Negócio Rural Edição 8

Edição 08 Espírito Santo mar/abr 2017 Valor: R$ 9,90

Flores: produtores criam associação no Caparaó

Carlos Chagas (MG) desponta na pecuária e no cooperativismo

As dificuldades dos agricultores para se aposentarem

índice

editoral

04 orgÂnicos

Será que o agricultor vai ser mais sacrificado?

Agricultora capixaba está entre as escolhidas para representar o Brasil em Campanha da ONU

Estamos acompanhando a impressa divulgar as discussões sobre as reformas da Previdência Social e Trabalhista. As opiniões são as mais variadas. Muitos defendem que é preciso mudar muita coisa, mas que os direitos dos trabalhadores sejam mantidos.

O governo federal alega que só em 2016 o déficit da Previdência Social foi de R$ 151,9 bilhões. Esses números, no entanto, são questionados pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip).

Muitos alegam que a culpa desse déficit é dos trabalhadores rurais e pescadores, que se encaixam como segurados especiais e que não contribuem com a Previdência. Mas, um percentual referente às vendas de mercadorias agrícolas é destinado à Previdência Social.

Uma coisa é certa: o que não deve deixar de existir, independente do que for aprovado nessas duas reformas, serão injustiças com alguns trabalhadores. Nesta edição da Revista Negócio Rural, apresentamos o caso do agricultor Veraldo dos Santos Neves, que aos 73 anos teve sua aposentadoria negada pela Justiça. Vamos acompanhar o andamento dessas reformas e ver se os agricultores mais uma vez serão ainda mais prejudicados.

12 financiamento

Bandes oferece crédito para construção de barragem em propriedades rurais

14 aposentadoria Agricultores enfrentam dificuldades para se aposentarem

18 pecuária

Município mineiro de Carlos Chagas se destaca em pecuária e no cooperativismo

22 pesquisa

ES e SP firmam convênio para estudar variedades de café resistentes à seca

26 evento

Vem aí a Favesu - feira que irá apresentar novidades para avicultura e suinocultura

Julio Huber e Bruno Faustino

Editores de jornalismo: Bruno Faustino - JP - 1375/ES Julio Huber - JP - 2038/ES Reportagem: Bruno Faustino Julio Huber Fotografia: Bruno Faustino Julio Huber Secom/ES

Foto de capa: Julio Huber

Periodicidade: Bimestral

Tiragem: 4 mil exemplares

Revisão: Evandro Albani

Endereço e assinaturas: Avenida Presidente Vargas, nº 590, Sala 305 B Centro - Domingos Martins Espírito Santo Cep: 29.260-000 (27) 3268-3389

A Revista Negócio Rural é uma publicação da empresa Nova Comunicação. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem a prévia autorização dos editores.

Colaboradores: Anderson Percílios Juliano Rangel Diagramação: HM Propaganda

(27) 3361-4163

(27) 3114-0433

revistanegociorural@gmail.com

revistanegociorural Impressão: Jep

orgânicos |

Texto: Bruno Faustino - Santa Maria de Jetibá | Foto: Julio Huber

Selene: o exemplo de mulher no campo Capixaba é uma das cinco agricultoras escolhidas para representar o Brasil em campanha da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação Antes do raiar do sol, ela já está de pé, assim como a maioria dos agricultores brasileiros. E logo se ajeita para mais um dia de ‘lida’ na roça. “Mas nunca saio de casa sem deixar o café da manhã pronto”, ressalta a produtora rural Selene Hammer Tesch, 53 anos.

Casada, mãe de oito filhos (cinco mulheres e três homens), Selene é responsável por toda a produção orgânica do sítio da família, localizado em Alto Santa Maria, em Santa Maria de Jetibá, na Região Serrana do Espírito Santo. “Temos aqui uma grande variedade de produtos. São 350 tipos de temperos, chás, plantas aromáticas e medicinais, morango, hortaliças e legumes”, conta a agricultora.

A propriedade possui 15 hectares, mas somente 4,5 são destinados para a produção, já que a família respeita o ciclo de cada cultura.

E, para dar conta de tudo isso, ela não está sozinha. A agricultora emprega outros lavradores da região, carinhosamente apelidados de ‘parceiros’, que ajudam desde o plantio até a colheita. “Sozinhos não daríamos conta. Oferecer trabalho para a nossa comunidade é, na verdade, uma grande troca de experiência, porque cada um sabe um pouquinho e, a cada dia, aprendemos coisas novas”, conta Selene.

SEM VENENO - Há 25 anos, a produtora trabalha com agricultura orgânica. A decisão foi tomada depois de sofrer consequências com o uso de agrotóxicos no quintal de casa.

“Eu perdi um filho por causa disso.

Isso aconteceu há mais de 30 anos e já vivenciei outras situações. Vi gente 4 | negócio rural

morrendo por causa dos agrotóxicos.

Mas muita gente continua usando veneno na lavoura e não acredita que muitas coisas ruins podem acontecer. Quem usa agrotóxico prefere acreditar que a fatalidade acontece por outros motivos. Só quem está diretamente envolvido com o uso de veneno na lavoura sabe o perigo que é o uso contínuo desses produtos”, alerta a produtora. É por esse e outros motivos que a produção agroecológica e orgânica ganha cada vez mais espaço nas propriedades rurais e os alimentos saudáveis enchem o prato na mesa dos capixabas. Segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), no Espírito Santo, 300 produtores rurais já possuem a certificação orgânica.

Em torno de 1.300 não utilizam produtos químicos nas lavouras, e outros 300 estão em fase de transição (saindo do cultivo tradicional e adotando as práticas de agroecologia). Juntos, estes produtores (certificados e em transição) colhem cerca de 12.800 toneladas por mês. Os produtos mais cultivados são frutas e olerícolas. A agroecologia ocupa 9.500 hectares do território capixaba, e está presente em pelo menos 40 municípios.

“A produção orgânica é saudável, principalmente, porque se pensa na família. Se eu quero o bem da minha família, eu quero o bem dos outros também com a produção orgânica. O que eu não quero pra mim, eu não quero pros outros. Isso é o maior valor que a gente pode fazer para o próximo. Cultivar é preservar a vida e cuidar da saúde”, lembra Selene Tesch.

“A mulher do campo sabe o que faz e como tem que ser feito, sabe orientar a sua família da maneira correta, se organizar melhor”

Selene produz alimentos orgânicos em Santa Maria de Jetibá

negócio rural | 5

orgânicos

Liderança em cooperativa e associação de agricultores Além do trabalho na roça, a produtora ainda preside duas importantes organizações de agricultores da região: a Associação Amparo Familiar e a Cooperativa dos Agricultores Familiares da Região Serrana do Estado (CAF-Serrana). “Não tenho hora pra voltar pra casa. Quase todos os dias tenho algum compromisso ou reuniões para participar”, ressalta a produtora.

Sob o seu comando, a CAF Serrana - fundada em 27 de janeiro de 2007 - já trouxe muitos benefícios aos seus cooperados. “Quando começamos, éramos 28. Atualmente, somos 265 cooperados. A ideia da cooperativa é de sempre realizar um trabalho de valorização da produção agrícola, fazendo-o socialmente justo e economicamente viável. Hoje, nossos cooperados não precisam

Selene também produz chás e ervas medicinais orgânicos em sua propriedade

6 | negócio rural

mais se submeter a preços estabelecidos pelos atravessadores ou pela baixa procura nas CEASA’s. A cooperativa é responsável pela venda de toda a nossa produção”, explica.

A força feminina na agricultura No Brasil, são mais de 14 milhões de trabalhadoras das lavouras, comunidades quilombolas e indígenas, e reservas extrativistas. Cerca de 45% dos produtos da agricultura familiar são plantados e colhidos pelas mãos femininas. Segundo o Censo Agropecuário de 2006, 12,68% dos estabelecimentos rurais têm mulheres como responsáveis, bem como 16% dos estabelecimentos da agricultura familiar.

Segundo dados do Censo 2010, as mulheres rurais são trabalhadoras, responsáveis, em grande parte,

pela produção destinada ao autoconsumo familiar e contribuem com 42,4% do rendimento familiar. O índice é superior ao observado nas áreas urbanas, de 40,7%. São elas que garantem a produção dos alimentos, cuidam das sementes, do manejo ambiental adequado, das águas, garantindo dessa forma a qualidade de vida na família e da sociedade.

Segundo a FAO, as mulheres rurais cumprem uma série de funções-chaves para a segurança alimentar regional, mas enfrentam altas taxas de pobreza, insegurança alimentar e obesidade. Além disso, têm menos acesso aos recursos produtivos como terra, água, crédito e capacitação, fatores que impedem que as mulheres rurais da América Latina e do Caribe desenvolvam todo o seu potencial.

Foto: Arilson José Pêgo

Grupo da ONU visitou a propriedade de Selene Tesch no Espírito Santo

Exemplo nacional de trabalhadora rural Paixão, garra, força, liderança, sabedoria, cooperação... Por tudo isso, Selene Hammer Tesch foi uma das cinco agricultoras brasileiras escolhidas pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (Sead) para representar o país na campanha #MulheresRurais, mulheres com direitos, promovida pela Reunião Especializada em Agricultura Familiar no Mercosul (Reaf) e pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

“Eu me senti muito honrada ao ser convidada para representar todas as mulheres rurais da região sudeste do Brasil, pois sei que, assim como eu, existem muitas que lutam, dedicam seu tempo e ‘dão seu sangue’ todos os dias. No meio rural ainda existe muito machismo, e ainda há muitos casos de submissão e repressão às mulheres. Devo trabalhar e incentivar as mulheres para conhecerem e lutarem por nossas causas”, diz a agricultora.

Essa é a segunda participação do Brasil na campanha internacional. A mobilização quer dar visibilidade às mulheres rurais e ao trabalho que elas desenvolvem, além de proporcionar a troca de experiências entre os envolvidos. “Essas mulheres são protago-

nistas da agricultura familiar no país e cooperam para o desenvolvimento econômico e sustentável. A ideia é realmente identificar, conhecer, acompanhar e dar publicidade às experiências exitosas para estimular outras iniciativas ou para que a sociedade conheça o que a mulher rural realiza no campo”, ressaltou o secretário especial da Sead, Ricardo Roseno, em entrevista à Revista Negócio Rural.

Para a coordenadora de Políticas para as Mulheres da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário, Solange da Costa, ainda há muitos direitos a serem conquistados por essas mulheres, mas a igualdade de gênero e a autonomia para o desenvolvimento econômico são direitos que merecem atenção especial. “O empoderamento valoriza e reconhece as mulheres rurais como protagonistas do desenvolvimento sustentável e econômico do país. Ele é importante para que as mulheres rurais se reconheçam como parte fundamental desse processo”, disse.

A campanha tem como referência os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que apresentam mais de 170 metas para serem alcançadas até 2030 pelos países pertencentes à Organização.

O reconhecimento só reforça o trabalho desenvolvido para fortalecer o agronegócio e o cooperativismo capixabas. “É sempre gratificante ver mulheres fortes, assumindo cada vez mais visibilidade na sociedade. Hoje, no cooperativismo capixaba temos várias delas, seja atuando em cargos de liderança nas cooperativas de norte a sul capixaba, seja através dos núcleos femininos, que têm como maior função integrar essas mulheres às cooperativas de suas regiões”, lembra Esthério Sebastião Colnago, presidente do Sistema OCB/ES. Você é feliz? Essa é uma pergunta que nem precisa ser feita para a agricultora Selene. Afinal, a felicidade está presente no dia a dia. “A mulher do campo sabe o que faz e como tem que ser feito, sabe orientar a sua família da maneira correta, se organizar melhor. Ela é a vida, dentro da família, dentro da sociedade, em tudo o que há sempre existe um pouquinho de nós”, finaliza.

CAMPANHA - #MulheresRurais, mulheres com direitos, segue até o dia 25 de novembro, dia internacional de combate à violência contra a mulher.

“Se eu quero o bem da minha família, eu quero o bem dos outros também com a produção orgânica” negócio rural | 7

f lo r i c u lt u r a

Produtores se unem e criam associação O objetivo da associação é melhorar a produção, ganhar o mercado e aumentar a renda das famílias no sul capixaba É difícil visitar uma produção de flor e não se impressionar por tamanha beleza, tamanho cuidado.

"Dependendo da planta, precisa de mais ou menos sol, mais ou menos água, a temperatura não pode ser muito alta. O manejo é diferenciado e muito minucioso", explica o produtor Marcos Louzada.

Em todo o Espírito Santo, 17 municípios se destacam pela produção de flores. A área plantada no Estado é de, aproximadamente, 163 hectares, de acordo com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).

A atividade gera mais de oito mil empregos em toda a cadeia produtiva, movimentando mais de R$ 10 milhões por ano no Estado.

Marcos, Clenilson e Maria Célia fazem parte da diretoria da nova associação

8 | negócio rural

ASSOCIAÇÃO - Para melhorar a produção, ganhar mercado e aumentar a renda, 24 produtores de oito municípios do sul capixaba (Guaçuí, Alegre, Divino São Lourenço, Ibitirama, Cachoeiro de Itapemirim, Vargem Alta, Muqui e Muniz Freire) se uniram e fundaram, no início do ano, a Associação de Produtores de Flores e Plantas Ornamentais da Região Sul Caparaó (Sulcaflor).

"A ideia é unir força. O produtor de flor sozinho, muitas vezes não consegue muita coisa. Fica difícil comprar insumos, conhecer tecnologia e ter apoio de entidades voltadas para o setor. Acredito que, com a associação, tudo isso vai ficar mais fácil. Vamos nos fortalecer e nos

capacitar para nos preparar para a comercialização do nosso produto", explica o presidente da Sulcaflor, o produtor Marcos Louzada.

Organização, formação e conhecimento são os principais benefícios da avaliação da agente de extensão em desenvolvimento rural do Incaper, Márcia Varela. "Flor é um produto que requer 100% de qualidade. Os produtores já fizeram visitas técnicas em outras regiões produtoras como Santa Maria de Jetibá e Santa Teresa para buscar conhecimento e novas formas de cultivo e manejo. Em parceria com o Sebrae, fomos para Holambra, em São Paulo, o maior produtor do país, a fim de conhecer variedades e formas de comercialização.

negรณcio rural | 9

f lo r i c u lt u r a

E isso animou os produtores capixabas para formarem a associação", conta Márcia, que presta assistência aos produtores de Guaçuí.

O grupo de produtores capixabas está animado.

Eles criaram uma página no Facebook para divulgação dos associados e já organizam um evento para o início do mês de junho. "A ideia é apresentar a associação e trocar experiências nesse encontro. Estamos com boas expectativas", finaliza Marcos Louzada.

PRODUÇÃO - A Revista Negócio Rural visitou alguns produtores do sul do Estado para mostrar a importância desse setor para a economia capixaba. Em uma área de quase 10 hectares, Maria Célia Aguiar de Souza, 62 anos, produz cinco mil plantas.

A propriedade fica em Fazenda São Luiz, em Guaçuí.

Ela começou o plantio, por acaso, há 15 anos.

Entre as variedades, antúrios, bastão do imperador, helicônia pendente, estrelícias e outras.

"Sempre gostei de flores. Comecei plantando copo de leite, mas não deu certo porque plantei em local seco, uma vez que, no brejo, alagava tudo.

Resolvi, então, apostar no antúrio. Pegava uma mudinha de um, outra de outro e vi que poderia ser um bom negócio, e aí deu certo", relembra a produtora.

A produção tem destino certo: arranjos ornamentais.

Outra maneira de garantir uma renda extra é colocar as plantas no comércio e fazer a manutenção. "Dá trabalho, mas a recompensa vem. Quem não gosta de ter uma planta bonita em casa, ou ver a produção em uma festa? É um orgulho saber que aquela planta que está ali foi produzida no meu sítio", diz Maria Célia.

ORQUÍDEAS - Próximo dali, o produtor Clenilson César Barbosa, 40, dedica-se à produção de orquídeas. Numa área de três hectares, na localidade de Córrego Areia Branca, no distrito de São Pedro de Rates, ele possui 12 mil plantas. "Minha mãe sempre teve planta no nosso sítio. Daí veio o gosto. O cultivo de orquídeas era um hobby. Foi expandindo, expandindo e, há sete anos, comecei a produção em escala para o comércio", conta Clenilson.

10 | n e g ó c i o r u r a l

Atualmente, o produtor envia sementes para um laboratório para a reprodução de algumas espécies.

Ao longo dos anos, Clenilson descobriu algumas espécies que só existem na região do Caparaó capixaba.

"Grandes áreas aqui da nossa região foram devastadas, mas ainda existe um habitat intocável, com espécies raras. Mas a gente não revela que local é esse pra preservar essas joias da natureza", explica.

No orquidário do Sítio Peroba Rosa, o produtor guarda uma relíquia. Uma flor única. O nome? Bifrenaria tyriantina cooerulea trilabelo (uma orquídea branca com detalhes em roxo). "Adquiri essa planta em Domingos Martins, na Região Serrana do Estado. Plantei e, aí veio a surpresa, uma floração acima da expectativa. Formato e cores únicos", diz Clenilson.

Além das flores, as plantas ornamentais também ganham força na região.

No Sítio Sant'ana, na localidade de São Romão, em Guaçuí, o produtor Marcos Louzada dedica uma atenção para a produção de palmeiras, SunPatiens, ráfia e ipês.

"As plantas ornamentais são muito procuradas para eventos. Tem gente que compra e tem gente que aluga essas plantas. São duas formas de garantir renda", explica.

Clima adequado garante produção capixaba Guaçuí, no Caparaó capixaba, e Santa Teresa, na Região Serrana, concentram os municípios que mais produzem flores no Espírito Santo. O motivo? As temperaturas amenas e a altitude. “Esses dois fatores são fundamentais para a produção de flores de clima temperado, como o copo de leite, e tropicais, como o antúrio”, revela Márcia Varela, agente de extensão em desenvolvimento rural do Incaper.

Mas a produção capixaba não consegue suprir a demanda interna. Oitenta por cento do mercado capixaba é abastecido com flores compradas de outros estados. “A produção de Guaçuí, por exemplo, atende bem ao município, mas os produtores não conseguem dar conta de todo o Espírito Santo. Além disso, a exigência para mandar flor para outros estados é muito maior. Flor tem que ter um padrão. Não pode ser uma maior e outra menor”, lembra Márcia.

TEXTO E Foto: Julio Huber |

Pinus

Pinus para extração de resina começa a ser plantado no Estado O plantio da mais nova floresta de pinus fica em Victor Hugo, Marechal Floriano Produtores rurais da região de montanhas do Estado já começaram a aderir ao plantio da mais nova descoberta agrícola do Estado. Trata-se do pinus da espécie elliottii variedade elliottii, destinado à produção de goma-resina e de madeira.

Passado quase um ano após o lançamento do Programa de Expansão do Plantio de Pinus para produção de goma-resina no Espírito Santo, o Pró-Resina, o produtor rural Dorgal de Aguiar Godinho, morador de Victor Hugo, em Marechal Floriano, resolveu plantar oito hectares de pinus da espécie identificada como ideal para a região.

O produtor aderiu ao Programa Pró-Resina, da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), por acreditar que será uma ótima oportunidade de geração e diversificação de renda na propriedade, pois com o cultivo da espécie, será possível a produção de goma-resina e, ao final da extração, a madeira do pinus.

Ele ressalta que o processo de resinagem não afeta a qualidade da madeira. “Além do pinus, pretendemos plantar a palmeira juçara em consórcio na mesma área, que irá produzir frutos e palmito”, destaca o produtor.

ACOMPANHAMENTO - O pesquisador do Instituto Capixaba de Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e engenheiro florestal Tiago Godinho, juntamente com Dário Moreira, do Grupo Resinas Brasil, acompanhou todo o processo de implantação da nova cultura agrícola. Tiago afirma que o plantio do pinus foi realizado de forma adequada à resinagem e ao consórcio.

Anderson Percílios e Jonizete Boecher produzem mudas de pinus certificadas

“O espaçamento mais amplo (4m x 2,5m) favorece um rápido crescimento em diâmetro das árvores, antecipando o início da resinagem e também proporcionará condições para que, no futuro, seja implantado o palmito juçara entre o plantio de pinus. A juçara exige uma boa quantidade de matéria orgânica no solo e sombreamento no início de seu desenvolvimento, e o pinus irá proporcionar essas condições”, afirmou Tiago Godinho.

MUDAS - O engenheiro destaca a importância dos interessados no plantio do pinus em adquirir mudas de boa qualidade e especialmente em viveiros credenciados pela Seag. “É importante que os produtores adquiram as mudas nos viveiros

parceiros do programa, pois elas são oriundas de um programa de melhoramento que objetivou aumento na produtividade e qualidade de goma-resina e madeira. São dois viveiros credenciados no Estado: um está localizado em Santa Maria de Jetibá e outro em Venda Nova do Imigrante”, conta.

Os produtores rurais interessados em aderirem ao programa podem procurar os escritórios locais do Incaper nos seus municípios ou o escritório do Grupo Resinas Brasil, que fica em Conceição do Castelo.

O Bandes disponibiliza linhas de crédito com condições especiais para incentivar o plantio. A estimativa é que o custo para a implantação de um hectare de pinus (cerca de mil árvores) gira em torno de R$ 1,5 mil. n e g ó c i o r u r a l | 11

f i n a n c i a m e n to |

texto: Bruno Faustino - Vitória | Foto:secom/es

Bandes financia barragens em pequenas propriedades rurais Linha de crédito tem prazo de pagamento de 10 anos.

Valor financiado pode chegar a R$ 165 mil

Barragem Liberdade é a primeira entregue pelo Governo do Estado. Pequenos produtores também podem construir em suas propriedades.

A estiagem prolongada provocou, nos últimos dois anos, um prejuízo estimado em R$ 3,6 bilhões à economia do Espírito Santo. Além da falta de chuva, o Estado possui poucos reservatórios de água espalhados na zona rural capixaba. Até 2018, o Governo do Estado prevê investimentos de R$ 90 milhões na implantação de 60 novas barragens.

A primeira, em Marilândia, no Noroeste do Espírito Santo, foi entregue no final de abril. A barragem Liberdade tem capacidade de armazenar 90 milhões de litros d’água e pode abastecer a população do município, de 11 mil habitantes, por aproximadamente 140 dias. Água é, sem dúvida, fundamental em qualquer propriedade rural.

E agora o agricultor tem a possibi-

lidade de financiar a construção do seu próprio reservatório por meio de uma linha de crédito exclusiva do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) com juros anuais de até 8,5% e prazo de pagamento de até 10 anos. O valor financiado chega a até R$ 165 mil.

"A crise hídrica é uma preocupação em todo o Estado. E o Bandes está com um crédito especial para os produtores rurais construírem barragens dentro de suas propriedades rurais. Já financiamos R$ 6 milhões para pequenos produtores e, até 2018, financiaremos R$ 50 milhões", explica o diretor de Crédito e Fomento do Bandes, Everaldo Colodetti.

O produtor rural Jackson Pereira de Melo, 31 anos, conseguiu o financiamento no ano passado. Na pro-

priedade de 15 hectares, em Montes Claros, interior de Pancas, no Noroeste capixaba, ele produz café.

Devido à estiagem e sem reservatório de água, perdeu a metade da produção. "Se a barragem estivesse pronta, teria evitado uma perda desse tamanho", revela o produtor.

Para ele, o financiamento veio em boa hora. "Construímos uma barragem de 30m x 20m. Como não tinha dinheiro, peguei o financiamento com o Bandes. Os juros são baixos e assim estou conseguindo manter a lavoura", afirma Jackson.

De 2012 a 2017, o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo já financiou 122 projetos de barragens, totalizando R$ 4,3 milhões. Somente em 2016, foram 70 projetos financiados, no valor total de R$ 2,9 milhões.

“Como não tinha dinheiro para construir a barragem, peguei o financiamento com o Bandes. Os juros são baixos e assim estou conseguindo manter a lavoura” Jackson de Melo - produtor de café em Pancas

12 | n e g ó c i o r u r a l

ATUAÇÃO - O Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo tem dado destaque, nos últimos 10 anos, para o homem do campo, por meio de créditos rurais com um diferencial.

"Os bancos tradicionais apostam nas culturas tradicionais. Nós apostamos em culturas diferentes, entre eles, pinus, palmito e a pimenta rosa. O Bandes é, atualmente, o grande fomentador do agronegócio capixaba. É um banco que acredita nas ideias do homem do campo", diz o diretor.

O produtor rural que necessita de atendimento não precisa deixar a propriedade rural e se deslocar

até o banco. Um consultor visita a propriedade e o auxilia nas suas dificuldades. Atualmente, o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo possui um saldo de mais de R$ 1 bilhão para financiamento.

Desse total, 70% é voltado para o crédito rural (R$ 700 milhões) .

No ano passado, o banco liberou R$ 110 milhões em financiamentos para a agricultura familiar em todo o Estado.

OUTROS PROGRAMAS - Além do programa de construção de barragens em pequenas propriedades rurais, o Bandes possui linhas de

créditos para construção, reforma ou ampliação de benfeitorias e instalações permanentes; investimento em implantação e renovação de lavouras; obras de irrigação, drenagem e recuperação do solo; investimento em florestamento e reflorestamento; formação e recuperação de pastagens e lavouras permanentes; investimento em eletrificação e telefonia rural; aquisição de animais de pequeno, médio e grande porte para criação, recriação, engorda ou serviço; aquisição ou reforma de máquinas e equipamentos novos e usados ligados à atividade agropecuária, inclusive tratores e colheitadeiras.

"Já financiamos R$ 6 milhões para pequenos produtores e, até 2018, financiaremos R$ 50 milhões" Everaldo Colodetti - Diretor de Crédito e Fomento do Bandes

n e g ó c i o r u r a l | 13

a p o s e n ta d o r i a |

Texto e foto: Julio Huber – Domingos Martins e São Gabriel da Palha

Aos 73 anos, e com mãos calejadas, ele não vai se aposentar Mesmo trabalhando uma vida inteira na roça, muitos agricultores não conseguem se aposentar. Cooperativas e sindicatos rurais auxiliam produtores rurais Mesmo com 73 anos, o agricultor Veraldo não conseguiu se aposentar e continua trabalhando nas lavouras

Imagine acordar cedo, muitas vezes antes do dia raiar, tomar café e ir para a lavoura capinar ou fazer alguma outra atividade pesada nas plantações. Mesmo sob o sol forte ou debaixo de chuva, é preciso encarar o dia de trabalho, até anoitecer. Imagine fazer isso por cinco ou seis dias na semana, até os 60 anos de idade, e quando achar que pode se aposentar, descobrir que isso não será possível.

Infelizmente essa é a realidade de muitos agricultores, que passam por situação parecida em todo o Brasil. Um exemplo é o agricultor Veraldo dos Santos Neves, morador de Paraju, em Domingos Martins.

Hoje ele tem 73 anos, não conseguiu 14 | n e g ó c i o r u r a l

se aposentar, e segue a sua rotina diária do árduo trabalho na roça.

Na qualidade de segurado especial, os homens agricultores se aposentam com 60 anos e as mulheres com 55, mas essa infelizmente é uma realidade distante para muitos trabalhadores. Veraldo já teve inclusive a aposentadoria negada no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília-DF. “Mesmo com o juiz afirmando que eu sou trabalhador rural, não consegui me aposentar porque minha esposa é professora aposentada. A Justiça não aceita que eu tenha minha aposentadoria, mesmo depois de tanto trabalhar e merecer, isso tudo apenas porque

minha esposa foi professora. E se eu quiser ter o meu dinheiro, tenho que trabalhar, porque só de remédio o gasto mensal é alto”, lamentou Veraldo.

De acordo com a advogada do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Domingos Martins e Marechal Floriano, Ana Maria Rocha Carvalho, desde o ano de 1991, o sindicato já auxiliou mais de 10 mil pedidos de aposentadoria de agricultores dos dois municípios. Desse total, mais de 200 tiveram que ser levados à Justiça.

“O caso do senhor Veraldo é uma injustiça. Ele conseguiu provar que sempre trabalhou no meio rural, mas a Justiça entende que a aposentadoria da esposa dele, que

foi professora e recebe mais de dois salários, é a subsistência da família.

Nesse caso, para a Justiça, Veraldo não tem direito à aposentadoria”, contou a advogada.

E já que a Justiça não aceitou a aposentadoria do agricultor Veraldo, ele continua trabalhando nas lavouras. “Já tentei de todas as formas e com vários advogados.

Fiz uma última tentativa há uns

dois anos. Eu não posso depender do dinheiro de aposentadoria da minha esposa para sustentar a casa. Eu trabalho me arrastando às vezes, porque tenho vários problemas de saúde”, relata Veraldo.

O sentimento do prazer em que Veraldo sempre teve em trabalhar na roça está dando lugar a um sentimento de frustração. “É muito triste. Às vezes, quando entro na

lavoura, dá vontade de virar as costas e sair pelo mundo. Se não fosse minha família, não sei o que eu faria”, conta, entristecido o trabalhador. Segundo a advogada Ana, quando alguém da família é aposentado com mais de um salário, já começa a ficar difícil para o cônjuge se aposentar como trabalhador rural.

Especialista aponta falhas que prejudicam a aposentadoria Para que o segurado especial (trabalhador rural) tenha o benefício da aposentadoria aos 55 anos para mulheres e 60 para homens, é necessária a comprovação, com documentos, de que trabalhou na área rural nos últimos 15 anos. Em alguns casos, se o agricultor se afastar do trabalho rural por um período superior a dois anos, ele perde o direito de segurado especial.

O advogado previdenciário José Roberto Lopes dos Santos, referência no Estado no assunto, afirma que a falta de conhecimento sobre a legislação ou até a insuficiência de documentos podem inviabilizar a aposentadoria do trabalhador rural, que muitas vezes se frustram ao atingir a idade e não ter direito ao benefício.

Segundo ele, muitas pessoas que trabalharam por vários anos com a agricultura e depois passaram a contribuir com a Previdência Social, seja por meio de contribuições autônomas ou com empregos com carteira assinada, estão conseguindo averbar (unir) o tempo do trabalho rural com a contribuição, isso com o objetivo de ter direito a 100% de um salário mínimo.

“Quando um agricultor começa a trabalhar no meio urbano, ele perde o benefício de segurado especial. Quem se aposenta pela idade urbana (60 anos para mulheres e 65 para homens) e que tenha contribuído apenas 15 anos para a Previdência Social, tem direito a apenas 85% do valor do salário mínimo. Entretanto, é possível a junção do tempo de contribuição com o período de trabalho rural”, informou o advogado.

Ainda de acordo com ele, se a pessoa deixar de trabalhar na roça e não contribuir com a Previdência, o

tempo de roça não serve para nada. “A partir do momento em que a pessoa perde o direito de se aposentar como trabalhador rural, a única maneira é pagar, no mínimo, 15 anos à Previdência Social”, explicou.

Mas, para que a pessoa tenha direito a unir o tempo do trabalho rural com a aposentadoria urbana, é preciso apresentar documentos contemporâneos, ou seja, da época em que ela trabalhava na agricultura. Não serve, por exemplo, declarações de antigos empregadores, com datas recentes.

INJUSTIÇAS – O advogado José Roberto Lopes contou que há casos realmente absurdos e injustos. “Eu atuei no caso de um trabalhador de Laranja da Terra, que além de ter a aposentadoria negada, ele e o presidente do sindicato dos trabalhadores local foram processados criminalmente acusados de estelionato. Eu consegui reverter a situação, ele se aposentou, mas menos de um ano depois ele morreu de tanta tristeza. Ele era uma pessoa humilde, não sabia ler e criou todos os filhos com o trabalho da roça, e passou por essa situação”, relatou José Roberto Lopes.

Entretanto, o especialista explicou que, quando o caso é julgado em Brasília, já não cabe mais recurso para tentar reverter a situação. “Já existe um entendimento da Justiça Federal de que mesmo que um membro da família não trabalhe na roça, não impede o cônjuge a receber a aposentadoria rural. Ele apenas precisa provar que é trabalhador rural, mas quando o caso é negado em uma instância superior em Brasília, aí não cabe mais recurso”, afirmou o advogado. n e g ó c i o r u r a l | 15

a p o s e n ta d o r i a

Importância do Sindicato no momento da aposentadoria Muitos trabalhadores rurais têm dúvidas ou até medo de buscar informações em agências do INSS, no momento de se aposentar. Em áreas rurais afastadas dos centros das cidades, muitas famílias têm dificuldades em buscar informações sobre a aposentadoria. A timidez e o receio em fazer perguntas a atendentes do INSS fazem com que muitos nem busquem seus direitos de aposentadoria.

Para isso, o papel dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR’S) é de extrema importância na orientação dessas pessoas. Desde a Constituição de 1988 e da Lei 8.213/91, os Sindicatos de Trabalhadores Rurais foram legalmente incorporados como efetivos colaboradores do INSS na legislação previdenciária pertinente ao trabalhador rural segurado especial.

Uma das principais atividades dos sindicatos nesse assunto é o que tange a emissão de declaração que elucida a condição de seu filiado como segurado especial. Com o passar dos anos, a qualidade dos serviços destes STR'S se aprimoraram. Atualmente, através de convênio com o INSS, as entidades representativas dos segurados especiais, depois de devidamente qualificadas,

O presidente Niobem, o secretário Delimar e a advogada Ana Maria mostram os quase 10 mil processos de aposentadoria no arquivo do Sindicato 16 | n e g ó c i o r u r a l

poderão utilizar o Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS).

Os titulares das entidades têm a gestão do acesso, possibilitando cadastrar e atualizar o cadastro de acesso dos próprios funcionários.

Eles puderam criar no sistema o Número de Identificação do Trabalhador (NIT) e inserir as outras informações, além de agendar entrevistas.

Por sua vez, o segurado especial, que já tiver sido cadastrado ou tiver alguma atualização realizada neste sistema, não vai precisar ter este atendimento realizado junto com o benefício, reduzindo assim o Tempo Médio de Atendimento (TMA) nas Agências da Previdência Social.

Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Domingos Martins e Marechal Floriano, Nioben Francisco Simmer, a falta de documentos é o principal impedimento para quem quer se aposentar. Em muitos casos, a pessoa trabalha a vida inteira na roça, sem nenhuma comprovação, seja um contrato ou qualquer outro documento que comprove sua atividade. “A orientação aos nossos associados é importante para não haver problemas no momento da aposentadoria”, disse.

Documentos precisam comprovar vínculo com trabalho rural Os trabalhadores rurais se encaixam na qualidade de Segurado Especial, em cuja categoria fazem parte também os pescadores artesanais e a eles assemelhados, que exercem a sua atividade diária de forma individual ou com o auxílio da família.

Os direitos são os mesmos de quem contribui para a Previdência Social, ou seja, têm direito ao auxilio doença, aposentadoria por invalidez, pensão por morte, salário-maternidade, auxílioreclusão e aposentadoria por idade, no caso específico, 55 anos para mulheres e 60 anos para homens.

O agricultor em regime de economia familiar, aquele que explora a atividade rural sem uso de empregados permanentes, planta para subsistência e não tem outra atividade remunerada, tem direito à aposentadoria com um salário mínimo, bastando para isso comprovar o exercício da atividade nos últimos 15 anos, mediante notas fiscais da produção, escritura da terra, contratos de arrendamentos e outros.

De acordo com o INSS, a principal falha que o agricultor comete e que pode prejudicar sua obtenção de aposentadoria é não guardar ao longo da vida laborativa documentos que comprovem sua atividade rural como segurado especial, não firmar contrato de parceria, meação ou comodato em época própria, assim como quando pequeno proprietário rural não inscrever a propriedade no INCRA e/ou não declarar o Imposto Territorial Rural (ITR).

Para o produtor empregador, não basta apenas exercer a atividade para se aposentar, mas é necessário, entre outros requisitos, que o produtor empregador se inscreva na Previdência Social e também contribua mensalmente por, no mínimo, 15 anos. Neste caso, será possível se aposentar com um ou 10 salários mínimos, dependendo do valor da contribuição mensal.

Cooabriel registrou queda em benefícios negados após orientações

“Prestamos esse serviço gratuito aos cooperados, pois é uma advocacia preventiva” Luiz Carlos Bastianello, vice-presidente da Cooabriel

Cooperativa auxilia agricultores para se aposentarem Buscando auxiliar aos agricultores quanto à aposentadoria, a Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), desenvolve um trabalho de orientação aos seus cooperados, para que no momento da solicitação de aposentadoria não haja dificuldades em conseguir o benefício.

O vice-presidente da Cooabriel, Luiz Carlos Bastianello, que também é advogado, explica que antigamente muitos produtores não tinham os documentos necessários para se aposentar, pois durante sua vida, não juntavam essas provas de trabalho rural. Segundo ele, o índice de cooperados que têm problemas para se aposentar caiu nos últimos anos, após a cooperativa realizar uma série de orientações aos agricultores.

“O principal problema é com relação aos documentos contemporâneos, ou seja, documentos como contratos de serviços e outros com datas da época em que o agricultor atuou no campo. Essa é a prova de que ele passou uma vida trabalhando na área rural. Muitas pessoas não se preocupam em guardar essas provas e quando se aproxima do momento de requerer a aposentadoria há uma dificuldade para a comprovação”, destacou o vicepresidente da cooperativa.

Segundo ele, atualmente 80% do quadro de sócios é de agricultores familiares. Os que não se enquadram nessa categoria, que normalmente são agricultores que possuem mais de 80 hectares de terra, não conseguem se aposentar.

Alguns, mesmo possuindo terrenos acima desse tamanho, conseguem mesmo assim se aposentar, pois comprovam que a maior parte da propriedade é formada por matas e que trabalha no regime de economia familiar. Há também situações em que mais famílias utilizam o mesmo terreno para produzir.

“Boa parte de nossos cooperados trazem os documentos para nosso setor responsável fazer uma avaliação antes de dar entrada com o pedido de aposentadoria. Prestamos esse serviço gratuito aos cooperados, pois é uma advocacia preventiva”, informou Luiz Carlos Bastianello.

Cooperativa paga R$ 5 milhões para a Previdência Social Apesar de não contribuir mensalmente para o INSS, os produtores rurais têm 2,3% descontados de todas as suas vendas agrícolas, que são destinados à Previdência Social, também conhecido como Funrural. De acordo

com o vice-presidente da Cooabriel, Luiz Carlos Bastianello, apenas em 2016 a cooperativa pagou cerca de R$ 5 milhões à Previdência Social, mesmo sendo um ano com produção cerca de 50% menor que em anos anteriores.

“Se uma saca de café custa R$ 400,00, por exemplo, em torno de R$ 8,00 são descontados para a Previdência. É o comerciante que faz esse pagamento, pois na hora da compra, esse valor já é descontado. Ou seja, o produtor paga sim sua contribuição à Previdência”, informou.

Luiz Carlos destacou que nos últimos anos houve uma concorrência desleal na comercialização de café, pois muitos comerciantes não pagavam esse percentual de 2,3% à previdência sobre a compra dos produtos agrícolas e, com isso, conseguiam pagar um valor maior por saca de café ao agricultor.

“Nós recolhemos diretamente aos cofres da Previdência. Entretanto, havia muitas demandas judiciais questionando esse desconto, inclusive após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que previa que os produtores rurais foram desobrigados a recolher o Funrural. Recentemente, o entendimento mudou e quem não pagou, terá que pagar durante esse período em que deixaram de recolher o Funrural”, contou o vice-presidente da Cooabriel. n e g ó c i o r u r a l | 17

pecuária|

Texto e fotos: Bruno Faustino - Carlos Chagas/MG

Pecuária e Cooperativismo: essências de Carlos Chagas Município mineiro se destaca na criação de gado e exportação de carne. Além disso, 1/3 dos moradores está ligado às cooperativas da cidade Quem chega a Carlos Chagas, município localizado no nordeste de Minas Gerais, distante 650 quilômetros de Belo Horizonte, é recebido por uma vaca, ou melhor, a estátua de uma vaca. O município possui quase 20 mil habitantes (19.857) e um rebanho de mais de 218 mil cabeças de gado (218.907), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso equivale a quase 10 animais para cada morador da cidade. Daí vem o simpático apelido conferido a Carlos Chagas: "Capital do Boi".

"Aqui não se planta nada, não se tem outro negócio", conta o médico capixaba e pecuarista Nabih Amim El Aouar. Ele é um entusiasta da atividade e, hoje, se considera apaixonado pela criação de gado. "A minha vida toda eu fui criado num regime urbano. Meus pais libaneses eram comerciantes em Teófilo Otoni, cidade próxima, e já possuíam essa propriedade aqui em Carlos Chagas. Mas eu era apenas

visitante. Com o falecimento do meu pai, tive que assumir a fazenda e me capacitei. A partir daí, a paixão pela pecuária se tornou maior e esse é, sem dúvida, um dos meus prazeres", revela.

A Revista Negócio Rural atravessou a divisa entre Espírito Santo e Minas Gerais para conhecer um pouco dessa vocação natural de Carlos Chagas para a pecuária.

Primeiro, precisamos entender porque há tantas áreas de pastagem na região. A resposta vem durante uma conversa rápida com o prefeito da cidade, Acássio Vieira de Azeredo Coutinho.

"Tínhamos uma floresta aqui na nossa região e, durante o desbravamento, ela foi derrubada e foram descobertas terras férteis, ideais para a pecuária. Onde se plantava capim, dava. E assim o gado foi ganhando o espaço", explica.

A pecuária corresponde a 80% da receita da prefeitura. Em seguida, vem o setor de serviço, que também está ligado à principal

atividade do município. O gado de corte predomina, principalmente, animais da raça Nelore. Mas alguns pecuaristas também criam gado Angus em suas propriedades.

"A raça Nelore é originária da Índia, a Angus é uma raça que vem da Europa. O Angus é um gado mais produtivo em carne e leite, mas o Nelore tem mais rusticidade, mais adaptabilidade ao clima e à topografia. Também são menos exigentes em alimentação e, por isso, dominaram o rebanho brasileiro.

O Nelore, hoje, corresponde a 80% do gado de corte do Brasil”, conta o pecuarista Nabih Amim El Aouar.

Ele explicou que o Angus vem como uma agregação de valor, por ser um animal extremamente produtivo para carne, quando mesclado com Nelore. “Para obter um melhor resultado, a maneira é cruzar uma raça com a outra. Um gado meio sangue Angus e meio sangue Nelore é mais produtivo, mais pesado e mais adaptado ao nosso clima e solo", revela.

Cidade da pesquisa e do estudo Esse interesse pela pecuária certificou a cidade para receber uma unidade de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O polo será instalado no Centro de Exposições de Carlos Chagas. "Essa conquista aconteceu durante o 1º Congresso Brasileiro de Pecuária Bovina, em Vila Velha, no Espírito Santo. Um dos coordenadores do projeto Embrapa Gado de Corte, Cleber Soares, foi um dos palestrantes e ele fez a sugestão.

A partir daí começamos a correr atrás. Avisamos ao prefeito, sindicato rural, Sicoob... e construímos um elo para trazer o projeto para cá. Todos querem que Carlos Chagas se torne um centro de referência em pecuária bovina", explicou o pecuarista Nabih Amim El Aouar.

Para o presidente do Sindicato Rural de Carlos Chagas, Willer Martins da Silveira, as pesquisas desenvolvidas pela Embrapa no município trarão novas perspectivas para o homem do campo diante de um cenário cheio de incertezas. “A longa estiagem promoveu muitas perdas e prejuízos. A chegada da Embrapa em nossa cidade poderá minimizar as dificuldades que existem no campo”, disse.

18 | n e g ó c i o r u r a l

CENTRO DE ESTUDOS - Além do Centro de Pesquisa, a cidade também pretende criar uma escola técnica de ciências agrárias para formar mão de obra especializada na região.

"A gente está longe do conhecimento. Alguns tiveram o privilégio para sair daqui pra estudar. Mesmo tudo o que poderíamos oferecer ao pequeno produtor por parte do poder público ainda era insuficiente.

Aí veio essa ideia de ocupar parte do nosso Parque de Exposições. Esperamos consolidar esse projeto

com recursos do governo federal nos próximos anos e trazer uma escola agropecuária para cá", completa o prefeito de Carlos Chagas, Acássio Vieira de Azeredo Coutinho.

Enquanto a escola técnica não sai, estudantes do Espírito Santo buscam no município mineiro a experiência que precisam para entrar no mercado de trabalho. Entre os meses de janeiro e fevereiro, a fazenda Amim El Aouar abre a porteira para ensinar o dia a dia do campo para estudantes universi-

tários. Eles desembarcam na cidade para fazer estágio.

"São 200 vagas e, em nossa propriedade, fazemos desse estágio um curso intensivo de vida no campo. Os instrutores e alunos dão palestras, fazem prova escrita, uma série de atividades de técnicas de manejo e visitas técnicas. São 14 instrutores que ajudam a qualificar os estudantes de Veterinária, Zootecnia e Agronomia", conta com orgulho o pecuarista Nabih Amim El Aouar.

Parte da produção do frigorífico é exportada para Hong Kong e Egito

Gado abatido ganha o mundo Todo gado de corte produzido em Carlos Chagas e região, Sul da Bahia e Norte do Espírito Santo é abatido no frigorífico Maxi Beef, o principal da cidade. O local emprega 300 funcionários e tem capacidade de abater 400 cabeças por dia. “Somos a empresa que mais emprega na cidade, depois da prefeitura”, ressalta o diretor do Maxi Beef, Reginaldo Costa Rezende.

A convite, a reportagem da Revista Negócio Rural acompanhou todo o processo de produção do frigorífico. Para entrar na unidade é preciso usar uniforme e equipamentos de

segurança. A empresa segue todas as normas de segurança e sanidade exigidas pelo Ministério da Agricultura, o que levou o frigorífico ao patamar de exportação.

"Para atender ao mercado externo, tivemos que nos adequar às exigências das missões internacionais que visitam nossa unidade.

Fizemos algumas mudanças para enviar carne para o Egito. Um funcionário deles acompanha o abate, que é um pouco diferente do que fazemos habitualmente. Para eles, temos que fazer a degola do animal. Já para Hong Kong, não muda-

mos nada. Enviamos todos os miúdos para eles", explica o diretor.

No processo de desossa da carne, até os ossos dos animais são aproveitados para fazer ração.

"Outra empresa recolhe esse subproduto e industrializa. Tudo é aproveitado", diz Reginaldo.

A Maxi Beef, que pertence ao grupo Supremo Alimentos, instalou-se na cidade em 2008. E, atualmente, trabalha para expandir a capacidade da unidade de Carlos Chagas. "Depois da ampliação, passaremos a abater 600 cabeças de gado por dia", finaliza o diretor. n e g ó c i o r u r a l | 19

pecuária

Pecuária leiteira aliada à tecnologia Não é somente a pecuária de corte que desponta no município. A criação de gado de leite também tem gerado renda para muitos produtores rurais da região. “Trabalhei numa empresa de sal mineral por 14 anos e tem seis anos que estou na fazenda de leite. Estou satisfeito com o que faço. Na pecuária leiteira, você aprende a gostar e, atualmente, faço com dedicação o meu trabalho”, conta Warley Gonçalves Santos, gerente da Fazenda Manua.

A propriedade conta com 120 vacas leiteiras e produz 810 litros de leite por dia. Mas nos últimos anos, a produção foi prejudicada devido à estiagem prolongada que atingiu o nordeste de Minas Gerais. “A região sofreu a pior seca dos últimos 55 anos. Ninguém nunca viu nada igual. Foi assustador. Passamos extrema dificuldade. O gado não tinha o que comer”, descreveu Warley.

Warley trocou o trabalho administrativo pela gerência da Fazenda Manua

Exemplo de cooperativismo une moradores e supera desafios A situação só não foi pior porque a Cooperativa de Crédito Rural de Carlos Chagas (Sicoob) abriu uma linha de crédito especial para atender aos produtores cooperados. O presidente do Conselho de Administração do Sicoob / Carlos Chagas, Valdei Costa Barbosa, explicou a atuação da cooperativa nessa situação.

"As pessoas não se preparam para enfrentar essa crise hídrica e, com isso, criou-se uma situação insustentável na região. Faltou alimento para o rebanho. E nós precisávamos ajudar. Foi aí que o Sicoob disponibilizou crédito com 20 | n e g ó c i o r u r a l

juros baratos e com um prazo longo para pagamento para os agricultores comprarem volumoso (cana de açúcar) para dar para o gado comer. Esse é o nosso papel social”, explica Valdei Costa Barbosa.

Segundo o presidente do Sicoob de Carlos Chagas, foi assim que a cooperativa cresceu, estando ao lado do produtor. “Como ele precisava de ajuda num momento tão difícil, estendemos a mão e ajudamos", afirmou.

O cooperativismo na cidade é muito presente. O Sicoob, além de fornecer crédito, atua como agente

de desenvolvimento na elaboração de políticas públicas para o município. "Nós e outros agentes da sociedade civil organizada criamos uma Agência de Desenvolvimento (Adecar). O papel dessa agência é ajudar o poder público em políticas que ajudem a fomentar a economia do município. Fazer com que os moradores tenham uma melhor condição de vida, seja por meio de estradas, serviços públicos de qualidade ou compra de máquinas. E os resultados são excelentes", exalta Valdei.

Pelo menos um terço dos moradores da cidade está ligado a algu-

Welson, Erley e Valdei comandam as três cooperativas de Carlos Chagas

“O mais importante nisso tudo é mostrar que Carlos Chagas pode ser exemplo para outras cidades. Somos muito ativos e municípios como o nosso poderiam seguir os nossos passos” Valdei Costa Barbosa, presidente do Conselho de Administração do Sicoob.

ma cooperativa presente em Carlos Chagas. Ao todo, são três. Além do Sicoob, há uma cooperativa educacional e outra voltada para o segmento de leite. Uma surgiu a partir da outra. A mais antiga tem 70 anos. É a Cooperativa de Laticínios Vale do Mucuri (Coolvam).

"Começamos com 29 associados em função da dificuldade que tínhamos para vender o leite. No início, vendíamos manteiga. Os produtores desnatavam o leite, traziam até a cooperativa no lombo dos animais e vendiam o creme. Em 86, passamos por uma crise. E aí decidimos abrir uma fábrica de queijo. Hoje temos mais de 500 associados, duas fábricas de laticínios e uma de ração", diz

o presidente da Coolvam, Welson Souto Oliveira.

A outra cooperativa da cidade é a Cooeducar, voltada para o segmento da educação. São 280 cooperados e 110 alunos. Está prestes a completar 20 anos. "A cooperativa nasceu da necessidade dos pais de manter seus filhos na cidade e oferecer um ensino de qualidade", revela o presidente da Cooeducar, Erley Pereira da Silva.

Na cidade, as três cooperativas mantém uma relação próxima.

"Nossa cooperativa tem conta no Sicoob. Todos os nossos colaboradores recebem através do Sicoob e possuem conta na cooperativa de crédito. Além disso, filhos de funcionários do Sicoob têm desconto

na escola. O mesmo acontece com a cooperativa de leite. Essa intercooperação existe entre todas essas entidades", conta Erley. É por esses e outros motivos que a pecuária e o cooperativismo são a essência de Carlos Chagas e um exemplo para outras cidades dessa tríplice fronteira brasileira entre Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia.

"O mais importante nisso tudo é mostrar que Carlos Chagas pode ser exemplo para outras cidades. Somos muito ativos e municípios como o nosso poderiam seguir os nossos passos", finaliza o presidente do Conselho de Administração do Sicoob / Carlos Chagas, Valdei Costa Barbosa. n e g ó c i o r u r a l | 21

p e s q u i sa |

texto: juliano Rangel | Foto – leonardo duarto - secom/es

Variedades de café resistentes à seca Espírito Santo e São Paulo firmam parceria para pesquisar as variedades de cafés mais resistentes à seca O setor agrícola com foco nas variedades de café e de outros grãos resistentes a situações de seca terá um reforço, com auxílio da tecnologia, por meio de uma parceria feita entre o Espírito Santo e estado de São Paulo.

O acordo foi firmado, no último dia 13 de maio, após uma visita do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, durante o lançamento do 10° Ano da Campanha da Melhoria da Qualidade e Início da Colheita do Café do Espírito Santo e do 9° Noroeste Café Conilon, no município de Pinheiros.

Com a iniciativa, será realizada uma troca de experiências com tecnologias utilizadas pelos dois estados no desenvolvimento de variedades de café Conilon e de café arábica mais resistentes à seca, além de outras áreas, como produção animal, fruticultura e olericultura.

Geraldo Alckmin falou da expectativa em firmar essa parceria com o Estado. “O Espírito Santo tem também uma larga experiência em frutas, então são muitos os benefícios dessa cooperação entre esses dois importantes institutos de pesquisa”, comentou Alckmin.

Assim como no Espírito Santo, algumas regiões de São Paulo têm sofrido nos últimos anos os efeitos da estiagem, o que tem contribuído para a queda na produção agropecuária. Com a parceria, o trabalho feito pelo Instituto Capixaba de Pesquisa,

22 | n e g ó c i o r u r a l

A parceria entre ES e SP foi firmada durante o início da colheita do café no Noroeste capixaba

Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), pelo Instituto Agronómico (IAC) e pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), de São Paulo, será compartilhado para auxiliar no desenvolvimento da agricultura e da agroindústria.

Presente na assinatura do convênio, o vice-governador César Colnago falou sobre a situação hídrica do Estado. “A escassez hídrica que estamos atravessando nos últimos anos transformou a pauta da água em prioridade. Temos feito uma série de ações para reservação e preservação de nascentes, mas, além disso, também trabalhamos com o desenvolvimento de variedades que sejam mais resistentes à seca. O Incaper

é um dos institutos que mais investe em pesquisa na cafeicultura e certamente a parceria com São Paulo irá nos ajudar a restabelecer a pujança da nossa produção”, afirmou Colnago.

O secretário de Estado da Agricultura, Octaciano Neto, afirmou que a parceria une alguns dos maiores institutos de pesquisa do Brasil. “O carro-chefe do Incaper é desenvolver trabalho de pesquisa para o café e, por isso, o setor se desenvolveu tanto no nosso Estado. O IAC é um grande instituto de pesquisa e assinamos essa parceria para desenvolver variedades mais resistentes à seca. O café representa 40% do PIB agropecuário do Estado”, declarou o secretário Octaciano.

n e g รณ c i o r u r a l | 23

e n t r e v i sta |

texto: Julio Huber foto:divulgação

O agronegócio brasileiro transformou-se no motor da economia do país

Christian Lohbauer Quem é: Mestre e Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo; foi bolsista de doutorado da Fundação Konrad Adenauer na Universidade de Bonn, na Alemanha, entre 1994 e 1997; gerente de Relações Internacionais da FIESP (20012004); secretário de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo (2005); diretor Executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Frangos (ABEF) (2006-2009); e presidente executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) (2009-2013).

Atualmente é membro da diretoria da Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG); diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB); diretor do Conselho de Agricultura da Fiesp (COSAG/Fiesp); vice-presidente do capítulo brasileiro do Conselho Empresarial da América Latina (CEAL) e membro do Grupo de Análise Internacional da Universidade de São Paulo (GACINT/IRI/USP).

24 | n e g ó c i o r u r a l

Mestre e Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, o vice-presidente de Assuntos Corporativos da Bayer no Brasil, Christian Lohbauer será o palestrante principal da Feira da Avicultura e Suinocultura Capixaba (Favesu), que será realizada em Venda Nova do Imigrante, na região de montanhas do Estado, nos dias 22 e 23 de junho.

Em entrevista à Revista Negócio Rural, Christian fala um pouco do tema que irá abordar em sua palestra: O Agronegócio e os Desafios do Quadro Político-Econômico Brasileiro. Christian destaca que o agronegócio segura a economia brasileira, mas merece uma atenção melhor do pode público.

Ainda de acordo com o especialista, a produção de proteína animal tem um campo imenso para se desenvolver ainda mais.

Christian também falou sobre os principais desafios enfrentados pelo setor no Brasil, e os caminhos para o crescimento.

Revista Negócio Rural - Em sua palestra que será realizada na Favesu, no dia 23 de junho, o senhor vai falar sobre os desafios do quadro político-econômico para o agronegócio brasileiro. Quais são hoje esses maiores desafios?

Christian Lohbauer - O agronegócio brasileiro transformou-se no motor da economia do país porque precisa pouco do governo. No momento em que o produtor percebeu que poderia crescer e se desenvolver sem depender das benesses do Estado, tornou o agronegócio brasileiro a maior potência mundial. Os

desafios são, na grande maioria, aquilo que ainda depende justamente do Estado e não há como mudar: a qualidade da infraestrutura (estradas, pontes, portos, aeroportos), a modernização do sistema sanitário, a redução dos encargos trabalhistas (que já melhorarão com a terceirização) e a simplificação do sistema tributário.

Além de desafios internos no Brasil, há desafios mundiais que também afetam o desenvolvimento do agronegócio brasileiro?

O mercado internacional ainda tem muito espaço para ser ocupado pelos produtos agrícolas brasileiros. Apesar das dificuldades de acesso por questões sanitárias ou protecionismo puro (cotas, tarifas ad valorem e específicas, salvaguardas e subsídios), há muito espaço para conquistar mercados, mesmo com maior valor agregado. Mas é preciso investimento em tempo e em gente.

Mas quem tem que lidar com as agruras da instabilidade político-econômica brasileira tem pouco espaço para investir em projetos de longo prazo.

“Sou a favor de importação de café e banana, por exemplo”

“O mercado internacional ainda tem muito espaço para ser ocupado pelos produtos agrícolas brasileiros”

Quais os setores do agronegócio brasileiro que apresentam um maior desempenho na economia do país?

A produção de grão é extraordinária. Soja, milho, feijão, arroz. Mas é na proteína animal que há muito espaço ainda. O mundo precisa de alimentos e proteínas e o Brasil tem a proteína vegetal para transformar em animal e alimentar a população em crescimento. As frutas in natura também podem crescer e vem crescendo.

Podemos dizer que o agronegócio é o segmento que está segurando a economia do Brasil?

Não há dúvida. E já faz tempo.

Desde meados dos anos 90, a agricultura segura as contas públicas.

A indústria manufatureira infelizmente perdeu competitividade com exceção de alguns poucos setores. O Brasil ficou caro para produzir. O Agro ainda tem competitividade, mas sabemos que ela não é eterna. O Brasil precisa reformar e liberalizar sua economia, senão corre o risco de perder também as vantagens que tem na agricultura.

Na sua visão, quais as perspectivas para o futuro do agronegócio brasileiro, diante das crises econômica, política, hídrica e tantos outros problemas enfrentados pelos produtores?

O futuro está na tecnologia. Não apenas da agricultura, mas no futuro da humanidade. Os grandes avanços no padrão de vida humano foram dados com descobertas extraordinárias. Na agricultura não é diferente. A produtividade vem de sementes mais resistentes às intempéries, defesa vegetal mais precisa, uso racional da água, uso eficiente da terra, treinamento

do homem e novas máquinas. A genética animal também é fundamental além da integração de pequenos produtores em cadeias globais de produção e consumo.

A verdadeira reforma agrária é a incorporação de pequenos produtores na integração com grupos exportadores como no caso de aves e suínos.

O que representa a possibilidade de importação de café para o segmento no Brasil?

Não deveria haver tensão com importação de café ou qualquer outro produto agrícola. A importação provoca concorrência e faz quem produz mais caro buscar eficiência. Sou a favor de importação de café e banana por exemplo. O Brasil pode bater os concorrentes internacionais. Basta trabalhar e querer.

Os setores de avicultura e suinocultura têm uma boa representatividade econômica para o agronegócio brasileiro. Para esses setores, o que poderia contribuir para o maior desenvolvimento?

Se o governo fizer a sua parte e modernizar o sistema de inspeção federal e modernizar os portos já é o suficiente. O resto, o setor de suínos e aves resolve sozinho. Tem feito isso há mais de 30 anos e só fez crescer, com uma média em torno de 10% ao ano. É muita capacidade.

Os produtores brasileiros de aves, ovos e suínos estão investindo cada vez mais em tecnologias e melhorias genéticas.

Qual a importância dessas atualizações para esses segmentos?

Fundamentais. A tecnologia é que fez o produtor chegar aonde

chegou. Se parar de buscar novas genéticas, padrões de produção, novos equipamentos, vai perder.

Tem que se manter curioso, atento e interessado no desenvolvimento da produção. Isso já é feito pela maioria. Por isso, a liderança do país na exportação de frango e a boa performance nos suínos.

A participação dos produtores em um evento como a Favesu, onde são apresentadas as novidades dos setores, além de ser um local propício para trocas de experiências entre os envolvidos, é importante para os produtores?

Encontros como a Favesu servem para que os produtores possam estar no mesmo local e discutir os problemas do seu dia a dia, além de encontrar soluções para diferentes desafios. É importante ter um ambiente social com seus pares para ouvir sobre o Brasil, sobre a política e a economia e sobre a produção. É importante encontrar os parceiros e colegas de atividade.

“A verdadeira reforma agrária é a incorporação de pequenos produtores na integração com grupos exportadores” n e g ó c i o r u r a l | 25

E V EN TO |

Texto e foto: Julio Huber – Venda Nova do Imigrante

Feira com novidades para suinocultores e avicultores O maior evento do Estado sobre aves e suínos será em Venda Nova do Imigrante, de 22 a 23 de junho Uma programação com diversas atividades para quem trabalha na produção de aves e suínos e também ao público que aprecia pratos com essas duas carnes está sendo preparada para a quarta edição da Feira de Avicultura e Suinocultura Capixaba (Favesu).

O evento será realizado nos dias 22 e 23 de junho, no Centro de Eventos Padre Cleto Caliman (Polentão), na sede de Venda Nova do Imigrante. O evento já é considerado o principal ponto de encontro de produtores, gestores, empresários, técnicos, acadêmicos, fornecedores e demais envolvidos diretamente na cadeia produtiva de aves e suínos do Espírito Santo, configurando-se como um dos eventos regionais mais importantes do país.

As diferentes formas de exposição de conteúdos oferecidos durante o evento, seja através de palestras técnicas, trabalhos científicos, mesa redonda e espaço gourmet, prometem levar muita informação aos envolvidos nos dois segmentos, além de estudantes e consumidores.

CONHECIMENTO - Para o diretor executivo das duas entidades, Nélio Hand, que é coordenador institucional do evento, durante os dois dias de encontro é possível estreitar os laços entre produtores e consumidores, além de quebrar mitos e paradigmas que muitas vezes fazem com que as pessoas tenham dúvidas quanto à qualidade dos produtos.

“O evento tem essa dinâmica. Da mesma forma que oferece vasto conhecimento aos técnicos e especialistas atuantes na avicultura e suinocultura, principalmente no que diz respeito a 26 | n e g ó c i o r u r a l

A Favesu será um espaço para o público conhecer as novidades dos setores

Publicações especiais sobre a Favesu

inovações tecnológicas, mercado, temas técnicos atuais, entre outros, também oferece ao público participante a oportunidade de compreensão do quão importante são as duas atividades no cenário econômico capixaba e também nacional”, afirma Hand.

Segundo ele, a população está cada vez mais atenta às questões de segurança alimentar e se os processos de produção atendem conceitos sanitários, ambientais e de bem estar animal. A Aves e a Ases congregam e atuam junto aos segmentos de frango de corte, postura comercial, coturnicultura, suinocultura, além do sistema de integração, de incubação e da indústria de aves, suínos e ovos do Espírito Santo. A Favesu é realizada a cada dois anos pela Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (Aves) e pela Associação de Suinocultores do Espírito Santo (Ases).

As equipes da Revista Negócio Rural e do Jornal do Agronegócio vão preparar edições especiais com a cobertura de tudo que vai acontecer na Favesu. Além dos melhores momentos das palestras e da programação dos dois dias do evento, haverá espaços publicitários com condições especiais para os expositores e parceiros deste que é o maior evento de aves e suínos do Estado.

As publicações serão editadas logo após o evento e distribuídas em todo o Espírito Santo e em outros estados. A ideia, segundo os organizadores do projeto, é levar informação de qualidade aos envolvidos nos segmentos e fornecer mais uma possibilidade de os expositores falarem sobre as novidades apresentadas na feira.

As empresas que quiserem obter mais informações de como participar desse projeto e não ficar de fora das edições especiais podem entrar em contato com os telefones: (27) 999887860 (Julio Huber) ou (27) 99996-1288 (Bruno Faustino).

n e g รณ c i o r u r a l | 27

e v e n to |

Texto e foto: Bruno Faustino – Pedro Canário

Novidades e integração em encontro sobre pecuária

O fundador Dalton Heringer abriu os trabalhos na fazenda da empresa em Pedro Canário

A Fazenda Heringer, em Pedro Canário, norte do Espírito Santo, recebeu mais de 400 pessoas, entre pecuaristas, estudantes, engenheiros agrônomos e veterinários, para mais um dia de campo. As boas vindas foram dadas pelo proprietário e fundador do grupo, Dalton Dias Heringer. "Estou muito feliz com a presença de todos vocês.

Esperamos realizar outros eventos como esse. É bom para a nossa pecuária. Aqui conseguimos trocar experiências e ideias", disse Dalton.

O tema principal do encontro foi: "Os Desafios para o Agronegócio Brasileiro". A palestra ministrada pelo presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper),

28 | n e g ó c i o r u r a l

Marcelo Suzart, destacou a integração para o crescimento da agricultura e pecuária no Brasil, além de expor novidades sobre pesquisas genéticas atuais.

"Essa união de pensadores e pensamentos é o futuro. Não dá pra conquistar tudo sozinho. Esse encontro é a prova disto. Temos aqui gente do Espírito Santo, Minas Gerais e Sul da Bahia", disse o presidente da Associação Capixaba dos Criadores de Nelore, Nabih Amim El Aouar.

Autoridades políticas também marcaram presença, entre elas, o prefeito da cidade, Bruno Araújo, e o deputado federal Evair de Melo.

"A agropecuária vive um desafio e as parcerias são fundamentais para o seu crescimento. Isso aliado à

tecnologia e à inovação. Um evento como este mostra como a força da marca Heringer, aliada à credibilidade e seus resultados podem dar certo mesmo numa época de crise", afirmou o deputado.

Além de palestras, os participantes do encontro puderam conhecer técnicas de manejo, forma de vacinação do gado e novidades do setor. "Esse é o intuito desse dia de campo. Trazer tecnologia e informação para o homem do campo.

Estamos muito satisfeitos com o resultado. Essa integração entre agricultores, estudantes e profissionais do mercado é a saída para o futuro do agronegócio", finalizou Victor Paulo de Miranda, gerente da fazenda Heringer.

TEXTO E Foto: Julio Huber |

CONEXÃO

Estado terá mais 100 antenas de telefonia móvel na área rural O objetivo é instalar as antenas a partir do próximo ano em localidades rurais Ele destacou que uma comissão de cinco servidores, sendo três de carreira, será formada para fazer a análise técnica dos locais onde serão instaladas as torres. A licitação será feita por meio de ata de registro de preço para permitir que as prefeituras possam aderir e contratar mais antenas.

"A comunicação digital permite que o produtor rural consiga, por exemplo, saber a cotação do café em tempo real, negociar, vender, trocar informações e muitas outras atividades. Esse modelo que vamos adotar fortalece a agricultura capixaba", disse Octaciano.

O secretário Octaciano Neto afirmou que o projeto fortalece a agricultura capixaba

Como forma de facilitar a comunicação do homem do campo e levar a inclusão social às comunidades do interior do Espírito Santo, deverão ser instaladas mais 100 antenas de telefonia móvel em municípios do Espírito Santo, por meio do programa “Campo Digital”, do governo estadual.

O deputado federal Evair de Melo destacou que destinará recursos, por meio de suas emendas parlamentares, para custear a instalação de antenas em municípios capixabas.

A Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) será a responsável pelo programa estadual. O objetivo do programa é permitir que a população do campo possa realizar ligações e acessar a internet por meio do aparelho celular para se comunicar com outros produtores, fornecedores e compradores.

“Hoje em dia, celular e internet são ferramentas essenciais de trabalho. A ação de hoje é um passo para o futuro digital que já vivemos, é a conexão do pequeno agricultor com o mundo. Com disposição, compromisso e planejamento é possível melhorar a qualidade de vida dos capixabas e continuar promovendo o desenvolvimento social", afirmou o governador em exercício, César Colnago.

Segundo o secretário de Estado da Agricultura, Octaciano Neto, a previsão é de que o edital para a contratação da empresa que prestará o serviço seja lançado já no segundo semestre deste ano. A instalação das antenas deverá ser realizada entre outubro de 2017 e julho do ano que vem. Serão priorizados para a instalação dos equipamentos os locais onde haverá maior número de pessoas beneficiadas.

APOIO NACIONAL - Por meio do Projeto de Lei 1549/2015, de autoria do deputado federal capixaba Evair de Melo, que está tramitando na Câmara dos Deputados, em Brasília, será criada a Política Nacional de Incentivo à Instalação de Telefonia Móvel com Internet em Comunidades Rurais, ampliando o trabalho do governo federal para promover a interiorização dos serviços de telecomunicações.

Além de contribuir para promover a universalização das telecomunicações, o projeto também contribui para aumentar a produtividade da economia rural, beneficiando pequenos e médios agricultores e os produtores da agropecuária empresarial, e reduz as imensas desigualdades regionais, principalmente favorecendo o acesso aos serviços essenciais de educação e saúde.

O projeto, de acordo com o deputado, já foi aprovado pela Comissão de Agricultura da Câmara Federal, e atualmente está na Comissão de Ciência e Tecnologia e Comunicação.

Em seguida, deverá passar pela aprovação na Comissão de Constituição e Justiça, para depois ser levado ao plenário para aprovação. n e g ó c i o r u r a l | 29

r e c e i ta & c a l e n dá r i o r u r a l

Cocada de Café

Calendário Rural

INGREDIENTES 1 lata de leite condensado 2 latas de açúcar 1 colher (chá) cheia de manteiga 1/2 lata de café forte* 1 coco médio ralado (aprox. 300g) OBS: a lata para medir o açúcar e o café é a mesma do leite condensado MODO DE PREPARO Misture todos os ingredientes numa panela. Leve ao fogo baixo e mexa até soltar do fundo. Retire do fogo e bata um pouco. Despeje no mármore (ou em uma mesa) untado com manteiga e espere esfriar um pouco. Corte em quadradinhos.

Fonte: Delícias do Café - Livro de receitas do Núcleo Feminino da Cooabriel

30 | negócio rural

Cana de Açúcar Colheita: abril a setembro

Cebola

Colheita: julho a agosto

Café

Colheita: maio a agosto

Batata

Colheita: julho a agosto

Mandioca

Colheita: março a julho

016 MATERIAL 111/12/2017 PRODUZIDO à

INSCRIÇÕESS EBM E ABERTA REV

www.premiodejornalismo.coop.br | EM BREVE - (27) 2125-3200 REALIZADORES

PATROCINADORES

n e g ó c i o r u r a l | 31