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EM EVIDÊNCIA NA TV
FÁTIMA DAUDT
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Introdução: Jennifer Nunes Entrevista: Andréia Fioravante e Lucio Vaz
A prefeita reeleita de Novo Hamburgo, já foi apontada como uma das 50 gestoras mais influentes do planeta, é comumente apontada como referência de gestão pública em diversos meios de comunicação e possui uma estante cheia de prêmios outorgados por entidades de reconhecimento nacional e internacional, agora no MDB, torna-se um dos maiores expoentes nesse novo período do partido. A revista Em Evidência traz até você com exclusividade os melhores momentos da entrevista realizada no programa Em Evidência na TV, confira
Como prefeita da oitava maior cidade do Rio Grande do Sul, qual a importância da sua imagem para as mulheres na política e na tomada de decisões?
Eu era uma líder empresarial e fui presidente da Associação Comercial da nossa região, por cinco anos. Antigamente, não debatíamos muito sobre as diferenças entre homens e mulheres. Nós tínhamos o Comitê de Mulheres Empreendedoras e fazíamos um trabalho bastante forte, mas no mundo empresarial existe a meritocracia. Existem problemas ainda, a mulher não tem os melhores salários que o homem, portanto, ainda há muito o que fazer. Eu cheguei na política, em 2016, quando me filiei a um partido político. Na primeira vez que concorri, eu venci o pleito e assumi naquele ano, como prefeita de Novo Hamburgo. Quando fui trabalhar na política, percebi como é complicado, por isso passei a falar mais nesse tema. Nós ainda temos um modelo político no país, que está longe do que deveria ser, poucas mulheres acabam entrando para a política. Hoje, nós vemos que há um movimento mais crescente, mas mesmo assim as mulheres que conseguem chegar, têm que lutar muito, dentro dos seus partidos, para não serem abafadas. Nós temos muitos políticos homens, que entendem a necessidade de trabalhar a questão da mulher. É necessário que a mulher esteja exercendo o seu papel de liderança, como vereadora, senadora, governadora ou presidente.
A senhora venceu, pela segunda vez, o Prêmio Sebrae Prefeita Empreendedora. Que projeto o município de Novo Hamburgo desenvolveu para conquistar esse título?
Assim que eu cheguei à Prefeitura, a primeira coisa que fiz foi uma parceria muito forte com o Sebrae. A partir daí, nós desenvolvemos vários projetos e dois deles foram premiados. Eu recebi o Prêmio Prefeita Empreendedora Nacional, através de um trabalho que leva os nossos pequenos empreendedores de Novo Hamburgo, para participarem de Feiras, no Rio Grande do Sul e no Brasil, num processo de qualificação. Eles foram selecionados através de editais e receberam um aporte financeiro da Prefeitura, com a ajuda do Sebrae, para frequentar as feiras. Eu recebi o Prêmio Nacional e depois o Estadual, sobre Marketing Territorial. A pandemia foi difícil para todos os municípios, é bom lembrar que naquele período, principalmente, os nossos comerciantes e pequenos empreendedores estavam sofrendo muito. Nós fizemos em Novo Hamburgo, junto com o Sebrae, um trabalho que beneficiou em torno de 600 pequenos empreendedores, levando um novo modelo, para repensarem os seus negócios e conseguirem atuar na pandemia. Deu um resultado fantástico, todos eles tiveram crescimento, inclusive naquele período de pandemia. Esse trabalho foi usado como exemplo pelo Sebrae e levado a muitos outros municípios.
Como Novo Hamburgo tornou-se a segunda cidade que mais criou vagas de empregos no Brasil?
Eu assumi a Prefeitura, em 2017, e até 2019, trabalhamos a desburocratização. Antigamente, a média para abrir uma empresa na cidade era de 480 dias, o que é um absurdo. Hoje, abrimos uma empresa em dez minutos, totalmente on-line, se ela não for de alto risco. Para isso acontecer, nós tivemos que levar novos softwares de gestão para a Prefeitura e fazer a aquisição de vários equipamentos. Trabalhamos, também, a revitalização da cidade. Então, é uma história bastante longa, intensa e de muito trabalho. Em 2020, nós tivemos o resultado do esforço conjunto, conseguimos captar o Grupo Santander. A empresa que trabalha com o atendimento aos clientes e, ao mesmo tempo, com tecnologia, escolheu Novo Hamburgo, dentre vários municípios. No meio da pandemia, nós anunciamos a chegada do Santander, gerando cinco mil empregos de uma única vez. Hoje, já está em quase seis mil vagas. Com todo o trabalho que fizemos junto às empresas, nós demos um ambiente confiável para o empreendedor. Com isso, geramos muitos postos de trabalho, tornando Novo Hamburgo a segunda cidade, no Brasil, que mais gera empregos, proporcionalmente, ao seu número de habitantes, só perdemos para Osasco, em São Paulo. Hoje, nós temos um grande número de vagas todos os dias à disposição, para os nossos cidadãos.
A senhora foi destacada como uma das 50 líderes mundiais em governança ágil, pelo Fórum Econômico Mundial e pela Apolitical. Na América Latina foram indicados sete líderes, e a senhora foi a única mulher. Que medidas a sua gestão tomou para alcançar esse reconhecimento?
Eu fiquei realmente muito emocionada, quando tive esse reconhecimento do Fórum Econômico Mundial. Quando assumi como prefeita, descobri
que o município havia perdido um recurso do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) bastante significativo, por não cumprir um contrato. Junto com a secretária de Desenvolvimento Econômico, Paraskevi Bessa-Rodrigues, que foi muito importante no processo, começamos a tentar recuperar esse recurso. Nós fizemos um trabalho bastante forte, foi realmente muito intenso. Existem tantas histórias relacionadas ao assunto, que dariam um livro. No fim, tivemos o recurso recuperado. Foi um grande desafio. O acordo deveria ser executado em quatro anos, mas como estávamos recuperando, o BID nos deu dois anos para executar o contrato de 23 milhões de dólares. Eles pensaram que fossemos desistir, mas nós encaramos esse processo e conseguimos fazer no tempo determinado pelo BID, totalmente dentro dos critérios estabelecidos pelo banco. Tudo que tinha que ser feito, sem nenhum problema de prestação de contas. Nós fomos case para o banco. Por conta disso, eu palestrei em Medellín, na Colômbia, e em Washington, nos Estados Unidos. Isso entrou no radar do Fórum Econômico Mundial. Durante a pandemia, aquele projeto de ajudar os 600 pequenos empreendedores, conseguindo um resultado positivo nesse período difícil, foi o que me levou a ser considerada uma das 50 líderes disruptivas no mundo. O que me encheu de orgulho, mas eu sempre digo que isso não é um trabalho só da prefeita, nós temos uma equipe valorosa dentro da Prefeitura, portanto é uma realização de todos.
Como vice-presidente de Habitação da Frente Nacional de Prefeitos, quais projetos a entidade têm para auxiliar na crescente demanda por uma moradia digna no Brasil?

Voltando ao tema da pandemia, quando se dizia para ficarem em casa. Para algumas pessoas era mais desafiador ainda, pois não tinham uma moradia digna e estavam em áreas de risco. Então, é uma coisa absurda o que acontece no país e é algo que precisamos trabalhar muito. Quando se fala em Habitação, nós dependemos muito de projetos que venham do governo federal e estadual também, os municípios fazem a sua parte, mas é lá que está o problema, onde temos as invasões. Nós sentimos a dor do cidadão, que precisa de uma atenção especial para que ele tenha acesso a uma moradia digna. Em 2017, conseguimos recursos do Minha Casa, Minha Vida, nós construímos 300 unidades, beneficiando quase 1.000 pessoas. Possuímos o problema de moradias em áreas de risco, porque no período do auge do calçado, muitas pessoas vieram e acabaram ocupando essas áreas de forma desordenada. Sempre que temos grandes chuvas, nos preocupamos muito. Nós temos trabalhado muito na macrodrenagem, já diminuímos bastante os problemas de alagamentos na cidade. As pessoas também não possuem acesso ao trabalho, que é o melhor programa social que existe.
A senhora também é vice-presidente na Granpal. Como o municipalismo pode ajudar no desenvolvimento das cidades?
Eu sou totalmente municipalista,
sei que essa frase todo mundo repete, mas é no município que as coisas acontecem e onde o cidadão está. Não importa se o problema é de responsabilidade do governo federal, o cidadão não quer saber disso, ele vai procurar a Prefeitura para que as coisas sejam resolvidas. Nós precisamos que os recursos cheguem aos municípios, pois eles vão e voltam, demoram para chegar e o município recebe uma fatia muito pequena. Eu estou na Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal) e na Associação dos Municípios do Vale do Rio do Sinos (Amvars). Como Novo Hamburgo fica no limite territorial, ele participa das duas e isso é muito bom, porque é onde os gestores públicos se reúnem, sem cores partidárias, pois temos prefeitos de todos os partidos, com os mesmos problemas. Nos unimos para poder dialogar com o governo sobre os municípios. São muitas ações nesse sentido, houve uma que foi capitaneada pelo prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, sobre a questão do transporte público. Nós conseguimos junto ao governo federal recursos para atenuar os problemas que temos com o setor, que é um sistema que está colapsando no Brasil inteiro. Tanto a Granpal, quanto a Amvars são Associações fortes e que têm bastante voz ativa.
O que são as cidades inteligentes?
Nós temos que pensar na realidade de hoje. A cidade inteligente é aquela que está conectada com o seu cidadão. No nosso celular, nós falamos com o nosso banco e não precisamos mais de mapa, a maioria usa o Waze. Seja o que for, o cidadão tem o mundo no seu telefone, portanto a Prefeitura deve estar conectada também. Quando uma lâmpada queima na frente da sua casa, o cidadão não quer fazer como antigamente e ir até a Prefeitura para abrir um protocolo. Ele quer fazer isso no seu celular e tudo mais. As cidades precisam ficar inteligentes, conectando-se à realidade do cidadão. Em Novo Hamburgo, é possível fazer o protocolo via internet. As pessoas, cada vez mais, querem poder lidar com o serviço público da mesma forma como quem lida com os outros serviços. Eu sempre digo que a cidade tem que ter alma, vida e conexão. A população tem que usufruir do espaço público, que é dela. Nós fizemos a revitalização de muitos espaços públicos, principalmente, a área central da cidade, porque se o cidadão de bem ocupa esses espaços, o mal não ocupa.
A Escola Municipal de Educação Básica Professora Adolfina Diefenthäler foi selecionada para o “Oscar da Educação”, o World’s Best SchoolPrizes. O que foi necessário para ser finalista deste Prêmio?
Nós temos trabalhado muito e a nossa Rede Municipal de Ensino é ótima, temos investido bastante. A nossa secretária de Educação, Maristela
FAMÍLIA COMO BASE “Eu tenho dois filhos, que trabalham em multinacionais, o mais novo é um apaixonado por política, ele que me acompanha, praticamente, em tudo quanto pode e coordena junto as minhas campanhas. Ter esse aporte da família é importante, porque a política é muito cruel muitas vezes e, se tu não tens esse aporte familiar, fica mais difícil ainda”, afirma Fátima Daudt

CHICO PINHEYRO/REVISTA EM EVIDÊNCIA

CIDADÃ DO MUNDO Fátima foi eleita uma das 50 líderes mundiais em governança ágil, pelo Fórum Econômico Mundial e pela Apolitical Guasselli é uma guerreira que luta por essa causa também. Sempre tive esse compromisso com a Educação, porque fui uma aluna de Escola Municipal e sei da importância que tem o ensino para essas crianças. Nós investimos muito em tecnologia, as nossas escolas estão todas equipadas com Robótica e com tudo que é necessário, queremos investir cada vez mais. Eu estive a pouco tempo, na nossa Feira Municipal de Iniciação Científica e Tecnológica (Femictec), que é só para os alunos da Escola Municipal. Nós temos 24 mil alunos, na Rede Municipal de Ensino. É lindo ver aquelas crianças falando de tecnologia, conduzindo hipóteses que levarão para o resto da vida. Quando elas estão fazendo as suas pesquisas, tentando descobrir se aquilo vai dar resultado, ou não, pode ser frustrante. Elas levarão esses ensinamentos para o resto da vida. No momento, 45 trabalhos foram escolhidos para participar de uma Feira Mundial. A Escola Professora Adolfina Diefenthäler, no ano retrasado, também foi a instituição de ensino que teve a educadora nota dez do Brasil, a professora Joice Maria Lamb. Nós possuímos mais de 90 Escolas Municipais. Se nós quisermos mudar a nossa cidade, estado e país, temos que começar pelos pequenos. Então, investir em Educação para Novo Hamburgo é a nossa prioridade. Nós temos feito realmente um grande trabalho, sendo reconhecido em vários lugares e agora mundialmente também.
A senhora permaneceu em torno de seis anos no PSDB e hoje está filiada no MDB. Por que a mudança de partido?
Eu sou filha de português, o meu pai era de Lisboa, ele veio para o Brasil bastante jovem, conheceu a minha mãe em Novo Hamburgo. Ele era do setor coureiro-calçadista e nunca se naturalizou brasileiro. Na época da ditadura, só havia a Arena e o MDB, o meu pai não podia, mas fazia reuniões na nossa casa, com os amigos do MDB. Eles falavam baixinho, eu era pequena e não entendia muito por que tantos cuidados e medos. Lógico, depois com o tempo, fui crescendo e ele foi explicando. Como estrangeiro no Brasil, qualquer coisa que ele fizesse contra o governo, seria deportado e a minha mãe ficaria sozinha, com três crianças para criar. Em 2016, me filiei ao PSDB, porque os outros partidos já tinham os seus candidatos para a Prefeitura. O PSDB era muito pequeno, em Novo Hamburgo. Eu já tinha uma história na cidade, como líder empresarial em toda região, pois sou natural de Novo Hamburgo. Eu me filiei no dia 2 de abril de 2016, o meu nome foi colocado para concorrer à Prefeitura, em agosto. Em outubro, eu venci a eleição. Foi tudo muito rápido. Com o passar do tempo, eu tive muito contato com o MDB, enquanto eu estava presidente da Associação, com o governador Rigotto, o Márcio Biolchi, que era o secretário de Desenvolvimento Econômico, o prefeito Sartori, o deputado Giovani Feltes, que acompanhei o trabalho dele sempre, e o deputado Alceu Moreira, que é meu vizinho na praia. O MDB é um partido que tem uma diversidade muito grande de pensamentos. Ele pode falar para todos os brasileiros. Eu sou muito feliz, hoje no MDB.
Quais são as suas considerações finais?
As pessoas quando veem o trabalho de um prefeito ou prefeita, muitas vezes colocam num patamar diferenciado e nós somos cidadãos da cidade, temos as mesmas dores, sentimos os problemas. É importante para todos, nós valorizarmos as causas municipalistas. É no município que nós vivemos, é ali que sentimos os problemas que nos afetam diariamente. Às vezes, a cidade tem problemas enormes, mas se o cidadão tem um buraco na frente de casa, que incomoda todos os dias, para ele esse é o seu maior problema. Nós precisamos lidar com tudo isso, com todas as necessidades e tentar fazer o melhor possível. Não é possível atender a todos, mas temos que fazer o melhor e a diferença de forma positiva. A família é a base para isso tudo. Eu tenho dois filhos, que trabalham em multinacionais, o mais novo é um apaixonado por política, ele que me acompanha, praticamente, em tudo quanto pode e coordena junto as minhas campanhas. Ter esse aporte da família é importante, porque a política é muito cruel muitas vezes e se tu não tens esse aporte familiar fica mais difícil ainda.