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EM EVIDÊNCIA NA TV
LUCIANO ORSI
Prefeito reeleito em Campo Bom
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ENTREVISTA: Cláudio Andrade e Lucio Vaz Edição: Patrícia Poitevin
Não podemos deixar de falar na pandemia. Como o senhor enfrentou o Covid-19?
Foi um momento muito difícil, a cada dia tentávamos descobrir alguma solução que pudesse nos ajudar, para que sofrêssemos menos com o advento da pandemia do Covid-19. Se eu não conheço, vou jogar o mais possível na retranca, pois não sei qual é realmente o alcance e a fatalidade. Então, nós começamos a trabalhar muito forte desde o primeiro momento. Fizemos barreiras em algumas áreas e alguns acessos. Não impedimos o cidadão de ir e vir, mas montamos equipes em todos os lugares para entregar material, orientar, pedir que tomassem cuidado e usassem os equipamentos. Eu acredito que isso teve um efeito futuro evitando algumas mortes e situações graves.
Fale-nos um pouco de sua cidade. Quais são os principais atributos de Campo Bom?
Campo Bom é uma cidade muito próxima da Capital, que fica a 50 quilômetros de distância, por volta de uma hora em condição normal de trânsito. É uma cidade que hoje tem, aproximadamente, 70 mil habitantes. Ela está dentro do Vale dos Sinos e é de colonização alemã. A economia é baseada na indústria de calçados, onde nós já tivemos 90% da mão de obra no setor. Hoje, nós diversificamos por causa do mercado, trabalhando também na área de tecnologia. Nós temos empresas como a Getnet, a Ticket e a Arezzo, uma das maiores marcas de calçados do mundo. Temos muitas empresas pequenas também, em torno de dez mil. É uma cidade que tem na origem um caminho muito forte ligado ao empreendedorismo.
A Prefeitura dá algum tipo de incentivo para os empresários se estabelecerem no município?
Nós trabalhamos diretamente com o Programa de Incentivo à Geração de Empregos (Pige). Se alguém quiser montar uma empresa, nós primeiro avaliaremos o potencial de geração de emprego e de arrecadação dela. Nós possuímos um trabalho técnico dentro da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, que faz essa avaliação e decide quanto podemos dispor através de recursos, material de construção e isenção de impostos. Em cima disso, negociamos também com o governo do Estado, buscando através da Secretaria Estadual novas possibilidades para dar o maior alcance à atividade empreendedora. O empresário quando vai para Campo Bom, não precisa bater de porta em porta. Nós realizamos a aproximação através de um comitê, possibilitando o contato com o nosso coordenador-geral da Secretaria, que faz o meio de campo para o empresário. Nós temos também a Sala do Empreendedor e cuidamos de todos os detalhes para que ele possa fazer a sua ativida-
CHICO PINHEYRO/REVISTA EM EVIDÊNCIA
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de principal, que é empreender, gerar renda e emprego.
A burocracia é uma queixa muito frequente do empreendedor. Como Campo Bom contorna essa situação?
Nós sabemos que muitas exigências são necessárias, é importante ter todo um conjunto para atender a legalidade, mas procuramos trabalhar em parceria com o governo do Estado para reduzir ao máximo a burocracia. Em 2021, o município ficou em primeiro lugar, no Sul do país, e quarto, no Brasil inteiro, na liberação de atividades econômicas pela Lei da Liberdade Econômica. Naquele momento, isentamos mais de 500 atividades que eram de risco médio para risco baixo. Com isso, é possível abrir uma empresa, trabalhar primeiro, para depois ver todos os requisitos. O objetivo é gerar emprego e se estabelecer, com exceção das atividades que têm potencial poluidor.
O senhor foi presidente da Amvars, como foi essa experiência de presidir uma entidade poderosa, que agrega municípios de uma região tão importante no estado?
Foi uma experiência riquíssima. A nossa região é muito próxima a Porto Alegre, Campo Bom é divisa com Novo Hamburgo. Nós queremos andar pelos municípios e criar um pensamento coletivo entre eles. Hoje em dia, a região abrange aproximadamente um milhão de habitantes. Para mim, assumir a presidência da Amvars foi muito gratificante, porque sempre gostei de trabalhar e aglutinar forças. Nós conseguimos dentro da Associação, fazer o cercamento eletrônico, onde toda a região fica protegida por câmeras e qualquer veículo que entre dentro desses municípios tem automaticamente a sua placa captada. Se tem alguma questão, está com algum problema, tem alguma busca, é um veículo furtado ou roubado isso aparece e facilita muito a atuação das nossas polícias, dando mais segurança para o cidadão. A Amvars também compra coletivamente, para reduzir os preços de medicamentos, pneus, mão de obra, entre outros. Além de tu teres muitas empresas querendo oferecer serviço, elas se comprometem a cumprir o que está no contrato, porque senão ficarão mal com todos aqueles municípios.

FAMURS "Sim, eu já me coloquei à disposição, inclusive para a direção partidária para presidir a Famurs, mas sei que têm outros colegas que também almejam, e respeito a todos"
Para o municipalismo, o Consórcio é uma importante ferramenta?
Muito importante, nós vemos que hoje no estado nós temos muitos consórcios já, alguns mais ativos que outros, com mais pregões e mais atuação. Eu sou muito fã do associativismo e também do Consórcio, porque eu acredito que os problemas são muito parecidos em todos os municípios. Nós vamos pegando exemplos e passando experiências, para aprender com os outros, isso é fundamental. O Consórcio tem uma personalidade jurídica própria, inclusive é considerado público, enquanto a Associação é considerada privada. Ele gera despesa e faz compras, por isso possui uma questão jurídica mais complexa. Quando o município adere ao Consórcio, é preciso pagar um valor mensal referente a estruturação, porque a entidade vai contratar uma secretária, um gestor e os funcionários. O Consórcio intermunicipal necessita de um farmacêutico, para fazer o edital do pregão de medicamentos. Então, eles fazem a reunião, passam em cada município, para saber qual o consumo, unificando esses
dados, fazendo todo descritivo. Com isso, nós reduzimos até 50% do custo em medicamentos. Ele é extremamente útil e importante, porque sobram recursos para aplicarmos em outras áreas.
O senhor é formado em Educação Física, a sua administração dá uma atenção especial ao esporte?
Em Campo Bom, nós envolvemos a Educação com o esporte, inclusive possuímos um programa fundamental para a evolução dos nossos jovens e das nossas crianças. O programa Acolher é da Secretaria de Educação, mas trabalha com a iniciação esportiva. Nós temos escolinhas de futebol, handebol, basquete, xadrez, judô, taekwondo e natação. Tudo dentro das escolas, através do contraturno. Nós trabalhamos muito forte, porque acreditamos que a criança estando no esporte, ela aprende muitas coisas importantes, como disciplina e respeito. Trabalhamos de uma maneira que ela seja conduzida na formação do seu caráter. Temos também uma educação de muita qualidade. Nós contamos com 43 escolas, que educam quase dez mil alunos. São mais de mil professores que trabalham na nossa Rede Municipal de Ensino. Nós temos o melhor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), na região do Vale dos Sinos. Na avaliação de 2019, nós ficamos em primeiro lugar, porque trabalhamos com o turno integral para a grande maioria das crianças. Aquelas que não estão no turno integral, vão para as atividades de contraturno, onde nós trabalhamos inclusive com dança gaúcha, tradição e folclore. Nós temos uma equipe extremamente focada na Educação, que é o nosso principal legado que podemos deixar.
No ano que vem, o seu partido vai propor um nome para a presidência da Famurs, o senhor se coloca à disposição?
Sim, eu já me coloquei à disposição, inclusive para a direção partidária para presidir a Famurs, mas sei que têm outros colegas que também almejam, e respeito a todos. Nós temos um conjunto de 66 prefeitos do PDT, no estado do Rio Grande do Sul. Eu me coloquei à disposição, porque já presidi duas vezes a Amvars, fui muito ativo na Famurs, participei da Câmara de Desburocratização junto com o governo do Estado e com outros prefeitos. Eu gosto de conversar com os outros prefeitos, para procurar as soluções dos nossos problemas. Eu acho que a Famurs tem muito esse papel, representar os municípios, sendo um catalisador daquilo que eles precisam, filtrando um pouco das questões ideológicas. Dentro da entidade, muitas vezes, o partido do prefeito não tem relevância para se colocar acima da decisão coletiva. Eu acredito que nesses quase seis anos de trabalho coletivo como prefeito, me credencia a colocar o nome à disposição, sempre respeitando a decisão dos colegas que decidirão realmente quem vai representá-los à frente da Famurs. Nós sabemos que o papel da Famurs, a nível nacional é muito importante também, nós temos a CNM, que é a Confederação Nacional dos Municípios, que congrega todas as federações entre elas a Famurs. Então, o presidente da Famurs tem que estar muito presente nessas ações nacionais, junto à CNM, para poder modificar o pacto federativo, porque é no município onde tudo acontece e quem tem todas as demandas. O prefeito acaba muitas vezes suprindo a função do governo do Estado e às vezes até do governo
federal. Eu quero trabalhar muito forte a desburocratização. É importante criarmos união, levando investimentos para as regiões menos desenvolvidas, para que possam alcançar outros caminhos e outras soluções para os probleNós temos o melhor Índice mas antigos. de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), na região do Vale dos Sinos. Na avaliação de 2019, nós ficamos em primeiro lugar...
Nós falamos muito da questão do jovem, que ficava no campo e depois vinha para Porto Alegre para trabalhar. Agora existe um movimento contrário?
Com certeza, eu acho que houve uma mudança com a tecnologia aliada a produtividade dos nossos agricultores, trazendo uma nova realidade. Hoje em dia, vemos que está valendo a pena a atividade da agricultura e pecuária. É importante que nós tenhamos todos os setores fortalecidos para termos empregos e oportunidades para todas as áreas. Agora dá para trabalhar virtualmente para o mundo inteiro. São muitas coisas que estão mudando em pouco tempo e isso é importante nós estarmos atentos para poder aproveitar essas oportunidades para fazer com que as nossas cidades, o nosso estado e nosso país cada vez cresçam mais e possam ter aquilo que é o mais importante, a qualidade de vida para a nossa população. Com mais facilidades, porque a burocracia só não dificulta a vida do empreendedor, mas também traz um atraso muito grande na geração de riquezas, ou seja, todo mundo é prejudicado por ela. Hoje em dia, temos muitas ferramentas importantes, como a Lei da Liberdade Econômica. Vamos primeiro dar o crédito, deixar as pessoas empreenderem, porque quando o empreendedor está fazendo o empreendimento ele está arriscando o seu patrimônio, muitas vezes familiar e da sua história de vida. Vamos olhar para ele como alguém que está se arriscando e não como um oportunista. Eu sou muito favorável ao empreendedor e Campo Bom tem essa essência, justamente, porque o empregado tem orgulho da sua empresa e o empreendedor tem orgulho do que ele está produzindo, isso é o que nós queremos.