@DiplomaciaESP Academia de la Diplomacia, del Reino de España
Editorial: Revista Diplomacia
Século XXI
Pedro Machado, Secretário de Estado do Turismo do XXIV Governo Constitucional
A Academia de Diplomacia estabelece a sua sede portuguesa em Cascais
A Academia da Diplomacia começa as suas atividades na Casa do Farol, com o embaixador portugues Mira Gomes
Sua Majestade o Rei Felipe VI receba as Cartas Credenciais do senhor José Augusto de Jesus duarte, embaixador da República Portuguesana Espanha
Escribe Bruno Figueroa, embaixador do México
México e Portugal o horizonte Atlântico. Uma oportunidade sem fronteiras
Portugal na fil Guadalajara: um marco na diplomacia cultural luso-mexicana
Diretor da Revista e Delegado da Academia em Portugal
Jorge Antas da Barros
Presidente Executivo da Academia: Santiago Velo de Antelo
Vice-Presidente da Academia: José Carlos Ruiz-Berdejo y Sigurtá
Antònio Homem Cardoso, fotógrafo da família real 4 5 6 10 14 16 9 9 20 18 22 24 26 28
Entrevista o Dr. Paulo Coelho Lima Lameirinho
Entrevista o Carlos Mota Santos
Entrevista o Fernando Tavares pereira, CEO del Grupo TAVFER
A Federação Portuguesa de Futebol organizaram a exposição “futebol para a paz”, visitada por diplomatas de todo o mundo
A diplomacia global e um mundo satélite onde se destaca a Península Ibérica
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Poderá consultar os números anteriores em: issuu.com/revistadiplomacia
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EDITORIAL REVISTA DIPLOMACIA SÉCULO XXI
Jorge Antas de Barros. Director.
A Revista Diplomacia Século XXI irá ser o periódico oficial da Academia da Diplomacia em Portugal, dirigida a todas as embaixadas e consulados estrangeiros com representação diplomática no nosso país, no estrito respeito pela ordem internacional, baseada nas normas e nos princípios do multilateralismo efetivo, nos direitos humanos internacionais no direito humanitário, nas liberdades fundamentais e no Estado de Direito.
Dado o seu caráter internacional oferecemos aos nossos colaboradores e apoiantes, a oportunidade de alcançar um segmento de leitores bem definido: o mundo diplomático nas vertentes da diplomacia política, económica e cultural. Temos a experiência de Espanha, onde a Academia publicou 180 números desde a sua fundação, há quase 30 anos.
Em cada edição, diferentes personalidades do mundo da diplomacia e das relações internacionais analisarão o panorama internacional contemporâneo incluindo entrevistas com figuras-chave da política internacional e um acompanhamento atento das atividades diplomáticas.
Com o objetivo de ajudar a promover os interesses internos dos seus países, abriremos o conteúdo da Revista Diplomacia a todos os Embaixadores que se disponibilizem a usar este meio de comunicação, para dar conhecer as realidades e idiossincrasia dos seus povos e com isso poder influenciar a opinião pública de outros países, por meio da cultura, educação, comunicação e média, tendo como foco principal melhorar a imagem do seu país ou promover os seus valores e políticas.
Um dos princípios fundamentais da diplomacia consiste no respeito pela soberania e autonomia de cada Estado, reconhecendo as suas diferenças culturais, políticas e económicas. Isso implica uma busca de soluções que sejam mutuamente benéficas e respeitem os interesses de todas as partes envolvidas, sendo uma ferramenta essencial nas relações internacionais através de interações pacíficas entre os governos de Estados soberanos, por meio de representantes oficialmente reconhecidos.
O desafio está lançado.
PORTUGAL E MÉXICO: PARCERIA TURÍSTICA EM ASCENSÃO
Pedro Machado.
Secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços do XXV Governo.
Portugal e México mantêm uma relação bilateral forte, caracterizada por laços diplomáticos, culturais e económicos sólidos. Através de um diálogo constante e de uma cooperação institucional ativa, a proximidade entre os dois países tem impulsionado parcerias multifacetadas, desde o investimento ao comércio passando pela ciência e pela cultura. E o turismo emerge, de forma sustentada, como um dos pilares mais promissores desta relação bilateral. Num cenário global dinâmico, o México afirma-se como um mercado em franca expansão, com um setor turístico vibrante e atrativo. Paralelamente, Portugal consolida também a sua reputação como importante destino turístico internacional.
Em 2024, o México ascendeu à 28.ª posição como mercado emissor de dormidas e à 27.ª em número de hóspedes em Portugal. Os turistas mexicanos geraram um volume significativo de mais de 203 mil dormidas e cerca de 93 mil hóspedes, traduzindo-se em crescimentos notáveis de 15,5% e 13,8%, respetivamente, face ao ano anterior. O aumento de 25,2% nas receitas turísticas, atingindo os 92,7 milhões de euros reforça o potencial deste mercado. Reconhecendo o México como um mercado de oportunidades estratégicas, o Governo, através do Turismo de Portugal, planeia intensificar o investimento neste mer-
cado em 2025. Esta aposta será concretizada através de um conjunto de iniciativas específicas, incluindo ações de promoção direcionadas a jornalistas, realização de workshops interativos com operadores turísticos e encontros estratégicos, com vista a fortalecer a imagem de Portugal como um destino de excelência para o exigente público mexicano.
Paralelamente, a diversificação e a consolidação das ligações aéreas com mercados emissores de elevado potencial, como o México, permanecem uma prioridade estratégica. A identificação de novas rotas e a expansão do número de companhias aéreas internacionais a operar em Portugal são elementos fulcrais para garantir a acessibilidade ao nosso país e responder, eficazmente, à dinâmica da procura global.
No atual contexto geopolítico e económico complexo, o investimento em relações bilaterais que criem valor partilhado e promovam a compreensão mútua entre nações torna-se fundamental. O turismo, enquanto indústria de encontros e experiências, assume-se como uma poderosa ferramenta de diplomacia económica e cultural. Portugal reafirma o seu compromisso em aprofundar este caminho de cooperação com o México, munido de confiança, ambição e uma visão clara de futuro.•
A ACADEMIA DE LA DIPLOMACIA ABRE SEDE PORTUGUESA EM CASCAIS
O evento foi presidido pela Embaixadora de Espanha em Portugal, Marta Betanzos e contou com a presença do ex Primeiro-ministro Dr. Pedro Passos Coelho.
Após mais de dois anos de trabalho, a Academia de Diplomacia inaugurou a sua sede portuguesa com um evento emocionante no fabuloso cenário da Casa de Santa Maria. O evento foi presidido pela Embaixadora de Espanha em Portugal, Marta Betanzos, pelo ex-Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho, pelo Presidente Executivo da Academia, Santiago Velo de Antelo, e pelo delegado da Academia em Portugal, Jorge Antas de Barros, bem como pelo Embaixador de Espanha, Vicente Blanco, que veio de Espanha para a ocasião.
O Presidente da Câmara, Carlos Carreiras, e o Vereador Francisco Kreye, que tutela o Departamento de Relações Internacionais, destacaram os quase 660 anos de história de Cascais e a sua relação com outras cidades. Jorge Antas de Barros afirmou que “Cascais deu-nos a oportunidade
de organizar aqui eventos, seminários e reuniões com o corpo diplomático, pois reúne um conjunto de infraestruturas que garantem a qualidade.”
A residência desta Academia em Cascais resulta de uma colaboração entre o município e esta instituição do Reino de Espanha. Esta colaboração já estava registada a 22 de fevereiro de 2023 e o documento foi aprovado em reunião de Câmara a 20 de dezembro de 2022.•
A ACADEMIA DA DIPLOMACIA
COMEÇA AS SUAS ATIVIDADES NA CASA
DO FAROL, COM O EMBAIXADOR PORTUGUES MIRA GOMES
A Academia de la Diplomacia arrancou as suas atividades, na Casa do Farol em Cascais, e teve como convidado o embaixador Mira Gomes, representante português em Madrid. No final da conferência, o embaixador foi nomeado académico honorário da Academia de Diplomacia.
O diplomata destacou os dossiers que Portugal e Espanha “têm vindo a desenvolver, nomeadamente nos campos da energia, da ferrovia, da rodovia e das trocas comerciais”.
O Embaixador assinalou a importância das trocas comerciais entre os dois países ibéricos. Por exemplo, as “exportações de Espanha para Portugal superam o conjunto
das daquele país para toda a América Latina, enquanto Portugal exporta para Espanha mais do que para França e Alemanha, em conjunto”.
Nesta primeira sessão, onde estiveram diversos representantes diplomáticos, também foram analisadas as relações com a América Latina e as posições conjuntas de Portugal e Espanha no âmbito da União Europeia (UE).
Depois deste primeiro encontro, em Cascais, a Academia promete a realização de iniciativas regulares.•
SUA MAJESTADE O REI FELIPE VI RECEBA AS CARTAS
CREDENCIAIS DO SENHOR JOSÉ AUGUSTO DE JESUS
DUARTE,
BRUNO FIGUEROA
EMBAIXADOR DO MEXICO
“Em 2024 Portugal e México celebraram 160 anos de relações diplomáticas.
Esta data re ete uma amizade duradoura, assente na família ibero-americana e em valores partilhados e visão de um caminho comum”.
Como Embaixador do México em Portugal quais os principais objetivos e desafios desde que assumiu o cargo?
Apresentei as minhas credenciais ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa em janeiro de 2023. Estava presente o então Ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho. Sublinhei o facto de as relações entre nossos dois países estarem a passar por um ótimo momento e de haver uma vasta área para as fortalecer em todos os âmbitos. Não eram meras fórmulas de cortesia diplomática: havia provas claras, indeclináveis, a apoiar as minhas palavras. Portugal tinha descoberto recentemente o mercado mexicano para os seus produtos e o seu excelente know-how em algumas áreas – como a engenharia civil – e nós, mexicanos, estávamos a descobrir que Portugal podia ser a porta de entrada para a Europa. São mudanças de paradigma que levam décadas a ocorrer, e as suas consequências podem ser enormes. Portugal era um pouco invisível para os mexicanos, era visto como estando na periferia da Europa. Agora, vêm não apenas turistas conhecer este lindo país, mas também artistas e investidores que
descobrem novas oportunidades. Da mesma forma, anteriormente, muitos portugueses destacavam apenas dois países da América Latina: o Brasil – por razões óbvias – e a Venezuela, devido à grande comunidade de origem portuguesa que ali reside. Ainda ouço, de vez em quando, diplomatas aposentados, em seminários sobre América Latina e Portugal, que se limitam a falar do Brasil. O meu desafio é precisamente apoiar e acelerar essa mudança de paradigma, que se manifestará em amplas áreas: economia, turismo, cultura e cooperação. O objetivo é expandir a presença do México em Portugal.
É muito interessante a sua visão de uma mudança de paradigma no relacionamento bilateral. Não se importa de desenvolver a ideia?
Com muito gosto. Começo com o aumento da circulação dos nossos cidadãos. Atualmente, muitos turistas mexicanos que viajam pela Europa decidem começar por Portuga e não o deixar para o fim, ou simplesmente ignorá-lo. Para os portugueses, há novas opções de voos para a Ri-
viera Maya, como um voo direto do Porto para Cancún. Um círculo virtuoso foi ativado, em que quanto mais pessoas se mudam de um país para outro, mais interesse é criado no desenvolvimento de diversas iniciativas, sejam elas empresariais, culturais ou de outra natureza. Estamos a falar de um movimento profundo que vem de baixo, por parte de cidadãos e de empresários, com o apoio dos nossos governos, é claro.
Passo agora para o mundo dos negócios. Há dez anos, a presença da construtora Mota Engil no México era discreta. Hoje, é uma gigante envolvida em alguns dos projetos mais importantes do país: o comboio Maya, linhas de metro em Guadalajara e Monterrey (a segunda e a terceira cidade mais povoada) e ainda concessões de portos e aeroportos. O facto foi registado em Portugal, e consequentemente inúmeras empresas querem repetir essa história de sucesso. Deste lado, a presença empresarial mexicana também é mais visível. Hoje, os camiões Bimbo atravessam todas as estradas de Portugal para entregar pão fresco todos os dias. A Bimbo é a maior panificadora do mundo e tem duas fábricas neste país. Conheço empresários mexicanos que vieram para Portugal com um “Visto Gold” ou como simples turistas e, ao saberem da estabilidade e do clima de negócios do país, perguntaram a si próprios “Por que não investir aqui?” E montam desde microempresas (como uma máquina de fazer tortilhas ou um restaurante mexicano) até projetos de maior envergadura.
Portugal partilha imensas afinidades e valores no plano bilateral e multilateral com o México. Qual o sentimento das autoridades mexicanas em relação a Portugal?
Portugal sempre foi e sempre será um parceiro sólido e confiável em todos os aspetos. Desde que recuperou a democracia, e especialmente desde que aderiu à União Europeia, temos realizado consultas regulares e atuado no cenário internacional de forma coincidente. A lista de assuntos em que estamos alinhados é muito longa: democracia e estado de direito; uma ordem internacional baseada em regras que devem ser respeitadas; apoio à ONU e aos organismos multilaterais especializados, que constituem uma parte essencial da arquitetura multilateral; livre comércio e desenvolvimento sustentável; a luta contra o aquecimento global; o cuidado com os mares e oceanos, e poderia continuar a enumerá-los. Apoiamos as candidaturas portuguesas em organizações internacionais e Portugal apoia as nossas.
Sabemos que Portugal é um país de dimensão e economia modestas, mas também que é um gigante diplomático, o que se traduz, entre outras coisas, na presença de portugueses com enormes talentos em posições-chave em todo o mundo, e que são amigos do México. É um asset inestimável.
Portugal e México são países com grandes diferenças em dimensão, população e cultura, mas algo os une que são séculos de história ligados pela latinidade e o otimismo de procurar sempre o melhor para o futuro. Que mecanismos e iniciativas destacaria para promover a cultura mexicana em Portugal e a portuguesa no México?
A cultura é, de facto, um elo de identidade entre mexicanos e portugueses: somos, de certa forma, primos próximos. Não podemos esquecer que havia portugueses nas tropas de Hernán Cortés, que foram os primeiros europeus a pisar em solo mexicano, no início do século XVI.
do realizador de cinema Paul Leduc, na Cinemateca; a celebração do Dia Internacional da Gastronomia Mexicana no Hotel Hyatt Regency em Lisboa, com um extraordinário “mano a mano” entre os chefs Tiago Silva e Diana Beltrán. Pode, assim, ver-se uma grande variedade de manifestações, todas elas muito populares entre os portugueses. Este ano, a nossa oferta cultural também vai surpreender positivamente o público português.
As empresas portuguesas estão já presentes em vários domínios na atividade económica mexicana como sejam a construção civil ou as áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação. Existem outras áreas suscetíveis do interesse do setor empresarial como por exemplo as energias renováveis, saúde ou agroalimentares?
O reconhecimento da especificidade cultural de cada indivíduo tem sido a base de iniciativas que tiveram impacto nas nossas sociedades. Em 2018, Portugal foi o convidado de honra da Feira Internacional do Livro de Guadalajara —a mais importante feira de livros em língua espanhola e a segunda maior do mundo, depois de Frankfurt— e, pela primeira vez, a língua portuguesa teve um lugar de destaque, ao lado do espanhol. O governo português levou escritores famosos a Guadalajara e à Cidade do México, tendo tido lugar vários eventos culturais em torno deste acontecimento. Aqui em Portugal, nunca perdemos uma oportunidade para promover o México de mil e uma maneiras. No ano passado, no âmbito do nosso 160º aniversário de relações diplomáticas, realizamos mais de dez atividades culturais de grande destaque, de que assinalo algumas: uma exposição de têxteis extraordinários no Porto; de códices mexicanos na sede do Instituto Camões de Língua e Cooperação; um inesquecível concerto de gala no Teatro Tivoli, em Lisboa, dedicado ao fado e aos boleros, com Carminho e La Santa Cecília; Jornadas do México em Redondo, com uma tourada dedicada ao meu país; uma retrospetiva
Portugal tem, pelo menos, dois ativos sólidos que infelizmente são pouco conhecidos fora do país. A modéstia, aprendi-o aqui, é uma característica muito lusitana. Refiro-me à qualidade do ensino universitário e científico (prova disso é um Prémio Nobel da Medicina em 1949), e à existência de uma rede de empresas altamente qualificadas e especializadas, sobretudo nas regiões centro (como em Leiria) e norte. Em vários setores, inúmeras empresas portuguesas têm capacidade de se internacionalizar e competir globalmente; O México é um espaço essencial para essa internacionalização, e empresas dos setores metalo-mecânico, de moldes plásticos e de autopeças já estão lá presentes. Outras estão a aproveitar o enorme mercado mexicano, desde a indústria da cortiça — somos grandes consumidores para as nossas muitas bebidas, do vinho de uva à tequila ou ao mezcal — até a indústria farmacêutica. Um grupo de classe mundial como o Bial está gradualmente a ganhar espaço no nosso mercado. Os vinhos portugueses concorrem muito bem com os seus vizinhos espanhóis; é só uma questão de fazer boas campanhas promocionais para se se dar a conhecer. No setor das energias renováveis, empresas portuguesas como a EDP produzem eletricidade no México há pelo menos uma década; é um setor em plena expansão, onde há oportunidades para todos. Entre os desafios da maioria dessas empresas está a adaptação ao tamanho do mercado norte-americano, o que às vezes exige investimentos muito grandes; também conhecer bem as regras locais e de concorrência, muito diferentes das europeias.
Recentemente o Secretário de Estado do Turismo reuniu-se com a Ministra do Turismo do México. Há os novos projetos nesta área que possam ser anunciados? E já agora perguntar se está previsto a abertura de voo direto entre Lisboa e Cidade do México?
O turismo entre os dois países continua a aumentar. Em 2023, 82.200 mexicanos visitaram Portugal, um aumento de 49% em relação ao ano anterior. Na direção oposta, 74.600 portugueses viajaram para o México na-
quele ano, o dobro do número anterior à pandemia de Covid-19.
Sou ambicioso: não considero despropositado instituir um voo direto Lisboa-Cidade do México daqui a poucos anos, que apoiasse não apenas a expansão dos negócios, mas também o turismo fora da Riviera Maya. O Oceano Atlântico, que costumava separar-nos, agora une-nos.
O mercado mexicano representa para as exportações europeias o acesso a 126 milhões de consumidores e mais de 60 mil milhões de euros em exportações europeias para o seu país. Acha que a recente assinatura do Acordo Global com o México pode ser um passo significativo para o estabelecimento de novas parcerias estratégicas?
Numa era de maior incerteza política e económica, o México deve olhar mais para a Europa e vice-versa. A nossa dependência em relação à América do Norte é muito alta — mais de 80% — e não conseguimos expandir nosso portfólio de produtos na Europa, às vezes devido à facilidade de vender para nosso vizinho do norte, que é, para além disso, o maior mercado do mundo. Mencionei-o num seminário económico na Cidade do México no início deste ano: os nossos empresários precisam se esforçar mais e olhar mais para o resto do mundo, especialmente para a Europa, e ilustrei-o com a seguinte frase: “Não vamos colocar todos os nossos abacates na mesma canasta!” Com o acordo global modernizado entre o México e a União Europeia, que substituirá o acordo de 2000 — por sinal assinado em Lisboa, na altura — as oportunidades económicas em ambas as margens do Atlântico serão substancialmente ampliadas. Será criada uma excelente conjuntura para novas parcerias estratégicas que fortaleçam a competitividade das nossas empresas. Também em Portugal se estão a abrir novas perspetivas para as empresas mais orientadas globalmente. Precisamos de reforçar a nossa logística para reduzir custos e abrir oportunidades.
Vivemos atualmente um contexto geopolítico e económico de alguma incerteza e complexidade. Qual é, em seu entender a importância e o papel que pode ter a comunidade ibero-americana no mundo?
Infelizmente, voltamos a uma era em que o poder real conta muito e a fragilidade – medida sob diferentes parâmetros –é castigada. Apenas a união faz com que os mais pequenos – e menos fortes – podem ser ouvidos e respeitados. É esta
a verdadeira importância da comunidade ibero-americana, uma das mais homogéneas do planeta, não o esqueçamos, que partilha valores, história, cultura e também mercados económicos. Temos agora uma oportunidade de robustecer os nossos vínculos e fazer-nos ouvir mais distintamente. A nossa comunidade de nações também não está a viver o seu melhor momento de unidade, mas o que está a acontecer em tantos lugares do mundo deveria obrigar-nos a dialogar mais e a estabelecer estratégias comuns.
A Ásia está a caminho de ultrapassar 50% do PIB mundial até 2040 e alavancar 40% do consumo global, o que representa uma deslocação real do centro de gravidade do planeta. Da experiência que teve como Embaixador na Coreia do Sul como vê o crescimento da Ásia em termos do seu imenso potencial e numa altura em que o futuro chegou ainda mais rápido do que se previa?
Efetivamente, viver quase cinco anos em Seul foi como dar um salto de 100 anos em frente; muitos dos novos modelos de relacionamento social, especialmente nas cidades, estão a ter lugar nessa parte do mundo. O uso de robôs e de inteligência artificial na vida quotidiana é impressionante. Seul é uma das cidades mais seguras do mundo, mas há milhares de câmaras por toda a parte. Essa modernidade tem um custo elevado na qualidade de vida; a solidão, por exemplo, está muito presente. Acho que prefiro menos tecnologia, menos materialismo e um estilo de vida mais “devagar”, à portuguesa. Não sou o único que pensa assim.•
Manuel Carvalho, Embaixador de Portugal no México; Jorge Yarte Sada, Presidente da Câmara Comercio e Industria Luso-México e Bruno Figueroa, Embaixador de México no Portugal.
MÉXICO E PORTUGAL O HORIZONTE ATLÂNTICO.
UMA OPORTUNIDADE
SEM FRONTEIRAS
Por Jorge Alberto Yarte-Sada Presidente do Conselho Diretor da CCILM – Câmara de Comércio e Indústria Luso-Mexicana Presidente do Comité Empresarial Bilateral México–Portugal e México–PALOP do COMCE Presidente da UBIQUM Trans-Horizon Advisors and Investments Ltd.
Vivemos tempos de fronteiras globais. Fronteiras físicas, sim — mas, sobretudo, fronteiras mentais, geoeconómicas e estratégicas. Em pleno 2025, quando o mundo volta a erguer muros e barreiras, a relação entre o México e a União Europeia é uma daquelas boas notícias raras: sólida, fiável e aberta ao mundo. Desde o ano 2000, com
a assinatura do Acordo Global UE–México, temos vindo a construir um marco regulatório robusto, moderno e eficaz, que promove o comércio, o investimento e a cooperação mútua. Agora, com a sua recente modernização, abre-se uma nova era — um verdadeiro catalisador de oportunidades para empresários visionários e para o reforço das nossas cadeias de valor transatlânticas. Para mais informações sobre este instrumento estratégico, convido à leitura da página oficial da Comissão Europeia https://trade.ec.europa.eu/access-to-markets/pt/content/ acordo-global-ue-mexico bem como da análise da AICEP disponível neste link: https://www.portugalglobal. pt/noticias/2025/janeiro/acordo-global-entre-a-uniao-europeia-e-o-mexico/ Neste contexto global cada vez mais competitivo, o novo Acordo Global posiciona-se como uma ferramenta essencial. Para as empresas portuguesas, o México representa a porta de entrada para a América do Norte e para os mercados da Aliança do Pacífico (Costa Rica, Colômbia, Peru e Chile). Para as empresas mexicanas, Portugal oferece acesso privilegiado à União Europeia, entrada a Africa e aos países da CPLP — criando uma rota natural de negócios, sustentada por tratados multilaterais e afinidades históricas. É precisamente nesta ponte que a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Mexicana (CCILM) se posicio-
na. Comemorando este ano 20 anos de existência — fundada em 2004, ano em que tive a honra de ser o seu primeiro Presidente do Conselho Diretor — regresso novamente como Presidente do Conselho Diretor CCILM agora com renovado dinamismo e sentido de missão. A CCILM, com sede em Lisboa e com personalidade jurídica estendida no México, atua com especial intensidade no México através do COMCE de Occidente - https://comceoccte.org.mx/ com sede em Guadalajara, um polo económico, industrial e logístico de referência. A nossa missão é clara: abrir portas, facilitar contactos, apoiar projetos concretos e gerar valor duradouro para empresas dos dois lados do Atlântico. A CCILM encontra-se atualmente a implementar um programa de internacionalização estruturado, designado PORTUGAL CONNECT, com especial foco no setor agroindustrial e agroalimentar. Este programa — também conhecido como AGROCONNECT — visa posicionar Portugal como plataforma exportadora para a América Latina, com o México como plataforma estratégica e logística. Podem conhecer mais sobre esta iniciativa: https://camaralusomexicana.org/agroconnect/ Ao mesmo tempo, reforçamos a nossa presença institucional através da colaboração ativa com o COMCE – Consejo Mexicano de Comercio Exterior, Inversión y Tecnología, de que sou Presidente do Comité Empresarial Bilateral México–Portugal (desde 2007) e México–PALOP (desde 2014). Esta entidade, com presença nas 32 entidades federativas mexicanas e membro do Consejo Coordinador Empresarial (CCE) — o equivalente mexicano à CIP — garante-nos acesso direto a uma rede de suporte empresarial com escala nacional, capaz de apoiar tanto empresas portuguesas com ambição no México, como empresas mexicanas com projetos de expansão para a UE e os países da CPLP. Mais detalhes sobre esta estrutura podem ser consultados no site do COMCE: https://www.comce.org.mx/ No mundo empresarial, prosperam aqueles que constroem pontes. Cresci paralelamente entre Monterrey (Nuevo León) e Brownsville (Texas), numa fronteira onde
Jorge Yarte-Sada,
Presidente da Câmara de Comercio Luso-México.
o comércio é mais do que economia: é cultura, ADN e forma de vida. Trago esse espírito comigo, e é com ele que vos convido a olhar para esta relação luso-mexicana com olhos de futuro. As entidades associativas empresariais que represento, como a CCILM e o COMCE estão abertas à adesão de novas empresas associadas, portuguesas, mexicanas e outras, que desejem integrar esta comunidade estratégica de negócios. Associar-se à é garantir acesso direto à informação, networking de qualidade, inteligência de mercado e oportunidades reais que só estruturas de vocação internacional podem proporcionar.
O México, pela sua escala, posição geográfica e rede de mais de 14 acordos de livre comércio que abrangem mais de 50 países — incluindo os EUA, Canadá, Japão, Chile, Colômbia, Vietname e a própria União Europeia — é uma das economias mais abertas e dinâmicas do mundo. O Acordo México–América Central, o CPTPP (Tratado Transpacífico), a Aliança do Pacífico e o renovado USMCA (ex-NAFTA) fazem do México uma base privilegiada para exportação e diversificação de mercados. Ao mesmo tempo, a União Europeia surge como uma alternativa segura, regulada e juridicamente estável para os empresários mexicanos, num momento em que os ventos protecionistas sopram cada vez mais forte em diversas latitudes. Com mais de 130 milhões de consumidores, uma classe média em crescimento e setores em expansão — como a agroindústria, alimentos processados, tecnologia agrícola e energias limpas — o México representa uma das maiores oportunidades globais para empresas portuguesas com capacidade de inovação, sustentabilidade e valor acrescentado. Em sentido inverso, Portugal oferece estabilidade, credibilidade e acesso imediato a 27 mercados da União Europeia e aos mercados da Lusofonia. Deixo, assim, um convite aberto a todas as empresas com visão estratégica: juntem-se à vida associativa: Ao COMCE e à CCILM. Estamos cá para canalizar, apoiar e construir — com profissionalismo, com confiança, com liderança. Viva o comércio. Viva a cooperação. Viva México e Portugal!•
PORTUGAL NA FIL GUADALAJARA: UM MARCO NA DIPLOMACIA CULTURAL
LUSO-MEXICANA
Comecemos por brevemente recordar que Portugal e o México têm um passado conjunto, com relações diplomáticas há 154 anos, quando o Coronel Francisco Facio apresentou as sua credenciais como primeiro enviado extraordinário do México em Lisboa, perante o Rei D. Luís. Na contemporaneidade, um dos pontos altos do diálogo entre o México e Portugal teve lugar entre 24 de novembro e 02 de dezembro de 2018 por ocasião da 32.ª Feira Internacional do Livro de Guadalajara, a maior da América Latina, em que a participação portuguesa se traduziu numa comitiva de dezenas de escritores, editores, promotores, mas também nomes da música, do teatro, das artes visuais, do cinema.
Esta presença de Portugal, como país convidado, foi entendida pelo Governo português como uma alavanca de projeção da imagem do país com o objetivo primeiro de internacionalizar a cultura portuguesa, mas também de abrir caminho na exportação da economia e do turismo português, intenções essas plasmadas numa resolução governamental aprovada em 2017. O país estava consciente da importância de que ser convidado de honra na Feira do Livro de Guadalajara implicaria uma ampla exposição cultural, numa cidade com mais de cinco milhões de habitantes e num universo literário e cultural, tão rico e tão grande, como o latino-americano. Marisol Schulz, diretora-geral do certame, tinha já insistido neste ponto, na passagem de testemunho de Madrid –convidada de honra na edição anterior– para Portugal, nestes termos: „Quem vem nesta qualidade, vem representar toda a sua cultura, música, gastronomia, literatura,
Luisa Mellid-Franco.
Crítica literária.
cinema, teatro, artes cénicas, visuais. É um retrato muito completo e panorâmico do que é um país. (...) Temos uma relação de proximidade e de simpatia por Portugal, mas desconhecemo-lo. Creio que é mais aquilo que não sabemos de Portugal do que aquilo que sabemos“.
Foi, como preconizado, um grande momento das relações entre México e Portugal, que marcou um ‚antes‘ e um ‚depois‘, com um grande investimento de empresas portuguesas, demonstrando que os interesses económicos e culturais se podem beneficiar reciprocamente, quando geridos com inteligência e determinação.
A minha aventura pessoal na Feira Internacional do Livro de Guadalajara começou com o convite para integrar –conjuntamente com Raquel Marinho, na área da Comunicação–, o Comissariado para a participação de Portugal na FIL 2018, cuja curadoria geral foi da responsabilidade de Manuela Júdice, Comissária em título e interlocutora direta de Marisol Schulz, a diretora executiva da FIL. Na realidade, o projeto de Portugal como país-tema tinha sido pensado anos mais cedo, mais concretamente em 2006, no ministério de Isabel Pires de Lima, para ter lugar em 2008. Porém, com a crise financeira, que obrigou o país a sacrifícios elevados, acabou por ser a Itália a assumir esse papel.
Finalmente, dez anos mais tarde, a tão almejada participação portuguesa em Guadalajara foi formalizada no Palácio da Ajuda de Lisboa, sede do Ministério da Cultura, na presença
do então ministro Luís Filipe de Castro Mendes, sendo Embaixador do México em Lisboa Alfredo Pérez Bravo.
Na cerimónia de passagem de testemunho da cidade de Madrid para Portugal como convidado de Honra, o Ministro Castro Mendes anunciou que Portugal iria apresentar toda a sua capacidade criativa nas „letras, nas artes, mas também na ciência, na tecnologia e noutras áreas da economia“
E o desiderato cumpriu-se.
Na mesma intervenção, o ministro, que continua a ser um poeta consagrado, lembrou a „importância inquestionável“ da FIL, „no mundo editorial e literário contemporâneo“, prenunciando um programa português que também deveria representar „as artes visuais, a música, o teatro, a dança, o cinema, o vídeo, o design, a arquitetura“.
Designando a FIL como “excelente oportunidade estratégica“, prometeu um esforço concertado entre vários ministérios, para „uma participação capaz de retratar a [sua] riqueza e diversidade“.
Destacou igualmente a importância dos editores, num mundo grandemente alterado pelo surgimento do digital, e vaticinou a participação na feira de Guadalajara como uma excelente oportunidade para a economia.
A FIL permitirá, referiu, ”dar a conhecer empresas [portuguesas] que investigam, operam e comercializam produtos em diversas áreas de atividade e investigação (...), não apenas no México como em toda a América Latina”. Coube já a um terceiro Ministro da Cultura, Graça Fonseca, a abertura oficial da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, com Portugal como país convidado.
E foi à chegada a Guadalajara, que Graça Fonseca expressou o estado de espírito de todos nós, ao confessar que ter sido país Convidado de Honra tinha representado um desafio, um processo longo e complexo, que ultrapassou as fronteiras da cultura exigindo-lhe uma visão transversal, porque a Cultura é, também, educação, diplomacia e economia. E acrescentou que a presença de Portugal tinha sido vista, desde a primeira hora, como uma oportunidade centrada no ensejo de dar início a um processo de contactos e de trocas mais frequentes e mais regulares e, acima de tudo, de levar o conhecimento de Portugal a camadas muito mais vastas de público. Sendo considerada a maior feira do livro e de negócios da América Latina, Portugal teve especial cuidado e abrangência com a programação cultural que contemplou não só a literatura. Assim, por exemplo, a exposição „O que dizem as paredes: Almada Negreiros e a pintura mural“, no Instituto Cabañas, colocou-a em diálogo com os murais do pintor mexicano José Clemente Orozco.
Mais de 40 escritores portugueses com uma programação literária que incluiu apresentações de livros, sessões de leitura, “masterclasses”, entrevistas e conversas, como entre o português António Lobo Antunes e a colombiana Laura Restrepo, assim como quatro curiosos debates sob o título genérico de “o que em Portugal não se faz mal”, foram pontos altos da programação.
“Em Portugal não se joga mal”, segue-se o primeiro “Em Portugal não se edita mal”, depois “Em Portugal não se
Pela presença de Portugal como Convidado de Honra na Feira Internacional do Livro de Guadalajara 2018, o Embaixador de Portugal no México, Jorge Roza de Oliveira e Alejandro Escalante Aguilar, CEO do Grupo Omega, assinaram na biblioteca da Embaixada o contrato para a execução das obras do Pavilhão de Portugal no evento.
ilustra mal” e, por último, um novo debate em torno da edição –afinal o pretexto da FIL. De destacar igualmente a ‘masterclass’ intitulada “Deus é redondo e Herrera o seu pastor– Portugal e México através do futebol”.
Destaque, ainda, o âmbito da música, do cinema, das artes cénicas, da gastronomia, preferencialmente na sua relação com a literatura, como “Os poetas portugueses e o fado”, ou as conversas em torno de literatura e cinema, receitas descritas em livros, etc
O potencial da feira de Guadalajara, do ponto de vista do mercado literário e editorial, tem sido vasto; visitada por editores de todos os países onde se fala espanhol, o convidado de honra, tem, à partida, um mercado previsto de 22 países e mais de 500 milhões de leitores.
Resumindo em números, a 32.ª edição da Feira Internacional do Livro de Guadalajara decorreu de 24 de novembro a 02 de dezembro de 2018 num recinto com 34 mil metros quadrados –dos quais o Pavilhão português ocupou 1200– e contou com um total de 800 escritores e 20 mil profissionais ligados ao mercado livreiro, mais de 2.000 editoras e 400 mil títulos de 47 países.
O encerramento da feira contou com a presença do então primeiro-ministro português, António Costa, que passou o testemunho à Índia, convidado de honra de 2019.
No discurso, que marcou também o final da visita de dois dias ao México, o Primeiro-Ministro recordou José Saramago, salientando que «a literatura e o conhecimento têm um poder fulgurante para, no intervalo curto de duas gerações, transformar a vida e, ao fazê-lo, transformar o mundo».
Referiu ainda que a presença de Portugal no evento «foi o projeto prioritário da diplomacia cultural portuguesa” desse ano. E reafirmou ainda que a presença de Portugal na Feira do Livro de Guadalajara ajudou a «multiplicar as possibilidades de o México e os mexicanos conhecerem» o país. Foi, pois, em Guadalajara, no fecho da maior feira do livro internacional da América do Sul, que Portugal salientou que a literatura e as artes, presentes no programa cultural e desenvolvido durante uma semana, tinham constituído «fatores de identidade e matéria mediadora» numa relação com um «parceiro incontornável com o qual Portugal está empenhado em reforçar e ampliar as modalidades de cooperação».•
DR. PAULO COELHO LIMA LAMEIRINHO ENTREVISTA
Gostaríamos que nos fizesse uma ligeira apresentação da empresa, sua história, tipo de gestão e indicadores da sua situação económica-financeira?
A LAMEIRINHO é fruto da iniciativa do meu avô fundador da empresa, Joaquim Martins Coelho Lima, que
já tinha experiência em tecelagem desde 1935, trabalhando para empresas próximas. Em 1948 cria a sua própria empresa com 2 teares mecânicos oferecendo trabalho na área de Tecelagem a pessoas da região, começando assim a sua atividade industrial. A LAMEIRINHO e por iniciativa da família sempre procurou acompanhar as inovações tecnológicas tendo sempre como objetivo ir mais alem e vencer novos desafios, para isso foi necessário controlar o processo produtivo e assim ao longo do tempo investiu-se no crescimento da empresa, alargando assim a atividade aos demais sectores fabris- Acabamentos, Estamparia e Confeção, chegando a ser uma empresa totalmente vertical até ao inicio dos anos 2000, época em que já mais de 90% da produção da empresa era para exportação. Sendo esta uma empresa familiar é muito importante que as gerações que se seguem gostem do negócio e sejam preparadas para dar continuidade. Temos tido essa sorte e privilégio, e é com orgulho que podemos dizer que a LAMEIRINHO já vai na 4ª geração. Nos dias de hoje a LAMEIRINHO é uma empresa que apresenta um volume de faturação superior a 60M€ e conta com uma equipa de aproximadamente 700 pessoas.
A empresa Lameirinho è uma empresa portuguesa do ramo têxtil que se encontra a operar em 21 países, entre os quais se encontra o Mèxico. Como tem decorrido esta operação no mercado mexicano?
A LAMEIRINHO trabalha com mais de 40 mercados, sendo os principais os EUA, França, UK, Espanha e Alemanha, trabalhamos maioritariamente para os segmentos medio/alto e alto, quer ao nível da área de “private label”
quer da área de “contract”. No mercado do México temos clientes para a área de private label e hotelaria de luxo, mas pretendemos fazer esforços comerciais no sentido de crescer na área de hotelaria para este mercado, vemos grande potencial em abraçar novos projetos!
Qual o peso deste mercado no volume de negócios da empresa?
Neste momento o peso não é de todo expressivo. Estamos no entanto a redesenhar uma estratégia comercial de abordagem ao mercado do México para crescer no nosso segmento de Hotelaria, o que nos vai seguramente dar argumentos para dentro de pouco tempo podermos dar valores mais interessante de presença neste mercado. - Num mercado altamente concorrencial a inovação assume um fator determinante em qualquer empresa do ramo. O que está a ser feito pela Lameirinho neste aspeto de forma a melhorar os seus produtos e métodos de trabalho?
Um dos maiores desafios é manter as indústrias do sector na linha da frente no que diz respeito à inovação e não só, a sustentabilidade é também o grande tema no nosso negócio. Especialmente neste sector, o consumidor final valoriza cada vez mais a transparência das empresas quanto á redução da pegada ecológica no seu processo, do nosso lado sentimos também que é obrigatório estarmos atentos às garantias que damos e que atestem que o produto é sustentável e ecológico e tudo isto exige muito investimento por parte das empresas. No que diz respeito à inovação, apostamos muito na funcionalidade do produto, quer ao nível das suas valências sensoriais e terapêuticas (bem estar), quer ao nível de como podemos estar sempre a proporcionar a quem utiliza o nosso produto a melhor experiência possível. Por tudo isto, temos um departamento de Inovação com quadros altamente qualificados, que se dedica a novos projetos.
A atual conjuntura de desafio obriga a estimular várias mudanças no setor. Nesse sentido que estratégia está a ser seguida pela empresa como resposta?
Este é um sector que como muitos outros tem que se estar constantemente a reinventar, procurando apresentar produtos diferenciadores, mantendo a aposta na qualidade e estando constantemente atento ao serviço prestado ao cliente. O nosso foco para o futuro, vai no alinhamento da estratégia que definimos para estes últimos 5 anos... Crescer em mercados onde já marcamos presença, crescer no canal digital...quer no nosso, quer em market places, e também crescer no canal digital dos nossos clientes. Estamos também a fazer uma forte aposta na área de “Contract” apoiando as unidades hoteleiras “premium”, a proporcionar uma “experiencia” de luxo ao seu cliente. A nossa marca própria LAMEIRINHO é também uma forte aposta da empresa, com ela queremos fazer parte da vida das pessoas e de uma forma única, marcar a diferença na sua experiência de sono. Estamos a fazer esfor-
ços em comunicação para tornar a LAMEIRINHO numa “love brand” desejada por quem privilegia um produto de qualidade e quer algo diferenciador.
Na sua qualidade de Cônsul Honorário do México no Porto gostaríamos de saber com estão as relações entre os dois países e se há espaço para aprofundar essas relações nos mais diferentes domínios, e em particular na zone norte de Portugal?
As relações entre o México e Portugal são boas. Enquanto Cônsul tenho o privilégio de estar próximo dos Embaixadores que tem passado pelo nosso país e participar em ações promovidas pela Embaixada do México no norte de Portugal, onde tem divulgado o país de uma forma exemplar. Devo dizer que o trabalho que tem sido feito pelos Embaixadores com quem me tenho cruzado nestes últimos anos tem sido muito construtivo. Esta proximidade tem-me permitido estar constantemente a aprofundar os meus conhecimentos relativamente ao país, o que tem facilitado o meu trabalho enquanto Cônsul honorário do México no Porto; especialmente na aproximação deste país tão rico ao tecido empresarial do norte de Portugal, no sentido de potenciar negócio entre os países. Sinto também que neste momento já há uma comunidade muito significativa de Mexicanos a residir no norte de Portugal e tenho tido muito orgulho em representar esta comunidade em eventos culturais e na área do conhecimento, um trabalho que visa a divulgação deste fabuloso território, em Portugal.•
CARLOS MOTA SANTOS
CHAIRMAN E CEO
DO GRUPO MOTA-ENGIL ENG.º ENTREVISTA
Desde quando a Mota Engil se encontra a trabalhar no México?
A Mota-Engil iniciou a sua atividade no final de 2007, no Estado de Vera Cruz, num projeto de concessão rodoviária Perote – Xalapa, a que tive o grato prazer de acompanhar desde a fase inicial nas minhas funções como responsável à época pela região da América Latina.
Considera o México um país de oportunidades de negócios /projetos para empresas com o perfil da Mota-Engil?
O México foi sempre um mercado que demonstrou abertura ao investimento, o que associado à sua dimensão e potencial económico, se torna, na nossa opinião, um mercado de oportunidade para as empresas portuguesas que são bem recebidas pela relação comercial justa e de parceria com que tipicamente os portugueses encaram a sua atividade no exterior.
Em que áreas ou setores específicos a Mota Engil se encontra a trabalhar neste momento?
Ao longo destes 18 anos, a Mota-Engil foi expandindo a sua atividade no território mexicano, reforçando o seu investimento no setor das infraestruturas, designadamente na Engenharia e Construção, onde hoje somos uma empresa de referência neste mercado, como também no setor das concessões de infraestruturas de transporte, onde contamos atualmente no México com o maior investimento do Grupo neste setor, a par da presença no setor da Energia, onde fomos o primeiro operador privado a surgir no mercado, estando presente na vertente
de geração e comercialização de energia, assim como no ambiente onde operamos o aterro de Bordo Poniente, o maior da América Latina.
Este crescente aprofundamento do investimento e da diversificação de atividades é revelador do que consideramos como mais importante que é a confiança no mercado mexicano e nas suas pessoas a quem temos dado oportunidade de crescimento de carreira na empresa, num País em que muito confiamos no seu desenvolvimento futuro.
Considera face ao evoluir da situação internacional que o México e a América Latina em geral poderão ser mercados atrativos ao setor empresarial português?
O mercado da América Latina tem sido o mercado de maior crescimento na última década para o Grupo Mota-Engil, com o México destacado como maior mercado e destino de investimento, numa dinâmica que pretendemos manter na medida do que sejam as oportunidades e a estabilidade do mercado em que muito confiamos.
É intenção da empresa continuar neste país e até alargar os seus investimentos a áreas que se situem fora do profile conhecido da Mota Engil?
Claramente. A Mota-Engil manterá a sua apreciação às oportunidades de investimento, integradas na estratégia financeira de análise de risco e seletividade de investimentos a realizar, mas diria que o mais recente projeto, anunciado no segundo semestre de 2024 e em fase inicial para a futura construção de uma fábrica de fertilizantes, num projeto inovador e que envolverá a construção e operação por um período de vinte anos, é um bom exemplo da visão de longo prazo que se encontra assumida pelo Grupo Mota-Engil.•
ENTREVISTA
FERNANDO TAVARES PEREIRA
CEO DEL GRUPO TAVFER
Como Presidente do Grupo TAVFER é hoje um empresário de sucesso com investimentos em vários países. Gostaríamos que nos fi zesse uma breve apresentação do Grupo e como o construiu?
O Grupo TAVFER nasceu na década de 70, tendo eu começado a desenvolver atividades ainda jovem, com cerca de 10 anos.
Comecei, entre outras atividades, a fazer seguros de vida em representação da Companhia de Seguros Mutualidade, sendo o seu responsável em Oliveira do Hospital. Sempre desde muito jovem trabalhei para singrar na vida e poder assegurar o futuro dos meus, uma vez que não herdei nem nasci num berço de ouro.
Essa experiência foi importante para a sua formação empresarial?
Para nos podermos iniciar no mundo empresarial, no mínimo è necessário muito esforço e dedicação, para que quando um projeto se possa desenvolver, ter o mínimo de conhecimento do mesmo, a fim de ter sucesso. A sorte procura-se, embora por vezes ela não aparece. Mas temos que ter capacidade de conhecimento como atrás já referi, dos mesmos projetos e em caso de necessidade, contratar os recursos adequados para que o mesmo se desenvolva com rigor e responsabilidade que permita no futuro atingir com sucesso os nossos objetivos.
Hoje o Grupo TAVFER tem investimentos em áreas diversifi cadas da economia. Quais são essa áreas?
Iniciámos a atividade na serralharia/metalomecânica (onde hoje temos alguns equipamentos parados, pelo fato de não ter disponibilidade para esta atividade. Aproveito para lançar aqui o seguinte desafio: procuramos alguém com conhecimento nesta área, que queira desenvolver um projeto em conjunto connosco, desde corte, quinagem, serralharia, caixilharias em PVC e alumínio, com instalações todas equipadas. Portanto, quem estiver disponível para fazer uma parceria connosco nesta atividade, sem qualquer tipo de investimento, estamos dispostos a aceitar propostas.
Tem hoje investimentos espalhados por diferentes continentes. Sente que há apoio da parte das nossas entidades na busca de novos mercados?
Temos hoje diversas atividades em diferentes países, tendo alienado algumas vezes, parte do património a fim de podermos cumprir as nossas obrigações internas. Como já anteriormente referi, por vezes os problemas de alguns empresários, é a falta de consistência do poder político para que os projetos tenham uma duração mínima de 10 anos. Nas últimas três décadas infelizmente a maior parte dos nossos políticos olham para as empresas só para captar fundos, não se preocupando com a carga fiscal que
nos tem atingido neste período. Esperamos que os futuros governos defendam todas essas causas, assim como o bem-estar social dos empresários e dos funcionários. Por vezes, o sucesso de muitos empresários perde-se, não conseguindo desenvolver os seus projetos como atrás já referi, pela falta de consistência dos mesmos. O excesso de burocracia, portarias, decretos-lei e outros, são um entrave ao desenvolvimento das empresas.
Atualmente, não há consistência, com alterações de dois em dois anos quando o investimento na indústria, como nós sabemos, não se recupera em menos de 8 anos. As empresas que ainda resistem são as empresas com pouca mão-de- obra, onde a tecnologia está presente. Como atrás referi, tudo o que é indústria tradicional está a acabar e não conseguimos competir com países asiáticos e outros. Não só Portugal, como toda a Europa.
Sabemos que detém uma das maiores empresas no setor da inspeção de veículos automóveis em Portugal.
Sim é verdade, já tivemos duas das maiores empresas do setor: inspeções automóveis e desinfestação, esterilização e expurgo de materiais, que nos dignificou.
Diversificamos em diversas atividades, onde nos mantivemos por décadas, tanto em Portugal como no estrangeiro. O nosso sucesso tem vindo com um esforço tanto dos funcionários como meu e familiares.
Só assim conseguimos vencer as adversidades que no meio dos investimentos nos acontecem por vezes, com muitos dissabores, porque o sucesso de alguns é a incompetência de outros.
Felizmente, sempre tivemos a coragem e o empenho de cumprirmos os nossos deveres e obrigações com honra e dignidade.
Atualmente encontramo-nos no setor dos vinhos e agrícola, na floresta, imobiliário, tanto em Portugal como no estrangeiro. O turismo é outras das áreas em que estamos a apostar com várias unidades hoteleiras a operar no nosso país. Ao mesmo tempo procuramos modernizar e acompanhar as novas tecnologias que se aplicam hoje ao nível da indústria, para melhor responder aos desafios que temos que enfrentar e á cada vez maior concorrência do exterior.
Sente que o seu Grupo tem capacidade para crescer no atual contexto que vivemos?
Na realidade, trabalhar e criar riqueza em Portugal é difícil, uma vez que as empresas não têm tido, de alguns departamentos do Estado o apoio e o respeito necessário a fim de poder fazer face aos custos que hoje têm no nosso país. A carga fiscal, como atrás já referi, a inconsistência temporal das leis, assim como a formação profissional inadequada às necessidades que temos são entraves ao nosso crescimento. Em minha opinião, deveria haver formação prática consoante as necessidades que as regiões e o país têm, e não apenas formação teórica (ajuda na realidade,
mas não é tudo, uma vez que os postos de trabalho continuam a ser caracterizados por pessoal sem qualificação adequada, gastando milhões em formação sem futuro, onde se tiram cursos sem terem condições de emprego).
A teoria é boa, mas a prática também.
Tem por hábito fazer uma gestão próxima dos trabalhadores e colaboradores do grupo reunindo-os uma ou duas vezes por ano. Qual a importância que dá a esses encontros em termos de gestão dos recursos humanos?
É muito importante saber gerir corretamente os assuntos internos e os recursos humanos das nossas empresas. Nesse sentido procuramos dar formação continua aos nosso funcionários, como forma de integração plena no processo produtivo.
Sendo um dos maiores produtores vitivinícolas de Portugal gostaríamos que nos dissesse se está no horizonte do grupo exportar para o mercado mexicano?
O mercado mexicano pode ser para nós um mercado atrativo para futuros investimentos do Grupo não só no setor dos vinhos mas também noutras áreas nomeadamente no turismo e construção civil.
O mercado da américa latina não é novo para nós. Já investimos alguns milhões de euros noutros países do continente americano. Quem sabe se com esta entrevista não estamos a dar o pontapé de saída para uma futura cooperação. Da mesma forma estamos abertos a estabelecer parcerias com empresas mexicanas aproveitando potenciais mais-valias para ambos os lados. Quem sabe.•
A FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE FUTEBOL
ORGANIZARAM A EXPOSIÇÃO
“FUTEBOL PARA A PAZ” , VISITADA POR DIPLOMATAS DE TODO O MUNDO
A exposição é preparada em Espanha pela Academia de Diplomacia com o apoio da LALIGA e a colaboração de noventa embaixadas.
A Federação Portuguesa de Futebol em parceria com a delegação e a Delegação em Portugal da Academia de la Diplomacia organizaram a exposição “Futebol para a Paz” que foi visitada esta sexta-feira por embaixadores e diplomatas de todo o mundo acreditados no Portugal. “Futebol para a Paz” tem como atração 100 camisolas de seleções nacionais – algumas delas personalizadas, outras
“Recordo-me muito bem da inauguração no estádio do Atlético de Madrid da exposição original do Futebol para a Paz. Foi ainda em plena Covid mas a adesão das várias embaixadas e federações foi evidente e entusiasta. A viagem até Lisboa é natural e simbólica. Natural porque a Academia da Diplomacia, idealizadora da iniciativa, também já fez essa viagem de Espanha para Portugal, concretamente para Cascais. Simbólica porque Portugal e Espanha, conjuntamente com Marrocos, serão os organizadores do Mundial de 2030. Lamento não poder estar presente, hoje, na Cidade do Futebol mas deixo as minhas felicitações pela iniciativa e faço votos, neste início de 2025, que o desporto em geral, e o futebol em particular, seja um agente de paz, tolerância, aternidade e fair play. E quando visitarem a exposição, não esqueçam, comecem pela camisola de Cristiano Ronaldo.”
João Mira Gomes Embaixador de Portugal em Espanha
autografadas – expostas na FPF Arena Portugal e que foram apreciadas e muito fotografadas por mais de 80 representantes diplomáticos, entre outros convidados.
O presidente da FPF, Fernando Gomes, abriu a exposição e assinalou que o evento celebra “não apenas o desporto que tanto nos apaixona, mas também a sua capacidade de unir povos, culturas e nações”.
Jorge Antas de Barros, delegado da Academia de la Diplomacia, começou por ler uma mensagem do embaixador de Portugal em Espanha, João Mira Gomes, e agradeceu aos restantes parceiros da iniciativa, o CNID (Associação de Jornalistas de Desporto) e o grupo Renascença. Antas de Barros destacou o propósito de “mostrar que o desporto abre portas e não as fecha”, sublinhando que o “desporto não é política”. O delegado da Academia sublinhou ainda a importância de o evento “transmitir uma mensagem que pretende cativar a atenção das pessoas no Mundo, sobretudo os jovens, com uma linguagem que é universal, o que facilita a comunicação e o entendimento entre os povos”.
Fernando Gomes presenteou a Academia de la Diplomacia com uma camisola com a mensagem PAZ escrita, e Antas de Barros ofereceu um diploma à FPF.•
A DIPLOMACIA GLOBAL E UM MUNDO SATÉLITE ONDE SE DESTACA A PENÍNSULA IBÉRICA JOÃO ANTAS DE BARROS
A diplomacia, essa arte ancestral de conduzir as relações entre os povos, tem sido o fio condutor da história humana. Como observou Harold Nicolson, “a diplomacia é a aplicação da inteligência e do tacto à condução das relações oficiais entre os governos de Estados independentes”. Esta definição ressoa particularmente quando analisamos a trajetória diplomática ibérica, que durante séculos moldou não apenas a Europa, mas o próprio mundo.
Henry Kissinger, na sua obra “Diplomacia”, sublinha que “a diplomacia é a arte de restringir o poder”, uma máxima que encontra eco na experiência ibérica dos séculos XV e XVI, quando Portugal e Espanha, através de hábeis negociações, conseguiram dividir o mundo em esferas de influência. O Tratado de Tordesilhas (1494) representa, talvez, o maior exemplo diplomático da história, demonstrando como dois reinos relativamente pequenos conseguiram, através da negociação, estabelecer as bases para a primeira globalização.
A Península Ibérica foi pioneira na diplomacia global. Os descobrimentos portugueses e espanhóis não foram apenas empreendimentos marítimos, mas sofisticadas operações diplomáticas que estabeleceram as primeiras redes de relações internacionais verdadeiramente mundiais. Como nota Luís Filipe Thomaz, “os portugueses foram os primeiros europeus a estabelecer uma diplomacia sistemática com os
poderes asiáticos”, criando precedentes que influenciariam as relações internacionais durante séculos. A diplomacia ibérica desta época caracterizou-se pela sua capacidade de adaptação cultural. Em Goa, Macau, nas Filipinas ou no Brasil, os diplomatas ibéricos desenvolveram estratégias que combinavam a firmeza dos objetivos com a flexibilidade dos métodos, estabelecendo alianças que transcendiam as barreiras culturais e religiosas.
O apogeu da diplomacia ibérica coincidiu com a hegemonia espanhola no século XVI. A Espanha de Carlos V e Filipe II exerceu uma influência diplomática sem precedentes, mantendo embaixadas permanentes em todas as cortes europeias importantes. Como observa Geoffrey Parker, “a diplomacia espanhola do século XVI estabeleceu os padrões para a diplomacia moderna europeia”. Contudo, a complexidade do império espanhol e as crescentes tensões religiosas e políticas levaram ao declínio desta hegemonia. A diplomacia ibérica, que havia sido proativa e expansiva, tornou-se progressivamente defensiva, procurando manter posições face aos novos poderes emergentes.
O século XVIII marcou uma fase de reorientação diplomática. O Tratado de Methuen (1703) simboliza a subordinação diplomática portuguesa à Inglaterra, enquanto a Espanha oscilava entre a aliança francesa e a necessidade
de manter a sua autonomia. A diplomacia ibérica teve de adaptar-se a um mundo multipolar, onde a influência se media cada vez mais pela capacidade industrial e militar. As invasões napoleónicas e os movimentos de independência nas Américas representaram o maior desafio diplomático da história ibérica. Portugal conseguiu, através da transferência da corte para o Brasil, manter a continuidade do Estado, numa operação diplomática de génio que permitiu a sobrevivência da monarquia. A Espanha, por seu lado, enfrentou a fragmentação do seu império americano, apesar dos esforços diplomáticos para manter a unidade.
O século XIX assistiu ao declínio definitivo da influência diplomática ibérica. Como nota Raymond Carr, “a diplomacia espanhola do século XIX caracterizou-se mais pela reação aos acontecimentos do que pela sua iniciativa”. Portugal, similarmente, viu-se obrigado a aceitar um papel secundário no concerto europeu, mantendo o seu império africano mais por inércia diplomática do que por capacidade efetiva.
O século XX representou um período de profundas transformações para a diplomacia ibérica. As duas guerras mundiais alteraram definitivamente o equilíbrio de forças internacional, obrigando Portugal e Espanha a redefinirem as suas estratégias diplomáticas num contexto global cada vez mais complexo.
Durante a primeira metade do século, ambos os países procuraram manter uma política de neutralidade que lhes permitisse preservar os seus interesses nacionais. Esta postura, embora limitasse a sua influência direta nos grandes acontecimentos europeus, permitiu lhes desenvolver uma diplomacia mais focada na consolidação dos seus espaços imperiais e na cooperação bilateral.
A integração europeia pós-1975 marcou o regresso definitivo da diplomacia ibérica ao palco internacional. A adesão à CEE/UE permitiu a Portugal e Espanha recuperar alguma da sua influência perdida, particularmente através da sua posição privilegiada nas relações com a América Latina e África, consolidando o seu papel como pontes naturais entre a Europa e estes continentes.
O século XXI apresenta à diplomacia ibérica oportunidades únicas para recuperar relevância internacional. O conceito de “iberismo diplomático” não implica a fusão política, mas sim a coordenação estratégica entre Portugal e Espanha para maximizar a sua influência global.Esta coordenação manifesta-se já em várias áreas: na UE, onde os dois países frequentemente alinham posições em questões mediterrânicas e latino americanas; na NATO, onde partilham preocupações sobre o flanco sul; e em organismos internacionais, onde podem formar coligações eficazes.
A América Latina representa o maior trunfo diplomático ibérico. Com mais de 600 milhões de habitantes e economias em crescimento, a região hispano-lusófona constitui um mercado e uma zona de influência natural para a diplomacia ibérica. As Cimeiras Ibero Americanas, embora com resultados limitados, demonstram o potencial desta ligação.Portugal e Espanha devem desenvolver uma estratégia coordenada para a América Latina, aproveitando as suas
ligações históricas e culturais para facilitar investimentos, transferência de tecnologia e cooperação política. O Brasil, pela sua dimensão e crescente influência global, representa um parceiro estratégico fundamental nesta equação.A África lusófona, particularmente Angola e Moçambique, oferece oportunidades extraordinárias para a diplomacia portuguesa. Estes países, ricos em recursos naturais e com populações jovens, representam mercados em expansão e parceiros estratégicos importantes.A diplomacia ibérica deve aproveitar estas ligações para estabelecer pontes entre a África e a Europa, posicionando-se como mediadora privilegiada. A experiência de descolonização, apesar das suas dificuldades, criou laços que, bem geridos diplomaticamente, podem traduzir-se em parcerias mutuamente vantajosas.A presença histórica ibérica na Ásia, embora reduzida, mantém relevância diplomática. Macau, as Filipinas, Timor-Leste e as comunidades lusófonas e hispanófonas na região constituem pontos de apoio para uma diplomacia ibérica renovada.A crescente importância económica da Ásia exige que Portugal e Espanha repensem as suas estratégias para a região. A coordenação diplomática ibérica pode facilitar o acesso a mercados asiáticos, aproveitando as complementaridades entre as duas economias.Como observou Oliveira Martins, „a história da Península Ibérica é a história da luta constante entre a tendência para a unidade e a realidade da diversidade”. Esta tensão dialéctica continua a definir a diplomacia ibérica no século XXI. A relevância futura das nações ibéricas dependerá da sua capacidade de transcender as limitações geográficas e demográficas através de uma diplomacia inteligente e coordenada. Como escreveu Ortega y Gasset, “Espanha é o problema, Europa é a solução” –uma máxima que se aplica igualmente a Portugal e que encontra na coordenação ibérica uma resposta contemporânea. A civilização ibérica, que nos séculos XV e XVI criou a primeira globalização, tem hoje a oportunidade de contribuir para uma globalização mais humana e equitativa. A sua experiência multicultural, a sua capacidade de síntese e a sua vocação universalista constituem ativos diplomáticos únicos.
Miguel de Unamuno afirmava que “o iberismo não é uma política, é uma cultura”. Esta perspectiva permanece válida: a diplomacia ibérica do século XXI deve assentar na riqueza cultural comum, na experiência histórica partilhada e na visão humanística que caracteriza a civilização peninsular. O futuro da diplomacia ibérica não passa pela nostalgia imperial, mas pela capacidade de reinventar o seu papel no mundo contemporâneo. Como escreveu Eduardo Lourenço, “Portugal e Espanha estão condenados a entender-se”. Esta condenação pode transformar-se na maior oportunidade diplomática da Península Ibérica no século XXI. A relevância internacional das nações ibéricas será determinada pela sua capacidade de atuar como pontes entre mundos: entre a Europa e a América Latina, entre o Atlântico e o Mediterrâneo, entre o Norte desenvolvido e o Sul em desenvolvimento. Nesta vocação de mediação e síntese reside o futuro da diplomacia ibérica e a sua contribuição para um mundo mais justo e equilibrado.•
ANTÒNIO HOMEM CARDOSO
Fotógrafo da Família Real
Entrevista de João Távora- Correio Real
Quem é António Homem Cardoso, fale-nos um pouco de si?
Diabético, cardíaco e monárquico. Vivi até aos 10 no meu lugar de Negrelos, em S. Pedro do Sul. Cheguei a Lisboa em 1955 para trabalhar numa mercearia de onde fugi aos 14, após ter sido acidentalmente figurante e mascote do filme Eddie em Lisboa. Comecei a fotografar com a câmara que o ator me ofereceu na despedida e vadiei por Lisboa enquanto durou o dinheiro que a atriz Bárbara Lage generosamente me deixou. Entretanto surgiram as primeiras encomendas de retratos e percebi que podia continuar "vadio" e ganhar algum dinheiro, situação que se mantém atual, mais de sessenta anos depois. Foi assim que vivi este tempo todo sem nunca ter tido um emprego. Também nunca tive Clube nem Partido. Sou culturalmente católico e irremediavelmente apaixonado pelo ideal Real da Chefia do Estado.
Lembra-se como sucedeu o seu envolvimento como fotógrafo da Família Real?
Já não, de todo. Existe a sensação de ter conhecido a Família Real desde sempre. Sou um pouco mais velho que o Senhor Dom Duarte e conheci o Senhor seu Pai, Dom Duarte Nuno. Depois, o envolvimento com amigos monárquicos, nomeadamente o Dr. António Sampaio e Mello, levaram-me aos Jerónimos para ser o fotógrafo do Casamento Real. Em muito boa hora!
De onde surgem as suas assumidas simpatias monárquicas?
Falas antigas de lareira na casa grande de Negrelos, sobre as relações familiares com o Morgado de Torredeita, Viseu, um tio-avô sem descendência Visconde de Carvalhais, o Visconde de S. Pedro, padrinho do meu irmão Francisco, eram lembrados carinhosamente pela minha Tia-Avó e madrinha Amélia, guardiã das me-
mórias da família, minha protetora. Orgulhosa do seu nome e desgostosa sempre do destino da última Rainha reinante. Sim, foi o encantamento dessa adorada Tia-avó que me fez monárquico de berço.
Qual a melhor recordação que guarda das muitas sessões de fotografia com a Família Real?
O nascimento e a primeira sessão com o Senhor Dom Afonso foi épica. Depois de tanta expectativa estava ali, vivo e belo, o Príncipe. Inesquecível. Mas tenho memórias fantásticas das muitas viagens que fiz com a Família Real por vários países de língua e coração português.
como a reportagem foi feita, e ensaiei mentalmente o momento decisivo do disparo de muitas expressões dos noivos, mas, desta vez, o fotógrafo, este fotógrafo, não estava lá. Estava outro que, decerto, trabalhou com o mesmo carinho e competência como eu o fiz há 28 anos.
Desta vez não esteve em trabalho num grande acontecimento da Família Real – gostou da experiência? (casamento Infanta Maria Francisca)
Deus perdoa, a idade não. Já não posso assumir compromissos em dia e hora, gostei da elegância e descrição de
Em nenhuma altura lhe apeteceu sair do seu lugar para registar alguma imagem? Quando?
Nem sequer me apeteceu ir para o meu lugar. O que me apeteceu foi fotografar o rosto luminoso da Infanta Maria Francisca que se traduz em raríssimas expressões de ternura, inteligência e beleza. Mas estava como convidado, e isso foi muito honroso para mim.
Qual a imagem destes dois dias de festa em Mafra e em Sintra que mais o impressionou?
A imagem da entrada na Basílica do Senhor Dom Duarte com a Infanta sua Filha. Adoro ver as pessoas que amo realizarem os seus sonhos que, neste caso, também eram os meus. Que conselho daria a um jovem fotógrafo que queira seguir os seus passos? Fotógrafo é mais uma coisa que se é que uma coisa que se queira ser. Se for, que seja humilde e que se faça ninguém perante as coisas e pessoas que o emocionam, e que lute até a exaustão na perseguição do ideal da beleza e da verdade possíveis. Que leia muito. Desenhar sensações literárias em imagens fotográficas é um exercício apaixonante.
Uma mensagem aos monárquicos que se habituaram a apreciar o seu trabalho?
Obrigado de todo o coração. O Vosso carinho e amizade fizeram de mim um homem melhor e deram-me a possibilidade de honrar o meu País, e a minha Pátria com as mesmas armas com que ganhei a vida. •
Foto do António Homem Cardoso con Senhor D.Duarte Bragança e Dona Herèdia.
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Iniciámos a atividade há mais de 25 anos, estando presentes no Algarve, mais propriamente na Praia da Rocha, em Portimão, com duas unidades, e na região da Serra da Estrela, onde também mantemos três unidades hoteleiras.
O nosso esforço e dedicação é pautar pela dignidade e respeito pelos nossos clientes. Para isso, a formação do nosso pessoal é contínua, e só assim se conseguem os grandes objetivos de desenvolvimento. Neste momento temos quatro projetos de novas unidades hoteleiras, esperando ter o mesmo sucesso, assim como noutras atividades do Grupo, estando sempre ao dispor de todos.
Somos uma empresa familiar, com cerca de 50 anos de atividade empresarial, em diversos ramos de atividade, tendo já participado em atividades empresariais em quatro continentes.
Entre as atividades já referidas, temos outras atividades como a metalo-mecânica, construção civil, oresta.
Desde 1995, tendo uma produção de cerca 160ha, na região do Dão e Douro, com adegas, respetivamente, em Penalva do Castelo e Vila Nova de Foz Côa.
Vinhos esses, entre os quais, em diversos concursos internacionais, com primeiros prémios (inclusive com prémios de melhores vinhos do mundo), os quais demonstram a nossa preocupação na qualidade, tanto nesta como noutras atividades.
Exportamos para cerca de 15 países, nos quatro continentes, onde queremos fazer uma expansão para outras regiões.
Neste setor, ligado à terra, temos ainda azeite, fruticultura e floresta.
A Tavfer Vinhos é uma marca do Grupo Tavfer que congrega dezenas de empresas em sectores tão variados como o turístico, imobiliário, metalomecânica, agroflorestal ou nas inspeções automóveis.
A nossa abordagem à vinicultura começou nos anos 90, em Tábua, com uma pequena produção na Quinta Picos do Couto, produção que foi evoluindo até ser, hoje em dia, uma referência nos vinhos do Dão com vários prémios atribuídos.
Em 2005, iniciamos a implementação de um novo paradigma estratégico com a compra da Quinta do Serrado e da Quinta do Mosteiro, em Penalva do Castelo, na região demarcada do Dão, e que culminou com a exploração de três quintas na região demarcada do Douro: a Quinta das Braceiras, a Quinta do Vale da Vila e a Quinta do Vale do Viso.
NOSSA POLÍTICA
Estes investimentos mostram que a nossa política assenta na prevalência que atribuímos à qualidade e diversidade da nossa produção, sem esquecer que o ambiente que nos rodeia é essencial, por isso, toda a nossa produção está em modo de produção integrado.
O resultado destes investimentos estão a refletir-se na excelência dos nossos produtos, confirmada pelos prémios alcançados nos últimos concursos vínicos (nacionais e internacionais) e que são um pequeno reconhecimento do nosso compromisso em fazer das nossas marcas uma referência de qualidade. Com os olhos no futuro, queremos cimentar na nossa posição no mercado com a ampliação e modernização da adega da Quinta do Serrado que irá permitir continuar a nossa missão de unir tradição e inovação para criar e proporcionar experiências únicas.
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Tal como no passado, no presente e no futuro vamos continuar a perspetivar investimentos que permitam integrar as novas tendências globais nos nossos produtos, porque em todas as empresas do Grupo Tavfer