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OZIEL

Entrevistamos o professor Wilson Queiroz, que leciona matemática há 13 anos na EMEF/EJA Oziel Alves Pereira, localizada no bairro do Parque Oziel, em Campinas - SP. A escola é conhecida pelo trabalho com a educação para as relações étnico-racias e a educação antirracista, e Wilson tem papel crucial nesses projetos.

“Eu localizo o Oziel, do lugar que eu vejo, como uma das maiores ocupações da América Latina, isso pensando do ponto de vista das estatísticas. Ela completou 25 anos esse ano, a ocupação. Ela vem de uma ampliação de conquista de direitos à cidadania, iniciada com a organização do Movimento dos Sem Terra (MST), a partir da morte de um adolescente (de) Eldorado dos Carajás, que tinha o nome de Oziel.

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Ele era, dentre outras coisas, militante do Movimento dos Sem Terra, mas sobretudo um adolescente que tinha consciência dos direitos que a ele competiam, do ponto de vista do direito à cidadania, terra, da luta por melhores condições de vida, no confronto com o Estado que não os reconhece, não lhes garante direito e, sobretudo, lhes tiram a vida com instrumentos e instituições que deveriam garantir o melhor possível do ponto de vista da vivência. Então acontecendo esse crime - foram mortos cerca de 10 a 20 trabalhadores sem terra -, e nesse movimento, Eldorado dos Carajás e Campinas coincidiu, ou as coisas se interligam de maneira tal que foi feita a ocupação de um lote, de um terreno (...)”

Na escola desde 2010 a qual, inicialmente, o professor frequentou para complementar sua carga horária, Wilson se deparou com seus alunos sendo vítimas de racismo, e assim nasceram projetos de enfrentamento:

“Quando foi 2012, um aluno me procurou, um aluno da FUMEC (Fundação Municipal para Educação Comunitária), e denunciou que o patrão dele fala para ele que ele não precisa estudar, e que no caderno dele deve estar escrito aqueles estereótipos como: ‘macaco, banana, estepe, asfalto’. Filosofando um pouco sobre isso, um aluno chega pra mim e fala assim “O que eu faço professor?”. E aí você sabe, honestamente ele já tinha estabelecido uma confiança comigo de dizer assim ‘eu vou conversar com aquele professor, que ele vai me orientar de maneira adequada”. Então quando o aluno me procurou, eu encaminhei ele pra Seppir, que é um órgão aqui de Campinas que é a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, e falei pra ele os telefones, no ponto de vista do advogado, da denúncia, da queixa, são esses”. Mas eu não me satisfazia, e não achei naquele momento que isso era suficiente E num desses processos de dizer o que estava acontecendo com ele, ele me trouxe o boletim de ocorrência, após orientação, que ele tinha ido na delegacia denunciar e ele trouxe o boletim pra mim. Aí eu peguei uma cópia e vi que estava um pouco exagerado, mas pelo menos uns 4 meses com esse boletim de ocorrência: março, abril, maio, junho e julho, o primeiro Informa áfrica ativo tava pronto. (...)

“Também ele põe pra circular outras ideias que não são só as que foram negativadas, assim eu acho que as narrativas entram nesse campo porque até onde eu estudei, pela compreensão, a filosofia nasce da oralidade, e durante muito tempo parecia que, mas só os negros eram orais, e aí quando você pega o grande nome da filosofia dita europeia, a gente sabe que a pessoa não escrevia, ele tinha os escribas, ele tinha as pessoas que escreviam pra ele. Então assim, tem muita coisa na escola que ao escrever a gente percebe o quanto elas são filosóficas, o quanto transcendentes elas são, e quando libertadoras, o quanto emancipadoras são.”

Outro projeto desenvolvido por Wilson e a equipe da escola, é a elaboração de bonecas Abayomis

“A abayomi fala por si e movimenta coisas”

“A escola que não tiver TNT, EVA e glitter, pode fechar”

Wilsonnoscontoualgumasexperiênciassobreapinturadecorpos retintos:

"Vocêentregaumdesenhopracriançanegracolorir,paracriança brancacolorir,équaseque imposição,assim,umaauto-consciência dequeoolhopodeserazul,dequeoolhotemdeserverde Aívocê temdedizer:

‘Não’.

‘Professoreupossopintardeclarinho?’

‘Não Vocênãopodepintardeclarinhoporqueeuqueroversevocê temhabilidadeparapintarretinto.Euqueroquevocêmostrepramim quepelomenosnacoordenaçãomotora,vocêjádiferenciauma pinturaretintaeum borrão feito de marrom.’

E aí você vai desconstruindo. ‘Ah eu quero fazer um cabelo crespo’. Por quê? É mais fácil didaticamente do jeito que está, a gente não tenciona nada disso, e achar que ele tá fazendo aquele cabelo liso só porque ele acha. Não, não é só o que ele acha, é o que ele tem de referência, que foi colocado historicamente num currículo para que ele respeitasse e valorizasse.”

“Um povo que inventou o samba, você não pode transformar, na escola, num povo enfadonho. Que transformou o pelourinho no pelourinho (risos). E a gente, dentro desse processo, apesar das agruras, a gente celebra a vida, diariamente, cotidianamente. Com todos os motivos pra chorar e a gente insiste em rir. Tem hora que a gente chora também, porque a gente não é de ferro, mas a insistência na vida, na felicidade, no modo de ser diferente, mas respeitado, ele vai ficando evidente na escola. E aí o projeto se compromete, se comprometeu e há de se comprometer durante muito tempo (...)”

“cabelo vem de dentro e por isso não se esqueça por mais que você o alise a consciência é crespa”

“Nunca estive só

Nunca estive só

Nunca estive só”.

Estudantes em visita à Central Única dos Trabalhadores (CUT)

Conheça: CONEPPA - Coletivo Negro com Práticas Pedagógicas em Africanidades (Unicamp)

“(...) a gente vai correndo atrás de coisas que dá pra fazer e que a gente se veja minimamente representado, de forma humanizada (...) naquele coletivo pode tudo.” https://www.facebook.com/coneppa.coletivonegroafricanidades/

Os Informafricativos estão disponíveis no site da Faculdade de Educação da Unicamp: https://www.fe.unicamp.br/a-fe/biblioteca/recursos-line/boletiminformafricativo

Assista a entrevista completa em: https://drive.google.com/file/d/1rfr7UWzb8CUESfxWiwiyYn1ZMf4W Uf9Z/view?usp=sharing

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