Publicado originalmente por Reformation Heritage Books
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1ª edição: 2025
ISBN: 978-65-81489-83-0
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo citações breves, com indicação da fonte.
Direção executiva
Judiclay Silva Santos
Conselho editorial
Judiclay Santos
David Bledsoe
Paulo Valle
Gilson Santos
Leandro Peixoto
Supervisão editorial: Cesare Turazzi
Tradução: Mariana Ayres
Preparação e revisão de texto: Gabriel Lago
Capa: Luis de Paula Diagramação: Marcos Jundurian
Nesta obra, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA), salvo informação em contrário.
As opiniões representadas nesta obra são de inteira responsabilidade do autor e não necessariamente representam as opiniões e os posicionamentos da Pro Nobis Editora ou de sua equipe editorial.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Guthrie, James, 1612-1661
Prevenção contra a queda pastoral: conselhos bíblicos para se manter de pé no ministério/James Guthrie, James Durham; tradução Mariana Ayres. – Rio de Janeiro: Pro Nobis Editora, 2025.
7. Pecados relacionados ao batismo e à Ceia do Senhor 67
8. Pecados relacionados a visitas e instrução de novos convertidos 71
9. Pecados relacionados ao governo da igreja 75
10. Pecados relacionados a assuntos nacionais e políticos 85
11. O que um ministro deve fazer se estiver em estado de morte espiritual 91
12. Como as igrejas podem corrigir os erros 103
13. Incentivos para os ministros buscarem a santidade 109
14. Garantia de que a obra de Cristo terá sucesso 115
15. Encorajamento para que os ministros sejam luzeiros 121
Nota editorial
Este livro é uma compilação de antigos escritos escoceses que passaram por uma leve atualização na linguagem e foram organizados para auxiliar pastores em suas lutas. O cerne da obra (capítulos 2 a 10) apresenta a obra A humble Acknowledgment of the Sins of the Ministry [Um humilde reconhecimento dos pecados ministeriais], de James Guthrie, à qual os editores adicionaram versículos bíblicos para reflexão e meditação, com o objetivo de conectar as confissões com as exigências das Escrituras. Construído em torno dele (capítulos 1, 11 e 13 a 15), há trechos das obras do comentário de James Durham sobre Apocalipse e um sermão sobre Efésios 4.11-12, para mostrar como Cristo leva a sério a santidade pastoral, fornecendo promessas e encorajamentos a fim de que perseverem enquanto o servem. Também está incluído (capítulo 12) um conselho aprovado pela Assembleia Geral da Igreja da Escócia em 1646, com precauções para as falhas comuns entre os ministros na terra. Os editores também adicionaram perguntas de reflexão ao longo do livro, a fim de torná-lo uma ferramenta relevante para aplicação mútua e pessoal. Espera-se que este material clássico de uma era passada seja útil para uma nova geração de ministros do evangelho.
Prefácio à edição em português
Como prevenir, ou pelo menos decrescer, as tantas quedas de ministros do evangelho?
Frequentemente testemunhamos escândalos de ordem financeira, comportamentos sexuais desviantes, abusos de poder e outras variadas atitudes condenáveis a um vocacionado, cujo chamado é ser “um exemplo para os fiéis” (1Tm 4.12).
Qualquer ministério perde toda credibilidade quando o ministro não é modelo daquilo que ensina! Portanto, é essencial “que o bispo seja irrepreensível” (1Tm 3.2). O ministério de Paulo era propositadamente ilustrativo do tipo de vida que ele desejava aos fiéis, daí o imperativo: “Sede meus imitadores” (1Co 11.1). Silas e Timóteo tinham o mesmo propósito ministerial, como asseverado pelo apóstolo: “[...] tínhamos em vista apresentar a nós mesmos como exemplo” (2Ts 3.9).
Devemos atentar para a demanda dupla sobre o ministro: de um lado, ele é exortado a ser exemplo (1Tm 4.12); do outro lado, a igreja é exortada a imitar “os que andam segundo o modelo” que tem em fiéis homens de Deus (Fp 3.17).
Noutras palavras, tanto o líder é chamado a ser padrão quanto o rebanho a emular este padrão (Hb 6.12). Desta maneira, fica claríssimo a sublime tarefa do pastor de ser uma carta
viva perante as ovelhas. Se o ministro não está preparado para dizer “suplico-lhes que sejam meus imitadores” (1Co 4.16), seu padrão de vida está abaixo daquele exigido pelo Novo Testamento.
Não é acidental James Durham iniciar esta obra falando justamente da “necessidade de ministros santos”. Não há nada mais importante na vida de um cristão do que a busca por santificação! Se esta verdade é primazia para todos os crentes, então não há como exagerar sua primazia na vida dos ministros. Nós, pastores, devemos encarnar a primeira necessidade de nossos liderados.
De forma muito acertada, Robert Murray M’Cheyne escreveu: “A maior necessidade de meu povo é a minha santidade pessoal”.1 Perante esta dificílima demanda, vem à mente a seguinte pergunta retórica: quem é capaz de ser um ministro? Senão pelo poder do Espírito, ninguém poderia exercer tal função! Mas graças a Deus que “nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2Co 3.6).
Sem a ajuda do Santo Espírito jamais viveremos os altíssimos padrões que devem ornar nossos ministérios. Consequentemente, é mister buscarmos diariamente o enchimento do Espírito (Ef 3.18), a fim de nos capacitarmos como maridos, pais e líderes; do contrário não poderemos “cuidar da igreja de Deus” (1Tm 3.5). Como Jesus ensina, deve haver em nós uma importunação permanente para que o Pai nos dê mais do Espírito (Lc 11.13); pois é certo que
1 A autoria desta citação é disputada, mas o “espírito” da mesma não é! Teria M’Cheyne apenas dito, mas não escrito este princípio ministerial? Vide discussão em: https://community.logos.com/discussion/117916/ did-mcheyne-really-say/p1 (s. v., SineNomine, 2020).
o aumento da influência do Espírito em nossas vidas nos ajudará a crescermos em santidade.
Além da ajuda do Espírito, a Bíblia reiteradamente nos exorta à vigilância e à disciplina. Observemos cuidadosamente a sequência da seguinte exortação ao pastor Timóteo: Cuide de você mesmo e da doutrina. Continue nestes deveres, porque, fazendo assim, você salvará tanto a si mesmo como aos que o ouvem. (1Tm 4.16)
Notemos que o ministro é chamado a julgar a si, antes de considerar outrem! Mas, por acaso, estava Timóteo em risco de cair, daí Paulo tê-lo exortado a vigiar? Por que alertar o mais compromissado e santificado de seus obreiros (Fp 2.20-22)? Ora, ninguém menos que o próprio apóstolo corria este risco, como ele mesmo assegura: “Aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!” (1Co 10.12). Paulo não estava blefando quando afirmou: “Esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado” (1Co 9.27).
E você que está lendo agora mesmo este texto, quem você pensa que é? Acaso você se considera mais forte que São Timóteo e São Paulo? Pondere as palavras de Salomão: “O orgulho vem antes da destruição; o espírito altivo, antes da queda” (Pv 16.18).
Atualmente, você e eu temos ouvido de inúmeras quedas de grandes ministros do evangelho! Estamos nós, se descuidados, isentos da mesma sina? Atentemos para o aviso do Mestre:
Vigiem e orem, para que não caiam em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca. (Mt 26.41)
Temamos ante o grande inimigo, a saber, a nossa “carne que milita contra o Espírito [...] para que não façam[os] o
que querem[os]” (Gl 5.17). Não bastasse este nosso grande inimigo, temos ainda dois perenes adversários, o “mundo e o príncipe da potestade do ar” (Ef 2.2). Todavia, a renhida guerra contra estes três gigantes pode ser vencida por uma vida disciplinada e empoderada pelo Santo Espírito.
Este livro é um manual de avaliação para ajudar a todos que desejam ter um ministério padrão, poderoso, profícuo e puro! Você ambiciona ser “um exemplo para os fiéis” (1Tm 4.12)? Você aspira ser fiel à sua esposa, ao rebanho e a Cristo?
Afinal, o que se requer do ministro “é que cada um deles seja encontrado fiel” (1Co 4.2). Você deseja magnificar Jesus em sua vida e contemplar o sorriso do Senhor em sua morte?
O puritano James Guthrie, principal autor desta obra, compôs este manual para você. Suas orientações por zelo e arrependimento nas páginas deste livro exalam profundo amor pelo ministério cristão. Poucos instantes antes de ser executado, “alguém da plateia gritou a James Guthrie: ‘Olha para cima para o Senhor Jesus’. Ele respondeu naqueles momentos finais: ‘Ele olha para baixo e sorri para mim’. Assim findou este amado escocês soldado da Cruz que magnificou Cristo na vida e na morte”. Tal exemplo nos faz lembrar da promessa de Jesus a todos que desejam ser fiéis: “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap 2.10). Vivamos disciplinadamente na dependência do Espírito, a fim de cumprirmos cabal e fielmente nossos ministérios!
David Bowman Riker (PhD, Universidade de Aberdeen, Escócia) serviu de 2006 a 2016 como professor de teologia sistemática, coordenador de mestrado e reitor do Seminário Teológico Batista Equatorial; e desde 2016 serve como pastor-presidente da Primeira Igreja Batista do Pará (Belém, PA).
Apresentação
O objetivo da republicação deste livro não é apenas fornecer ao leitor um artefato histórico interessante ou um manual antiquado de teologia pastoral. Na verdade, é dar à igreja contemporânea um recurso precioso para atender uma necessidade urgente e perene. O fracasso ministerial era uma realidade que afetava não apenas os pastores do século 17, mas também os rebanhos que eles procuravam pastorear — assim como hoje. Eu, enquanto pastor e professor de seminário, tenho muitos motivos para recomendar com fervor este livro como um companheiro para toda a vida no ministério contemporâneo.
Um companheiro para os anos de seminário
Por mais de 25 anos, A Humble Acknowledgement of Sins of the Ministry (em sua edição de Horatius Bonar) tem sido uma das leituras obrigatórias nos cursos de teologia pastoral do Reformed Presbyterian Theological Seminary. Como um jovem seminarista, com muitos livros pesados para estudar, fiquei no início aliviado com a brevidade deste título na minha lista de leitura, porém esse alívio logo foi substituído pela admiração à forma que um autoexame tão profundo foi condensado em
tão poucas páginas. Esta não é uma obra para ler com pressa, mas sim para saborear e digerir de forma lenta e proposital. O livro deixou sua marca em mim quando eu era estudante e depois quando fui ordenado pastor. E eu estava determinado a mantê-lo no currículo quando me tornei professor, onde ainda é elogiado de forma constante como um dos textos mais impactantes de todo o currículo do seminário. Aqueles que pensam em seguir o ministério pastoral terão seus olhos abertos para as realidades sóbrias do trabalho ao qual aspiram, e ainda não é incomum ouvir falar de alunos que precisam passar um tempo a sós chorando e refletindo sob a convicção que ele traz. Não é de admirar que o irmão de Horatius, Andrew Bonar, tenha se levantado cedo na manhã de sua ordenação para lê-lo mais uma vez antes de fazer seus votos solenes. É uma obra séria para homens sérios.
Um companheiro para o ministério
Uma vez que um homem entra no ministério pastoral, alguns livros didáticos do seminário tendem a permanecer na prateleira apenas para consultas muito esporádicas. Este, porém, não deveria ser um deles. Muitos pastores descobriram que este livro instigante é mais adequado para a mesa de cabeceira ou para o local de oração — não é para acumular poeira. E, embora o autoexame e o arrependimento devam ser disciplinas diárias para todos os cristãos, este guia é feito sob medida a pastores que fariam bem em usá-lo para os altos e baixos comuns no ministério. Talvez seja muito útil nos casos a seguir.
Em tempos de esgotamento ministerial
Como o título desta edição sugere, você tem em mãos um valioso auxílio para prevenir o fracasso ministerial. Em
nossa sociedade cada vez mais acelerada, muitos pastores são pressionados a gastar muita energia em “coisas do ministério” de forma que negligenciam sua própria alma, levando ao naufrágio de um trabalho que, de outra forma, seria promissor. Este livro ajuda os pastores a desacelerar e identificar possíveis fontes de esgotamento, direcionando-os para aquele que pode recalibrar suas prioridades e capacitá-los com novas provisões do Espírito para a renovação de seus frutos.
Em tempos de sucesso ministerial
Quando o Senhor abençoa o ministério de um homem com grande frutificação, esta obra é um antídoto precioso para a tentação do orgulho, lembrando-lhe a quem se deve tal bênção.
Em tempos de crise nacional
Esta obra foi escrita por um pastor preocupado, junto com seus colegas, em uma época de profunda crise nacional. Conforme escreveu o apóstolo Pedro, “Chegou a hora de começar o julgamento pela casa de Deus” (1Pe 4.17, NVI), e talvez tenhamos esquecido a convicção de nossos antepassados de que as nações poderiam muito bem estar sob disciplina divina pela falha daqueles designados pelo Rei das nações para pregar sua lei e evangelho. Em um mundo pós-covid, decerto há lugar para aceitar com humildade, por meio desses aliancistas escoceses, o fator agravante dos pecados ministeriais.
Um companheiro para a oração
O leitor aproveitará ao máximo uma leitura lenta e orante desta obra. Cada capítulo contém uma lista não muito
longa de falhas comuns no ministério, a qual atua como um poderoso holofote na alma, conduzindo de forma natural ao trono da graça — seja como uma lista de oração diária ou (como se pensou a princípio) um companheiro ocasional para uma temporada mais longa de jejum e oração.
Um companheiro para confraternizações pastorais
Apesar do valor para a reflexão pessoal, não devemos esquecer que A Humble Acknowledgement foi originalmente concebido para uso coletivo. A obra era uma ferramenta para presbitérios e sínodos, onde os pastores se reuniam a fim de conduzir negócios e orar juntos por sua nação e igreja. A importância da comunhão e do encorajamento mútuo entre os ministros do evangelho tem, sem dúvida, aumentado em vez de diminuído, à medida que muitos no ministério enfrentam períodos solitários de confinamento pandêmico ou isolamento geográfico. Esta obra é um convite oportuno para que os pastores se unam em oração e encorajamento mútuo.
Um companheiro para o discipulado
Assim como Paulo exortou Timóteo a investir em “homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2Tm 2.2), todos aqueles comprometidos em treinar homens para o ministério e aprimorar seus colegas encontrarão auxílio nestas páginas. Os editores acrescentaram perguntas de estudo úteis no final de cada capítulo a fim de tornar esta edição particularmente amigável para o ministério de homens, como estágios pastorais. Numa era de pregadores famosos, este antídoto ajudará os pastores a manterem os pés uns dos outros com firmeza no chão.
Um companheiro para pessoas que amam seus pastores
Este livro tem algo a dizer àqueles que não são chamados para o ministério? Com certeza! Embora escrito com os pastores em mente, os pastoreados também se beneficiarão. Isso lhes dará uma visão das lutas espirituais mais profundas de seus pastores, capacitando-os assim para orar por eles de forma mais intencional. No mínimo, deve ser lido por todas as esposas de pastores, para ajudá-las a reconhecer, compreender e prevenir as inúmeras potenciais armadilhas espirituais que o ministério de seu marido acarreta.
Conclusão
Por fim, embora eu deseje que esta nova edição de A Humble Acknowledgement seja muito utilizada, seria negligente se não emitisse com ela um pequeno aviso. Você tem em mãos um instrumento cirúrgico afiado. Usado de maneira adequada, e com a bênção de Deus, ele sondará os cantos mais escuros do seu coração, com precisão, e trará à tona pecados que você não fazia ideia de que estavam à espreita ali. Não obstante, também possui o potencial de cortar fundo e ferir se não for bem manuseado. A apresentação do teor do livro em tons mais melancólicos é intencional: o verdadeiro arrependimento envolve um luto piedoso. Alguns de nós podem ter consciências mais sensíveis do que outros, e podemos ser tentados a abandonar o procedimento sentindo que fomos enfraquecidos em vez de fortalecidos. É por isso que os editores devem ser elogiados por incluir, nos capítulos finais, a ênfase equilibrada do bálsamo de James Durham para pastores fracos e sobrecarregados. Cristo nos quebra para nos reconstruir. O objetivo deste trabalho da alma não é produzir um pastor deprimido, introvertido e autocentrado,
mas sim um ministro alegre, frutífero e com a consciência liberta, o qual olha para o alto, para além de suas muitas falhas, e se concentra mais uma vez no Grande Pastor das ovelhas. Portanto, deixe o pastor Guthrie realizar a cirurgia e, em seguida, deixe o pastor Durham cuidar de você na sala de recuperação. Horatius Bonar garante que valerá a pena:
Estas são confissões solenes — as confissões de homens que conheciam a natureza do ministério no qual haviam entrado e que desejavam ser aprovados por aquele que os havia chamado, a fim de que pudessem prestar contas com alegria e não com tristeza. […] Assim como eles fizeram, sejamos honestos com nós mesmos. Nossas confissões não devem ser menos amplas e investigativas.
David G. Whitla , professor de história da igreja no Reformed Presbyterian Theological Seminary , em Pittsburgh, Pensilvânia
Introdução
Quanto mais penitente e humilde alguém for e quanto mais desejo tiver pela verdadeira reforma da igreja, mais completa e facilmente aprovará tais confissões e repreensões francas.
— RichaRd BaxteR
Por que alguns ministros fracassam por completo? Alguns pastores de alto nível (nos Estados Unidos e em outras partes do mundo) caíram nos últimos anos, de forma grave e pública. Alguns observam que o número de pastores que estão abandonando o ministério é uma taxa alarmante. Pesquisas sugerem que as duas principais razões são o esgotamento e a falha moral. As duas não são independentes. Às vezes, a falha moral segue o esgotamento, porém ambas surgem das mesmas causas.
O esgotamento, de forma geral, ocorre devido à busca pelo sucesso externo e pela aprovação alheia. Sucesso significa concentrar-se naquilo que é visível e atrai atenção, mesmo com a consequência de negligenciar a vida interior e cultivar a piedade pessoal para com os outros. O termo falha moral é usado com frequência para se referir à quebra dos votos matrimoniais, entre outras coisas. Isso também começa com a negligência da vida interior.
O orgulho espiritual precede a queda. Talvez os ministros comecem a acreditar que são “perfeitos” apenas porque é isso que se espera deles. Talvez se afastem de suas mensagens e comecem a achar que estão “acima das regras”. Com certeza, isso deve resultar do fracasso em manter um diálogo constante com Deus e confessar pecados específicos de forma regular e em particular.
Alguns apontam que os ministros, muitas vezes, estão isolados e não têm pessoas com quem possam falar com sinceridade, ou irmãos que possam ser pessoalmente responsáveis por eles em um nível informal. As perguntas para reflexão neste livreto seriam uma base adequada para discussão aberta entre pequenos grupos de ministros.
No entanto, há outro tipo de falha ministerial: realizar os deveres espirituais do ministério de uma forma não espiritual. Isso tem um sério impacto não apenas no próprio pastor, mas também naqueles a quem ministra. Como um ministro pode reconhecer quando a decadência espiritual se instalou e procurar remediá-la? É por isso que este livro é tão necessário.
Santidade pessoal
A santidade pessoal é uma questão do evangelho, pois afeta a convicção com que ele é declarado e sua credibilidade, por exemplo, se o mensageiro não viver de acordo com a mensagem. Muitas almas estão em jogo. A conduta de um ministro negligente tem consequências eternas (1Tm 4.16). Este é um ponto destacado com veemência por Richard Baxter em seu livro clássico O pastor reformado. Os ministros devem “ter cuidado” consigo mesmos, bem como com o rebanho. Baxter dá oito razões poderosas pelas quais os ministros
devem ter esse autocuidado. Ele então afirma: “Um homem nunca terá meu consentimento para ser confiado com o cuidado de outros e supervisioná-los para sua salvação, se não cuida de si mesmo”. Baxter acreditava que a negligência em apontar tal falha era tão perigosa quanto a própria condição. Não poderia haver silêncio sobre o retrocesso ministerial:
Nossos fiéis esforços são de tão grande necessidade para o bem-estar da igreja e para a salvação da alma dos homens, que sermos negligentes ou condescendentes com o desleixo de outros, sem nos pronunciarmos, seria inconsistente com o amor à igreja ou à alma dos homens.
Outros também enfatizaram esta questão vital com bastante frequência. Como Robert Murray M’Cheyne escreveu: “Deus não abençoa os talentosos tanto quanto abençoa os que se assemelham a ele. Um pastor piedoso é uma arma nas mãos do Senhor”. Isso foi ecoado por Andrew Bonar, o qual declarou: “Estou mais convencido do que nunca de que a falta de santidade está na raiz do nosso fracasso”.
Os pastores estão envolvidos na obra mais importante e mais sagrada que existe. Em seu ensaio The Qualifications of a Minister, James Durham menciona aprendizado, dons e graça. A maior parte do ensaio é dedicada à graça como uma qualificação. Há uma ênfase particular no ministro como um homem de piedade evidente.
Estamos certos de que, independentemente do que os homens profanos pensem da santidade, as pessoas que desejam ter a alma salva não querem contar com um guia cego que (caindo na vala) possa colocar outros em perigo. Ou alguém que possa curar suas feridas superficialmente. Ou, na melhor das hipóteses, apontar o caminho para eles e trilhá-lo junto apenas por pouco tempo.
A oração e a edificação da congregação são deveres essenciais do ministério — e a santidade é necessária para ambos. Uma das frases memoráveis de Durham é: “Aquele que assim carrega a mensagem do Senhor […] deve ser santo”.
Declínio espiritual
Em seu comentário sobre Apocalipse, Durham se refere à acusação feita por Cristo ao anjo em Sardes de que suas obras não haviam sido encontradas “perfeitas diante de Deus” (ACF). Isso segue a exortação: “Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer” (Ap 3.2). Ele observa que o anjo (ou ministro) tinha “nome de que vive”. Assim, ele observa que, embora as coisas possam ir bem em público diante dos outros, as obras de um ministro podem não ser perfeitas diante de Deus.
Isso é óbvio quando há uma decadência na vivacidade da comunhão pessoal com Deus e na oração. Em tal condição, o espírito correto quanto aos seus deveres ministeriais diminui. Se um pastor está apenas satisfeito em cumprir seus deveres e não está preocupado com a forma como eles são feitos, as coisas não estão certas. Ele pode estar exercendo seus dons de forma eficaz, mas, se não há consciência de seus defeitos pecaminosos, falta de zelo e dedicação total, as coisas não estão indo bem. Assim como não é um bom sinal para qualquer cristão ser indiferente às suas próprias corrupções e enfermidades pecaminosas, também não é certo quando um pastor não se incomoda com suas falhas em relação ao ministério.
Necessidade urgente
Richard Baxter acreditava na urgência e necessidade de confessar os pecados do ministério. “Como pode aquele que
tem língua ficar calado”, perguntou, “quando é para a honra de Deus, o bem-estar de sua igreja e a felicidade eterna de tantas almas?” Ele levantou as seguintes questões:
1. Como podemos nos tornar humildes sem uma confissão clara do nosso pecado?
2. Pode alguém com razão se ofender conosco por confessarmos nossos próprios pecados e assumirmos a culpa e a vergonha para nós mesmos, quando nossa consciência nos diz que devemos fazer isso?
3. Quando o pecado é exposto aos olhos do mundo, é inútil tentar escondê-lo; todas essas tentativas apenas agravarão e aumentarão nossa vergonha.
4. A confissão franca é uma condição para a remissão completa. O pecado não perdoado nunca nos deixará descansar ou prosperar, embora tomemos o maior cuidado para encobri-lo a todo custo: nosso pecado com certeza nos encontrará, mesmo se não o encontrarmos. O trabalho da confissão é tornar conhecido, de forma intencional, nosso pecado e assumir livremente a vergonha para nós mesmos. E, se “o que as confessa e deixa alcançará misericórdia”, não é de admirar que “o que encobre as suas transgressões jamais prosperará”. Se nos tratarmos com tanta tolerância e tivermos tanta relutância em confessar, Deus não será tão tolerante conosco e ditará nossas confissões por nós. Ele forçará nossa consciência a confessar, ou seus julgamentos proclamarão nossas iniquidades ao mundo.
5. Muitos que empreenderam a obra do ministério procedem obstinados na busca de seus próprios
interesses, com negligência, orgulho e outros pecados, de tal forma que se tornou nosso dever adverti-los. Se víssemos que nossos irmãos se corrigiriam sem repreensão, de bom grado deixaríamos de publicar suas faltas. Todavia, quando as próprias repreensões se mostram tão ineficazes que eles se ofendem mais com a repreensão do que com o pecado, e preferem que paremos de repreendê-los a pararem de pecar, acho que é hora de intensificar o remédio. Pois o que mais deveríamos fazer? Desistir de nossos irmãos como se fossem incuráveis seria crueldade, desde que outros meios possam ser usados. Não devemos odiá-los, mas repreendê-los com clareza e não tolerar o pecado sobre eles (cf. Lv 19.17). Tolerar vícios no ministério é promover a ruína da igreja. Que maneira mais rápida existe para depravar e destruir o povo do que a depravação de seus guias? Como podemos promover com mais eficácia uma reforma do que nos esforçando para reformar os líderes da igreja?
Confissão sincera
O núcleo deste livro é uma versão atualizada de uma publicação chamada A Humble Acknowledgement of the Sins of the Ministry. Esta confissão dos pecados dos ministros foi redigida pela primeira vez em 1651. Horatius Bonar se refere a ela em seu livro clássico Words to Winners of Souls [Palavras para ganhadores de almas] (1859). Na verdade, Bonar dedica um capítulo inteiro ao assunto da confissão e usa o documento como base para suas observações. Baxter também dedica um capítulo de seu valioso livro para confessar os pecados do
ministério. Ele comenta: “Quanto mais penitente e humilde alguém for, e quanto mais desejo tiver pela verdadeira reforma da igreja, mais completa e facilmente aprovará tais confissões e repreensões francas”. Bonar diz que A Humble Acknowledgement é “talvez uma das confissões mais completas, fiéis e imparciais do pecado ministerial já feitas”. Qualquer pessoa que o leia com a mente aberta, com certeza, concordará.
Reforma da igreja
Confessar os pecados do ministério foi um aspecto vital da Segunda Reforma na Escócia. A igreja não estava complacente com sua condição. Em 1638, a Assembleia Geral renovou um ato de 1596 intitulado “Sobre as deficiências no ministério”. O avivamento veio durante a Assembleia Geral de 1596, quando consideraram sua necessidade de confissão. Em 1646, a Assembleia Geral listou uma série de “enormidades e corrupções” muito evidentes nos ministros da terra. Estas foram identificadas tanto em seu modo de vida quanto em relação à maneira como se conduziam em seu ofício. Precauções foram propostas para lidar com tais corrupções (veja o capítulo 12).
Em 1648, a Assembleia Geral se concentrou, mais uma vez, em questões específicas. Referiram-se ao que havia sido identificado em 1596 como uma falha em aplicar a Palavra com fidelidade e força. Uma observação crucial foi que eles não estavam falando contra os pecados e ofensas que prevaleciam em público e dentro de suas congregações. Isso foi considerado devido à falta de zelo espiritual, bem como ao desejo de lisonjear ou evitar desagradar os outros.
Também foi acordado que a Liga Solene e o Pacto deveriam ser renovados em toda a nação durante dezembro de
1648. A Solemn Acknowledgement of Public Sins and Breaches of the Covenant [Um reconhecimento solene dos pecados públicos e violações do pacto] foi publicado e aprovado pelo Parlamento Escocês para auxiliar nisso.
Infelizmente, a igreja estava dividida na década de 1650. Após a invasão de Oliver Cromwell, a Assembleia Geral foi proibida de se reunir. Nesse clima, um ministro importante, James Guthrie (1612-1661), de Stirling, preparou uma publicação muito instigante chamada The Causes of the Lord’s Wrath Against Scotland [As causas da ira de Deus contra a Escócia], em 1653. A Humble Acknowledgement também foi anexado como um apêndice. Todo o documento foi queimado em público pelo carrasco depois que Carlos II se tornou rei. Também foi usado no julgamento contra James Guthrie, o que resultou em sua execução em 1661, quando ele se tornou o primeiro de muitos ministros aliancistas que entregariam a própria vida em vez de renunciar à supremacia de Cristo sobre sua igreja. Além de se basear em trabalhos anteriores semelhantes, A Humble Acknowledgement expande os títulos gerais acordados pela Assembleia Geral de 1650. Os pastores sentiram o julgamento de Deus sobre o país e viam-se como uma parte importante do problema. Trabalhos adicionais foram complementados por vários ministros e Archibald Johnston de Wariston (1611-1663) em 1651. Também é provável que o primo de James Guthrie, o famoso William Guthrie, tenha tido alguma influência no documento. Seu presbitério de Kilmarnock emitiu Discovery after Some Search of the Sins of the Ministers, Because of Which (As We Conceive) the Lord Is Angry, and Hath Almost Made His Ministers and Ordinances Vile and Contemptible [Uma descoberta após alguma busca dos pecados dos ministros, por causa
dos quais (como concebemos) o Senhor está irado e quase tornou vis e desprezíveis seus ministros e ordenanças], em 1651. Essa obra foi como que um rascunho inicial para A Humble Acknowledgement. Tais estímulos à confissão foram usados em dias de jejum e oração públicos.
Conclusão
Este não é um deleite pessoal e introspectivo. É uma questão do evangelho. O bem eterno das almas é impactado por ela. A falta de santidade pessoal nos pastores cria desprezo por sua mensagem. Uma coisa é ser um pastor reformado em termos de doutrina e abordagem da adoração e pregação. Outra coisa é ser o pastor reformado que Richard Baxter descreve em seu livro, onde seu foco é ser reformado, em questões práticas, na vida e no ministério. Ele fala da necessidade de confissão, mas também mostra o que significa para um ministro ter cuidado sério consigo mesmo e com o rebanho sobre o qual foi nomeado.
Baxter mostra que os pecados daqueles no ministério são mais sérios do que os de outros. Há mais conhecimento contra o qual pecar, um maior potencial para hipocrisia e mais impacto nas almas alheias. Este livro também leva tais considerações a sério, porém não abre apenas a ferida das falhas pessoais e a deixa infeccionar. A obra também mostra como as coisas podem ser corrigidas, bem como confessadas. Há ajuda, encorajamento e conselho aqui para os pastores brilharem em meio à escuridão que predomina. Baxter escreve:
Se milhares de vocês estivessem em um navio esburacado e aqueles que deveriam estar bombeando a água e tapando os vazamentos estivessem brincando, dormindo ou até mesmo apenas não se esforçando em seu trabalho,
vocês não os acordariam e os chamariam para se esforçar como se sua vida dependesse disso? Se você fosse áspero e importunasse os preguiçosos, acaso pensaria que o homem que reagiu mal estava em seu juízo perfeito?
E se ele o acusasse de orgulho, presunção ou falta de educação por falar tão rudemente com seus colegas de trabalho, alegando que você os prejudicou diminuindo-lhes a reputação? Você não diria isto? “Precisamos tapar os vazamentos, ou todos nós seremos homens mortos! O navio está prestes a afundar, e você fala de reputação? Prefere colocar em risco a si mesmo e a nós do que ouvir sobre sua preguiça?”
Esta é a nossa situação, irmãos: a obra de Deus deve ser feita! As almas não devem perecer enquanto vocês cuidam de seus negócios ou prazeres mundanos e descansam ou brigam com seus irmãos! Nem devemos ficar em silêncio por medo de parecermos muito rudes e indelicados com vocês ou desagradar suas almas impacientes, não enquanto os homens são apressadamente guiados à perdição por vocês e a igreja é levada a um perigo e confusão maiores!
Não sou pastor, porém tive o privilégio de ouvir muitos ministros de várias origens, em ambientes privados e em grupo, enquanto desabafavam sobre suas lutas e preocupações. O melhor encorajamento que posso oferecer é direcioná-los ao realismo e à honestidade contidos neste volume. Este livro foi reunido a partir das percepções de pastores piedosos do passado, por uma preocupação em apoiar e direcionar com mais eficiência os ministros em suas importantes responsabilidades. Isso é vital para o bem de toda a igreja, bem como deles mesmos.
Os pastores muitas vezes se sentem isolados e sob intensa pressão e ataque. Este livro não busca aumentar tais fardos;
antes, pretende auxiliá-los. As falhas não são resolvidas escondendo-as ou negando-as. Talvez negligenciar o enfrentamento dessas questões seja o maior fardo oculto que um ministro carrega. A prevenção é sempre melhor do que a cura, em especial dada a gravidade do impacto do fracasso no ministério. Este livro oferece um guia prático de diagnóstico que pode ajudar os pastores a reconhecer suas necessidades diante do Senhor e a discutir com franqueza suas falhas comuns. Aqui também há uma conclusão fortalecedora e encorajadora, a qual ajuda a estimular e armar os servos de Deus para o conflito, na busca de seu importante chamado para a glória de Deus e o bem das almas. Em última análise, somos capazes não apenas de ver o quanto Cristo leva a sério a santidade pastoral, mas também de valorizar as promessas e encorajamentos que ele oferece aos que perseveram em servi-lo.
Matthew Vogan
A necessidade de pastores santos
A santidade no ministério é necessária por preceito, pois trata-se de uma qualificação, junto com outros aspectos; por exemplo, a capacidade de “convencer os que o contradizem” na lista em Tito 1.8-9. A santidade em um ministro também é útil e necessária em muitas facetas como um meio para um fim.1
A santidade é necessária para o próprio ministro
Ele não pode estar confiante em seu chamado, ou, de alguma forma, ter certeza de que é aprovado por Deus neste chamado, sem ser santo. Embora possa ser chamado pela igreja, se ele não for santo, não pode agir como alguém que foi chamado por Deus, e assim será em grande medida inevitavelmente incapaz.
1 Este capítulo é um material extraído e atualizado de um ensaio intitulado “Concerning Ministerial Qualifications” [Das qualificações ministeriais] no comentário de James Durham sobre o livro de Apocalipse. Durham enfatiza que os pastores devem ter dons, aprendizado e graça, dando maior atenção à graça. Sua definição de graça inclui não apenas a graça salvadora, mas também a piedade.
A santidade é necessária para a obra do ministério
Acatar os conselhos do Senhor e estar em comunhão com ele são partes fundamentais do ministério (Jr 23.18, 22).
Sem essas coisas, podemos estar furtando de sua Palavra sem reconhecê-lo como Senhor (v. 30). Embora seja necessário em qualquer chamado ter comunhão com Deus e estar sob seu conselho, a natureza do ministério faz disso algo de necessidade excepcional para esta função.
A santidade é necessária para a ousadia na obra do ministério
Sem santidade, não pode haver ousadia na mensagem, em especial onde ocorrem dificuldades.
A santidade é necessária quando se trata da aplicação das verdades, especialmente aos espiritualmente cansados
É mais natural para um pastor piedoso acolher os casos espirituais dos outros e aplicar-lhes uma reparação graciosa, e solidarizar-se com eles, levando aos outros a mesma consolação com a qual eles próprios foram consolados (2Co 1.4). Esta é, afinal, uma das principais maneiras pelas quais Deus capacita seus ministros com experiência para a sua obra. Até mesmo Cristo, o cabeça da igreja, foi em alguns sentidos qualificado desta forma. É por isso que Lutero disse que estas três coisas são necessárias em um ministro, não apenas meditatio e oratio (meditação e oração), mas também tentatio (tentação). Qualquer pessoa que não tenha essa santidade, com certeza, tem muitos defeitos.
A santidade é necessária para a genuína frutificação
O Senhor costuma abençoar pastores piedosos com grande fruto, porém dá pouco àqueles que podem ser muito
talentosos mas possuem menos santidade pessoal. Podemos ver pelo exemplo de Paulo que os ouvintes se beneficiam não apenas com a boa pregação, mas em resposta às orações de um ministro junto à sua pregação. Contudo, o que o pastor não renovado pode fazer aqui? Pode chorar entre o pórtico e o altar e suplicar ao Senhor por seu povo (Jl 2.17)?
Pode lutar, sem cessar, em oração a Deus por eles? Se não há graça em seu coração, ele será incapaz de ter sucesso em seu ministério.
A santidade é necessária para que um ministro tenha credibilidade
É necessário que um pastor tenha “boa reputação”, mesmo entre aqueles “que estão de fora” (1Tm 3.7). Caso contrário, sua palavra não terá muito peso. Mas o que vale uma boa reputação sem santidade? A hipocrisia, em geral, não é muito convincente, nem se sustenta por muito tempo, enquanto a santidade adorna o evangelho mesmo em vocações comuns, e muito mais em um ministro, que é uma cidade edificada sobre um monte e não pode ser escondida (Mt 5.14).
A santidade é necessária na procura por um pastor
A santidade é uma qualificação que uma congregação tem o direito de procurar ao escolher alguém para pastor e quando um presbitério está considerando ordenar alguém para o ministério. Isso fica claro:
1. Pelas muitas instruções dadas aos ministros acerca disso nas epístolas de Paulo a Timóteo e Tito, e pelo fato de que as congregações e os presbitérios são expressamente limitados em seu procedimento
para isso, para que seja santo (1Tm 3.2 etc.; Tt 1.8). Essa santidade não é apenas descrita com negatividade (ele deve ser “irrepreensível […] não dado ao vinho” etc., v. 6-7), mas também de forma positiva, de modo que deve ter uma boa reputação, ser sóbrio, justo e santo.
2. Até mesmo um diácono deve ser examinado quanto a essas qualificações (1Tm 3.10), o que pressupõe que um pastor deve ser ainda mais observado. Só então pode ocupar a função, se ele for considerado (isto é, após análise) irrepreensível. A qualificação de santidade deve ser verificada tanto quanto as outras.
3. Os neófitos (isto é, aqueles recém-trazidos à fé) estão excluídos do ofício de ministro, tanto por ainda não terem capacidade para suportá-lo, quanto por não se saber ainda como poderão se sair. Aqueles que podem ser ordenados como ministros devem ter uma profissão bem estabelecida.
4. A instrução em 1Timóteo 5.22, “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos”, e assim por diante, confirma que as congregações e presbitérios devem escolher com cuidado seus pastores. O risco não é apenas que o homem não tenha dons, mas que, por falta de sensibilidade ou maturidade espiritual, use seus dons de forma errada. Em todas as epístolas, quando Paulo está recomendando ministros, ele sempre dá alguma evidência de sua santificação e, dessa forma, nos permite saber o quanto é de fato importante tal qualificação, ao recomendar um homem ao ministério.
Tendo em vista como é grande a responsabilidade de ser encarregado dos oráculos de Deus e da alma das pessoas, pode alguém ser considerado apto para se esforçar em salvar a alma dos outros se não tem consciência de cuidar da sua própria? Este é o raciocínio do apóstolo: “Se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (1Tm 3.2-5). Isso é proposto por meio de uma pergunta para mostrar a irrefutabilidade desse raciocínio pelo qual ele insiste na observância das qualificações anteriores. E, sem dúvida, esses dois não são colocados juntos sem um motivo importante: “Portanto, tomai cuidado de vós mesmos e de todo o rebanho” e “da boa doutrina” (At 20.28, ACF; 1Tm 4.6). Isso mostra que aquele que não se importa com um, naturalmente, nunca se importará com o outro. As palavras seguintes devem ser consideradas com atenção: “porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes”. Isso sugere que o descuido em seu próprio andar pode não apenas prejudicar sua própria salvação, mas também a salvação de seus ouvintes, visto que ambas costumam andar juntas. As pessoas podem renunciar a isso de modo a ter apenas uma forma de ordenanças, não se importando se seus ministros têm frutos entre elas ou não? Ou podem não se importar que o benefício seja para muitos ou poucos? Não se pode esperar muito (seja lá o que Deus faça soberanamente) de um homem que não segue o conselho de Deus (Jr 23.22) e, portanto, não desvia muitos da iniquidade. Nem mesmo se pode esperar que o Senhor aprove que alguém seja feito mordomo em sua casa e quase como um pai para seus filhos que não é, com base em qualquer fundamento caritativo, ele mesmo considerado um filho de Deus. E que confiança pode haver
de que um homem que não é cheio de graça se conduzirá de maneira cristã na forma externa de religião ou manterá a solidez na fé? E aqueles que colocam tanto em risco ao dar responsabilidade a quem não é digno de tal confiança não serão cúmplices desses males?
Os ministros devem, portanto, ser muito cautelosos com isso. A santidade deve ser cuidadosamente priorizada nos instrumentos que esperamos que o Senhor use, na proporção em que esperamos que o Senhor coloque diante deles uma porta aberta (Ap 3.8) e lhes conceda sucesso em seu ministério.
Questões para reflexão e discussão
1. Qualidades desejáveis em um pastor podem incluir amor pelas almas, habilidades de liderança, humildade, ser um bom comunicador e um bom ouvinte. Por que a santidade importa mais do que qualquer outra coisa?
2. A santidade é de certa forma intangível, mas é suficientemente discernível para que as congregações avaliem os possíveis pastores (e os presbitérios examinem os candidatos ao ministério) quanto à sua santidade pessoal. Em sua experiência, com que frequência isso é feito e com que profundidade? Por que isso é importante?
3. Um ministro é encarregado pelos santos oráculos de Deus e pela conquista da alma das pessoas para uma vida de santidade. Essa confiança nele colocada pode ser cumprida se o ministro não priorizar sua própria santidade pessoal? Que fruto podemos esperar de um pastor ímpio?
O dever de confessar o pecado ministerial
Consideramos ser nosso dever publicar esta declaração reconhecendo as corrupções e pecados dos pastores. Isso é necessário para mostrar o quanto é profunda a nossa responsabilidade nas transgressões da terra. Os ministros da Escócia tiveram uma participação considerável em trazer julgamentos sobre a terra.
Estamos cientes de que zombadores de todos os tipos podem abusar deste reconhecimento de pecados para fortalecer seus preconceitos contra os ministros e sua obra. Outros podem interpretar mal nossa intenção como se pretendêssemos tornar os ministros desta igreja desprezíveis. Isso está longe de nossos pensamentos.
Sabemos e estamos persuadidos de que há muitos ministros capazes, piedosos e fiéis na terra. No entanto, estamos convencidos de que somos chamados a nos humilhar e justificar o Senhor em todo o desprezo que ele derramou sobre nós. Assim, aqueles que conhecem nossos pecados não tropeçarão em nossos julgamentos.
Há alguns pecados detalhados aqui, dos quais apenas alguns são culpados. Há outros dos quais mais pessoas são