Revista Negócio Rural Edição 12

Edição12-Final.indd 1

06/06/2018 16:36:27

Edição12-Final.indd 2

06/06/2018 16:36:27

ediToRal

12 caPa

aPReNdiZado O maior dom do ser humano é a capacidade de aprender. E isso fazemos durante toda a nossa vida.

A cada edição da Revista Negócio Rural estamos sempre em busca de novos aprendizados. É o que nos motiva. É o que mais gostamos de fazer. E assim vamos sempre atrás de novidades e, atrás de cada novidade, mais conhecimento.

Desta vez, preparamos um cardápio repleto de informação que irá acrescentar no seu dia a dia.

Na pecuária, apresentamos o gado Senepol, uma raça relativamente recente no Brasil e que já traz muitos benefícios a criadores brasileiros e capixabas. Também trazemos nessa edição uma produção de café sustentável, onde nada é desperdiçado em todo o processo.

A Revista Negócio Rural também pegou a estrada e viajou até o Sul do Brasil, para mostrar os segredos dos melhores vinhos e espumantes do país. E ainda apresentamos o novo desafio do presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil - um mineiro de alma capixaba.

Esperamos que você tenha uma boa leitura e ótimos aprendizados.

Julio huber e bruno faustino

foto de capa: Julio Huber editores de jornalismo: Bruno Faustino - JP - 1375/ES Julio Huber - JP - 2038/ES Reportagem: Bruno Faustino Julio Huber Juliano Rangel fotografia: Bruno Faustino Julio Huber Secom/ES

íNdice

Revisão: Evandro Albani colaboradores: Anderson Percílios Juliano Rangel diagramação: HM Propaganda (27) 3361-4163 (27) 3114-0433

Pecuaristas apostam no Senepol para impulsionar a pecuária nacional

09 cafeiculTuRa

Irmãos transformam casca de café em adubo orgânico no Noroeste capixaba

15 eSPecial

Conheça os segredos da produção dos melhores vinhos e espumantes do Brasil

20 eNTReviSTa

Veja quem comanda a Associação dos Criadores de Nelore do Brasil

23 giRo RuRal

Lançada nova legislação para facilitar as agroindústrias capixabas

25 eveNToS

Feira agrícola internacional será realizada em agosto e apresentará tecnologias para o campo

Periodicidade: Bimestral Edição Especial: Abril/ Maio/Junho Com reportagens apuradas até 30/05/2018 endereço e assinaturas: Avenida Presidente Vargas, nº 590, Sala 305 B Centro - Domingos Martins ES - Cep: 29.260-000 (27) 3268-3389

impressão: Grafiisana circulação Nacional A Revista Negócio Rural é uma publicação da empresa Nova Comunicação. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem a prévia autorização dos editores.

revistanegociorural@gmail.com

revistanegociorural

negócio rural | 3

Edição12-Final.indd 3

06/06/2018 16:36:36

c a pa |

Texto e fotos: Julio Huber - Itapemirim (ES)

Senepol: a raça que promete revolucionar a pecuária nacional A bovinocultura nacional tem se desenvolvido com a expansão da raça Senepol

“Começamos a criar o Senepol depois de identificar a demanda do mercado por carnes nobres e esses produtos vinham de outros países. Ao analisarmos o rebanho brasileiro, vimos que era preciso de um upgrade. O Senepol era o único melhorador genético com capacidade de fazer isso em campo”. Esse relato do pecuarista Jhonatan Thomazini resume porque a raça Senepol está se expandindo no Brasil e promete revolucionar a pecuária nacional.

Com desenvolvimento precoce, maior conversão de alimentos, mais resistente às diversas características do clima, de doenças e da pouca oferta de alimentos, o gado da raça Senepol tem sido cada vez mais a aposta de pecuaristas brasileiros que buscam uma maior rentabilidade na criação de animais para o abate.

A raça ainda é considerada recente no Brasil – chegou há cerca de 18 anos – mas foi tempo suficiente para conquistar criadores de diversos estados, incluindo o Espírito Santo, que já desponta como um Estado promissor para o desenvolvimento da raça. Atual-

mente já são mais de 600 criadores registrados em todo o país, que juntos possuem um plantel de quase 90 mil animais.

O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol, Pedro Crosara, destacou a crescente expansão da raça. “Estamos expandindo nossas fronteiras e, atualmente, estamos presentes em 21 estados brasileiros com associados, inclusive internacionais, na Bolívia e no Paraguai.

Saímos de 94 associados em 2011 para os mais de 600 atualmente.

Esse crescimento está descolado da realidade da pecuária brasileira, mas seguramente sustentado pelos resultados que a raça tem proporcionado dentro da porteira dos pecuaristas”, frisou.

A reportagem da Revista Negócio Rural foi conhecer de perto os diferenciais dessa raça na Fazenda 3JR, no município de Itapemirim, no litoral Sul do Estado, comandada pelo pecuarista Jhonatan Thomazini, 24 anos, primeiro a criar a raça no Espírito Santo.

“Pesquisei muito e conversei com quem criava o Senepol

e trouxe a raça para o Estado. Eu acompanhava a dupla sertaneja Jads e Jadson, que cria a raça, e hoje somos sócios em alguns animais. Participei de leilões e hoje tenho parceria com os melhores criadores do Brasil para implantar a genética de alta qualidade na nossa fazenda”, relatou o jovem pecuarista.

Médico veterinário responsável na Fazenda 3JR, Miguel Thomaz é um encantado com o gado Senepol. “Eu conheci muito gado de corte durante a graduação, mas quando me deparei com a raça (Senepol), fiquei impressionado. Além de bonita, é dócil e rentável para o produtor”, afirmou Miguel.

Na Fazenda 3JR são cerca de 100 animais. Segundo ele, no Espírito Santo há ainda mais um criador, mas há outras propriedades que possuem touros para cruzar com vacas de outras raças. “Da mesma forma que recebemos apoio quando começamos a criar, nós também orientamos quem quer começar a produzir no Estado. Queremos que a raça se propague”, disse Miguel Thomas.

4 | negócio rural

Edição12-Final.indd 4

06/06/2018 16:36:40

gaNho de PeSo PRecoce É aPoNTado coMo difeReNcial Quem trabalha com o Senepol destaca as vantagens dos animais.

“O ganho de peso é o principal fator. A parte traseira do Senepol, por exemplo, é muito uniforme, e o dianteiro também é bem pesado, e isso é muito desejado em frigoríficos”, explica o médico veterinário Miguel Thomaz.

Esse fator também é uma vantagem para a exportação. “Tem alguns países que desejam um dianteiro como o que o Senepol apresenta. E quando fazemos algumas avaliações através de ultrassonografia de carcaça, a raça se destaca e conseguimos comprovar a precocidade. E quando se faz a desossa, há mais carne que osso, e isso é um desejo de todo frigorífico”, enfatizou o médico veterinário.

O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol, Pedro Crosara, disse que os

principais diferenciais da carne são a maciez e o sabor. “Como os animais são abatidos bem jovens, conseguimos produzir uma carne com bom acabamento de carcaça, o que está diretamente ligado à maciez do produto. É uma carne como o brasileiro aprecia, pois não tem tanto marmoreio, ou seja, uma carne mais saudável por não ter grandes teores de gordura”, explicou.

Uma comprovação desse diferencial da raça quanto à rentabilidade é o resultado de uma pesquisa da Scot Consultoria, que constatou que frigoríficos vêm pagando espontaneamente ágio para pecuaristas que trabalham com a raça.

A pesquisa foi realizada em 20 estados brasileiros, entre os meses de agosto e outubro de 2017 e envolveu 304 produtores rurais dos segmentos de cria, recria, engorda e ciclo completo.

Dos entrevistados que opinaram sobre o pagamento de ágio, 73,2% confirmaram receber a bonificação.

Os maiores ágios foram verificados nas vendas de novilhas (média de 23%), boi magro (18%) e bezerro (17,1%). “O resultado comprova que a raça tem boa aceitação no mercado. A indústria está pagando de forma espontânea o ágio pelo meio-sangue Senepol, mesmo sem a existência de um programa oficial de bonificação nos frigoríficos”, destaca o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres.

A Scot Consultoria ainda detectou uma redução de ciclo de abate nos sistemas que utilizam meio-sangue Senepol. As fêmeas atingem peso de abate quase seis meses antes das de outras raças.

Entre os machos meio-sangue Senepol, a idade média ao abate é quase cinco meses menor.

O médico veterinário Miguel Thomas é responsável pela criação na Fazenda 3JR

“o resultado comprova que a raça tem boa aceitação no mercado. a indústria está pagando de forma espontânea o ágio pelo meio-sangue Senepol” Alcides Torres - Diretor da Scott Consultoria

negócio rural | 5

Edição12-Final.indd 5

06/06/2018 16:36:43

A vaca Fogo 33 foi classificada como uma das melhores do Brasil

PRogRaMa de MelhoRia geNÉTica foRTalece a Raça SeNePol Com o objetivo de sempre melhorar a genética dos animais, foi criado, em 2009, o Programa Safiras. O objetivo é reconhecer, por meio de uma série de análises feitas por especialistas, as novilhas que se destacam em vários aspectos e que merecem receber o selo Safiras.

Em nove edições, já foram mais de 900 novilhas Senepol avaliadas e qualificadas. Nas duas últimas edições, também foram avaliadas mais de 350 fêmeas sobre a eficiência alimentar, algo inédito. São analisadas a reprodução, características de raça, conversão alimentar, entre outros.

Todas as análises são feitas com a participação de alguns dos melhores

especialistas do país nas áreas de nutrição, reprodução e avaliação de carcaça - além da presença de renomados pesquisadores. Isto levou o Safiras à premiação internacional e reconhecimento do mercado nacional, como o mais completo programa de avaliação e qualificação de fêmeas Senepol.

Na Fazenda 3JR, em Itapemirim, alguns animais já participaram e receberam boas classificações no Safiras. A Fogo 33, por exemplo, foi eleita uma das três melhores do Brasil.

“Dentro das características avaliadas no Safiras, essa vaca foi bem classificada na avaliação de carcaça. Entre mais de 150 animais avaliados, ela foi a 3ª melhor do Brasil”, contou o

médico veterinário Miguel Thomas.

“Hoje, somos o maior polo de genética Senepol do mundo, apesar da raça só estar há 18 anos no Brasil. O pecuarista brasileiro, a exemplo do que ocorreu com outras raças bovinas, elevou a seleção de Senepol a um alto grau de excelência. E os saltos serão ainda maiores em um futuro breve, pois já incorporamos a seleção genômica ao Programa de Melhoramento Genético da Raça Senepol (PMGS), visando auxiliar e orientar os criadores na seleção do rebanho”, contou o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol, Pedro Crosara.

“hoje, somos o maior polo de genética Senepol do mundo, apesar da raça só estar há 18 anos no brasil.”

Pedro Crosara - Presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol

6 | negócio rural

Edição12-Final.indd 6

06/06/2018 16:36:48

faZeNda cRia aNiMaiS PaRa iNveSTidoReS E pensando em quem não possui terreno e deseja criar gado da raça Senepol, a Fazenda 3JR, em Itapemirim, também cria animais em suas instalações para quem deseja investir na raça e ter uma rentabilidade superior a muitos outros investimentos financeiros.

O médico veterinário Miguel Thomas explica como funciona. “Temos um trabalho com alguns parceiros que não possuem terras, mas hoje têm bezerros que nasceram por meio de embriões comprados em leilões ou diretamente na fazenda. E quando fazemos a conta de quanto foi pago no embrião e a quanto será vendido o bezerro, o ganho é muito bom”, afirmou.

O médico veterinário explicou que um embrião normalmente é comprado por cerca de R$ 1 mil.

Após nascer o bezerro e o animal estiver no ponto para venda, o custo total chega a cerca de R$ 3.5 mil.

Esse prazo é de cerca de 18 meses, e o animal é comercializado, em média, por R$ 6.5 a R$ 7 mil, ou seja, o investidor dobra o seu dinheiro em um ano e meio.

Ele contou que alguns investidores não entendem de gado, mas querem ter rentabilidade com a criação. “Se um dos animais desses investidores participarem de programas como o Safiras, por exemplo, ele pode chegar até a R$ 100 mil, como é o caso da nossa Fogo 33”, contou Miguel.

Um desses investidores é o farmacêutico Pablo Alves de Souza, 31 anos, de Presidente Kennedy. “Eu entrei em contato com Jhonatan e fui até a fazenda conhecer a raça.

Fiquei sabendo das possibilidades de investimentos e eu adquiri embriões de qualidade e fiz a implantação em vacas. Agora, vou colocar esses animais em uma propriedade minha, e pretendo deixar na fazenda 3JR como parceria”, contou Pablo.

Ele informou que pretende implantar em Presidente Kennedy o projeto 4S, que irá fornecer material genético para pecuaristas da região.

“Para quem é pecuarista ou pretende investir em algo sólido, o Senepol é um investimento seguro”, afirmou.

baRRigaS de aluguel auMeNTaM a PRodução Quando é identificada uma vaca que tem grande potencial de reprodução, é feito um trabalho para aumentar o número de crias ao decorrer de sua vida. Para isso, é usado um método de barriga de aluguel, com fertilização in vitro (FIV).

Um especialista vai até a fazenda, faz a aspiração por meio dos ovários e esse líquido é fecundado com o sêmen de algum touro es-

colhido de acordo com as características desejadas, tendo como fornecedores os melhores touros do Brasil e até do mundo.

Para se ter uma ideia, cada coleta pode fornecer de 10 até 20 embriões. “Se o trabalho for bem feito, conseguimos gerar até 10 bezerros por aspiração. E cada coleta é feita com um espaço de 45 a 60 dias”, explicou o médico veterinário

Miguel Thomas.

Segundo ele, por meio do método normal de reprodução, uma vaca pode reproduzir em torno de 10 bezerros durante toda a vida.

Já no processo de fertilização in vitro, esse número pode ultrapassar a 160 bezerros, já que vacas de outras raças podem gerar os animais, sem que haja interferência na genética Senepol.

Vacas de outras raças são usadas para a produção de animais Senepol negócio rural | 7

Edição12-Final.indd 7

06/06/2018 16:36:53

A evolução da raça Foram introduzidas genéticas de Red Poll para o rebanho de Neltropp, com o intuito de melhorar a habilidade materna, fertilidade e dar caráter mocho aos animais.

Esta mescla de Red Poll com animais N´Dama foi relativo sucesso para fundar a base da raça Senepol.

Bovinos da raça N´Dama foram importados do Senegal, Oeste africano, para a ilha caribenha de Saint Croix. Foi a alternativa por sua resistência ao calor, a insetos, a parasitas e a doenças, e por sobreviver em regiões pobres de pastagens.

Um pioneiro carregamento aéreo com 22 animais da raça Senepol foi levado aos EUA. Hoje, depois de 29 anos, a SCBA (Senepol Cattle Breeders Association) conta com 500 criadores e mais de 60.000 animais em seu sistema de registro de dados.

1800 1889 1918 1970 1977 2000 Bromlay, filho de Henry C. Neltropp, um dos maiores criados de N´Dama da época, queria desenvolver um bovino que combinasse aptidões em níveis superiores de produção com as condições ambientais das Ilhas Virgens.

Vieram os primeiros animais para o Brasil, importados dos melhores rebanhos dos EUA Graças a esta genética, os selecionadores brasileiros multiplicaram a qualidade, fazendo do Brasil um celeiro da genética mundial.

Testes com animais em fazendas foram iniciados com base em materiais coletados e guardados sobre os animais, que formaram a atual base do sistema de registro da associação da raça.

diferenças do gado senepol Tolerância ao calor Adapta-se a diferentes níveis de manejo da pecuária. Pode sobreviver sem água por vários dias, além de viver bem em regiões pantanosas, de mata, de cerrado, áridas, de campos quentes ou frios. Os cascos pretos, fortes e resistentes a todo tipo de solo e topografia favorecem a raça.

Pelo Zero Os animais Senepol têm pelo zero e transferem seus genes para seus filhos, reduzindo a presença de animais taurinos cabeludos. No cruzamento industrial, no mínimo em 90% dos acasalamentos com outros taurinos apresentam pelo zero.

Maior peso O Senepol produz animais com duas arrobas de peso a mais na desmama, ou seja, os animais são desmamados com oito meses em média, com 10 arrobas de peso. O gado é abatido com idade entre 20 e 24 meses com 18 arrobas.

Longevidade Existem citações de matrizes na ilha Saint Croix que com 18 a 20 anos ainda estão emprenhando e em lotes de produção. Touros reprodutores permanecem nos plantéis de reprodução como aptos à função por muitos anos.

Criação simples Ao nascimento, o bezerro rapidamente fica em pé e já começa a mamar o colostro, diminuindo problemas com a cria e recria de bezerros, pois o trabalho de manejo é menor.

Alto desempenho reprodutivo e libido Os touros Senepol cobrem a campo e sob calor, inclusive nas horas mais quentes do dia. Possuem altas taxas de libido e dominância nos cruzamentos quando juntos com lotes de outras raças bovinas. As fêmeas são muito férteis, o que favorece a menor quantidade de matrizes vazias e, portanto, improdutivas na fazenda.

Vida reprodutiva mais cedo Pela elevada taxa de crescimento, os garrotes atingem pesos corporais mais rapidamente, o que consequentemente os fazem apresentar precocidade para reprodução. É comum as fêmeas com 14 meses de idade apresentarem cio e estarem aptas à reprodução e machos destinados à cobertura a campo com 14 a 16 meses.

Tolerância a doenças A raça N’Dama é a única entre os taurinos naturalmente resistentes à mosca que causa a doença do sono ou Tsé-tsé no continente africano e a carrapatos.

Em estudos e pesquisas de contagem da mosca do chifre realizado na Universidade Estadual da Carolina do Norte (USA), em rebanho Angus foi constatado 82% de infestação na contagem de mosca, enquanto animais Senepol cruzados com Angus obtiveram contagem de apenas 18% de infestação nas mesmas condições de infestação e manejo.

Fonte: Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol 8 | negócio rural

Edição12-Final.indd 8

06/06/2018 16:36:57

c a f e i c u lT u r a |

TexTo: bruno fausTino | foTo: divulgaÇÃo

lavoura sustentável e mais produtiva resíduo da produção do café, a casca vira adubo orgânico em propriedade rural do noroeste capixaba e apresenta bons resultados

A Fazenda Venturim busca práticas sustentáveis na lavoura e no processamento do café

Tornar as propriedades mais sustentáveis economicamente, socialmente e ambientalmente.

Este é, sem dúvida, o maior desafio do homem do campo. Café, mamão, pimenta, uva. Independente da cultura que se produz, todas geram resíduos. Por isso, produtores rurais buscam soluções para problemas do dia a dia nas lavouras.

"O homem do campo está muito atento. Por isso, está sempre buscando formas mais sustentáveis de reaproveitar os resíduos produzidos nas propriedades de forma responsável", afirma o pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Romário Gava Ferrão.

A Revista Negócio Rural descobriu em São Domingos do Nor-

te, município do Noroeste capixaba, uma experiência que está trazendo resultados promissores na lavoura de café: a utilização da casca do fruto como adubo orgânico, sendo uma das maiores fontes de potássio e nitrogênio.

"Matéria orgânica é essencial para o solo. A casca do café preserva muitos nutrientes. Então, por que não reaproveitá-la? Transformando a casca em adubo orgânico, economizamos na lavoura e eliminamos um problema. O que é da planta volta para a planta", explica o produtor rural Isaac Venturim, 38 anos.

Os irmãos Isaac Venturim e Lucas Venturim comandam a fazenda da família. A propriedade possui 100 hectares de café plantados. Numa área de quase 10% da lavoura, eles estão testando

o uso do adubo produzido com a casca de café. "Isso era usado antigamente, mas, com o tempo, foi esquecido. Agora estamos retomando a técnica. A princípio, estamos empolgados com os testes realizados", conta Isaac.

A utilização da casca como material orgânico reduz os gastos com adubação química - o insumo que mais pesa no custo de produção na lavoura de café. "Quando usamos a casca do café no solo, estamos oferecendo de maneira natural nutrientes como nitrogênio e potássio, exigidos pela planta. Além disso, a casca protege o solo do sol, ajuda a reter a água e, assim, deixa a terra mais produtiva", diz o coordenador de cafeicultura do Incaper Abrão Verdin Abraão Carlos Verdin Filho. negócio rural | 9

Edição12-Final.indd 9

06/06/2018 16:37:06

“A gente tenta, no nosso dia a dia, encontrar maneiras de reaproveitar tudo o que for possível. Nada é desperdiçado” Isaac Venturim - Produtor rural

Esse resíduo acumulado na propriedade causa problemas como a contaminação do lençol freático. A matéria orgânica em decomposição ou mineralização irá transformar o nitrogênio orgânico em nitrogênio mineral na forma de nitrato, concentrado em um ponto só. E isso pode contaminar o lençol freático.

Além disso, outro problema é que a casca exposta ao tempo, e evidentemente sendo molhada por água de chuva, produz um líquido escuro, com altos teores de

potássio, chamado popularmente de chorume, que pode cair em fontes de água e causar contaminação por excesso de carga orgânica, aumentando a DBO (Demanda Bioquímica do Oxigênio) e a DQO (Demanda Química do Oxigênio).

Em uma saca de café conilon (60 Kg), 40%, aproximadamente, são cascas. Na saca de café arábica, também de 60 Kg, 50% são cascas. O produto que antes era descartado e visto como um problema para os cafeicultores, ago-

Reaproveitamento além da casca O Brasil deve produzir uma safra recorde de café em 2018, que pode superar 58 milhões de sacas, em meio a condições climáticas favoráveis e à bienalidade positiva da cultura, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O Espírito Santo é o 2º maior produtor brasileiro de café e o 1º da variedade conilon. O Estado é responsável por 22% da produção nacional. Atualmente, existem 435 mil hectares em produção no Estado. A atividade cafeeira é responsável por 35% do Produto Interno Bruto (PIB) Agrícola capixaba.

A cafeicultura é a principal atividade agrícola do Espírito Santo.

Está presente em 60 mil das 90 mil propriedades agrícolas do Estado, segundo o Incaper.

A Fazenda Venturim espera colher 4,5 mil sacas beneficiadas este ano. Isso irá gerar algo em torno de 1,8 mil sacas somente de cascas de café. Além disso, será preciso muitos litros de água para a lavagem dos grãos e horas de secagem até que o café esteja pronto para a comercialização. Mas, a palavra “desperdício” foi retirada da prosa diária da propriedade e substituída por “reaproveitamento”.

"A gente tenta, no nosso dia a

dia, encontrar maneiras de reaproveitar tudo o que for possível.

Nada é desperdiçado. A água da lavagem e do descasque do café é utilizada na irrigação da lavoura.

Já durante a secagem, a película que reveste o grão - pergaminho é usada para alimentar o secador, substituindo a lenha. Desta forma, fechamos a cadeia", explica o cafeicultor Isaac Venturim, 38.

O poder calorífico do resíduo da secagem - pergaminho - é de 4.200 quilos/caloria por quilo. Já o da lenha é de 4.500 quilos/caloria.

Por ser muito próximo é uma excelente alternativa de aproveitamento nas caldeiras e fornalhas usadas na secagem dos grãos de café.

Além disso, o pesquisador Romário Gava Ferrão, do Incaper, revela outra utilização para a palha do café. "Entre as linhas do cafezal, a palha ajuda a reter água e proteger o solo da lavoura", diz.

Nos últimos anos, o Espírito Santo viveu uma das maiores crises hídricas dos últimos 80 anos.

Produtores rurais viveram as piores experiências em suas lavouras de Norte a Sul do Estado. Por isso, buscar alternativas economicamente, socialmente e ambientalmente para as propriedades é o maior desafio do homem do campo.

ra está retornando para a lavoura de forma ambientalmente correta.

"O processo funciona assim: tiramos os grãos do pé e, antes de secar, descascamos o fruto.

Somente os grãos descascados vão para o secador. Já as cascas são depositadas para decompor.

Quando a decomposição está pronta, agregamos esterco de galinha (resíduo da avicultura) e assim temos o adubo orgânico pronto para ser aplicado no cafezal", revela Isaac.

como fazer a compostagem 1) Coloque em um monte todo o resíduo que foi gerado na propriedade, não só a casca do café, mas também outros resíduos orgânicos gerados, como a roçada do jardim, restos de outras culturas.

2) Acrescente uma fonte de fermentação em camada.

O melhor é que seja de origem animal para dar início à decomposição realizada pelos microrganismos.

3) Como o processo é biológico, devem ser monitoradas a temperatura, a umidade e a aeração 4) É preciso ficar revolvendo essa massa por 90 a 120 dias, quando ocorre o processo de decomposição ou mineralização da matéria orgânica.

10 | n e g ó c i o r u r a l

Edição12-Final.indd 10

06/06/2018 16:37:12

Os irmãos Lucas e Isaac Venturim comandam a fazenda em São Domingos do Norte, Noroeste do Espírito Santo n e g ó c i o r u r a l | 11

Edição12-Final.indd 11

06/06/2018 16:37:17

"Tudo que for possível fazer para que as propriedades sejam autossustentáveis é recomendado pelo Incaper. Aprendemos muito com a seca prolongada que assolou o Espírito Santo. E isso fez o produtor rural pensar em alternativas para melhorar a produção.

Hoje, nada pode se perder. Tudo tem que ter uma segunda finali-

dade. O problema tem que virar solução. Isso requer um trabalho integrado entre o homem do campo e os pesquisadores. Essa união trará bons resultados no futuro", afirma o pesquisador.

Além de uma solução sustentavelmente correta, a utilização da casca do café e a reutilização da água da lavagem e do pergaminho trazem

benefícios econômicos ao produtor.

"Nosso custo de produção do café cereja descascado caiu 35% com a reutilização dos produtos que antes não eram aproveitados no método convencional. Ganha a natureza, que está sendo menos agredida e ganha também o produtor que consegue aumentar a renda com essa economia", revela o cafeicultor.

cooPeRaTiva iNceNTiva PRÁTicaS SuSTeNTÁveiS NaS lavouRaS A Fazenda Venturim integra a Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel da Palha, no Noroeste do Espírito Santo, a maior cooperativa de café conilon do Brasil, com 54 anos de atuação. A Cooabriel oferece aos cooperados toda a assistência técnica para que as propriedades se tornem cada vez mais sustentáveis.

"Temos 22 profissionais que visitam os cooperados e oferecem assistência para melhoria da produção e manejo sustentável na produção do café conilon na nossa área de atuação", explica Perseu Perdona, coordenador técnico da cooperativa.

A visita nas propriedades não é a única assistência que os cooperados contam para transformar lavouras

convencionais em cultivos com menor custo de produção, socialmente justa e ambientalmente corretas. "A Cooabriel tem trabalhado em cada setor da cadeia de produção do café conilon para oferecer benefícios e melhorias aos nossos cooperados.

Contamos com vários programas nas áreas de gestão e finanças também.

Isso faz com que os custos caiam e a produção se torne mais eficiente", diz Perseu. coNiloN eficieNTe - A tecnologia é fator primordial para a eficácia da produção. Por isso, a cooperativa lançou o projeto Conilon Eficiente, desenvolvido com apoio do Sistema OCB-ES, e que trabalha além da assistência tecnológica, a capacitação

gerencial de grupos de produtores.

Atualmente, são 78 sócios assistidos em três grupos, com mais de 1.800 hectares de café, em 86 propriedades.

“Todo produtor procura opções para diminuir o custo da produção. É por isso que trabalhamos não só em campo, mas também na gestão financeira do cooperado. Ele precisa saber qual é o custo para buscar alternativas que tragam economia e aumento de renda para ele.

A Cooabriel conta ainda com programas de certificação, que garantem a origem de nossos cafés. Tudo para tornar as propriedades cada vez mais sustentáveis no Norte e Noroeste do Espírito Santo e Sul da Bahia”, finaliza o coordenador técnico da Cooabriel

cuidadoS a casca de café a ser utilizada na cova deve estar bem curtida, para evitar fermentação, o que poderá causar a morte da muda. quando utilizar a casca de café como cobertura morta, evitar colocar o material muito próximo do tronco da planta.

A casca do café é retirada durante o beneficiamento do grão

12 | n e g ó c i o r u r a l

Edição12-Final.indd 12

06/06/2018 16:37:33

S i v i lc u t u r a |

Texto: Julio Huber | foto: divulgação

Plantio de Pinus ajuda a diversificar produção rural

Há alguns anos, a cadeia produtiva da silvicultura capixaba compreendia basicamente quatro principais grupos de produtos: a madeira em tora, a lenha, o carvão vegetal e a borracha. Entretanto, esse segmento está se diversificando cada vez mais. Atualmente, a goma-resina, que é extraída do pinus, o palmito e o aumento na produção e comercialização de frutas nativas da Mata Atlântica incrementaram essa gama de produtos.

O cultivo de pinus é utilizado para a extração de goma-resina e, ao final do processo de extração, a madeira também é utilizada pelo setor madeireiro para diversos fins. A atividade se iniciou no Estado no ano de 2011, no município de Conceição do Castelo e hoje já está presente em vários municí-

pios da Região Serrana, expandindo-se para o as regiões Sul e Caparaó.

Os plantios de pinus despontam como uma ótima opção de uso em áreas ociosas ou marginais das propriedades rurais, preferencialmente em consórcios com outras culturas. O Estado tem vocação para produção florestal e disponibilidade de áreas para expansão, aliados com a alta produtividade, devido a fatores de clima e solo e programas de melhoramento genético do pinus, voltados para o rápido crescimento e elevada produtividade de goma-resina, como exemplo, o Pinus elliottii var. elliottii que vem sendo plantado por aqui.

Para apresentar o potencial desse setor, no último mês de abril o Grupo Resinas Brasil par-

ticipou da ExpoSul Rural 2018, no município de Cachoeiro de Itapemirim, expondo a atividade de resinagem de pinus e os seus derivados. O evento reuniu as principais cadeias produtivas rurais presentes em 29 municípios da região Sul do Espírito Santo.

Estiveram presentes no stand do Grupo, diversos produtores, microempresários e estudantes do setor do agronegócio do Estado, dentre outros interessados.

De acordo com representantes da empresa, a partir desse primeiro contatoIntegração com a atividade, que comnova a é relativamente no Estanatureza do, surgiram demandas de visitas técnicas visando conhecer na prática os cultivos de pinus, além de visitas em suas propriedades vislumbrando a implantação da cultura. n e g ó c i o r u r a l | 13

Edição12-Final.indd 13

06/06/2018 16:37:40

s i l v i c u lT u r a |

TexTo: Juliano rangel | foTo: divulgaÇÃo

Madeiras de qualidade em Santa Maria de Jetibá

A empresa Percalipto fica no município de Santa Maria de Jetibá

Você certamente já viu várias plantações de eucalipto no Espírito Santo, mas jamais viu uma plantação de eucalipto da espécie Cloeziana Vermelho, também conhecido como Eucalipto Sucupira. Esta variedade só se concentra em algumas regiões específicas no Brasil, especialmente e em grande escala na cidade de Capelinha, Minas Gerais.

As espécies cultivadas no Estado são apropriadas para celulose, carvão, pálets e caixarias, mas não são indicadas para tratamento por apresentarem baixa densidade: a

madeira é leve e racha quase que imediatamente após o corte e, por causa da grande concentração de celulose, o ataque de brocas e cupins também é imediato.

Considerado o melhor eucalipto para tratamento que, além da beleza, possui alta densidade e com grande durabilidade e principalmente garantia de 15 anos, Cloeziana Vermelho pode ser encontrado na Região Serrana do Estado, por meio de variados trabalhados.

Pensando nisso, a empresa Percalipto Comércio de Madeiras, de

Santa Maria de Jetibá, comercializa postes para cercas, caibros para telhados, pergolados, material para construção civil, parreiras, entre outros produtos, compostos em 100% com o Cloeziana Vermelho, que é tratado diretamente na cidade de Capelinha.

A empresa fica localizada na Rua Hermann Miertsckink, no Centro da cidade. Para mais informações, os interessados podem entrar em contato pelo telefone, que também é WhatsApp: (27) 99902-1038

14 | n e g ó c i o r u r a l

Edição12-Final.indd 14

06/06/2018 16:37:41

TexTo e foTos: Julio Huber – rio grande do sul

| n ac i o n a l

os segredos da arte de se produzir vinhos e espumantes premiados A cada ano cresce o número de brasileiros que passam a apreciar um bom vinho e um saboroso espumante. E o Brasil tem se destacado não apenas pelo aumento do consumo, mas também pelo aumento da qualidade e quantidade de vinhos e espumantes produzidos.

O resultado positivo deste importante setor agrícola brasileiro só é possível graças ao uso de tecnologias, às pesquisas, ao cultivo de variedades de uvas mais produtivas, ao aumento de qualidade dos frutos e ao empenho cada vez maior dos produtores e vinícolas. E todos estão colhendo não só bons frutos, mas também obtendo um crescimento nas vendas e no faturamento.

Foi com o objetivo de entender um pouco mais sobre essa verdadeira arte de produzir alguns dos melhores espumantes do mundo que a reportagem da Revista Negócio Rural viajou mais de dois mil quilômetros até os municípios de Bento Gonçalves e Garibaldi, no Rio Grande do Sul, que se destacam internacionalmente na produção de vinhos e espumantes. É na Serra Gaúcha que estão alguns dos principais atores desse setor. O aumento da qualidade dos vinhos, dos espumantes, dos sucos e demais derivados da uva tem sido o fator primordial para que cada vez mais brasileiros passem a consumir esses produtos nacionais.

De acordo com o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), são aproximadamente 1,1 mil vinícolas espalhadas pelo país, o que agrega mais de 20 mil famílias na produção de uvas, a maioria instalada em pequenas propriedades (média de dois hectares por família).

O país se consolidou como o quinto maior produtor da bebida no Hemisfério Sul e é um dos mercados que cresce mais rapidamente no mundo. A estimativa é de que 90% dos vinhos produzidos no Brasil são do Rio Grande do Sul. Segundo os cadastros vitícola e vinícola, em 2017 o estado possuía 673 vinícolas ativas e 15 mil famílias produtoras de uva.

Só na Serra Gaúcha estão mais de 200 vinícolas.

As uvas produzidas pela família de Ildo e Matheus Marondin são usadas em espumantes premiados internacionalmente n e g ó c i o r u r a l | 15

Edição12-Final.indd 15

06/06/2018 16:37:44

A família Spadari se orgulha de produzir uvas para um dos mais premiados espumantes do Brasil

TRadição ceNTeNÁRia, MaS TÉcNicaS difeReNTeS Na maioria das famílias de produtores de uvas do Rio Grande do Sul, a tradição familiar de se produzir um bom vinho é passada há várias gerações, principalmente de famílias de descendentes de italianos. É o caso de Leonardo Spadari, filho do casal Luiz e Neiva Spadari, de Pinto Bandeira. Ele está todos os dias cuidando das lavouras, e comentou que sempre procura inovar na propriedade.

“Até pensei em sair para trabalhar na cidade, mas hoje meu foco é

aqui na propriedade. Penso em ampliar a produção e melhorar sempre.

Eu gosto muito do que faço”, afirma.

Outro exemplo é o jovem Matheus Marodin, que atualmente está tomando a frente dos negócios da propriedade da família, que era de seu avô, e que fica em Santo Alexandre, interior de Garibaldi.

Ele acrescentou que sempre está em busca de inovações. “A gente tenta buscar aprimoramentos para conseguir manter a sucessão, que eu recebi do meu pai, que recebeu

do meu avô. Participo de muitos cursos, que contribuem para inovar na propriedade”, destacou.

E a sucessão familiar, para ele, veio naturalmente, já que ele começou a trabalhar nos plantios aos 14 anos. “Quando comecei a ajudar o meu pai, eu me integrei à produção, e hoje não saberia fazer outra coisa a não ser dar continuidade a esse trabalho”, explicou o jovem, que é formado em administração de empresas e possui duas pós-graduações.

“Meu pai foi um dos primeiros cooperados da garibaldi. eu sempre trabalhei com vinhos e espero que a tradição continue na família. É muito bom ver os espumantes da garibaldi cada vez ganhando mais prêmios” Ivo da Costa, 70 anos, produtor de uvas da Garibaldi e morador do município de Monte Belo do Sul

16 | n e g ó c i o r u r a l

Edição12-Final.indd 16

06/06/2018 16:37:51

Cooperativas garantem renda de milhares de famílias Como diz o ditado popular: “uma andorinha só não faz verão”.

E esse ditado pode ilustrar o sistema de cooperativismo que agrega milhares de famílias no Rio Grande do Sul, dedicadas à produção de uvas para obter vinhos, espumantes, sucos e derivados.

Duas das mais importantes cooperativas vinícolas do Brasil Aurora e Garibaldi - contribuem para a manutenção da renda de quase 1.500 famílias da região. O sommelier e enólogo da Cooperativa Aurora, William Paim, contou que a vinícola oferece assistência técnica e garante a compra de toda a uva produzida.

“Temos uma equipe de agrônomos que visita os vinhedos o ano inteiro. O pagamento aos produtores leva em consideração o teor de açúcar da uva. Se a uva estiver com teor acima do estabelecido como base, entre outros fatores, ele recebe 20% a mais em seu carregamento. Essa é uma forma de incentivarmos a melhora na qualidade dos produtos”, conta William.

Segundo ele, de acordo com a legislação brasileira de produção da bebida, não é permitido produzir vinhos com teor de açúcar menor que 12. Mesmo assim, a Aurora recebe essa produção, pagando 20% a menos que o valor

Luiz Spadari está sempre em busca de inovações e do aumento da qualidade

base pelo quilo da uva, e utiliza a fruta para outros produtos.

“Dessa forma, garantimos a compra de toda a produção dos nossos cooperados, passando uma segurança a essas famílias”, destaca o enólogo. O cooperado Luiz Spadari, 56 anos, da localidade de Pinto Bandeira, enfatiza a garantia de venda dos produtos por meio da cooperativa.

“Temos segurança e podemos acompanhar todo o processo a partir da chegada das uvas na vinícola. O preço que eles nos pagam é bom e temos um incentivo se produzirmos uvas com mais qualidade”, conta.

Ele ainda conta que se fosse produzir seu próprio vinho ou espumante, os investimentos seriam muito caros em equipamentos e tecnologias.

“Além disso, a Aurora tem o nome, e isso não tem preço”, enfatiza.

Matheus Morodin, cooperado da Vinícola Garibaldi, também fala com entusiasmo sobre a cooperativa da qual participa. “Hoje a cooperativa é a nossa segunda casa. Temos um conforto quando pensamos em todo o processo de produção até o recebimento do pagamento pela nossa produção.

Se não fosse a cooperativa, seria muito difícil produzir, sem a garantia de venda”, afirmou.

Maior vinícola do Brasil conta com mais de mil famílias dedicadas à produção Produzir alguns dos melhores vinhos do Brasil e espumantes premiados internacionalmente um deles já tendo sido eleito o 8º melhor do mundo – não é uma tarefa simples. Imagine, então, que essas uvas sejam provenientes de muitas das 1.100 famílias que integram a Cooperativa Vinícola Aurora, a maior do Brasil, e que fica no município de Bento Gonçalves.

Além de ser a maior produtora de vinhos do Brasil, a Aurora também é uma das mais premiadas do país, tendo conquistado mais de 580 medalhas. Esse re-

sultado só é possível graças ao empenho dos seus cooperados, que recebem orientações técnicas durante todo o ano e estão sempre antenados com as novidades do setor e com as novas técnicas para melhorar a qualidade de seus frutos.

O resultado desse empenho conjunto, entre as famílias e a cooperativa, é o aumento da lucratividade. Além do crescimento no mercado interno, a Aurora está mirando o mercado externo, já que seus produtos estão conquistando paladares em todo o mundo.

De acordo com o sommelier e enólogo da Aurora, Willian Paim, cerca de 40% da produção da cooperativa são destinados ao suco, já que é um mercado crescente. A capacidade total de armazenamento da Aurora é de 73 milhões de litros.

“Durante a safra, nossos 1.100 cooperados entregam cerca de 65 milhões de quilos de uvas. Em 2017 tivemos um recorde de 73 milhões de quilos de uvas. Anualmente produzimos entre 55 a 60 milhões de litros de vinhos, espumantes, sucos e derivados”, contou o enólogo. n e g ó c i o r u r a l | 17

Edição12-Final.indd 17

06/06/2018 16:37:55

Dedicação na produção de uvas dos espumantes premiados Para se produzir vinhos cujas qualidades são reconhecidas internacionalmente é preciso muito empenho e dedicação de milhares de famílias.

Uma dessas famílias é a do agricultor Luiz Spadari, 56 anos, do município de Pinto Bandeira. Luiz, a esposa Neiva Coghetto Spadari e o filho Leonardo Luiz Spadari produzem, anualmente, cerca de 250 toneladas de uvas. Muitas foram usadas na produção do premiado Moscatel da Cooperativa Vinícola Aurora. “É um orgulho para nós, que sempre buscamos a qualidade, ver a

cooperativa transformando nossas uvas nesse espumante premiado. E o melhor é que o consumidor está dando esse retorno. Isso nos motiva muito e vamos brindar o sucesso com o Moscatel, que de fato é muito bom”, afirma Luiz. Atualmente, a família possui sete hectares plantados, o que corresponde a quase 20 mil pés de 11 variedades.

“Meu pai já começou a produzir a Cabernet Franc e a Merlot, há aproximadamente 70 anos. Atualmente, temos outras variedades de uvas, muitas para a produção de

espumantes, sendo que alguns são os mais premiados do Brasil. Isso é um orgulho para nós”, afirma. Com as variedades mais desenvolvidas, atualmente é possível colher uvas um ano após o plantio. Antigamente era preciso de dois a três anos para a primeira colheita.

A esposa de Luiz, Neiva Spadari, também é de família de produtores de uvas. “Aos 10 anos de idade, eu ia para baixo da parreira junto com meus pais.

Sempre trabalhei muito. A delicadeza feminina em todo o processo é muito importante”, brinca a agricultora Neiva.

Como são produzidas as uvas para os melhores espumantes do mundo As vinícolas da Serra Gaúcha têm se destacado, nos últimos anos, pela produção de alguns dos melhores espumantes do mundo. Mas, para produzir essas bebidas premiadas mundialmente e tão apreciadas, não basta apenas o trabalho das vinícolas, é preciso uma atenção toda especial também no campo, onde essas uvas são produzidas.

E foi tentando descobrir um pouco do segredo dessas uvas de tão alta qualidade que a reportagem da Revista Negócio Rural visitou a propriedade da família Marodin, em Santo Alexandre,

interior de Garibaldi, que produz uvas para sucos, espumantes e vinhos finos. Eles são cooperados da Cooperativa Vinícola Garibaldi.

Mateus Marodin contou que a produção é sempre adequada ao que os agrônomos da cooperativa orientam. “Sempre buscamos produzir como eles solicitam. Se a demanda da cooperativa for de uma uva voltada para um vinho tinto, buscamos uma uva que atenda a essa demanda”, contou.

A produção de uvas para os premiados espumantes tem se intensificado nos últimos anos. Antes, o pai de Matheus, Ildo Marodin, produzia uvas para vinhos tintos finos. “Nos últimos anos, começamos a migrar para a produção de uvas para espumante. Sempre buscamos ver a necessidade da cooperativa e nos adequar ao que eles precisam”, explicou o jovem produtor.

E os resultados estão sendo satisfatórios. “Para 2019 teremos mais parreirais produzindo uvas para espumantes, e se houver a necessidade, vamos até aumentar a produção.

Saber que nossas uvas podem estar dentro de garrafas de espumantes que estão entre os melhores do mundo é uma satisfação muito grande”, disse, entusiasmado.

E ele completou falando da importância da qualidade dos

frutos. “Sabemos que é preciso ter uma matéria prima de qualidade para chegar a resultados como esses. E, para isso, não bastam apenas máquinas modernas, mas um produto excelente. Quando vemos esses cachos de qualidade, a satisfação aumenta ainda mais”, afirmou.

CUIDADOS – Matheus também fala sobre os cuidados especiais com as uvas usadas para produzir espumantes. “Temos que fazer a poda diferenciada e o espaçamento entre galhos é diferente das outras variedades. É preciso entrar mais luminosidade na videira durante a produção.

O custo devido a esses cuidados é um pouco mais elevado e também o tratamento é mais complexo. Já a colheita é mais fácil e o serviço rende muito mais durante a colheita”, contou.

Ildo Marodin, pai de Matheus, fala com orgulho de ver o filho comandando os negócios. “Quando meu pai me entregou o parreiral, eu comecei a ampliar. Antes era usado outro sistema de produção. As máquinas eram diferentes. Depois fomos modernizando nossos equipamentos e mudando as variedades. Eu fui um dos pioneiros na produção da Cabernet Sauvignon na região. Hoje temos mais de 10 variedades de uvas, sendo que o foco atual são uvas para espumantes e vinhos finos”, relatou.

18 | n e g ó c i o r u r a l

Edição12-Final.indd 18

06/06/2018 16:37:57

Tecnologia e qualificação garantem aumento de produção e de qualidade

dicas Por qual vinho começar A dica é adaptar o paladar, não mude de um vinho suave diretamente para um seco. Comece por meios secos. Prefira vinhos de uvas como Pinot Noir e Merlot.

Pesquise Sites na internet são ótimos aliados para quem está iniciando no mundo do vinho. É possível encontrar muitos especialistas dando dicas sobre rótulos e uvas adequadas.

As vinícolas brasileiras possuem as melhores tecnologias do mundo

O gerente de marketing da Vinícola Garibaldi, Maiquel Vignatti, relatou que as tecnologias empregadas nas lavouras de uvas e nas vinícolas são as mais modernas do mundo. Ele ainda garante que boa parte das vinícolas do Velho Mundo (europeias) não possuem tamanha tecnologia e preocupação com a qualidade em todo o processamento, como ocorre no Brasil.

“Em vinícolas de regiões tradicionais de produção de vinhos na França, é comum ver até cachorros nas vinícolas, o que é totalmente normal por lá. Aqui, ‘tá louco’, cachorro não pode chegar nem nos vinhedos, imagine nas vinícolas.

Assim, temos certeza da qualidade dos produtos”, enfatizou.

O produtor Matheus Marondin, cooperado da Vinícola Garibaldi, “Sempre trabalhei fazendo os cortes (mistura) dos vinhos e a transferência dos vinhos dos barris. Mudou muita coisa de alguns anos para cá. A qualidade sempre vem melhorando e os equipamentos são melhores para manusear. O meu vinho preferido é o Merlot, mas no verão gosto muito dos brancos. Trabalhar aqui é muito prazeroso” Romeu Werner, 35 anos trabalhando na Aurora

conta que para melhorar cada vez mais a qualidade dos frutos, também é preciso aprimoramento e qualificação. Ele já participou de diversos cursos e até foi em busca de conhecimentos na Europa.

“Eu sou formado em Administração e tenho duas pós-graduações.

Tentamos fazer cursos que envolvam a viticultura, mas sempre cuidando da gestão da propriedade. Já fui me capacitar até na Europa para empregar o conhecimento na nossa propriedade”, afirma.

Matheus conta que em Portugal e na Itália, ele viu modelos de conduções para as videiras diferentes das usadas no Brasil. “No futuro, podemos aprimorar, mas tudo depende do clima e de outros fatores. Uma dessas viagens, inclusive, foi por intermédio da cooperativa”, contou.

Uvas americanas As uvas americanas são mais indicadas para o consumo in natura e também para a elaboração de sucos. Entretanto, no Brasil essas uvas também são usadas para a produção de vinhos de mesas, normalmente os suaves.

Uvas europeias Essas variedades são indicadas para a produção de vinhos, especialmente os mais finos, com mais estrutura e volumes, e podem ser usadas para envelhecimentos.

As mais usadas no Brasil Quatro uvas são as mais usadas no Brasil para a elaboração de vinhos: Cabernet Sauvignon (usada para elaborar vinhos mais encorpados e com mais estrutura); Merlot (uva de média estrutura que agrada a iniciantes e quem aprecia vinho); Pinot Noir (indicada para quem está iniciando e que pode ser harmonizada com peixes, pois tem baixo teor de taninos) e a Chardonnay (uva branca versátil e usada para vinhos brancos jovens e espumantes).

Harmonização Normalmente se toma vinhos brancos para harmonizar com peixes e vinhos tintos para massas e carnes. Mas a dica é que pode sim tomar vinhos como Pinot Noir com salmão, por exemplo, ou até rosés com frutos do mar.

O Merlot pode ser tomado como acompanhamento desde o bife com batata frita a um lombinho ou uma carne como costela. Vinhos de uvas como Cabernet Sauvignon ou Tanat são indicados para carnes mais gordurosas, como picanha e churrasco, além de queijos mais gordurosos.

n e g ó c i o r u r a l | 19

Edição12-Final.indd 19

06/06/2018 16:38:01

entrevista

|

Texto: bruno faustino | foto: Gabriela Andrade

No comando do Nelore nacional Mineiro de nascimento e capixaba de coração, médico Nabih El Aouar é o novo presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil

"A carne bovina é forte, é saudável, já salvou muitas vidas e participou da evolução cognitiva do ser humano. Se hoje somos diferentes, é por causa do consumo da carne bovina, em especial da carne de nelore". Essas foram as palavras de Nabih Amim El Aouar, presidente da Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), em entrevista exclusiva para a Revista Negócio Rural.

Ele nasceu em Minas Gerais, na cidade de Teófilo Otoni. É filho de imigrantes libaneses, que chegaram ao Brasil em 1947, onde iniciaram um comércio e, posteriormente, adquiriram uma fazenda de criação de gado Nelore. Daí nasceu a paixão do novo comandante da ACNB. O médico cardiologista e pecuarista Nabih Amin El Aouar contou que ficou surpreso com o convite para assumir a presidência da associação.

Para ele, um desafio enorme.

"Receber o convite foi um 'baita' desafio. Eu já estou envolvido com a Associação Capixaba dos Criadores de Nelore há 15 anos. Nesse período, fui presidente durante quatro gestões, quase oito anos. Nos outros períodos, fiz parte da diretoria. Foram anos de aprendizado em que pude desenvolver amizades, aproximação e contato com pecuaristas e representantes. E com isso, conseguimos trazer muitos benefícios para o setor pecuário do Espírito Santo", lembra.

Ao assumir a ACNB, o novo presidente espera levar as conquistas do Espírito Santo para todo o Brasil. "Quando entramos, nós nos comprometemos a fazer um trabalho diferente. As associações de raça do país acabam se dedicando muito para a elitização e sofisticação da raça. No Espírito Santo, fi-

zemos diferente. Nós buscamos o lado cultural, científico de fomento do gado Nelore. Não podemos nos esquecer do esforço para a capacitação de mão de obra de estudantes universitários e profissionais ligados ao setor. E isso é o que queremos levar para o restante do Brasil", revela Nabih.

Estima-se que 80% do rebanho bovino de corte tenha sangue da raça Nelore, ou seja, mais de 100 milhões de cabeças, segundo dados da Associação Brasileira de Criadores de Nelore do Brasil. Verifica-se a criação de animais Nelore em todos os estados do país. No extremo Sul do Brasil, em função das condições climáticas, a raça tem menor representatividade no rebanho. Os maiores rebanhos encontram-se nos estados das regiões Centro-Oeste e Norte do país.

20 | negócio rural

Edição12-Final.indd 20

06/06/2018 16:38:04

QUATRO PILARES - Mesmo com pouco tempo à frente da Associação de Criadores de Nelore do Brasil, Nabih Amin El Aouar já realizou algumas mudanças: a integração da diretoria, a aproximação do associado, a valorização do produto e a capacitação de técnicos, professores e alunos, uma vez que são eles que ajudam no processo de mudança da pecuária brasileira.

"Quando entrei na ACNB, eu senti um ambiente diferente. O primeiro trabalho foi em cima da diretoria, que tinha que acreditar e confiar no projeto e nos meus objetivos. Acabamos com atritos, reduzimos as vaidades, e cada diretor começou a se sentir dono da associação, fazendo o mesmo papel do presidente, corresponsabilizando-se pela associação”, contou.

Outra mudança foi trazer o associado de volta para dentro da associação. “Tinha gente que nunca tinha entrado na sede da ACNB. A terceira mudança foi a de foco.

Antes, os animais eram os mais importantes. Continuaremos a incen-

tivar, mas o Nelore lembra alimento, e o produto final é uma carne de qualidade com segurança alimentar e assim chegamos ao novo slogan: 'Nelore, a carne do Brasil'. E o quarto ponto de mudança é a qualificação de quem atua no processo", frisa o novo presidente da ACNB. FAKE NEWS E BARREIRAS NA EXPORTAÇÃO - As últimas notícias de embargo à importação de carne brasileira trazem certa preocupação ao presidente da ACNB. Mas, segundo Nabih, medidas já estão sendo tomadas para minimizar os prejuízos.

"Nós nos reunimos com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, em Brasília, e com o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, João Martins, para discutir esse assunto.

Eles nos prepararam para esse problema. O Brasil é, atualmente, o foco da cadeia produtiva de alimento e, devido à concorrência de outros países, vamos sofrer pressão. Todo dia ouvimos conversas sobre malefícios da carne. Mas, em muitos desses artigos,

não existe fonte confiável. É nota fantasiosa, espetaculosa. Por isso, precisamos estar preparados", declara Nabih.

FUTURO - Oferecer carne de qualidade com segurança e preço acessível. É o que espera o novo comandante da Associação Brasileira de Criadores de Nelore nos próximos anos. "O ponto mais importante da cadeia produtiva da pecuária é o consumidor. É claro que precisamos valorizar o pecuarista, as instituições de ensino, a indústria frigorífica, as distribuidoras, o varejista e o setor de exportações”, disse.

Mas, segundo ele, o consumidor é o mais importante. “Por isso, não importa se é brasileiro ou estrangeiro. O produto final (carne) precisa ser saudável, com segurança alimentar, com qualidade, saborosa, macia, com informações de procedência e, acima de tudo, com preço acessível para que todos, independente do poder aquisitivo, tenham direito à carne do Nelore. É o que espero deixar de legado à frente da ACNB", finaliza.

n e g ó c i o r u r a l | 21

Edição12-Final.indd 21

06/06/2018 16:38:06

giro rural |

TexTo: Julio Huber

Senar-eS orienta sobre legislação Tributária Rural e implantação do eSocial Equipe do Senar-ES promoveu palestras em três municípios

O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Espírito Santo (Senar-ES) promoveu seminários sobre Legislação Tributária Rural e a implantação do eSocial, em Venda Nova do Imigrante, Colatina e Vitória. Mais de 170 contadores, empresários e outros interessados sobre as novidades a respeito do assunto participaram dos eventos.

Os seminários levaram atualizações sobre a nova realidade trabalhista, previdenciária e fiscal que passou a vigorar neste ano, com a implantação do eSocial, um instrumento de unificação das informações referentes à escrituração das obrigações fiscais, previdenciárias e trabalhistas. Ele tem como finalidade padronizar a transmissão, a validação, o armazenamento e a distribuição de in-

formações, constituindo um ambiente nacional único para esses dados.

As empresas com faturamento abaixo de R$ 78 milhões (receita bruta), em 2016, inclusive rurais, têm até o dia 1º de novembro de 2018 para começarem a utilizar o eSocial e os entes públicos têm até 1º de maio de 2019.

Para falar sobre o assunto, os disseminadores do eSocial, representantes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), da Receita Federal e da Caixa Econômica Federal, vieram ao Estado. A Secretaria da Fazenda do Espírito Santo também participou, destacando a importância da emissão de nota fiscal de produtor rural, a fim de comprovar a produção, transportar mercadoria e ajudar a aumentar a receita dos municípios.

lei NacioNal: MeNoS buRocRacia PaRa PRodução aRTeSaNal Um projeto de lei nacional, que foi aprovado pelo Senado no final do mês de maio, promete impulsionar a produção de queijos, embutidos e outros produtos de origem animal feitos de forma tradicional por famílias do interior do Brasil.

O Projeto de Lei (PL 3859/15) foi aprovado no último mês de março na Câmara Federal, por unanimidade, pelos deputados.

No Senado, o projeto recebeu o número PLC 16/18 e também foi aprovado por unanimidade.

O texto define o produto artesanal como aquele feito segundo métodos tradicionais ou regionais próprios, empregando-se boas práticas sanitárias.

Esses produtos serão identificados em todo o território nacional com um selo único com a inscrição ARTE e estarão sujeitos à fiscalização de órgãos de saúde pública dos estados e do Distrito Federal.

O registro do fabricante e do produto, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização seguirão as normas da Lei 1.283/50 quanto aos aspectos higiênico-sanitários e de qualidade. Com a aprovação, o texto segue para a sanção presidencial.

A chef Roberta Sudbrack, que em 2017 teve 160 quilos de queijos e embutidos artesanais de boa qualidade e dentro do prazo de validade apreendidos pela Vigilância Sanitária durante o Rock in Rio, disse que considera o projeto uma “vitória histórica” e que "os benefícios são para um país inteiro que terá a oportunidade de consumir um produto nacional de grande qualidade”. O projeto foi proposto pelo deputado federal Evair de Melo (PP).

22 | negócio rural

Edição12-Final.indd 22

06/06/2018 16:38:07

giro rural

agroindústrias capixabas contam com regulamentação própria

A família de Bernadete Lorenção, que produz socol em Venda Nova do Imigrante, será uma das beneficiadas

Com o objetivo de ampliar o âmbito de comercialização e a quantidade de estabelecimentos regularizados, além de promover a inclusão socioeconômica das pequenas agroindústrias, o governador do Estado, Paulo Hartung, sancionou a normativa que estabelece uma regulamentação específica para as agroindústrias de pequeno porte de produtos de origem animal.

Com a nova legislação, aproximadamente 600 empreendimentos em todo o Estado terão a oportunidade de sair da informalidade e ampliar o mercado. Isso porque novas diretrizes foram estabelecidas para o registro, a inspeção e a fiscalização das agroindústrias de pequeno porte que fabricam produtos e subprodutos de origem animal no Espírito Santo.

O governador Paulo Hartung afirmou que a nova lei vai auxiliar a desenvolver, de maneira sustentável, a agroindústria do Estado.

“Queremos facilitar a vida de quem quer empreender em terras capixabas. Tirar as pedras burocráticas de quem quer gerar emprego e renda em nosso Estado. É importante que eles não fiquem preocupados com procedimentos burocráticos e possam focar em produtos de qualidade e, a partir disso, abrir o mercado

para os produtos capixabas”, destacou.

As diretrizes anteriores foram formuladas com foco na produção de larga escala, tornando a inserção dos pequenos produtores difícil e onerosa. A ideia é desburocratizar, mas com a garantia de inocuidade e qualidade sanitária dos produtos de origem animal ofertados para o consumo da população capixaba.

Pela nova proposta, serão revistas algumas questões de infraestrutura do estabelecimento, sendo priorizada a utilização do Manual de Boas Práticas de Fabricação de Alimentos (BPF), com foco na qualidade do produto final a partir de análises laboratoriais constantes.

O empreendimento considerado como agroindústria de pequeno porte, para efeito da referida lei, deve ser destinado exclusivamente ao processamento de produtos de origem animal, possuir área útil construída não superior a 200 metros quadrados e utilizar mão de obra familiar nas atividades econômicas (sendo permitida a contratação de até cinco funcionários).

Quanto à localização, pode estar em zona rural ou urbana, sendo que os produtos devem ter características tradicionais, culturais ou regionais e utilizar matérias-primas produzidas na região.

gRaNJaS do eSPíRiTo SaNTo foRaM RegiSTRadaS e eSTão RegulaReS Cerca de 95% dos estabelecimentos comerciais ligados à avicultura no Espírito Santo estão devidamente regularizados pelo registro de granjas, de acordo com um levantamento recente feito pela Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (Aves). Segundo dirigentes do setor, o número reflete o empenho dos avicultores do Estado em cumprir todas as exigências em termos de biosseguridade para receber a certificação.

A data limite, estipulada pela Instrução Normativa (IN) nº 08, de 17 de fevereiro de 2017, encerrou-se no último dia 3 de março.

A partir de então, as granjas só poderão alojar novas aves mediante apresentação do requerimento de registro ao Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf).

Menos de 5% da produção ainda não havia dado entrada ao processo de registro, o que deve ocorrer gradativamente aos novos alojamentos. De acordo com o diretor executivo da Aves, Nélio Hand, a entidade que representa os avicultores no Estado não mediu esforços para que esse prazo fosse cumprido, sem a necessidade de pedir prorrogação.

Diversas reuniões foram realizadas com avicultores, representantes do Idaf, da Superintendência Federal de Agricultura (SFA-ES) e do Ministério da Agricultura, Pecuária, e Abastecimento (Mapa), com objetivo de resolver as problemáticas e dúvidas que atrapalhavam o andamento dos registros.

“Em nenhum momento solicitamos a prorrogação. Criamos uma cartilha com orientações para o registro, a disponibilização pelo Idaf dos check-lists, entre outras ações”, disse.

n e g ó c i o r u r a l | 23

Edição12-Final.indd 23

06/06/2018 16:38:07

REALIZAÇÃO:

24 | negócio rural

Edição12-Final.indd 24

06/06/2018 16:38:08

giro rural

feira agrícola internacional apresentará inovações para o setor rural O Simpósio do Papaya Brasileiro é um dos eventos que fazem parte da programação da Feira

Com o objetivo de apresentar a força do agronegócio do Espírito Santo, a Milanez & Milaneze e a VeronaFiere realizarão a Feiragricola – Feira Internacional de Inovação Agrícola e Pecuária. O evento será realizado no Carapina Centro de Eventos, no município de Serra, de 22 e 25 de agosto de 2018.

Em todo o Brasil, o motor propulsor do desenvolvimento econômico é o agronegócio, e no Espírito Santo não é diferente. Atividades como as relacionadas à cafeicultura, ao cultivo de mamão, pimenta-do-reino, inhame, tomate, feijão, cacau, carne e leite, cultivo de florestas e tantas outras são exemplos do potencial capixaba.

E sobre o mamão, atualmente o Espírito Santo concentra cerca de 7 mil hectares plantados, é o segundo maior produtor brasileiro e o primeiro em exportação da fruta, com participação de quase 40% nas exportações brasileiras, que somaram US$ 41,5 milhões em 2017.

Dada a importância do cultivo no

Estado, durante a Feiragricola será realizado o Simpósio do Papaya Brasileiro, principal fórum de atualização que integra os agentes da cadeia produtiva do mamão.

“Produção e Sustentabilidade Hídrica” é o tema central da edição de 2018 do simpósio, cujo objetivo é promover a inovação tecnológica e o intercâmbio técnico-científico entre pesquisadores, empresários, produtores e outros segmentos que integram a cadeia produtiva do mamão.

A Feiragricola conta com a correalização da Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Faes/Senar/Sindicatos Rurais); da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB-ES); e do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SebraeES) e tem apoio do Governo do Estado do Espírito Santo, por meio da Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag).

A feira irá reunir expositores das

áreas de produção vegetal, produção animal, máquinas e implementos agrícolas, instituições financeiras, agricultura familiar e iniciativas focadas em sustentabilidade. “Nosso objetivo é reunir as principais novidades do setor em um ambiente propício à geração de negócios, além de promover a disseminação de tecnologias que ajudem o produtor rural a produzir mais e com mais qualidade”, destaca Alberto Piz, diretor da Milanez & Milaneze.

FEIRAGRICOLA • FEIRA iNTeRNacioNal de iNovação agRícola e PecuÁRia Data: de 22 a 25 de agosto de 2018 Local: Carapina Centro de Eventos, Serra, Espírito Santo Telefone: 55 (27) 3434-0600 (27) 3434-0627 E-mail: info@feiragricola.com.br www.feiragricola.com.br n e g ó c i o r u r a l | 25

Edição12-Final.indd 25

06/06/2018 16:38:11

Verduras da Estação Abril • Maio • Junho

Agrião

Chicória

Espinafre

Louro

Mostarda

Nabo

Rabanete

Repolho

Salsa

ASSINE!

iNgRedieNTeS 10 ovos 2 copos de açúcar 2 copos de suco de laranja

1 ANO - 6 EDIÇÕES Bancas R$ 9,90 por edição

01 ano de revista: R$ 59,40

Assinatura: R$ 7,90 por edição

01 ano de revista: R$ 47, 40

Pagamento em boleto bancário Mais informações: revistanegociorural@gmail.com

Economize

R$

Pudim de ovos com laranja

,

12 00

por ano

Produtos e serviços para a agricultura?

Anuncie na Revista

Negócio Rural A maneira mais fácil de abrir a porteira da propriedade e mostrar seu produto ou serviço a quem realmente interessa

Não perca tempo!

Entre em contato e conheça nossas opções de parcerias comerciais

caRaMelo 2 copos de açúcar

Modo de PRePaRo bata no liquidificador os 10 ovos, os 2 copos de suco de laranja e os dois copos de açúcar até formar uma massa homogênea. Reserve. caramelize a forma de pudim colocando os dois copos de açúcar e aqueça até derreter. em seguida, despeje a mistura. leve a forma ao forno em banho-maria. quando abrir fervura, marque 1 hora e está pronto. espere esfriar e desenforme.

(27) 3268-3389

revistanegociorural@gmail.com

Av. Presidente Vargas, nº 590 Sala 305 B - Centro - Domingos Martins - ES CEP 29.260-000

foNTe: iNSTiTuTo ovoS bRaSil

26 | negócio rural

Edição12-Final.indd 26

06/06/2018 16:38:16

PARTICIPE DA MAIOR FEIRA DO AGRONEGÓCIO DO ESPÍRITO SANTO

22 A 25 DE AGOSTO 2018

Pavilhão de Carapina - Serra - ES

RESERVE SEU STAND:

Realização

Correalização

Apoio Institucional

Tel: 27 3434.0627 info@feiragricola.com.br

Apoio

Parceiro de mídia

EMPRESA DO GRUPO

n e g ó c i o r u r a l | 27

Edição12-Final.indd 27

06/06/2018 16:38:18

Levar CONHECIMENTO e DESENVOLVIMENTO para o homem do campo é nossa grande missão.

Através de capacitação profissional e promoção social, incentivamos produtores, trabalhadores rurais e suas famílias a buscarem a melhor qualidade dos bens e serviços que ofertam. Somos a maior escola da terra porque acreditamos que a educação transforma pessoas e pessoas transformam o mundo.

www.senar-es.org.br Telefone: (27) 3185-9226 Av. Nossa Senhora da Penha, 1495 Torre A, 10º e 11º andar, Santa Lúcia, Vitória-ES

28 | negócio rural

Edição12-Final.indd 28

06/06/2018 16:38:19