Ao Coração da Missão

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PORTUGUÊS

APRESENTAÇÃO

Este material é uma ajuda para viver unidos como Rede Mundial de Oração do Papa, um caminho para o Coração de nossa missão, que é a pessoa de Jesus.

Apoiados pela experiência espiritual de Santa Margarida Maria Alacoque e São Cláudio de La Colombiere expressa em suas memórias, e orientados pela Carta Encíclica Dilexit Nos, percorremos novamente juntos O Caminho do Coração como uma verdadeira peregrinação para a fonte de nossa esperança.

Cada etapa deste itinerário espiritual em nove passos, ao qual se adiciona uma estação inicial e um momento de colheita, busca “mobilizar-nos” contra a globalização da indiferença.

Podemos percorrê-lo de um modo pessoal ou, como originalmente planejado, para vivê-lo de forma comunitária, seja aos pés da Via Crucis num templo, seja pelas ruas da cidade, em dias ou encontros diferentes ou vivido como um autêntico Via Cordis em nossos centros e grupos.

Unimo -nos de todos os cantos do mundo em um só Coração como verdadeiros peregrinos da esperança para encerrar neste Ano Jubilar da Igreja, a comemoração dos 350 anos das aparições do Sagrado Coração de Jesus.

DISPONIBILIZAR-ME

Iniciamos O Caminho do Coração dispondo -nos a deixar que o Senhor nos encontre ao longo deste caminho. Ele hoje quer fazer-nos sentir a Sua presença, o Seu amor e o Seu chamamento a viver segundo o estilo do Seu Coração. Os chamamentos configuram-se na qualidade das respostas que lhes damos. Hoje, é uma nova oportunidade para responder neste encontro com o Senhor.

Não vamos sozinhos, mas com Ele e em comunidade.

O que significa dispormo -nos? É antes de tudo uma atitude interior. Uma disposição interior para acolher os sentimentos de Jesus e forjar em nós o Seu estilo de vida. É o resultado de uma relação íntima e pessoal com Ele, cultivada pela meditação da Sua Palavra e a prática da releitura espiritual, os sacramentos e a vida comunitária.

Deixamos ressoar no nosso coração estas palavras ditas pelo Senhor a Santa Margarida Maria: “Então pediu-me o meu coração, que supliquei que tomasse, o que fez, e colocou dentro do seu próprio coração” (cf. Memórias, 53). Assim, tal como com amor o Senhor revelou-se-lhe e ela acolheu o Seu chamamento, hoje, Ele quer comunicar-Se contigo.

Pensa que Deus está presente e te diz isto: “Apesar de tudo isso, levarei Israel ao deserto, e ali, com muito carinho, farei que volte a se apaixonar por mim. Devolverei as suas vinhas, e

transformarei a sua desgraça em grande bênção. Voltará a responder-me como quando era jovem, como quando saiu do Egito. Israel, Israel, eu voltarei a casar-me contigo e serás minha esposa para sempre. Quando fores minha esposa, realmente chegarás a conhecer-me; serei para ti um esposo fiel, sincero e cheio de amor” (Os 2, 16-17.20-22).

De que te fala o Senhor neste momento? Há coisas na tua vida pelas quais precisas que o Senhor te conquiste novamente? Sente no coração que o Senhor deseja conquistar-te, amar-te, desposar-te para sempre...

Lembra-te! O Senhor tomará de ti o que Lhe ofereceres para a transformação e não fará nada sem o teu consentimento. Dispõe-te a este percurso com ânimo e liberdade.

Deixemos que a nossa vida seja transformada pelo Coração do Senhor, que abre um caminho no nosso.

“O Coração de Cristo, que simboliza o centro pessoal de onde brota o seu amor por nós, é o núcleo vivo do primeiro anúncio.

Ali se encontra a origem da nossa fé, a fonte que mantém vivas as convicções cristãs.” (Dilexit Nos 32), e é onde este caminho começa e termina…

NO PRINCÍPIO, O AMOR

O Caminho do Coração no seu primeiro passo convida-nos a reconhecer quão amados somos. O amor é o fundamento da nossa vida, pedra sobre a qual se apoia o edifício da nossa existência, pois fomos criados por amor, para sermos amados e amar. “O amor consiste nisto: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o Seu Filho” (1 Jo 4,10).

“O Meu divino Coração está tão apaixonado de amor pelos homens…” (cf. Santa Margarida Maria Alacoque, Cartas e Escritos Espirituais, Primeira Grande Revelação, 27 de dezembro de 1673). Assim revelava o Senhor o Seu amor por todos numa das aparições neste lugar…

Cada um de nós pode tomar um tempo hoje para entrar no seu coração e perguntar-se: O que colocamos por trás da palavra Amor? O que significa na nossa vida concreta que somos amados? Onde e de que maneira percebemos o amor nas nossas vidas? O amor é uma experiência concreta em pessoas, circunstâncias, momentos, encontros…

O Amor é uma realidade sempre presente, não é algo circunstancial. Amor é a realidade de Deus, Amor que é comunhão, Amor que se nos revela em Jesus Cristo que nos amou até onde não se pode amar mais, até o extremo de dar a vida, de dá-la por amor, gratuitamente, sem pedir nada em troca.

O Papa Francisco lembra-nos que: “O lado trespassado é ao mesmo tempo a sede do amor, um amor que Deus declarou ao seu povo com tantas palavras diferentes que vale a pena recordar: «És precioso aos meus olhos, […] te estimo e te amo» (Is 43, 4). «Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria. Eis que Eu gravei a tua imagem na palma das minhas mãos» (Is 49, 15-16)” (DN 99).

O amor é essencialmente dar-se e doar-se. Uma força constantemente criadora que dá vida à nossa realidade a cada momento, em tantas pessoas, momentos, circunstâncias, detalhes concretos que diariamente nos são dados… O ar, o sol, os seres que amamos, a saúde pouca ou muita, o nosso corpo, as nossas capacidades… O Senhor ama-nos de maneira concreta, no que vivemos cada dia. Não é um amor genérico ou teórico, é encarnado no que vivemos diariamente. É um amor real e gratuito.

Reconhecê-lo, abre-nos, por um lado, a agradecer por tanto dom imerecido, e, por outro, a responder com amor por tanto amor recebido, amando outros e a nossa realidade concreta, doando -nos gratuitamente.

Podemos acolher este convite e perguntar-nos: Onde e como se me fez presente o amor de Deus hoje? Em que momentos me senti amado pelo Senhor através do que vivi? O que desejo agradecer e dar como resposta a tanto amor gratuito recebido d'Ele?

O CORAÇÃO HUMANO INQUIETO E NECESSITADO

Rir, chorar, entristecer-se, alegrar-se, sentir inquietação ou desassossego, esperança e júbilo... Evitar alguns encontros, ter vontade de avançar em algumas decisões, e sentir rejeição por alguns trabalhos, perceber o que me irrita e o que me desperta gratidão, amar e sentir desagrado. Todos já experimentamos algumas vezes esses movimentos no nosso coração.

Estou consciente dos movimentos interiores? Tomo tempo para reconhecer como está o meu coração? O que sinto? O que desejo?

O Caminho do Coração no Passo Dois, 'O coração humano inquieto e necessitado', convida-te a reconhecer o que move o teu coração, as forças que o habitam e te impulsionam a agir num sentido ou noutro. Acontece que os acontecimentos externos, tudo o que vivemos impacta no nosso mundo interior, impulsiona-nos a pensar, a fazer julgamentos, a sentir. E a partir desses movimentos interiores, agimos. A ira, o júbilo, a tristeza, a alegria e o desassossego não ficam apenas na nossa interioridade, mas movem os nossos atos.

Santa Margarida Maria dizia do Senhor: “Mostrou-me as maravilhas inexplicáveis do seu puro amor e até que excessos o havia levado a amar os homens, dos quais não recebia mais que ingratidão e desprezo” (cf. Cartas e Escritos Espirituais). Por isso, “despertar” o coração, reconhecer os sentimentos

que o habitam, ajuda-nos a reconhecer que forças nos movem e em que sentido.

Olhar o nosso coração é um exercício para nos encontrarmos com o Senhor e com o Seu olhar sobre nós. Ele mostra-nos a verdade do nosso coração tal como Ele a vê, iluminada pelo perdão e ardor da sua compaixão.

O Papa lembra-nos: “Bíblia diz que «a Palavra de Deus é viva, eficaz [...] e discerne os sentimentos e as intenções do coração» (Heb 4, 12). Deste modo, fala-nos de um núcleo, o coração, que se esconde por detrás de todas as aparências, e até mesmo de pensamentos superficiais que nos confundem.

Os discípulos de Emaús, na sua misteriosa caminhada com Cristo ressuscitado, viviam um momento de angústia, confusão, desespero, desilusão. Mas, para além disso e apesar de tudo, acontecia algo no seu íntimo: «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho?» (Lc 24, 32)” (DN 4).

O Passo Dois convida-nos a constatar a nossa fragilidade e aprender dos caminhos equivocados que tomamos, sabendo que o Amor tem sempre a última palavra.

A verdade sobre nós mesmos liberta, pois torna-nos transparentes diante do Senhor para quem não temos segredos. Sintoniza com o olhar que o Senhor tem sobre ti. Como o Senhor te vê? O que diz Ele sobre ti?

NUM

MUNDO SEM CORAÇÃO

Convido -te a fazer um exercício... Certamente nos últimos dias deves ter visto as notícias que chegam quase sem aviso ao teu telefone ou ao écran do teu computador pessoal. As redes sociais “bombardearam-te” com notícias, algumas dramáticas, atravessadas pela morte, o medo, a destruição, a fome e o conflito. Outras, no entanto, mais alegres e celebrativas, que mostram um rosto mais humanizador de pessoas que levam paz e amor, que constroem e colaboram. Todos somos testemunhas dessa tensão.

Podemos imaginar que, contemplando este mundo e a sua realidade de vida e morte, o Senhor dizia a Santa Margarida: “Recebo da maioria apenas ingratidão, através do desprezo, da irreverência”... “não sabes que utilizo os sujeitos mais fracos para confundir os fortes, que costumo mostrar o meu poder mais brilhantemente nos mais pequenos e pobres de espírito, para que não se atribuam nada a si mesmos?” (cf. (cf. Citação de São Cláudio La Colombière nos Escritos Espirituais).

Imaginemos Cristo na cruz... máxima expressão de amor que a humanidade já conheceu... o próprio Deus crucificado por amor a ti e a mim, por amor a todos. Diante desta cruz, convido -te a recordar as notícias das tuas redes sociais, umas e outras... contemplando -as com toda a sua atenção. O mundo mais próximo dos teus amigos e família e, o mais distante da tua vida concreta, os conflitos, a morte e a fome de outros lugares.

Contempla com todos os teus sentidos, a vista, a imaginação, o ouvido, com todo o teu coração o que se passa no mundo... e imagina que o Senhor na cruz contempla contigo... e te diz: “Aqui estou por ti e por todos; e por este mundo que sofre e geme dores de parto” (cf. Rm 8,19-25). É um mundo que amo e que espera a tua colaboração e a de todos os filhos do meu Pai, para que meu amor chegue a todos no meio das suas dores, até à definitiva manifestação do Reino... Deixa ressoar no teu coração estas palavras, como ditas para ti.

Iniciaste o Passo Três do Caminho do Coração, Num mundo sem coração, que te convida a contemplar o mundo na sua diversidade de realidades, descobrindo aquelas que te dão vida e as que são caminhos de destruição e morte. Podemos ser colaboradores da humanização do mundo ou cúmplices do sentido oposto. As nossas decisões impactam o mundo e nossa falta de decisão também. Como isso ressoa em mim? De que lado tomo posição? O Senhor conta com a tua colaboração para esta missão de humanização...

Oremos junto ao Papa por este mundo pedindo ao Senhor... “Que derrame os tesouros da sua luz e do seu amor, para que o nosso mundo, que sobrevive entre guerras, desequilíbrios socioeconómicos, consumismo e o uso anti-humano da tecnologia, recupere o que é mais importante e necessário: o coração.” (DN 31).

O PAI ENVIA O SEU FILHO PARA SALVAR

Assim relata São Cláudio a sua experiência de encontro com o Senhor: “Tu participas de todas as minhas tribulações, cuidas delas, conheces o segredo de transformá-las para meu bem, ouves-me com doçura quando te falo das minhas aflições, e nunca deixas de aliviá-las” (cfr. final da sua Reflexão cristã 39 intitulada «De São João, o amigo de Jesus Cristo», nos Escritos espirituais). Um encontro que transforma a vida para sempre.

A nossa vida é atravessada por encontros. Em cada dia encontramos pessoas no caminho, no trabalho, quando vamos à universidade, na família ou se participamos de alguma atividade paroquial. Alguns encontros são mais significativos que outros. Alguns deixam-nos marcas, impactam-nos, e outros, talvez, passem mais despercebidos.

O Quarto Passo do Caminho do Coração, O Pai envia o seu Filho para salvar, ajuda-nos a entrar na dinâmica do encontro com Cristo, a reconhecer na nossa vida aqueles momentos em que percebemos que o Senhor não nos deixa sozinhos no mundo desolado, mas faz-se próximo e caminha connosco no meio da nossa realidade.

“Isto se torna evidente quando vemos o modo como age. Está sempre à procura, sempre próximo, sempre aberto ao encontro. Contemplamos isto quando se detém a conversar com a Samaritana, junto do poço onde ela ia buscar água (cf. Jo 4, 5-7) (DN 35).

Este passo do itinerário convida-nos a reconhecer que o amor tem um rosto, é “alguém”. Jesus Cristo é o Amor encarnado de Deus, que está presente e atuante na vida de cada pessoa, em cada realidade deste mundo.

Diz-nos o Papa que: “Este Cristo com o seu coração trespassado e ardente é o mesmo Cristo que por amor nasceu em Belém, percorreu a Galileia curando, acariciando, derramando misericórdia, e amou-nos até ao fim, estendendo os braços na cruz. Por fim, é o mesmo que ressuscitou e vive gloriosamente no meio de nós.” (DN 51).

O encontro com Cristo transforma, cura, salva.

“Esse mesmo Jesus hoje espera que lhe dês a possibilidade de iluminar tua existência, de te levantar, de te encher com sua força…” (DN 38).

Podemos terminar com um momento de silêncio, para ressoar interiormente a seguinte pergunta: De que te vem o Senhor salvar, curar, neste tempo?

ELE CHAMA-NOS SEUS AMIGOS

São Cláudio de la Colombière fala-nos da sua experiência de amizade com Jesus: "[Jesus, Tu és] ... o meu único e verdadeiro amigo… encontro -Te sempre e em todos os lugares; nunca te afastas; e se me vejo obrigado a mudar o meu lugar de residência, nunca deixo de te encontrar onde vou. Nunca te cansas de me ouvir; nunca te cansas de me fazer o bem” (cf. “Ato de Confiança em Deus”, Escritos Espirituais). Deixo ressoar estas palavras num momento de silêncio…

Deus não quer fazer nada sem nós, é sempre connosco. Por isso, a primeira coisa que Jesus faz é chamar outros para estar com Ele no serviço da sua missão: “Enquanto caminhava junto ao mar da Galileia, viu a Simão e André, irmão de Simão, lançando uma rede no mar, porque eram pescadores. E Jesus lhes disse: Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens. E deixando imediatamente as redes, seguiram-no” (Mc 1, 16-17).

Jesus convida-nos a uma amizade para a missão do Reino do seu Pai, para que, fazendo nosso o Seu estilo, sejamos parte do seu projeto de salvação do mundo. “Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Chamo -vos meus amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que meu Pai me disse” (Jo 15, 15).

Como nos lembra o Papa Francisco: “O Evangelho diz que Jesus «veio para os seus» (Jo 1, 11). Os “seus” somos nós, pois

não nos trata como algo estranho. Considera-nos como propriedade sua, que guarda com cuidado, com afeto. Tratanos como seus. Isto não significa que sejamos seus escravos; Ele próprio o nega: «Não vos chamo servos» (Jo 15, 15). » (Jo 15,15). O que ele propõe é a pertença mútua dos amigos” (DN 34).

Sei por experiência que o Senhor tem sido fiel na minha história todos os dias, por isso também o será amanhã. O que depende de mim é determinar-me a segui-lo, aconteça o que acontecer, viver de acordo com seu estilo de vida, e ser seu amigo. Qualquer decisão está sempre sujeita à incerteza. No entanto, não há vida que cresça sem o risco de uma decisão.

Dou-me conta de que alimentar a amizade com Jesus é uma decisão que se nutre das pequenas opções que faço diariamente? É a minha vida quotidiana, as pequenas e grandes ocupações, o campo onde cultivo a minha amizade com Cristo, onde digo: «Sim, quero viver a minha vida com o teu estilo, decidindo as minhas coisas desde o como Tu o farias»?

Para encerrar este passo, façamos eco das palavras do Papa…“É indispensável sublinhar que nos relacionamos com a Pessoa de Cristo, através da amizade e da adoração, atraídos pelo amor representado na imagem do seu Coração.” (DN 49).

Num momento de silêncio, posso renovar meu compromisso de amizade com o Senhor…

HABITADOS POR CRISTO

Neste momento do caminho, deixo que as palavras de São Cláudio me interpelem sobre minha confiança no Senhor… Quão perto está meu coração do Coração do Senhor?... "Quanto a mim, meu Deus, estou tão convencido de que cuidas daqueles que esperam em Ti, e que nada nos pode faltar quando esperamos tudo de Ti, que resolvi viver doravante sem preocupação alguma e descarregar todas as minhas inquietações em Ti." (Ato de confiança em Deus, Escritos Espirituais)

Qual é o convite do Senhor? No excesso do seu amor por nós, Deus deseja habitar nos nossos corações. É a surpreendente promessa que Cristo fez aos seus amigos antes de morrer. Deus quer estabelecer a sua morada em cada um de nós. Como discípulo de Jesus, a parte que me cabe é permanecer Nele, o mais perto do seu Coração.

O Papa recorda-nos que “Embora nas Escrituras tenhamos a sua Palavra sempre viva e atual, por vezes Jesus fala interiormente e convoca-nos para nos conduzir ao melhor lugar. Esse lugar melhor é o seu próprio Coração. Ele chamanos para nos introduzir no lugar onde podemos recuperar a força e a paz: «Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos» (Mt 11, 28). Por isso, pede aos seus discípulos: «Permanecei em mim» (Jo 15, 4)” (DN 43)

Por isso, para estar o mais perto possível do seu Coração, é necessário meditar a sua palavra, vê-lo e ouvi-lo nos Evangelhos, morar em profunda comunhão com Ele, como o ramo e a videira, e nos deixar transformar por Ele. “Se alguém me ama, guardará minhas palavras e meu pai o amará e viremos a ele para fazer nossa morada nele” (Jo 14, 23), diz o Senhor no Evangelho de João.

Quanto tempo dedico em cada dia à oração para estar com Ele e meditar a sua Palavra?

E é que como diz o Papa: “entrando no Coração de Cristo, sentimo -nos amados por um coração humano, cheio de afetos e sentimentos como os nossos.” (DN 67).

O Espírito Santo ajuda-nos a discernir o que é realmente o Amor: o amor aos inimigos e o perdão das ofensas. Conduznos ao mais profundo do Coração de Jesus. É o seu intérprete.

Tomo um momento de silêncio para deixar que o meu coração sintonize com o Coração de Jesus, deixando que me fale, me faça sentir a sua presença… Que coisas estão a mover-se no meu coração?

Fecho este passo recolhendo uma palavra, um sentimento, ou um desejo…

DAMOS A VIDA JUNTO COM ELE

O que significa na minha vida concreta unir-me a Cristo, deixarme habitar pelo Senhor e permitir-lhe que faça morada em mim?

Unir a vida a Cristo deve nos levar a dar a vida pelos outros como Ele o fez. Responder a este amor que deseja atrair-nos para ele, conhecendo toda a altura, a largura e a profundidade na Eucaristia, conduz-nos a nos oferecermos a nós mesmos.

O Passo Sete é um convite a olhar a nossa disponibilidade. O Senhor convida-nos a dar-lhe o nosso sim generoso, como fez Maria de Nazaré. Não nos quer salvar, nem mudar o mundo, sem nós. Mesmo quando nos parece de pouco valor, oferecerlhe a nossa disponibilidade torna-se útil a outros porque o Pai associa essa oferta à vida e ao Coração do seu Filho, que se oferece por nós na cruz.

Assim expressava São Cláudio o seu desejo de se entregar e a sua disponibilidade ao Senhor… “Sagrado Coração de Jesus, ensina-me a esquecer-me perfeitamente de mim mesmo, pois esse é o único caminho pelo qual posso entrar em Ti. Já que tudo o que fizer doravante será Teu, procura que eu não faça nada que não seja digno de Ti ” (cfr. Oferenda ao Sagrado Coração de Jesus Cristo, Escritos Espirituais)

Este amor que transparece desde este coração “manso e humilde” de Jesus (cfr. Mt 11, 29), só pode ser entendido

seguindo o itinerário da sua vida até ao final. Jesus viveu a sua vida como uma oferta eucarística. A Sua última refeição retomou toda a sua vida oferecida e entregue por amor.

O Papa Francisco lembra-nos: “Quando São Paulo procurava as palavras certas para explicar a sua relação com Cristo, disse: «amou-me e a Si mesmo se entregou por mim» (Gl 2, 20). Esta era a sua maior convicção: saber-se amado. A entrega de Cristo na cruz subjugava- o, mas só fazia sentido porque havia algo ainda maior do que essa entrega: “Amou-me” (DN 46).

Até onde estou disposto a viver a vida plenamente e a entregála por amor? Qual é a medida do meu compromisso e do meu amor? Há algo pelo qual eu esteja disposto a dar a vida em troca? Tomamos um momento e deixamos que o Senhor fale ao Coração…

Viver a vida eucaristicamente é nos entregar-nos diariamente com abnegação, amor e alegria ao concreto que nos toca viver… Rezemos juntos mais uma vez a oração de oferecimento para encerrar este Passo Sete…

UMA MISSÃO DE COMPAIXÃO

Entrar no itinerário humano do Senhor, contemplar a sua vida, deve levar-nos a olhar o mundo com os seus olhos e agir com os seus sentimentos. É um convite concreto para participar da missão de Cristo, adotando o olhar compassivo do Senhor para com todos os nossos irmãos e irmãs. Somos enviados com o Filho, de maneiras diversas, às periferias da existência humana, onde homens e mulheres sofrem injustiça, para contribuir para sustentar e curar os que têm o coração dilacerado.

Qual é o convite que o Senhor te faz neste tempo para colaborar na sua missão?

Deixa que as palavras dirigidas pelo Senhor a São Cláudio ressoem no teu coração… "Quanto a ti, fiel servo de meu divino Filho, tens uma grande participação neste tesouro precioso; pois se é dado às Filhas da Visitação conhecê-lo e distribuí-lo a outros, aos Padres da tua Companhia é reservada a tarefa de dar a conhecer e fazer compreender sua utilidade e valor, para que as pessoas possam beneficiar-se dele, recebendo - o com o respeito e a gratidão que se devem a um benefício tão grande.” (cfr. Carta de Santa Margarida Maria Alacoque LXXXIX à Madre de Saumaise em Dijon, julho de 1688, em suas Obras completas)

O Papa lembra-nos em Dilexit Nos que “não atingimos a nossa plena humanidade se não saímos de nós mesmos, tal como

não nos tornamos inteiramente nós mesmos se não amamos. Portanto, o centro mais íntimo da nossa pessoa, criado para o amor, só realizará o projeto de Deus enquanto amar. Assim, o símbolo do coração simboliza ao mesmo tempo o amor.” (DN 59).

Hoje o Senhor diz-nos novamente… Tenham entre vós os mesmos sentimentos do Coração de Jesus (cfr. Fl 2,5).

Ouçamos o Papa dizer… “O amor aos irmãos não se fabrica, não é fruto do nosso esforço natural, mas exige uma transformação do nosso coração egoísta. Nasce então espontaneamente a célebre súplica: “Jesus, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso”. Por isso mesmo, o convite de São Paulo não era: “Esforçai-vos por fazer boas obras”. O seu convite era mais precisamente: «Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus» (Fl 2, 5)” (DN 168).

Terminemos deixando espaço para ressoarem estas perguntas: Quais são os corações feridos a que o Senhor me envia para curar hoje? Quem são os jogados à beira do caminho que posso recolher e sanar?

UMA REDE DE ORAÇÃO E SERVIÇO

Ouçamos as palavras do Papa para iniciar esta última etapa do caminho… “Junto a Cristo, sobre as ruínas que, com o nosso pecado, deixámos neste mundo, somos chamados a construir uma nova civilização do amor. Isto é reparar conforme o que o Coração de Cristo espera de nós. No meio do desastre deixado pelo mal, o Coração de Cristo quis precisar da nossa colaboração para reconstruir a bondade e a beleza.” (DN 182).

Somos enviados a construir, a criar pontes, a fazer do mundo um lugar mais humano e mais fraterno onde haja lugar para todos. Mas não de qualquer modo, à maneira de Jesus, como Ele o fez…

Francisco continua dizendo: “Isto convida-nos agora a procurar aprofundar a dimensão comunitária, social e missionária de toda a autêntica devoção ao Coração de Cristo.

Com efeito, o Coração de Cristo, ao mesmo tempo que nos conduz ao Pai, envia-nos aos irmãos. Nos frutos de serviço, fraternidade e missão que o Coração de Cristo produz através de nós, cumpre-se a vontade do Pai. Assim se fecha o círculo: «Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto» (Jo 15, 8).” (DN 163).

Com a Rede Mundial de Oração do Papa, entramos numa rede global de milhões de irmãos e irmãs que rezam e se mobilizam a cada mês pelos desafios da humanidade e da missão da Igreja. As intenções de oração do Santo Padre abrem o nosso

coração às necessidades mais urgentes e levam-nos a comprometer as nossas vidas pela justiça do Reino.

Como vives a dimensão comunitária desta missão de compaixão? Que valor tem para ti a comunidade e como concretizas essa valorização na tua vida quotidiana?

No final deste caminho, ajuda-nos recordar o vivido nos primeiros passos... Não pregamos uma doutrina, mas uma pessoa, a experiência humanizadora de entrar em contato com Jesus Cristo. Somos enviados a irradiar uma “qualidade de vida evangélica” que coloque os irmãos em contato com a força humanizadora de Jesus, que os reconstrói e os leva à Vida.

Vão estas palavras de São Cláudio como recomendações para o caminho que recomenças hoje no final deste percurso… “As principais virtudes que se professam honrar neste Coração são: em primeiro lugar, um amor ardentíssimo a Deus Pai… Em segundo lugar, uma paciência infinita diante do mal... Em terceiro lugar, uma compaixão muito sensível pelas nossas misérias e um amor imenso…” (cfr. Oferenda ao Sagrado Coração de Jesus Cristo, Escritos Espirituais)

Traz ao teu coração aqueles que fazem parte desta imensa Rede de Oração e pede por eles ao Coração de Cristo estas graças: Amor ardente ao Pai, paciência infinita diante do mal, compaixão diante das misérias…

COLHEITA

Tomemos agora um momento para recolher as graças deste caminho e agradecer ao Senhor por esta oportunidade de viver mais uma vez O Caminho ao Seu Coração…

O que desejo agradecer? O que deixa no meu coração este caminho percorrido com o Senhor e em comunidade?

Tomo um momento de silêncio… recolho uma palavra, uma frase, uma imagem que tenha aparecido com força neste caminho e que me fale da presença do Senhor…

O Papa diz-nos: “Sabemos que, ao longo da história, o culto ao Coração de Cristo não se manifestou de modo igual, e que os aspetos desenvolvidos nos tempos modernos, relacionados com diversas experiências espirituais, não podem ser extrapolados para as formas medievais e muito menos para as formas bíblicas, nas quais podemos vislumbrar as sementes deste culto.

No entanto, hoje a Igreja não despreza nenhum dos bens que o Espírito Santo nos deu ao longo dos séculos, sabendo que será sempre possível reconhecer em certos pormenores da devoção um sentido mais claro e pleno, ou compreender e desvendar novos aspetos dela” (DN 109).

Façamos nossas as palavras de São Cláudio que o Papa nos lembra em Dilexit Nos, rezando -as lentamente para fechar este caminho:

«Meu Deus, estou tão convencido que velais sobre aqueles que em Vós confiam, e que nada pode faltar a quem de Vós tudo espera, que resolvi viver o futuro sem preocupação alguma, e descarregar sobre Vós todas as minhas preocupações” (DN 126).

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