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SAMBA N OSÃO BERNARDO

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OZIEL

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As palavras “união” e “confraternização” são a filosofia que faz manter viva uma tradição muito importante do bairro de São Bernardo em Campinas, o "Samba na Feira". Há cinco anos, Renato e Carlão produzem a roda de samba que acontece um domingo por mês na esquina com a feira do bairro, das 10h da manhã às 14h da tarde, atraindo pessoas de Campinas e região, e também de outros estados, o que demonstra o tamanho e a força que a roda de samba evoca.

"Um dia a gente parou o samba e pediu pro vocalista perguntar, tem gente de piracicaba ai? (Sim) Indaiatuba? (Sim) Jaguariúna? (Sim) Minas Gerais? (Sim) Do Lins? (Sim)". (Renato, 43 anos, um dos idealizadores do Samba na Feira).

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Muito conhecido por apresentar um ambiente familiar, caloroso e democrático, lá no Samba na Feira dá pra comer pastel com caldo de cana e vivenciar uma celebração popular e de resistência em um espaço cheio de alegria. E isso tudo em domingos sempre ensolarados (nunca, em cinco anos, choveu). Outra característica importante que faz o Samba na Feira ser super emblemático, é o fato da colaboração de 1 quilo de alimento por visitante ser o medidor de tempo em que vai ser tocado o pagode, ou seja, a duração vai estar sempre ligada ao tamanho da montanha de alimentos localizada na mesa no interior da roda. Caso não tenham alimentos equivalentes à quantidade de pessoas, o samba simplesmente PARA.

O projeto nasceu quando os amigos, que sempre seguiam o hábito do bairro de comer um pastel na feira de domingo, decidiram começar a reviver o costume de se encontrar para tocar na feira, entre amigos. A proporção desses encontros foi aumentando, a ideia de arrecadar roupas para a Campanha do Agasalho surgiu, depois a de arrecadar alimentos, e a estrutura só cresceu, até chegar no Samba na Feira que hoje lota a Rua Ceará mensalmente, nos domingos de manhã.

Os sambas atendem a um vasto público, de crianças a idosos. Contando com músicos que integram grupos diversos e também com pessoas que tocam só nos eventos mensais; sem ensaios, o grupo se conecta pelo olhar, sentindo o público e tocando de forma eclética. Também acontece o convite, no meio da roda, para que visitantes e conhecidos que saibam tocar algum instrumento, integrem o grupo e participem dessa energia.

O coletivo é composto por pelo menos 25 pessoas voluntárias, todos homens, que tocam pagode e samba. Eles são amigos e fazem tudo acontecer com o propósito de compartilhar. Para isso, eles se encontram em reuniões semanais, a fim de organizar e manter a qualidade do que propõem. Isso tudo, sem fins lucrativos. A maior parte das coisas estruturais do evento, como a tenda para delimitar o espaço dos músicos, os instrumentos musicais e o banheiro químico, por exemplo, são angariados a partir deles mesmos, muitas vezes do próprio bolso.

Para conhecer sobre os fundadores do projeto, perguntamos sobre quem são e quais as suas histórias no São Bernardo: Renato tem 43 anos, nascido e criado no bairro do São Bernardo, é um dos idealizadores do Samba na Feira. É empresário, economista e sambista. Seus pais são falecidos. A mãe de Renato faleceu faz dois anos. Trabalhou como secretária na Unicamp, e depois de se aposentar, construiu no auge de seus 60 anos uma carreira linda no samba. Ela tinha o sonho de cantar e se tornou a dama do samba em Campinas. Aureluce Santos foi a única mulher a cantar na roda de samba de São Bernardo. Ela era, principalmente, a madrinha do Samba na Feira. Dona de uma voz absolutamente poderosa, com um timbre muito único, Aureluce foi referência não só para Renato, seu filho, mas para toda a comunidade de sambistas, principalmente no São Bernardo.

Carlão, nascido e criado no bairro do São Bernardo, é um dos idealizadores do Samba na Feira. Trabalha como segurança e dá aulas de jiu-jitsu. Teve sua escola de samba no bairro, Acadêmicos de Madureira, e frequentava a antiga Avenida do Samba, que tinha sambas semanais e gerou grupos como o Partido Alto e o Serrinha. Vive o samba desde criança.

E com eles dois, são formados os pilares que mantém o Samba na Feira na resistência do samba enquanto educação, como a marca do São Bernardo:

“Esse é o projeto. Projeto que a gente fez acontecer, a gente tem um carinho muito grande. Esperamos dar continuidade. Dependemos de mais apoio, da prefeitura, reconhecimento da Secretaria da Cultura. (...) Enquanto a gente estiver na frente do projeto, e manter a filosofia do Samba na Feira, o projeto só tende a crescer”

Nossa primeira visita no Samba na Feira, o qual acontece mensalmente no São Bernardo, foi marcada pelo cancelamento do evento por motivo de luto: um morador do bairro, Leandro Rodrigues (Boi), havia falecido. Notamos a movimentação do projeto em não fazer o samba naquele mês, retornando somente em maio. Quando cobrimos o evento, o samba foi iniciado com 1 minuto de silêncio, em homenagem ao Boi. Percebemos através desses gestos, o quão comprometido o projeto está com a comunidade do São

Bernardo, o quão esse coletivo se enraíza e gera conexões de vida no dia a dia da comunidade. Para além disso, percebemos o quão importante é o samba na vida social das pessoas ali presentes, um momento de encontros, de celebração da cultura popular preta, de auto-estima (sempre há, por exemplo, trancistas no local; as pessoas se arrumam para estar ali).

Por fim, vale a pena vivenciar a energia do Samba na Feira, comer um pastel e apreciar uma tarde em prol da solidariedade:

“Tudo que a gente tá fazendo aqui é pra ajudar o próximo e fazer o bem”

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Texto: Gabriela Bandeira, Rafael Rodrigues

Fotos: Manuela Camargo Pereira Lima

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