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B U M B A MEU B O I
from Revista Capoeirando no. 3 (Ago/23)
by Revista Capoeirando - um tributo à cultura popular; UNICAMP
O Morro do Querosene é um dos bairros de São Paulo com grande quantidade de nordestinos fora de sua região, e é na praça do alto do morro onde a tradição da festa do Boi iniciou-se, em 1990, com o grupo Cupuaçu e o mestre Tião de Carvalho. A festa permite às pessoas, em sua maioria maranhenses, reviver sua cultura e permanecer dentro dela.
O colorido das vestimentas dos brincantes se potencializa com a aquarela do céu quando chega o fim da tarde, e os pandeiros começam a ser afinados com o calor da fogueira. Os músicos começam a ensaiar com o apito e o maracá, essenciais para a condução das canções e a entrada dos pandeiros e matracas. O mestre inicia com as músicas de guarnecer, para chamar e reunir os brincantes.
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A festa começa com o Boi-mirim que,apesar de ser um boi menor, não perde sua grandiosidade e seus adornos. O boi é todo trabalhado no bordado com símbolos que remetem à festa com o desenho de São João, assim como a bandeira do Maranhão e a bandeira de São Paulo, simbolizando a união de culturas Além disso, é o grande momento das crianças participarem.
Algumas estão vestidas de vaqueiras com chapéus de fitas coloridas e outras de indígenas, com alusão à participação indígena na história do boi. É lindo ver essa diversidade associada a outras crianças compondo a festa, tocando matracas e pandeiros desde pequenas, se percebe a internalização da cultura nordestina desde cedo.

Enquanto não chegava o Boi Bumbá, a praça era preenchida com comidas típicas e artesanatos. A comunidade se une para vender os alimentos, a fim de arrecadar recursos para o bairro e para o grupo Cupuaçu, enfatizando a todo momento ao público o respeito com o espaço e a preservação deste. Além disso, foi formada uma roda de capoeira Angola com uma receptividade incrível a todas as idades e gêneros. Inicialmente, as crianças entravam na roda e, quem não sabia capoeira, era ajudado por elas mesmas, demonstrando a receptividade dessa cultura popular. Em seguida, vieram os mais velhos e mestres, que jogaram capoeira com muito respeito um com o outro.
E, lógico que na “Jamaica Brasileira” - o Maranhão - não poderia faltar o reggae.
As radiolas enormes típicas dos maranhenses não estavam presentes, mas a energia era instaurada com muita dança e diversão.
Mais tarde, chegou a tão esperada atração principal - o Bumba-meu-boi. Esse já era maior e inclemente, em que os adornos brilhavam com a iluminação do local encantando qualquer um. Para fazer a tradição acontecer, o boi vinha acompanhado das indígenas, dos amos, do caboclo de pena e, principalmente, de Mãe Catirina e Pai Francisco, contando a história do boi. Nesse dia, comemorava-se a ressurreição do boi.
A mando de Catirina, Pai Francisco foi procurar a língua do animal, para ela comer. Entretanto, não era um boi qualquer, mas sim um com o couro preto e brilhoso, com o qual ela havia sonhado. Então, o Pai Francisco encontra o bovino em uma fazenda, onde acontece a festa de São João, e tenta negociar com o proprietário, mas sua oferta é negada. Com isso, Chico resolve roubar o boi e dar mesmo assim a língua para Catirina. Contudo, Francisco é capturado e obrigado a confessar onde está o boi. texto: Rachel Marques ilustração: Maryane Comparoni
Após muitas tentativas, ele cede e o dono da fazenda encontra seu boi falecendo e pede socorro às entidades espirituais, que conseguem fazer o boi reviver.
Desse modo, essa bela história é encenada em partes no Morro do Querosene. As representações dos personagens estão devidamente caracterizadas e alguns participam encenando e outros, realizando passos típicos das indígenas, amo e vaqueiro. Os instrumentos - pandeiros, matracas, onça, maracá - complementam a festa e ficam mais ao fundo, para abrir espaço para as danças. O público participava ativamente da festa, dançando e cantando, o que era lindo de ver. A comunidade fazia questão de que as pessoas se divertissem. Desse modo, instaurava-se uma atmosfera festiva em que todos eram brincantes e faziam parte da tradição, uma das essências da cultura popular.
