Revista - Quebrada Comunicação e Cultura Periferiana

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da ponte pra cá

Leia essa matéria enquanto escuta a música Da Ponte Pra Cá, do Racionais MC’s

Foto: Luiz Lucas

Ele tem comércios pelo bairro até nome de rua. Desde então viu o bairro que fica às margens da Represa Guarapiranga crescer, ganhar asfalto, iluminação e até uma base militar. Conheça Paulo Idei, descendente de família japonesa que chegou no bairro Jardim Aracati há 42 anos.

“Quando cheguei era só estrada de barro. Pra pegar ônibus tinha que subir a pé até a Avenida M’Boi Mirim (cerca de 4 km, 50 minutos andando). Quando chovia tinha que tirar o sapato, colocar o sapato e ir pisando em poças d’água. Não tinha luz e a noite tinha problemas de segurança, então juntavam dois, três, quatro cinco pessoas e vinha a pé até aqui. Vim do Paraná morar aqui porque meu sogro tinha mudado para o Aracati. Aqui não tinha casas, só brejo e chácara e na Estrada da Cumbica só passava caminhão de areia, não tinha esse movimento, ninguém tinha carro aqui. O único carro que tinha era minha Kombi e quando as mulheres ganhavam neném, já me davam o dinheiro da gasolina e deixavam avisadas: “se precisar, você socorre?” As maiores dificuldades que eu enfrentei quando cheguei aqui era médico, creche e segurança. Qualquer coisa que acontecia, se chamasse a polícia, eles vinham de Santo Amaro, pra chegar aqui eram três ou quatro horas. Se tivesse um acidente, uma morte, aí era 12 horas até a viatura chegar. Não 26

tinha ônibus, não tinha creche, quem cuidava dos meus filhos era a mãe de um outro morador, a única pessoa que cuidava de criança. Todo mundo conhecia todo mundo. O primeiro comércio que eu consegui construir aqui foi um sacolão, depois uma padaria, um mercado e açougue. Eu nunca pensei em sair daqui. Eu fiz a vida aqui e não tem como sair. No bairro aqui do lado (Cidade Ipava) eu comprei uns lotes de uma rua inteira, então tinha que colocar um nome. Dei o nome do meu pai que veio do Japão, Yokiyoshi Idei. Foi muita luta! Tinha que usar água de poço não tinha esgoto. Trabalhei de domingo a domingo pra trazer da prefeitura a iluminação, água, asfalto, que chegou em 87... Só três ruas tinham luz, as principais e a rua da escola. Foi uma vida muito sofrida em vista de hoje. Hoje nóis tá no céu, né? Ônibus na porta,consegui trazer a companhia (Batalhão da Polícia Militar) pra cá, pra ter mais segurança. Agora tem duas ou três creches. Graças a Deus está bem melhor.”


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