino, a goiabeira e a porta bandeira”, pela editora Uirapuru (www.editorauirapuru.com.br). “Este é um projeto que começou depois que o Lázaro Ramos escreveu um livro infantil para esta editora. Deu certo e eles resolveram fazer uma série. Eu fui o primeiro convidado”, explicou o, agora, autor.

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Houve uma grande identificação, mas Henderson preferiu não fazer a faculdade de artes cênicas. “Precisava de um plano B. Sabia que a vida de ator era complicada. Foi quando optei pelo jornalismo, que cursei, também, na UFRJ. Ou seja, fazia teatro, faculdade e ainda comecei a fazer trabalhos como modelo”. Vieram, então, as primeiras peças. “DNA Brasil” foi a estreia, na Casa de Cultura Laura Alvim. “Depois fiz “Ai, Ai Brasil”, com o Sérgio Britto, e “Jornada de um poema”, com direção do Diogo Vilela, além de cinema com o Cacá Diegues”, contou. Na televisão, a estreia foi na série “Brava Gente”, da Rede Globo. “Enquanto isso, continuava a faculdade e os trabalhos como modelo”. As coisas estavam indo bem, ao ponto de Alexandre já estar ajudando em casa, com a quitação do primeiro apartamento e a compra, depois, de um imóvel melhor. E nisso, mais um vez, ele lembra da formação recebida pelo colégio. “No meio artístico há muito deslumbramento. Manter os pés no chão sempre foi importante. E o Santo Inácio me ajudou muito. Brinco dizendo que há um execu-

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era interdisciplinar. Misturava política, história, assuntos atuais, nos estimulava a ler jornais e saber de tudo que estava acontecendo. Ela nos provocava. Gostava muito também do Lélio, de Química, da Regina Carvalho, de Português, e do Palhares, que era muito carinhoso e delicado. Chorei muito quando ele morreu. Também tinha o Cataldo, de Matemática, com seu bom humor e um discurso bacana sobre superação. Gostava da Ilma, de História, e também do Tobias, que era o coordenador. Me sentia muito amado ali”. A formação é fundamental para a construção de uma carreira de sucesso, mas o talento também conta muito. E no caso de Alexandre pesou bastante. Logo que se formou no Santo Inácio fez vestibular para engenharia e passou. “Fui para UFRJ, mas percebi rapidamente que não era a minha. Acho até que poderia ser um bom engenheiro, pois gosto de estudar e de fazer as coisas bem feitas, mas não era o que queria. Neste ano, então, resolvi seguir os conselhos que sempre ouvia dos meus amigos e me inscrevi para fazer teatro no Gonzaguinha, no grupo do Ernesto Piccolo e do Rogério Blat”.

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artigo

Reflexos de uma crise

Nos três anos que passou na Espanha, o antigo aluno e jornalista Guilherme Coimbra acompanhou de perto as mudanças no dia a dia dos espanhóis

Textos e Fotos Guilherme Prista gcoimbra@hotmail.com

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m 2007, tomei uma decisão radical. Depois de mais de uma década trabalhando no canal Sportv, onde tinha entrado em 1996, como estagiário, e tinha chegado a editor-executivo, pedi demissão para aceitar uma bolsa de estudos em Madri. Havia passado por um rigoroso processo de seleção envolvendo jornalistas de toda a América Latina e fora selecionado para a sétima edição do Programa Balboa, um intercâmbio de seis meses promovido pela Fundación Diálogos, da capital espanhola. O programa, que já está no 11º ano, oferece trabalho em

meios de comunicação de ponta — El País, El Mundo, ABC, Marca, Televisión Española, Agência EFE, ente outros —, além de palestras com os maiores especialistas de diversas áreas, como política, cultura e sociedade espanholas. Estava acompanhado de minha mulher, que faria um curso de jornalismo internacional na Universidad Complutense de Madrid. A previsão era passar de seis a nove meses por lá, mas acabamos permanecendo por três anos, seguindo de perto o início da crise mundial que abalou o país e cujos efeitos estão longe de acabar. O Programa Balboa me levou a trabalhar na Cuatro, a TV aberta do Grupo Prisa, conglomerado que edita o El País, jornal mais vendido na Península Ibérica. Diferentemente daqui, na Espanha os meios de comunicação não escondem o posicionamento político. O Grupo Prisa tem uma linha editorial afinada com o Partido Socialista Obrero Español, o PSOE do então presidente de governo — equivalente a primeiro-ministro —

José Luis Rodríguez Zapatero. Por isso, a Cuatro e o El País foram dos últimos a admitir que o país e o mundo estavam a ponto de mergulhar numa séria crise. Quando cheguei à Espanha, em janeiro de 2008, fiquei impressionado com a opulência. Madri era um canteiro de obras. A cada semana, uma nova estação de metrô era inaugurada. A expansão do AVE, o trem de alta velocidade, era tocada a pleno vapor. Com o sonho de sediar os Jogos Olímpicos de 2016, o país construía modernas — e caras — instalações esportivas antes mesmo de estar entre as cidades finalistas. A ‘Caixa Mágica’, magnífica sede do Torneio de Tênis de Madri, por exemplo, ficou pronta em 2009 e custou mais de 160 milhões de euros, hoje cerca de R$ 412 milhões. A cada esquina, estação de metrô ou página de jornal, abundavam os anúncios de crédito imobiliário. Praticamente todos os espanhóis que eu conhecia estavam pagando hipotecas de duas, três décadas, com juros baixíssimos.


tinha mais da metade de seus quadros composta por estrangeiros. Com a desvalorização gradativa do Euro, o achatamento dos salários e as perspectivas sombrias da economia nacional, a cada mês era mais difícil reter os funcionários. Marroquinos, equatorianos e colombianos estavam passando adiante suas hipotecas e voltando para seus países. Enquanto isso, Zapatero, recém-reeleito, negava a gravidade da crise e via o circo pegar fogo sem tomar nenhuma atitude. Entre as poucas medidas paliativas, o governo flexibilizou as leis trabalhistas para facilitar a contratação, mas o tiro saiu pela culatra. Ficou mais fácil demitir e as empresas, endividadas, começaram a cortar pessoal. Para mim, ficava claro que conseguir trabalho na minha área, o jornalismo, seria impossível. Para se ter uma ideia, o Grupo Prisa, onde eu trabalhara por seis meses, simplesmente encerrou as atividades da CNN+, o canal 24h de notícias que tinha em parceria com a famosa rede americana, mandan-

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o equivalente a 40% do seguro desemprego de imediato e os outros 60% em prestações. A gangorra tinha virado. Pouco mais de dez anos antes, em 1996, a Espanha tinha 500 mil imigrantes. Em 2008, eram 4,5 milhões de um total de 46 milhões de habitantes. Nesse meio tempo, minha bolsa acabou em agosto de 2008. O curso de minha mulher estava perto de terminar, mas ela já tinha acertado um contrato de trabalho de seis meses com a Europa Press, uma agência de notícias privada espanhola. Com a previsão de ficar na Espanha até o fim do ano, comecei a buscar trabalho como free lancer para o Brasil e um emprego, já que tentar viver de ‘bicos’ pagos em reais tendo contas em euros para pagar não era uma boa ideia. Como tenho nacionalidade portuguesa e falo alguns idiomas, consegui trabalho na Mondial Assistance, seguradora multinacional com presença no Brasil. Com um forte serviço de assistência, a sucursal espanhola da Mondial

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A corda começou a arrebentar justamente por aí. O primeiro sintoma de crise foi o aumento da inadimplência. Começava a estourar a bolha que culminaria com muita gente perdendo sua casa depois de ter pagado prestações durante cinco, dez anos. Apareciam os primeiros sinais de retração da construção civil, que quebraria imobiliárias e empreiteiras e levaria o desemprego até os mais de 23% atuais. Maioria no contingente de trabalhadores braçais, os imigrantes, principalmente equatorianos, colombianos, marroquinos e romenos, foram os primeiros a sentir os efeitos da crise. Como sempre, na Europa, quando a torneira se fecha, os estrangeiros não comunitários sofrem. Mesmo sem admitir a crise, o governo Zapatero lançou um programa de repatriação voluntária, quando já havia mais de 100 mil imigrantes legais sem trabalho. Trabalhadores de fora da Comunidade Europeia que decidissem voltar para o país de origem recebiam

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Manifestação durante festa da independência da Catalunha, em Barcelona, em 11 de setembro de 2010, que é o Dia Nacional da Catalunha

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do nada menos que 300 profissionais para o olho da rua. Acuado, o governo do PSOE começou uma reação tardia. Um ano depois da reeleição de Zapatero, o desemprego saltou de 8% para 18%. O presidente iniciou uma reação que teve que passar por setores antes intocáveis para os socialistas. O colapso do sistema financeiro e a retração do setor imobiliário, principal motor da economia espanhola nas duas décadas anteriores, levaram o país à recessão. Zapatero teve que mexer no orçamento e cortar várias medidas sociais que tinham sido bandeiras de sua campanha pela reeleição. O poder acabou mudando de mão na Espanha no fim do ano passado, quando o Partido Popular (PP), de Mariano Rajoy, venceu as eleições antecipadas com 44,63% dos votos válidos e sua coalizão de direita conquistou maioria absoluta no parlamento. Tradicionalmente, os espanhóis são avessos a mudanças e só trocam o governo quando ocorre algo muito grave. Foi assim em 2004, quando, poucos dias antes das eleições, um atentado terrorista na estação de trem e metrô de Atocha matou quase 200 pessoas. O então presidente José María Aznar sustentou insistentemente a tese de que o grupo separatista basco ETA era o autor do massacre. Quando a verda-

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de veio à tona e a sociedade espanhola soube que radicais islamistas estavam por trás do ato, os eleitores castigaram o PP nas urnas. Sete anos depois, a direita voltou ao poder impulsionada pela crise econômica. De 2008 a 2011, o país fora sacudido por greves gerais e vira o número de desempregados bater a casa dos 30% em regiões como Andaluzia e Extremadura. No fim de 2010, havia cerca de 100 mil famílias espanholas sem que nenhum dos membros de seu núcleo estivesse empregado. O seguro-desemprego permite que o trabalhador receba 75% da média dos seus últimos três salários durante um terço do tempo de contribuição. Ou seja, um peão de obra que ganhe mil euros e seja demitido depois de três anos de trabalho tem direito a um ano de seguro com 750 euros mensais. O problema é que ninguém encontra trabalho. Com a economia estagnada, não se cria nada novo. As poucas vagas que surgem são tapa-buraco. E o governo se viu obrigado a estender o benefício. Trabalhadores que provem que continuam buscando emprego, mas não encontram, têm direito a 400 euros mensais. A deterioração do mercado de trabalho causou distorções impressionantes. Victor Aguado, um amigo meu com uma carreira consolidada como técnico

de som, com serviços prestados para famosas bandas pop espanholas, se viu de repente sem qualquer trabalho durante mais de três meses e me perguntou se não havia vagas de operador de telemarketing na seguradora. Isabel García, outra amiga, jornalista com mais de dez anos de experiência, foi trabalhar uniformizada como promotora de produtos numa unidade do supermercado Carrefour. Não que qualquer desses trabalhos seja humilhante ou indigno, mas, sem hipocrisia, o tal rebaixamento de escopo assusta e mostra o grau de desespero dos profissionais espanhóis. Num país com quase 50% de desemprego entre os jovens, é normal que nativos comecem a cobiçar postos antes ocupados por imigrantes. O que fazer com um diploma de direito ou engenharia nas mãos num país onde não se cria nada novo? Rebaixar o escopo ou partir para o exterior. Muitos defendem a tese de que um dos fatores que levaram a Europa à ruína foi justamente o excesso de benefícios sociais. Com a volta da direita ao poder, esse discurso ficou ainda mais forte. E há um certo embasamento. Em 2010, precisei usar o sistema público de saúde por causa de uma crise renal. Tive atendimento de primeira. Meu médico de família me encaminhou para um urologista, fiz radiografias, ultrassonografias e

Pintura convocando para a greve geral de 29 de setembro de 2010 contra os cortes sociais, em Barcelona - vaga general é greve geral em catalão. A outra foto, das bicicletas, foi tirada em Vitoria Gasteiz, que é a capital do País Basco. Os cartazes são pró-independência


Um prédio em Barcelona tomado por faixas referentes à crise que assola o país

compro livros (21) 2215 3528

Guilherme Prista é jornalista formado pela UFRJ. Trabalhou no Sportv de 1996 a 2007, onde foi responsável por transmissões esportivas nacionais e internacionais e trabalhou como editor-executivo dos programas “Redação Sportv” e “Troca de Passes”. Cobriu a Copa do Mundo de 2006. Em 2007, foi selecionado para o Programa Balboa para Jovens Jornalistas Latino-americanos e passou os três anos em Madri. Hoje é editor de conteúdo do departamento de Publicações do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.

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Compra e venda de livros e CDs usados

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uma euforia parecida havia uma década e meia e hoje estão como estão. A Espanha vai estar sempre no meu coração. O país que emergirá da crise — que, tendo conhecido de perto esse povo incrível, não tenho dúvida de que será superada — jamais será o mesmo. Terá que se reinventar para voltar a ser competitivo e retomar a credibilidade no mercado. Uma das frases preferidas de meus colegas de trabalho era “nosostros trabajamos para vivir, no vivimos para trabajar”. Concordo com essa filosofia de vida. Mas o sacrifício que os 46 milhões de espanhóis terão que fazer para tirar o país do atoleiro exigirá uma mudança radical de paradigma.

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recebi medicação. Ao todo, gastei 3,50 euros. A assistência funciona perfeitamente, mas é deficitária. Mesmo assim, discordo de quem é contra o sistema de saúde universal. Não é preciso acabar com ele, mas sim encontrar novas formas de torná-lo viável, combatendo a corrupção, evitando o mau uso de recursos e talvez até aumentando a coparticipação tendo como base a renda de cada usuário do sistema. Por fim, em meados de 2010, decidi voltar. Embora tivesse uma vida tranquila em Madri, com salário razoável, estava trabalhando fora da minha área e as perspectivas a médio prazo não eram nada boas. O contraste com a pujança da economia do Brasil, onde o desemprego estava na casa dos 6% e a minha área, Comunicação, apresentava excelentes oportunidades graças à Copa de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016, não me permitiram pensar duas vezes. Há um ano e meio de volta, pude ver de perto o bom momento vivido pelo Rio e pelo Brasil. Não me faltou trabalho desde que cheguei. Hoje, estou no Comitê Organizador do Rio 2016. Só torço para que o meu país faça as reformas necessárias para que essa prosperidade não seja uma onda passageira. Afinal, quando cheguei, a Madri, em 2008, os espanhóis viviam

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Humor levado a sério? Criador do Kibe Loco fala sobre novas mídias e defende o bom senso como o melhor limite para as piadas que circulam pela internet Por Antônio Pedro Tabet*

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ladainha é a de sempre: “a internet vai acabar com a TV”, dizem os “especialistas” (com muitas aspas, por favor). Devem ser descendentes diretos daqueles mesmos que outrora afirmaram com certeza categórica que o rádio acabaria com o jornal e a TV acabaria com ambos. Bobagem. As novas mídias vieram com tudo. Fato. Porém, continuamos restritos aos limites do corpo. Basta reparar como lemos bem mais que há 25 anos. E isso não tem nada a ver com os movimentos cíclicos que trouxeram as malditas ombreiras e capangas de volta (sim, sou heterossexual, mas leio editoriais de moda). A informação é óbvia, mas poucos compreendem que quem mudou não foi o receptor, mas, sim, o meio. O jornal de papel vai acabar? Provável. Será lido no tablet ou no “sbrubles” que inventarem até lá. Deixará de ser jornal por causa disso? Claro que não. Ou será que a TV deixou de ser o que é quando largou o velho tubo Telefunken e abraçou os leds de hoje? A forma vive em constante e cada vez mais ágil mutação, mas ela e o comportamento são irmãos siameses. Seu notebook novinho nunca substituirá a lareira que é a televisão. Não é possível reunir a família em torno de um iPhone e tampouco no computador do escritório. E isso independe do conteúdo. E é aí que entra o terceiro elemento dessa equação. A internet faz com que qualquer pessoa com um telefone se transforme em veículo. Hoje, todos somos editores de nós mesmos. Para o bem e para o mal.

O lado ruim é que nenhuma bolha cresceu tanto quanto a do ego. Antigamente, se você pensasse na mesma piada que foi ao ar no “TV Pirata”, ficaria cheio de orgulho e contaria para os amigos na quarta: “Conta para eles, Solange! Não falei a mesma coisa ontem?”. Hoje, se você escrever uma piada no Twitter que só sua tia e seus colegas de Bonsucesso seguem, e três dias depois exibirem a mesma tirada no “CQC”, você os acusará de plágio. Puro devaneio. É a chamada “inveja wagneriana”. Outro aspecto negativo é que essa liberdade trouxe – quem diria? – a falta de liberdade. A horda dos politicamente chatos é feroz no Brasil. E quem assistiu aos “Trapalhões” bem sabe do que estou falando. Didi, Dedé, Mussum e

Zacarias jamais poderiam ir ao ar hoje. Seriam chamados de racistas, machistas, homofóbicos e alcoólatras por todos aqueles que carregam mais preconceitos que os preconceitos que procuram. Não estou defendendo a falta de limites. Há de se separar tudo pelo bom senso. É inegável que o “correto” cumpre importante papel social. Hoje, somos muito mais cuidadosos com o outro do que éramos nos recreios do Santo Inácio. Isso é reflexo de maturidade pessoal e social. Mas esse movimento também trouxe uma espécie de ditadorzinho oportunista. Aquele que quer ganhar dinheiro com ONG sobre tudo. Certa vez, um amigo afro-brasileiro (também conhecido como “preto” pelo – vejam só! – “Jornal Nacional”) reclamou


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mais! Seria chamado de humor inteligente por todos aqueles que não sabem que o mais inteligente é não classificar humor. Ninguém tem mais tempo para preconceitos. Ou vai dizer que o “Pedala, Robinho!” do antenado e “muderno” “Pânico” não é bordão à “Zorra Total”? * Publicitário, autor, roteirista, criador do site Kibe Loco e antigo aluno do CSI

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Quem insiste em bancar o xerife das novas mídias pode até enganar uma “meia-dúzia” de 20 mil trouxas, mas para o cotidiano de milhões, soará arrogante, patético e burro. Uma espécie de tio obeso vestido de Rainha da Inglaterra pegando ônibus errado na Ilha do Governador. Aliás, isso daria um belo webhit. E

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quando um apresentador utilizou a expressão “ovelha negra”. Ele dizia que a expressão era pejorativa. Questionava o inquestionável. Quando perguntei se ele iria contratar um advogado faixa preta para processar a emissora para ganhar uma grana preta, acalmou-se. Essa ignorância vestida de empáfia é típica dos sabichões de gueto. Faltalhes a humildade para perceberem que a velocidade do mundo atual não dá mais rédeas para tais “verdades absolutas”. E que é justamente essa a beleza da modernidade. Um tsunami que cria, recria e abre espaços para o blogueiro na novela das oito ou para o vesgo ensebado e sem graça na MTV. Essa convergência faz a madame do Morumbi dizer “cada um no seu quadrado” e o garoto da Rocinha saber operar um BlackBerry melhor que o problogger de tecnologia, de dedinhos valentes mas cujo bundão não levanta da cadeira.

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solidariedade

Formação

Liderança para fazer a diferença Alunos vão à Colômbia para participar de curso e dividir ensinamentos e experiência com colegas

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uatro alunos do CSI - Maria Beatriz Gomes e Bernardo Miranda, do 1 ano do Ensino Médio, e Ana Vitória França e Vítor Pessini, do 2 ano - acabam de chegar da Colômbia, onde fizeram um curso de formação em liderança inaciana no colégio San Bartolomé de La Merce, em Bogotá. O curso Taller Internacional de Formação Integral em Liderança Inaciana tem apoio da Federação Latinoamericana de Colégios Jesuítas (FLACSI). Segundo a assessora de responsabilidade social Juliana Lima, que acompanhou o grupo, a intensidade das atividades desenvolvidas, sem dúvida, terão reflexos na vida de cada participante. “O curso proporcionou a todos nós, educadores e alunos, uma experiência incomparável com a espiritualidade inaciana, de forma lúdica e extremamente reflexiva”, contou Juliana. Segundo a as-

sessora, todas as etapas do curso foram importantes para o amadurecimento do grupo, tanto as atividades realizadas na Fazenda La Esperanza, quanto a experiência de missão por quatro dias nas comunidades de San Pablo e Canaletal, às margens do Rio Magdalena. O aluno Vítor Pessini ficou bastante surpreso com o que viu, principalmente durante a missão em Canaletal. “É uma localidade muito pequena, com cerca de 600 habitantes, casas simples e problema de abastecimento de água”. As dificuldades enfrentadas pelo grupo fizeram o jovem refletir sobre o seu dia a dia. “A gente tomava banho no rio ou usando canecos, comíamos alimentos preparados de forma diferente do que estamos acostumados. Percebi que nem sempre agradecemos por tudo a que temos acesso”. Bernardo concorda: “Aprendi a apreciar até as coisas mais simples que tenho e avaliar os contex-

tos antes de tomar decisões, procurando a excelência. Embora isso seja ensinado em todos os colégios inacianos, a partir do curso Taller, incorporei a prática a meu dia a dia”, explica Bernardo. Para Ana Vitória, foi importante vivenciar o aprendizado de liderança nas mais diversas dimensões. “O sentimento da união da América Latina, as amizades feitas com pessoas de outros países do continente e, principalmente, experimentar a rotina em realidades diferentes, abrindo os meus olhos para o mundo à minha volta, foram ganhos pessoais de valor inestimável, que levarei para o resto da vida”, afirma Ana, que hoje afirma compreender melhor o sentido da espiritualidade inaciana. Já Maria Beatriz passou a ter certeza de que algo precisa ser feito em prol da humanidade. “O curso Taller reafirmou minha vontade de mudar o mundo”, disse Maria.


Seja sócio Não é preciso ser ex-aluno do Santo Inácio para ajudar a manter projetos como o Ação Claveriana

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Associação dos Antigos Alunos dos Padres Jesuítas - RJ Rua São Clemente, 216 - Botafogo Rio de Janeiro - RJ Tel: (21) 2527-3502 contato@asiarj.org.br

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