tlgd

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quem são os caras da tlgd?

Salve, salve! Seja bem-vindo à primeira edição da tlgd!

Chegou agora? Então deixa a gente te mostrar como funciona as coisas por aqui. A tlgd nasceu da ideia de conversar com quem tá começando a entender mais sobre o mundo, o trampo e os estudos.

Essa edição tá cheia de conteúdos sobre o mercado de trabalho, como a nossa matéria sobre a Escala 6x1. Além de cultura, dicas de filmes, séries, livros e um photoshoot no Beco do Batman, que tá cheia de trabalhos f*das de diversos artistas.

Tudo isso sem enrolação, direto ao ponto, de forma descontraída e acessível, respeitando a complexidade dos assuntos. Queremos te mostrar como o mundo funciona, queremos te deixar seguro para formar sua própria opinião e ocupar o seu espaço.

E isso é só o começo! Cada edição vai ter ainda mais conteúdo, então vem com a gente e boa leitura!

Projeto Integrado

DSG3B 2025-1

Projeto III

Marise De Chirico

Cor, percepção e Tendências

Paula Csillag

Produção Gráfica

Mara Martha Roberto

Finanças Aplicadas de Mercado

Rossana Filetti Soranz

Marketing Estratégico

Leonardo Aureliano da Silva

Infografia e Vizualização de Dados

Marcelo Bautista Pliger

Motion Graphics

Carlos Eduardo da Silva Nogueira

Ergonomia

Carolina Bustos Raffainer

Auresnede Pires Stephan

Projeto Editorial e Gráfico

Antônio Stein Cicarini Neto

Estela Andrés

Maria Fernanda Medici Bellucci Leite

Sophia Silva dos Santos

Tomás Konda Takabayashi

nossa fml max bertuani

rick azevedo

Vereador do Rio de Janeiro

Rick Azevedo é ativista e vereador do psol no Rio de Janeiro. Ficou conhecido por criticar a jornada de trabalho 6x1. Defende melhores condições para os trabalhadores.

Professor e influenciador

Faz conteúdos sobre emprego, vida na favela, racialidade, de vez em quando, amor, enquanto estuda letras na ufmg e da aulas de mandarim em uma escola.

prato firmeza

Guia gastronômico

Guia gastronômico das quebradas paulistanas, sua missão é promover estabelecimentos que estão fora do radar gastronômico da cidade.

Linn da quebrada

Atriz, ativista e cantora

Linn da Quebrada é uma cantora, atriz e performer trans brasileira. Sua obra aborda temas como identidade de gênero, sexualidade e resistência periférica.

gog

Escritor e rapper

GOG é um rapper e escritor de Brasília, ativo desde os anos 1980. Suas letras falam sobre racismo, periferia e questões sociais, juntando ativismo e poesia.

Guia Gastronômico

Fome de Poesia

Cultura da Periferia

Tukero

Da Margem ao Mundo

Preservando a História

Revolução

Aqui respondemos suas dúvidas sobre o mercado de trabalho. Caso queira que ter seu comentário respondido pelos nossos convidados, poste na #tlgdResponde

! Vale a pena começar a carreira em startups e empresas menores antes de mirar nas grandes?

@giberto_magno

Gilberto Magno é um dos maiores character artistas brasileiros, autor de diversos workshops e responsável por alguns dos personagens mais incríveis dos games

É normal quando a pessoa ainda estiver começando, tem uma visão um pouco rasa do mercado, como as coisas funcionam. Muita gente quer começar já numa em presa grande, quer bombar o portifólio e falar “agora estou pronto e vou entrar numa empresa grande”. Tem muitas coisas que no caminho você precisa aprender com processos que empresas pequenas te dão um alicerce muito mais sólido pra quando você chegar numa empresa grande, chegar preparado. Isso aconteceu muito comigo, se eu não tivesse passado por várias empresas no Brasil, eu teria ainda muita imaturidade.

mas sinto que não estou preparado para o ambiente de trabalho...

Nem sempre empresas avaliam só portifólio, você não vai chegar lá na mesa do outro profissional e perguntar “como eu faço isso?”. Não tem tempo pra isso. Primeiro que se a empresa te trouxe, ela espera que você some na equipe, pra ser bem transparente, vão jogar a bomba na tua mão e falar “te vira”. Se você conseguir trazer soluções diante dos desafios que sempre surgem, isso vai ser bom pra você, vão passar a confiar mais em você. Mas se você chegar cru, tipo, “deixei pra aprender certas coisas aqui” – coisa que acho que nem vai acontecer porque em empresas grandes se passa por vários test es – não vai rolar, esses querem um time que se entrose e que se dê bem no dia a dia.

Oii tlgd! Quais truques fazem um freelancer se destacar num projeto?

Uma coisa que eu sempre fiz trabalhando como freelance, para mostrar que estava ciente do processo era adiantar o trabalho o máximo que eu conseguia naquele tempo antes de mandar, tirava vários prints e fazia várias anotações para o diretor, e para ele é ótimo, ele vê que você tá se engajando. Se o freelancer ficar com muita falta de atenção, começa a prejudicar o

Oiê, tlgd! Tenho medo de começar em um emprego ruim ou que paga pouco, como evito isso?

portfólio sozinho é suficiente para garantir uma vaga?

Principalmente se você ainda não tem nome no mercado, não tem pessoas próximas que conhecem seu trabalho para falar de você na empresa, a empresa

O trabalho vem equivalente ao seu por tifólio, ele é tipo equilibrado. Aonde eu cheguei num certo ponto, abriu a porta daquele ponto. Mas com o tempo eu fiquei com sangue no olho com o mercado, que é importante. Eu lembro que eu dei um salto de ganhar 2 mil pra ganhar 4 mil no Brasil, tem que aprender a se valorizar, saca? Eu fiz trabalhos que abriram portas pra essa etapa...

profissão do futuro? a crise do setor tecnológico

Pesquisa mostra que oferta de vagas é maior do que demanda, e que a maioria dos trabalhadores não estão agradando as companhias

duas visões

Na outra ponta, pesquisa do Gi Group aponta que para maioria dos trabalhadores do setor o salário oferecido não é suficiente, as vagas não atendem suas expectativas e há outras oportunidades melhores (19%).

Os profissionais de ti esperam de seus empregos que a remuneração e equilibro entre vida pessoal e profissional são prioridades para os trabalhadores da área de ti. A quantidade de estresse é muito importante, o que mostra que esses profissionais estão evitando longas horas de trabalho e sobrecarga.

Viviane Sampaio, gerente de recrutamento para ti na consultoria Robert Half, explica que o funcionário do setor frequentemente precisa estar alerta devido à natureza de seu trabalho, “que exige atenção constante a detalhes técnicos e resolução rápida de problemas críticos”, causando pressão e estafa. A especialista apontou também que a disparidade entre volume de trabalho e profissionais disponíveis resulta em sobrecarga e tarefas com prazos apertados.

Ademais, oportunidade de crescimento, flexibilidade e benefícios e bem-estar também foram listados como prioridades.

Mesmo com os dados negativos, 19% dos participantes responderam preferir

Já os recrutadores relataram na pesquisa que as vagas ofertadas recebem bastante visualização, mas poucas aplicações, que os processos seletivos possuem tempo de duração muito longo, escassez de candidatos adequados e oferta de emprego insatisfatória.

A gerente de recrutamento para ti enfatiza que no aspecto técnico, as empresas procuram por colaboradores capacitados com implementação de sistemas (erp), domínio em tecnologias de computação em nuvem, expertise em linguagens de programação como Python, Salesforce e bancos de dados.

Essas especializações indicam uma “crescente necessidade de especialistas em segurança da informação para proteger dados confidenciais”, afirma Sampaio.

As soft skills também estão em alta no mercado. “Os empregadores buscam profissionais capazes de se adaptar rapidamente, lidar com desafios de forma construtiva e motivar equipes”, diz a recrutadora. Para cargos de gerência, uma liderança ativa, próxima dos liderados, comunicativa e responsável é o diferencial na área.

“Habilidades como comunicação eficaz, relacionamento interpessoal, negociação e capacidade de engajar equipes têm se tornado cada vez mais importantes”, diz a especialista Sampaio.

A IA vem crescendo muito no mercado de trabalho

Potências jovens que SP ignora

Desemprego e evasão atingem quase

800 mil jovens em São Paulo, que lutam por um futuro melhor por Joyce Ribeiro

em situação de vulnerabilidade social. São mais de 766 mil jovens sem oportunidade de estudo ou emprego formal. Os que já foram chamados de geração Nem-Nem agora querem ser vistos como jovens-potência à procura de oportunidades para superar o racismo estrutural, a evasão escolar, a falta de trabalho e a exclusão digital na periferia da maior metrópole do país.

“Parte do problema é como a sociedade olha para o jovem que mora na periferia, de forma negativa, que vai chegar atrasado e cansado no trabalho porque mora longe. Mas são jovens resilientes, criativos e com habilidades socioemocionais. São potências enormes. Em geral, escolhemos olhar para o lado que falta e não para o que abunda”, afirma Gabriella Bighetti, diretora executiva da United Way Brasil, articuladora do goyn.

Brasil tem 1,6 milhão de pessoas trabalhando por aplicativos

A missão do goyn (Global Opportunity Youth Network) São Paulo é impactar a vida de 100 mil jovens da periferia até 2030 por meio de diversas parcerias com empresas e a sociedade civil para criar soluções estruturais e inovadoras, aos desafios enfrentados pela juventude e combater a desigualdade de raça e gênero. “Que a gente da periferia seja regra e não exceção, para que a gente não tenha que trabalhar o dobro para ganhar a metade”, afirmam os jovens em um manifesto.

A iniciativa foi criada nos Estados Unidos por uma organização internacional que tem recursos para ajudar populações vulneráveis. Além disso foi implantada em Bogotá (Colômbia) e Cidade do México, na América Latina. Em São Paulo, começou em 2020 e hoje soma 70 instituições parceiras.

Na capital paulista, 70% dos jovens vivem nos extremos das zonas sul e leste, em áreas como Cidade Tiradentes, Ermelino Matarazzo, Guaianases, Itaim Paulista, Itaquera, São Mateus, São Miguel, Campo Limpo, Capela do Socorro, Cidade Ademar, M’Boi Mirim, Parelheiros e Santo Amaro. A maioria são mulheres e negros (53%).

O índice de desemprego entre os jovens da cidade de São Paulo é de 35%, ou seja, quase o dobro quando comparado a quantidade de jovens em relaçao a população total (16%).

Alana Gonçalves Vieira tem 24 anos e vive em Ermelino Matarazzo, na zona leste, em uma casa com a mãe e duas irmãs. Desde que se formou no ensino médio em 2014, só teve uma experiência de emprego por três meses com telemarketing.

“O mais difícil é conseguir emprego. Não dão oportunidade para quem não tem experiência e treinamento. Vivo da renda familiar. Minha mãe é pensionista. Mas tenho amigos com faculdade, mestrado, que também não conseguiram colocação no mercado”, conta.

Alana sonha em conseguir um trabalho para estudar psicologia. Sem uma renda garantida, não tem a mínima possibilidade de pagar os livros necessários, alimentação e transporte, mesmo que consiga uma bolsa de estudos. Hoje ela recebe um auxílio de R$ 300 e integra o projeto do goyn, participando de reuniões com diversas empresas e ajudando a propor soluções para juventude periférica, ser cada vez mais incluida.

Brasil registra 39 milhões de trabalhadores informais
parei de estudar no ensino médio.

Minha mãe

ficou

doente e criava a gente sozinha

Um dos problemas por ela relatados é a falta de entre tenimento na periferia. Há uma pista de skate, onde os jovens se reúnem, mas em más condições de uso.

“Fico desiludida, mas tenho esperança que as coisas vão mudar. Um dia o 'sim' vai vir. As coisas não são fáceis e nem vão ser. A gente aprende, tem vontade e quero despertar o outro também. O que falta na periferia é estímulo. O governo não dá a mesma oportunidade de quem mora no centro. As escolas não são as melhores e nem o emprego vai ser tão bom. Tinha que ter na periferia para ficar na periferia”, enfatiza Alana.

Evasão escolar

Um dos motivos para o abandono da escola é a questão financeira. Muitos precisam trabalhar para sobreviver. Foi o caso de Rute Franciele de Lima, de 27 anos, que foi criada na comunidade da Ilha, no Jardim Elba, na zona leste de São Paulo. Ela está há 9 anos com o marido e tem dois filhos, de 9 e 7 anos. Há dois, mora em um barraco numa invasão do Jardim Santo André porque não tem mais condições de pagar aluguel.

“Eu parei de estudar no ensino médio. Minha mãe ficou doente e criava a gente sozinha. A gente sempre estava com ela para ter o que comer em casa. Quando fui ter estudo mesmo foi quando fomos para um abrigo. Não era só comigo, pelo visto,

meu marido por exemplo, que tem 30 anos, infelizmente teve que parar na sexta série para poder trabalhar e ajudar sua família. Eu até pretendo terminar os estudos, mas não sei como irei fazer isso”, lembra.

Segundo ela, o maior preconceito enfrentado pelos jovens para conseguir trabalho é o fato de serem moradores da periferia. “Falta de capacitação, exigem experiência, mas nem todos tiveram oportunidades. Às vezes o trabalho

é muito longe. A gente sente na pele e os olhares falam muito”, ressalta.

Ensinos profissionalizantes são outras opções mais viáveis: 80% dos estudantes do ensino técnico de 14 a 18 anos vêm de famílias com renda de até 5 salários mínimos. No entanto, apenas 8% dos jovens se formam nessa modalidade.

Trabalhadores da empresa de entregas Rappi, esperando juntos para atender a entrega

incentivo ao ensino e empregos aos jovens

O evento “Trampos do Futuro” reuniu jovens em

São Paulo para discutir e vivenciar caminhos profissionais ligados à tecnologia, arte e educação.

O trabalho do futuro não é mais do que entender a mudança nos setores da economia, aquelas que se farão sentir em cinco anos. O encontro “Trampos do Futuro: arte, cultura e educação” tentou juntar, em São Paulo, atores e instituições que estão na prática destes setores em dois dias de atividades abertas para quatro mil estudantes do ensino fundamental, médio e técnico de São Paulo e outras cidades próximas.

“A gente veio fazer networking, ver como é a proposta das atividades e o que pode ter de interessante para o nosso futuro profissional”, contou Giovana Midori, de 18 anos, que faz um curso técnico de pro

se encantaram com um cachorro robô, de controle remoto, parte das tecnologias de ponta exibidas aos participantes. O evento contou com oficinas práticas de robótica, promovidas pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), oficinas de mídia, com equipes do Instituto Kondzilla e espaços de discussão promovidos por parceiros como o Instituto Geledés. Parte do espaço foi dedicado também para a preparação de currículos de trabalho, com dicas práticas de apresentação, além de uma pequena feira de oportunidades com algumas das instituições que apoiavam no melhor estilo

“Um evento de jovens para jovens conversando, em que a gente pudesse trazer para eles alguma coisa que talvez esteja fora do universo da maioria deles, que é como estão se organizando as novas

economias, onde há novas frentes de trabalho. Então, assim, o que você pode fazer em termos de trabalho? Quais áreas? E o que é que a gente consegue enxergar? Agora, daqui a cinco anos, tudo isso terá mudado. O que nós estamos falando para eles é assim, vocês vão inventar o futuro. Os novos trabalhos, os novos desafios e tudo o mais, são vocês que vão criar.”, explicou Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, braço da Fundação Itaú que organizou as atividades. Ela demonstrou uma visão realista, de que não há muita condição prática de se mudar o fato de que a maioria dos jovens não irá fazer ensino superior, por falta de acesso ou de interesse, e que isso não precisa ser necessariamente um problema.

Universo da cultura

“Procuramos fazer essa ponte entre o universo da cultura, da economia criativa e do entretenimento e o universo do desenvolvimento social, econômico e principalmente da inclusão produtiva de jovens, da ampliação de oportunidades para jovens. Aqui no evento a gente criou uma experiência de imersão em carreiras criativas, então a gente tem bate-papo com profissionais de origem periférica que se destacam hoje na economia criativa e um podcast sendo gravado em tempo real que a gente chama de Jovem Cast. São jovens que se formaram recentemente

jovem, entrevistando os executivos, palestrantes e os convidados”, contou João Vitor Caires, fundador e diretor executivo do Instituto Kondzilla.

Os estudantes encontraram ainda uma estrutura em formato de árvore, no meio da Bienal, prédio que sediou as atividades. Quem apresentou essa estrutura foi Rebecca Câmara, de 21 anos, estudante de artes cênicas e assistente de produção no encontro.

A Árvore do Amanhã, assim batizada, juntou diversos bilhetes em que os que lá passaram registraram o que queriam fazer e o que esperavam do futuro. Eles escreveram sobre família. “Eu quero muito uma família e eu quero ter um pai presente. Minha mãe me criou solo, eu sou filha de mãe solo. E aí, jovens que vêm de onde eu vim, a gente se olha no espelho, é como se fosse um espelho. E aí eu falo, eles podem ir para outro lugar”,

Parte do que ficou do evento, além das lembranças e da animação dos jovens, foi consolidado em uma “Carta das Juventudes

O Mercado de Trabalho em Transformação

bbc News Brasil ouviu especialistas e jovens das periferias sobre como superam barreiras sociais no acesso ao mercado de trabalho por Leandro Machado

hamadas soft skills — ou, em uma tradução “habilidades socioemocionais” — tornaram-se um fator importante para quem está tentando entrar no mercado de trabalho. Em alguns casos, na hora de contratar, as empresas lvam esses elementos mais em conta do que a competência técnica dos candidatos.

Mas como fica o jovem pobre, morador de regiões periféricas, que pouco teve contato com uma formação específica em habilidades como “resolução de problemas”, “resiliência emocional”, “adaptabilidade” e “comunicação efetiva”?

A faixa etária entre 18 e 24 anos representa 30% dos 7,5 milhões de desempregados no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ibge) relativos ao segundo trimestre de 2024. No total, são 2,2 milhões de pessoas sem trabalho nessa camada — 6,9% da população brasileira está desempregada.

Evento realizado na Acadef que conectou candidatos e empresas com vagas disponíves
falar em público, é muito difícil. E isso não é algo que ensinam na escola

coisa que eu achava extremamente difícil. E isso não é algo que nunca me e ensinaram na escola”, diz.

Depois do curso, Vitor Rodrigheri passou em sua primeira entrevista de emprego em uma fábrica. E, no início deste ano, entrou em História na Universidade de São Paulo (usp).

“Hoje vejo que essas habilidades me ajudam até na universidade, como quando falo com um professor ou na hora de apresentar um trabalho”, diz ele, que pretende seguir carreira acadêmica e se tornar professor.

Em atuação no Brasil desde 2020, a Fundação Wadhwani faz parcerias com escolas e entidades de ensino locais para dar cursos de capacitação em soft skills a jovens periféricos de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.

“Soft skills são habilidades de comunicação, resolução de problemas, trabalho em equipe, pensamento crítico e mentalidade empreendedora”, resume Thiago Françoso, vice-presidente da fundação no Brasil.

“O que escutamos dos empregadores é que, muitas vezes, o jovem da periferia chega bem preparado, com curso técnico e outras qualificações, mas tem dificuldades básicas.”

Uma pesquisa da Fundação Wadhwani com mais de 200 empresas de vários países apontou que as soft skills têm uma importância relativa de 45% na hora da contratação, frente aos 55% das habilidades técnicas.

No Brasil, a “comunicação” foi apontada por 84% dos empregadores ouvidos como a habilidade essencial de um candidato a uma vaga — 44% também falaram em “resiliência”; 40% em “trabalho em equipe”; 32% disseram considerar a qualidade do “atendimento ao cliente”; e 24% citaram “liderança” e “responsabilidade”.

“Em nossos cursos, ensinamos desde o básico, até a gestão de emoções como o estresse em um ambiente competitivo”, explica Françoso.

Como ser mais criativo

e encontrar a melhor forma de resolvê-la”, diz Ana Lívia, que sempre estudou em escolas públicas e também participou de um programa de formação da Fundação Wadhwani.

Técnica em Administração, a jovem pretende continuar atuando na área por um período. Mas sonha em trabalhar com saúde e tecnologia no esporte.

A bbc News Brasil ouviu outras duas jovens de periferias sobre suas experiências com o aprendizado das soft skills.

A estudante Ana Lívia Marques, de 20 anos, também moradora de Caçapava, acredita que aprender a se comunicar melhor com o público foi fundamental para conseguir o estágio na recepção de um consultório médico da cidade.

“Tento mostrar para o cliente que sou o elo entre ele e a empresa. E que estou disposta a entender a demanda

“Penso em me formar em biotecnologia para trabalhar com vôlei, que pratiquei quando era mais jovem e é meu esporte preferido. O vôlei foi muito importante na minha vida, por ser um esporte coletivo em que todas as pessoas são importantes”, diz ela.

Para Ana Clara Mendes, de 20 anos, do bairro Deodoro, periferia da Zona Norte carioca, organizar as próprias ideias e colocá-las em prática são habilidades que ela está desenvolvendo em um curso de capacitação do Coletivo Aprendiz.

O programa, que oferece formação em habilidades socioemocionais para jovens

periféricos do Rio de Janeiro, Vitória e São Paulo, é um dos braços educacionais da ong Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (Cieds).

“Me acho uma pessoa criativa, mas penso demais, elaboro demais e, às vezes, não consigo tirar do papel. Meu professor sempre me fala: ‘Ana, muito boa essa sua ideia, mas como você pode ser mais dinâmica para fazer tudo funcionar?”, conta Mendes, que recentemente conseguiu uma vaga como menor aprendiz em uma empresa de saneamento.

Ela diz que a proximidade entre sua casa e o trabalho (cerca de 30 minutos de ônibus) foi um dos pontos que facilitaram sua contratação.

“Muitas vezes, quando você mora em um bairro da periferia, não te contratam porque a empresa terá mais custos com transporte. E, se você mora a duas horas do trabalho, precisa acordar quatro horas antes para se arrumar. E ainda tem o ônibus que demora, trânsito… Você pode chegar atrasada, e ainda tem mais sete horas de trabalho… E depois mais duas horas no ônibus voltando para casa. É uma rotina muito difícil.”

Ana Clara era atleta de judô até os 18 anos, quando sofreu uma contusão no joelho e precisou abandonar as competições. “Sempre achei que seria uma atleta profissional. Mas, de repente, veio esse baque. Então precisei pensar: ‘e agora, o que vou fazer da vida?’”

Mesmo longe do judô, ela ainda pretende trabalhar na área. “Comecei como menor aprendiz com o objetivo de pagar meus estudos em educação física. Quero trabalhar com atletas de alto rendimento. Quero fazer mestrado, doutorado. Esse é meu sonho, vou conseguir”, diz.

Segundo Brilhante, um empecilho para o jovem periférico é a autoestima. “Quem vem da periferia tem dificuldade de enxergar o próprio potencial e receio de frequentar espaços de outras regiões mais ricas, porque não se vê como parte daquele lugar. Em nossos cursos, a gente sempre tenta fazer com que ele pense: ‘eu pertenço a esse lugar, e esse lugar me pertence’”.

Pessoas indo trabalhar por meio de ônibus

os jovens periféricos no mercado de trabalho

O que mudou, melhorou e regrediu no cotidiano do jovem periférico que está em busca da primeira oportunidade no mercado de trabalho?

Das agências de emprego aos portais de recrutamento e seleção. O que mudou, melhorou e regrediu no cotidiano do jovem periférico que está em busca da primeira oportunidade no mercado de trabalho?

A reportagem do Desenrola apresenta olhares de personagens que viveram esse processo em épocas diferentes, mas enfrentaram desafios semelhantes.

Na década de 90, a taxa de desemprego na grande São Paulo chegou a 19,3%, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), acarretando numa crise que afetou milhões de trabalhadores na época. Essa instabilidade econômica impactou principalmente a população que procurava a primeira oportunidade de atuação profissional entre os anos de 94 a 99. Neste contexto, os jovens moradores das periferias vivenciaram uma série de situações constrangedoras para entrar no mercado de trabalho.

Casos de racismo e discriminações devido ao tipo de vestimenta, porte físico e estético, além do rótulo negativo pela região de moradia representam histórias

de moradores que participaram de pro cessos seletivos numa época, na qual a agência de emprego era o principal elo entre candidato e empresa. Além disso, nos anos 90 os jovens das periferias conviviam com a inexistência de políticas públicas de acesso as universidades, o que dificultava ainda mais a conquista do primeiro emprego.

o mercado antes

Quando tinha 20 anos, Fabiana Alves, pedagoga e moradora do Grajaú, zona sul de São Paulo, sonhava com o primeiro emprego, mas as exigências e a forma como as agências procediam em relação ao atendimento dos jovens na época, era segundo ela um completo desrespeito e muito preconceito. Hoje, com 44 anos e mãe de dois filhos, a pedagoga se emociona ao recordar as situações de conflito racial que a sua geração enfrentou na década de 90.

“Naquela época você tinha que ser impecável, porque se você não fosse uma pessoa impecável, você não tinha valor, você não conseguia entrar no mercado

está na periferia. Você consegue hoje ter condições mínimas de possibilidades e perspectivas para a juventude, mas pela conjuntura atual elas podem ser desconstruídas, talvez a gente regresse em um passado, que não foi trabalhado na perspectiva de juventude.”

Já paraVitória Guilhermina, 19 anos, moradora da zona oeste de São Paulo, a tecnologia possibilita o acesso da sua geração a se conectar com diversas vagas de emprego, porém, as exigências de experiência e formação profissional não favorece ao jovem disputar esses espaços.

“Esse fácil acesso facilita e desmotiva o jovem. Facilita porque você envia seu currículo online, mas desmotiva porque você não vai conseguir aquele emprego. Você faz inscrição para 30 sites e nenhum te chama para fazer uma entrevista se quer e isso é deprimente”. Reconhece Vitória Guilhermina.

primeiro trabalho, coisa que não existia em sua época.

como é o cenário atual

19 anos após o final dos anos 90, a juventude periférica ainda continua enfrentando grandes desafios para acessar o mercado de trabalho. Entre 2013 e 2018, a taxa de desemprego se manteve acima de 10% no estado de São Paulo. Em 2017, o Dieese registrou uma alta de 18%, um cenário de crise bem próximo do que foi vivenciado pela moradora do Grajaú, nos anos 90. O economista e morador da periferia Alex Barcellos, compara os dias atuais com anos 90, enfatizando que à época não existia essa facilidade do acesso tecnológico. “Hoje existem avanços em acessos, mas ainda existem muitas dificuldades e desafios para esse jovem que

Vitória conseguiu seu primeiro emprego como Jovem Aprendiz no banco Itaú e atualmente trabalha como jovem monitora cultural, por meio de um programa de formação e experimentação profissional em gestão cultural para as juventudes, realizado pela Secretaria Municipal de Cultura (smc) da Prefeitura de São Paulo.

“Acho muito importante você dar essa oportunidade para um jovem que nunca entrou no mercado de trabalho, acho que a gente precisa ter essa oportunidade para poder ter essa experiência que eles exigem. E o jovem monitor é isso. O jovem monitor eu acho que é mais importante, por essa questão de envolver a cultura, a gente fica ligado à cultura do nosso bairro, a espaços culturais, você dá o espaço desse jovem produzir dentro do espaço dele, dentro de onde ele mora, do bairro dele”, argumenta Vitória.

Renda Zero, O Impacto da Pandemia

A pandemia reduziu severamente a renda de jovens da periferia, de 6 a cada 10, foram forçados a buscar alternativas no empreendedorismo por Letycia Cardoso e Pollyanna Brêtas

Durante a pandemia, a jovem Thalyta Cunha, de 24 anos, se viu sem alternativa de renda. Ela vendia trufas, mas o trabalho foi interrompido com o isolamento social. Ela passou por diversos processos seletivos e conseguiu um emprego como cuidadora de idosos. Mas agora, com o aumento do custo de vida, ela já busca formas de complementar a renda:

Durante a pandemia fiz de tudo. Trabalhei em uma cozinha, fiz faxina. Hoje estou com trabalho, mas quero me qualificar em 2022 e encontrar mais uma fonte de renda.

Sem carteira assinada

A pesquisa mostra ainda que 32% dos entrevistados têm interesse em uma atividade complementar de renda, mas ainda não conseguiram. Outros 21% disseram que estão empreendendo, e 20% não estão buscando, mas têm interesse. Para os pesquisadores, é necessário ter um investimento financeiro inicial para a atividade e, por isso, alguns jovens que têm desejo de empreender não conseguem.

A coordenadora de Comunidades do Sebrae Rio, Carla Panisset, explica a problemática entorno da falta de vagas formais de emprego empurra jovens para o empreendedorismo de necessidade:

“Empreender muitas vezes é a única possibilidade de renda. Dos jovens de 18 a 24 anos que têm negócios, cerca de 60% faturam até um salário mínimo (R$ 1.100). Ninguém nasce empreendedor, mas pode se tornar pelo conhecimento.”

Um levantamento do Idados, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (pnadc) do ibge, revela que empregos informais têm puxado a retomada do mercado de trabalho, por meio de serviços no comércio, transporte etc.

Em 2020, a desigualdade no Brasil atingiu recorde: Gini foi 0,6257, segundo o FGV Social
Não devemos ter vergonha da nossa história, a empresa pode vê-la como um potencial versátil

“Uma das dificuldades para os jovens que entram nesse período de mercado desaquecido é encontrar emprego compatível com a ocupação pretendida. Muitos viram motoristas, entregadores. O problema é que, além de não contarem com nenhuma proteção, quando tentarem se recolocar em um momento mais propício, não terão experiência relevante na área” analisa a pesquisadora do Idados, Ana Tereza Pires.

Qualificação para jovens de baixa renda

A Prefeitura do Rio, em parceria com Instituto Proa, oferece duas mil vagas para jovens de baixa renda em um curso on-line gratuito, que tem início em janeiro de 2022. Para participar é preciso ter entre 17 e 22 anos, estar cursando ou ter concluído o 3º ano do ensino médio em escola pública e morar no Estado do Rio de Janeiro. As aulas abordam Autoconhecimento (20 horas), Planejamento de Carreira (20 horas), Projeto Profissional (20 horas), Raciocínio Lógico (20 horas), Comunicação (20 horas). Assim ao concluir a trilha principal, os jovens são direcionados a processos seletivos para vagas de posições de início de carreira e primeiro emprego. Além disso, todos recebem certificado de conclusão emitido pelo Proa

Quem desejar, ainda pode expandir seus conhecimentos por outras cinco áreas, . São eles: Análise de Dados, patrocinado pelo iFood; Varejo, pela Via – Fundação Casas Bahia; Administração ou Logística, oferecidos pela p&g; UX Design, disponibilizado pela Accenture ; e Promoção de Vendas, bancado pela brf. Também é possível ter o apoio de tutores em encontros semanais ao vivo.

“Tem que se vender como comprometido” - Depoimento: Karla Clarinda, especialista em recolocação, de 36 anos

“Quem tem pouca qualificação deve se destacar com o comportamento. Tem que se vender como proativo. Então, as experiências informais, como o bico de garçom, as diárias de babá e até vender bala no sinal importam. Essas atividades devem estar no currículo. Não se deve ter vergonha da própria história. A empresa pode enxergá-la como um potencial versátil”.

Foto de divulgação do projeto com parceria do Instituto Proa

Qualificação em cursos

Use a internet a seu favor. Muitas instituições de ensino oferecem cursos on-line gratuitos, disponíveis a um clique de distância. Escolha temas sobre os quais você tenha interesse ou aptidão e aprofunde seus conhecimentos. Mas lembre-se: quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade. Dedique-se a um curso por vez para garantir uma aprendizagem mais eficiente.

Currículo atualizado

O currículo não deve ser genérico, mas sim trazer objetivo e adequados às vagas a que você se aplica. Se você tem experiência em uma determinada área ou a competência necessária para uma vaga, seu currículo deve estar alinhado ao que se pede. Fique atento às palavras-chave que constam na descrição das vagas, pois elas são a principal ferramenta dos recrutadores na hora de selecionar os currículos.

Experiência informal

Trabalhos informais, temporários e freelancer também contam como experiência. Ainda que o tempo tenha sido curto na ocupação, demonstra que você aprendeu algo e não ficou parado. Coloque no currículo.

Erros de português

Escrever errado na hora de mandar um e-mail ou no seu próprio currículo não é algo bem visto. Antes de enviar, leia mais uma vez com bastante atenção e, se possível, peça para outra pessoa revisar.

Redes sociais

Seu histórico virtual é a primeira impressão que muitas pessoas têm, especialmente os profissionais de recrutamento e seleção que analisam candidatos. Fique atento ao tipo de conteúdo que você posta, curte, comenta e compartilha.

o movimento da pejotização no brasil

A visão de especialistas é que a suspensão temporária da tramitação dos casos diminui a insegurança jurídica do país

A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (stf), Gilmar Mendes, de suspender todos os processos sobre a pejotização coloca as disputas judiciais sobre o tema em um ponto crucial, segundo advogados trabalhistas ouvidos pela exame. A visão dos especialistas é que a suspensão temporária da tramitação dos casos diminui a insegurança jurídica em relação à questão, além de criar uma perspectiva de pacificação dos casos.

A chamada pejotização é uma prática pela qual uma empresa contrata um trabalhador sob a forma de pessoa jurídica (pj) para exercer funções típicas de um vínculo trabalhista, mas sem garantir os direitos da Consolidação das Leis do Trabalho (clt), e demais benefícios. Esse modelo tem gerado diversos processos, pois trabalhadores questionam

O Supremo já julgou ações sobre possíveis casos de fraude em contratações pj. Segundo a pesquisa “Terceirização e pejotização no stf: análise das reclamações constitucionais”, realizada pela fgv Direito-SP, 6 em cada 10 casos analisados entre janeiro e agosto de 2023 confirmaram relações de terceirização. Os casos, porém, não criaram um entendimento sobre a questão. Por isso, tribunais regionais avaliaram ações semelhantes de diferentes formas pelo país.

Dados do painel Corte Aberta, citados pelo portal Jota, mostram que pela primeira vez reclamações trabalhistas superaram as civis no stf. O montante representou 42% do total. Em um ano, o número de ações quase dobrou, de 2.594 em 2023 para 4.274 em 2024.

O que vai mudar com a decisão de Gilmar Mendes sobre pejotização A medida cautelar de Mendes, referendada pelo

Escultura “A Justiça” em frente ao STF, Praça dos Três Poderes, Brasilia, DF, Brasil

plenário da Corte, não resolve o mérito da questão. O ministro definiu que o STF determinará, em um julgamento de repercussão geral, quais critérios e como a Justiça deve analisar casos de contrata ção de PJs para avaliar eventuais fraudes, além de definir se a Justiça do Trabalho é o tribunal competente para avaliar casos semelhantes.

“O que vemos hoje é que a Justiça do Trabalho tem interpretado de formas diferentes a validade da contratação de PJs, e essa divergência só aumenta a insegurança jurídica. O Tema 1389 é crucial porque discute pontos como a competência para julgar fraudes, a le galidade da contratação de autônomos e PJs, e a responsabilidade pela prova”, afirma Karolen Gualda Beber, advogada e coordenadora da área trabalhista do escritório Natal & Manssur Advogados. O que esperar do julgamento sobre a pejotização? Priscila Ferreira, mestra em Direito do Trabalho e sócia do escritório Ferreira & Garcia Advogados, afirma que o julgamento do mérito no stf precisa reforçar o equilíbrio, para conciliar modernização

produtiva com respeito aos direitos sociais fundamentais. Afirma ainda que a relação ente a liberdade contratual e a dignidade do trabalhador é frágil e exige análise casuística, isto é, caso a caso.

Leonardo Carvalho, sócio da área Trabalhista do escritório Barreto Veiga Advogados, concorda e cita o conceito de hiper suficiência, profissional que tem diploma de nível superior e ganha um salário alto.O especialista avalia que a legislação atual, que inclui a reforma trabalhista realizada em 2017, tem uma base sólida sobre conceitos de trabalho autônomo, relações de prestação de serviços e clt. O problema é a interpretação, na prática, dessas leis.

Carvalho esclarece ainda que o STF, neste caso, não vai tratar da uberização, conceito que envolve a relação entre um prestador de serviço e uma plataforma ou aplicativo, como motoristas da Uber ou 99. Assim como a pejotização, a relação envolve trabalho autônomo, mas tem diferenças estruturais e também não é pacificada, com decisões diferentes a depender do tribunal.

Projetos Inovadores Transformam a Educação

Conheça iniciativas inspiradoras de escolas públicas que estão quebrando barreiras e moldando o futuro de seus alunos por Ludmilla Souza

mudança está atrelado à educação.

Professor de uma escola pública na região central de São Paulo, ele conta que a violência urbana é a tônica local e que as famílias dos alunos fogem à estrutura nuclear tradicional e muitas vivem em situação de vulnerabilidade. Mestre em arquitetura e urbanismo, o professor desenvolveu um projeto, em 2016, para levar os estudantes a visitações em vários pontos da capital paulista, para mostrar, como se deu a ocupação do espaço e como isso influencia a vida na região, em especial no Glicério, onde está inserida a escola em que ele trabalha: E scola Municipal de Ensino Fundamental (emef) Duque de Caxias. Surgiu assim o projeto Aula Pública: Além dos muros da escola.

A Aula Pública

contribui de forma mais eficaz para a formação intelectual e cidadã dos alunos

“Através da Aula Pública buir de forma mais eficaz para a formação intelectual e cidadã dos alunos, incentivando a compreensão e o entendimento de questões políticas da sociedade brasileira a partir de dados da sua região. Este projeto, tem contribuído para formar líderes, desdobrando-se na vertente do objetivo inicial: compreender e fortalecer o processo de transformação do espaço e sua real ocu pação, além de melhorar os índices de aproveitamento escolar”, afirma o docente.

O início da empreitada, entretanto, contou com de safios: a própria comunidade não via com bons olhos alunos saindo para campo, fotografando o bairro ou tentando entrevistar os moradores. “Às vezes, ouvía mos na rua pessoas em rodinha perguntando: ‘quem é esse cara?’, ou ‘lugar de aluno é na sala de aula!’. Mas, a relevância de sair da sala e a minha persistência fez com que nossos alunos reconhecessem a importância de preservar o espaço público”.

Em 2020, durante o primeiro ano da pandemia, um outro desafio veio à tona: com o isolamento social, o educador não podia levar os estudantes às experiências presenciais. Surgiu a ideia de ir sozinho aos locais para fotografar e criar conteúdos virtuais que proporcionassem aos alunos a sensação de ter estado naquele lugar. “Como eu não podia levar meus alunos para as ruas, eu trouxe as ruas para as telas deles”, destaca Paulo.

Duque de Caxias leva alunos para aulas públicas

Cruzando Fronteiras

Um dos eixos de atuação da oei envolve a promoção do bilinguismo. Os idiomas das nações ibero-americanas pautaram iniciativas pelo Brasil, como o Programa Ibero-americano de Difusão da Língua Portuguesa, criado para valorizar as duas línguas oficiais –espanhol e português –e potencializar o uso das línguas.

Para estimular estudos relevantes sobre o bilinguismo, que mostrem a importância geopolítica dos dois idiomas, o programa busca identificar, promover e reconhecer experiências educativas realizadas por escolas da rede pública de ensino que se destacam no ensino bilíngue e intercultural.

Assim surgiu o Prêmio Cruzando Fronteiras, que reconhece as experiências educacionais de interculturalidade e bilinguismo nas escolas da rede pública de educação básica formal, englobando a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, e instituições de educação profissional técnica de nível médio.

Uma das instituições premiadas este ano foi a Escola Intercultural Brasil-México (ciep 413), de ensino bilíngue, localizada no bairro de Neves, na cidade de São Gonçalo (rj), que venceu na categoria Região Sudeste. A instituição atua junto às comunidades carentes da região com atividades culturais O sucesso das atividades culturais se refletiu no aumento de matrículas e na criação de turmas bilíngues de 6º ano e resultou ainda no projeto Clube de Leitores, que envolve crianças desta série em aulas de espanhol, por meio de atividades lúdicas.

O trabalho premiado - o tores"

Sarah Corrêa Carneiro, de 46 anos.

A professora conta que o projeto surgiu da ideia de estimular a leitura, aprimorar o vocabulário na língua espanhola.

Para outros educadores, ela deixa uma mensagem:

É difícil, é cansativo, às vezes não temos ajuda e ninguém acredita. Mas se você acredita, faça, realize e lute por ele. O importante é ver o resultado maravilhoso por algo que você idealizou e acreditou.

E mais do que isso, colocando sempre o aluno como protagonista da atividade.”

Tríplice fronteira

Na tríplice fronteira entre Brasil, Argen tina e Paraguai, mais um caso em que professores inovaram e conquistaram a atenção dos estudantes.

Em Foz do Iguaçu ( nar o bilinguismo e fortalecer os idiomas espanhol e português rendeu à Escola

Municipal Professor Pedro V. Parigot de Souza, a conquista do Fronteiras

conheceu as práticas para fomentar o bilinguismo entre o público infantil, que já convive com essa realidade.

A unidade recebe inumeras crianças das cidades e países vizinhos que têm o espanhol como idioma materno.

“Por causa dessa característica, funcionamos de forma bilíngue, recebendo tanto alunos da Argentina qaunto do Paraguai, e, mais recentemente, da Venezuela. Por isso, pensamos em ações onde o aluno falante de espanhol é inserido em uma troca de linguagem com os estudantes que falam português. A gente quer que o aluno nos ensine o idioma dele. Um dos recursos utilizados foi revistas em quadrinhos da Turma da Mônica, na versão em espanhol”, explica a coordenadora pedagógica da instituição, Viviane Marques.

“Uma experiência extremamente rica foi com os alimentos. A professora trouxe vários tipos de milho, comparamos com o nosso, trabalhamos a pipoca, a polenta, a lenda do milho nas duas línguas, foi uma experiência muita rica para as crianças”, destaca Viviane. Funcionando em tempo integral, a escola investe na capacitação dos professores e oferece, no contraturno, aulas de espanhol. “No começo, a dificuldade foi a língua espanhola ser entendida pelos professores, mas hoje todos estão comprometidos”. Além disso, os idiomas são trabalhados em atividades lúdicas com os alunos.

mobilidade urbana: quanto mais precário, melhor

Especialista em mobilidade urbana e moradores de São Paulo contam como os entraves no transporte público impactam a vida da população da cidade

Superlotação, tarifas altas, espera longa, veículos em condições precárias, falta de ônibus e de integração foram alguns dos desafios apontados por passageiros que utilizam diariamente o transporte intermunicipal. Esse é o caso do Henrique Carvalho, 42, morador da na zona leste de São Paulo, que depende do transporte intermunicipal, para ir trabalhar em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo.

A linha 499, que faz o trajeto entre o Terminal Metropolitano Cecap, em Guarulhos, até a estação da cptm Dom Bosco, é a que Henrique utiliza e a tarifa custa R$ 6,15. Ele conta que já passou mais de 40 minutos esperando pelo transporte e a situação piora aos finais de semana e feriados.

“Se eu vacilo cinco minutos eu não consigo mais pegar o ônibus. Muitas vezes eu estava indo de Uber trabalhar”, comenta, “Eu gastava R$ 200 por mês, fazia uma diferença boa”, afirma .Ele menciona que por causa dos atrasos gerados pela espera do ônibus, chegou a alterar o horário de entrada no trabalho, mudou de unidade e tem até planos de mudar de casa para facilitar o trajeto até o trabalho.

Direito à cidade

Ao analisar o transporte como um serviço público essencial para a população, o geógrafo Ricardo Barbosa, que é professor do Instituto das Cidades, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e coordenador da Rede Mobilidade Periferias, pontua que a mobilidade urbana deveria ser organizada de modo integrado, sendo que essa integração também precisaria acontecer com relação à tarifa, aos transportes e ao território em si, mas que isso esbarra em questões políticas por interesses locais de empresas de transporte de famílias que dominam em determinados municípios e isso faz com que não haja um interesse político de resolver essas questões.

“Há interesses políticos de se manter o transporte e a mobilidade precária do jeito que ela é, porque é mais lucrativo para as empresas”, menciona Ricardo. Ele indica que a maneira mais adequada de pensar o transporte público seria com a integração dos transportes de modo que fosse efetivamente público. O pesquisador aponta a tarifa zero como algo fundamental para pensar um modelo democrático.

democratização da cultura

Ricardo Barbosa, professor e coordenador da Rede Mobilidade Periferias, na Unifesp. O professor coloca que os principais prejudicados com essa situação é a população pobre, periférica e negra, as que mais dependem desse meio de locomoção. Além disso, ressalta que o acesso ao transporte público de qualidade não deve se restringir apenas ao deslocamento para que as pessoas possam trabalhar, mas que contemple outras demandas cotidianas. A falta de integração tarifária também é um ponto de atenção que Ricardo aponta interferir de forma negativa na mobilidade das pessoas que dependem do transporte público. Ricardo alerta que o formato de tarifa zero aos domingos, em vigor desde

dezembro de 2023, na cidade de São Paulo, carrega questões, como a diminuição de frota que ocorre. “Tem que ser tarifa zero com transporte adequado [e] um serviço de qualidade”, comenta.

A política de gratuidade aos domingos na capital permite que a população utilize ônibus municipais sem custo nesse dia, mas não se estende para a população que depende do transporte intermunicipal, nas regiões metropolitanas de São Paulo.

réplica da emtu

A emtu (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo), que é a responsável pelo transporte intermunicipal das regiões metropolitanas, é controlada pelo Governo do Estado de São Paulo e vinculada à Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos (stm), no entanto, afirmam que cabe às prefeituras locais a regulamentação do itinerário das linhas dentro de cada município, além da definição dos pontos de parada.

A empresa também afirma que a extensão das linhas, o número de paradas e as características das vias influenciam na frequência dos ônibus. Sobre as tarifas, a empresa afirma que as linhas obedecem a uma relação entre extensão e tarifa. Nos modos de pagamento, ressaltam que cada município tem autonomia para ter o seu próprio sistema de bilhetagem.

Com relação ao passe livre, pontuam se tratar de uma política tarifária adotada em alguns municípios da Grande São Paulo, mas que neste momento não faz parte do transporte metropolitano sobre pneus ou trilhos. Que há disponibilidade de bilhete do estudante e do professor, que garante gratuidade ou desconto, respectivamente.

Ricardo aponta a necessidade de pensar o transporte de forma ampla, de modo que envolva uma integração tarifária efetiva, transportes mais justo e democrático que leve em conta os aspectos do território, para que assim garanta a cidadania.

João Ferreira Costa

Trabalho e estudo dos jovens periféricos

A mobilidade como chave para o futuro: desafios e realidades de quem depende do transporte público para estudar, trabalhar e sonhar.

Distribuição modal de transporte em 2023:

29,5% de viagens não motorizadas

35,6 milhões de viagens por dia

70,5% de viagens motorizadas

28,2% a pé

1,3% de bicicleta

34,4% por transporte coletivo

36,1%

de jovens já se sentiram prejudicados pelo tempo gasto no transporte

Fontes: AgênciaBrasil, Portal da Industria, Poder 360 e CPTM

Tempo gasto de brasileiros com transporte:

Menos de 1 hora

1–2 horas

2–3 horas

Mais de 3 horas

desses jovens abandonaram a escola com dificuldades de conciliar estudos, trabalho e outras responsabilidades.

Dos Brasileiros que gastam mais de 3 horas por dia

muitos enfrentam uma rotina cansativa e pouco eficiente, esse cenário ajuda a explicar a forte insatisfação com o transporte público onde 29% dos entevistados o consideram péssimo e 16%, ruim. A combinação entre o tempo excessivo de trajeto e a má qualidade do serviço evidencia um dos grandes desafios urbanos, afetando diretamente a qualidade de vida da população.

15,3%

19,8% e Trabalham

Nem estudam nem trabalham.

Um dia essa fita vai fazer sentido

@maxbertuani

Influencador e universitário, cursa letras na ufmg e tem o podcast Pro Corre, que fala sobre a correria dele como jovem gay, preto e periférico.

Eu fui o primeiro da minha família que conseguiu ingressar na faculdade federal. Da minha família, dessa geração, eu fui o primeiro que saiu da casa dos pais pra buscar a independência, pra poder estudar, e eu faço o meu corre. Quando eu passei na universidade eu tive muita esperança, porque eu falei “Essa fita agora vai mudar minha vida”, “Essa fita vai mudar meu futuro e a minha realidade”. Falei pra mim mesmo “Eu vou ser estudante”. Depois eu descobri que eu nunca me senti 100% assim, nunca me senti 100% um. Sempre trabalhei, sempre tive que estar na atividade pra fazer o meu corre acontecer e recentemente, eu tive um enfrentamento em relação a isso. Eu trabalho há mais de um ano com um estágio, é um corre pesado. Eu queria fazer um corre na universidade, perto de casa. Fiz a entrevista, participei de todos os processos tenho a experiência tenho a experiência e o perfil para esse estágio, mas eu não passei para esse estágio, não fui escolhido. E o motivo? O meu histórico acadêmico.

A professora falou que eu tenho muito trancamento. Estudar é um privilégio e eu sou um estudante periférico. Eu tranco as matérias muitas das vezes porque eu preciso fazer dinheiro, preciso garantir o meu sustento. O saber é muito bom, mas e quando ele não paga as minhas contas?

E quando ele não enche minha barriga? O que me frustra é saber que eu sou bom. Eu consigo, eu consigo ser muito bom, eu tenho muito potencial. Eu só sou engolido por um sistema que a cada brecha quer me dizer que esse lugar, esse espaço, não é o meu lugar. Que a minha sina é servir e que eu tenho que ceder, ceder a oportunidade de mudar o meu futuro. Sabe como que é difícil isso? E eu não quero isso. Eu posso ser muito bom.

Eu fico pensando, em quantos jovens com a mesma realidade que eu, enfrentam o mesmo contexto, quantas ideias geniais foram perdidas, quanto textos incríveis não foram escritos, quantos desses materiais não foram perdidos nessa correria e nesse vai e vem de busão e metrô? Quantos jovens durante a graduação tiveram que amargar à mediocridade sabendo que essa nunca foi sua natureza?

O que tem me ajudado a ficar firme é saber que eu tenho fé, no meu, e no seu potencial. Pessoas que me trouxeram até aqui e eu sempre penso que eu sobrevivi, penso em todas as vezes que eu tive que correr só pra poder me ver e pensando todo dia que eu to tetando crescer, e me perguntando mas e se eu me perder? Como eu vou fazer? Como vou me encontrar? Todo dia tentando não morrer, só pra não enlouquecer. Só pra não me perder. Um dia essa fita vai fazer sentido.

Qual o futuro da escala 6x1?

Conheça Rick Azevedo, defensor do movimento e ex-balconista de farmácia que chamou a atenção de deputados por Layane Serrato

Movimento vat, que quer acabar com a escala 6X1 surgiu no Tik Tok no final do ano passado, trazendo muitos apoiadores, assim como muitos haters. O fim da jornada de trabalho de 6 dias trabalhados por um dia de descanso ganhou destaque neste domingo, 11 de novembro, nas redes sociais. A extinção faz parte de uma pec apresentada pela deputada Érica Hilton (psol–sp) na Câmara dos Deputados.

A parlamentar tem se engajado nas redes sociais para pressionar os deputados a assinarem o requerimento de apoio à pec , que precisa de 171 assinaturas para ser apresentada oficialmente. Érica já conseguiu metade. Segundo a deputada, a escala 6x1 é desumana. A proposta do movimento vat recebeu apoio da deputada para pressionar os parlamentares. O movimento já conseguiu a adesão de 1,3 milhão de assinaturas da petição online em defesa da proposta.

Especialistas explicam que esse é um dos movimentos que lutam por uma nova escala de trabalho. Tanto no Brasil quanto em outros países, a escala 4x3 que Rick defende já está sendo testada. Além disso, o movimento que ganhou destaque por causa de uma rede social tem relações com outras tendências que surgiram no mercado de trabalho internacional.

Como o Movimento VAT começou?

Nascido em Tocantins e morador do Rio de Janeiro há 10 anos, Rick aos 30 anos estava cansado da escala 6x1 que o trabalho de balconista de farmácia lhe proporcio nava. Em paralelo, também conciliava os trabalhos de influencer no Tik Tok onde comentava as novidades do mundo pop - mas nenhuma live repercutiu tanto quanto o vídeo que ele publicou no dia 13 de setembro de 2023. “Era uma segunda-feira quando eu estava de folga e decidi gravar um vídeo. Era o único dia que eu tinha de descanso em uma semana. Eu já estava inconformado com essa escala desumana de 6x1 em pleno período que vigora o clt, quando a minha coordenadora me ligou e me estimulou ainda mais a desabafar.”

que a escala 6x1 é um absurdo, inclusive muitos advogados.”

Os próximos passos

Na ligação a coordenadora pediu para Rick entrar mais cedo no dia seguinte. “Costumava entrar às 14h30, ou seja, contava com o descanso da manhã seguinte, que me foi tirado também,” diz Rick.

O vídeo foi publicado no dia 13 de setembro na parte da manhã, enquanto Rick ia ao trabalho. Com o celular desligado durante o expediente, o balconista só

A repercussão era o que Rick precisava para ir mais além com o tema. Criou um WhatsApp para articular ações com os apoiadores, enquanto ainda trabalhava na farmácia. Em menos de uma semana, o grupo que recebia até 2 mil pessoas lotou. “Foi aí então que decidi separar e fazer grupos por estado, para articular ações com pessoas de cada região.”

O nome do movimento foi criado junto com esses apoiadores. Entre várias sugestões, a sigla “vat (Vida Além do Trabalho)” trouxe a definição do que ele defendia no vídeo e o que o perturbava atrás do balcão todos os dias. “A mensagem que eu quero

A

Ato em São Paulo pelo fim da escala 6×1, organizado pelo movimento
Vida Além do Trabalho (vat)

passar é que as pessoas precisam viver além do trabalho e o nome chegou para identificar a causa.”

Com o nome definido, Rick buscou orientação com especialistas para os próximos passos. “Cheguei no meu amigo que é advogado e disse: Precisamos retirar a escala 6x1 do clt. Como posso notificar as autoridades?”.

Foi neste momento que João Victor Félix, o amigo advogado que hoje faz parte da equipe jurídica do mo vimento, teve a ideia do abaixo – assinado, que ao ser lançado nas redes sociais recebeu só na primeira semana 50 mil assinaturas – em janeiro de 2024, somava mais de 550 mil assinaturas. “Pensei que conseguiria umas 100 mil assinaturas, mas novamente a proporção foi muito maior e isso mostra que realmente há muitas pessoas sofrendo com esse regime.”

A ida para as ruas

Com o movimento ganhando fama e até apoio do deputado Glauber Braga (psol- rj), o clima no trabalho de

que tira a dignidade do trabalhador brasileiro.”

A proposta do Movimento VAT

O que Rick defende por meio do Movimento vat é uma escala 4x3 (trabalha 4 dias e folga 3) que já está sendo testada em vários países, inclusive no Brasil. Para Roberta Rosenburg, ceo e co-fundadora f.j Lead, consultoria de desenvolvimento de pessoas, a escala 4x3 pode não ser a ideal para o momento. “Felizmente, hoje, falamos muito sobre sanidade mental no trabalho, mas acredito que a escala 4x3 não seja o caminho ideal para as empresas e tampouco para funcionários. Uma escala 5X2 seria a opção mais viável e, pelo momento artual do Brasil, a escala mais fácil de ser absorvida."

A moralidade religiosa que cerca o funk

A moralidade religiosa que cerca as periferias é o que dá sentido ao funk putaria Pega a visão. Ao contrário do que pode parecer, o sexo, a droga e descrito no funk não é oposto ao conservadorismo religioso das periferias, mas são coisas complementares. Como assim? As letras de funk putaria buscam principalmente chocar e transgredir os valores morais. Mas pra chocar e transgredir é preciso conhecer muito bem os valores a serem transgredidos.

@canaldothiagson

Thiago de Souza é doutor em música clássica e fala na internet sobre os estigmas do funk e como o ritmo também é musicalmente rico com diversas referências históricas

Pegou a visão? Quem é de periferia e faz funk conhece muito bem esses valores e os tem assimilados porque muitas vezes é da igreja.

DJ Yuri Martins, produtor de vários sucessos de putaria, disse isso aqui: “Eu falo pra você de verdade, eu não curto funk putaria. Não gosto. Quero mostrar meus trabalhos pra minha mãe, minha irmã pequena, meu pai, da igreja. Como é que eu vou mostrar uma música assim? Eu não curto, mas é meu

trabalho. Eu ouço gospel no carro. É, eu ouço gospel. Praticamente todos que lançam eu tô escutando. Eu sou muito temente a Deus”.

MC Nandinho, compositor da música Malandramente, que fala de uma safada que fugiu na hora da madeirada é evangélico. Assim como o MC Mr. Bin, que até parou de cantar putaria. E olha o que disse a Pipoquinha.

“Sério, você vai ficar de cara, mas eu escuto muito, muito louvor. Eu acredito no meu Senhor Jesus Cristo, no meu Pai Celestial”.

A gente enxerga como contraditório aquilo que ainda não foi interligado, que ainda não foi conectado. Funk putaria e moral religiosa se complementam. Ou seja, se a nossa sociedade não fosse tão conservadora, as letras de funk não gerariam a polêmica e a comoção que geram. E é dessa polêmica e dessa comoção que o funk se alimenta. Elas gostam de putaria, putaria, putaria. Muito obrigado pela sua atenção. Um beijinho do papai.

que estilo de arte de rua é você?

Se você já se perguntou qual estilo de arte você mais encaixa, esse quiz é para você

Qual é a sua relação com a criatividade?

A) Eu adoro criar algo visual, colorido e impactante

B) Gosto de me expressar através do movimento e ritmo

C) Eu me sinto mais criativo criando músicas ou sons

D) Eu gosto de capturar momentos e contar histórias com imagens

E) Eu curto criar coisas com as mãos e mexer com materiais

O que mais te chama a atenção nas ruas e espaços públicos?

A) As superfícies brutas e inexploradas, prontas para serem transformadas

B) A energia que o espaço público oferece, como um palco aberto para a dança e a expressão livre

C) O som da cidade, onde cada esquina traz uma nova melodia

D) As histórias não contadas que surgem nas ruas, momentos espontâneos e pequenos detalhes

E) A chance de transformar o que seria descartado em algo totalmente novo

Como você lida com a improvisação?

A) Gosto de planejar, mas adoro quando surge uma ideia espontânea

B) A improvisação é a chave! É sobre expressar o momento

C) Improviso o tempo todo, deixo a música me guiar

D) Gosto de estar preparado, mas é necessário lidar com o inesperado

E) Na arte manual, a improvisação é o que torna a peça única e especial

Qual você consider maior necessidade na hora de criar?

A) Liberdade total para experimentar com cores e formas sem limites

B) Energia, sentir o espaço e as pessoas ao redor enquanto me movimento

C) Uma conexão profunda com a música, tocando sem pressa e sem interrupções

D) Calma e observação, capturando detalhes e momentos que só a quietude pode revelar

E) Simplicidade, criatividade e material em mãos, algo para transformar

Qual sentimento você quer provocar nas pessoas com seu trabalho?

A) Surpresa e admiração pela beleza e pela força da arte visual

B) Energia, liberdade e emoção com os movimentos da dança

C) Sentimentos profundos: nostalgia ou reflexão através da música

D) Reflexão sobre o cotidiano e os detalhes invisíveis da vida urbana

E) Encanto e curiosidade pelas peças criativas e feitas à mão

A cidade se tornou o seu palco.

Qual é o seu papel?

A) O arquiteto do imprevisto, criando algo que desafia o olhar comum

B) O corpo em movimento, fundindo-se com o ritmo da cidade

C) O som invisível, transformando o ambiente com cada nota que ecoa

D) O observador que encontra poesia no detalhe, no que não conseguem ver

E) O criador que dá vida ao inusitado, tornando o banal extraordinário

Qual dessas frases combina mais com você?

Resultados:

A) “Eu transformo espaços em obras, adoro brincar com cores e formas”

B) “Dançar é transformar sentimento em movimento”

C) “Música é a expressão e ritmo do universo”

D) “A lente captura o que o coração sente”

E) “Produzir com as mãos é dar vida ao que parecia comum”

Como você lida com o público enquanto trabalha?

A) Gosto de interagir com as pessoas e mostrar meu processo criativo

B) Adoro dançar para as pessoas, me energizo com a reação do público

C) Gosto de tocar para que as pessoas se sintam envolvidas e emocionadas

D) Prefiro ser observador, capturando a essência das pessoas e do ambiente

E) Prefiro focar no processo artesanal sem distrações

Grafite: Você se sente atraído por arte visual e adora a ideia de transformar espaços públicos com cores e formas.

Maioria B

Dança: Seu corpo é sua ferramenta de expressão, e as ruas são seu palco, onde você compartilha sua energia e movimento.

Música: A música é sua paixão, e você adora se conectar com as pessoas através de melodias, ritmos e sons na rua.

Maioria D Fotografia : Você é um observador, capturando momentos, emoções e histórias através da lente da sua câmera.

Maioria E Artesanato: Você acredita que a beleza está em criar algo único e ressignificar aquilo já descartado por outros.

Pesquisa publicada prova ; preferencialmente preto; pobre, prostituta pra polícia prender; pare pense por quê?

Predominou o predador; por que?

Proibido! Policiais petulantes pressionavam, pancadas, pauladas, pontapés; pangarés; pisoteando postulavam prêmios; pura pilantragem! Padres, pastores, promoveram procissões; pedindo piedade paciência pra população; parábolas, profecias, prometiampétalas paraíso; predominou o predador; Paramos pensamos profundamente; por que pobre pesa plástico, papel, papelão pelo pingado; pela passagem, pelo pão; por que proliferam pragas pelo país? Por que presidente por que?

Polícia perversa,

Prossigo; pelas periferias praticam perversidades parceiros; PM's. Pelos palanques políticos prometem, pura palhaçada; proveito próprio; praias programas, piscinas, pressão popular; preocupados? Promovemos passeatas pacificas; palestra, panfletamos; passamos perseguições; perigos por praças, palcos; protestávamos por que privatizaram portos pedágios.

palmas; pra periferia; pânico, pólvora, pá pá pá; primeira página; preço pago; pescoço, peitos, pulmões perfurados. Parece pouco; Pedro Paulo; profissão pedreiro; passatempo predileto, pandeiro; pandeiro parceiro; preso portando pó passou pelos piores pesadelos; psicológicos perdeu parceiros passado presente. Pais parentes principais PC,pertences; Político privilegiado preso; parecia piada;

presídio, porões, problemas pessoais;

pagou propina plantãopro policial; passou pelo porta principal; posso parecer psicopata; pivô perseguição;pra prevejo populares portando pistolas; palavrões;pronunciando públicospromotores prisões;pedindo pecado!

Pena prisão perpétua; palavras pronunciadas; pelo poeta periferia; pelo presente pronunciamento pedimos punição; para peixes pequenos poderosos, pesos pesados; pedimos principalmente paixão pela pátria; prostituída pelos portugueses. Prevenimos! Posição parcial poderá provocar; protesto paralisações piquetes;

Prato Firmeza: Mapeando Restaurantes na Pandemia

Restaurantes nas comunidades de São Paulo contam com o guia para se manter visíveis aos olhos do público

“Não existe comida boa na quebrada?”

Foi a pergunta que, em 2012, motivou  Prato Firmeza que criou um “guia gastronômico das quebradas de SP”. Durante um debate, Matheus Oliveira, que frequentava oficinas de jornalismo e gastronomia na  Zezinho do Capão Redondo, lamentava não poder ser crítico gastronômico por não conseguir pagar os restaurantes do centro, abrindo a discussão sobre a comida na periferia.

A ideia veio de duas voluntárias da ong e sócias da Escola de Jornalismo da Énois, Amanda Rahra e Nina Weingrill. O projeto iniciou com um orçamento se manal de R$100 para Matheus procurar bons restaurantes na região com preços de até R$20. A sigla pf, conhecida pelos brasileiros como “Prato Feito”, inspirou o garoto a criar o nome Prato Firmeza.

da questão afetiva, Daniel explica a importância da divulgação do restaurante. “Uma questão objetiva é que o Prato Firmeza, além de tudo, divulga e a gente acaba tendo um ou outro cliente que vem pela divulgação.” Para ele, ter seu restaurante catalogado no Guia, também os impulsiona a melhorar cada vez mais sua comida.

RestAURANTES NA PANDEMIA

Assim como diversos estabelecimentos, o Sônego Bistrô precisou fazer uma contenção de gastos quando viu seu público diminuir em razão da pandemia.

Daniel Neves de Faria, fundador do  Sônego Bistrô
Um sarau que transforma vidas, unindo poesia, rap e comunidade, valorizando a arte como instrumento de resistência e expressão."

meio às ruas estreitas. O lugar está lotado de jovens e crianças desde a entrada até as cadeiras da biblioteca

Ao som de um tambor, um alto falante e uma gama de palmas ritmadas, um

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Francisco Mesquita. A iniciativa partiu de Rodrigo Ciríaco, ávido leitor, escritor e professor de História. “Quando me lembro de literatura na escola, era sempre uma coisa muito chata. Vista como um manual para você ler e escrever bem e não a literatura como arte, como linguagem”. Para mudar essa perspectiva, o professor buscou maneiras de tornar a literatura acessível para as crianças.

Trazendo livros da biblioteca da escola e também de seu acervo pessoal, sendo a maioria referente à literatura periférica, Ciríaco passou a introduzir a ideia do sarau. Após recitar um poema, o professor notou os primeiros efeitos nos alunos, que, se não foram todos imediatamente capturados pela magia das palavras, ao menos deixaram que uma boa dose de curiosidade penetrasse por meio de uma

Winnit na bda 8 anos de aniversário rimando

fresta de possibilidades em suas mentes.

A partir disso, o projeto alavancou e foi conquistando um número cada vez maior de crianças deslumbradas com a arte. Durante os anos seguintes, Ciríaco conseguiu espaço para convidar alguns escritores, como Renan Inquérito e Sérgio Vaz. A ideia de trazer convidados também é de desvincular a imagem do autor à de algo inalcançável, mostrando que a chance de participar ativamente da literatura não era algo tão distante da realidade destes jovens.

o lema do coletivo

“Um por todos e todos por um” é o lema dos alunos e professores que formam o coletivo. Somente em 2009, o projeto conseguiu ser comtemplado pelo edital do Programa Vai da Secretaria Municipal de Cultura, a partir disso a proposta passou a ser implementada não apenas no ambiente escolar, como também em outros espaços públicos da cidade, elencando, além dos estudantes da escola Evandro Mesquita, toda a comunidade do Jardim Verona e Ermelino Matarazzo, para participar do Sarau dos Mesquiteiros.

nizam os eventos, montam os cenários, direcionam uns aos outros para garantir a fluidez dos saraus, constroem mesas de pintura para as crianças e montam uma banca de livros para aqueles que queiram fazer suas citações de última hora.

caminhos do rap

Desde então, todo terceiro sábado de cada mês, as reuniões abrem espaço para que qualquer um assuma o palco e tenha vez para colocar sua alma à disposição de quem assiste. Os próprios jovens, sob

Uma das características marcantes do grupo é a união da poesia com o rap da comunidade, uma ponte para a chamada poesia slam. Esse gênero, originário dos guetos americanos e representado no Brasil especialmente pelos saraus periféricos, nada mais é do que a poesia recitada com uma entonação mais forte, de forma dura, fazendo barulho, misturada com a música e chamando a atenção do público com elementos exteriores ao texto: a própria voz.

São jovens a partir dos 13 anos que lotam as bibliotecas em dias de evento. E deles, ouve-se: “O sarau muda todo mundo que participa”. Cada um com sua história, com os olhos cheios de poesia. A arte da rua é democrática e clama pela participação das pessoas, especialmente nesse tipo de evento, no qual para participar é “só chegar”, sem pagamento ou obrigações. O sarau, por fim, se torna não apenas uma rota de fuga, mas uma nova oportunidade.

Centro Cultural da Penha em Sp

eriferia e Cultura! Essas duas palavras tão faladas recentemente têm sido pautas constantes de discussões acadêmicas. O grande motivador do debate é o uso impróprio dos sinônimos de cada uma delas, o que acaba gerando distorções em torno dos conceitos. É comum ouvirmos a utilização do termo cultura em referência somente à arte e ao acúmulo de conhecimento, enquanto o significado antropológico da palavra dá conta de que cultura é sinônimo dos modos de vida de um povo, e, portanto, é produzida por todas as pessoas em sua interação.

A partir deste conceito, é possível perceber o quanto são preconceituosas colocações como, por exemplo: “Esta é uma forma de levar cultura à favela” ou “As favelas são locais carentes de cultura”. Ambas as frases, encontradas tanto no cotidiano das pessoas quanto no dia-a-dia dos veículos de comunicação, refletem a absorção de um conceito equivocado de cultura, como explica José Márcio Barros, antropólogo e Diretor de Arte e Cultura da puc Minas. “Cultura é tudo aquilo que é resultado da vida social, da aprendizagem, tudo aquilo que você adquire da sociedade é cultura”, define.

Grupo Corre, dirigido e protagonizado por crias do Passinho Foda .

Mais do que a distorção de um conceito, as frases acima podem ser indício de uma ação etnocêntrica, aquela segundo a qual a cultura de uma das partes é sempre considerada melhor que a cultura alheia. “É uma visão etnocêntrica que gera essa ideia de só conceber a sua visão e seus próprios valores, vendo o diferente como desigual e inferior. Essa visão gera uma incapacidade de lidar com as diferenças e desigualdades”, esclarece o antropólogo. É comum ouvirmos, em diversos locais, as pessoas dizendo que fulano ou beltrano não tem cultura. Este é um exemplo claro de ação preconceituosa, etnocêntrica como explica José Márcio Barros. “A exclusão de certas formas de fazer cultura acaba excluindo os sujeitos dessas formas. Essa frase de levar cultura à periferia mostra a ideia de que não há cultura e que os moradores desses locais não são realizadores de cultura. É uma dupla discriminação no sentido dos lugares e dos sujeitos”, considera o pesquisador.

A música, a dança, as artes plásticas, todas as manifestações artísticas encontradas nas vilas e favelas, o que inclui o funk, o pagode e o rap, fazem parte da produção cultural local, assim como as manifestações encontradas nos demais lugares fazem parte da cultura. No entanto, cultura não se restringe a arte, mas abrange diversos

Cultura é tudo aquilo que é resultado da vida social

campos sociais. Caminhar, trabalhar, namorar, casar, estudar, cozinhar, tudo isto é cultura. “Essa forma de reduzir a cultura à arte, e mais do que isso, às belas artes é excludente no sentido que elimina uma série de outras manifestações, formas de pensar o mundo e os sujeitos. Os agentes dessas formas de pensar, agir e estar no mundo são excluídos, numa postura discriminatória”, explica José Márcio Barros.

outra forma de difundir a cultura

Para discutir o conceito de cultura na vertente da antropologia, os responsáveis pelo “Aglomere–se Aqui!”, programete de rádio do Projeto Redemuim, produziram um quadro no qual os entrevistados falam sobre suas práticas cotidianas. O resultado traz depoimentos do tipo “Eu acordo, como pão com queijo, tomo um banho, vou para escola. Depois da aula, volto em casa, tomo banho e vou para

15ª Meeting Of Favela renova os muros da Vila Operária, em Caxias

o estágio. No final de semana, quando chega à noite, passo um gel no cabelo, calço meu Nike shocks e vou pro baile funk”.

“A ideia é esclarecer o que é a cultura, quebrando pré-conceitos e mostrando às pessoas como elas fazem parte desse conceito, que na verdade é também uma prática”, explica Ludmila Ribeiro, coordenadora das ações de comunicação do Projeto Redemuim, desenvolvido pelo Criarte – Comunidade Reivindicando e Interagindo com Arte, coletivo de artistas do Aglomerado da Serra, região centro–sul de Belo Horizonte.

A jornalista conta que as distorções acerca do conceito e a necessidade de discuti–lo através do programete de rádio foram percebidos na convivência com os jovens. “Trata–se de um conceito ainda muito ligado à academia e às reflexões teóricas, que ainda não são muito familiares aos jovens que vivem experiências mais práticas do que

A periferia se caracteriza como um espaço que constitui

a cidade sob outra perspectiva

Periferia e Centro Não apenas o conceito de cultura pede reflexões, mas também o de periferia. O termo é comumente utilizado como sinônimo de favela. O que os pesquisadores observam é que os bairros periféricos onde a renda da população é mais alta, não são designados socialmente pelo termo periferia. “O conceito de periferia é reduzido ao distante, mas na cidade contemporânea não tem apenas um centro. Hoje o termo periferia diz respeito a lugares e sujeitos objetos de abandono das políticas”, constata o pesquisador. “A grande maioria das favelas está na zona sul, na zona leste, mas estão na periferia do ponto de vista econômico”, conclui.

Jailson de Souza e Silva, coordenador da ong Observatório de Favelas do Rio de Janeiro e professor da Universidade Federal Fluminense reafirma que o conceito de periferia é cada vez mais vinculado à ordem social e ao poder. “O termo periferia está muito marcado pela questão social. Os grandes centros urbanos usam o termo periferia para caracterizar as áreas ao redor do centro que foram sendo ocupadas pelos poderes populares” constata o pesquisador. No entanto, ele lembra que regiões como o Alphaville, em São Paulo, embora estejam às margens

do centro geográfico não são chamadas de periferia, o que demonstra que o termo não é mais utilizado como define sua origem na geografia.

O professor Jailson produziu recentemente um verbete, que será publicado em enciclopédia, no qual define o termo periferia. O trecho a seguir, retirado do verbete, explica como a periferia é considerada, de forma preconceituosa, um problema social. “O espaço periférico é contraposto a um determinado ideal de urbano ou de civilização, vivenciado por uma pequena parcela dos habitantes da cidade ou da humanidade. Não é casual, então, que ela seja considerada uma disfunção, um problema que afeta a saúde da cidade e o mundo”.

Por uma nova identificação

Mais do que a transferência do caráter regional do conceito para o econômico, o que preocupa aos pesquisadores e pessoas que trabalham nas favelas é a relação do termo periferia com ausência. “A periferia não pode ser caracterizada pelas ausências, ela é sempre lembrada pelo que não tem. Cada vez mais tentamos olhar a periferia pelo parâmetro da presença”, diz Jailson Souza. O esforço para alterar a injustiça e a discriminação em relação ao que existe de fato nas favelas, na opinião de Jailson, tem surtido efeito. “A periferia não se caracteriza mais como um local visto pela ausência da cultura, mas como um espaço que constitui a cidade sob outra perspectiva”, constata. As frases destacadas abaixo fecham o verbete escrito por Jailson, reafirmando o equívoco de se considerar a periferia um local de ausências.

Espetáculo
"Brinco de Ouro"Foto: Ester
Teixeira

estúdio 257 cats: do papelão à arte

Entrevista exclusiva com o artista Tukero, que utiliza caixas, tinta e criatividade para criar seus icônicos Cats in the Box

Com uma arte única e um personagem memorável, o artista conhecido como Tuke compartilha sua jornada pelas ruas, muros e galerias. Conhecido por utilizar caixas de papelão como canvas para seu trabalho, ele carrega em sua produção uma estética urbana direta e cheia de identidade. Natural da arte de rua, seu envolvimento com o grafite começou cedo, ainda na fase de experimentações com letras e tags. Foi nesse processo de criação que surgiu a ideia de transformar a letra “T” –a inicial de seu apelido– em um personagem com vida própria. Assim nasceu o famoso gato com formato de letra, hoje figura central de sua produção visual.

“Meu trabalho começou no muro... no grafite. Comecei a pensar numa letra que poderia virar um personagem, meu apelido é Tukero e eu assino ‘Tuke’. Daí veio o gato.” O personagem logo se tornou um símbolo. Carregado de significado, ele representa muito mais do que um traço estilizado — é reflexo da vivência urbana,

da agilidade necessária pra grafitar nas ruas e da própria essência da arte de Tuke. “Esse personagem nasceu mais ou menos pra isso mesmo, pra fazer na rua.”

O personagem felino não foi uma escolha aleatória, mas sim uma decisão pensada para dialogar com o ambiente urbano e sua linguagem visual. “Pensei num personagem que fosse rápido de fazer e que ficasse legal. A ideia do gato tem tudo a ver com a rua, com a liberdade, essa coisa de curiosidade e pá.” O gato, ágil e atento, tornou-se um ícone nas obras de Tuke nas paredes da cidade, nas caixas e nas suas peças autorais.

o caminho na rua

Tuke conta que sua caminhada artística foi alimentada por amizades, experiências em coletivo e o contato direto com o movimento do grafite. “Acompanhava grafiteiros, trombava com eles em festas e eventos.” A vivência se aprofundou quando ele passou a trabalhar na galeria

King Cap, referência no cenário da arte urbana. “Trabalhei numa galeria chamada ‘King Cap’, onde tive muito contato com técnicas, materiais, então de 2015 até agora, nunca parei.” O ambiente foi importante não apenas como ponto de formação técnica, mas também como espaço de trocas, aprendizados e fortalecimento de uma rede.

Durante a pandemia, diante da perda de projetos em agências, lojas e espaços criativos, ele encontrou na rua mais uma vez o terreno fértil para seguir produzindo. Trabalhou como vendedor na Alma da Rua, um centro cultural e loja que reúne artistas e obras ligadas ao grafite e à cultura de rua. “Ali conheci mais artistas, entendi a visão do colecionador, que é algo essencial pra quem quer viver de arte. Aqui é um dos lugares que mais tem turista do mundo inteiro, então você aprende a ver a arte também com um olhar comercial.”

A experiência expandiu sua percepção não só sobre a criação, mas também sobre os caminhos possíveis da arte como profissão, como produto e como legado.

Presente e futuro

Hoje, Tuke se define como um artista independente, dono de um estilo próprio e autoral. Seu estúdio, chamado 257 Cats, é a base criativa onde surgem novas variações do personagem, experimentações com técnicas e materiais, e explorações visuais

que transitam entre o grafite e a pop art. “Trago um pouco da pop arte também, com marcas por trás das caixas. Daí vem o conceito do Cats in the Box.” A caixa de papelão, que para muitos é um objeto descartável, para Tuke se torna uma tela acessível e carregada de possibilidades. Falando sobre metas, Tuke revela que seu maior objetivo está na evolução constante de sua própria produção. “Sempre evoluir no meu trampo. Quero estar satisfeito com ele, porque aí sei que consigo aplicar em coisas de marketing e até no mercado de colecionador.” Para ele, alcançar consistência e originalidade é o caminho para levar sua arte a mais lugares, mantendo o controle sobre sua identidade. “Tô ativo tipo assim... produtivo. Produzo todos os dias, ou estudo, sem parar. Fico vendendo e desenhando aqui. Não tem como parar.”

Com mais de duas décadas de experiência, Tuke faz da arte não apenas um meio de expressão, mas um modo de vida. “Comecei em 1999, sempre trabalhei com arte e criação. Mas agora é outra ideia. É algo que investi pra fazer do meu tempo algo que eu curto.” O compromisso com a arte vem acompanhado dos desafios enfrentados por muitos artistas no Brasil. “É difícil no começo... você cai, levanta, desacredita, mas insiste né. Porque arte no Brasil não é fácil.”

Artista tukero no seu ponto usual no Beco do Batman em Pinheiros, São Paulo

Rolê por SP: Beco do Batman

O Beco do Batman é um dos lugares mais estilosos de São Paulo quando o assunto é arte de rua. Ele fica na Vila Madalena e começou a bombar lá pelos anos 80, quando apareceu um grafite do Batman em uma das paredes – daí veio o nome.

Hoje, as paredes do lugar estão totalmente cobertas por grafites incríveis, cheios de cor, personalidade e mensagens. É tipo um museu a céu aberto, mas com uma vibe bem mais livre e criativa. Todo dia tem artista por lá pintando ao vivo, renovando as artes e deixando tudo ainda mais vibrante.

Além de ser um dos rolês mais legais pra quem curte tirar fotos e conhecer um pouco mais da cena artística de SP, o Beco do Batman também é um espaço de resistência e expressão – onde a galera usa o spray pra se comunicar, protestar, inspirar e transformar o espaço urbano.

IT FAVELA, DA MARGEM AO MUNDO

O movimento que celebra a autenticidade da periferia, transformando a cultura das ruas em uma referência global de moda por Blog Sou de Algodão

ocê é apaixonada por moda e está sempre antenada no que está rolando? Ganhou o título de “a amiga mais estilosa” do grupinho e seus looks arrasam nas redes sociais? Adora assistir a desfiles e se inspirar nas últimas tendências, mas não fazia ideia de que muitas

Então, você não está sozinha nessa, afinal, é impossível falar sobre criatividade ou autenticidade sem falar em reconhecimento. Porque, se aqueles que criam não são conhecidos – e nem reconhecidos – como definir o que

A cultura periférica está inserida em literalmente tudo, e isso não é exagero, Giovana! Então segura esse e vamos juntas mergulhar nesse assunto.

Aqui é It Favela

O termo “it favela” foi cunhado pelas multiartistas Tasha e Tracie, e busca ressaltar a criatividade e autenticidade que emergem das periferias urbanas, onde a arte, a moda

Foto Por Mara Brando

e a música se encontram de maneira orgânica, criando um impacto cultural que antecede, muitas vezes, as tendências que virão a dominar as passarelas e as grandes mídias. Essa expressão não só destaca a habilidade das pessoas que vivem nessas comunidades de inovar e se reinventar, mas também denuncia uma inversão de valores, onde o que é genuinamente original e criativo nas favelas, muitas vezes marginalizado, acaba por influenciar de forma profunda a moda global, a arte e o comportamento.

Assim, o “it favela” não é apenas uma tendência, mas um movimento que ressignifica a ideia de periferia, colocando-a no centro do debate sobre autenticidade, identidade e resistência cultural. Tasha e Tracie, ao criar esse termo, também celebram a capacidade das pessoas periféricas de moldar suas próprias narrativas, tornando-se protagonistas na construção de uma estética única

das camisas de futebol.

Todo mundo se jogou na onda, que de “nova” não tinha nada. Após a repercussão dessa estética, que virou trend nas redes sociais e ficou por muito tempo como um dos assuntos mais falados, as comunidades periféricas começaram a questionar esse burburinho por uma razão muito simples: nas favelas do Brasil, as camisas de time e o apreço pela nossa seleção sempre estiveram em alta.

As grandes marcas que já visualizavam esse movimento It Favela, como a Nike, abriram espaço para que aqueles que realmente vestiam a camisa do Brasil fossem os protagonistas dessa história.

O filme “Veste Garra” conta com a participação de grandes artistas, como o rapper Djonga, o funkeiro MC Hariel, Fred, do “Desimpedidos”, e do dançarino os anos 2000 voltaram resgatando o estilo ousado das periferias

Foto das irmãs
Tasha e Tracie, conceituadoras do desfile

Furacão 2000

Calças de cós baixo, minissaias, croppeds e muito jeans! Sim, parece que não havíamos usado e abusado o sufi ciente da estética dos anos 2000, e ela voltou para nos assombrar. Ou será que nunca foi embora? Essa tendência marcou uma era de estilo tão marcante que agora, surge novamente de maneira repaginada, provando que sempre esteve à espreita, esperando para ressurgir. É fascinante perceber como o que foi uma verdadeira revolução na moda retorna, muitas vezes, com um toque mais atual, mas com o mesmo espírito de ousadia e irreverência.

uma das mais recentes manifestações do impacto da periferia na moda e na mídia.

Muitos dos artistas e influenciadores que têm impulsionado essa onda de volta vêm desses espaços e comunidades periféricas, demonstrando a imensa força criativa que emana desses locais. A periferia, que muitas vezes foi ignorada ou estigmatizada, agora se posiciona como um ponto de referência para o mainstream, fazendo com que todos nós vasculhemos nossos guarda-roupas à procura de peças antigas que, antes, talvez nem imaginássemos que voltariam a ser desejadas. O resgate de roupas e estilos que fizeram parte do cotidiano das ruas de bairros periféricos agora toma forma nas grandes passarelas e se torna um verdadeiro símbolo de resistência e autenticidade.

Um exemplo claro dessa renovação de estilo foi dado na Semana de Moda de Paris, no primeiro trimestre de 2022. A miu miu, uma das marcas mais renomadas do mundo, conquistou destaque com sua polêmica microssaia de apenas 20 cm, que,

Essa renovação estética dos anos 2000 é, sem dúvida,

Foto Por Lorena Nerma

ser uma das escolhas das nossas “garotas It Favela”. E quem melhor para ilustrar isso do que a cantora de funk Pocah, que, com o look desenhado pelo estilista parceiro Di Favaro, trouxe à tona essa estética, reafirmando que o estilo das favelas sempre foi uma referência, mesmo que por muito tempo tenha sido subestimado.

É o bonde do crocodilo!

Outro exemplo de como a cultura periférica impacta o mercado é demonstrado pela grande Lacoste. A marca –conhecida carinhosamente pelos artistas favelados como “Lá-lá”– recebeu uma chuva de comentários negativos ao apresentar uma nova campanha com influenciadores que não representavam a marca aos olhos dos consumidores. É estranho pensar que essa galera da música fique de fora do marketing da marca, certo? Afinal, ela cita a marca em suas canções, utiliza as peças em seus clipes e influencia diretamente seu público a conhecer e a consumir os produtos.

Não demorou muito pra empresa entender a seriedade do problema, assumir seu erro e abraçar de vez um novo público que não era visto, mas avistava a marca há muitos anos.

Ao dar a devida visibilidade para os artistas, cantores e marcas periféricas, nós valorizamos a criatividade brasileira e reconhecemos aqueles que impulsionam o nosso país.

preservando a história da periferia

Conheça a associação no bairro de Perus, que não apenas protege a história das periferias, como também tem suas bases na cultura negra

Localizada em Perus, bairro periférico de São Paulo, a Comunidade Cultural Quilombaque foi fundada em 2005. A associação se destaca como um ponto de resistência e resgate da cultura, especialmente em áreas periféricas onde essa herança muitas das vezes é negligenciada pelo estado.

A essência do Quilombaque está ligada aos tambores e à reverência aos seus antepassados, o que é refletido até mesmo em seu nome – uma combinação de “Quilo”de Quilombo, e “Baque”, à batida.

À medida que o tempo foi passando, as reuniões foram crescendo, até que estabeleceram uma parceria com o coletivo de Hip Hop “FoneReps”. Essa colaboração permitiu que obtivessem autorização da prefeitura do bairro de Perus e uma estrutura adequada para o bloco de percussão “VAI” na comunidade. Anteriormente, a maioria dos instrumentos era emprestados ou reciclados. Atualmente Ferreira dedica todo o seu tempo para gerenciar a associação.

A organização também tem como principal foco manter viva a memória da cultura negra nas periferias, além de trazer um fortalecimento da comunidade:

“Nós usamos a arte e a cultura como forma de fazer política e de criar um enfrentamento, aqui é um espaço de fortalecimento da nossa comunidade, porque a segurança pública está sempre atrás da gente”.

Diz Cleiton Ferreira, um dos fundadores da organização.

Por ter se tornado esse símbolo de resistência negra, o Quilombaque também se tornou um lugar acolhedor para as pessoas negras. Tatiane Carvalho, de 23 anos, é uma jovem negra que mora no bairro de Perus desde pequena e recentemente começou a frequentar o Quilombaque. Ela afirma que se sente muito acolhida pela associação, “eu acho que foi um dos locais onde eu me senti mais inclusa de verdade, me senti muito acolhida, realmente fazendo parte. Acho que essa é a palavra”.

Para preservar e promover a rica cultura presente na comunidade, o Quilombaque oferece uma variedade de oficinas e eventos centrados na herança afrodescendente. As oficinas abrangem desde atividades para o lazer, como capoeira e rodas de conversa com escritores negros, até formações técnicas, como culinária, técnico de som e iluminação, e produção de podcasts. Além disso, a associação organiza uma série de eventos com o objetivo de celebrar e ampliar o entendimento da cultura negra. Destaca-se o circo Saruê, criado pelo Quilombaque há quatro anos, as apresentações acontecem anualmente no bairro durante o mês de agosto com uma programação que dura três dias.

Os espetáculos, voltados para a infância, é notável por um diferencial, os palhaços,

imagem tirada na comunidade cultural quilombaque em um de seus encontros

em vez de apresentarem os tradicionais narizes vermelhos, optam por pintá-los de preto, uma iniciativa que visa fomentar discussões sobre a negritude. Outros eventos incluem o Jambaque, uma festa com apresentações de cantores negros, e o “FELA DAY NA KEBRADA”, uma celebração em homenagem ao multi-instrumentista nigeriano Fela Kuti e ao afrobeat.

Os eventos divulgados pela associação são muito bem aceitos pela população. Mesmo trazendo principalmente artistas negros que moram na comunidade ou nas redondezas, os moradores dizem gostar muito da iniciativa.

“Eu acho muito bom, porque acaba dando visibilidade e oportunidades, tanto para os artistas aqui do bairro quanto para os que estão crescendo. Nos eventos que eu fui, os artistas eram DJs e produtores do próprio bairro. Também acho essencial dar espaço para artistas negros, principalmente pelo nome do local, Quilombaque, que tem um significado forte de resistência. Por isso, acho essencial fazer eventos que convidem esses artistas”, afirma Tatiane.

Outros projetos

A associação também tem dois grandes projetos nas regiões de Perus, Anhanguera e Jaraguá.mas que a celebre como fundamento essencial nas comunidades.

Funk Paulista, A Revolução das Ruas

Exploração do funk paulista,sua evolução, influência global e o impacto das periferias na música e cultura

É 8 ou 80, isso ainda é uma

questão dentro da cultura e das quebradas

onoridade underground, batidas eletrônicas e trilha sonora dos bailes funks de periferia, o funk paulista vem conquistando milhares de novos ouvintes – e principalmente, novos ambientes. Não conhecido por seu fator comercial, ou seja, de difícil acesso quando comparados aos hits cariocas tocados em rádios e festas pelo Brasil, o funk paulista chama atenção por sua retomada à música eletrônica dentro de gêneros brasileiros, principalmente por dj ’s, além da retomada aos estilos dos funks antigos. Paredões coloridos, roupas de marca, apresentações coreografadas com dançarinos vestidos de palhaço e uma estética ‘‘sombria” são alguns dos inúmeros pontos que fazem do funk paulista único dentro do gênero.

Hoje, a tlgd veio te contar por que o funk paulista é um dos ritmos musicais brasileiros mais interessantes dos últimos anos e o mais ouvido atualmente.

Propagação pelos DJ’s

Conhecidos como os maiores responsáveis pelo hits mais populares e as divulgações do funk paulista mundo à fora, os dj’s vêm se tornando protagonistas de uma cena que antes era composta, em sua maioria, por mc ’s. Com mais liberdade criativa e embalando festas de comunidade como o Baile da dz7, da Marcone e do Helipa, além de eventos como Submundo 808, Pankas e Batekoo com seus remixes e tags musicais super conhecidas, esses profissionais acabam levando a sonoridade para abordagens mais eletrônicas e do underground quando falamos de um ritmo mais conhecido em vertentes cariocas.

DJ Caio Prince

Nascido em São Paulo, dj Caio Prince, 23, sempre esteve inserido na música: de clarinetista em banda sinfônica aos 10 anos à dançarino de hip-hop aos 14, Caio come çou a produzir música quando se inscreveu em um curso gratuito para dj’s aos 19 anos e hoje é um dos nomes mais conhecidos da cena de funk paulista no Brasil.

DJ Bassan

Gaia Bassan, 26, conhecida também apenas por Bassan, nasceu em Alvorada, no Rio Grande do Sul, e começou a tocar por meio dos ballrooms: ‘‘Eu fazia co lagens musicais para apresentações de grupos de dança, consequentemente comecei a estudar discotecagem e tocar nas batalhas de vogue, conhecidas como as ball’s da cultura ballroom”. Atualmente, além de fazer

Foto dos Funkeiros DJ Bassan e DJ CaioPrince

havíamos explicado, são bem diferentes. Tendo isso como base, as festas, o público, as vestimentas e até o jeito de dançar são impactados pelas diferenças sonoras aplicadas a cada gênero:

‘‘Na minha visão, dos ds’s à musicalidade, da estética à como tudo funciona, dá pra diferenciar através das roupas, nitidamente, e de como a música conduz o baile e o público. No Rio de Janeiro o ritmo é mais acelerado, clima de calor, os passinhos, as rodas de dança e os interagindo com o público. Você vê mais corpo, suor e acessórios como chinelo Kenner cintura, muitas correntes de ouro e camiseta de time. Já

O problema é que poor ser um gênero periférico, de pessoas pretas, o incômodo é maior

em relação a isso, mas vejo que também é uma questão de tempo, até porque a galera precisa de tempo para conhecer novas paradas", relata dj Caio Prince.

Desbravado cada vez mais pelos bailes e festas brasileiras, o funk paulista também tem tido grande reconhecimento no cenário internacional. O exemplo mais recente foi a )” criada pela rádio Mile Lab, laboratório de criação e pesquisa de moda marginal do Grajaú, Zona Sul de São Paulo. A coletânea conta com artistas Blakes, dj Léo da K, Deekapz, entre outros nomes da cena paulista, e apresenta faixas exclusivas criadas para o projeto.

‘‘São Paulo construiu uma reputação por sua produção de funk de confronto na última década, sublinhada pelo surgimento do som mandelão. Esta variedade desenfreada de baile funk é feita sob medida para as festas de favela – bailes ou fluxos – da megalópole brasileira. Esta coleção de 22 faixas de músicas inéditas encontra produtores famosos ao lado de figuras fortes da cena e ícones nacionais. Tudo serve para fornecer um retrato vital da magia musical desta cidade sensacional", relata

Nas redes sociais, o funk paulista também é reconhecido

The Beat Diáspora, , além do programa de residência Programa Funarte Retomada 2023 – Artes Visuais (Fundação Nacional de Artes) que tem como ‘‘objetivo evidenciar o funk paulista e a cultura pop nas periferias de São Paulo” selecionando 10 jovens artistas periféricos que serão ensinados sobre técnicas visuais e imersos no universo do funk.

De acordo com o DataPopular, 40% dos jovens vão ao baile ao menos 1 vez por mês, mostrando sua frequência nas festas

Atualmente, é cada vez mais fácil encontrar o funk paulista inserido em festas e bailes espalhados pelo Brasil, e perceber que o público está cada vez mais diverso. A globalização do gênero musical vem, principalmente, pela liberdade sonora e criativa encontrada nos ritmos, e consequentemente, pelo poder de conquista maior que subgêneros mais nichados.

caoscast

Consumoteca

# CAOScast é o espaço de debate do grupo Consumoteca. Eles traduzem pra você os comportamentos e tendências que estão fazendo a cabeça dos brasileiros. Lá eles vão falar sobre riqueza, ostentação, trabalho, compras e tudo que transforma as gerações e também as define. Você não deixar de conferir e ficar antenado na atualidade! Disponível nas plataformas de música

watching all your friends get rich

The Home Team

A música de The Home Team fala sobre a frustração de ver amigos alcançando sucesso financeiro, enquanto você se sente estagnado. No entanto, apesar das pressões externas, é importante desacelerar, transmitindo a ideia de que o sucesso está na busca do equilíbrio. Disponível nas plataformas de música

Kasa Branca

Se você gosta de filmes que tocam o coração, eu recomendo Kasa Branca. A história é emocionante, cheia de desafios, mas também de muita resistência e afeto. O filme tem uma vibe muito verdadeira e cheia de emoção e te faz refletir sobre a vida, o amor e as dificuldades do dia a dia. Disponível no Amazon Prime

Em um futuro distópico a Inglaterra é regida por uma figura ditatorial que controla a vida da população, fazendo assim que a verdade seja aquilo que o “grande irmão” fala. Enfim, é uma ficção que quanto mais você lê menos se vê a parte da ficção –o reality Big Brother, famoso no mundo todo, inspirou seu nome nesse livro.

Disponível online e para compras fisíca

The get down

The get down fala sobre quatro jovens que descobrem e se apaixonam pelo mundo do Hip-Hop , conhecemos os quatro elementos – Street dance, grafite, ritmo e poesia que que formam essa subcultura e passamos por diversas aventuras com eles. É lindo ver eles amadurecerem enquanto aprendemos mais sobre essa história. Disponível na Netflix

lethal company zeekerss

Se você gosta de caos, sustos e risadas, Lethal Company já devia estar na sua lista. Você e seus amigos são funcionários de uma empresa, enviados a planetas abandonados para coletar sucata e bater metas. Um jogo cheio de objetivos impossíveis, uma sensação de que está sendo explorado, acompanhado por um visual retrô.

Disponível na Steam

O falso discurso “favela venceu”

Não, a favela não venceu só porque o seu MC favorito ta vivendo bem. Enquanto uma pequna minoria da periferia consegue ascender socialmente, a grande maioria vive soterrada com falta do básico na luta diária que pega o povo periférico. Seja ela pra conseguir pagar as contas ou conseguir pagar a necessidade do básico, os itens de higiene, os itens de alimento, conseguir tem uma alimentação saudável de fato, um meio de transporte, a gente é refém de tudo isso.

@ak_pinna47

Pinna é um jovem periférico do Rio de Janeiro que ficou muito conhecido no TikTok fazendo vídeos de humor. Recentemente ele está focando em conteúdos sociais

Nem to falando da população periférica que consegue com muita sobrevivência, com muita ralação, suprir suas necessidades, tamo falando da grande parte da população que vive em completa carência, não dá pra se iludir com apenas algumas exceções.

A gente não pode confundir quem furou a bolha com a vitória coletiva, porque no final das contas, a violência contra a

nossa classe continua, seja ela exclusão, o abandono, o racismo estrutural ou as violências na política pública que tanto ferem nossa população. E não é sobre desacreditar em quem venceu, é sobre parar de romantizar exceção, porque a maioria tá aí ó: “Nada funciona, nada que é do pobre funciona”. Isso pra mim não é vitória.

O sistema adora vender a ideia de “Quem quer consegue”, mas quem é de quebrada sabe que o que falta não é esforço. Na verdade, existem propositalmente diversas pedras no caminho. “É muito cara um par dessa chinela aqui, é cara. Aí as vezes eu digo: ‘Meu deus em vez de eu comprar um par de chinelo eu vou comprar minha comidinha’”.

A periferia resiste, e resistir não é vencer. Vencer é quando o simples fato de você sobreviver não se torna um ato de resistência.

Ser eu, é um ato de rebeldia

@linndaquebrada

Lina Pereira dos Santos, mais conhecida como Linn da Quebrada, é uma cantora, compositora, atriz e ativista social trans brasileira

Ser uma mulher preta, trans, da quebrada, é viver todos os dias em luta. Não só pela sobrevivência, mas pela possibilidade de existir com dignidade, com desejo, com prazer. Eu sou uma travesti preta da periferia. E digo isso com a boca cheia, porque cada uma dessas palavras carrega uma história de apagamento e resistência.

A travesti não é só o que querem que ela seja. Não sou fetiche, não sou aberração, não sou o erro do sistema. Eu sou o erro proposital do sistema. E talvez por isso incomode tanto. A minha existência é uma ameaça a essa ordem que quer me encaixar em um gênero, um corpo, uma função social. Eu não vim pra obedecer.

“Meu corpo é político. Minha arte é política. Minha existência é política.” Isso não é frase de efeito, é constatação. O palco que eu piso é o mesmo chão que me negaram. A voz que eu tenho hoje foi construída na marra, com palavras que muitas vezes me engasgaram antes de saírem. Não me deram o direito de sonhar, então eu tive que tomar esse direito à força.

No documentário Bixa Travesty, eu mostro meu corpo. Mostro minhas cicatrizes, minhas carnes, meu gozo, minha dor. Mostro porque é preciso reivindicar

esse corpo como território. “Eu não quero ser aceita. Eu quero ser entendida.” E às vezes, nem isso. Quero que me respeitem, mesmo sem entender.

Na quebrada, a gente aprende cedo que o mundo não foi feito pra gente. A escola não nos vê. A polícia nos persegue. A saúde nos ignora. A mídia nos distorce. Mas mesmo assim, a gente dança. A gente canta. A gente fura esse bloqueio com gilete, com batom, com grito.

Muitas vezes perguntam se eu sou homem ou mulher. E eu respondo: sou um questionamento. Sou aquilo que escapa à norma. Sou bixa, sou travesti, sou preta. “Eu sou o que quiser, e isso é revolucionário.”

Tem gente que diz que minha arte é agressiva. Mas eu pergunto: agressivo é o quê? Mostrar um peito ou ver meu corpo sendo silenciado? Gritar no palco ou ser morta em silêncio?

Minha existência incomoda, e é esse incômodo que eu quero causar. Porque ele move. Ele transforma. Ele tira a gente do conforto e coloca diante do espelho. Eu sou a revolta da carne. A vingança da quebrada. A beleza que não se enquadra. Eu sou a Linn da Quebrada. E não peço licença pra ser.

Deixe sua marca: faça sua arte, seja desenho, tag, bomb ou assinatura. Se expresse e divirta-se!

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