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Guimarães 2012: Quatro tempos, bons momentos

Guimarães 2012: Quatro tempos, bons momentos2

Equipa redatorial

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A 21 de Janeiro de 2012, Guimarães arrancaria com a programação da Capital Europeia da Cultura 2012, que partilharia com a cidade eslovena de Maribor.

E seria um arranque em cheio… Vamos recordar esta história da cidade que sempre fez História, recorrendo a quatro tempos, centrados em alguns momentos marcantes, entre os inúmeros eventos que constituíram a programação e as realizações efetivas.

1 - TEMPO DE ENCONTRAR (21 de janeiro a 23 de março)

De facto, o primeiro tempo foi de encontro e ocorreu na tarde de 21 de janeiro, no Pavilhão Multiusos de Guimarães, numa cerimónia que contou com a presença de representantes do Governo, do Estado e da União Europeia. De facto, estiveram entre nós o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, o PrimeiroMinistro Passos Coelho e o Presidente da Comunidade Europeia Durão Barroso, entre várias outras figuras políticas e culturais do país, que usariam da palavra no decurso da sessão, bem como as autoridades locais e organizativas da iniciativa, entre os quais o presidente da Câmara Municipal de Guimarães, António Magalhães, a Vereadora da Cultura, Francisca Abreu, e o Presidente da Fundação Cidade de Guimarães, João Serra. Uma cerimónia protocolar a que se seguiria um espetáculo de abertura conduzido pelo músico vimaranense Manuel de Oliveira que, centrado nos sons da lusofonia, assinalaria “Os nossos afetos” e contaria com a assistência de cerca de 4000 mil pessoas e transmissão televisiva. Foi, com efeito, um evento que contaria com os sons e vozes de Rão Kyao, da fadista Cristina Branco e do brasileiro Chico César, que seria ainda marcado pela exibição do grupo de canto, “Outra Voz”, e pela atuação da Fundação Orquestra Estúdio, sob a batuta do Maestro Rui Massena.

2 Esta série de 4 textos (Tempo de Encontrar, Tempo para Criar, Tempo para Sentir e Tempo para Renascer) segue a estrutura do livro “Um Ano de Capital Europeia da Cultura em Imagens” da Fundação Cidade de Guimarães, 2012. Como fonte de informação, servimo-nos também das várias edições do jornal “Povo de Guimarães”, publicadas no ano 2012.

Neste mesmo dia, à noite, a programação de rua irromperia ainda, no Largo do Toural, transformado em auditório, com cerca de 15 mil pessoas, que se empolgariam com o espetáculo “Berço de uma Nação”, numa conceção e direção artística do Centro de Criação para o Teatro e Artes de Rua (CCTAR). Uma noite espetacular com projeções multimédia e de vídeo mapping sobre a história da cidade, que contaria também com a performance dos catalães La Fura dels Baus, que numa encenação de encher o olho apresentariam um cavalo gigante representando Portugal e uma enorme figura humana simbolizando a Europa, que dariam um espetáculo de forte impacto visual, complementado genuinamente com a presença identitária dos 80 a 100 Nicolinos, ao som das suas caixas e bombos. Porém, a festa de abertura prosseguiria noite fora. De facto, uma “Primeira Noite” com DJ’s, exposições e música ao vivo, que duraria até à madrugada nas praças e bares da cidade. Um arranque que até ao final do mês contaria ainda com exibições de diversa índole ao longo da semana, designadamente a mostra de ilustrações de grandes dimensões, no âmbito Imagem da autoria de SAL do programa “Cartografia de Memória e do Quotidiano”, o “Laboratório de Criação para Jovens”, a atividade “Descobrir Guimarães” ou a “Pop up Cultura”, centrada na arte popular, e performances diversas no contexto da reciclagem de materiais, projetos digitais e laboratório têxtil e de arte. Paralelamente avançou o “Ciclo de Cinema Histórias de Guimarães”, no S. Mamede, as “Histórias do Princípio do mundo” com serões em casas rústicas, o “Festival de órgão Ibérico”, na Igreja dos Capuchos, com Gianpaolo Di Rosa e deu-se também início à dança com “A Nossa Bailarina”. Destacam-se ainda dois eventos na Toural - Espetáculo de Abertura da CEC 2012

semana de abertura: a iniciativa “Mi casa es tu casa”, idealizado por Fernando Alvim, que levou 60 músicos, entre os quais Luísa Sobral, Virgem Suta, Anaquim e Beste Youth, a tocar nas casas dos vimaranenses, e que culminaria com o espetáculo no S. Mamede, “A Capital somos nós”; e a atuação dos “Buraka Som Sistema” que tocariam temas antigos e do seu último trabalho “Kumba”. A imprensa da época, que esteve representada em Guimarães a nível nacional e internacional, sintetiza através de um trabalho do jornalista Samuel Silva, no Povo de Guimarães de fevereiro de 2012, intitulado “Início da Capital Europeia da cultura, teve impacto muito positivo na cidade”, a sua perceção inicial: “(…) O presidente da Associação Comercial e Industrial de Guimarães, Carlos Teixeira, classificou de extraordinário o impacto do dia de abertura e de muito bom o que aconteceu nos dias seguintes. A loja oficial da Guimarães 2012 aumentou a afluência dos primeiros dias do evento, passando de uma média de 100 visitantes para mais de 500. As consequências sentiram-se também nos museus (…) Os primeiros dias de Guimarães 2012 foram marcados por uma grande afluência de público. As salas de espetáculo vimaranenses registaram uma taxa de ocupação de 82% (…), um resultado que surpreendeu a própria organização, que esperava mais afluência de visitas apenas a partir de Março. As respostas dos vimaranenses e dos visitantes superou o que os mais otimistas poderiam esperar – considera o Presidente da Fundação Cidade de Guimarães, João Serra.”

DA DANÇA AO TEDX VIMARANES

O mês de fevereiro foi sobretudo dedicado à dança, com vários espetáculos realizados no Centro Cultural Vila Flor, no Centro para os Assuntos de Arte e Arquitetura (CAAA) e Fábrica ASA. Deste modo ocorreu o apoio às novas produções da coreógrafa vimaranense, Rafaela Salvador, “Identidade” e “Ballet Story”, esta última produção com a envolvência da Fundação Orquestra Estúdio.

Porém a dança preencheu significativamente a programação de fevereiro com “Dancing with the sound Hobbiyeste”, uma viagem cosmopolita ao universo musical de Zita Swoon, e a estreia mundial “Au-Delá”, produções a que se juntariam “Um gesto não passa de ameaça” de Sofia Dias e Vítor Roriz e, no decurso da semana seguinte, a encerrar a 2ª. edição Guidance, as coreografias “Islands of Memory” de Kario Ito e “For Rent” da companhia Peeping Ton.

Mas houve também teatro no Espaço Oficina, um ciclo de cinema de animação no S. Mamede e “Cruzamentos e Encenações” de arquitetura e montagem na Fábrica ASA, enquanto na música sobressaíram as atuações da Fundação Orquestra Estúdio com Pedro Burmester e Francesco La Veccha, bem como “Periplus

& Outra Voz”, no Centro Cultural Vila Flor.

Outrossim, a residência artística “A Viagem”, no Espaço Grupo Folclórico da Corredoura, e a inauguração do “Laboratório de Curadoria”, na Fábrica ASA. Concomitantemente, a conferência TEDX Vimaranes (acrónimo de Technology Entertainment e Design, criado nos EUA em 1984) terá sido porventura uma outra iniciativa interessante deste mês de fevereiro.

De facto, no âmbito do movimento TEDx, sob a égide temática “Ser Minho”, as suas origens e desafios do presente, pretendia-se promover um ponto de encontro para a partilha de ideias capazes de transformarem o presente. Uma iniciativa na qual participaram vários oradores, que abordaram áreas temáticas como Empreendedorismo, Inovação e Tecnologia, Educação, Arte e Cultura e ser Solidário Sorridente. Paralelamente houve ainda momentos lúdicos como a Batalha de Almofadas, que durante cerca de vinte minutos permitiu descarregar o stress de cerca de 5 mil participantes e encher o Toural de muitas penas e espuma, a antestreia nacional do filme em 3D de Martin Scorcese “A Invenção de Hugo” e o primeiro concerto de música clássica da Fundação Orquestra Estúdio conduzido pelo maestro italiano Francesco La Vecchia que contou com a companhia do pianista português Pedro Burmester e a abertura intitulada “Um verso para lá do horizonte”, uma encomenda feita a Fernando Lapa, em estreia mundial. Ademais, realizar-se-ia o 2º. Concerto de Órgão Ibérico com Daniel Ribeiro e um ciclo de cinema de animação Imagem retirada do livro “Um Ano de Capital Europeia da Cultura em Imagens”, Guimarães 2012, p.29 no S. Mamede.

INAUGURAÇÃO DO LABORATÓRIO DE CURADORIA E INSTITUTO DE DESIGN

Março ficou marcado pela inauguração de duas infraestruturas criativas: o Laboratório de Curadoria e o Instituo de Design na antiga fábrica de Curtumes da Ramada. O Laboratório da Curadoria abriria como um espaço de criatividade, inovação e arte, que ocuparia o

edifício industrial da antiga fábrica Asa, em Covas. Um espaço fundamentalmente concebido para albergar um auditório, uma Caixa Negra, um estúdio de rádio, livraria e áreas expositivas, que abriria ao público com a apresentação de coreografias da espanhola Olga Mesa, o projeto “Colleting, Colletions and Concepts” e a exposição “Ser Urbano” que retrataria o percurso do arquiteto Nuno Portas. Na altura seria ainda anunciado o resultado do concurso de ideias “Performance Architeature” que, entre cerca de 400 participantes, indicaria os cinco projetos vencedores. Por seu turno, o Instituto de Design seria uma outra das plataformas criativas que se integraria no plano de recuperação urbana, com o objetivo de proporcionar cruzamentos multidisciplinares entre cultura e tecnologia, cuja pretensão visaria contar com a envolvência de escolas, universidades e indústrias. Uma parceria entre a Universidade do Minho e a CEC 2012, no âmbito do projeto Campurbis com o objetivo de estimular a relação da cidade com o design e a criatividade, cujas instalações acolheriam, no mês de setembro, o novo curso universitário de Design de Produto e um polo de investigação associado. Efetivamente, uma infraestrutura que, logo na abertura, após a visita das instalações, propiciaria uma conferência subordinada ao tema, “Design para descobrir a cidade”, e mostraria serviço com a apresentação de três propostas concretas e com o lançamento de um concurso na área da intervenção urbana, denominado “Estruturas Urbanas”.

Mas o mês de março iniciou-se praticamente com o teatro, com a apresentação da “peça negra”, “A Morte de Danton”, de George Büchner, uma coprodução do Teatro D. Maria I e da Companhia Artistas Unidos, dirigida por Jorge Sila Melo. Encenação a que se seguiria “Cosmos” pelo Teatro Oficina, com base no texto de Lautaro Vilo. Mas o palco não seria apenas destinado à arte de Talma. Com efeito, março seria um mês recheado de eventos diversificados, que culminariam no “fim-de-semana louco”, entre os dias 9 e 11, com cerca de 20 eventos ativos no terreno.

Deste modo, a dança subiria ao palco com “A Viagem” e “O Lamento da Branca de Neve” e, mais tarde, “Piracema”, da brasileira Lia Rodrigues, enquanto o cinema propiciaria a estreia de um filme sobre Martins Sarmento, de João Campos, na sequência da exposição, “o Fotógrafo Martins Sarmento”, bem como a projeção de “Amor de Perdição”. Porém, terá sido plausivelmente na música que as propostas apresentadas tiveram parte de leão. De facto, para além do “Rock Metamorfose” e “Daniel Higgs”, o criador místico norte-americano, “Ride”, no S. Mamede, e o génio criativo do cantor e guitarrista Thuston Moore, no auditório do CCVF, as atuações

musicais estender-se-iam ainda às bandas “Sensible Soccers “e a banda “Paperctz”, no Café Concerto, bem como se realizaria um outro concerto de Órgão Ibérico com Eric Dalet, organista de Marselha. Igualmente, exibir-se-ia ainda a Fundação Orquestra Estúdio, que acompanhada pelo compositor belga Win Mertens executaria a 1ª edição da obra “Europa”, encomendada pela CEC. Ato contínuo, a Fundação Orquestra Estúdio iniciaria a série “Master Pieces”, que daria a conhecer as obras mais representativas da história da música. Paralelamente decorreria ainda a exposição centrada em John Cage, conhecido pela sua música aleatória e eletroacústica, que seria complementado com uma conferência da co-comissária Júlia Robinson e uma performance, pela pianista Margaret Tan. No fundo, um conjunto de sessões de vária índole, com predominância na vertente musical, que dificilmente se poderão enumerar na totalidade. Iniciativas às quais não faltaram sequer os espetáculos de rua como “Tempo para Criar” e “20x20x20”, e tão-pouco atividades de âmbito desportivo, que também marcariam presença com a colaboração da Tempo Livre. Efetivamente, após a iniciativa “Faltam 200 dias”, anteriormente encetada, que passou pela formação humana do logótipo da CEC, no Castelo, levada a cabo pelas crianças das escolas concelhias, cerca de 1900 pessoas nadaram na piscina 2012 minutos,

Imagem retirada do livro Um Ano de Capital Europeia da Cultura a assinalar a CEC 2012. em Imagens, p.76

Assim, de acordo com a edição de 23 de março do semanário Povo de Guimarães, tudo rolaria sobre rodas. De tal forma que “a Fundação Cidade de Guimarães está muito satisfeita com os resultados dos primeiros dois meses de Guimarães 2012” e Carlos Teixeira, presidente da Associação Comercial e Industrial de Guimarães, corroboraria, acrescentando que “a CEC representou um impacto muito positivo para a cidade”, que, segundo a sua opinião, além da renovação urbana do centro urbano, tornando-o mais atrativo e convidativo para residentes e turistas, movimentou o espaço citadino com os espetáculos de rua, em especial o evento “Noc-noc/ Mi casa es tu casa”.

Março, seria, porém, um período de transição entre o tempo para encontro e o tempo para criar, que iniciaria um novo ciclo …

2 - TEMPO PARA CRIAR (24 de março a 23 de junho)

O REGRESSO DOS FURA DELS BAUS

A Primavera, época de novas criações, despontaria como um tempo de criatividade, após o encontro. E a abrir este novo capítulo, numa espécie de reencontro, regressariam La Fura dels Baus e o Centro de Criação para o Teatro e Artes de Rua (CCTAR) com mais um espetáculo de rua, acompanhados por Clara Andermatt, o Grupo Folclórico da Casa do Povo de Serzedelo e os Macadame. Um espetáculo de rua que atrairia cerca de 60 mil espetadores, cheio de momentos visuais intensos, como a descida deslizante da figura de um “anjo” sobre a muralha “Aqui Nasceu Portugal”, ou a da parada representativa do nascimento. Atos demonstrativos da capacidade do ser humano em enfrentar a vida e mostrar-se ao mundo, que os cubos cheios de água simbolizariam, e a roda gigante que a seguir rodaria indiciaria um futuro para andar … Porém, um espetáculo que culminaria ainda com cantarolas e danças, criando um ambiente mais interativo e familiar e que, paralelamente, teria alternativas musicais no Instituto de Design com a música eletrónica dos 20x20x20 e música mais clássica no Paço dos Duques, com a Orquestra Académica da Universidade do Minho.

No entanto, este período fica ainda marcado por dois acon- Imagem - SAL tecimentos paralelos: um de protesto ao varandim da artista Ana Jotta, no Toural, que chegaria a motivar uma petição; e a notícia do eventual encerramento da Pousada

da Oliveira, precisamente num ano de aumento de procura turística em Guimarães. Porém, a programação da CEC prosseguiria com eventos para todos os gostos e grupos etários. Na música, com a apresentação da peça “Pedro e O Lobo” por parte da Fundação Orquestra Estúdio e a estreia da Orquestra Metropolitana de Lisboa, no âmbito do ciclo “Orquestras Convidadas”, sessões musicais a que se juntaria a Orquestra do Norte, bem como a receção e regresso a Guimarães de Taylot McFerrin.

No cinema, de ressaltar a presença de Manoel de Oliveira e a projeção do seu filme “Amor de Perdição”, no contexto do ciclo de homenagem a Camilo Castelo Branco e à celebração do seu 150º aniversário. Recorde-se que o conceituado realizador português foi uma das referências do projeto “Histórias do Cinema” que, entre outras iniciativas, pretendia levar a cabo várias curtas metragens sobre Guimarães e a CEC, envolvendo consagrados cineastas internacionais. Ainda no cinema, seria de distinguir o reencontro com Novais Teixeira, jornalista e crítico, através do trabalho de Margarida Gil, “O Fantasma de Novais”, uma criação que cruza ficção e documentário e que revela esta figura ilustre da “pátria vimaranense”. Cinema que teria ainda outras apresentações como a “Festa do Cinema Italiano”, “O Dia das Lágrimas”, o Guimanima, entre outras, bem como o documentário de Regina Guimarães sobre a Senhora da Luz, integrado no “Ciclo de Histórias de Guimarães”, que interroga as formas do namoro no contexto da cidade. Neste âmbito é também de referir a produção do documentário de João Canijo sobre Raul Brandão que, segundo o realizador, mostrou “uma Nespereira quase sem ligação ao passado, tanto em termos de desenvolvimento como de memória”. Por sua vez, na criação artística destaca-se o “PopUp”, projeto de ocupação de espaços devolutos de Guimarães 2012, designadamente com as iniciativas “(Re)ocupa” e “Vem ocupar o mercado”, bem como o projeto dos Foostbarn, “O Castelo em três atos”, que, assente na metáfora do assalto ao castelo, assaltariam o monumento entre abril e setembro, permitindo discorrer sobre a identidade da cidade e a forma de a pôr em causa. Uma reflexão que pretendeu estabelecer uma ponte entre o passado do ícone e símbolo da identidade de Guimarães com a criação contemporânea e que passaria também por duas conferências sobre “O futuro da Europa” e “O Futuro do Mundo numa Europa sem Futuro”.

Como é óbvio, o teatro subiria também ao palco com “Histórias do Bosque de Viena”, enquanto na rua, fora da caixa e à margem, o Bando do Gil, Osmusiké e o Gruten recordariam o Dia Mundial do Teatro, homenageando Gil Vicente e Santos Simões, provavelmente esquecidos pelo programa oficial. Entretanto, no contexto da relação simbiótica entre a dança e o teatro são também de sobrelevar dois eventos: a criação e coreografia de Rui Horta “Danza Preparata”, que assinalaria o centenário do nascimento

do músico contemporâneo John Cage; e “La Famiglia”, uma criação da companhia “Máquina Agradável” que pretendia acabar com os limites entre público e artistas, de forma a o espetador fazer parte do espetáculo. No entanto, nesta fase rebenta também a polémica no âmbito do projeto “Tempos Cruzados”, direcionado para as associações. Com efeito, a Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense (ASMAV) manifestaria, na altura, a sua indignação pelo facto de estar a participar numa iniciativa sem recursos financeiros, ao que consta devido a complicações ocorridas com os concursos comunitários de apoio. Tal situação leva a Fundação Cidade de Guimarães a equacionar o adiamento de dezenas de iniciativas para o ano seguinte, pondo em causa, entre outros, eventos como a recriação histórica “Citânia Viva, o projeto “Ilustrar Guimarães”, o “Festival DifereciArte” da CERCIGUI. Uma situação que, simultaneamente com os cortes no orçamento do Turismo de Portugal, levaria a organização da CEC 2012 a recorrer à Banca para manter projetos em andamento.

Todavia, pela positiva, é de destacar o projeto “Fora de Portas”, que descentralizaria e levaria aos Banhos Velhos das Caldas das Taipas, sob direção de Ricardo Costa, eventos musicais e tertúlias temáticas como a que tinha como tema, “Do património mundial ao património local”. Paralelamente, é de salientar ainda, após a cunhagem de moedas sobre a CEC 2012, o facto de a filatelia acompanhar a numismática nas edições comemorativas, concretamente com a emissão de selos comemorativos sobre a CEC 2012. Destarte, neste período, os CTT colocariam em circulação uma coleção de selos alusivos à CEC que, além do logótipo criado por João Campos, juntariam imagens icónicas e míticas da cidadeberço, concedendo-lhe visibilidade internacional.

DO CONCERTO EXPENSIVE SOUL – SYNPHONIC À ORQUESTRA SUB 21

Numa incursão pelo soul-pop, o cruzamento entre a banda Expensive Soul e a Fundação Orquestra Estúdio, ao qual se juntaria um coro de 100 vozes vimaranenses, seria um dos espetáculos musicais mais conseguidos, que lotaria o Multiusos e reuniria cerca de 6 mil espetadores. Uma atuação com versões inéditas e arranjos desconcertantes que, ao longo das 13 canções interpretadas, entre as quais “Tem calma contigo”, galvanizariam a audiência, cuja agitação seria exponencialmente potenciada com a entrada das caixas e bombos nicolinos. Um outro projeto catalisador seria ainda a constituição da Orquestra Sub-21, dirigida por Vítor Matos,

centrado num protocolo com a Academia de Música Valentim Moreira de Sá, hoje denominada “Conservatório de Guimarães”, que visou proporcionar aos jovens a oportunidade de um trabalho semiprofissional. Porém, relevante no âmbito da música seria ainda a atuação do grupo vimaranense “Outra Voz”, no Centro Cultural de Belém, no âmbito da iniciativa “Outra Voz na Capital”. Muitos outros espetáculos ocorreriam ainda ao longo deste Tempo para Criar. Assim, no teatro, o encenador Nuno Cardoso apresentaria “Medida por medida” que, partindo de um texto clássico shakespeariano, refletiria sobre o que foi feito com o dinheiro da Europa.

OS FESTIVAIS GIL VICENTE

Entre 6 e 16 de junho, a CEC 2012 coincidiu com os 25 anos dos Festivais Gil Vicente e envolveu cinco estreias absolutas, entre as quais “As Barcas”, de João Garcia Miguel, que, inspirado nas peças vicentinas, glosaria o tema da viagem. Aliás, Gil Vicente e o parvo da peça “Auto da Barca do Inferno” seria também a partitura cénica “Joana”, que a companhia galega Voadora apresentaria, repleta de poesia, ironia e nonsense, conciliando dança, monstros e música pop.

Imagem retirada do livro Um Ano de Capital Europeia da Cultura em Imagens, p. 178 Imagem (recorte) retirada do livro Um Ano de Capital Europeia da Cultura em Imagens, p. 106

Momentos criativos que passariam ainda por “Nióbio”, pelos Visões Úteis, que retrataria a geração de uma nova nação; ou a narrativa de falação do poema épico “Os Lusíadas” que, no âmbito dos 440 anos da obra e do Dia de Portugal, faria estreia absoluta na cidade. Uma maratona que juntaria em palco cerca de 100 vimaranenses, interpretando o canto X da obra que, ao longo de vários meses, foi trabalhada numa residência artística sob a alçada de António Fonseca. Porém, entre os grandes dramaturgos, o Teatro Praga apresentaria ainda “Sonho de uma noite de Verão”, baseado na obra de Shakespeare, enquanto o grupo Karnart estrearia

a sua recente criação de perfinst, “Ilhas Desconhecidas”, baseado na obra homónima de Raul Brandão.

Curiosamente, um evento cultural, que, neste tempo para criar coincidiria com a “Internacional Conference on color”, que reuniria em Guimarães vários especialistas nacionais e internacionais em torno da importância da cor na evolução da criação artística, em especial no contexto da criação na moda, uma iniciativa alusiva ao âmbito da Hometextil, a feira têxtil-lar europeia de Frankfurt. Porém, neste período, vários outros eventos se sucederiam nas mais diversas áreas, por vezes em lamentável sobreposição, como aconteceria nos concertos dos We Trust e Hype Willians. Música que traria também a palco a Orquestra Sinfónica Portuguesa, no âmbito do ciclo Orquestras Convidadas e vários outros intérpretes e grupos. De destacar ainda as inúmeras exposições apresentadas, nomeadamente no âmbito da arte e arquitetura, que trouxeram à cidade o francês Christian Boltanski e levaram ao regresso de Pedro Gadanho como comissário internacional de ideias do “Performance Architecture”, um projeto que desafiou os jovens artistas a invadir a cidade com criações urbanas. Vários espetáculos de dança e performances diversas ainda ocorreriam. Salientam-se entre estas a da companhia israelita Orto-Da, na Praça da Oliveira, sobre a paixão da vida e mitos heroicos, que numa análise do comportamento humano teve o cunho de contar histórias importantes da História da Humanidade; ou o produto da residência artística “1143 Portugal 2012” que abordaria a História de Portugal na sua visão política, social e económica, numa cruzada feita de stencil, graffit, fotografia e vídeo, cujo pendor provocatório e crítico pretendia desmontar certas perspetivas neoliberais. Igualmente um tempo de visitas, concretizado por alguns eurodeputados e pela Comissária Europeia, bem como por figuras nacionais como Marcelo Rebelo de Sousa, que, no Centro Cultural Vila Flor, proferiu a conferência “A Solidariedade em Portugal”.

3 - TEMPO PARA SENTIR (24 de junho a 21 de setembro)

O dia emblemático de 24 de junho, data da Batalha de S. Mamede e “Dia Um de Portugal”, assinalaria o início do tempo para sentir. Assim e como seria óbvio, um dia em cheio, que teria como ponto máximo a inauguração da Plataforma das Artes e da Criatividade, complementado pelo espetáculo dos Fura Dels Baus, na Colina Sagrada.

24 DE JUNHO: a Plataforma das Artes e da Criatividade

A Plataforma das Artes e da Criatividade seria efetivamente a joia da coroa da CEC 2012 e a chave de ouro de abertura do Tempo de Sentir, obra cujo custo final se cifraria em cerca de 16,6 milhões de euros. Um edifício com uma área de construção de mais de 10 mil metros quadrados, compreendendo 7.750 metros quadrados de espaço exterior público, que seria implantado na área do antigo mercado municipal e erigido como um equipamento cultural para o futuro. De facto, englobando três valências integradas, como Ateliers Emergentes, espaços de trabalho vocacionados para jovens criadores de projetos de carácter temporário e Laboratórios Criativos, gabinetes de apoio a empresas destinados ao acolhimento e instalação de atividades relacionadas com as indústrias criativas, o edifício alberga ainda um Centro de Arte, que compreende um espaço com 13 salas de exposições permanentes, que acolhem a coleção do artista vimaranense José de Guimarães, bem como uma área de exposições temporárias e ainda espaços polivalentes destinados a apresentações e pequenos espetáculos. Mas também, acrescente-se, espaços complementares como um restaurante, cafetaria e livraria. Porém, uma infraestrutura que seria motivo de várias polémicas, quer por parte de representantes de algumas correntes de opinião, quer de partidos políticos da oposição ao poder instituído, que, constantemente questionariam os seus custos operacionais futuros, assim como a sua gestão. Mas, de facto, um imóvel imponente que tempos mais tarde faria parte dos 25 melhores edifícios de arquitetura moderna, selecionado entre 508 candidatos num concurso promovido por uma prestigiada revista alemã. Quanto à inauguração, sob o mote programático “Para além da História”, abriria com cerca de 500 peças da coleção de José de Guimarães e obras da sua autoria, quer afetas à sua origem e raízes africanas, quer objetos mais ligados à arquitetura do seu núcleo mole, Foto de Casimiro Ferreira isto é, que tentam fugir à rigidez característica da História das Artes. Entre esses temas haveria também lugar e espaço dedicado à festa, intrinsecamente próximo das festas populares, e, paralelamente, exposições de mais de uma dezena de artistas contemporâneos, entre os quais o pintor popular vimaranense Mestre Caçoila (ler páginas da rubrica “Artes, Artistas e Exposições”), bem como objetos ligados ao património histórico e arqueológico vimaranense.

No fundo, um mundo de diversidade que descreveria também o próprio José de Guimarães, assumidamente afeto e praticante de um certo nomadismo cultural e artístico. Mas para além de outros atos protocolares, ocorreria também a cerimónia de atribuição de medalhas de mérito, como é habitual no 24 de Junho, contando-se entre os agraciados o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva. De facto, após apupos de cerca uma centena de manifestantes, que contestavam a promulgação do Código de Trabalho, Cavaco Silva receberia a Medalha de Ouro da Cidade e elogiaria a CEC 2012 afirmando que “Guimarães encontrou o seu desígnio e está a percorrer o seu caminho, fazendo um percurso que deve servir de exemplo”. Entretanto, à noite, houve ainda mais um espetáculo de rua com os Fura dels Baus, sob a criação do CCTAR, no Paços dos Duques e Castelo.

Animação que contaria também com a iniciativa “Conhecer Guimarães em Bicicleta”, que mobilizaria cerca de 1700 participantes, um “Encontro de Bicicletas Antigas” com cerca de 150 ciclistas vestidos a rigor e ainda a Taça de Portugal de Trial Bike com milhar e meio de inscritos.

GUIMARÃES – Peça para Coro e Orquestra

Igualmente nas comemorações de 24 de junho seria ainda apresentado um tema musical original encomendado ao músico vimaranense Tiago Simães, dando seguimento a uma proposta da Fundação Cidade de Guimarães e do Círculo de Arte e Recreio, que tinha como objetivos envolver a Fundação Orquestra Estúdio e os vários coros de Guimarães.

“Guimarães Peça para Coro e Orquestra” seria assim o resultado desse trabalho, que seria gravado em CD pela Orquestra de Guimarães e um coro especialmente criado para o efeito, cujo tema assumiria um caráter tradicional e seria cantado com a seguinte letra: Por todo o lado se avistam novos estandartes! Europa criadora, com seus mestres e suas artes. Berço que embala o sonho da comunidade ouve a cultura, as línguas que se falam pela cidade.

Capa do CD - Guimarães peça para Coro e Orquestra

REFRÃO Sentir que o mundo é mesmo aqui na palma das nossas mãos, unidas num só ideal! Abrir os nossos corações à festa dos sentidos, deixar fluir emoções, levar-nos p’lo sentir!

Erguendo ao alto a sua glória, orgulho e nobreza lutando por espaços na memória portuguesa. E a cidade abre o seu peito sempre hospitaleiro mostrando o seu engenho e a sua arte ao mundo inteiro.

REFRÃO Podemos construir um mundo novo Junto vencemos! Juntos crescemos! É Guimarães: uma cidade que respira alegria!

Sentir que o mundo é mesmo aqui na palma das nossas mãos, unidas num só ideal. Dançar no vento da criação, num movimento plural. Deixar crescer multidões! Levar-nos p’lo sentir!

Mas após o 24 de Junho, as sessões culturais e festivas prosseguiriam em bom ritmo. Destarte, após a sagração da vimaranense Dulce Félix como campeã, nos 10 mil metros, na Finlândia, como ouro sobre azul, a festa sairia para a rua na Noite Branca, que ocorreria na primeira semana de julho na Praça de Santiago e Largo da Misericórdia, num misto de dança, performances, animação circense e música. Festa que marcaria ainda presença em tardes quinzenais no Parque da Cidade, com a iniciativa “Picnic Play”, que conciliaria performances, DJ’s e concertos. Aliás, a música teria parte de leão na programação deste período. Com efeito, registar-se-ia a apresentação da versão da ópera de Ravel “L’Enfant et les sortilèges” numa interpretação conjunta da Fundação Orquestra Estúdio, Sociedade Musical de Guimarães e Academia de Música Valentim Moreira de Sá, enquanto Manuel Oliveira abriria o “Ciclo Plataforma da Música”, na Plataforma das Artes, com “Ibéria Dez Anos”. Este Ciclo que se prolongaria por várias semanas de sessões musicais diversificadas, com Dee Dee Bridgewater, Ute Lemper e a Fundação Orquestra Estúdio, Pat Metheny, Carminho e Ricardo Ribeiro, GNR e Zé Perdigão. Sessões musicais às quais se juntariam a maestrina Joana Carneiro na direção da Fundação

Orquestra Estúdio e o Projeto Banda Larga, no qual a Banda Filarmónica de Pevidém interpretaria temas de composições clássicas utilizadas no cinema. Mas haveria também Música de Câmara no Paço dos Duques e na cidade, designadamente um concerto que assinalaria os 150 anos de nascimento de Claude Debusssy, bem como uma viagem à Música Ibéria centrada em Lopes Graça e António Victorino de Almeida, entre outros. Igualmente, decorreriam os Encontros Internacionais de Música de Guimarães, que além de 3 concertos alusivos a compositores europeus e a uma viagem pelo romantismo, acolheriam ainda algumas masterclasses musicais. Como não bastasse (embora a música nunca baste!), ocorreria (ainda) mais um concerto inserido no Festival do Órgão Ibérico com Tiago Ferreira, mais uma visita de orquestras nacionais, desta feita a Orquestra do Algarve, que nos traria Haydn e Schubert; e, outrossim, uma iniciativa de massas denominada “Vamos Tocar no Parque”, que sob a batuta do maestro inglês Tim Steiner, reuniria nesta Operação Big Bang uma orquestra gigante de 300 músicos (11 dos quais vimaranenses) , envolvendo cerca de 5 mil pessoas no espetáculo, de pura exaltação da cidade, em especial no momento denominado “Tu fazes parte”. Foi um consumo misto de cultura erudita, contemporânea e cosmopolita, mas também de foro mais tradicional, que mobilizaria programaticamente a CEC 2012, ainda que nem sempre de forma equilibrada. Em súmula, inúmeros espetáculos difíceis de enumerar na totalidade, tantos foram, entre os quais se contariam também a 1ª Sessão Inclusiva CERCIGUI, o Barco Rock Fest, a visita da prestigiada violinista Viktoria Mullova ou da Orquestra Chinesa de Macau, e ainda os 5 concertos “Os Dias em Couros”. Mas para além de dar música e como nem só de música vive o homem, os espetáculos prosseguiriam ecléticos e diversificados, de tal forma que abalaram o turismo local, nestes tempos de Verão. Realmente, verificar-se-ia que as consultas nos Postos de Turismo aumentariam mais de 400% e os museus, teleférico e taxas de ocupação dos hotéis registaram um aumento significativo… Ademais, não obstante a crise imobiliária, cresceria o mercado do arrendamento, uma vez que a CEC trouxe à cidade novos habitantes, geralmente temporários. Como tal, os preços subiriam em flecha e registar-se-ia um certo oportunismo decorrente. Contudo, esta movimentação motivaria e conduziria a várias ações de reabilitação de prédios mais antigos, geralmente evidente na oferta de T0 e T1, na cidade, bem como o surgimento de novas formas de alojamento. Aliás, esta procura viabilizaria, inclusive, o programa “Viver Guimarães 2012” que tornaria possível alugar uma habitação na Bolsa de Alojamento do Turismo de Guimarães, que para o efeito se instituiu como intermediário. No entanto, a despeito da predominância da programação musical, neste tempo de Verão e de férias, outros eventos dignos de realce despontariam. Por exemplo, no cinema, as sessões de Cinema em Noites de

Verão, na Oliveira, e ainda a iniciativa “O Cinema vai à Vila”, promovido pelo Cineclube, que levou a sétima arte a Moreira de Cónegos, Brito, Ronfe, Serzedelo, Taipas, S. Torcato, Lordelo e Ponte. Estas sessões cinematográficas seriam ainda complementadas com um ciclo sobre o “Novíssimo Cinema Brasileiro”, no S. Mamede, e um outro sobre o “Novo Cinema Brasileiro”, baseado na obra de Glauber Rocha. De mais a mais, no âmbito da fotografia, o fotógrafo vimaranense Carlos Lobo e Inês d’Orey apresentariam a exposição “Rever a Cidade”, que sob a curadoria de Eduardo Brito, que tendo como ponto de partida a coleção da associação Muralha, nos mostraria Guimarães entre o século XIX e a década de 70 do século XX. Não faltaram ainda imensas exposições, nomeadamente sobre Fotografia e Arquitetura, acerca dos “United States of Europe”, entre muitas, bem como circo contemporâneo (“Aduela”) e vários eventos de dança e performance de rua, designadamente o teatro de marionetas com “Os Dez trabalhos de Hércules”. Com efeito, um trabalho hercúleo e diverso, para todos os gostos e sensibilidades …

“O MUNDO DANÇA E (EN)CANTA EM GUIMARÃES Sucesso ‘obriga’ a repetir iniciativa”, lia-se na imprensa da época acerca desta jornada cultural, no calor de agosto. De facto, milhares de pessoas assistiriam à festa programada pelos Tempos Cruzados “O Mundo Dança e Canta em Guimarães”, que começaria em 10 de agosto e terminaria a 26 do mesmo mês. Realmente, tendo como palco o Campo de S. Mamede, local onde simultaneamente decorreria uma Feira de Artesanato com cerca de 50 stands, inclusive com doçaria tradicional e gastronomia minhota, a traFoto de Casimiro Ferreira dição marcou presença neste lugar histórico e mobilizaria cerca de 30 mil pessoas para assistir às cerca de duas dezenas de espetáculos de folclore ocorridos no decurso do evento. De facto, uma variada mostra de folclore protagonizado por ranchos da terra, grupos nacionais e internacionais, alguns dos quais oriundos da vizinha Espanha, do México e do Brasil, Moçambique e Nigéria, Lituânia e Índia, praticamente representando todos os continentes, dariam cromatismo ao desfile de trajes, som e movimento (q.b.) com a diversidade das suas danças e cantos. Um espetáculo de cariz popular e etnográfico e de festa garantida, no qual não faltariam sequer noites

temáticas (luso-brasileiras, portuguesa, com folclore e fado, e mexicana), e tão-pouco, e paralelamente, uma sessão de danças de salão. Atuações musicais que seriam complementadas pela música popular e brejeira dos Marotos Minhotos e pela exibição da Orquestra Juvenil da Sociedade Musical do Pevidém. Ademais, em duas tendas instaladas no recinto, os grupos participantes orientariam workshops de ensino das suas danças tradicionais. A iniciativa seria ainda complementada com a festa, “O folclore vai ao adro”, que levaria a dança e o canto a mais de uma dezena de freguesias. Em síntese, uma oportunidade única para viver o folclore do mundo e de vários dos 24 grupos associados dos grupos folclóricos vimaranenses, que envolvem cerca de 150 pessoas.

A Feira Afonsina e a Contextile

Setembro trouxe o burgo às origens da fundação e da tradição industrial. Com efeito, a Feira Afonsina, decorrida na primeira quinzena de setembro, marcou o encerramento do Tempo para Sentir e abriu portas ao Tempo para Renascer. Um evento que atraiu cerca de 200 mil visitantes, com a participação de 30 estabelecimentos de restauração e bebidas, 22 lojas de comércio tradicional e 18 associações e instituições. Um singular momento que permitiu, durante três dias, reviver o tempo ancestral da fundação da nacionalidade e a Batalha de S. Mamede, entre 1125 e 1128, com animações e recriações históricas diversas e atividades da época, no qual todos quiseram fazer parte. “Tu fazes parte”, foi de facto um slogan pragmaticamente vivenciado nos vários espaços desde a perigosa e esconsa Quelha das Desgraças às zonas das iguarias, mercadores e artífices, ou entre o arraial medieval e o Jardim dos Infantes, especialmente dedicado aos mais jovens. Assim, entre guerreiros, cavaleiros e aias simpáticas, mas também entre mendigos e prostitutas, falcões e cães de grande porte, a cidade misturou-se e as suas gentes deram o melhor de si, divertiram-se e viveram um pouco de antanho e dos seus avoengos fundadores.

Um “Baile Afonsino” protagonizado pela população com danças nobres e mouriscas, com coreografias e trajes a rigor, ocorreria ainda nas praças e largos da cidade, a festejar a festa, em tons medievais. Porém, o envolvimento da cidade e das suas gentes ocorreria ainda em inúmeras atividades. Por exemplo, no âmbito do projeto Pop Up que permitiu dar vida às lojas do Centro Histórico. Nas escolas, como foi o caso da festa final do Jardim de Infância do Lar de Santa Estefânia com a adesão de cerca de 400 crianças a recriarem alguns momentos da CEC. Um tempo para sentir que permitiu ainda sentir nos bolsos de fornecedores e artistas os pagamentos

que estavam em atraso; ou a exoneração, à laia de caricatura, de um graduado da GNR que participaria, ao que disse “ludibriado”, na performance de rua “Um funeral de Portugal”, no qual Osmusiké Teatro participaram como carpideiras.

Mas também, tempo de sentir e vivenciar as primeiras permutas culturais entre Guimarães e Maribor. De facto, neste período, uma comitiva de Marbor constituída por 15 pessoas, acompanhadas pelo professor Bojan Borstner, visitou Guimarães durante cerca de uma semana e a impressão do nosso visitante não podia deixar de ser a melhor: “tudo é diferente em Guimarães, a começar pelas pessoas. Mais afáveis, mais próximas, mais abertas” … Aliás, neste período e após a visita da Comissária Foto de Casimiro Ferreira Europeia, Guimarães registaria ainda a presença, entre nós, de vários eurodeputados que se mostrariam impressionados com a CEC. Diferente seria também o lançamento da Contextile, um espaço de relação entre criadores, artistas e a comunidade, que ainda hoje dura. De facto, entre 1 de setembro e 14 de outubro, a cidade têxtil vimaranense montaria esta exposição de arte têxtil contemporânea e daria visibilidade ao têxtil, contando com cerca de 90 obras, oriundas de 20 países, cujos trabalhos deram dores de cabeça ao júri na seleção dos 55 finalistas.

4 -TEMPO PARA RENASCER (22 de setembro a 21 de dezembro)

Tempo de contemplar o que foi feito e construir relações que lhe acrescentem sentido. Tempo para tecer uma nova cidade, colhendo-se memórias e semeando-se o tempo que está para vir. Tempo de pontes e caminhos que se solidificam entre encontros, criações e sentimentos. Mas também momento de refletir, escolher, protagonizar encontros connosco e com os outros e de fazer acontecer o que de nós fica de passagem.

É a imagem do outono, em que formamos o rosto da nossa memória futura … Ora, o renascimento começou exatamente como o nascimento, com mais um espetáculo de rua levado a cabo pela companhia catalã La Fura dels Baus e o Centro de Criação de Teatro e Artes de Rua, desta feita

tendo como pano de fundo o Castelo e o Campo de S. Mamede. Como tal, a força cénica da criação voltou a ser o regresso do cavalo e do homem gigante, desta vez complementado com o envolvimento de milhares de pessoas, que, nesse sábado, marcaram presença na Colina Sagrada. De facto, durante a performance, uma tela de grandes dimensões sairia do Castelo e envolveria a multidão, como que expressando inequivocamente o lema “tu fazes parte”. O espetáculo encerraria com um concerto dos portugueses Melech Mechaya, dando entrada ao Tempo para Renascer.

De José Carreiras a Sofia Escobar, com jazz em espera e sons da lusofonia

Novamente, a música dominaria a fase inicial deste Tempo para a Renascença, não fosse o 5 de outubro o Dia Mundial da Música! De facto, o Dia Mundial da Música seria evocado no Centro Cultural Vila Flor com um espetáculo sobre as novas práticas de composição, sob a direção de Jean Marc Bufin, que, acompa- Imagem da autoria de SAL nhado pela Fundação Orquestra de Guimarães, apresentaria uma criação coletiva de sete compositores, numa exploração de uma nova linguagem musical envolvendo recentes tecnologias, música eletrónica com robôs e colaborações musicais em rede. Mas, já antes, nos finais de setembro e princípios de outubro, a Orquestra Sinfónica do Porto/Casa da Música passara pela CEC a interpretar Haydn, Beethoven e Strauss e a Fundação Orquestra Estúdio apresentaria o Concerto X, com base no vídeo e música eletrónica. Estas atuações musicais passariam ainda por mais uma exibição da Orquestra do Norte com um concerto em torno de Tura, Tchaikovsky e Antonín Dvořák.

A Música seria também motivação para debate sob o mote “A crescente importância do vídeo na indústria musical” e reflexão sobre as novas tendências musicais, mas acima de tudo para os espetáculos irrepetíveis do tenor José Carreiras e da vimaranense Sofia Escobar que, em Londres, brilhava como personagem principal do “Fantasma da Ópera”. Um espetáculo que contaria ainda com Dora Rodrigues e um coro de jovens japoneses, acompanhados pela Fundação Orquestra Estúdio e que terminaria com a interpretação

conjunta do tema “Amigos para Sempre”. Estes espetáculos musicais prosseguiriam na atuação de Howe Gelb, no festival de Música Semibreve e Concerto Coral Jovem Internacional, mas também com Miguel Borges Coelho, Twim Shadow e a Orquestra Todos. Estas sessões musicais culminariam com mais uma edição do Festival Guimarães Jazz, nas primeiras semanas do mês de novembro. Deste modo, entre nós, estaria o norte-americano Herbie Hancock, um dos mais sonantes nomes do jazz do século XX, seguindo-se o guitarrista Bill Frisel e o artista Bill Morrison, que apresentariam o projeto colaborativo “The Great Flood”. Estes projetos musicais contariam ainda com o quinteto afeto ao projeto “Sound Prints”, no qual sobressairiam o saxofonista Joe Lovano e o trompetista Dave Douglas. Mas haveria também sessões com o compositor Jacam Manricks que levaria a cabo um espetáculo com os alunos da ESMAE e um outro com músicos emergentes e que conduziria ainda as oficinas de Jazz e as “jam sessions” . O evento encerraria com o trompetista Randy Brecker, acompanhado pela big band alemã WDR. Mas, nos finais de novembro, ocorreria também o Concerto da Lusofonia que traria à cidade-berço o brasileiro Ivan (Guimarães) Lima, que dividira as honras do palco com o angolano Paulo Flores, Paulo de Carvalho e Raquel Tavares. Contudo, novembro seria ainda um mês dedicado à música e dança. Deste modo, por cá passariam o Quarteto de Cordas austríaco Hagen Quartif e os ex-Depache Mode, bem como um concerto feminino com as US Girls, e iniciava-se a criação da Orquestra Sub-12, formada por 85 alunos de diversas escolas de música da região norte, sob a direção artística de Domingos Castro, que se estreariam em concerto, em 16 de dezembro. Paralelamente ocorreriam também várias exposições, danças e encenações, designadamente na Fábrica ASA, entre as quais o melodrama teatral “Dead End”, construído a partir de contos populares de Guimarães,

Imagens retiradas do livro “Um Ano de Capital Europeia da Cultura em numa coprodução entre a CEC e a companhia teatral Mala Voadora. O

Imagens” ,Guimarães2012,pp. 290/291

programa “Guimarães é a Cidade da Dança” trouxe, igualmente, à cidade novas criações de Rui Horta, Paulo Ribeiro e Madalena Victorino. Quanto ao cinema, é de destacar a estreia de “Centro Histórico”, a longa metragem resultante da junção de quatro curtas metragens dos mestres do cinema, película que também seria apresentada no Festival de Roma. De facto, um filme que juntaria Manoel de Oliveira com “O Conquistador Conquistado”, Aki Kaurismaki com “Tasqueiro”, Victor Erice com “Vidros Partidos” e Pedro Costa e o seu “Lamento da Vida Jovem”, que contariam estórias do concelho. No entanto, nesta vertente, decorreria ainda a 13ª Festa do Cinema Francês, que este ano se transferia para Guimarães. Ademais, outras performances e instalações de diversa índole aconteceriam, bem como algumas conferências, festas e exposições teriam lugar, nesta fase. Entre estas últimas, sublinhe-se, a inauguração da exposição “Martins Sarmento e a Arqueologia Europeia” e a exposição “Elegância, Moda e Fé: o enxoval de Nossa Senhora da Madre de Deus” sobre a moda no barroco.

Neste tempo, seria também apresentado o projeto “Religioso em Guimarães. Memórias e Identidade” pela TUREL, entidade do turismo religioso da diocese de Braga, que criaria um roteiro dos santuários vimaranenses que fazem parte da “coroa da cidade”. Manifestações culturais diversas, impossíveis de enumerar exaustivamente, passariam ainda pelo cinema com a estreia do filme sobre a viagem de Luís de Camões, n’ “Os Lusíadas”, ou o ciclo de cinema “Brincar”. Além disso, refira-se ainda a edição de cinco volumes que retratam várias facetas da vida da cidadeberço, centradas sobretudo em narrativas de migrantes, no quotidiano da pobreza e na marcha da fome de Pevidém. Efetivamente a crise têxtil e o desemprego seriam questionados em espetáculos sobre a sobrevivência; e a própria vila de Pevidém apresentaria uma obra sobre a sua própria vida, sob o título “A Marcha da Fome de Pevidém – Memórias de um passado na inquietude do agora”, que contaria com uma parceria da CEC e atuação do Orfeão Coelima.

Imagem (recorte) retirada do livro Um Ano de Capital Europeia da Cultura em Imagens, p 329

Estas reflexões de teor social seriam abordadas no último espetáculo do Teatro Oficina e também na sua peça, “Capital & Cultura”, ao refletir sobre a atualidade e a relação da cultura com o poder. Simultaneamente, decorreria também o I Congresso Histórico Internacional que abordaria temáticas da época medieval, moderna e industrial e que culminaria com uma mesa redonda sobre a cidade do futuro. Outras ocorrências notórias seriam ainda a instalação do Centro de Criação de Candoso, como novo espaço para residências artísticas, a funcionar na antiga escola primária da freguesia e, no âmbito do programa Re-imaginar, decorreria a série de workshops e exposições alusivas às novas possibilidades para as cidades de pequena dimensão. Neste período, chegariam ainda as boas notícias do desbloqueamento de 4,6 milhões de euros para as 17 candidaturas que aguardavam financiamento e ainda da atribuição à Plataforma de Artes do Prémio Detail Prize, desta consagrada revista alemã. De igual modo, registe-se os cerca de 50 empregos criados por 26 indústrias criativas, no âmbito das Indústrias Criativas da Plataforma de Artes, em especial nas áreas da comunicação, web e design. Outrossim, ocorreria a visita da Comissão Europeia à CEC, por parte de Durão Barroso, em 20 de outubro. Porém, novas polémicas rebentariam, em especial entre a autarquia e o governo: a primeira sobre a pretensa legalidade da extinção da Fundação Cidade de Guimarães por parte do governo; e outra acerca a possibilidade de a Câmara levar o governo a tribunal por atraso no pagamento dos contratos celebrados, relativamente à extensão do Museu Alberto Sampaio na Praça de Santiago. Como não bastasse, a ex-presidente da Fundação Cidade de Guimarães exigiria em tribunal a indemnização de 420 mil euros por alegada quebra de acordo contratual, facto que seria contraditado pela organização da CEC sob o argumento de incompetente comunicação, partilha de informação incompleta e contratações nebulosas, entre outras críticas formuladas.

E surgiria ainda o movimento “Eu fiz parte e não me pagam”, representando 13 instituições de artistas e colaboradores da CEC, que denunciaria a situação de incumprimento de salários.

Guimarães Noc-noc

Guimarães Noc-noc, no início de outubro, seria outra realização mobilizadora que juntou, em cerca de 70 espaços da cidade, projetos de centenas de artistas ao longo de um circuito mapeado, num itinerário artístico em várias vertentes e dimensões, que mostraria objetos artísticos, performances e instalações, música, fotografia, poesia e teatro. Um percurso a caminhar desde o antigo mercado municipal até à Capela de S. Lázaro, que se estenderia à Zona de Couros e ao Centro Histórico, no qual as associações locais, espaços

culturais, casas particulares, espaços comerciais confluiriam na festa, abrindo portas a 170 demonstrações artísticas de mais de 500 artistas. De facto, iniciada com uma “flash mob”, na Oliveira, a edição arrancaria com o coro vimaranense Outra Voz, que colocaria a multidão a cantar, dançar e a fazer parte, antes de meter pés a caminho.

Um projeto da associação “Ó da Casa” para o qual bastava bater à porta, noc-noc, ou gritar “Ó da casa”, embora a entrada tenha estado escancarada …

48 horas non stop

Entre 21 e 23 de dezembro, Guimarães não parou. Seriam 48 horas de música, performances diversas, intervenções urbanas e espetáculos variados, numa envolvência sem igual com a população local, que teve como pontapé de saída uma pequena performance na Horta Pedagógica.

Como um dos pontos altos, sobressairia o espetáculo “Então Ficamos”, logo na sexta-feira, no Multiusos. Um espetáculo que ficaria marcado pela passagem de testemunho da CEC a Kosice (Eslováquia) e Marselha (França), mas acima de tudo pelo excelente espetáculo proporcionado por cerca de 600 vimaranenses amadores e anónimos, de várias gerações, que durante 28 meses “trabalharam” tenazmente para mostrarem em palco o resultado de dois anos de residências artísticas, coordenadas pelos Mãos Morta e uma equipa que contou com a colaboração de Pacman (ex-De Wesel) e José Mário Branco, entre outros. Uma exibição que foi o espelho do que é viver em Guimarães e ser vimaranense, num desempenho que transitou das fábricas ao trabalho, das tradições aos costumes e das festas populares à folia e que o momento sobre a Senhora da Luz, encenado pela residência artística de Creixomil, bem dilucidou. E que dizer de cerca de 20 momentos sobre a cidade, vivenciados em torno da canção de inspiração “Vamos embora”? …

Porém, os espetáculos prosseguiriam no sábado com as realizações do “Guimarães Play”, no casco histórico da cidade e “A Minha Casa es tu casa”, nas casas privadas do Centro Histórico. Um sábado que culminaria à noite com o La Fura dels Baus, que regressaria a Guimarães, a gerar acrescidas expectativas. Todavia, um momento que soube a pouco, apesar das colaborações musicais da Academia de Música da Sociedade Filarmónica Vizelense e voluntários da Guimarães 2012. Com efeito, com um final algo inesperado e com o espetáculo a terminar mais cedo do que esperado, a assistência desejava mais! Uma situação que seria mais tarde explicada por parte do diretor artístico Jurgen Muller dever-se a um curto-circuito, mas que José Bastos contradiria, denunciando que, de facto, se privilegiou a opção pela televisão, em detrimento do público. Outro ponto alto seria a Gala de Natal, no Pavilhão Multiusos, transmitida pela RTP. Um espetáculo que

contaria com os grupos infantis e corais da Academia de Música Valentim Moreira de Sá, Coro de Guimarães e Academia de Música de Vilar do Paraíso, acompanhados pela Orquestra Fundação Estúdio e ainda várias vozes a abrilhantar a gala como Ana Esteves Neves, Vânia Fernandes, Luísa Sobral, JP Simões e ainda o músico Kiko.

Todavia, a época natalícia estaria também na ordem do dia no Ciclo de Concertos de Natal, com atuações da Orquestra do Norte e Banda da Sociedade Musical de Pevidém, acompanhadas pelos grupos corais de Campelos, Pevidém, Ponte e o Orfeão de Guimarães. Realmente e de novo, a música marcaria pontos nos últimos meses da CEC. Saliente-se, neste contexto, o último concerto do Festival de Órgão Ibérico, com Sara Costa e a ópera Mumadona, a primeira na cidade. Efetivamente, com libreto de Carlos Té, música de Carlos Azevedo e encenação de Carlos Barbosa, numa articulação entre a Fundação Orquestra Estúdio e o Teatro Oficina, a ópera abordaria a história de Dórdio e da chinesa Chun Lee, centrado num encontro entre ambos previsto pela cartomante Mumadona, no decurso das Festas Gualterianas. Um encontro num contexto de crise económica, que dá azo a esboçar contornos sociopolíticos ao argumento, aliando planos mundiais e individuais. Boas notícias viriam também com as conquistas de dois galardões no âmbito dos cinco prémios do projeto “Cidade Perfeita”, atribuído pela revista Visão e Siemens. De facto, o projeto Mobiton receberia o prémio de conectividade pela aplicação a telemóveis sobre visitas a Guimarães, enquanto a Plataforma de Artes seria premiada pela inovação. Prendas natalícias a que se juntaria a medalha de prata conquistada por Dulce Félix, obtida no Europeu de Corta-Mato, realizado em Budapeste. Em paralelo, o desfecho da CEC traria também algum teatro como a peça “Quando muito o mínimo”, uma criação de Carla Maciel e Gonçalo Waddington e “Aqui nasceu Afonso Henriques”, um trabalho de um grupo de atores de teatro amador desenvolvido no âmbito do movimento associativo Tempos Cruzados, no qual participou Osmusiké, com base num texto de Helder Costa e na colaboração da Escola Profissional Cenatex, quer nos figurinos, quer na cenografia. Por sua vez, na dança sobressairia “Strange Land”, sob a direção artística de Victor Hugo Pontes. Igualmente algumas exposições, entre as quais se salientam “Fernando Távora, Modernidade Permanente”, na Escola de Arquitetura da Universidade do Minho, e testemunhos de arquitetura popular sob o título “Das arquiteturas populares no norte de Portugal até à modernidade de Guimarães”, que teria amostra na Casa da Memória.

O lançamento de alguns livros ocorreria também por esta altura. Deste modo, a obra “António Azevedo, vida e obra”, escultor de muitas estátuas e bustos citadinos, de autoria de Rosa Maria Saavedra, sairia do

prelo no âmbito do Programa Constelações; e a Biblioteca Raul Brandão apresentaria o livro “A dimensão cultural da integração europeia. Capitais europeias da Cultura”, assinado por Ruth Portelinha. Entretanto, entre outras iniciativas de cariz genérico, três outros eventos se distinguiriam. No cinema e no âmbito do projeto Borderline, sete curtas-metragens e um filme de ficção baseado numa viagem de autocarro entre Paris e Guimarães, com passagens por 10 cidades europeias, vivida por 13 aventureiros realizadores, que dariam azo a abordar a emigração, no decurso da sua projeção no São Mamede. No artesanato, com a apresentação na Loja Oficina de dois novos exemplares do Bordado Enamorado, com desenhos dos artistas Vasco Carneiro e Maria do Céu Freitas, completados por poemas de Firmino Mendes, Agripina Marques, Adélia Faria e Conceição Ferreira. Um lançamento que coincidiria com o lançamento da revista Veduta, com temas alusivos ao património cultural da cidade e suas figuras ilustres como Martins Sarmento. Ademais, ocorreriam na Plataforma de Artes os “Encontros para além da história”, que reuniriam artistas e teóricos como Philipe Alain, Michaud e Ulrich Loock, entre outros, que, em sessões de leitura em formato seminário, abordariam problemas de índole cultural.

No final, a reter a ideia básica que “cumprimos”, como diria António Magalhães, Presidente da Câmara Municipal, ou a asserção do Secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, que afirmaria “Guimarães é grande”, comprometendo-se a garantir apoio ao concelho para manter o legado. De facto, a CEC 2012 deixaria um legado importante que não só deixa marcas de cultura, novos conhecimentos e novos equipamentos à cidade, mas também novos métodos de trabalho e um espírito de envolvência da comunidade. No entanto, ficariam alguns reparos sobre a inclusão das associações locais na programação, uma certa desvalorização das freguesias e a necessidade de maior investimento nas estruturas culturais, algumas delas apenas concretizados anos mais tarde. Com efeito, a despeito da valorização do edificado e da regeneração urbana como aspetos positivos, temeu-se ainda na altura a sustentabilidade e gestão cultural dos equipamentos, que hoje parece controlada. Mas, de facto, Guimarães não pararia! E, destarte, no final deste ano de 2012, seria desde logo confirmado mais um desafio, no ano seguinte: o de Cidade Europeia do Desporto 2013 …

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