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2.1 O que é fake news?
from FAKE NEWS, O VÍRUS
by Rede Código
Empoli e Wardle, analisando o cenário mundial do uso político de fake news e sua apropriação pelo governo brasileiro, durante a pandemia do Covid-19, na tentativa de construir uma narrativa que contextualize o tema.
É necessário questionar, os meios de comunicação oficiais fizeram uso de fake news? Quais eram os propósitos da fake news na pandemia? Como combater a desinformação quando ela parte de meios oficiais? São algumas das perguntas que essa monografia busca responder.
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2. Revisão da definição de fake news
Esta monografia busca através de autores como Empoli, Wardle, Abramo, Amadeu e Chomsky desconstruir o conceito do termo fake news e o seu uso nos tempos atuais, analisando quais são suas conotações e raízes políticas, tecnológicas e sua evolução nas mídias. Esse trabalho buscará compreender o uso de desinformação, em especial, desinformação política. Faremos uma análise empírica do uso global de fake news e o possível préstimo dessa estratégia pelo governo Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19, que assolou o Brasil em 2020, em seu pico, matou 3.869 brasileiros em um dia1 . Através da análise do discurso de Bolsonaro e de outros integrantes do governo em relação ao vírus Covid-19, desde sua prevenção à vacina, buscaremos verificar de forma qualitativa quais os objetivos da oratória dos membros do Poder brasileiro, confrontando esse discurso com a checagem de fatos das agências Lupa2 a primeira agência de checagem do Brasil, fundada em 2015, Aos Fatos3 e Fato ou Fake4 para averiguar o possível uso de desinformação e fake news.
2.1 O que é fake news?
O termo fake news, apesar de ter uma tradução direta simples, notícias falsas, se tornou oblíquo dentro do campo da comunicação que busca estudar e observar suas consequências na interpretação do mundo, mais especificamente, sob as lentes do jornalismo. Melissa Zimdars definiu fake news como:
[...] produzidas principalmente por indivíduos que não se preocupam em coletar e relatar informações ao mundo, mas em gerar lucro por meio da circulação de informações falsas nas redes sociais, imitando o estilo das notícias contemporâneas[...] é uma informação não verificável enraizada em uma irrealidade que impede nossas habilidades coletivas de dar sentido ao mundo. (ZIMDARS, 2020).
1 Conteúdo disponível em www.https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-03/covid19-brasil-registra-3869-novas-mortes-maior-numero-em-24h. Acessado em 05. out. 2021. 2 Conteúdo disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/?utm_source=Search&utm_medium=cpc&utm_campaign=lupa5anos. Acessado em: 22.nov.2021. 3 Conteúdo disponível em: https://www.aosfatos.org/. Acessado em: 22.nov.2021. 4 Conteúdo disponível em: https://g1.globo.com/fato-ou-fake/. Acessado em: 22.nov.2021.
A expressão fake news, que tomou as redes sociais e a mídia tradicional de forma célere durante as eleições presidenciais estadunidenses de 20165, que apresentava Donald Trump e Hillary Clinton em lados opostos, ganhou magnitudes sócio-políticas e comunicacionais nunca vistas antes. Sua potencialização sendo beneficiada diretamente pelos novos meios de comunicação, as redes sociais digitais. O uso da desinformação como meio de influenciar a opinião pública não é uma ocorrência nova, mas ganhou relevância com a rapidez com que se espalha e afeta elementos significativos da estrutura democrática. Segundo Zimdars, a natureza altamente autômata das fake news na era da cibercultura, nos força a examinar tal evento não apenas como “falsa informação”, mas algo muito maior: “[...] fake news fazem parte de questões de interesse político, cultural e social muito mais amplas. Fake news são um sintoma de problemas enraizados, tanto quanto são em si mesmos um problema”. (ZIMDARS, 2020). Tal perspectiva, faz com que a análise de fake news apenas sob as lentes da disciplina de Comunicação seja enfraquecida em vista de todos os campos por quais o problema percorre. Sua disseminação rápida e eficaz se dá por causa de algoritmos codificados para amplificar interações entre usuários e não, necessariamente, para modular a qualidade dessas interações (ANDREJEVIC, 2020), seu impacto social é consequência de pós-verdades, definido pelo Oxford Dictionary6 como "circunstâncias em que os fatos objetivos são menos influentes em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e à crença pessoal”7, fortemente enraizadas em sociedades onde estruturas de influência como poder monetário e relações entre etnias, gêneros, religiões e afins, são igualmente sistematizadas e transmutadas em relação a propensões políticas, ajudando ao mesmo tempo a geração de fake news para uso extremamente específico, em questão de região, e extremamente universal, em questão de sociedade. Por isso, fake news não pode existir fora de uma contextualização social, ou ao menos, não será capaz de ser bem sucedida em questão de interação, se não houver uma clara referência a problemas universais como segurança, habitação, consumo e entre outros, e também a problemas específicos à certas regiões como
5 Conteúdo disponível em www.https://www.statista.com/topics/3251/fake-news/. Acessado em 05. Out. 2021. 6 Conteúdo disponível em: https://languages.oup.com/dictionaries/#oed. Acessado em: 27.nov.2021. 7 Conteúdo disponível em: https://languages.oup.com/word-of-the-year/2016/. Acessado em: 27.nov.2021.
relações étnicas inflamadas entre grupos particulares, domínio religioso de uma certa doutrina, de classe em países onde as divisões monetárias são agravadas, etc. O uso de fake news nestes casos, trarão consigo o verniz político que mais afeta a demografia a quais se tenta persuadir ou iludir. De acordo com Johan Farkas “o falso se torna um substituto para o poder e o domínio, um meio de deslegitimar ideias conflitantes” (FARKAS, 2020). Para assegurar esse domínio político social, a narrativa compelida por fake news traz consigo um forte viés emocional, buscando incentivar a insegurança, o descaso, o medo e o ultraje. A #PIZZAGATE8, uma teoria conspiratória criada no fórum 4Chan que acusava Hillary Clinton de fazer parte de uma rede de prostituição e tráfico de menores baseada no porão de uma pizzaria em Washigton, capital dos Estados Unido, tomou proporções imensuráveis em 2016. A teoria se tornou um escândalo tamanho que a polícia do Distrito de Colúmbia e um jornalista do New York Times investigaram o caso, descartando qualquer possibilidade de crime. Entretanto, a revelação de que o caso se tratava de fake news, não apaziguou os ânimos de pessoas crentes na veracidade da teoria, levando um homem armado a “investigar” a situação por si só, abrindo fogo dentro da pizzaria. Logo, o caso do atirador foi novamente assimilado por usuários do 4Chan, dando luz a uma nova teoria, que afirmava que o homem havia sido plantado, provavelmente pelo partido Democrata e Hillary Clinton, com o objetivo de destruir a mídia alternativa. O exemplo do #PIZZAGATE nos mostra como o medo das elites políticas de se livrarem de crimes nefários, especialmente contra aqueles em situação de vulnerabilidade, foi explorado para ajudar a disseminação de tal narrativa em um território específico. O Brasil sofreu com sua própria cota de fake news nas eleições de 2018, um projeto desenvolvido pelo então Ministro da Educação, Fernando Haddad em 2011, chamado Escola sem Homofobia9, foi usado por apoiadores do então candidato à Presidência, Jair Bolsonaro, como prova de que caso a esquerda fosse eleita, passaria a “sexualizar crianças” e o ensino da ideologia de gênero nas escolas do
8 Conteúdo disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/pizzagate-o-escandalode-fake-news-que-abalou-a-campanha-de-hillary/. Acesso em: 09 set. 2021. 9 Conteúdo disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/18/actualidad/1539847547_146583.html. Acessado em: 09. set. 2021.
Brasil. Na verdade, o projeto que foi apelidado de “kit gay”, visava preparar professores para lidarem com os direitos LGBTQ+, a luta contra preconceitos e o respeito à diversidade entre jovens. A Fig. 1 mostra o post feito por um usuário do Facebook que recebeu mais de 65 mil compartilhamentos contendo desinformação sobre o assunto.
Figura 1- Postagem sobre o "kit gay".
Fonte: Usuário do Facebook (2018).
Casos desse tipo muitas vezes florescem em posts desconectados de fontes jornalísticas verificáveis, escritos de forma direta como se fossem fatos e não conjecturas. Claire Wardle discute a existência de sete tipos de fake news, os elencando sob o termo “transtorno informacional”, categorizados em duas esferas, falsidade e intenção de prejudicar.