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4.1 O início da pandemia
from FAKE NEWS, O VÍRUS
by Rede Código
torno de assuntos como o isolamento, combate ao vírus, tratamento preventivo envolvendo hidroxicloroquina, também conhecido como “kit covid” e os casos de corrupção que foram investigados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia64 . Em um país onde estima-se que 66% dos usuários de redes sociais como o WhatsApp e Facebook não conseguem distinguir uma fake news de uma notícia verdadeira65, a veemência do presidente em apoiar o tratamento precoce, o fim do isolamento e o ceticismo em relação à eficácia das máscaras e vacinas alimentou uma rede abundante de fake news, que fez uso dos aparatos digitais citados anteriormente para disseminar um fluxo funesto de desinformação, que pode ter contribuído em muito a fatalidade da pandemia66. Casos registrados pela imprensa mostram pessoas que faziam parte do maior grupo de risco da pandemia, idosos e até mesmo agentes de saúde, se recusando a tomar a vacina ou se precaver através das diversas recomendações pela OMS do vírus por causa de sua resistência à mídia tradicional e devoção ao presidente Bolsonaro. A enfermeira Priscila Veríssimo, de 35 anos, morreu em decorrência de uma reinfecção da Covid-19,67 após se recusar a tomar a vacina ”CoronaVac”, fabricada pela China em parceria com o Instituto Butantan, pois ela acreditava que por ter sido infectada uma vez havia desenvolvido anticorpos suficientes para se tornar imune à doença - tese também promovida por Bolsonaro que acredita na “imunidade de rebanho” 68 - e era cética em relação à “vacina chinesa”. Priscilla morreu no dia 24 de fevereiro de 2021, deixando uma filha de dois anos. A enfermeira é um dos casos que exemplifica o quão nociva a influência de um líder político pode vir a ser sobre seus apoiadores, especialmente os mais radicais. É difícil estimar quantas pessoas possam ter perdido suas vidas devido a ideias políticas extremistas baseadas em fake news, mas sabemos que um país regido por um negacionista, em meio a uma pandemia, pode deixar um rastro de destruição colossal sobre seu povo, apoiadores ou não.
64 Conteúdo disponível em: https://www.aosfatos.org/noticias/aos-mil-dias-de-governo-2-a-cada-3declaracoes-falsas-de-bolsonaro-sao-repetidas/. Acessado em: 27.10.2021. 65 Conteúdo disponível em: https://canaltech.com.br/seguranca/brasileiros-nao-sabem-reconhecer-fakenews-diz-pesquisa-160415/. Acessado em: 05.nov.2021. 66 Conteúdo disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/politica/audio/202107/falta-de-campanhas-e-fake-news-podem-ter-agravado-efeitos-da-pandemia. Acessado em: 28.10.2021. 67 Conteúdo disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2021/02/4908935-enfermeirabolsonarista-morre-com-reinfeccao-da-covid-19-apos-recusar-vacina.html. Acessado em: 05.nov.2021. 68 Conteúdo disponível em: https://coronavirus.saude.mg.gov.br/blog/100-imunidade-de-rebanho. Acessado em: 05.nov.2021.
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4. Fake news em meio à pandemia
Para entendermos melhor o impacto da rede de desinformação ao redor do vírus e as possíveis implicações em seu combate, é necessário analisarmos algumas das fake news mais compartilhadas, tanto na internet quanto por meios de informação tradicionais que buscavam desmenti-las; através dessas “peças” conseguiremos montar um “quebra cabeça” com algumas das evidências de como o brasileiro comum auferiu as novas mudanças em sua vida social, econômica e política por causa do Covid-19 sob a responsabilidade de um governo federal que estimulou a criação de uma “desinfodemia”, grande quantidade de informações falsas sobre um assunto específico, baseando-se na utilização de bodes expiatórios, como a imprensa, o Supremo Tribunal Federal e governadores, na tentativa de se eximir do dever proteger e servir a seu povo.
4.1 O início da pandemia
Em um primeiro momento, houve uma confusão geral em torno do Covid-19, desde organizações de saúde à mídia tradicional, que davam seus primeiros passos para entender o vírus, enquanto o mesmo deixava um rastro de mortes através diversos países. A desorientação e ambiguidade da mídia no início da pandemia foi explorada constantemente nas narrativas mais convincentes que norteavam as fakes news mais populares, que apontavam erros da imprensa como uma admissão de culpa de sua frivolidade na cobertura de eventos de impacto mundial e em casos mais extremos, como responsáveis pelo caos social que se instalou devido ao medo e a obscuridade do vírus e suas consequências.69 A Organização Mundial de Saúde (OMS) havia recebido alertas de mortes que estavam ocorrendo na província de Wuhan, China desde dezembro de 2019. O alerta apontava uma nova cepa de coronavírus, um tipo de resfriado, que nunca havia sido encontrada em seres humanos. Autoridades chinesas vieram a público com a informação de casos de uma nova doença em janeiro de 202070. A OMS havia sido cautelosa em seu prenúncio de uma possível pandemia, decidindo por vez anunciar
69 Conteúdo disponível em: https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/artigo/2020/08/06/os-excessose-falhas-que-atrapalham-comunicacao-cientifica. Acessado em: 10.nov.2021. 70 Conteúdo disponível em: https://www.paho.org/pt/covid19/historico-da-pandemia-covid-19. Acessado em: 10.nov.2021.
o vírus como uma ‘Emergência de saúde pública de interesse internacional’ (PHEIC, em inglês), o aviso foi ignorado pela maioria dos países, com exceção da Ásia, que já estava enfrentando casos da doença71. Logo, o vírus estava clamando vítimas ao redor do mundo, ultrapassando 100.000 casos globais em março de 2020, mês em que a OMS finalmente declarou estado de pandemia. 72 Na Europa, sendo a Itália determinada como o epicentro de infecção no ocidente, o mundo assistiu chocado às macas transportando dois, três corpos, pontos turísticos vazios em decorrência do toque de recolher adotado para combater o contágio e os números de mortes que se sobressaíam dia após dia. No Brasil, enquanto assistíamos à queda da Itália para o novo vírus, nos preparávamos para o colapso do nosso próprio país após o anúncio do primeiro caso em fevereiro de 2020, na cidade de São Paulo, e a primeira morte em março. Anos de corrupção e a diminuição aguda de verbas para a área da Saúde são inimigos conhecidos do povo brasileiro que já visualizava o caos que recairia a nação mesmo que a administração pública fosse competente no combate e prevenção à Covid-19. Mas o que não era esperado foi a conduta acometida do Governo Bolsonaro em meio a uma crise de nível global. Já em abril de 2020, apenas um mês após a primeira morte no país, Bolsonaro demitiu o Ministro da Saúde, Nelson Mandetta, depois de desavenças públicas sobre a sua conduta em meio a pandemia. Mandetta era a favor do isolamento social, já Bolsonaro apoiava a abertura do comércio, afirmando que o impacto econômico das medidas sanitárias seria muito maior do que o número de mortes causadas pelo vírus. Nesse mesmo tempo, Mandetta alertava que em seu pico, o Covid-19 ceifaria a vida de 180 mil brasileiros até dezembro de 2020.73 Contudo, Bolsonaro minimizou as consequências da doença, chegando a chamá-la de “gripezinha”74. Em 29 de dezembro, o número de óbitos no Brasil superou os 190 mil. As declarações controversas, e até mesmo falsas, propagadas por Bolsonaro em relação ao vírus, se tornaram um dos pontos de foco da CPI da Covid-19, que
71 Conteúdo disponível em: https://www.nature.com/articles/d41586-021-00162-4. Acessado em: 10.nov.2021. 72 Conteúdo disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus2019/interactive-timeline. Acessado em: 10.nov.2021. 73 Conteúdo disponível em: https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2021/05/04/mandetta-explicasaida-do-ministerio-da-saude-em-abril-de-2020. Acessado em: 10.nov.2021. 74 Conteúdo disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55107536. Acessado em: 10.nov.2021.