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2.2 Propaganda e fake news
from FAKE NEWS, O VÍRUS
by Rede Código
Conteúdo Fabricado
Provavelmente o tipo mais conhecido de fake news, o conteúdo fabricado, onde todo o material, imagens, áudios, textos, etc. são completamente fantasiosos. A Fig.8 mostra uma postagem feita por um usuário do Facebook, onde afirma que o ex-presidente Lula teria declarado seu apoio ao Talibã. Não há nenhuma evidência que prove tal discurso.
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Figura 8- Desinformação sobre o apoio de Lula ao Talibã.
Fonte: Agência Lupa.
A análise da “mensagem” veiculada pelas fake news, seu discurso e quais métodos de manipulação são utilizados para auxiliar a disseminação de conteúdo malicioso é extremamente útil para nos aprofundarmos em um dos seus mecanismos mais básicos, a linguagem; porém, como Wardle afirma:
[...] além de compreender essas diferentes categorias de transtorno informacional, devemos examinar separadamente os "elementos" da desordem de informação: o agente, mensagens e intérpretes [...] o "agente" que cria uma mensagem fabricada pode ser diferente do agente que produz essa mensagem - que ainda pode ser diferente do “agente” que distribui a mensagem. Da mesma forma, precisamos de um entendimento completo de quem são esses agentes e o que os motiva. (WARDLE, 2020).
Sendo o “agente” responsável pela mensagem que se deseja transmitir, é necessário nos perguntarmos quais são seus objetivos em relação a tentativa de
modular o cenário político por meio do uso de desinformação, é preciso questionar o porquê do uso de fake news. “A tentativa de encaminhar uma agenda com base em premissas enganosas indica que os objetivos são nefastos ou questionáveis o suficiente para serem mascarados; caso contrário, a verdade serviria” (ANDREJEVIC, 2020). Há ganhos políticos a serem atingidos? Se sim, quais? E o uso de fake news por parte de membros de um governo podem ser caracterizados como propaganda? Explorar mais a fundo os criadores de fake news pode nos ajudar a entender seus motivos e assim, definir uma demografia a qual a desinformação é direcionada, ambos em termos de persuasão, incitação e ataque. Dessa forma a codificação da linguagem usada, como foi apontada na primeira parte deste capítulo, se tornará ainda mais clara quando conseguirmos esclarecer quem é o locutor, o porquê de sua mensagem e a quem ela se dirige.
2.2 Propaganda e fake news
Para melhor estabelecer o contexto do uso de fake news na arena política, precisamos referenciar as ferramentas linguísticas usadas por propagandistas para que conseguissem atingir um “consenso”, “isto é, obter a concordância do povo a respeito de assuntos sobre os quais ele não estava de acordo por meio das novas técnicas de propaganda política” (CHOMSKY, 2014). Um bom exemplo dessa prática foi a criação do Comitê de Informação Pública 13(CIP) criado pelo então presidente americano Woodrow Wilson, no início do século XX, encabeçado pelo jornalista George Creel, e foi responsável por conseguir persuadir o público americano a aceitar o seu envolvimento na Primeira Guerra Mundial após Wilson ter sido reeleito através de uma campanha pacifista. Creel convocou alguns dos maiores comunicadores, ativistas e artistas do século XX para conseguir atingir seu objetivo, trazendo consigo uma ênfase nas ideias de patriotismo e liberdade. Em seu livro “How We Advertised America” (Como nós Anunciamos a América, em tradução livre) Creel afirma;
Não havia nenhuma parte da grande máquina de guerra que não tocássemos, nenhum meio de recurso que não utilizássemos. A palavra impressa, a palavra falada, o filme, o telégrafo, o cabo, o wireless, o pôster, a placa - tudo isso foi usado em nossa campanha para fazer com que nosso próprio povo e todos os outros povos entendessem as
13 Conteúdo disponível em; https://www.history.com/news/world-war-1-propaganda-woodrowwilson-fake-news. Acessado em: 05. out. 2021.
causas que motivaram América para pegar em armas. Tudo o que era bom e ardente na população civil veio ao nosso chamado, até que mais de cento e cinquenta mil homens e mulheres estavam dedicando habilidades altamente especializadas ao trabalho do Comitê, tão fiéis e dedicados em seu serviço como se usassem o cáqui. [...] O que tínhamos que ter não era uma mera unidade superficial, mas uma crença apaixonada na justiça da causa da América que deveria unir o povo dos Estados Unidos em um instinto de massa incandescente com fraternidade, devoção, coragem e determinação imortal. A vontade de guerra, a vontade de vencer, de uma democracia depende do grau em que cada um de todos os povos dessa democracia pode concentrar e consagrar corpo, alma e espírito no esforço supremo de serviço e sacrifício. (CREEL, 1920).
Creel também foi um dos primeiros propagandistas a perceber o poder da mídia de entretenimento, não apenas ajudando a fundar e produzir filmes hollywoodianos que condiziam com a mensagem governamental da época, mas também pressionando a cena europeia para a barragem de filmes alemães, resolução duramente sentida pelo governo germânico que já havia se estabelecido como uma força cultural influente ao norte da Europa.14 Creel também fez uso extensivo da censura dentro do território americano, impedindo que matérias jornalísticas à filmes do velho oeste, que exaltavam a violência e o individualismo, fossem vistos pelo público.15 Creel preferia o exaltamento da cultura americana ao detrimento da alemã, a ideia principal era manter uma corrente de notícias positivas sobre o exército americano como assunto principal. Durante os vinte meses de existência da CIP, mais de seis mil comunicados de imprensa foram publicados, todos eles foram redigidos como notícias, sem esclarecimento de sua fonte governamental e mais de mil e duzentos artigos foram redigidos por escritores famosos de forma gratuita. Em um certo momento, estima-se que as redações jornalísticas estavam recebendo mais de três quilos de material redigido pelo Comitê, por dia. Grande parte desse material foi publicado palavra por palavra, sem qualquer edição por jornalistas ou editores, muitos deles temiam que a possível recusa pudesse acarretar problemas com os Correios e
14 Conteúdo disponível em: https://www.pbs.org/wgbh/americanexperience/features/the-great-warmaster-of-americanpropaganda/#:~:text=Creel%E2%80%99s%20CPI%20drew,European%20countries.%5Bi%5D. Acessado em: 27.nov.2021. 15 Conteúdo disponível em: https://www.pbs.org/wgbh/americanexperience/features/the-great-warmaster-of-americanpropaganda/#:~:text=The%20CPI%20blocked%20the%20export%20of%20films%20that%20depicted%20Amer ican%20crime%20or%20even%20Wild%20West%20banditry%2C%20and%20insisted%20on%20positive%2C %20educational%20images. Acessado em: 27.nov.2021.