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Plataforma da lusofonia ou embaixada cultural lusófona

Plataforma da lusofonia ou embaixada cultural lusófona

Florentino Cardoso

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A Plataforma das Artes e da Criatividade é um projeto infraestrutural que consistiu na transformação do antigo Mercado Municipal de Guimarães num espaço multifuncional, dedicado à atividade artística, cultural e económico-social. Foi inaugurado no dia 24 de Junho de 2012 e constituiu a obra mais emblemática da Capital Europeia da Cultura. Dispõe de 11.000 metros quadrados de área coberta e custou 17,6 milhões de euros. Aloja uma série de valências e espaços dedicados a três grandes áreas programáticas: o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG); os Ateliers Emergentes e os Laboratórios Criativos. A valência mais importante é o CIAJG, que é composto por 13 salas de exposição, uma loja, uma cafetaria, uma sala de conferências com capacidade para 80/pax em plateia e uma «black box» com capacidade para 198/pax. Assume-se como um espaço com variadas possibilidades de utilização, tais como exposições, conferências, reuniões de trabalho, acções de formação, lançamentos de produtos, espectáculos, congressos, etc.

Segundo notícias veiculadas em vários jornais da época, o anterior Presidente da Câmara, Dr. António Magalhães, no contexto do acto de inauguração referiu que a Plataforma das Artes era «o simbolo do que Guimarães foi, é e quer ser». Procurei descobrir nas notícias respigadas sobre esse evento qual seria o sentido e alcance desta frase lapidar para o seu autor, mas não os encontrei. Todavia, o sentido puramente literal da frase permite-me concluir que se alvitrava para o equipamento um uso que revelasse Guimarães no passado, no presente e no futuro. Mais recentemente, o Dr. António Mota Prego na sua habitual crónica no Comércio de Guimarães, escreveu que a Plataforma das Artes foi «idealizada como polo dedicado às artes plásticas e seu entorno, tendencialmente

vocacionada para (...) atrair visitantes da região e para além dela..». No entanto, reconheceu que «a programação e actividade da Plataforma das Artes, bem como a do CIAJG, não alcançaram os fins previstos, como é referido na recente decisão municipal, noticiada neste Jornal na sua edição de 12 de Setembro». Referiu ainda que, na aludida reunião, a Câmara Municipal terá manifestado a intenção de «até final do ano em curso, promover a criação de um grupo de reflexão destinado à gestação de ideias susceptíveis de tornar a Plataforma das Artes suficientemente atractiva para que, continuando como entidade cultural vocacionada para a contemporaneidade, passe a ser suficientemente atractiva para cativar número de visitantes e usuários capaz de lhe dar a vida e animação que, ao ser criada, se projectou serem as suas». E no final formulou a seguinte consideração:«bem andou a Câmara Municipal ao decidir a promoção do “grupo de reflexão”, pois a Plataforma das Artes, tal como foi idealizada – falo com total e directo conhecimento de causa – está muito longe daquilo para que o foi…». Não sei se essa ideia de criação do tal grupo de reflexão avançou ou em que fase está o seu processo de formação. De facto, se já era premente em 2018 a necessidade de procurar uma solução capaz de lhe dar vida e animação, parece-me que agora, após a pandemia COVID-19, Guimarães tem de descobrir, urgentemente, um destino para este ícone da Capital Europeia da Cultura, que não desmereça o avultado investimento que representou, nem os elevados custos de manutenção com que tem sobrecarregado o orçamento municipal! Em minha modesta opinião, o destino deste equipamento deveria ser associado ao mais sublime valor da nossa identidade cultural que é a Língua Portuguesa, para assim revelar, pela forma mais elevada, o passado, o presente e o futuro de Guimarães, ou seja, a meta que lhe terá sido preconizada nas palavras do exPresidente.

Como se sabe, a cidade de Guimarães é membro efectivo da UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa). Esta associação foi criada em 28 de Junho de 1985, cumprindo um sonho do então Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Nuno Krus Abecasis, que, com essa iniciativa quis preparar o terreno para implementar o intercâmbio de experiências e cooperação entre as cidades-membro, em ordem ao desenvolvimento e bem-estar das suas populações. As ações de intercâmbio e cooperação têm sido desenvolvidas no âmbito da prevenção, saúde, educação, cultura, infra-estruturas, saneamento, ambiente, património, formação empresarial, autárquica e institucional. A UCCLA foi a primeira instituição de parceria público-privada votada à cooperação para o desenvolvimento no seio da lusofonia e precursora da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa). É constituída por 23 membros efectivos, a saber:

Para além dos 23 membros efectivos, fazem parte da UCCLA mais 28 membros associados (cidades), 32 membros apoiantes (instituições e empresas) e 6 membros observadores (cidades), o que perfaz um total de 88 membros, composto de cidades e instituições. Dentro deste enquadramento, entendo que a Plataforma poderia transformar-se numa EMBAIXADA CULTURAL LUSÓFONA, para funcionar com duas áreas diferenciadas, mas complementares. Uma vocacionada para a exposição de peças de arte, como pintura, escultura, cerâmica, objetos de artesanato e etnográficos, etc., que seria o espaço coberto; e outra destinada à demonstração de aspectos da vida real (passada ou presente), ou seja, espetáculos musicais, teatrais, etnográficos, ou outros que manifestassem o modo de sentir e de viver dos povos das cidades-membro da UCCLA ou dos 9 estados independentes CPLP, que seria o espaço exterior. A Plataforma seria uma espécie de Feira Cultural permanente, onde as cidades-membro e os países de língua oficial portuguesa promoveriam a sua cultura na Europa, em condições protocolares, logísticas e económicas a estudar e a definir. Dito de outro modo, a Plataforma tornar-se-ia um espaço destinado a exibir a multiculturalidade dos diversos povos das cidades e países lusófonos e conquistaria o interesse turístico que lhe tem faltado até ao momento. Não foi por acaso que usei a designação de embaixada, pois o que sugiro é que a Plataforma se transforme num espaço anfitrião das mais variadas representações culturais das cidades e países de Língua Oficial Portuguesa, com uma intensidade tal que provoque nos povos lusófonos a sensação de que se trata de território nacional em solo estrangeiro.

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