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2.4 Cambridge Analytica

o papel de intermediação que as plataformas possuem. Elas se posicionam como um local que dá uma série de vantagens para que as transações aconteçam e, desse modo, obtêm dados de quem oferece e de quem procura algum bem ou serviço. A segunda característica fundamental é que as plataformas são dependentes dos “efeitos de rede”: quanto mais numerosos os usuários de uma plataforma, mais valiosa ela é para todos os outros. As plataformas são grandes devoradoras de dados e, como se fossem ruminantes digitais, os entregam em amostras específicas para cada um dos anunciantes ávidos por obter, se possível em tempo real, um bom resultado em sua transação, seja ela a oferta de um táxi, a resposta à busca de um namorado ou namorada, o aluguel de um imóvel na praia ou a venda de um móvel antigo etc. O capitalismo de plataforma é um capitalismo de dados tratados por algoritmos. (AMADEU, 2019).

Sendo assim, essas plataformas buscam maximizar a interação entre usuários e não sua qualidade, “O resultado é mais ruído online servindo aos interesses comerciais de nossas plataformas de mídia social, mas não às necessidades de informação de uma sociedade democrática”. (ANDREJEVIC, 2020)Há uma consciência cada vez maior das tendências políticas conduzidas por algoritmos que assolam as redes sociais, a alta publicidade dos casos jurídicos contra o Facebook e seu escândalo ao lado da Cambridge Analytica teve um grande impacto na percepção do público sobre as grandes empresas do Silicon Valley, nos alertando para os perigos de aceitar cegamente a natureza matemática da big data como imparcial. Há uma consciência cada vez maior das tendências políticas conduzidas por algoritmos que assolam as redes sociais, a alta publicidade dos casos jurídicos contra o Facebook e seu escândalo ao lado da Cambridge Analytica teve um grande impacto na percepção do público sobre as grandes empresas do Silicon Valley, nos alertando para os perigos de aceitar cegamente a natureza matemática da big data como imparcial. As redes sociais continuam sendo consideradas a melhor alternativa para um debate político mais aberto em comparação aos grandes monopólios que dominam o mundo da mídia tradicional, mas as fontes de seus códigos permanece um mistério intrigante até mesmo para programadores experientes, o desenvolvimento da inteligência artificial e do “machine learning” transformou os códigos gerados por pessoas em uma massa irreconhecível para seus próprios programadores, novas informações são computadas a todo momento, milhões de linhas de código são adicionadas por dia, gerando uma conexão de dados inauditável por qualquer ser humano, levantando a questão de como será possível responsabilizar as grandes

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empresas de tecnologia, quando aparentemente nem mesmo elas são capazes de entender completamente o escopo de sua criação.

2.4 Cambridge Analytica

O escândalo envolvendo o Facebook e a empresa de mineração de dados, Cambridge Analytica,24 é provavelmente um dos casos mais contundentes sobre a sobreposição entre o viés algorítmico, o patrocínio privado e os impactos que isso acarreta em todo o campo democrático, ilustrando o dilema da era digital em que vivemos. Em 2014, um questionário criado pela empresa Global Science Research, passou a circular na internet. A tarefa parecia simples, o questionário prometia pagar de um à dois dólares para quem respondesse as perguntas, com duas condições, apenas americanos poderiam responder as perguntas e que o aplicativo do Facebook fosse baixado para a realização do pagamento. Em seus termos e condições, a Global Science Research afirmou que nenhuma das informações poderiam ser usadas para fins inadequados.25 Esse seria o início do escândalo de privacidade que viria moldar as eleições americanas de 2016, trazendo novos personagens políticos para a vanguarda de uma nova onda de populismo nacionalista. Em 2015, uma reportagem do jornal britânico The Guardian afirmou que o candidato à presidência dos Estados Unidos, Ted Cruz estava fazendo uso de uma pequena empresa, chamada Cambridge Analytica, localizada em Cambridge, Inglaterra para a criação de perfis psicológicos baseando-se nos dados de milhares de pessoas que haviam respondidos a questionários no Facebook.26 Cambridge Analytica era a subsidiária da Strategic Communication Laboratories (SLC), que estava trabalhando com a Global Science Research para a captação de dados, a Cambridge Analytica era então responsável por criar algoritmos que permitiriam prever a tendência política de usuários do Facebook, permitindo delinear quais as melhores estratégias e conteúdo que pudessem ser usados para cada um deles.

24 Conteúdo disponível em: https://theintercept.com/2017/03/31/o-facebook-nao-protegeu-30-milhoesde-usuarios-de-terem-dados-acessados-por-uma-das-empresas-da-campanha-de-trump/. Acessado em: 27.nov.2021. 25 Conteúdo disponível em: https://theintercept.com/2017/03/31/o-facebook-nao-protegeu-30-milhoesde-usuarios-de-terem-dados-acessados-por-uma-das-empresas-da-campanha-detrump/#:~:text=%C3%80%20primeira%20vista,dos%20nossos%20termos.%E2%80%9D. Acessado em: 27.nov.2021. 26 Conteúdo disponível: https://www.theguardian.com/us-news/2015/dec/11/senator-ted-cruz-presidentcampaign-facebook-user-data. Acessado em: 27.nov.2021.

Apesar de Ted Cruz e Ben Carson, ambos candidatos a presidente, terem sido os primeiros a utilizarem o poder dos algoritmos desenvolvidos pela Cambridge Analytica para suas campanhas, foi Donald Trump, ao lado de seu estrategista-chefe Steve Bannon, redator-chefe do site de extrema-direita Breitbart News, que se tornaram notícia e caso de investigação nos Estados Unidos. Ted Cruz afirmou que sua campanha só fez uso de alguns milhares de dados para aperfeiçoar seu marketing digital, contanto, quando Donald Trump passou a fazer uso desses mesmos serviços, era estimado que a Cambrigde Analytica gozava dos dados de mais de cinquenta milhões de americanos, a maioria deles obtidos por meios ilegais27. Acredita-se que seus algoritmos tenham sido fundamentais no resultado da campanha presidencial de 2016, que tornou Donald Trump presidente, exaltou Steve Bannon como o novo ícone da extrema-direita e influenciador ímpar em relação ao uso de fake news durante disputas eleitorais e tenha até mesmo influenciado as eleições brasileiras de 2018, elegendo Jair Bolsonaro e o que viria a ser uma das condutas presidenciais mais catastróficas em meio a pandemia de Covid-19, matando mais de 600 mil brasileiros.

27 Conteúdo disponível em: https://theintercept.com/2017/03/31/o-facebook-nao-protegeu-30-milhoesde-usuarios-de-terem-dados-acessados-por-uma-das-empresas-da-campanha-detrump/#:~:text=No%20final%20de%202014,nossas%20duas%20dimens%C3%B5es%E2%80%9D%2C%20expl icou. Acessado em: 27.nov.2021.

3. A eleição de 2018

Em 2018, as eleições presidenciais brasileiras trouxeram uma surpresa, a candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro, até então, pouco conhecido pelo público em grande parte do país. Jair Bolsonaro havia ocupado a cadeira na Câmara por sete mandatos, de 1997 a 2018, por cinco partidos diferentes. Em seu tempo como deputado, Bolsonaro homologou uma série de proposições alinhadas à ideologia de extrema-direita, como a PL 9564/201828 e PL 9064/201729, que pedia pela exclusão de ilicitude por parte de agentes públicos de segurança em operações federais, permitindo que policiais e soldados não sofressem consequências por atos violentos que decorressem em operações policiais e a suspensão das resoluções nº 11 e 12 do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais, que pedia pelo reconhecimento e asseguração da identidade de gênero pelas instituições brasileiras. Sua relevância na cena política foi redobrada, quando, em seu voto diante ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016, Bolsonaro anunciou seu apoio à ditadura e ao coronel Brilhante Ulstra30, que durante o regime militar entre 1970 e 1974, foi chefe do DOI-Codi do exército de São Paulo, órgão de repressão política e responsável pelo assassinato e desaparecimento de pelo menos 50 pessoas e a tortura de 500. "Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim"31, afirmou Bolsonaro na Câmara de Deputados. O episódio gerou polêmica e ativistas pelos

28 Conteúdo disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2168058. Acessado em: 27.nov.2021. 29 Conteúdo disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2161961. Acessado em: 27.nov.2021. 30 Conteúdo disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/04/160415_bolsonaro_ongs_oab_mdb. Acessado em: 27.nov.2021. 31 Conteúdo disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/04/160415_bolsonaro_ongs_oab_mdb#:~:text=%22Pela%20me m%C3%B3ria%20do%20coronel%20Carlos%20Alberto%20Brilhante%20Ustra%2C%20o%20pavor%20de%2 0Dilma%20Rousseff%2C%20pelo%20ex%C3%A9rcito%20de%20Caxias%2C%20pelas%20For%C3%A7as%2 0Armadas%2C%20pelo%20Brasil%20acima%20de%20tudo%20e%20por%20Deus%20acima%20de%20tudo% 2C%20o%20meu%20voto%20%C3%A9%20sim%22%20%E2%80%93%20foi%20o%20trecho%20final%20do %20discurso%20de%20Bolsonaro%2C%20em%20meio%20a%20vaias%20e%20aplausos.. Acessado em: 27.nov.2021.

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