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universitária.
from Revista Capoeirando no. 3 (Ago/23)
by Revista Capoeirando - um tributo à cultura popular; UNICAMP
Sob uma perspectiva crítica, sabe-se que historicamente as universidades latino-americanas se constituíram como um dispositivo da colonialidade do saber, institucionalizando saberes legítimos - as escolas do pensamento branco, europeu e Ocidental - e excluindo uma série de saberes presentes nestes territórios, os de tradições indígenas, africanas, afro-brasileiras. Não apenas os saberes estavam excluídos do espaço universitário, mas também suas coletividades, ou seja, as populações negras e indígenas, quadro este que tem sido alterado com a implementação das Cotas Étnico-Raciais e do Vestibular Indígena nas universidades públicas brasileiras. Vale lembrar que as universidades públicas estaduais paulistas, especialmente a UNICAMP e a USP, foram praticamente as últimas “grandes” universidades do país a adotar o sistema de cotas para o ingresso dos estudantes nos cursos de graduação, após forte pressão e atuação dos movimentos negro, indígena e estudantil. Nessa perspectiva, nota-se que as universidades públicas brasileiras têm se transformado com o ingresso das classes populares, das populações negra e indígena no corpo discente. Contudo, a entrada desse novo público colocou em evidência as ausências que até então não tinham a visibilidade que tem hoje: a ausência dos saberes de tradição não europeia Ocidental e ausência de professores e pesquisadores não-brancos. A partir desse contexto de lutas sociais presentes no espaço público universitário, novas formas de se pensar o currículo e a formação têm emergido, de modo a intensificar a presença destas coletividades e epistemologias.
Uma delas é o projeto Casa dos Saberes Ancestrais, que tem como uma de suas ações, prevista para ser implementada no segundo semestre de 2023, no campus Zeferino Vaz da Unicamp, a edificação uma casa tradicional do povo indígena Kiriri do Acré. Iniciado em 2017, o projeto se propõe a repensar a cultura e o espaço público universitário, especialmente no que tange ao acolhimento e permanência dos estudantes indígenas em seus saberes, culturas e modos de vida.
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Nas próximas páginas, apresentaremos um breve histórico do projeto, desde sua concepção até o atual momento. Para tanto, conversamos com algumas pessoas diretamente envolvidas nesse sonho coletivo que é a Casa dos Saberes Ancestrais, de modo a compreender seu processo de elaboração e futura implementação, destacando pontos importantes de sua história. Em seguida, apresentamos um relato de Jeremias AkroáGamella, estudante indígena do curso de Arquitetura que atualmente é bolsista no projeto.
DO SOBREVOO AO POUSO:
Tra Ando Um Percurso
Da Casa Dos Saberes Ancestrais
Gestado institucionalmente reitoria de Saberes Ancestrais Instituto de Rodrigues de Educação, dos Saberes professora se via no meio uma “imensa caminhava desses pássaros catártico, ela fazer como diretora de cultura seria plantar essa semente.” (p. 34).
A partir desse pessoas, de um desejo pessoal.
Nesse processo, construir um compuseram arquiteta da construção no contexto da Conferência Global dos Povos Indígenas (2012), e a obra Ágora: OcaTaperaTerreiro, do artista Bené Fontelles, apresentada na 32ª Bienal Internacional de Artes de São Paulo (2016) .
Sabedora dos labirintos institucionais, Malu Arruda entrou no projeto contribuindo para, em suas palavras no Ebook já citado, “acompanhar e articular conversas, debates e discussões e dar-lhes a forma de um projeto institucional, aproximando-o das condições de implantação na Unicamp.” (p. 75). Nessa articulação de conversas, Ailton Krenak e Almires Martins foram convidados a participar e contribuir com o projeto. Em conversa com essas lideranças, como relembra Malu Arruda, Ailton Krenak fez uma fala que marcou a história do projeto:
A gente tava numa sala, com um monte de gente. Uma sala pequena até, lá na Diretoria de Cultura. Sentou todo mundo. E aí a Verônica contou o sonho dela. A gente foi complementando e falando. E ele ouvindo, ouvindo, ouvindo Faziam parte desse grupo também as meninas que eram da Frente Pró-Cotas E assim Ailton Krenak parou, virou e falou assim: “Essa Oca já está sobrevoando a Unicamp, ela vai pousar, uma hora ela vai pousar. Sigam em frente”. (Malu Arruda, em entrevista ao autor deste texto)