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A marca de roupas Corre utiliza modelos e cenários da periferia como forma do consumidor se sentir representado. Foto: Facebook Corre.

Leia essa matéria enquanto escuta a música Placo, do Rincon Sapiência

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no CORREdas notas

Idealizada por quatro amigos e vizinhos de quebrada, a Corre Store se inspirou em marcas já conhecidas, como a Fundão e a 1DASUL. A ideia é levar aos moradores de periferia um produto que represente a quebrada.

Ahistória da marca começou quando os amigos Otávio Luiz, Kaique Nazario, Willian Graniero e Fabricio Rodrigues encontraram dificuldades em manter o projeto “Café no Sacolão”, um programa de entrevistas que tinha como foco dar voz e vez à artistas independentes das quebradas em que viviam. Sem patrocínio, tiveram a ideia de uma marca de roupas, para captar verbas e criar outras entrevistas, que no início eram feitas no Sacolão das Artes e posteriormente passaram a ser feitas no Centro de Mídias M’ Boi Mirim. Além disso, após a mudança de endereço, o programa passou a se chamar “Café de Quebra”. Quando a ideia começou a sair do papel, Willian saiu do projeto e Melissa Rodrigues entrou logo em seguida. Depois disso as ideias começaram a surgir como um liquidificador. “Não é um rolê muito da hora, mas a gente tava numa tabacaria.” Brinca Otávio, sobre como surgiu o nome da marca. “Fizemos um branding que fala, né? E decidimos colocar Corre porque todo mundo tá no corre. A marca seria citada constantemente, todo mundo fala essa palavra diariamente, em qualquer conversa. Também foi bem na época que o Djonga tinha lançado a música “Corra”, e também estava rolando o filme “Corra”, um puta filme foda também. Tudo isso foi inspiração.” Outro fator importante para a escolha do nome foi a ideia de desmarginalizar o termo corre. “Pra galera mais boy que não é de quebrada, quando ouve que o cara vai fazer um corre e tal, leva pro lado do roubo, inclusive a gente também pensa assim às vezes, então o nome foi uma afronta para tirar esse estereótipo e mostrar que a marca é de

“O camaleão se adapta para sobreviver, tá ligado? E quem vive na periferia hoje tem que ter esse espírito.”

quebrada”, conta Otávio. Já o emblema da marca, um camaleão, representa quem veste: “o camaleão se adapta para sobreviver, tá ligado? E quem está na periferia hoje tem que ter esse espírito de se adaptar para sobreviver, se não você não vive”, explica Kaique. A Corre foi feita para vestir a periferia e rolar uma identificação de quem mora aqui, mas isso não impede de que as roupas sejam utilizadas em outros lugares. Existe discriminação, claro, mas Kaique, integrante que cuida da estética e das conversas com os fornecedores, é sucinto: “Eu visto corre em qualquer lugar que eu vou! Eu trampo em banco e quando eu chego com uma camiseta escrita ‘Corre’ todo mundo olha torto. Quem é próximo questiona por quê, e aí é da hora porque eu explico e a pessoa entende que não é a parada marginalizada, mas muita gente ainda tem preconceito.” Para Otávio, também existe a reflexão em relação a segurança pública: “quando eu cheguei com a ideia em casa a família já ficou meio assim… - E se você andar na rua e tomar enquadro com uma camisa escrito Corre? É óbvio que não tem nada a ver, mas infelizmente eu e o Kaique já somos visto como perigosos por ser quem somos, ainda mais com o Corre exposto no nosso peito”. Mas quando se pensa no crescimento da periferia, logo esse receio sai de cena. As roupas são definidas como um trabalho artístico que traz uma mensagem. “A marca é pensada para quem é da periferia consumir e ter orgulho de falar que veio daqui, sem precisar pagar uma fortuna em qualquer shopping. Mas não existe problema se chegar em outros lugares, outras quebradas, o intuito é fazer a galera se conscientizar”. Como o foco é na periferia, os modelos contratados para os ensaios fotográficos de divulgação da marca e os cenários são moradoras e moradores desses lugares. Além disso, é utilizado outros métodos de divulgação que tenha a ver mais com o tipo de trabalho. A marca já fez parceria com um grupo de rap que lançou uma clipe que leva o mesmo nome da marca, já foi patrocinadora de um jogo solidário dos amigos do MC Guime contra os amigos do Goleiro Ederson. Mas o principal foi o apoio inicial do rapper Crônica Mendes, organizador da “Batalha das Fábricas”, uma competição de rimas que acontece na Fábrica de Cultura do Jardim São Luis. “Era o início para nós, a gente se fortaleceu junto”. A parceria funciona da seguinte forma: o ganhador da noite leva uma camiseta da Corre, além de outros produtos de outras marcas, que fortaleceram o rolê após ver a propagação da Corre. A divulgação é feita dessa forma ou digitalmente. “Não temos loja física, é totalmente pelas redes sociais. A ideia é construir um site, mas estamos caminhando.”

“Eu visto Corre em qualquer lugar que eu vou”

A Corre surgiu após os amigos Fabricio Rodrigues, Otávio Luiz, Melissa Rodrigues, Kaique Nazario e Willian Graniero precisarem de verba para o projeto de entrevistas Café de Quebra. A marca roubou a cena e se tornou a principal atividade do grupo. Foto: Arquivo pessoal.

“O mundo deveria consumir mais rap, talvez as pessoas teriam mais noção das coisas que estão fazendo”.

Para Kaique e Otávio, rap é o ritmo mais influente na periferia. Foi esse estilo inclusive que influenciou a criação da marca. Foto: Luiz Lucas.

Outra pessoa que ajudou muito na difusão da marca foi o rapper Ed Rock, do grupo Racionais MC’s. Ao lançar uma música chamada ‘Corre Neguin’ com Xandy de Pilares, os produtores dos artistas convidaram os criadores da marca para o show de lançamento. Além do show, o grupo também foi convidado para o lançamento da música na sede do Tidal. “O cara é mó gente boa. Os Racionais é inspiração pra tudo que a gente possa pensar de quebrada. A gente curte muito rap, tá ligado? A quebrada consome muito rap. O mundo deveria consumir mais rap, talvez as pessoas teriam mais noção das coisas que estão fazendo”, comenta Kaique. O Café de Quebra está parado por enquanto, o foco total é na Corre, que vem com coleção nova para o verão, com lançamento marcado para o dia 23 de novembro, no mesmo lugar em que acontecem as batalhas. Durante o evento vai rolar pocket show, desfile e discotecagem. “Quem diria, eu tô pensando igual a C&A: primavera-verão”, ironiza Otávio, “vamos lançar boné, bermuda, umas roupas mais pensadas no calor”. A busca é também por um crescimento administrativo

“Queremos crescer em planejamento interno e visual, como nas fotos e até criar um site. Mas tem que dar o tiro certo também, não adianta fazer o bagulho sem ter perna pra cuidar. As coisas vão acontecendo naturalmente. Esse convite do Ed Rock, o convite para o jogo beneficente em Osasco, ajudam a crescer”. Isso é periferia: estudo, trabalho, correria, sonhos… E empreendedorismo.

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