2 Edição Portugal Embaixador Egito

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Órgão de comunicação da Academia de Diplomacia

Embaixador do Egito

WAEL A.

EL-NAGGAR

Embaixador egípcio escreve sobre o 50º aniversário das relações bilaterais

Nº 02. Novembro 2025

AVISO AO CORPO DIPLOMÁTICO: O endereço e informações de contato para a diplomacia são os seguintes

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Guest Guru 4 5 6 22 26 18 12

Apresentou o seu primeiro número dedicado ao México

Entrega de credenciais diplomáticas da Embaixadora da Lituânia em Portugal

Embaixador do Egito, Wael El Naggar

Portugal- Egipto: 50º aniversário relações bilaterais

O Egito em Portugal: uma proveitosa amizade entre Portugal e o Egito

O Grande Museu Egípcio: o presente do Egito ao mundo

Pedro Pinto consolida o sistema

EDITORIAL

Jorge Antas de Barros. Director.

É com uma enorme satisfação que dedicamos este segundo número da Revista Diplomacia- Século XXI ao Egito.

Com pirâmides milenares, templos sagrados e túmulos intrincadamente pintados dignos de uma galeria de arte, o Egipto tem uma quantidade inacreditável de história para mostrar. Alguns dos primeiros passos da civilização humana começaram aqui há mais de 5.000 anos e os egípcios ainda chamam ao seu país umm al dunya – mãe do mundo, num passado que parece vigiar cuidadosamente o presente. No mês em que foi finalmente inaugurado, o Grande Museu Egípcio, nas imediações das pirâmides de Gizé não poderíamos deixar de assinalar este evento, que constitui um marco importante no novo capítulo para o turismo cultural no Egito e confirma o “GEM” como maior museu arqueológico do mundo dedicado a uma civilização- o Egito Antigo- e consolida o país, como um dos principais destinos culturais do planeta.

Ao Senhor Embaixador Wael El-Naggar que nos irá deixar para o desempenho de novas funções, gostaríamos de desejar-lhe felicidades nesta sua nova jornada que agora inicia. Durante a sua permanência entre nós, sempre se mostrou interessado em conhecer a realidade portuguesa nas suas diferentes facetas, quer do ponto vista cultural, empresarial e económico, com uma uma total abertura ao diálogo, possibilitando uma aproximação entre Portugal e o Egito.

Diretor da Revista e Delegado da Academia em Portugal

Jorge Antas da Barros

Presidente Executivo da Academia: Santiago Velo de Antelo

Vice-Presidente da Academia:

José Carlos Ruiz-Berdejo y Sigurtá

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APRESENTOU O SEU PRIMEIRO NÚMERO DEDICADO AO MÉXICO

A revista Diplomacia- Sèculo XXI apresentou o seu primeiro número dedicado ao México numa cerimónia que decorreu no passado dia 1 de Julho na Casa de Santa Marta em Cascais. Estiveram presentes no evento diversas personalidades de diferentes setores, para além de Embaixadores com representação diplomática em Portugal e pessoas ligadas ao mundo económico e cultural deste país.

Academia Diplomacia com Embaixador México e Presidente Comissão Parlamentar Negócios Estrangeiros da Assembleia República.

O evento contou com a presença do Embaixador do México em Portugal, Bruno Figeroa, que realçou na sua intervenção, os 160 anos de relações diplomáticas entre os dois países e a necessidade de apoiar e acelerar a mudança de paradigma em diferentes áreas: economia,, turismo, cultura e cooperação, de forma a expandir a presença de Portugal no México.

A Academia de la Diplomacia entregou durante a cerimónia o Diploma de Académico de Honra ao antigo Primeiro-Ministro de Portugal Drº Pedro Passos Coelho como reconhecimento do mérito demonstrado no exercício das suas funções.•

Apresentação da Revista Diplomacia com Embaixador México em Portugal, Bruno Figueroa.
Entrega Diploma de Académico de Honor ao Dr. Pedro Passos Coelho, antigo Primeiro Ministro de Portugal.

ENTREGA DE CREDENCIAIS DIPLOMÁTICAS DA EMBAIXADORA DA LITUÂNIA EM PORTUGAL

Entrega de credenciais diplomáticas da Embaixadora da Lituânia em Portugal, Asta Radikaité a Sua Excelência Presidente da República Portuguesa Marcelo Rebelo de Sousa.•

NOVO PRESIDENTE DA CÂMARA DE CASCAIS

Nuno Piteira Lopes foi eleito como novo Presidente da Câmara de Cascais, tendo tomado posse no passado dia 25 de Outubro. Casado e pai de três filhos é, Licenciado em Economia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, completou a sua formação com o Programa de Alta Direção da AESE Business School, aprofundando competências em liderança, gestão estratégica e excelência organizacional. Desempenhava as funções de Vice-Presidente no mandato de Carlos Carreiras o anterior Presidente da Camara, que agora passará a exercer as funções de Presidente da Assembleia Municipal de Cascais.

A Academia de la Diplomacia vem por este meio felicitar o novo Presidente da Câmara Nuno Piteira Lopes e desejar os maiores sucessos no desempenho do cargo que agora inicia. Ao mesmo tempo agradece o apoio que recebeu da parte do Dr. Carlos Carreiras na implementação da nossa Instituição em Cascais.

Embaixador do Egito

WAEL EL NAGGAR

Quando cheguei a Lisboa, em janeiro de 2022, o mundo começava a trilhar o caminho da recuperação após uma crise global — a pandemia de Covid-19, um evento imprevisível que lançou a humanidade numa corrida não apenas para encontrar uma cura para uma doença devastadora, mas também para reconstruir as sociedades face às incertezas económicas e sociais que a pandemia deixara para trás.

No início da minha missão como Embaixador da República Árabe do Egito em Portugal, sabia que teria de definir objetivos e etapas que servissem este propósito comum entre os dois países. Estava determinado a consolidar as áreas de cooperação já existentes, explorando simultaneamente novos domínios que pudessem revelar o potencial que acreditava existir em ambas as nações, contribuindo assim para o seu bem-estar económico e social nestes tempos incertos.

A minha motivação cresceu à medida que me aprofundei na cultura e na história portuguesas, aprendendo sobre a bravura dos navegadores que circundaram o globo, ainda que também enfrentando as suas próprias incertezas e temores. As palavras poéticas de um dos maiores nomes da

literatura portuguesa, Luís de Camões, no seu épico Os Lusíadas, refletem com grande sensibilidade esse espírito:

“Assim nos despedimos do santo templo Erguido à beira-mar de espuma fria, Que, para eterna e santa memória,

Da Terra Santa o nome recebia.

Rei! Juro-te, lembrando como foi Deixar aquelas praias tão amadas, O coração me enche de dúvida e dor, E os olhos mal contêm as lágrimas vertidas.”

A HISTÓRIA SINGULAR DA DESCOBERTA DO MUNDO

O Egito e Portugal partilham uma longa e rica história diplomática que remonta ao século XV, época em que ambos manifestaram interesse pelo comércio e pela exploração, e em que a compreensão recíproca das suas situações geopolíticas ajudou a estabelecer laços fundacionais. Essa era assistiu ao surgimento das potências navais eu-

ropeias e à sua busca por novas rotas comerciais para a Ásia, particularmente no que se refere ao comércio de especiarias. Portugal, através das suas explorações no Mediterrâneo e no Mar Vermelho, bem como ao longo das costas de África do Norte e Oriental, afirmava-se como uma potência emergente. Situado na Península Ibérica, Portugal encontrava-se na fronteira do Mediterrâneo, desempenhando o papel de sentinela e interlocutor entre as redes comerciais da Europa, da Ásia e de África.

O Egito, a meio mundo de distância, vivia o seu próprio momento sob o domínio dos Mamelucos, e as primeiras interações entre ambos os países eram movidas pelo comércio, com os Mamelucos a reconhecerem em Portugal uma das principais potências marítimas europeias. Por seu lado, os portugueses tinham plena consciência do papel estratégico do Egito no controlo do acesso marítimo ao Oceano Índico.

A ligação entre o Egito e Portugal facilitou o comércio num vasto arco que se estendia do Atlântico ao Índico, abrangendo todos os mares intermédios. Documentos egípcios revelam que mercadores de Lisboa mantinham trocas comerciais com mercadores do Cairo, sendo Alexandria um importante entreposto para produtos do Norte de África e do Médio Oriente.

Do Egito provinham cereais, ópio, têxteis e, notoriamente, as especiarias orientais, das quais dois terços eram reexportadas. Portugal, desejando beneficiar da excelência agrícola do Norte de África e do Médio Oriente, exportava cerâmica, metais trabalhados, bem como açúcar e sal.

Dois proeminentes egípcios, Ibn Elbassal e Ibn Alawaan, agrónomos do século X, chegaram à Península Ibérica e escreveram manuais sobre o desenho, construção e funcionamento de rodas de água e canais de irrigação, bem como sobre gestão e conservação de terras e comercialização de culturas agrícolas. Introduziram novas variedades de plantas provenientes do Médio Oriente, como cana-de-açúcar, milho, arroz e coco, contribuindo para o desenvolvimento agrícola e dos sistemas de irrigação portugueses.

RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS MODERNAS

NO SÉCULO XXI

formou o país monárquico numa república; movida pelo ideal de alcançar justiça social, igualdade e independência após setenta anos de ocupação britânica.

Após um período de desafios geopolíticos vividos pelo Egito durante a década de 1960, que levaram à rutura das relações diplomáticas com vários países, as relações entre o Egito e Portugal foram restabelecidas em 25 de fevereiro de 1975.

A história profundamente enraizada que liga o Egito e Portugal exerce uma influência significativa sobre o panorama diplomático entre os dois países.

A primeira missão diplomática portuguesa formal foi estabelecida no Egito em 1942, sob a jurisdição do Ministro Plenipotenciário José Caetano d’Ávila Lima, residente em Ancara.

A 9 de fevereiro de 1960, José Weinholtz de Bivar Brandeiro iniciou a sua missão como Embaixador no Cairo, após Portugal ter reconhecido oficialmente a República Árabe do Egito em 24 de junho de 1953, um ano após a Revolução Egípcia de 23 de julho de 1952, que trans-

Desde então, distintas figuras diplomáticas e políticas egípcias foram nomeadas para exercer funções de Embaixador do Egito em Portugal, entre as quais se destaca Sua Excelência Ahmed Maher, que exerceu o cargo entre 1980 e 1982, e que em 2001 viria a ser nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros do Egito. Ao longo das décadas de 1980 e 1990, os dois países prosseguiram com a assinatura de diversos acordos comerciais, económicos, industriais, culturais e científicos, reforçando assim as promissoras relações bilaterais.

A COOPERAÇÃO NO CONTEXTO MULTILATERAL

O Egito e Portugal têm vindo a registar uma transformação significativa nas suas relações diplomáticas, marcada por um forte compromisso com o multilateralismo e uma clara vontade de aprofundar parcerias económicas e culturais.

um diálogo vivo através da arte, que enriquece ambas as culturas.

De facto, as duas nações estão entrelaçadas desde o tempo dos Faraós, como demonstra o número expressivo de obras de arte egípcia antiga que chegaram a Portugal nas últimas décadas, bem como outros artefactos de valor inestimável hoje preservados em museus lisboetas, como o Museu do Caramulo, o Museu Nacional de Arqueologia (MNA) e o Museu Calouste Gulbenkian.

O Museu Gulbenkian conserva cerca de 40 peças de arte egípcia, incluindo cabeças, estatuetas e baixos-relevos, entre outras. Estas peças ilustram a fascinação de Calouste Gulbenkian, filantropo britânico-arménio, pela história e arqueologia egípcias.

Em 1907, Gulbenkian adquiriu a sua primeira peça egípcia — uma taça em brecha com caneluras, datada de cerca de 305–330 a.C., continuando posteriormente a enriquecer a sua coleção enquanto colaborava com Howard Carter, o célebre arqueólogo que descobriu o túmulo de Tutankhamon.

Esta tendência é particularmente visível na participação ativa de ambos os países em organizações regionais e fóruns internacionais, onde têm manifestado posições convergentes em diversos temas de interesse comum, contribuindo para a promoção da paz, da estabilidade e do desenvolvimento sustentável.

INTERCÂMBIOS CULTURAIS E COLABORAÇÕES ARTÍSTICAS

As interações diplomáticas entre o Egito e Portugal abrangem uma história rica e complexa, marcada por empreendimentos cooperativos em diversos domínios. Desde o século XV, os dois países têm demonstrado interesse e compromisso mútuo, inicialmente baseados no comércio e na exploração marítima, mas que gradualmente evoluíram para uma conexão profunda entre os dois povos.

As coleções de Gulbenkian foram exibidas em museus de França, do Reino Unido e dos Estados Unidos, até alcançarem o seu destino final em Portugal em 1960, poucos anos após a fundação do museu em Lisboa.

O IMPACTO CULTURAL E A INFLUÊNCIA ARTÍSTICA MÚTUA

Ao explorar este terreno intrincado de interesses partilhados, ambas as nações descobriram que não caminhavam sozinhas, mas lado a lado, não apenas no domínio económico, mas também no campo da cultura.

As interações entre o Egito e Portugal deram origem a um vibrante mosaico de expressão artística, que conta a história do património cultural de cada nação.

A arte egípcia, rica em símbolos e motivos intrincados, encontrou acolhimento entre os artistas portugueses, que procuravam novos temas e métodos de expressão. Por sua vez, os motivos e técnicas portuguesas também foram adotados por artistas egípcios, num diálogo criativo que enriqueceu ambas as tradições artísticas.

Embora muito do que os une derive da vida económica, os laços entre as duas sociedades vão além disso — existe

De um modo geral, o intercâmbio cultural resultante das crescentes interações entre artistas egípcios e portugueses foi um elemento essencial nas transformações culturais dos períodos tardo-medieval e moderno, lançando as bases para as colaborações artísticas contemporâneas entre ambos os países.

A INFLUÊNCIA DA ARQUITETURA ISLÂMICA E O ESTILO MANUELINO

Um dos exemplos mais notáveis desse intercâmbio é a influência da arquitetura islâmica sobre o estilo manuelino português — um estilo gótico tardio, caracterizado pela ornamentação exuberante e pelos padrões geométricos

típicos da arte e arquitetura islâmicas, amplamente presentes em estruturas egípcias.

Os arquitetos portugueses que trabalharam sob esta influência incorporaram esses elementos decorativos e geométricos, não apenas nas formas arquitetónicas, mas também na decoração de arcos, abóbadas e espaços interiores, criando um estilo que se tornou um símbolo da identidade artística de Portugal.

INTERCÂMBIO INTELECTUAL E ACADÉMICO

A tradução de textos árabes para português constituiu igualmente uma via de intercâmbio intelectual entre as duas nações.

Eruditos de ambos os países encontraram oportunidades de diálogo nas áreas da filosofia, das ciências e da literatura, resultando num notável exemplo de enriquecimento cultural mútuo.

Em 2025, o célebre arqueólogo egípcio Professor Zahi Hawass visitou Portugal e proferiu uma palestra exclusiva na Universidade Nova de Lisboa, dedicada às descobertas arqueológicas mais recentes do Egito.

O evento registou uma larga participação de académicos, arqueólogos e especialistas em história e arqueologia. Na sequência deste sucesso, a Embaixada do Egito em Lisboa está atualmente a trabalhar na tradução da biografia do Professor Zahi Hawass para português, como parte das comemorações do 50.º aniversário da retoma das relações diplomáticas, reforçando assim os laços culturais e históricos entre as duas nações.

PROJETOS CULTURAIS CONJUNTOS CONTEMPORÂNEOS

Estes vínculos históricos e culturais partilhados continuam a refletir-se em projetos culturais conjuntos, como exposições de arte que reúnem obras de artistas egípcios e portugueses, e apresentações colaborativas que celebram as histórias e tradições comuns de ambos os países. Recentemente, a Embaixada do Egito, em cooperação com a prestigiada exposição Art D’Egypt, anunciou a participação do renomado artista português Alexandre Farto (Vhils) como artista principal da exposição “Forever is Now 05”, uma das mais destacadas mostras de

arte contemporânea do Egito, realizada junto às Grandes Pirâmides de Gizé.

WAEL EL NAGGAR :

BIOGRAFÍA DO EMBAIXADOR

O Embaixador Wael El Naggar é um diplomata de carreira sénior do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egito, com cerca de 34 anos de experiência em análise de segurança regional, negociações de fronteiras marítimas, gestão de crises, promoção do desenvolvimento sustentável e cooperação para o reforço de capacidades, através do fortalecimento das relações bilaterais com países parceiros e organizações internacionais.

Antes de ocupar o seu atual cargo como Embaixador da República Árabe do Egito em Portugal, o Embaixador El Naggar exerceu funções como Subsecretário Adjunto para os Assuntos da Europa de Leste e do Sul entre 2019 e 2021.

Foi também Encarregado de Negócios na Embaixada do Egito em Ancara entre 2015 e 2019, tendo ainda desempenhado funções noutras missões diplomáticas egípcias nas capitais de Uganda, Arábia Saudita, Jordânia e Itália.

A partir de 15 de novembro de 2025, o Embaixador El Naggar assumirá o novo cargo de Ministro-Adjunto para os Assuntos Culturais, Científicos e Religiosos Globais.

Tais iniciativas honram o legado histórico das relações entre os dois países e mantêm viva essa herança na memória coletiva, ao mesmo tempo que promovem a ligação contemporânea entre as duas sociedades, consolidando laços antigos e estabelecendo novas pontes de entendimento.

COOPERAÇÃO CIENTÍFICA E ACADÉMICA

Na continuidade dos vigorosos intercâmbios culturais e laços históricos entre o Egito e Portugal, a cooperação científica e académica reflete o comprometimento profundo de ambos os países com a excelência académica, bem como o reconhecimento da importância de preparar as gerações jovens para enfrentar os rápidos avanços da ciência e da tecnologia.

Em 2022, foi inaugurado, na Nova Capital Administrativa do Egito, o primeiro campus estrangeiro da Universidade Nova de Lisboa.

Um Memorando de Entendimento (MoU) foi assinado, permitindo que instituições de ensino superior portuguesas atribuíssem diplomas reconhecidos em território egípcio, em colaboração com universidades locais.

Este passo significativo reforça a partilha de conhecimento e contribui para a formação de uma força de trabalho qualificada, capaz de responder às necessidades de desenvolvimento nacional.

No campo da investigação científica, foram assinados protocolos de cooperação entre a Agência Espacial Egípcia e a sua congénere portuguesa, bem como entre a Academia Egípcia de Investigação Científica e Tecnológica e centros de investigação portugueses.

Novos acordos deverão ser assinados durante a segunda sessão da Comissão Conjunta, prevista para o próximo ano, com o objetivo de aprofundar a cooperação científica e técnica, promover a investigação aplicada e fomentar o intercâmbio de conhecimento e experiência científica.

RELAÇÕES ECONÓMICAS ENRAIZADAS NOS LAÇOS HISTÓRICOS E CULTURAIS

Mesmo antes da chamada era das “descobertas” europeias, tanto o Egito como Portugal partilhavam longas e entrelaçadas histórias de monarquias, bem como vínculos profundos com o Mediterrâneo e o mundo árabe.

A contínua interação entre os dois países — apesar da orientação atlântica de Portugal e da posição do Egito como potência árabe e mediterrânica do Norte de África — evidencia que o comércio, a exploração e a busca de vias seguras e diretas de cooperação sempre foram suficientemente dinâmicos para ultrapassar barreiras geográficas.

Nos últimos anos, as duas nações têm explorado novas formas de expandir o comércio, indo além das trocas tradicionais, como os têxteis, e identificando novas oportunidades nos setores emergentes da energia renovável, transferência tecnológica, turismo e agricultura, ao mesmo tempo que procuram aumentar o investimento e o volume de trocas comerciais.

Os valores comuns de respeito, cooperação, paz e prosperidade constituem a base sólida da relação política única entre os dois países e servem de alicerce para o lançamento de múltiplas parcerias bilaterais em diferentes domínios.

Este renovado dinamismo nas relações bilaterais pode ser atribuído, em parte, à forma como ambas as partes interpretam os desenvolvimentos regionais e globais contemporâneos, partilhando visões convergentes sobre muitos dos desafios que enfrentam.

Lisboa e Cairo têm demonstrado uma vontade firme de se apoiarem mutuamente nas respetivas candidaturas e iniciativas no âmbito internacional, promovendo valores de diálogo, estabilidade e cooperação multilateral.

Em outubro de 2022, realizou-se em Lisboa a primeira edição do Fórum de Parceria de Investimento Egito-Portugal, estando já em curso os preparativos para a segunda edição, a ter lugar no Cairo.

No que respeita ao comércio de bens, o volume total de trocas comerciais entre os dois países atingiu aproximadamente 363,3 milhões de euros entre janeiro e novembro de 2024.

As exportações egípcias e portuguesas concentraram-se em setores estratégicos, incluindo produtos químicos, ferro e aço, plásticos e borracha, produtos alimentares, têxteis e couro. Por outro lado, as exportações portuguesas para o Egito reforçaram a posição de Portugal como fornecedor de bens essenciais, nomeadamente celulose e papel, produtos químicos, maquinaria e equipamentos, metais, produtos agrícolas, madeira e alimentos transformados.

Enquanto Portugal aprofunda as suas relações com os principais atores do mundo árabe, o Egito assume um papel central neste contexto. Por sua vez, o Egito reforça as suas parcerias com a Europa, onde Portugal se destaca como um parceiro privilegiado.

As relações diplomáticas entre o Egito e Portugal, estabelecidas originalmente no século XV, lançaram os alicerces para uma cooperação diversificada e duradoura entre duas sociedades dinâmicas e multifacetadas.

Hoje, essas mesmas relações continuam a revelar um enorme potencial, demonstrando que Egito e Portugal permanecem pilares sólidos na ligação entre o Oriente e o Ocidente, guiados por uma história comum e por uma vontade partilhada de promover a paz e o desenvolvimento sustentável para o futuro.

REFERÊNCIAS

Este crescimento reflete o sucesso de Portugal na diversificação da sua base exportadora e o aprofundamento das relações comerciais com o Egito, aproveitando a crescente procura do mercado egípcio e a visão partilhada de desenvolvimento económico sustentável.

• Camões, L. (1880). Os Lusíadas (trad. Richard Burton), Bernard Quaritch. (Obra original publicada em 1572).

PERSPETIVAS FUTURAS

• Page, M. (2010). The First Global Village: How Portugal Changed the World. Multitipo–Artes Gráficas, Lda, 13.ª ed., p. 60.

Os últimos anos testemunharam uma mudança significativa nas relações entre o Egito e Portugal, em plena consonância com a elevação das relações entre o Egito e a União Europeia a uma “Parceria Estratégica e Global”, formalizada em março de 2024.

Ambos os países conseguiram identificar novas áreas de cooperação e multiplicar as oportunidades de colaboração em diversos domínios de interesse mútuo — económico, cultural, académico e científico.

• Phillips, C. R. (1994). The Portuguese Trade in North Africa and the Middle East, Portuguese Studies Review, pp. 107–125.

• El-Kamel, H. (2025). Diplomatic Cooperation: An Evolutionary Perspective. [Disponível em: https:// eprints.lse.ac.uk/62314/1/__lse.ac.uk_storage_LIBRARY_Secondary_libfile_shared_repository_Content_Neumann%2C%20I_Diplomatic%20Cooperation_Neumann_Diplomatic_Cooperation.pdf]

• El-Kamel, H. (2021). Egyptian Diplomacy and International Relations. [Disponível em: https://www. realinstitutoelcano.org/en/work-document/egyptian-diplomacy-and-international-relations-wp/]•

PORTUGAL - EGITO: 50º ANIVERSÁRIO

DAS RELAÇÕES BILATERAIS, POR SECRETÁRIO-GERAL DA CCIAP

Por Dr. Hayder Elkhoudairy.

Secretário-Geral de la CCIAP.

A República Portuguesa e a República Árabe do Egito celebraram em 25 de fevereiro de 2025 o quinquagésimo aniversário da retoma das relações políticas entre os dois países, após a transição democrática em Portugal. Este evento marcou um ponto de viragem essencial no percurso das relações bilaterais, não apenas ao nível político e do intercâmbio de missões diplomáticas, mas também nos domínios económico, comercial, cultural, da saúde e

da cooperação tecnológica, abrindo amplos horizontes de intercâmbio em várias áreas, atendendo às posições dos dois países no cenário continental e internacional e ao seu potencial económico.

Portugal é considerado um dos parceiros do Egito, sendo um membro proeminente da União Europeia e uma das principais portas estratégicas de entrada europeias no Mercado Único Europeu. Portugal dedica também especial atenção ao reforço das relações bilaterais em diversos domínios com o Egito, país de importância crucial na região, devido à sua profundidade geográfica e histórica, à sua economia (a terceira maior entre os países árabes), à sua ampla influência no mundo árabe e islâmico, e ao seu papel de destaque no cenário internacional.

O primeiro contacto entre o Egito e a Península Ibérica remonta ao século VIII, quando o Egito era um dos faróis da civilização islâmica, desempenhando um papel importante na difusão da mensagem do Islão e na construção de pontes de fraternidade e paz entre o Oriente e o Ocidente. Desde então, e até à era moderna, as fases históricas que marcaram as relações entre os mundos islâmico e ocidental moldaram também as relações entre ambas as partes. Portugal foi uma das principais potências comerciais europeias, interligando diferentes regiões do mundo através das suas descobertas marítimas, estabelecendo assim a primeira rede comercial marítima global, sendo o comércio o principal motor das relações entre as duas partes.

A primeira fase deste processo foi a retoma das relações diplomáticas num período em que Portugal procurava sair do seu isolamento internacional; a aproximação luso-egípcia representou uma ponte importante que o ligou ao mundo árabe. As relações políticas entre os dois países deram depois um salto qualitativo com a visita do então Presidente português António Ramalho Eanes ao Egito em 1983, sendo o primeiro chefe de Estado português democraticamente eleito, seguida pela visita do então Presidente egípcio Mohamed Hosni Mubarak a Lisboa em 1992, e pela visita do Presidente português Mário Soares ao Cairo em 1994. Estas visitas tiveram um impacto pro-

fundo na consolidação das relações políticas entre os dois países, elevando-as ao nível de parceria estratégica baseada em perspetivas convergentes sobre questões regionais e internacionais. O aumento de visitas oficiais durante as décadas de 1980 e 1990 foi uma das realizações mais notáveis nas relações bilaterais desde a sua retoma. Desde o início dos anos 1980, ambas as partes procuraram reforçar a cooperação em diversos domínios. Em 31 de março de 1981, foi assinado um Acordo de Cooperação Cultural, Científica e Técnica, com o objetivo de promover a coordenação entre instituições especializadas nestas áreas, incentivar o intercâmbio de delegações, especialistas e professores universitários, conceder bolsas de estudo e facilitar o acesso de estudantes e investigadores às instituições de ensino de ambos os países, bem como o ensino mútuo das respetivas línguas e literaturas. Em 20 de março de 1983, foi celebrado um Acordo de Cooperação no Turismo, com o objetivo de promover e desenvolver o intercâmbio turístico entre ambos os países, abrangendo financiamento, formação, troca de especialistas e bolsas, bem como a criação do Conselho Conjunto de Turismo Luso-Egípcio.

Após a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia em 1986, a economia portuguesa registou um crescimento significativo e sustentado, reforçando a sua posição internacional como parceiro económico europeu promissor — desenvolvimento que teve impacto positivo nas relações económico-comerciais com o Egito. Em 20 de abril de 1993, foi assinado um Acordo de Cooperação Económica, Industrial e Científico-Técnica, seguido em 28 de abril de 1999 de um Acordo de Promoção e Proteção de Investimentos Recíprocos, que procurou consolidar a cooperação económica e criar condições favoráveis para os investidores de ambos os países.

A partir dos anos 1990, Portugal adotou uma política económica voltada para a internacionalização, procurando novos mercados de investimento e oportunidades além da União Europeia. Isto traduziu-se num interesse crescente em fortalecer laços económicos com a região árabe, tanto através da consolidação de parcerias com os países do Magrebe como da expansão de relações com o Egito e as economias em crescimento do Conselho de Cooperação do Golfo. Ao longo das últimas duas décadas, as relações económicas e comerciais entre Portugal

e o Egito conheceram um crescimento notável, refletindo a vontade de ambas as lideranças de elevar as relações económicas ao nível das relações políticas.

(…)

Neste contexto, a política económica do Egito visa atrair investimento que gere valor acrescentado, responda às necessidades de desenvolvimento, capte capital e conhecimento, transfira tecnologia e saber-fazer, crie emprego, desenvolva a força de trabalho e estabeleça infraestruturas industriais através de investidores estrangeiros. Assim, Portugal é considerado um parceiro europeu de relevo para o Egito, sobretudo numa altura em que o Cairo procura diversificar os seus parceiros económicos entre as maiores economias da Europa, América e Ásia, com o objetivo de aumentar os fluxos de investimento e comércio, em conformidade com a nova política de investimento liderada por Sua Excelência o Presidente Abdel Fattah el-Sisi. Esta política materializa-se na inauguração do Novo Canal do Suez como motor do comércio marítimo mundial, complementada por reformas legislativas, financeiras e administrativas que transformaram o Egito num centro regional atrativo para o investimento internacional e num importante nó de trânsito de mercadorias. Como resultado, o volume de trocas comerciais entre os dois países aumentou de forma significativa: as exportações portuguesas para o Egito cresceram de 16 992 591

€ em 2000 para 222 972 500 € em 2024 — um aumento superior a 1 000 %, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Em contrapartida, as exportações egípcias para Portugal registaram um aumento ligeiro de 6,8 % no mesmo período, passando de 157 814 951 € em 2000 (quando o Egito detinha um superavit comercial de 140 822 360 €) para cerca de 168 573 001 € em 2024. Na última década, a taxa média anual de crescimento das trocas comerciais entre os dois países foi de 31,28 %, atingindo um total superior a 290 milhões de euros. As exportações egípcias apresentaram uma taxa média de crescimento de 17,29 %, enquanto as portuguesas cresceram 13,99 %. De acordo com a AICEP, existiam cerca de 230 empresas portuguesas exportadoras para o Egito. Quanto ao investimento direto, o volume conjunto de investimento entre os dois países ultrapassou os 388 milhões de euros, concentrando-se em setores como investimento imobiliário, energias renováveis, tecnologias de informação e comunicação e indústria têxtil e de confeção. Segundo a Autoridade Geral Egípcia para o Investimento e Zonas Francas (GAFI), o número de empresas portuguesas a operar no Egito era, em 2018, de cerca de 24. Estes indicadores refletem uma evolução qualitativa nas relações económicas Egito-Portugal, que passaram de uma fase de intercâmbio limitado para uma de cooperação equilibrada e diversificada, baseada em interesses partilhados. Tal ocorre no contexto da abertura de Portugal aos mercados árabes, procurando aumentar as

exportações e diversificar parceiros, e, em paralelo, da visão do Presidente Abdel Fattah el-Sisi de modernizar a economia egípcia, fazendo da atração de investimento estrangeiro e do desenvolvimento das exportações nacionais pilares centrais da estratégia económica do país. Esta visão comum ficou patente em visitas de alto nível e em encontros paralelos durante conferências e cimeiras regionais e internacionais — como as das Nações Unidas e da União Europeia —, que serviram de plataformas para reforçar as relações bilaterais e alargar as áreas de cooperação.

Neste enquadramento, merece destaque a visita do então Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, ao Egito, em 13 de junho de 2016, durante a qual apresentou um convite oficial do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa ao Presidente el-Sisi. As duas partes discutiram formas de reforçar a cooperação bilateral nos domínios político e económico, bem como o desenvolvimento do setor do turismo e o incentivo à vinda de turistas portugueses ao Egito, um dos destinos turísticos mais importantes do mundo.

Dando continuidade a este dinamismo, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa realizou uma visita oficial ao Cairo em 11 de abril de 2018, à frente de uma delegação de alto nível, onde se reuniu com vários responsáveis egípcios e discutiu com o Presidente el-Sisi formas de ampliar a cooperação bilateral, sobretudo após a primeira reunião da Comissão Conjunta Egito-Portugal, realizada em 19 de outubro de 2017 no Cairo, com ampla participação de empresários de ambos os países.

Durante esta visita, o Presidente português recebeu uma apresentação detalhada sobre o programa de reformas económicas do Egito e sobre as oportunidades de investimento disponíveis para investidores portugueses à luz dessas reformas.

Na sequência deste convite, o Presidente el-Sisi efetuou uma visita oficial à República Portuguesa em 21 de novembro de 2016, a qual representou um marco importante no desenvolvimento das relações bilaterais, tanto no domínio político-económico como na parceria em matéria de segurança, reforçando ainda a parceria egípcio-europeia graças ao papel de Portugal na União Europeia.

Em 19 de junho de 2022, no Palácio da Ajuda em Lisboa, o Presidente português recebeu Sua Excelência o Embaixador Wael al-Najjar, que apresentou as suas cartas credenciais como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Árabe do Egito em Portugal. Desde que assumiu funções, o embaixador tem trabalhado para aprofundar as relações entre os dois países nos planos político, económico, cultural e educacional.

No contexto do reforço da parceria económica, o embaixador desempenha um papel fundamental na dinamização da comunidade empresarial egípcio-portuguesa, organizando e participando em eventos e fóruns económicos, destacando-se o Primeiro Fórum Egito-Portugal de Investimento e Parceria, realizado em Lisboa em outu-

bro de 2022, com a participação da GAFI e de mais de 80 empresas egípcias e portuguesas.

Realizou também reuniões de consulta com diversas entidades portuguesas, incluindo um encontro em 6 de junho de 2023 com o Grupo de Amizade Portugal-Egito na Assembleia da República, para explorar formas de reforçar a cooperação bilateral e dar continuidade aos progressos alcançados. Além disso, contribuiu para a retoma das missões empresariais bilaterais, promoção de reuniões económicas e de investimento e exploração de novas oportunidades de cooperação.

É também creditado por ter promovido o restabelecimento da ligação aérea direta entre o Cairo e Lisboa pela EgyptAir em 23 de julho de 2024, bem como o lançamento do “Ano do Turismo do Egito em Portugal 2025”, destinado a promover o turismo egípcio e reforçar a sua presença no mercado português.

seus sítios classificados como património mundial e às suas modernas cidades turísticas, como Sharm el-Sheikh e Hurghada —, a parceria entre os dois países atingiu níveis avançados, nomeadamente através de campanhas promocionais conjuntas destinadas a divulgar os atrativos de cada país no outro, atrair mais turistas e facilitar o trabalho dos operadores turísticos, reforçando assim o fluxo de viagens e turismo bilateral.

Em 2024, o número de turistas portugueses que visitaram o Egito foi de cerca de 30 000.

No setor do turismo — um pilar essencial das economias de ambos os países, especialmente para o Egito, cuja herança cultural e profundidade histórica o tornam um dos destinos turísticos mais destacados do mundo, graças aos

A cooperação inclui também o intercâmbio de experiências e conhecimentos e a implementação de programas conjuntos de desenvolvimento e valorização do setor do turismo, de forma a servir os interesses económicos de ambas as partes.

A parceria entre Portugal e o Egito vai, contudo, além dos aspetos políticos e económicos, estendendo-se a outros domínios, como a saúde, cultura, educação e ambiente, além da coordenação em matéria de segurança e defesa. No domínio da saúde, o Egito procura beneficiar da ampla experiência de Portugal, especialmente no que

respeita a tecnologias médicas modernas, produção farmacêutica e de equipamentos médicos, gestão hospitalar, formação de médicos e profissionais de saúde, bem como na execução de projetos conjuntos.

Esta cooperação tem-se manifestado em diversas reuniões entre responsáveis do setor da saúde de ambos os países, bem como em visitas de fabricantes portugueses de produtos farmacêuticos ao Egito, nas quais foram discutidos mecanismos para reforçar a coordenação e cooperação nestas áreas — áreas de grande importância para o Egito, no âmbito do seu programa nacional de reforma e desenvolvimento do setor da saúde, que visa atender às aspirações dos cidadãos egípcios, contribuir para a diversificação económica, apoiar as indústrias nacionais e aumentar as exportações.

As autoridades egípcias de saúde demonstram interesse especial em aproveitar a experiência portuguesa na gestão e planeamento do sistema de saúde, no uso de tecnologias de telemedicina, bem como na implementação de programas de geminação com hospitais portugueses (como o grupo CUF), beneficiando ainda do modelo português de parceria público-privada.

No domínio cultural e científico, o Egito e Portugal — assim como os países de língua portuguesa — mantêm relações estreitas; o primeiro acordo bilateral entre os dois países foi precisamente neste setor.

Em 1996, foi criada em Portugal a Associação de Amizade Egito-Portugal, com o objetivo de reforçar a cooperação científica e cultural, refletindo a profundidade das interações culturais e a prioridade atribuída pelo Egito a esta dimensão, sendo um dos principais polos culturais do mundo árabe e islâmico, com um papel central na preservação e promoção do património cultural e um legado civilizacional único, que remonta ao Antigo Egito e se cruza com diversas tradições da civilização humana. No campo científico, as autoridades de ambos os países têm intensificado os esforços para promover o intercâmbio de conhecimento e o aproveitamento mútuo das respetivas experiências, especialmente no quadro da “Visão Egito 2030”, que visa transformar o Egito num farol de ciência e conhecimento à escala internacional.

Isto levou a uma cooperação crescente no ensino superior e na investigação científica.

Por exemplo, o Egito foi o Convidado de Honra da conferência “Portugal Science 2022”, em reconhecimento dos seus esforços regionais e internacionais neste domínio, onde foram discutidas oportunidades de parceria e financiamento oferecidas por Portugal e pela União Europeia para apoiar o ensino superior e o desenvolvimento da investigação no Egito.

da parceria entre os dois países, após meio século de evolução marcada por fases avançadas de cooperação política, económica, comercial e cultural.

As visitas de alto nível, os acordos de cooperação e as iniciativas de responsáveis de ambos os lados contribuíram para elevar a parceria económica, reforçar as trocas comerciais e desenvolver investimentos conjuntos, permitindo às duas partes construir uma parceria estratégica baseada no benefício mútuo, expandir a cooperação e abrir novos mercados nas respetivas regiões.

Como resultado da expansão desta parceria, a Universidade Nova de Lisboa abriu uma filial no Cairo — sendo a primeira instituição portuguesa de ensino superior a criar um campus fora de Portugal —, o que comprova o comprometimento de ambas as partes em reforçar a cooperação académica e científica.

Cinquenta anos após a retoma das relações diplomáticas entre Portugal e o Egito, confirma-se a solidez duradoura

Esta fase representa mais do que uma comemoração do quinquagésimo aniversário: é a materialização de uma visão partilhada sobre múltiplas questões internacionais e de um genuíno desejo de reforçar a cooperação nos setores económico, industrial e dos serviços, abrindo horizontes mais amplos para parcerias de investimento, promovendo a expansão comercial e apoiando projetos conjuntos que sirvam os interesses de ambos os povos. Deste modo, a longa experiência de relações bilaterais entre o Egito e Portugal confirma que esta parceria não é meramente diplomática, mas sim uma parceria estratégica abrangente, capaz de continuar a crescer e a evoluir, em apoio aos objetivos de desenvolvimento e prosperidade de ambos os países.•

O EGITO EM PORTUGAL UMA PROVEITOSA AMIZADE

Por Prof. Luís Manuel Araújo.

Egiptólogo e Professor Emérito da Universidade de Lisboa.

As relações culturais entre Portugal e o Egito são muito antigas, e uma das mais expressivas notícias acerca dessas relações data de 1869, quando o famoso escritor Eça de Queirós e o conde de Resende, D. Luís Manuel de Castro Pamplona, desembarcaram no porto de Alexandria, seguindo depois para o Cairo, a capital do Egito, e dali para as cerimónias de inauguração do canal de Suez. Em 1903 ocorreu a visita da rainha D. Amélia ao país do Nilo, acompanhada por seus filhos D. Luís Filipe e D. Manuel, da qual ficaram diversos textos e fotografias, e em 1909

esteve no Egito o notável arqueólogo José Leite de Vasconcelos, fundador e primeiro diretor do Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, que lá foi para participar num congresso internacional de arqueologia (tendo trazido cerca de 60 objetos egípcios para o seu museu).

As personalidades acima mencionadas destacam-se como exemplos de outras entidades que visitaram o Egito, antecedendo as atuais massivas viagens turísticas que todos os anos levam de Portugal até ao país dos faraós milhares de visitantes para lá admirarem os impressionantes vestígios

históricos e culturais que nos legou a brilhante civilização do Egito faraónico, mas também para apreciar os diversos monumentos que evocam o Egito greco-romano, o Egito copta e o Egito islâmico.

Na verdade, só em 1953 é que Portugal reconheceu oficialmente a República do Egito, após a queda da monarquia e a ascensão ao poder de Nasser, para cinco anos depois, em 1958, o nosso país reconhecer a nova designação de República Árabe Unida (resultante da união entre o Egito e a Síria, que de resto se mostrou efémera). Depois, com o incremento da intensa guerra colonial que Portugal sustentava em África, deu-se um corte das relações diplomáticas e consulares com o Egito, que só seriam restabelecidas em fevereiro de 1975, na sequência da revolução de 25 de abril de 1974, quando o país do Nilo, sob a presidência de Anwar el-Sadat, já tinha a designação de República Árabe do Egito. Em 1981, já com Hosni Mubarak como presidente, foram assinados importantes acordos entre os dois países, um de âmbito cultural, técnico e científico, e outro de âmbito comercial e de cooperação turística, tendo nesse mesmo ano o presidente Ramalho Eanes realizado uma visita oficial ao Egito. Na sequência do acordo cultural seguiram para o país do Nilo quatro bolseiros portugueses para estudos de pós-graduação no ano letivo de 1984-1985, uma experiência que parecia ser promissora, mas que não teve continuidade.

Nos anos noventa do século passado mais dois acordos reforçaram as profícuas e boas relações entre os dois países, tendo sido assinado no Cairo um acordo de cooperação

económica, industrial e técnico-científica (1993), seguido por outro, também assinado no Cairo, no âmbito da promoção e proteção recíproca de investimentos (1999), permitindo que diversas empresas portuguesas desenvolvessem negócios e investimentos de vulto no Egito em vários ramos de atividade industrial e comercial. As exitosas relações entre Portugal e o Egito foram reforçadas com a visita oficial do presidente Abdel Fatah al-Sisi a Portugal em 2016, e a visita do presidente Marcelo Rebelo de Sousa ao Egito em 2018.

Como expressão do fortalecimento das relações económicas e comerciais entre os dois países foi criada em Portugal a Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa, a qual beneficiou do auspicioso apoio da Liga dos Estados Árabes, tendo desenvolvido uma dinâmica e benéfica ação em prol dos interesses comuns luso-egípcios, com destaque para a lúcida intervenção do Engenheiro Ângelo Correia. Por outro lado os contactos beneficiaram bastante com a ação esclarecida e empenhada de duas notáveis diplomatas, Dawlat Hassan, embaixadora do Egito em Portugal (1995-1999), e Madalena Fischer, embaixadora de Portugal no Egito (2015-2019). Existe, outrossim, um interesse mútuo em fortalecer os laços de amizade entre os dois países a nível político, económico, técnico, científico, cultural e militar, tendo ainda em conta um potencial de aprofundamento noutras áreas como a cooperação turística e a eficaz conectividade aérea, na proveitosa intenção de relançar voos diretos entre Portugal e o Egito, reconhecendo o facto de este país ser um destino apetecido pelos seus monumentos de fama

Visita Oficial do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa ao Egito em 2018, onde se encontrou com o Presidente Egipcío Abdel Fatah Al- Sissi, que tinha visitado Portugal em 2016.

mundial – e de facto o Egito, que é um verdadeiro museu ao ar livre, com muitos locais históricos que são património da humanidade sob a égide da Unesco, recebeu em 2014 mais de quinze milhões de visitantes, dos quais cerca de 50 000 portugueses.

Um dos motivos para o incremento do número de visitantes é a inauguração oficial do Grande Museu Egípcio, na histórica zona cairota de Guiza, perto das grandes pirâmides de fama universal erigidas para os reis Khufu, Khafré e Menkauré. Trata-se do maior museu do mundo dedicado a uma única civilização, agora enriquecido com mais de 5 000 objetos encontrados no túmulo do rei Tutankhamon em 1922, os quais nunca tinham sido mostrados juntos no anterior Museu Egípcio do Cairo, na praça Tahrir. Note-se que este museu, criado em 1902, instalado num edifício de grande porte com atraente arquitetura, está a ser alvo de profundas remodelações para continuar a cumprir a sua função de exibir artefactos legados pelo Egito faraónico e os seus apêndices histórico-culturais greco-romanos e coptas. Existe ainda o magnífico Museu da Civilização Egípcia, na zona sul do Cairo, que mostra os cinco mil anos da riqueza cultural e civilizacional do Egito, desde os tempos pré-históricos até ao atual Egito islâmico – um dilatado e sequencial percurso histórico que mais nenhum país do mundo poderá mostrar com tal singularidade. Traduzindo o vivo interesse que o vetusto país do Nilo desperta no nosso país, foi fundada em finais do século passado a Associação de Amizade Portugal-Egipto, a qual, sob a esclarecida e dinâmica direção do falecido senhor Embaixador Francisco Grainha do Vale, desenvolveu notórias atividades de âmbito lúdico e cultural. Infelizmente, a prejudicial crise pandémica da covid veio cercear as diversas ações que a Associação costumava amiúde levar a cabo, e a revista Hapi, que todos os anos era publicada sob a direção do egiptólogo Telo Ferreira Canhão, teve de terminar a sua edição devido a incontornáveis dificuldades económicas, tendo saído oito números entre 2013 e 2023.

Em Portugal existem cerca de mil objetos oriundos do antigo Egito, estando a maioria exposta ao público em museus de instituições públicas e privadas. E embora não se possam comparar, em qualidade e em quantidade, com os grandes acervos estrangeiros de antiguidades egípcias, o nosso país tem interessantes coleções de objetos evocativos do país do Nilo, com relevo para as que se encontram em Lisboa, sendo a maior a que pertence ao Museu Nacional de Arqueologia, com mais de 500 objetos. Seguem-se o Museu da Farmácia (que também tem um polo museológico no Porto), o Museu da Sociedade de Geografia de Lisboa, o Museu Calouste Gulbenkian e o Museu Nacional de Arte Antiga. Na cidade do Porto, além do referido polo do Museu da Farmácia, existem pequenos acervos no Museu Nacional de Soares dos Reis e, sobretudo, no Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto. Em Abrantes, no Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, encontra-se um pequeno núcleo, bem como em Canelas (Vila Nova de Gaia, na Casa Municipal de Cultura, que é

o Solar Condes de Resende), aos quais se poderão juntar os pequenos acervos do Palácio-Museu de Vila Viçosa, do Museu do Caramulo, e do Museu Condes de Castro Guimarães, em Cascais, entre outros. Além das instituições públicas e privadas mencionadas, e que proporcionam o acesso a visitantes interessados, Portugal conta ainda com pequenas coleções particulares que os respetivos proprietários conservam em suas casas, por vezes em redomas apropriadas, numa cuidadosa museografia de cariz pessoal, guardando objetos do Egito faraónico mas também greco-romanos e coptas. A maior parte dos acervos de antiguidades egípcias existentes em Portugal encontra-se estudada e publicada, graças a um projeto que foi iniciado nos anos 90 do século passado pelo Instituto Oriental da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e que hoje continua, até porque ciclicamente vão aparecendo novas coleções particulares. Por outro lado, é certo que alguns colecionadores, com os seus núcleos já estudados, uma vez por outra vão adquirindo novos objetos para enriquecimento dos seus pequenos acervos, os quais, naturalmente, não se encontram expostos ao público, mantendo-se guardados em casa dos seus proprietários. Sendo de recente implantação no nosso país, a egiptologia pode hoje detetar-se nos âmbitos museológico (que acima ficaram aflorados) e universitário. No campo académico merecerá justificada saliência a presença de disciplinas de âmbito egiptológico em alguns cursos de mestrado de universidades portuguesas, enquanto nos cursos de licenciatura em História, História da Arte e Arqueologia o antigo Egito tem presença nos programas de várias cadeiras, umas obrigatórias e outras opcionais.

Pode considerar-se que os primórdios da egiptologia em Portugal remontam ao século XIX, quando o interesse pelo antigo Egito se começou a manifestar de uma forma esporádica em certos textos e na propensão para o colecionismo, então em voga por toda a Europa, embora tais indícios se insiram mais no domínio de uma egiptomania então na moda como reflexo de gostos vindos do estrangeiro. Em todo o caso, a ida de Eça de Queirós ao Egito em 1869, para a inauguração do canal de Suez, em companhia do conde de Resende, os estudos de António Enes sobre a religião egípcia, a existência de um acervo egiptológico significativo na família Palmela, e a chegada à Sociedade de Geografia de Lisboa de um lote de antiguidades egípcias oferecido em 1893 pelo Museu do Cairo (então em Guiza), são o prenúncio do incremento do interesse pelo país do Nilo, que se robusteceu no século XX, sendo de mencionar como antecedente dos estudos egiptológicos o curso livre de Egípcio dado na Universidade do Porto por Valdez dos Santos no ano letivo de 1958-1959, do qual viria a resultar a publicação de uma singela brochura com o aliciante título de Introdução ao Camítico-semítico. Notas sobre as escritas hieroglífica e cuneiforme, editada pelo Centro de Estudos Humanísticos anexo à Universidade do Porto, em 1961.

A egiptologia no nosso país pode ser aquilatada em duas vertentes complementares e indissociáveis: a egiptologia

universitária, que se patenteia com mais acuidade e proveito na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (que é nesta altura a maior universidade portuguesa), na Universidade Aberta, e na FCSH da Universidade Nova de Lisboa, a que se junta a egiptologia de cariz museológico, que está relativamente bem representada em várias coleções públicas e privadas de objetos evocativos do antigo Egito, alguns dos quais estão expostos e à disposição do público, com destaque para o Museu Nacional de Arqueologia, o Museu Calouste Gulbenkian, o Museu da Farmácia e o Museu de História e da Ciência da Universidade do Porto, a que se juntam coleções particulares, como acima se aludiu.

Gulbenkian, o Museu Nacional de Arqueologia ou o Museu da Farmácia.

A egiptologia universitária, que tem mais expressividade nas instituições acima mencionadas, deteta-se no interesse manifestado pelos alunos na frequência de cadeiras de opção de timbre egiptológico do 1.º ciclo (licenciatura), que, no caso da Faculdade de Letras de Lisboa, são a Escrita Hieroglífica e a Introdução à Egiptologia. A nível de 2.º e 3.º ciclos (mestrado e doutoramento) os resultados positivos têm surgido com a apresentação de teses de mestrado e de doutoramento nos últimos anos, algumas das quais já estão publicadas devido às suas reconhecidas qualidades. As universidades também têm vindo a desempenhar uma precípua e compensadora função de divulgação séria e correta da egiptologia com a organização de conferências ou de encontros internacionais, tendo sido convidados notáveis egiptólogos estrangeiros para entre nós falarem das suas áreas de estudo e de investigação no campo egiptológico. Alguns eventos foram realizados com o apoio de diversas instituições, destacando-se a Fundação Calouste

Quanto à egiptologia museológica, que permite as visitas de estudo acompanhando a atividade académica, fundamenta-se na conservação, no estudo e na publicação dos mais de mil objetos egípcios existentes em Portugal, grande parte dos quais já foram publicados em artigos ou em livros, sendo de sublinhar a existência de catálogos das boas coleções do Museu Calouste Gulbenkian (agora já com uma 2.ª edição revista e atualizada, estando ainda disponível uma versão em inglês), o do Museu Nacional de Arqueologia (que está esgotado, esperando-se em breve uma 2.ª edição revista e aumentada), do Museu da Farmácia, e, mais recentemente, o do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto. Servindo e apoiando ambas as modalidades, existe hoje um razoável número de obras de autores portugueses versando os mais diversos aspetos da rica e milenar civilização egípcia, que se junta à bibliografia estrangeira egiptológica à disposição de um vasto número de leitores interessados pelo antigo Egito, a começar pelos estudantes dos vários graus de ensino, sendo mesmo de sublinhar a existência de livros de caráter infanto-juvenil para os alunos do ensino básico: e um exemplo entre outros poderá ser o volume da coleção «Uma Aventura» dedicado ao antigo Egito, da autoria de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada (Editorial Caminho), do qual já foram feitas várias edições com tiragens de milhares de exemplares. Várias editoras têm traduzido edições estrangeiras enriquecidas por atraentes ilustrações que se destinam a leitores mais jovens, em especial os estudantes, mas que os adultos também deveras apreciam. •

O GRANDE MUSEU EGÍPCIO: O PRESENTE DO EGITO AO MUNDO

Por Prof. Dr. Zahi Hawass Egiptólogo.

Durante décadas, o mundo aguardou o momento em que as portas do Grande Museu Egípcio se abririam finalmente à humanidade. No dia 1 de novembro de 2025 esse sonho tornou-se realidade. Mas, a data não assinalou apenas a abertura de um museu, marcou o início de uma nova era na cultura mundial. Para mim, representou o culminar de anos de esperança, visão e dedicação incansável para oferecer ao Egito, e ao mundo, um museu digno da nossa antiga civilização.

Por onde quer que tenha viajado - de Nova Iorque a Tóquio, de Paris a Buenos Aires - a pergunta foi sempre a mesma: “Quando abrirá o Grande Museu Egípcio?” Essa questão refletia não só curiosidade, mas também o fascínio profundo que o mundo sente pelo passado intemporal do Egito. O Grande Museu Egípcio capturou a imagi-

nação global muito antes de abrir as suas portas e agora a espera está quase a terminou.

UM DIA DE SIGNIFICADO GLOBAL

O primeiro dia de novembro de 2025 foi celebrado como um marco cultural do século XXI. É foi o dia em que o Egito revelou ao mundo um museu sem igual, uma maravilha arquitetónica e um monumento vivo ao génio humano. A grande inauguração contou com a presença de líderes, académicos e visitantes de todos os continentes, reunidos aos pés da Grande Pirâmide de Gizé para celebrar o espírito duradouro da civilização.

Mas, esta abertura tem um significado mais profundo do que qualquer cerimónia. Simboliza a paz, a perseverança e a mensagem do Egito ao mundo: que mesmo em tempos de turbulência, a cultura perdura; que o conhecimento e o património são mais fortes do que o conflito; e que o Egito continua a ser o guardião dos tesouros mais antigos da humanidade.

DA ABERTURA EXPERIMENTAL AO TRIUNFO

Em outubro de 2024, realizou-se uma abertura limitada para visitantes selecionados. Esta “abertura experimental” permitiu que egípcios e alguns convidados testemunhassem partes do museu, mas não foi a inauguração grandiosa que o Egito imaginara.

A decisão do governo de adiar a celebração internacional completa foi uma decisão moral. O Médio Oriente estava abalado pela violência em Gaza e no Líbano, e o Egito não podia, em consciência, realizar um evento global luxuoso enquanto sangue inocente era derramado.

O primeiro-ministro Dr. Mostafa Madbouly expressou claramente a posição do governo: o Egito esperaria até que a paz prevalecesse na região antes de realizar a abertura plena que o museu merece. Essa decisão refletiu não hesitação, mas humanidade. Reafirmou o apoio inabalável do Egito à justiça e a sua crença duradoura no direito de todos os povos a viverem em paz. Agora, em 2025, à medida que o mundo se prepara para um novo capítulo, o Egito está pronto para revelar o Grande Museu Egípcio, uma instituição que recordará à humanidade as suas raízes e o seu futuro comuns.

O NASCIMENTO DE UMA VISÃO

Poucos conhecem a história de como este sonho começou. O Grande Museu Egípcio não é apenas o maior museu alguma vez construído para albergar uma única civilização; é também a concretização de uma visão iniciada há mais de duas décadas. O crédito pela escolha da sua localização magnífica pertence ao meu caro amigo, o artista e antigo Ministro da Cultura Farouk Hosny. Ele insistiu que o museu deveria erguer-se num local onde os símbolos eternos do Egito - as pirâmides - o pudessem vigiar. Acreditava, como eu, que o Egito, berço da civilização, merecia um marco cultural visível a partir da última das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Em 2002, foi lançado um concurso internacional de arquitetura para o projeto do museu. Foram apresentadas mais de duas mil propostas de todo o mundo. O projeto vencedor, de um arquiteto chinês sediado em Dublin, Irlanda, foi escolhido pela sua harmonia poética com o planalto de Gizé. A fachada do edifício, em alabastro translúcido, capta a luz do deserto e ecoa a geometria das pirâmides sem as imitar num design que olha para o futuro, respeitando o passado: um museu em diálogo com a eternidade.

CONSTRUIR O SONHO

A construção começou com a criação dos laboratórios de conservação e das instalações de armazenamento - o coração da missão científica do museu - construídos segundo os mais elevados padrões internacionais. Os fundos que tornaram isto possível vieram, em parte, de exposições internacionais dos tesouros de Tutankhamon, organizadas durante o meu mandato como Secretário-Geral do Conselho Supremo de Antiguidades. Essas expo-

sições angariaram cerca de 120 milhões de dólares, utilizados para adquirir equipamentos de conservação de ponta e formar uma nova geração de especialistas egípcios.

Mais tarde, o Japão concedeu um empréstimo generoso de cerca de 400 milhões de dólares para apoiar a construção do edifício principal. Equipas egípcias e internacionais trabalharam lado a lado, unindo precisão técnica e visão artística.

No entanto, como em tantos grandes empreendimentos, o progresso foi interrompido. Os acontecimentos de 2011 travaram a construção, e por um tempo pareceu que o sonho poderia desaparecer.

Com a liderança do Presidente Abdel Fattah El-Sisi, os trabalhos foram retomados com nova determinação. Outro empréstimo japonês foi assegurado, e o governo egípcio investiu cerca de mil milhões de dólares para concluir o projeto. Uma decisão tomada em tempos de dificuldade económica que demonstrou ao mundo que o Egito protegerá sempre o seu património, custe o que custar.

UM MUSEU COMO NENHUM OUTRO

O Grande Museu Egípcio ocupa 47 hectares, uma verdadeira cidade de história e arte. À entrada ergue-se o majestoso obelisco do Rei Ramsés II, trazido de Tânis, com inscrições antigas que dão as boas-vindas aos visitantes ao Reino dos Faraós.

No interior, destaca-se outra maravilha: a colossal estátua de Ramsés II, com 83 toneladas, deslocada da Praça Ramsés, uma das operações de engenharia mais ousadas da história moderna do Egito.

A escadaria monumental - a Grande Escadaria - conduz os visitantes através do tempo, ladeada por estátuas de todas as eras da história egípcia, desde as primeiras dinastias até ao período ptolomaico. É mais do que uma escada: é uma peregrinação por cinco milénios de civilização.

O BARCO SOLAR: UM MILAGRE RENASCIDO

Entre as maiores conquistas do museu está a transferência do Barco Solar do Rei Khufu, uma das façanhas da engenharia mais extraordinárias da era moderna. Esta embarcação de cedro, com 4.600 anos, outrora guardada junto à Grande Pirâmide, foi trasladada para uma galeria especialmente construída no museu, sob a supervisão do Engenheiro Major-General Atef Moftah, cuja liderança tornou esta operação um sucesso admirado em todo o mundo. Na nova Galeria do Barco Solar, os visitantes poderão também observar a restauração do segundo barco, ainda em processo, conduzida por especialistas japoneses. Pela primeira vez, o público poderá assistir ao trabalho de conservação arqueológica em tempo real: uma combinação perfeita de ciência, artesanato e transparência.

O REI DOURADO

Os tesouros de Tutankhamon são, sem dúvida, o coração do museu. Pela primeira vez desde a descoberta do túmulo por Howard Carter em 1922, os 5.398 objetos serão exibidos em conjunto.

Duas vastas galerias foram dedicadas exclusivamente ao jovem faraó, concebidas para mergulhar os visitantes no mundo do antigo Egito.

O meu desejo pessoal é que a máscara dourada - o artefacto mais icónico da história da arqueologia - seja apresentada como o último objeto no percurso do visitante. Entre todos os artefactos, o objeto que mais me comove é o trono de Tutankhamon, onde o Rei é retratado serenamente enquanto a Rainha Ankhesenamun o unge com perfume e lhe coloca uma grinalda de flores. Poucosreparam num detalhe delicado que os une: partilham um par de sandálias - o pé direito do Rei e o esquerdo da Rainha - símbolo de união perfeita e amor eterno.

O LEGADO DAS MULHERES DO EGITO

O museu revela também, pela primeira vez, os tesouros da Rainha Hetepheres, mãe de Khufu e avó de Khafre, o construtor da segunda pirâmide. Descoberto em 1925, o seu túmulo continha mobiliário e joias de requinte excecional, mas passou despercebido à época, ofuscado pela descoberta da tumba de Tutankhamon. Agora, Hetepheres recebe o reconhecimento que merece: o seu legado a brilhar ao lado dos seus descendentes.

UMA MENSAGEM PARA O FUTURO

O Grande Museu Egípcio não é apenas um edifício ou uma exposição, é uma mensagem do Egito ao mundo. Declara que a verdadeira civilização não se mede pelo poder ou pela riqueza, mas pela capacidade de preservar e honrar o passado. Este museu prova que o Egito não é apenas a terra dos faraós, mas também uma nação moderna capaz de liderar o mundo em cultura, ciência e visão. Quando o mundo reuniu-se no passado dia 1 de novembro de 2025, aos pés das pirâmides, para testemunhar a inauguração do Grande Museu Egipcío: um acontecimento único, mais do que uma celebração nacional, foi uma celebração da humanidade.

O Grande Museu Egípcio é, sem dúvida, o maior museu alguma vez construído, o presente do Egito ao mundo, um monumento não apenas ao passado, mas à promessa de um futuro mais luminoso e unido.•

PEDRO PINTO CONSOLIDA O SISTEMA GUEST GURU

Para pro ssionais da hospitalidade.

As cartas do Sistema Guest Guru são criadas por um premiado líder da hospitalidade portuguesa, combinando a paixão pela hospitalidade com um profundo conhecimento do setor. Cada carta é uma ferramenta inovadora para inspirar e educar os profissionais em todas as áreas da hospitalidade.

POR QUE O SISTEMA GUEST GURU?

Desenvolvido a partir da experiência real de um dos melhores diretores de hotéis de Portugal, o Guest Guru é mais do que um jogo: é um manifesto de qualidade, uma jornada de aprendizado contínuo e uma celebração da inovação na hospitalidade.

Cada carta representa um compromisso com um serviço excepcional, fundamentado na experiência e no sucesso reconhecido em algumas das plataformas mais prestigiadas da indústria, como Booking, Tripadvisor e Expedia. Eleve sua equipe ao próximo nível com o Sistema Guest Guru, para que possa enfrentar qualquer desafio com confiança e criatividade. Essas cartas serão seu maior aliado na formação de equipes de elite, prontas para surpreender e encantar os hóspedes a cada oportunidade. Convidamos você a explorar cada uma das cartas e descobrir como o Guest Guru pode transformar a dinâmica do seu serviço. Acompanhe-nos nesta jornada de excelência e transforme seu estabelecimento em um exemplo de sucesso e inovação.

QUEM É O CRIADOR?

Pedro Pinto, diretor-geral do Hotel Corpo Santo Lisboa, foi distinguido com o Prêmio de Sustentabilidade EHMA da Diversey 2024, um reconhecimento a projetos inovadores em sustentabilidade e responsabilidade social no setor hoteleiro. A iniciativa vencedora foi um jogo de cartas que, similar às cartas do Guest Guru, tem como objetivo envolver colaboradores e hóspedes de maneira lúdica e educativa. Este jogo promove a reflexão criativa sobre a redução de emissões, alinhando-se com a missão das cartas Guest Guru de aumentar a excelência no serviço e fomentar práticas sustentáveis na hospitalidade. A premiação ocorreu na Assembleia Geral Anual da EHMA em Veneza, que também celebrou o 50º aniversário da Associação.•

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